Igor Custódio, coordenador de preparação física da base do Atlético Mineiro

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Ser um bom preparador físico é ter acesso e conhecimento da ciência, vocação e olhar para o todo que influencia no desempenho de um time de futebol. Nas categorias de base, por exemplo, nem todos os clubes desenvolvem o potencial do garoto que, obviamente, não atingiu o grau máximo de maturidade, seja físico ou mesmo técnico, tático e psicológico.
Por meio do coordenador de preparação física da base, Igor Custódio, o Atlético Mineiro utiliza método para verificar quais potencialidades e fragilidades os jovens apresentam. “Ao longo dos anos, dentro da realidade do Atlético, por meio de testes e jogos oficiais, criamos valores de referência para cada uma das qualidades físicas, a fim de conseguirmos identificá-las eficientemente dentro de cada categoria do nosso futebol de base”, explica Custódio, que gerencia um departamento com sete preparadores.
No momento da seleção e avaliação, a equipe mineira não dá prioridade à capacidade física, olha primeiramente os aspectos técnicos e táticos e, num segundo momento, prima pelo perfil comportamental, dentro e fora do campo.
“Dentro do contexto da preparação física, procuramos o jogador que tenha um bom potencial para a força, velocidade, potência e resistência específica de jogo. Acreditamos que tais características possibilitam ao atleta, caso o técnico necessite, desempenhar sua função dentro da partida de maneira satisfatória, contra qualquer adversário e sob qualquer nível de intensidade”, acrescenta o coordenador.
Segundo Custódio, o trabalho é integrado ao profissional pois a forma de treinamento segue modelo único e ainda há uma base de dados unificada dos jogadores. “Tanto a fisiologia quanto a preparação física do time principal têm ciência do que é realizado na base por meio de inúmeras ferramentas de registro que possibilitam o conhecimento de informações como carga de treinamento, frequência nas atividades, histórico de lesões, jogos realizados, avaliações físicas e avaliação de desempenho em partidas oficiais, dentro de cada uma das cinco categorias de formação (aproximadamente 180 atletas)”, descreve.
O pensamento integrado também se direciona para o treinamento, afinal, em cada categoria, o desenvolvimento do aspecto físico acontece em sintonia com os quesitos técnicos e táticos e a forma de jogar do clube. Confira a entrevista:
Universidade do Futebol – Qual a sua formação acadêmica e como ocorreu o ingresso no ambiente do futebol?
Igor Custódio – Sou graduado em educação física pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), especialista em Treinamento Esportivo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente curso mestrado em Ciências do Esporte, também pela UFMG.
Meu ingresso no futebol se deu ainda nos tempos de graduação em educação física, atuando em projetos sociais da Prefeitura Municipal de Viçosa, bem como no futebol universitário. Tal experiência foi crucial para o estabelecimento de relações profissionais que possibilitaram minhas primeiras oportunidades nas categorias de base dos clubes de Minas Gerais.
Universidade do Futebol – Quais são as principais funções do coordenador de preparação física das categorias de base de um clube?
Igor Custódio – Na minha opinião, a principal função é o efetivo gerenciamento da equipe de trabalho. Gerenciamento no sentido de garantir a eficácia da aplicação da filosofia de treinamento adotada pelo clube. No Atlético Mineiro, nós contamos com sete preparadores físicos dentro do departamento de futebol de base, divididos entre cinco categorias de formação. Além disso, o processo de treinamento técnico da equipe (atualização profissional), o estabelecimento de ferramentas de registro, monitoramento e controle da carga de treinamento, a construção de parâmetros de referência para avaliação da performance física, bem como a implantação e supervisão do trabalho de forma multidisciplinar, são as principais funções atribuídas ao cargo.
 
Igor 11
Universidade do Futebol – Como se dá o processo de detecção, seleção e captação de talentos nas categorias de base do Atlético Mineiro?
