Discutindo treino…

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Olá, leitor! Esporadicamente irei trazer aqui alguns exemplos de treinos para determinadas competências do jogo, a fim de que possamos discutir sobre sua aplicabilidade, dinâmica, coerência com os objetivos e que vocês possam trazer suas opiniões a respeito. Sempre no intuito de contribuir com a evolução de cada um e do nosso futebol, buscando alcançar a premissa desta casa: transformação pelo conhecimento.

Antes de propor as atividade de treino se faz necessário deixar claro alguns princípios que norteiam minha atuação profissional, princípios enraizados no pensamento complexo, numa visão sistêmica da vida e, consequentemente, do jogo de futebol:

  • Estou treinando “pessoas que se movimentam”: vejam a fala do Professor Manuel Sérgio no vídeo abaixo.


Antes de tudo, busco enxergar meus jogadores como pessoas, como alguém semelhante a mim, passíveis das mesmas mazelas e regozijos da vida como eu e que, acima de tudo, merece respeito. Visão que não me impede de lhe cobrar um elevado nível de performance, principalmente no esporte de alto rendimento, até porque buscar os mais altos níveis junto de meu atleta é uma das maiores formas de o respeitar. “Melhores pessoas serão melhores jogadores.”

  • Princípio da especificidade e sobrecarga: Se quero treinar meus jogadores para jogar futebol, entendo que não há maneira mais eficaz e mais específica para isso do que jogando, e jogando futebol (questões de ordem especificamente profiláticas serão sempre respeitadas e contempladas). Competindo num jogo de futebol, a competitividade que se deseja dos jogadores, pode e deve ser estimulada e desenvolvida dentro da sessão de treino. Dentro do jogo, posso manipular suas referências (alvos, bola, espaço, tempo, regras e número de jogadores) a fim de gerar uma sobrecarga do objetivo ao qual proponho para a sessão de treino.
  • Conduzir os jogadores ao “estado de jogo”: assunto abordado na coluna “Que desafios você propõe?”. Atividades que proporcionem tal estado aos atletas, podem gerar um alto índice de performance e absorção do conteúdo proposto para a sessão de treino. Mas logicamente, a atividade fechada em si mesma é insuficiente, é necessário sempre a sua transposição.
  • Não adianta trazer respostas para perguntas que não foram feitas: é analisando o jogo, como cada atleta e como minha equipe joga, que irei encontrar a resposta para pergunta “O que treinar?”. São os atletas, de acordo com suas competências, desempenho e desenvolvimento quem vão direcionando o trabalho, sempre alinhado à cultura e objetivos do clube em que se está inserido e às necessidades dos atletas/equipe/categoria.
  • Buscar cumprir a lógica do jogo: outro assunto já discutido na coluna “O quanto a sua equipe tem se aproximado de cumprir a lógica do jogo?”. Vencer o adversário é uma busca a cada jogo, a cada treino, portanto, essa busca pela vitória, por estar sempre 1 gol a frente, é conteúdo de treino. A cada treino devemos buscar a melhores maneiras para se alcançar esse gol a mais que o adversário.
  • O jogo deve promover prazer em quem joga e em quem assiste: a grande maioria dos que vivem o futebol, o fazem pelo prazer que este lhes proporciona ou proporcionou em algum momento. Se os jogadores não tiverem prazer, alegria, paixão, amor por jogar, por um jogar que seja prazeroso, dificilmente se empenharão sempre ao máximo nos treinos e jogos.
  • “A didática transcende o método”: Mesmo que eu respeite todos os princípios acima, será incompleta minha atuação se não cuidar de minha didática, da forma como me comunico e interajo com meus jogadores. Se não cuidar para abordar e intervir de forma eficaz, poderei não atingir os máximos níveis de desempenho que desejo para minha equipe.

