Mini-entrevista: um pouco sobre categorias de base…

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Final de ano. Muitos campeonatos estão "fervilhando" nas categorias de base pelo Brasil.

A "base" que tanto passou a ser falada depois que o FC Barcelona fez o que fez na final do mundial de clubes contra o brasileiro Santos.

Então, já que faz algum tempo, não trato de assuntos relacionados às categorias de formação, resolvi hoje trazer uma mini-entrevista com o treinador Leandro Zago, que trabalha com a categoria infantil no SC Corinthians, faz parte do Ciefut (vide grupos de estudo aqui na Universidade do Futebol) e é o gestor do www.futeboltatico.com.br.

Vamos lá:

1) Você começou como preparador físico de equipes sub-17, tornou-se treinador de uma equipe sub-13, e em seguida passou ao comando de uma categoria sub-15. Que peculiaridades destacaria, em termos de abordagem aos jogadores, intervenções e preocupações pedagógicas, que são típicas de uma categoria sub-15 em comparação as outras duas?

São bem diferentes as três categorias. Mudam as motivações para se jogar futebol e em alguns casos até as prioridades dos atletas, podendo inclusive colocar o que é essencial (jogar bem futebol o tempo todo) em segundo plano com o passar dos anos. O ambiente que os atletas do sub-13 vivenciam está bem distante daquele vivenciado pelos do sub-17, onde o caráter de negócio já está bem presente nesta relação clube-jogadores-comissão técnica. O sub-15 está no meio de tudo isso, com atletas amadores, porém já imersos nesse ambiente que envolve empresários, patrocinadores esportivos, etc.

Cabe ao treinador ter competência para convencer os atletas sobre questões fundamentais para o bom andamento do trabalho, como o comprometimento com o desenvolvimento individual e com o projeto coletivo da equipe e do clube (que levará o grupo de atletas a experienciar fases agudas dos campeonatos contribuindo com a construção de uma mentalidade vencedora). Em minha opinião, isso é fundamental, o restante é meio, cada treinador tem o seu caminho.

2) Em relação à dinâmica do jogo, como enxerga as possibilidades de desenvolvimento individual e coletivo dos jogadores sub-15?

Ainda limitada em algumas questões se compararmos com categorias maiores pelo momento do desenvolvimento biológico e cognitivo dos atletas.

E também acredito que nessa categoria há muito potencial a ser explorado dentro do processo de formação.

Portanto, entendendo essas duas idéias, parto da zona proximal de conhecimento "complexa" do atleta, ou seja, como ele expressa seu jogo do ponto de vista técnico-tático-físico-mental/cognitivo e procuro elevar até o último momento dele dentro do processo esse entendimento e expressão do seu jogo.

Do ponto de vista individual, o atleta deve aprender a ter vantagem nos confrontos de todos os tipos com igualdade e inferioridade numérica. E do ponto de vista coletivo, como construir essa vantagem o tempo todo integrado ao pensar coletivo que tem como referência a solução dos problemas do jogo.

3) Sob o ponto de vista das fases de desenvolvimento e crescimento humano, e sob o ponto de vista das fases sensíveis para melhora de certas capacidades e habilidades cognitivo-motoras, como você distribui os conteúdos de treino ao longo de uma semana de trabalho para a categoria sub-15 (fale sobre a frequência semanal, duração dos treinos, formato da sessão, etc.)?

Existe um modelo ideal e um modelo possível. Para me aproximar do modelo ideal, busco o melhor modelo possível. A adaptação ao ambiente é necessária.

Em período competitivo, com jogos aos sábados, a semana é, em grande parte das vezes, distribuída assim:

– segunda: jogos técnicos e/ou específicos;
– terça: jogos conceituais;
– quarta: 11 vs 11 (com regras condicionantes)
– quinta: jogos técnicos e/ou específicos
– sexta: jogos contextuais

Cada dia tem suas particularidades em relação ao espaço de jogo, à densidade (esforço / pausa), ao tempo de atividade, ao tipo de abordagem verbal, ao momento do ano, etc.

