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Inter-relações globais

Nesta semana que passou, o São Paulo recebeu a taça de Campeão Brasileiro da primeira divisão, o Barueri despontou pra Segundona, o Guarani caiu, o Nabi Abi Chedid morreu, o Grêmio anunciou planos para a construção de um novo estádio, o Internacional revelou o Pato, a Record continuou brigando com a Globo, o Ronaldinho fez um gol de bicicleta esquisito-porém-bonito, tipo a Uma Thurman, a Liga dos Campeões sumiu da TV aberta brasileira até o ano que vem, e mais uma porção de outras coisas.
 
Tudo isso importa, claro. Cada um desses fatos influenciou de alguma maneira a estrutura do futebol no país. E, de certa forma, está tudo interligado. Em tempos de globalização, tudo tem a ver com tudo. Algumas coisas em maior escala, outras nem tanto.
 
Mas nada, repito, nada nessa semana foi tão importante para a indústria do futebol brasileiro quanto a morte de Alexander Litvinenko.
 
“Quem?”, pergunta-se você.
 
Alexander Litvinenko, o ex-espião russo que foi assassinado na Inglaterra depois de ingerir um veneno radiativo.
 
“Ah, esse”.
 
Esse mesmo. E antes que você se indague que diabos tem o pobre do rapaz a ver com o futebol brasileiro, saiba que o ex-espião era um grande amigo de Boris Berezovsky, aquele mesmo. E agora que você já está inteirado a respeito do assunto, vamos às contextualizações:
 
Tempos atrás, Alexander Litvinenko foi preso por anunciar publicamente que a FSB, polícia federal russa que funciona como uma espécie de neo-KGB, havia ordenado que ele assassinasse Berezovsky, que de uns tempos pra cá virou um dos grandes inimigos do presidente russo, Vladimir Putin.
 
Sei lá eu o porquê do cara ter falado isso publicamente, talvez pelo seu alvo ser um dos caras mais ricos do mundo, mas fato é que, a partir de então, Litvinenko e Berezovsky viraram grandes amigos. Acredita-se, inclusive, que Berezovsky é o dono da casa ao norte de Londres onde Litninenko e sua família moravam. Ao comentar o assassinato, Berezovsky disse: “Estou muito sentido com a morte do meu grande amigo Alexander Litvinenko. Ele salvou a minha vida e foi um grande amigo e aliado desde então. Vou lembrá-lo pela sua bravura, determinação e honra”.
 
Cogita-se que o assassinato tenha sido encomendado pelo governo russo. Especula-se, porém, que ninguém vai conseguir descobrir nada, mesmo tendo o crime ocorrido na Inglaterra. Mas está bem claro que é um sinal de que a chapa do Berezovsky pode estar esquentando. E o Berezovsky, como se divulga por aí, é um dos caras que mais colocou dinheiro no futebol brasileiro nos últimos anos.
 
É também um claro sinal de que a Rússia passa por um período no mínimo turbulento, que já vem de tempos, mas que pode culminar com coisas não muito positivas. E a Rússia, além de ser uma grande importadora mundial de jogadores, tem um time que tem três atletas na atual seleção brasileira.
 
Berezovsky, inclusive, já foi sócio de outro bilionário russo, o Abrahmovic. Esse, por enquanto, cultiva ótimas relações com o governo russo.
 
Bom para o Chelsea, que já se garantiu na próxima fase da Champions League, que não vai mais passar na televisão aberta esse ano, no mesmo grupo do Barcelona de Ronaldinho do gol de bicicleta bonito-mais-esquisito, ex-jogador do Grêmio que quer construir um estádio novo, e que se prepara para jogar o Mundial de Clubes contra o Internacional, que vai levar o Pato pra disputa.
 
Não fossem as boas relações cultivadas pelo seu dono, talvez o Chelsea não pudesse ter pagado aproximadamente 30 milhões de libras ao Milan pelo Schevchenko, dinheiro que o clube italiano usou para segurar o Kaká e contratar o Ricardo Oliveira, ambos ex-jogadores do São Paulo, que levantou a taça de campeão no último domingo e que ano que vem vai jogar contra o Barueri, que subiu para a Segundona, pelo Campeonato Paulista, que deu início à briga entre a Globo e a Record, e que esse ano não vai contar com o Guarani, e que é organizado pela Federação Paulista de Futebol, que já foi presidida pelo póstumo Nabi Abi Chedid.
 
