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Semelhanças e coincidências

O caso em voga é agora o Grêmio Barueri, que anunciou na semana passada um desmanche da comissão técnica e demissão de membros ligados a direção do clube. A notícia saiu no site “Máquina do Esporte” e pode ser conferida aqui

A situação da agremiação é típica. Encaixa muito bem como exemplo para um texto que escrevi em janeiro deste ano aqui mesmo no portal da Universidade do Futebol, falando da dificuldade que os clubes têm em absorver aprendizado contínuo. Não implementam mudanças ou inovações, mesmo vivenciando na prática aquilo que deu errado ou mesmo certo para servir como base para a sua evolução enquanto instituição.

Lembro-me da história recente deste clube paulista, que em menos de três anos saiu da Série C para a Série A, fruto de um planejamento consistente, com a contratação de profissionais estudiosos que, coincidentemente (ou não), figuram hoje nos quadros de grandes clubes do futebol brasileiro.

O site oficial destacava a existência de uma equipe multidisciplinar que dava suporte aos treinamentos, composta por profissionais do Esporte, Educação Física, Administração, Comunicação Social, Marketing, Direito, Contabilidade, Psicologia, Pedagogia, Nutrição, Fisioterapia, Fisiologia e Medicina.

A sequência de episódios protagonizada pelo Grêmio Barueri não é apenas um caso dentro do futebol brasileiro. E qualquer semelhança com o clube da sua cidade não é mera coincidência, caro leitor.

Isso tudo se deve ao continuísmo de pensamento arcaico da quase totalidade dos dirigentes esportivos que, mesmo no Século XXI, período em que temos acesso a mais informação de qualidade, a possibilidade de aperfeiçoamento e intercâmbio internacional, a cursos e conhecimentos diversos – inclusive em outras modalidades – preferem a ignorância sobre os fatos.

A impressão que dá é que erros desta natureza se repetem como ciclos, a exemplo das fases da lua. Na verdade não é só impressão, e sim uma realidade do nosso futebol, que só irá mudar se um dia houver uma mudança radical de pensamento e pessoas.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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A montagem de um elenco – parte III

Nessa sequência de textos sobre montagem de elenco, já discutimos a importância em compartilhar as responsabilidades, bem como ouvir o maior número possível de profissionais a fim de selecionar uma gama de informações consistentes e que facilitem a tomada de decisão, considerando dois olhares: o primeiro, relativo ao encaixe do atleta de forma mais precisa no elenco; e o segundo, pertinente à questão de tempo e gastos despendidos nas negociações, tornando-as mais precisas e menos custosas tanto financeira, como politicamente.

Assim, como construir um processo de leitura e discussão das informações sobre os atletas?

Os primeiros passos já foram expostos (compartilhar e ouvir diferentes profissionais), e são de suma importância para o desenvolvimento do processo, isso porque precisamos quebrar alguns paradigmas e sobretudo convicções pessoais que todos possuímos quanto ao teor de informações.

Existem aqueles que dizem que os números nadam querem dizer, que a estatística não serve, pois não apresenta nada. Por outro lado, existem alguns que criticam informações subjetivas, pois estas não podem ser tomadas com rigor e seriedade confiáveis. Outros ainda não aceitam a ideia de que o feeling do profissional possa ter importância na tomada de decisão.

Enfim, opiniões existem e são divergentes. Porém, isso deve ser o ponto mais forte de um processo de montagem de elenco pautado em informações. Quanto mais informação, e mais precisamente, quanto mais informação de diferentes formatos, tipos e espécies, mais rica e mais completa será a análise.

Dessa forma é importante criar, desenvolver, adaptar, comprar, seja qual for o formato, aplicativos e sistemas de coleta, armazenamento, controle e interação de diferentes tipos de dados.

E são estas algumas variáveis que apresentamos, e que nas próximas semanas pretendemos entrar mais em detalhes:

Scout quantitativo
Scout com vínculo aos Modelos de Jogo e situações (qualitativo/quantitativo)
Histórico de lesões
Histórico comportamental (Relatório de adaptabilidade)
Histórico de relacionamentos (Relatório de adaptabilidade)
Feeling de profissionais da área técnica

Assim como na coleta de informações com diferentes profissionais, aqui temos a distribuição em diferentes ferramentas e informações que devem ser transformadas em linguagem padrão para a tomada de decisão e devem adquirir seus pesos de importância de acordo com os critérios e filosofia adotados pelo clube.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br  

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Diga não!