Um fator é comum à todos os dias: intensidade máxima numa perspectiva complexa sempre, o tempo todo, a cada ação. Assim, um componente que está permanentemente presente nas sessões de treinamento é a velocidade. Desde a expressão pura (na fase final de aquecimento, por exemplo) até nas tomadas de decisão e ação sob pressão de tempo e espaço (obviamente, a velocidade nesses casos está conectada com a qualidade, afinal estamos falando de inteligência humana).

4) Quais conteúdos você ensina e desenvolve na sua categoria, que são específicos dela?

Qualquer conteúdo que possa aumentar a autonomia do jogador. Ao propor um exercício, tenho uma expectativa sobre as possibilidades das respostas dos atletas e, em muitas oportunidades eles resolvem a situação problema dando uma resposta surpreendentemente criativa e eficaz. Essa é a ação que estimulo.
 

Tenho um modelo de jogo que atua como um norte para o processo, mas tem que haver uma flexibilidade para ajustes que vão se fazendo necessários com o tempo.

Os quatro momentos (organizações ofensiva e defensiva, transições ofensiva e defensiva) estão sempre presentes. Quero que os atletas vivenciem, em maior número de vezes e com a melhor qualidade possível, o jogo e, imersos nesse ambiente, deixem sua inteligência a serviço das soluções necessárias.

5) Apesar de saber bem a resposta da pergunta que vou fazer, acho importante que ela seja feita para despertar debates. Você aplica a Periodização Tática? Por quê?

Não, não aplico. Tive contato com a PT em 2006. Nesse mesmo período também estava iniciando de maneira mais específica meus estudos sobre as teorias da complexidade. Li muitos materiais sobre a PT. Hoje procuro por "soluções complexas" para os problemas que enfrento no dia-a-dia da equipe. Entendo a equipe como um sistema que evolui através do tempo em todas as suas variáveis e, a partir daí, preciso operacionalizar de uma maneira que atenda a todas as dimensões interferentes.

6) Você foi escolhido melhor treinador de uma importante competição sub-15 que acaba de acontecer em Belo Horizonte. Que tipo de características de jogo (ou de comportamento específico de jogo) sua equipe e seus jogadores apresentam hoje, que são evidentes e que chamam a atenção para ela, permitindo o reconhecimento do seu trabalho?

Basicamente, a velocidade de jogo, a capacidade de tomar boas decisões individuais e coletivas sob pressão de tempo e espaço.
A estruturação do espaço sem bola, da linha 1 a 5, a mobilidade com bola, a autonomia de jogo por parte dos atletas e algo que foi colocado no DNA da equipe: jamais abrir mão de tentar ter o controle da partida independente de ter ou não a bola e das circunstâncias da partida.

7) Como você vê o tra
balho dos treinadores e equipes sub-15 que enfrentou na competição em Belo Horizonte (equipes que são tradicionais no futebol brasileiro)?

Em geral muito bom. Digo isso em relação às equipes que enfrentei. Parece haver uma intenção por trás das propostas, uma organização para defender, atacar e realizar as transições. E isso não se constrói na preleção.

O talento não está sendo ceifado, mas estimulado. Muitos jogadores bons em situações de 1 vs 1 ofensivo aplicando suas habilidades com inteligência.

8) Qual o "peso" que você daria para as variáveis "qualidade dos jogadores" e "qualidade do processo formativo", para o sucesso desses jogadores e do êxito das suas equipes no decorrer dos anos de formação nas categorias de base?

Igualmente fundamentais. Um bom processo de formação aplicado em jogadores de baixa qualidade não levará à excelência. Um processo precário em jogadores com boa qualidade não trará resultados consistentes e nem explorará ao máximo o potencial humano ali existente.

Bons resultados de maneira eventual podem até acontecer. Para se atingir bons resultados de maneira crônica, faz necessário que esses dois pilares (jogadores – processo) caminhem lado a lado buscando um refinamento permanente. Estamos falando de alto rendimento, qualquer variável mal executada pode ser fatal (e provavelmente será) para o resultado final.

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