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O tema abordado neste quarto artigo da série sobre Governança Corporativa no Futebol é a auditoria externa; discutiremos assuntos relacionados às funções e perfil do auditor, etapas, pontos positivos e negativos do processo.

O PAPEL DO AUDITOR EXTERNO

O auditor externo tem como seu principal papel identificar a real situação do clube, independente de balancetes e demonstrativos financeiros, e averiguar se os resultados são condizentes com a realidade.

O processo de divulgação de informações é uma garantia fundamental para assegurar a confiança dos grupos de interesse internos e externos no trabalho feito pela gestão de um clube.

Para garantir um processo adequado de auditoria externa, é necessário buscar profissionais qualificados, competentes, independentes e isentos de qualquer relação com o clube.

Cabe ao auditor portanto revisar métodos e sistemas internos de controle para buscar formas de aperfeiçoar, sugerindo melhorias, apontando falhas e otimizando o processo através de relatório.

Recomenda-se que no processo exista rotatividade periódica entre os responsáveis pela realização da auditoria para que dessa forma o processo mantenha-se isento e independente, em um ciclo seguro para todas as partes interessadas.

A auditoria interna também faz parte do processo de auditoria externa, de forma que ela se faz um instrumento importante de controle, deve ser realizada por um comitê fixo que atua de forma independente da auditoria externa, mesmo sendo recomendável a troca de informações entre ambas.

O parecer deve ser sempre elaborado e apresentado de forma clara e objetiva, contendo o escopo, tarefas executadas, ponto de vista e a responsabilidade assumida pela auditoria independente.

Via de regra, as recomendações da auditoria externa devem ser reportadas diretamente ao conselho de administração, que em sequência deverá encaminhar as recomendações aos departamentos responsáveis e conselhos do clube.

Visando assegurar a independência dos auditores nunca devem haver serviços extras prestados pela mesma empresa, como consultoria financeira ou de gestão, por exemplo, em paralelo ao trabalho de auditoria.

IMPACTO DA ESCOLHA DE AUDITORES EXTERNOS PARA PARCEIROS COMERCIAIS, INVESTIDORES E ACIONISTAS:

Os impactos na escolha de auditores externos podem ser divididos em positivos e negativos, com resultados distintos para o auditado:

IMPACTOS POSITIVOS:

-Análise dos demonstrativos: A análise é capaz de apontar possíveis falhas e indicar a melhor maneira de corrigi-las.

-Melhoria dos controles internos: Por não participar do dia a dia do auditado, o auditor é capaz de verificar de forma mais crítica

os processos, apontar falhas nos registros e através de relatórios apresentar resultados para os gestores da empresa poderem reavaliar

os métodos utilizados e buscarem o aperfeiçoamento qualificando os controles internos e prevenir erros e fraudes.

-Facilidade na obtenção de crédito: O documento assinado pelo auditor contábil legalmente habilitado induz

credibilidade para a organização junto ao mercado de capitais, pois demonstra transparência nos procedimentos. Assim, fica mais fácil

acessar fornecedores e instituições financeiras para a obtenção de empréstimos e condições favoráveis de pagamento.

-Segurança financeira: As análises sistemáticas procedidas nos dados contábeis e financeiros da empresa tendem a inibir a prática futura de atos lesivos a empresa. A auditoria confere segurança ao auditado na medida em que reduz-se os riscos de erros, evitando-se por exemplo, notificações ou autuações do fisco por falhas nos cálculos e recolhimentos dos tributos. Essa segurança garante, automaticamente, confiabilidade do mercado externo, facilitando a atenção de investidores.

-Governança Coorporativa: Administrar com números confiáveis favorece à tomada de decisões assertivas. Com informações detalhadas em mãos e com o aval de um auditor externo, os gestores da empresa conseguem entender melhor o próprio negócio, ampliar a visão e visualizar até mesmo novas oportunidades de investimentos.

Com uma boa auditoria externa periódica torna-se mais fácil o planejamento da empresa com vistas à competitividade e à sustentabilidade do negócio, favorecendo assim um ambiente de segurança para gestores e demais envolvidos ou que dependem da entidade.

IMPACTOS NEGATIVOS:

-Fraude e erro: Presente em quase todos os segmentos, fraudes e erros são os maiores impactos negativos possíveis dentro de uma auditoria externa.