O ser humano reina na Terra.

Reina porque a evolução das espécies privilegiou-nos com a capacidade intelectual.

O cérebro é nosso maior signo distintivo perante os demais seres.

É verdade, existem outros atributos que nos tornam únicos e favoreceram nossa adaptação, como a oposição do polegar ante outros dedos da mão, que permitiram a manipulação de instrumentos, em especial de defesa e, posteriormente, de domínio da agricultura e de outros animais.

Na transição evolutiva de milhares de anos entre os primatas e o primeiro ser humano, muito se perdeu e muito se conservou em nosso DNA. Herança genética que também condiciona, até hoje, nossa parte instintiva.

Passados alguns milhares de anos, o homem, de fato, usou essa inteligência para gerar riquezas, melhorar as condições de vida de seus pares, inventar maravilhas tecnológicas.

Também fez uso dela para destruir, matar, subjugar, escravizar, dominar, excluir, aproveitar-se.

Vendo o filme O Planeta dos Macacos – A origem, entendemos que, tanto o primata quanto o homem, dispõem de uma carga genética, inata, bem como o condicionamento ao meio em que vivem.

E que ambos conseguem, à sua medida, dispor de inteligência para aprender e executar ações.

No filme, César, o chimpanzé inteligente, consegue, com treino e estímulo medicinal, realizar tarefas em número recorde de movimentos.

Mas o homem consegue também ensinar, principalmente pelo exemplo.

E o homem também possui a capacidade de dizer não. O livre arbítrio.

Os primatas são condicionados a um aprendizado que lhes é imposto, sem questionamentos.

O homem pode dizer não. Pode indignar-se.

Se continuarmos fazendo as mesmas coisas, atingiremos os mesmos resultados.

Se o futebol brasileiro continuar formando jogadores autômatos, e não questionadores, pensantes, críticos, que desafiem a lógica, embora a respeitem, seguirá como a boiada pro abate.

Declínio técnico, que se refletirá em declínio comercial, e, com isso, o sistema não se sustentará.

Muitos de nossos jogadores sabem realizar tarefas com precisão.

Uns poucos sabem seu papel, o por quê de sua função no meio social, que lhes permita transferir o conhecimento e experiência adquiridos, quando almejarem novos horizontes na carreira – como treinadores, por exemplo, ou diretores de futebol.

É dever dos gestores do futebol criar condições favoráveis para essa evolução.

Dizer não a uma série de coisas equivocadas que são feitas no futebol, e encontrar caminhos diferentes, é o ponto de partida.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Estruturando o espaço de jogo: do anárquico ao elaborado

Estruturar o espaço de jogo não se resume apenas a “fechar o espaço aqui ou ali” ou saber se posicionar neste ou naquele esquema tático, mas sim no entendimento do jogo como um ambiente de cooperação e disputas posicionais.

Estruturar bem o espaço de jogo passa por saberes anteriores aos conteúdos estruturais do Modelo de Jogo e faz parte das competências essências.

Conforme nos trazem em seus estudos Alcides Scaglia e Júlio Garganta, a estruturação do espaço, a relação com a bola e a comunicação na ação fazem parte das competências essenciais do jogo de futebol. Essas competências caminham juntas em todo o processo de evolução do jogar dos atletas e são habilidades básicas dentro do jogo.

Na estruturação do espaço, os jogadores caminham de uma fase anárquica, em que os jogadores se aglutinam em torno da bola, até uma fase elaborada, quando há polivalência de funções e as ações dos jogadores são coordenadas coletivamente.

Antes de chegar à fase elaborada, os jogadores passam ainda pelas fases de descentração, em que a ocupação do espaço acontece em função dos elementos do jogo, e estruturação, quando há uma ocupação racional do espaço do jogo.

Ao longo desse processo de evolução da fase de jogo no que tange a estruturação do espaço, os jogadores vão entendendo gradativamente: o espaço de jogo; como se posicionar em função dos elementos constituintes da partida (campo, bola, alvos, companheiros, adversários); suas funções e as de seus companheiros; como a regra orienta a ocupação do espaço; posicionamentos básicos; a coordenação coletiva de funções dentro do jogo, etc.

Nesse processo de evolução, os jogadores passam a visualizar, entender e elaborar respostas cada vez mais evoluídas aos problemas “espaciais” do jogo.

Como nada ocorre por acaso, é preciso criar um processo de aprendizagem adequado para o desenvolvimento da “habilidade espacial” dos jogadores.