Como dito antes, tudo tem a ver com tudo.
Menos a Uma Thurman.
Ela é esquisita.

Bonita, mas esquisita.

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O futebol como instituição e os intelectuais

Na medida dos meus limites, procuro a cada semana trazer neste espaço uma reflexão diferenciada aos nossos leitores, sobre os aspectos mais gerais do futebol.
 
Encanta-me a idéia de buscar novos olhares sobre esta modalidade esportiva que é no meu modo de entender, uma das mais significativas manifestações culturais do século 20 e ao que tudo indica será também neste século 21.
 
Nesta perspectiva participei de um evento promovido pela Universidade do Futebol juntamente com profissionais formados em história, antropologia, jornalismo, economia, marketing, educação física, geografia e direito, todos vindos de instituições universitárias reconhecidas, como USP, PUC e Unicamp, entre outras.
 
A idéia era debater, dentro de uma abordagem interdisciplinar, algumas questões do futebol, buscando, entre outras coisas, caminhos que apontassem para a superação de um modelo tecnicista ainda vigente na prática deste esporte.
 
Para aqueles que não estudam este assunto eu diria que tecnicismo é, em linhas gerais, uma visão que se apóia exclusivamente na busca de um conhecimento centrado na técnica. No futebol seria, por exemplo, o conjunto de conhecimentos tecnicamente necessários para a melhora do rendimento. Simplificando poderíamos dizer que, sob este ângulo, para ensinar futebol bastaria conhecer seus fundamentos técnicos, suas regras entre alguns outros poucos conhecimentos complementares.
 
O debate foi muito interessante e como não poderia deixar de ser o grupo interdisciplinar de profissionais envolvidos no evento conseguiu demonstrar a riqueza cultural e sociológica do futebol que permite infinitos tipos de abordagens.
 
O que surpreendeu, entretanto, foi o relato destes estudiosos de que mesmo nas discussões mais acadêmicas e científicas há aqueles (muitas vezes mestres e doutores) que resistem em dar ao futebol a sua devida importância enquanto fenômeno cultural.
 
Qualquer um tem o direito de não gostar de futebol. Até conheço alguns (poucos é bem verdade) que não gostam. Mas o difícil de entender é ainda encontrarmos professores, pesquisadores, intelectuais, enfim, que não consideram o futebol como uma instituição, patrimônio ou fenômeno cultural de destaque no mundo contemporâneo e que mereceria por parte desses estudiosos a atenção no sentido de se revelar alguns aspectos da alma humana.
 
Em minha opinião este fato se caracteriza como uma pobreza de nossa intelectualidade. 

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O poder da palavra

O São Paulo foi campeão brasileiro com méritos de sobra. Foi, em 2006, o melhor time do Brasil ao lado do Inter. Teve um ataque arrasador, uma defesa sólida, um conjunto perfeito. Em todos os títulos que disputou, o São Paulo chegou pelo menos no segundo lugar. Ou seja, se 2005 já tinha sido de sonhos para o são-paulino, o ano de 2006 se encerra como sendo de continuação daquele sonho bom, no qual sempre tentamos voltar a ter e quase nunca conseguimos.
 
Mas a hegemonia são-paulina no futebol brasileiro não pode ser transformada em arrogância. Na última semana, os jogadores são-paulinos, desde os mais experientes até os recém-contratados, se excederam na confiança de ter um time acima de qualquer crítica.
 
Campeoníssimo e responsável direto por mais de 15 gols do time na temporada, o meia, lateral e volante Souza desabafou com a conquista do tetracampeonato. Falou mais do que manda a cartilha e, sem dúvida, criou alguns desafetos dentro do mundo da bola.
 
Na seqüência, o lateral Ilsinho, que surgiu no Palmeiras e se transferiu para o São Paulo a mando de seu empresário durante o campeonato, acabou extravasando o desprezo pelo ex-clube ao dizer que havia largado o “Titanic”, numa alusão a um dos maiores desastres da história da navegação mundial.
 
