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Quem vai ficar com Tevez?

O futebol inglês passa novamente por um surto de gastança desenfreada. Se no verão passado a atenção estava no comportamento das WAG’s (Wifes And Girlfriends), as esposas e namoradas dos jogadores da seleção inglesa que esvaziavam as prateleiras dos shoppings alemães durante a Copa do Mundo com os cartões de seus maridos, neste ano o desequilibro consumista está sendo manifestado pelos clubes da Premier League.
 
Muito, mas muito dinheiro está sendo gasto no mercado de transferências. Tudo por conta do novo contrato de transmissão, que permite que o gasto seja bastante superior a qualquer outro mercado Europeu. Dentro dessas transferências está a de Tevez, do West Ham para o Manchester United. E, para variar, vem recheada de controvérsias.
 
Vale relembrar o histórico recente de Tevez, que começou fazendo sucesso no Boca Juniors e ajudando o seu time a ser campeão da Libertadores. Logo depois, foi comprado pela MSI por US$ 20 milhões e veio parar no Corinthians, naquela que foi considerada a maior transferência da história do futebol sul-americano, mas sem que o dinheiro da transferência jamais tenha passado pelo Brasil. Fazia sentido, uma vez que o jogador nunca chegou a ser de fato do Corinthians, mas sim da MSI, que havia o emprestado ao clube paulista. Caracterizava-se, assim, aquilo que se entende como “third party ownership”, ou seja, a aquisição de um jogador por um terceiro que não seja um clube de futebol, fenômeno comum no futebol de países em desenvolvimento, mas visto com desconfiança pelos gerentes do futebol mundial.
 
Passado um tempo no Corinthians, Tevez foi ganhar o mercado europeu. Desembarcou ano passado no West Ham, junto com seu colega Mascherano, em uma das transferências mais esquisitas já registradas na Inglaterra. Durante o campeonato, a Premier League chegou à conclusão que o West Ham e a MSI estavam quebrando as regras da liga, mais especificamente a regra U18, que diz que nenhum jogador ou clube pode fazer uso de acordos que utilizem a tal da prática do “third party ownership”. Nisso, a PL multou o West Ham em cinco milhões de libras e mandou que o jogador fosse integralmente registrado com o clube. O West Ham disse que tava beleza, que tinha rasgado o contrato com a MSI e que o Tevez tinha passado a ser do clube e de mais ninguém.
 
Pouco tempo depois de ser multado financeiramente, mas sem a perda de pontos, o West Ham conseguiu escapar da degola para a segundona no último jogo, justamente com um gol de Tevez contra o já campeão Manchester United. Nisso, quem acabou caindo foi o Sheffield United, que então resolveu entrar na justiça por achar que o julgamento do West Ham no caso Tevez havia sido mal resolvido, e que o clube deveria ser punido com a perda de pontos no campeonato, e conseqüentemente rebaixado para a segunda divisão. Tudo isso porque o próximo contrato de televisão da Premier League vai render pelo menos 20 milhões de libras para cada clube, que é um valor muito maior do que a pequena multa de 5 milhões recebida pelo clube londrino.
 
Depois de muita polêmica e discussão, os juízes do caso do Tevez chegaram à conclusão que o Sheffield não podia reclamar da pena do West Ham. Os próprios juízes acharam que o West Ham deveria ter sido punido com a perda de pontos, mas eles disseram que não havia mais nada a ser feito. O Sheffield, então, resolveu levar o caso pra justiça comum.
 
Nesse meio tempo, o Manchester United manifestou interesse na compra do Tevez. Entretanto, o Manchester falou que tinha chegado a um acordo com a MSI por um empréstimo de dois anos com a posterior opção de compra. Aí, o West Ham falou que o jogador é do clube, e não da MSI, e que ele ainda tem três anos de contrato, ou seja, se o Manchester quer comprar o Tevez, tem que pagar, e muito, o West Ham. O Manchester falou que não vai pagar o West Ham. O Tevez mandou uma carta pedindo desligamento do West Ham. A Premier League disse que não reconhece a MSI e nem a carta do Tevez, que o jogador é do West Ham – afinal eles tinham dito que haviam rasgado o contrato com a MSI e que o jogador estava integralmente registrado no clube – e que só vai deixar o jogador atuar pelo Manchester se o West Ham receber o valor total da transferência.
 
Nesse cenário todo, é sabido que coisa boa não virá por aí. Afinal, caso o West Ham reconheça que a MSI é quem manda no Tevez, o clube vai se legitimar como mentiroso por ter enganado a Premier League, que vai ficar com cara de tacho por ter aplicado uma multa relativamente branda para um caso em que foi publicamente enganada. Caso o West Ham fique com os direitos sobre o Tevez, a MSI perde muitos milhões de libras. A MSI possui laços com a máfia russa, e todo mundo sabe o que acontece com quem deve milhões pra máfia russa.
 
Por fim, observando tudo o que acontece, está o Sheffield United, que a cada dia que passa ganha mais argumentos para dar suporte ao seu caso na justiça comum. Sexta-feira sai mais uma decisão judicial do processo. É só comprar a pipoca, sentar no sofá e assistir. É diversão garantida.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br