Abaixo, apresento três atividades que têm a estruturação do espaço como norte. Vale ressaltar que elas fazem parte de um processo hipotético de treino.

Atividade 1

Descrição
– Atividade é composta por duas equipes de três jogadores.

Pontuação
– Equipe que fizer o gol nos golzinhos adversários marca 1 ponto.



 

Atividade 2

Descrição
– Atividade é composta por duas equipes de quatro jogadores mais um coringa que joga para a equipe que estiver com a posse de bola.

– Cada jogador deve ficar no seu quadrante dentro do campo e o coringa se movimenta de forma livre pelos quadrantes.

Pontuação
– Equipe que trocar cinco passes marca 1 ponto.



 

Atividade 3

Descrição
– Atividade é composta por duas equipes de cinco jogadores mais quatro coringas que jogam dentro de um espaço delimitado nos vértices do campo.

Pontuação
– Equipe marca ponto quando conseguir fazer um passe para os coringas.



 

Estruturar o espaço de jogo vem antes e vai muito além do esquema tático…

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br  

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O que deve ser aperfeiçoado para evolução do jogar da seleção brasileira sub-20?

A seleção brasileira de futebol sub-20 conquistou o pentacampeonato mundial da categoria vencendo a equipe de Portugal, na prorrogação, por 3 a 2. Mesmo com as ausências de Lucas e Neymar, que serviram a equipe principal na Copa América, os atletas comandados pelo técnico Ney Franco fizeram uma excelente campanha com cinco vitórias, dois empates, 18 gols marcados e cinco sofridos nos sete jogos que disputaram.

Diferentemente do ocorrido na Copa América, as críticas que foram amplamente distribuídas pela mídia ao treinador Mano Menezes, foram poupadas ao Ney Franco (e, consequentemente, à sua comissão técnica), devido à conquista do primeiro lugar. Porém, se quando se perde não significa que exatamente tudo está equivocado, quando se ganha, não significa que tudo está perfeito. Após as merecidas comemorações, é momento de reflexões do que precisa ser aperfeiçoado, ajustado, mantido e, até mesmo, modificado. Reflexões necessárias para que o potencial de supremacia da seleção brasileira seja confirmado não só como foi no Mundial, mas também, no Panamericano que acontecerá em outubro, nos Jogos Olímpicos de Londres no ano que vem e a fim de que em cada competição que as categorias inferiores estejam envolvidas, comecem a ser observados os jogadores que, futuramente, poderão integrar a equipe principal (como já aconteceu com Danilo).

Individualmente, a seleção brasileira contou com peças-chave em diferentes jogos, tanto em ações defensivas como em ofensivas. O goleiro Gabriel falhou (e não foi sozinho) em um único lance frente à equipe portuguesa. Nos demais jogos, mostrou-se muito eficaz na ação de proteção do alvo e praticamente imbatível no 1×1. Bruno Uvini foi muito seguro na manutenção do posicionamento zonal, nas coberturas defensivas e combates, além de ter sido a grande referência de liderança da equipe. Casemiro, de volante pelo lado direito, zagueiro da sobra ou central, poupou diversas substituições de Ney Franco para posições mais defensivas de modo que Dudu e Negueba pudessem entrar em todos os jogos.

Oscar, desta vez utilizado em setores do campo em que melhor pensa o jogo (se você ler o artigo sobre o Modelo de Jogo da seleção brasileira no sul-americano sub-20, poderá observar que algumas regras de ação de Oscar eram de atacante, o que lhe custou a titularidade), fechava muito bem linhas de passe, posicionava-se rapidamente atrás da linha da bola na ação defensiva e tinha a componente tomada de decisão-ação para o passe acima da média. Um belo organizador.

Henrique, com finalizações de média distância, linhas de passe abertas na zona de risco ou ataque à bola, mostrou recursos ofensivos suficientes para a premiação de bola de ouro do Mundial. Defensivamente, pressionou alto, retardou, recompôs e nas transições atacou a bola como poucos no Brasil geralmente fazem.

Dudu e Negueba precisam evoluir tática, defensiva e coletivamente, porém, com a bola nos pés, a imprevisibilidade da ação ofensiva deles aumenta exponencialmente. Desconcertam, driblam, fintam, cruzam e, o primeiro, ainda faz gols.