Igor Custódio – Esse processo é dirigido pelo professor Frederico Cascardo, coordenador técnico do clube. Através de anos de experiência, aliada às competências técnicas de todos os profissionais envolvidos no departamento de futebol de base, se traçou um perfil de atleta de futebol que o clube julga ser o ideal para sua realidade e filosofia de formação. Baseando-se nisso, coordenadores, técnicos, auxiliares técnicos, observadores técnicos e outros profissionais vão em busca desse perfil de atleta por meio das ferramentas de captação que o Atlético Mineiro dispõe. Importante salientar que as capacidades físicas não figuram como principal fator de seleção. Uma vez o atleta selecionado e aprovado, baseando-se em valores de referência interna, se verifica quais potencialidades e fragilidades físicas ele apresenta. Dentro do contexto da preparação física, procuramos o jogador que tenha um bom potencial para a força, velocidade, potência e resistência específica de jogo. Acreditamos que tais características possibilitam ao atleta, caso o técnico necessite, desempenhar sua função dentro de jogo de maneira satisfatória, contra qualquer adversário e sob qualquer nível de intensidade. Ao longo dos anos, dentro da realidade da equipe, por meio de testes físicos e jogos oficiais, criamos valores de referência para cada uma dessas qualidades físicas, a fim de conseguirmos identificá-las eficientemente dentro de cada categoria do nosso futebol de base.
Universidade do Futebol – Nesse processo paulatino de categoria a categoria, já existe um “currículo” de formação no Atlético Mineiro que permeie todas as características técnicas, táticas e físicas do jogo em cada um desses atletas ou se trata de uma realidade muito distante?
Igor Custódio – Sim, existe. Entretanto, irei me ater aos aspectos físicos da formação do atleta de futebol. O que dita o ritmo desse “currículo” de formação é o processo de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica do atleta. Por causa disso, cada estágio desse processo deve e é levado em conta durante a administração das cargas de treinamento.
Universidade do Futebol – Qual a metodologia utilizada pelo clube nas diversas categorias? Quais as principais diferenças entre os trabalhos? Ou há uma linha metodológica semelhante para todas as faixas etárias?
Igor Custódio – Entendemos o processo de treinamento no futebol como um processo de caráter sistêmico, onde todas as ações estão interligadas e convergem para um objetivo único. Isso acontece em todas as faixas etárias. É claro que o nível de exigência dos diferentes aspectos da performance se diferenciam dentro de cada categoria. Entretanto, a linha mestre de formação está presente em todas elas. Em cada categoria, o desenvolvimento do aspecto físico acontece em sintonia com os aspectos técnicos e táticos, sempre levando em consideração a especificidade energética e biomecânica do futebol, bem como a especificidade da forma de jogar do clube.
Universidade do Futebol – O treino de preparação física é especificado por função [atividade para alas, volantes, atacantes, por exemplo]? Como diferenciar a necessidade individual e o aspecto de treino coletivo nesse caso?
Igor Custódio – Não, nenhum treinamento físico é especificado por posição. Ao longo dos anos de formação, nós conseguimos identificar as virtudes e as deficiências que cada um apresenta. O que normalmente acontece é que, de acordo com a necessidade de desempenho de cada função dentro do campo de jogo, e em cada categoria de formação, procura-se adequar essa necessidade aquele que apresenta melhores condições táticas, técnicas e físicas para tal. Agora, enquanto atleta, dentro de sua individualidade biológica, procura-se adequar a carga de treino à capacidade de adaptação, assim como também suprir eventuais necessidades específicas de condicionamento que porventura se apresentam, mesmo que o jogador tenha que, às vezes, terminar o treinamento antes dos demais companheiros ou realizar sessões individualizadas em momentos diferentes da programação de treinamento padrão.
Treino 12.01.2012
 
Universidade do Futebol – Quanto ao perfil dos profissionais da preparação física, quais são as peculiaridades que a coordenação procura para a escolha para cada categoria específica?
Igor Custódio – No Atlético Mineiro, nós trabalhamos numa perspectiva de que todos os preparadores físicos estejam aptos a trabalharem em qualquer uma das categorias de formação. Para isso, a principal característica que todos devem apresentar é uma grande vocação para a função. Sabemos que a carreira no futebol é bastante difícil e longa. Somente com uma grande vocação se consegue desenvolver todas as outras características necessárias, ou seja, um bom nível de relacionamento interpessoal, um bom perfil de liderança, serenidade, uma alta resiliência, bem como a busca constante de elevação da capacidade técnica de trabalho. Poderia citar inúmeras outras, mas creio que estas aqui são as mais importantes.
