O fim do Pacaembu

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Não tem como o paulistano não gostar dele. Localizado numa região central, em meio a árvores, com uma grande área para circulação a pé em seu redor, uma distância ótima do gramado para a arquibancada, uma grande região para poder passear na parte inferior, um palco de decisões memoráveis do futebol…

O estádio do Pacaembu é um dos mais charmosos do mundo, e sem dúvida é a síntese do futebol na cidade de São Paulo. Talvez sejam os ares da refinada vizinhança que deixam tudo no Paulo Machado de Carvalho mais glamouroso.

Sempre achei que o Pacaembu é o estádio do tamanho perfeito. Nem tão grande para ser frio como o Morumbi, nem tão acanhado para ser palco só de jogos menores. Não há provavelmente um paulistano que goste de futebol que não tenha tido uma lembrança maravilhosa do estádio da capital.

A idade não me permitiu assistir aos grandes clássicos pré-Morumbi lá no Pacaembu, mas vivi boa parte dos grandes jogos da infância por lá. Inclusive o primeiro deles, ainda com sete anos, numa partida de masters entre Brasil e Itália, uma reedição da final da Copa de 1970. Foi o jeito de poder dizer que vi Pelé em campo, mesmo mais velho, com direito a programa para ir a família toda, da avó Itália Roma aos primos que torciam para outros times.

Depois, nos anos 90, a reforma do Morumbi carcomido pelo tempo permitiu que alguns grandes jogos fossem para o Pacaembu. O mais divertido deles, sem dúvida, a decisão do Campeonato Brasileiro de 1994, num show palmeirense sobre o Corinthians. Semanas antes, pude acompanhar um embate dos dois alviverdes, numa bela vitória do Palmeiras sobre o Guarani de Amoroso em partida que praticamente definiu o título nacional.

Consegui ver Casagrande do “outro lado” num Corinthians e Flamengo de arrepiar em 1993, também acompanhei Romário acabar com Amaral num outro encontro entre as duas maiores torcidas do país. Isso sem falar em diversas noites de casamento perfeito entre os times do Corinthians e sua torcida, talvez a melhor combinação para o Pacaembu em sua história.

Ou, ainda, como não lembrar do memorável Santos 5×2 Fluminense do Campeonato Brasileiro de 1995, quando time e torcida não pararam nem no intervalo de uma das mais vibrantes e lindas atuações do Peixe em sua história recente?

Nesta última semana, Santos, Palmeiras e Corinthians fizeram do Pacaembu a sua casa. Força das circunstâncias, mas que parece ser cada vez mais uma volta no tempo. Em quatro jogos (sendo dois do time alviverde), eles reuniram mais de 100 mil pessoas para torcer, cantar, sofrer e vibrar com suas paixões.

Foram jogos que lembraram o quanto o Pacaembu é importante para a história do futebol em São Paulo. O estádio do tamanho ideal para ficar sempre cheio, aquecido, vibrante, apaixonante. O charme de sua entrada com a praça simbolizando um “ponto de encontro” para os torcedores, o eco do grito da torcida sufocado pelos morros que o cercam, o torcedor que sobe a ladeira e se arruma onde é possível só para não perder um pouco da festa.

Parece que, sem querer, os times de São Paulo (o Santos incluído nessa conta, por tudo o que representou na época de ouro de sua história e do estádio com Pelé e Cia. bela desfilando em seu gramado) decidiram prestar, nesses últimos tempos, sua homenagem ao Pacaembu.

O único estádio paulistano que é tombado pelo patrimônio histórico deverá ficar sem “dono” depois que a Copa do Mundo passar. Palmeiras e Corinthians teoricamente estarão com novas casas a partir do cada vez mais próximo 2014.

Uma pena. Não pela modernização e melhoria no serviço prestado ao torcedor, que só tem a ganhar com estádios mais modernos e com tudo o que eles apresentam de melhor. Mas por tudo o que representa o Pacaembu, seu destino deveria, sem dúvida, ser outro.

É inaceitável que um estádio para 40 mil pessoas, em ponto central da cidade, próximo de metrô, com fácil acesso via transporte público e também privado, seja simplesmente abandonado de uma hora para a outra.

O Pacaembu tem espaço e estrutura suficientes para ser modernizado para o torcedor conservando todo o charme de sua fachada dos anos 40/50. É o palco mais centralizado possível para aguentar o tranco de uma Copa do Mundo e, mais do que isso, para continuar a ser o estádio de tamanho perfeito para a cidade de São Paulo.

Que pelo menos a gente aproveite os próximos dois anos de muito futebol no Pacaembu. Porque o sentimento de vazio depois que a Copa chegar vai ser grande.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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