Coletivamente, a plataforma de jogo mais utilizada foi a 1-4-3-1-2 que, no segundo tempo, variava preferencialmente para a 1-4-3-3. A 1-3-4-3 contra a Espanha e 1-3-5-2 contra o México, também foram observadas. As variações estruturais do sistema aconteciam visando um melhor aproveitamento das características de Dudu e Negueba que têm melhores desempenhos pelas faixas laterais. Para utilizar três zagueiros, a solução encontrada por Ney Franco era recuar Casemiro entre Juan e Bruno Uvini.

Resumidamente, na fase defensiva, a organização zonal era mais bem executada na plataforma que a equipe utilizava no primeiro tempo. Com bom equilíbrio defensivo, boa compactação, retardamento e flutuação, a superioridade numérica e a cobertura defensiva eram constantes. Na transição ofensiva, a ação vertical era a mais procurada. Na fase ofensiva, as ultrapassagens dos laterais eram constantes; com dois atacantes, um recuava entre linhas adversárias para procurar tabelas, pivô e finalizações; Philippe Coutinho buscava diagonais para as faixas laterais e Oscar procurava a melhor linha de passe. Já com três atacantes, a amplitude gerada tendia a abrir a linha defensiva dos adversários e a bola nas faixas implicava em jogada individual para cruzamentos. Nas transições defensivas, ocorria principalmente a tentativa de recuperação imediata da posse com devida recomposição dos demais jogadores.

As breves linhas apresentadas até aqui indicam muitos comportamentos que foram eficazes ao longo do Mundial, no entanto, algumas ações individuais e coletivas necessitarão aperfeiçoamentos para evolução do jogar da seleção brasileira. Como, por exemplo, as reposições de bola do goleiro Gabriel que, por muitas vezes, resultaram em perda da posse e que remetem a um comportamento coletivo que não está bem internalizado.

As falhas de posicionamento da dupla William e Henrique, nas quais o primeiro apresentava dificuldade de movimentação entre linhas quando Henrique buscava profundidade na zona de risco. A maior circulação da posse no campo ofensivo para desorganizar as organizações defensivas adversárias e a amplitude de Danilo que diminuía o campo efetivo de jogo em setores muito distantes do alvo. Sobre as transições defensivas, executá-las em maior velocidade poderá dificultar as transições ofensivas de seleções de qualidade.

Em relação à organização defensiva, um melhor equilíbrio quando em três zagueiros, um melhor posicionamento de Juan, que tende a esquecer de proteger o alvo, sai para combates desnecessários nas faixas laterais e expõe significativamente seu setor, além de maior participação de Philippe Coutinho fechando as linhas de passe e limitando o tempo de ação dos jogadores próximos ao seu setor. Uma observação sobre Casemiro: resolveu o problema da seleção sub-20 como zagueiro, mas dificilmente exercerá esta função na seleção principal. Para finalizar, nas transições ofensivas, melhorar o passe vertical, especialmente de Fernando e Juan.

Gostaria de postar vídeos, como geralmente faço, para identificar os comportamentos da seleção brasileira, acertos e erros acima descritos, porém, nesta semana, o tempo que tenho para produzir a coluna ficou ainda mais reduzido devido a uma viagem a Porto Alegre para participar do II Seminário de Futebol – Construindo os alicerces da formação nas categorias de base. Esta semana, o tempo que levo para editar os vídeos será dedicado para o meu aperfeiçoamento profissional.

Aguardem que compartilharei o conhecimento. Abraços e até a próxima semana!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Para quê a Filosofia?

São muitos os que questionam, por vezes desdenhosamente: para quê a Filosofia? Nunca lhes passou pela cabeça interrogarem: para quê a Geologia, ou a Matemática, ou a Física, ou a Geografia?…

A Filosofia exige profunda reflexão e, nos dias em que vivemos, reflectir parece-nos algo de perfeitamente inútil. Imaginemos que uma pessoa pergunta: que horas são? Se substituir esta pergunta por estoutra: o que é o tempo? Só filosofando poderá encontrar o caminho da resposta.

Suponhamos ainda que uma pessoa é habitualmente mentirosa. Se alguém, a propósito, perguntar: o que é a verdade? Também só filosofando poderá aproximar-se de uma resposta. Por vezes, quando me questionam: para que serve a Filosofia? Sou tentado a responder: para não aceitar como óbvias e evidentes todas as coisas, todas as ideias, todas as atitudes, sem uma profunda reflexão.

A fundamentação teórica e prática do Homem, da vida, da Sociedade e da História: eis aí a grande função da Filosofia – que não é ciência, mas uma reflexão crítica sobre os procedimentos e os conceitos científicos; que não é religião, mas uma reflexão crítica sobre as origens e as formas das crenças religiosas; que não é sociologia nem psicologia, mas uma interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. É útil, ou inútil, a Filosofia?

