As finanças do futebol brasileiro chegaram no limite

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A última sexta-feira, 30 de abril, foi o prazo final dos clubes para a divulgação de seus resultados financeiros do ano de 2020. Em ano de pandemia, seria natural que a situação fosse ruim para praticamente todas as instituições. Com a tendência confirmada, é possível dizer que as dívidas atingiram números inéditos. A partir disso, esse texto tenta responder duas questões: Será que chegamos ao limite no valor das dívidas? Quais as consequências disso para o futebol brasileiro, dentro e fora de campo?

“Atlético-MG divulga dívida de R$ 1,2 bi e prevê redução drástica em 5 anos”. “Dívida do Corinthians cresce e chega perto de R$ 1 bilhão; veja raio-x das finanças”. “Fluminense reduz prejuízo em 2020, mas dívida vai a R$ 768 milhões”. “Inter fecha 2020 com déficit próximo a R$ 90 milhões e tem pior resultado na história”.

A partir das manchetes acima, podemos falar sem medo de errar: chegamos ao limite. Muito se fala no impacto da pandemia nas contas do último ano, porém terminar o ano com resultados negativos e dívidas crescentes é um comportamento que estamos vendo há um certo tempo por aqui. As gestões mudam, novos presidentes chegam prometendo uma gestão mais profissional, mas na prática o que vinha acontecendo eram administrações não compatíveis com o nível que o futebol atingiu como indústria. Para os dirigentes, não havia problema, já que o modelo associativo livra estes de qualquer punição.

Como em outras áreas, a pandemia veio apenas para reforçar uma transformação que já estava acontecendo, ou ao menos deveria estar. Não será mais possível manter esta forma de gerir os clubes, e alguns já se deram conta. Estas instituições conseguiram inclusive ter um 2020 menos turbulento. Grêmio e Athletico Paranaense foram dois exemplos disso, sendo os únicos grandes clubes a apresentarem superávit de R$ 38 milhões e R$ 134 milhões, respectivamente.

Outros clubes atingiram uma situação tão crítica que provavelmente levarão anos para retomar a condição de protagonistas do futebol brasileiro. É o caso de Botafogo, Cruzeiro e Vasco, que terão um 2021 ainda mais complicado disputando a série B. Essa mudança na ordem de grandeza dos clubes no cenário nacional é, provavelmente a grande consequência destes anos de má administração. Nesta década que se inicia, clubes como Ceará e Fortaleza, com gestões mais responsáveis e utilizando diversas práticas inovadoras, parecem melhores escolhas para os atletas do que os clubes citados anteriormente, onde não há garantia inclusive de receber o salário em dia.

Pensando no futuro, por onde uma instituição deve começar para sair do caminho das dívidas?

O primeiro passo é assumir a dívida e comunicar isso para todos os interessados: aos credores, com um planejamento de como o montante será pago. Apresentando um planejamento, é possível inclusive negociar algum desconto na dívida, ou estender para um prazo maior e aliviar o fluxo de caixa do clube. Tão importante quanto, é preciso comunicar a imprensa e a torcida. As cobranças por resultados e contratações atrapalham demais e colaboraram para que a situação chegasse até o limite que estamos debatendo neste texto.

Segundo passo é pôr em prática as mudanças no modelo de gestão. É preciso que dirigentes políticos e profissionais tenham mais responsabilidade com as finanças dos clubes, montando elencos de acordo com as possibilidades. Além disso, utilizar as categorias de base não apenas em situações de emergência, mas como parte da estratégia de longo prazo dos clubes. Por fim, realizar investimentos em estrutura, como centro de treinamentos para as próprias categorias de base.

A crise financeira do futebol brasileiro chegou ao seu limite. Daqui para frente, os clubes que não modificarem sua gestão devem sofrer cada vez mais, perdendo inclusive sua competitividade dentro de campo. Quem insistir em se endividar terá que sofrer as consequências.

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