Cala a boca, Galvão?

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“Eu acho até que a Globo deveria mandar mais no futebol. Porque ela paga as contas”. Essa foi a frase dita por Galvão Bueno em entrevista à jornalista Mônica Bergamo na “Folha de S. Paulo” do último domingo.

Pelas mídias sociais, muita gente ampliou o coro do “Cala a boca, Galvão”, por conta da declaração. Muito dessa gritaria veio, possivelmente, por ser Galvão Bueno. A voz da televisão brasileira no esporte já há, pelo menos, quase duas décadas. O cara que fala pelos cotovelos e que, muitas vezes, fala mais do que deve. Ou que deveria, pelo menos na visão do torcedor.

Mas Galvão não falou tanta bobeira assim. Porque a pergunta foi sobre o futebol. Sim, a Globo impõe alguns horários dos jogos, dificulta a aparição de patrocinadores, boicota times com nome de empresas. Mas sua influência sobre as disputas do futebol geralmente para por aí. Fossem outras modalidades esportivas disputadas no Brasil, aí Galvão nunca poderia dizer que falta maior poder para a emissora.

A Globo manda no esporte fora do futebol. É ela quem determina quando, como e o que pode ser veiculado pela TV aberta no país. Essa política de dominação do mercado atrapalha, e muito, no desenvolvimento de outras modalidades esportivas. Mas, mesmo aí, fica-se naquela velha discussão sobre quem é mais poderoso: a mídia ou o esporte. Sob essa ótica, Galvão deu mais uma de suas Galvãozadas. Dizer que a Globo precisa ter mais poder sobre o esporte porque é ela quem paga a maior parte da conta é uma grande besteira.

No futebol, nos últimos cinco anos, a influência da TV sobre a receita dos clubes tem ficado cada vez menor. O desenvolvimento do esporte como negócio tem feito com que os clubes ganhem cada vez mais com patrocínio, venda de ingressos, venda de produtos licenciados e criação de programas de incentivo para os seus torcedores (mais popularmente conhecido como sócio-torcedor). Isso tudo faz com que o bolo tenha fatias cada vez mais parecidas entre essas que são as principais fontes de arrecadação dentro de um clube de futebol.

Além de o poder de barganha da TV ter ficado mais fraco por conta disso, outro fator, que é muito importante, deve ser levado em consideração nessa que é uma das mais delicadas relações do esporte: a convivência da mídia com o esporte.

Sim, a Globo é rica, influente e forma opinião. Com isso, ter uma competição esportiva exibida pela emissora é um dos sonhos de qualquer organizador de evento. Cinco minutos na telinha da Globo valem muito mais do que uma hora em qualquer outro veículo de mídia neste país.

Mas será que o esporte também não é artigo de luxo para a Venus Platinada?

As maiores audiências da TV estão hoje ligadas ao esporte. Numa era de fragmentação da mídia, com o consumidor passando a ser quem decide o que vai ver, como vai ver e onde vai ver, o conteúdo de um veículo de mídia passa a ser o seu produto mais valioso.

Não é mais a grade fixa de programação de uma emissora que determina o comportamento de consumo, especialmente entre aqueles com maior poder aquisitivo (e que, por conta disso, tem acesso mais fácil aos diferentes tipos de mídia). É o consumidor que escolhe.

Com isso, o esporte ganha uma força brutal na estratégia de um canal de TV. O conteúdo de uma competição esportiva passa a ser fundamental para assegurar audiência. A fidelidade do torcedor com seu time ou atleta preferido levam-no a querer consumi-lo em tempo real, quando o evento esportivo acontece.

É uma situação diferente daquela vivida pelo fã de uma novela, de um filme ou de uma banda de rock. Ele consumirá seu evento, mas não necessariamente ao vivo. Com o esporte, a necessidade do consumo imediato faz dele um produto de grande valia para as emissoras. E, dessa forma, dizer que é a TV quem deve mandar no esporte pode não ser tanta verdade assim.

O mundo ideal coloca TV e esporte do mesmo lado, trabalhando juntos para a promoção de um evento. Para a mídia, é a chance de aumentar a audiência e, assim, ganhar mais verba dos anunciantes. Para o esporte, ter a presença da mídia em seu evento atrai mais fãs, mais atletas e, consequentemente, mais dinheiro para o evento.

Só que, para que o esporte passe a ser tão forte e influente assim, não pode deixar acontecer aquilo que Galvão disse em sua entrevista. Ou ele se prepara para obter diferentes fontes de receita, ou a TV vai continuar a ser mais forte do que ele. E, aí, ou ela manda e desmanda ou o esporte acaba. E, pode ter certeza de que, se isso acontecer, a função da mídia que fala sobre essa modalidade também vai acabar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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