Dados os princípios norteadores da elaboração e condução do trabalho, utilizo quatro matrizes (de acordo com as ideias do Prof. Alcides Scaglia) de jogos para operacionalização dos treinos, que são os Jogos Conceituais, os Jogos Conceituais em Ambiente Específico, os Jogos Específicos e os Jogos Contextuais. Cada um deles, resumidamente, se caracteriza por:

  • Jogos Conceituais: são aqueles onde pode haver uma maior manipulação das referências estruturais (espaço, alvos, bola e número de jogadores) e das regras do jogo, a fim de se desenvolver os conceitos de jogo que se pretende praticar.
  • Jogos Conceituais em Ambiente Específico: são aqueles onde as referências estruturais do jogo são exatamente as mesmas do jogo formal, sendo manipuladas as suas regras, a fim de se desenvolver e aplicar os conceitos que se pretende praticar em um ambiente especifico do jogo formal. Nestes jogos é onde deve ocorrer a transposição dos conceitos trabalhados nos jogos conceituais.
  • Jogos Específicos:  são aqueles onde as referências estruturais e as regras do jogo são exatamente as mesmas do jogo formal. Nestes jogos é onde deve ocorrer a transposição dos conceitos trabalhados nos jogos conceituais e conceituais em ambiente específico.
  • Jogos Contextuais: são aqueles onde as referências estruturais e as regras do jogo são exatamente as mesmas do jogo formal. Jogos que possuem relação especifica com as características do adversário do próximo jogo.

Assim sendo, trago neste primeiro momento um jogo conceitual com o objetivo principal de finalização, vamos ao jogo:

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  • Conteúdos: finalizar ao alvo de forma mais eficaz e rápida possível; confrontos 1×1 e 2×1; recuperar a bola e/ou bloquear a finalização; direcionar o adversário para as laterais, diminuindo seu ângulo de finalização.
  • Desenvolvimento: equipes de 1+6 x 1+6; 3×15’/2’; gol atrás da linha intermediária = 3 pts, entre a linha da grande área e linha intermediária = 2 pts, dentro da grande área = 1 pt; vale o gol da equipe que o marcar primeiro. Nos primeiros 15’ não há oposição do adversário, o jogador que está na linha de fundo faz um passe (alternando entre passes rasteiros e aéreos) para o que está na linha intermediária, este recebe a bola e finaliza ao gol, na sequência quem fez o passe vai para a finalização e quem finalizou vai fazer o passe. Nos 15’ sequentes se dá a mesma dinâmica, porém quem faz o passe é o adversário, que imediatamente faz a oposição a quem recebe a bola. Nos 15’ finais mantem-se a dinâmica da atividade com o adversário fazendo o passe da linha de fundo e criando a oposição na sequência, porém o confronto agora será de 2 atacantes para 1 defensor.
  • Feedbacks: são realizados com o intuito de que os jogadores busquem finalizar de forma mais rápida e eficaz possível, se fará necessária uma boa leitura para realizar ou não uma finalização de primeira, boa técnica de domínio e finalização, objetividade no confronto 1×1 e utilização da vantagem numérica no confronto 2×1. Impedir a finalização do adversário, recuperando a bola e/ou bloqueando (posicionar-se no intuito de proteger o alvo) a finalização, direcionar o adversário para as laterais, a fim de diminuir seu ângulo de finalização.

Bem caro leitor, está dado o pontapé inicial para a discussão, e você, o que achou deste treino? Como enxerga os princípios em que me pauto? Quais são os princípios que pautam a sua atuação? Em que concordamos e em que discordamos?

Discutir atividades de treino, metodologias, princípios norteadores, didática etc., é um exercício que contribui para o crescimento profissional de cada um, entender como cada um busca desenvolver determinada competência, tendo um olhar crítico para o nosso treino e o de outro profissional, nos ajuda a refletir de que formas podemos ser mais eficazes em nossa atuação. Conto com sua participação para que possamos crescer juntos.

Até a próxima!

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