Num tempo, como o nosso, onde não há tempo para a reflexão, a Filosofia defende o direito de ser inútil. Platão definia a Filosofia como o verdadeiro saber, o qual deverá aplicar-se em benefício dos seres humanos. Descartes afirmava que a Filosofia é o estudo da sabedoria, para que os seres humanos melhor vivam, alcancem a saúde e descubram novas artes e novas técnicas. Kant ensinou que a filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma, para saber o que pode conhecer, o que deve fazer, visando a felicidade humana. Marx declarou que a Filosofia havia passado demasiado tempo, contemplando o mundo e que era tempo de transformá-lo. Marx queria dizer, na sua, que é preciso des-construir a sociedade injusta e que, para tanto, as palavras não bastam. Merleau-Ponty referiu que a Filosofia é um despertar, para ver mais e transformar para melhor o nosso mundo. Só transformando poderemos ser plenamente conscientes de nós mesmos. Como se vê, tudo inutilidades…

Os jornais, a rádio, a televisão, a internet, os telefones móveis, as tecnologias digitais proclamam, sem cansaço, que estamos no rumo certo, em direcção às Sociedades do Conhecimento da Idade da Informação. Filosoficamente, nasce a dúvida metódica: será que todos se encontram no caminho certo, para as Sociedades do Conhecimento?

A Constituição da Unesco sublinha a nítida ligação entre a dignidade humana e “a ampla difusão de cultura e a educação da humanidade, para a justiça, liberdade e paz”. Assim, os direitos e as liberdades fundamentais situam-se, inevitavelmente, no seio das Sociedades do Conhecimento. Foi Peter Drucker que criou, em 1969, o termo “sociedade do conhecimento” (cfr. The Age of Discontinuity Guidelines to our Changing Society, Harper & Row, Nova Iorque). Só que a implementação da “sociedade do conhecimento” supõe educação ao longo da vida e… para todos!

“Interrogar a nossa condição humana é (…) interrogar primeiro a nossa situação no mundo. Uma afluência de conhecimentos, nos finais do século XX, permite aclarar de um modo completamente novo a situação do ser humano, no universo”. Daí que não será exagero adiantar que a Sociedade do Conhecimento não está no horizonte de todas as pessoas, de todos os povos. Passo agora a palavra a Edgar Morin: “O século XXI deverá abandonar a visão unilateral, definindo o ser humano pela racionalidade (homo sapiens), ou pela técnica (homo faber), ou pelas actividades utilitárias (homo oeconomicus), ou pelas necessidades obrigatórias (homo prosaicus). O ser humano é complexo (…). O homem da racionalidade é também o da afectividade, do mito e do delírio. O homem do trabalho é também o homem do jogo. O homem empírico é também o homem imaginário. O homem da economia é também o do consumo” (Os Sete Saberes para a Educação do Futuro, Instituto Piaget, 2002).

Para quê a Filosofia? Para que o código genético da Sociedade do Conhecimento seja povoado de interrogações, na boca de todos; para que não seja impossível questionar os ditadores (que os há também, na velha democracia em que vivemos); para que ninguém falte ao encontro marcado com a liberdade, “porque não há machado que corte a raiz ao pensamento”. Para quê a Filosofia? Para que as palavras voltem a ter significado, na práxis de emancipação de todos e de cada um! Para que o conhecimento científico seja pensado, como merece!

Segundo Luc Ferry, no seu livro Aprender a Viver (Temas e Debates, Círculo de Leitores, Lisboa, 2009, pp. 23 ss.) são três as dimensões da filosofia: a inteligência daquilo que é (teoria), a sede de justiça (ética) e a busca da salvação (sabedoria). No caso particular do “desporto-rei”, importa perguntar também: o que é o futebol? Trata-se de um desporto e, como tal, um aspecto particular da motricidade humana.

Ora, o ser humano em movimento intencional há-de distinguir-se por uma filosofia, isto é, por uma inteligência, por uma ética e por uma sabedoria. Para que o futebol tenha sentido – para que o futebol se transforme num exemplo de militância cívica. Mesmo nos anos fatigados em que as chamas do inconformismo começam a esmorecer, é preciso acreditar que o futebol é uma lição de obra colectiva, visando um mundo diferente.