A semana se encerrou com o lateral-esquerdo Jadílson, que no dia de sua apresentação ao novo clube não deixou de alfinetar o rival Corinthians, ao dizer que agradecia aos céus por não ter fechado com o campeão brasileiro de 2005 e esperado surgir outra proposta, que acabou sendo a do São Paulo.
 
Que o São Paulo é o melhor time do Brasil e um dos melhores lugares para se trabalhar no futebol brasileiro hoje ninguém tem muita dúvida. Mas o que não pode são os seus jogadores exporem publicamente tal sentimento.
 
O atleta cobra profissionalismo da imprensa, dos dirigentes e até mesmo da torcida. Mas, muitas vezes, se deixa levar pela emoção do esporte e fala mais do que deve. Dentro do São Paulo o sentimento pode até ser de superioridade. Afinal, os números e as salas de troféus comprovam isso. Mas o jogador tem de respeitar os outros colegas de profissão que estão empregados nos outros clubes e saber que algumas coisas não são para serem ditas.
 
Até porque a imprensa adora uma frase bombástica para vender mais jornal. Mas e se amanhã não restar outra alternativa para o jogador a não ser ir para aquele clube que hoje ele trata com desdém? É melhor baixar a bola. Ou deixar para levantá-la só quando estiver dentro de campo. Fora dele, ganha mais quem fala menos, sem dúvida.

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Birra de criança

Já, já vai acontecer uma grande tragédia no futebol brasileiro. Eu disse isso antes, digo agora e vou dizer mais algumas vezes até a tragédia acontecer, pra então lembrar a todos dizendo “eu não disse?”, coisa que eu não quero fazer porque vai parecer birra de criança.
 
O discurso está ficando batido, eu sei, mas é bem aí que mora o perigo. Como pouco, ou nada, aparentemente está sendo feito, a pouca relevância da minha retórica periga cair no esquecimento. E aí voltamos todos à estaca zero, se é que algum dia saímos de lá.
 
Dois exemplos recentes indicam que o perigo está muito mais próximo do que provavelmente se imagina.
 
O primeiro, e mais óbvio, acontece aqui do lado, logo ali, pulando o riacho. Devido à recente escalada da violência entre torcedores, notoriamente os organizados, o futebol argentino teve até a continuidade do seu campeonato nacional ameaçado. Torcedores brigando com torcedores, com jogadores, com dirigentes e com o poder público. Nada que seja lá muito diferente da situação aqui da terra de Santa Cruz, ou seja, é uma situação que pode perfeitamente acontecer por essas bandas. Apesar de essa ameaça ainda não ter se concretizado, o valor simbólico dela é de uma preocupação ímpar.
 
O outro exemplo que serve pra dar sustentação à minha teoria de que a tragédia no futebol brasileiro é iminente, é o triste episódio do acidente aéreo do avião da Gol, que matou um monte de gente. O exemplo não é exatamente o acidente em si, mas a série de eventos que permitiram que ele acontecesse.
 
Foi bastante noticiado essa semana o fato de terem acontecido recentemente pelo menos três quase-tragédias no espaço aéreo brasileiro. Salvaram-se por um triz. Esses três eventos foram devidamente relatados e reportados. Mas nada, porém, foi feito. Justamente porque no Brasil ainda impera a filosofia de que enquanto uma coisa não acontecer, tá tudo beleza.
 
Enquanto o prédio não cair, não tem por que se preocupar em saber se o pilar é de concreto, madeira ou isopor. Pra quê? Tá de pé, não tá? Se cair, é porque era pra cair. Tá tudo beleza.
 
Enquanto os aviões não se chocarem no ar, não tem por que se preocupar em melhorar as condições de tráfego aéreo. Pra quê? Tá tudo voando, não tá? E daí que três aviões quase bateram? ‘Quase’ não é ‘bater’, é? Então, não precisa mudar nada. Tá tudo beleza.
 
Enquanto não morrer mais de uma centena de pessoas ao mesmo tempo dentro de um estádio, não tem por que se preocupar com a segurança do futebol. Pra quê? Tá ganhando, não tá? Quem mais no mundo é pentacampeão? Desde quando segurança traz título? Além do quê, só vai pro estádio quem quer. Ninguém é obrigado, é? Que eu saiba não tá na Constituição. Além disso, não tá passando na televisão também? Então não reclama. Tá tudo certo. Tá tudo beleza.
 
