Acompanhando, ontem à noite, o programa Linha de Passe na ESPN Brasil, deparei-me com a discussão dos jornalistas a respeito da lógica econômica que está por trás do desempenho dos clubes na corrida pelo título da Série A no Brasil.
Independentemente das razões que levam os clubes a aumentar suas receitas – cotas de TV, patrocínios, planos de sócios, licenciamento, venda de jogadores – chamou-me a atenção o comentário de Juca Kfouri, ao comparar a falta de união dos clubes de futebol no Brasil para lhes favorecerem boas negociações coletivas tal qual numa liga.
Aqui, ainda impera o individualismo dos interesses clubísticos, em que pese essa postura contribuir para a depreciação do futebol brasileiro, ao contrário dos Estados Unidos, onde se percebe o posicionamento de “nós, os clubes…”.
Imediatamente, associei o comentário ao comportamento histórico dos americanos e seus fundamentos de um Estado democrático, onde, não raro, conceitos e expressões coletivas são utilizados por agentes públicos, tais como “we, the people” (nós, o povo) ou “the people versus…” (o povo contra…), seja em discursos políticos ou em tribunais.
Lá, o todo é maior e diferente que a simples soma das partes, inclusive na MLS. E nem por isso as unidades que formam o todo – clubes ou franquias esportivas – são enfraquecidas ou ocorre homogeneização das competições e tudo fica absolutamente igual.
Não é igual. É equilibrado.
Com esse equilíbrio alcançado, cada clube vai procurar sua diferenciação e vantagens competitivas adicionais na relação – num sentido amplo – com a comunidade.
Nesse sentido, é possível criar um círculo virtuoso poderoso, que mantém a atratividade pela competição, gera sustentabilidade financeira e também faz com que a legitimidade social do futebol seja alcançada.
Na Inglaterra, a Premier League apoia sua estratégia no seguinte:
Esse posicionamento estratégico, associado à boa governança corporativa, fortalece a liga, que ganha mais dinheiro, distribui mais e melhor suas receitas – pois os clubes são ativos na gestão de seus interesses individuais também no processo decisório – e favorece a manutenção de políticas de responsabilidade social corporativa.
Pois bem, fechando o ciclo com o engajamento dos clubes na vida de suas comunidades, considerando a seguinte política:
“Clubes como “hubs” de suas comunidades”
– Para melhorar a vida dos jovens
– Atuar nas áreas mais necessitadas
– Apoiar escolas
– Trabalhar em parceria
– Engajar localmente, inspirar globalmente
É isso. Sem medo de pensar e agir como “we, the clubs” porque, lá atrás, “we, the people” ajudou a forjar e construir estas instituições.