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

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Jogos reduzidos vs treino convencional: vantagens e desvantagens

Historicamente, o desenvolvimento das capacidades físicas exigidas pelo futebol desenvolveram-se de forma seperada dos aspectos motores do jogo, principalmente pelo fato de se “importar” modelos de treinos já consagrados em outras modalidades esportivas, como o atletismo, por exemplo.

Embora em muitos clubes do mundo ainda seja comum encontrarmos treinos técnicos, físicos e táticos sendo realizados em sessões separadas, atualmente, a popularização dos chamados “jogos reduzidos” trouxeram a tendência de se integrar as diferentes exigências do futebol moderno.

Mas será que há indícios suficientes que garantam aos jogos reduzidos maior efetividade do que o treino convencional?

Os jogos reduzidos utilizam pequenos jogos em que as regras são adaptadas às quais variam o tamanho do campo, o número de jogadores e o tipo de estímulo que é dado (contínuo vs intervalado). Entre seus benefícios encontram-se a reprodução de movimentos específicos em situação competitiva, exigindo dos atletas tomadas de decisão em situação de pressão e também com fadiga acumulada facilitando a aquisição da habilidade técnica e da inteligência de jogo.

Para o sucesso efetivo desse tipo de estratégia é fundamental que as regras utilizadas permitam um jogo que aprimore exatamente aquilo que se deseja. Nesse caso, fatores como a área do jogo selecionada, o número de jogadores, a utilização ou não de goleiros, o incentivo do treinador e a característica do estímulo serão fatores que influenciam diretamente no sucesso ou fracasso da execução dos jogos reduzidos.

 

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Como controle da efetividade deste tipo de treino estudos já identificaram boa validade e reprotudibilidade. O controle da intensidade geralmente é feito pela análise da frequência cardíaca (FC), das concentrações sanguíneas de lactato ([La]) e da percepção subjetiva de esforço (PSE), sendo que a PSE apresenta-se mais confiável do que a FC e o [La].

Quanto à distância percorrida e as velocidades de deslocamento, a monitoração pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS) tem se mostrado efetiva e impressindível no controle da carga, embora existam algumas limitações em atividades realizadas em alta velocidade e outros problemas técnicos como frequência de aquisição dos dados, quantidade de satélites para captação do sinal, bem como restrição de medida em lugares cobertos.

Quanto à especificidade do jogo, no geral os estudos demonstram que a intensidade da tarefa é maior quanto menor for o número de jogadores utilizados em relação à área do campo; entretanto, nem sempre isso significa que cada jogador tenha maior quantidade/qualidade na distância dos deslocamentos.

Também tem se sugerido que nos jogos reduzidos a intensidade costuma ser maior do que o jogo propriamente dito, assemelhando-se inclusive aos treinos genéricos realizados de forma intervalada, tanto de curta quanto de longa duração. Isso sugere que parece não haver diferença sobre o aspecto físico em se fazer um treino com jogo reduzido ou tradicional.

Sem dúvida, a grande vantagem dos jogos reduzidos está em integrar aspectos técnicos, físicos e táticos específicos do jogo que permitem economizar tempo – fator muito importante nos dias atuais. Porém, para que isso seja efetivo, a comissão técnica terá que ter o trabalho de desenvolver treinos lógicos e com logística suficiente para aprimorar aspectos específicos conforme os objetivos pré-estabelecidos. Caso isso não seja pensado, corre-se o risco de os jogos reduzidos desenvolverem outros aspectos que não são desejados no momento, ou até mesmo de se tornar menos efetivo do que os treinos convencionais.

Pelo visto, a escolha entre o chamado treino tradicional e os jogos reduzidos dependerá do conhecimento e da experiência prévia de cada comissão técnica que deverá calcular riscos, benefícios, vantagens, desvantagens e limitações de cada estratégia.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br  

Saiba mais:

Hill-Haas SV, Dawson B, Impellizzeri FM, Coutts AJ. Physiology of small-sided games training in football: a systematic review. Sports Med. 2011 Mar 1;41(3):199-220.

Gray AJ, Jenkins DG. Match analysis and the physiological demands of Australian football. Sports Med. 2010 Apr 1;40(4):347-60.

Casamichana D, Castellano J. Time-motion, heart rate, perceptual and motor behaviour demands in small-sides soccer games: effects of pitch size. J Sports Sci. 2010 Dec;28(14):1615-23.

Foster CD, Twist C, Lamb KL, Nicholas CW. Heart rate responses to small-sided games among elite junior rugby league players. J Strength Cond Res. 2010 Apr;24(4):906-11.