Universidade do Futebol – Como se dá a integração da preparação física da base com o grupo de profissionais que trabalha no time principal? Há uma interação constante entre as comissões técnicas ou alguns pontos têm de ser ajustados?
Igor Custódio – Essa integração funciona muito bem entre o departamento e futebol de base e o departamento de futebol profissional. Se desenvolve mais estreitamente entre mim e o fisiologista da equipe principal, Roberto Chiari, apesar de sempre existir também uma grande abertura entre os profissionais da base e os demais preparadores físicos da equipe principal. Enxergamos a forma de treinamento no futebol da mesma forma e isso facilita muito o processo. Nossa base de dados é unificada e, assim, tanto a fisiologia quanto a preparação física da equipe principal têm ciência do trabalho que é realizado dentro das categorias de base por meio de inúmeras ferramentas de registro que possibilitam o conhecimento de informações como carga de treinamento, frequência nos treinamentos, histórico de lesões, jogos realizados, avaliações físicas e avaliação de desempenho em partidas oficiais, dentro de cada uma das cinco categorias de formação (aproximadamente 180 atletas).
Universidade do Futebol – Em sua opinião, o que deve mudar no trabalho das categorias de base nos clubes brasileiros? De uma forma geral, você acredita que o trabalho é bem feito?
Igor Custódio – De uma forma geral, o trabalho é muito bem feito. A grande maioria dos profissionais que militam no futebol de base atualmente possuem uma alta competência técnica. E muitos deles já deveriam estar figurando entre as equipes de futebol profissional da Série A do Campeonato Brasileiro. O que creio que deveria mudar e virar uma rotina dentro da base brasileira é um pensamento, já praticado no Atlético Mineiro há um bom tempo, onde a seleção e avaliação do atleta de base se concentre inicialmente nas capacidades táticas e técnicas, é claro, mas que no segundo momento o quesito preponderante seja um ótimo perfil comportamental, dentro e fora de campo. As demais questões relativas às capacidades físicas deveriam vir depois dessas primeiras. Além disso, creio que a cobrança do trabalho por resultados dentro de campo é uma praxe que acredito não ter mais espaço numa visão mais moderna do futebol. Claro que ganhar é bom e faz parte da ótima formação de um atleta. Entretanto, julgar a eficiência de um trabalho de formação apenas por esse pilar é demasiadamente limitante. O trabalho deve, sim, ser avaliado com rigidez, ao longo do tempo, dentro do dia a dia de treinamento, e não apenas pelo resultado dentro do campo de jogo. Mesmo porque muitas vezes títulos são ganhos formando muito mal, e se perde títulos formando muito bem. Assim como se ganha jogos jogando muito mal, e se perde jogando muito bem.
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Universidade do Futebol – E se pensando na evolução do departamento em um clube, qual é a importância da longevidade do preparador físico? Você considera interessante o profissional responsável pelo condicionamento dos atletas acompanhar o treinador ou pensa que ele deveria ficar atrelado à agremiação?
Igor Custódio – Eu creio que uma coisa não exclui a outra. Existem profissionais da preparação física que seguirão os dois caminhos. É muito importante que o clube tenha uma filosofia de trabalho definida. E para isso teria, sim, que manter um preparador físico permanente. É claro que também é importante para o treinador ter seu preparador físico de confiança na comissão técnica. Portanto o ideal, na minha opinião, é que já havendo um preparador físico permanente, aliado e mantenedor da filosofia de treinamento adotada pelo clube, outros profissionais contratados o fossem por características semelhantes àquelas que o clube preconiza. Assim, se conseguiria dar longevidade à filosofia de treinamento da equipe e, ao mesmo tempo, não impediria que o treinador recém contratado tivesse seu preparador físico de confiança presente na comissão técnica.

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