A fraude pode ser caracterizada por manipulação, falsificação ou alteração de registros, apropriação indébita de ativos e diversas outras formas.

-Adequação de evidência: Compreende as informações utilizadas pelo autor para a chegar às conclusões em que se fundamentam a sua opinião. A quantidade necessária da evidência é afetada pela avaliação do auditor dos riscos de distorção relevante e também pela qualidade da evidência da auditoria, sejam elas físicas, documentais, analíticas ou testemunhais.

-Isenção: É ilusório considerar que um auditor chega a um processo de auditoria ISENTO de informações; as informações chegam através de diversos canais previamente mesmo que sem premeditação, através da mídia por exemplo. Além disso, no caso do Futebol, caso o auditor externo tenha ligação com o clube, seja como torcedor ou outras questões pessoais, o processo pode resultar em considerações tendenciosas, positiva ou negativamente.

-Práticas não escrituradas: As práticas esportivas no Brasil aceitam medidas que não podem ser escrituradas, por exemplo o pagamento de “mala branca”. Não existe previsão legal expressa sobre a forma registrar precisa e corretamente operações desse tipo: como registrar quem paga e quem recebe?

-Real função: Por processos de auditoria não seguirem padrões exatos, pode ser vago considerar o que é uma auditoria, a quão fundo ela deve ir e até mesmo para que se determine se trata-se de um processo simplesmente para saber “se a conta fecha” ou voltado para investigar detalhadamente veracidade dos lançamentos contábeis.

CASOS OCORRIDOS NO EXTERIOR:

O principal caso de fraude contábil ocorrido no exterior nos últimos tempos envolveu a gigante norte-americana do setor energético Enron Corporation, no ano de 2001.

A empresa atuava no setor de energia, gás natural e petróleo, tendo participações em várias entidades empresariais pelo mundo todo.

O caso abalou seriamente a credibilidade do público investidor nas informações contábeis prestadas pelas companhias e no desempenho dos auditores independentes.

As práticas desleais de contabilidade envolvendo a Enron, envolveram:

-Lucros artificialmente inflados: Os executivos da empresa usualmente escondiam despesas da demonstração de resultados e avaliavam ativos a preços artificiais para aumentar os lucros.

-Utilização de sociedades de propósito específico(SPE) para alterar valores contábeis: Diretores da Enron criaram um complexo sistema de transferência de ativos e passivos para SPEs, de forma a esconder do público investidor créditos de alto risco e passivos que levantariam suspeitas sobre sua solvabilidade, de forma que a consolidação de balanços se tornasse desenecessária.

CASOS OCORRIDOS NO BRASIL:

Um dos casos ocorridos no Brasil é o do Banco Nacional.

Por vários exercícios a instituição financeira lançou créditos em sua contabilidade de maneira fraudulenta.

O procedimento foi confirmado com a escrituração de centenas de contas-correntes negativas(que ficaram conhecidas como “contas 917”, em nome de clientes que não tinham mais relação financeira com o banco), que totalizaram bilhôes em lançamentos de operações de crédito inexistentes, gerando receitas e lucros artificiais, escondendo prejuízos.

A auditoria contratada responsável pelas demonstrações contábeis do banco foi condenada pelo Banco Central ao pagamento de multa, além da suspensão do registro profissional e processo criminal do sócio responsável pela auditoria.

CONCLUSÃO

A auditoria externa tem como objetivo principal demonstrar a correção e a integridade dos registros e informações contábeis e, assim sendo, envolve diversos players, inclusive investidores.

É dever da auditoria externa além de atestar a credibilidade, implementar ou orientar ações corretivas para minimizar erros ou prevenir falhas, servindo para fazer um trabalho a médio e longo prazo de prevenção de perdas, pela correção de procedimentos, antes que estes se tornem passivos.

O trabalho que o auditor externo, por não estar sujeito as pressões políticas dos clubes, poderá contribuir de forma importante ao realizar processos eficazes e transparentes no desempenho de sua função em relação a uma organização auditada.

Cabe ao auditor e ao processo tornarem-se instrumentos úteis, íntegros e imparciais do processo.

Leia mais

Governança Corporativa – Parte l

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