Rampinini E, Impellizzeri FM, Castagna C, Abt G, Chamari K, Sassi A, Marcora SM. Factors influencing physiological responses to small-sided soccer games. J Sports Sci. 2007 Apr;25(6):659-66.

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A poluição do patrocínio

Discussões recentes norteiam o “abadá” que virou as camisas de futebol de grande parte dos clubes brasileiros. A mais recente investida teve como personagem principal o Flamengo, que após negar boas propostas no início de 2011 se viu obrigado a dividir espaço no seu manto com outras cinco marcas, contribuindo para o festival de aberrações que vemos no Campeonato Brasileiro, com as camisas de jogo completamente desfiguradas.

É redundante falar em amadorismo nas organizações do esporte no Brasil. Por isso, os créditos (ou débitos) dessa “estratégia” não podem recair completamente nas costas dos dirigentes dos clubes de futebol. O grande problema é que o ciclo de profissionalismo ainda não fechou entre todos os entes envolvidos com o esporte.

Lembro de algumas palestras de José Carlos Brunoro que menciona o “Ciclo Virtuoso do Sucesso”, o qual transcrevo a seguir. O ciclo até começa a se desenhar de maneira clara em alguns clubes, apesar de em muitos dos casos apresentar alguns desvios.


 

Um destes desvios diz respeito ao “poder de comunicação” e de “posicionamento de marca”. Como uma empresa quer ser bem vista pelos seus consumidores se ela não respeita o emblema mais sagrado para eles? Será que a visibilidade se sobrepõe em relação à mensagem percebida pelos torcedores?

Lembro de notícia publicada no site Máquina do Esporte em janeiro de 2010 que relatava a ação do Banco Hipotecario Nacional, que literalmente limpou a camisa do Racing, da Argentina. Para fazer valer o investimento, a instituição projetou inúmeras ações de ativação para comunicar o vínculo e o respeito que a mesma possui perante o clube.

Por isso é que acredito que as marcas, no fim das contas, é que estão subvalorizando o potencial de negócios que o futebol pode gerar. Veem as camisas como “outdoor ambulante”, mas se esquecem que, ao contrário de um outdoor, por trás dos clubes de futebol há uma massa de consumidores apaixonado e sedento por investir no seu time do coração.

“INNOVET QUI VENIT” na indústria do patrocínio esportivo!

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O livro do ano

Gislaine Nunes, ou melhor, a “Doutora” Gislaine, não deve ser muito conhecida do grande público.

Existem muitos outros profissionais liberais – médicos, dentistas e advogados – que conquistaram notoriedade no país, ingressando na vida pública ou emitindo opiniões aos meios de comunicação.

Gislaine ficou famosa por confrontar clubes de futebol, em nome de seus clientes, os jogadores.

A trajetória de sucesso foi forjada na esteira da vigência da Lei Pelé, quando suas liminares obtidas na Justiça atordoavam os clubes e movimentavam o mercado de transferências de jogadores – em especial do Brasil ao exterior.

Agora ela lançará sua autobiografia, chamada de “Vim, vi e venci”.

Na resenha ou excertos do primeiro capítulo do livro, disponíveis em seu site oficial, faz menção ao início da carreira e da experiência adquirida no Sindicato dos Atletas de SP, quando liderava os jogadores na busca pela liberdade de exercício do trabalho.

Talvez, o que mais chama atenção é o conteúdo dedicado às ameaças sofridas, em público ou clandestinamente, da cartolagem que reprovava sua atuação.

Um trecho:

Recordo-me as ameaças de morte que se seguiram com a explosão da libertação de atletas. As concessões de liminares que libertavam os atletas profissionais de futebol dos grilhões que prendiam seus tornozelos aos seus empregadores (Clubes de Futebol) aconteciam em grande número. Às vezes quatro ou cinco por dia. Era muito bom. Era gratificante ver o Judiciário acolhendo a ânsia daqueles que tanto sonharam com o livre exercício ao trabalho.

Seus mais recentes e famosos casos são a defesa de Zé Elias, na revisão de pensão alimentícia que o levou à prisão, e o volante Cristian, contra o Corinthians.

Mas a lista de casos midiáticos foi muito extensa – Fábio Costa, Luizão, Rogério Ceni, Marcelinho Carioca, Juninho Pernambucano e Ricardo Oliveira.

Em que pese o mérito, sua atuação, nos primeiros anos de Lei Pelé, contou com a total desorganização dos departamentos jurídicos do clubes.

Hoje, o cenário seria absolutamente diferente. Futebol é gerido como negócio. Negócios geram dinheiro. Negócios necessitam de proteção jurídica. E os clubes aprenderam com a navalha na carne.

Gislaine promete ir além e revelar tudo, tudo o que viveu no meio do futebol.

Afirma ela que fará as narrações de acontecimentos que com certeza irão abalar algumas estruturas, na qual, renderão processos por danos morais, etc. Mas aconteceram. Direi onde, como e quem foram os autores destas mediocridades… A hora chegou!

Que Andrew Jennings x Fifa, que nada!

Se for tudo isso, o livro do ano, no futebol brasileiro será o da “Doutora” Gislaine.

E a pronúncia é “Gisleine”. Senão, vai sobrar pra você também.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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O quinto momento do jogo: bolas paradas

O jogo de futebol pode ser entendido a partir de quatro momentos: ofensivo, defensivo, de transição ofensiva e de transição defensiva, os quais se relacionam entre si de forma complexa.

Em decorrência da observação do comportamento distinto das equipes nas jogadas originárias de bolas paradas surgiram várias discussões sobre a necessidade de se adicionar um novo momento para o entendimento do jogo de futebol: o momento das bolas paradas.

Surgira, assim, o quinto momento do jogo!

Alguns autores foram além e afirmaram que o quinto momento correspondia às bolas paradas defensivas e o sexto momento às bolas paradas ofensivas – não é o objetivo entrar nessa discussão e vamos tratar as bolas paradas como um momento apenas.

Nesse quinto momento do jogo, as equipes partem da organização, ou seja, os jogadores “conhecem” o posicionamento da sua equipe e do adversário (fato raro no jogo de futebol que se caracteriza por um jogo em que o caos é seu ambiente). A partir dessa organização, os jogadores que têm a bola parada a seu favor tentam desorganizar o adversário para obter o êxito na jogada enquanto a equipe adversária exerce uma ação contrária.

Toda essa dinâmica tanto ofensiva como defensiva precisa ser norteada pelo Modelo de Jogo que deve contemplar ainda a transição após essas jogadas.

No Modelo de Jogo preciso definir a forma de marcação, a forma de ataque, a estruturação do espaço, a barreira (em tiro livre direto/indireto), o balanço ofensivo e defensivo (pensando na transição), quem e como a reposição será feita, etc.

A partir da definição dos conceitos devo construir as atividades.

As atividades seguem os mesmos pressupostos apresentados nas colunas anteriores, só que neste momento a ênfase é nas questões pertinentes às bolas paradas sem descontextualizá-las do jogo. Isso significa que as bolas paradas devem estar inerentes ao jogo e não ser treinadas separadas e sem ter uma ligação com os momentos subsequentes à mesma.

Vamos ao exemplo prático.

O Modelo de Jogo da minha equipe pressupõe que a marcação a ser realizada na bola parada defensiva no escanteio é a marcação mista com um jogador marcando a zona da bola baixa (2), um marcando a zona da primeira trave (7), um marcando a zona central da área (4) e um jogador marcando a zona da entrada da área (10), com os demais marcando individualmente, conforme ilustração abaixo:


 

No balanço ofensivo, minha equipe possui um jogador no meio de campo na lateral oposta lado do escanteio e um jogador centralizado, conforme ilustração abaixo:


 

Na transição ofensiva, minha equipe deve estruturar rápido um 1-4-4-2 em losango e o jogador que recuperar a bola deve buscar um passe vertical e a equipe deve progredir e realizar um contra-ataque ou um ataque rápido, conforme animação abaixo:
 


 

A fim de desenvolver os conteúdos descritos acima relacionados à bola parada defensiva no escanteio a atividade abaixo foi concebida.

Descrição
– Atividade de 11 X 11 no campo todo (“coletivo” adaptado)
– Toda a vez que a bola sair do campo a reposição é feita a partir de um escanteio

Pontuação

Geral
– Gol durante o jogo vale três pontos (sem ser a partir do escanteio)

Equipe que ataca no escanteio
– Finalização no gol ou pra fora vale um ponto
– Gol vale cinco pontos

Equipe que defende no escanteio
– Se ultrapassar a linha tracejada com a bola dominada marca um ponto
– Se fizer o gol no contra-ataque vale cinco pontos

Regra do goleiro
– Se fizer a saída completa no escanteio sua equipe marca um ponto
 


 

Treinemos as jogadas de bola parada que elas alteram, sim, o placar!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br