Credo.

Parece desculpa de criança.

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Futebol e racismo

O Brasil celebrou em 20 de novembro o Dia da Consciência Negra. E como recomendam as pessoas que se preocupam com o crescimento e desenvolvimento de nosso país de forma justa e democrática, esta data é adequada para que façamos uma reflexão crítica sobre as condições de vida da população negra brasileira.
 
Aproveitando, portanto, o momento procurei refletir um pouco sobre alguns aspectos que envolvem a inserção do negro no futebol brasileiro.
 
Não são poucas as pessoas que afirmam não existir preconceito de cor ou racismo no Brasil. 
 
Há aqueles também que consideram o futebol como uma das instituições mais democráticas que possuímos e que não faz distinção de raça ou de classe social para abrir portas aos seus atores, desde que sejam talentosos.
 
E concluem afirmando que o futebol é um canal privilegiado que promove a inclusão e a justiça social, dando oportunidade a todo mundo, indistintamente.
 
Visto por certo ângulo até podemos dar alguma razão a tais argumentos.
 
De fato, se formos analisar a porcentagem da população negra e mulata de nosso país e compararmos com o número de atletas da raça que praticam futebol e nele se destacam como profissionais, vamos encontrar muitos deles nos clubes espalhados pelo Brasil.
 
Faça o exercício de verificar em algumas revistas especializadas, álbuns de figurinhas ou mesmo sites dos diferentes clubes brasileiros e você vai notar que há um número razoável de atletas negros e mulatos em grande parte das equipes.   
 
Entretanto, se formos analisar um pouco mais profundamente, verificaremos que esta democracia e os canais de inserção ou inclusão social não são tão amplos assim.
 
Se tiver um pouco de paciência tente, por exemplo, descobrir quem são os treinadores que dirigem os diferentes times. Pegue os 40 clubes que disputam as séries A e B do Campeonato Brasileiro e vai descobrir que não há mais do que 2 ou 3 treinadores negros ou mulatos dirigindo essas equipes.
 
Mais difícil para pesquisar, mas também interessante é verificar quantos dirigentes negros ou mulatos possuímos no futebol brasileiro. Infelizmente vamos descobrir que eles são em números muito reduzidos.
 
Seria isto simples coincidência ou o reflexo do preconceito e racismo ainda vigente entre nós?
 

Eu, particularmente, não tenho dúvida alguma quanto à resposta.

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O exemplo vem de cima

São Paulo e Atlético Paranaense são, sem dúvida, os dois clubes que apresentam o melhor modelo de gestão hoje do futebol brasileiro. Recentemente, o Inter também entrou nessa dança, mas não dá para duvidar que Tricolor e Furacão ainda são soberanos quando falamos de gestão racional, planejamento, ações de marketing, etc.
 
Os dirigentes de São Paulo e Atlético são, também, aqueles que mais cobram da imprensa uma atitude coerente e profissional no dia-a-dia da cobertura do clube. O Atlético, por exemplo, se vê às voltas com a questão da Kyocera Arena. Volta e meia seus dirigentes se reúnem com representantes da imprensa para mostrar o quão importante é mencionar o nome do patrocinador quando se fala, escreve ou mostra o estádio do Furacão.
 
Só que, na última semana, São Paulo e Atlético deram mostras de que, se o discurso sobre a modernização do futebol está na ponta da língua de seus dirigentes, ainda há algumas falhas gravíssimas que são cometidas pelas pessoas que estão no cotidiano dos clubes.
 
Na última quarta-feira, dia 15, quando o Atlético sofreu a inesperada derrota para o Pachuca, em plena Kyocera Arena, o técnico Osvaldo Avarez, o Vadão, cometeu um grave pecado na entrevista coletiva após o revés. Ao falar sobre o estádio do Atlético, Vadão disse “Arena da Baixada”. Ignorou o nome do patrocinador, tal qual faz a imprensa e tal qual reclamam os dirigentes aos jornalistas.
 
Já no domingo, dia 19, enquanto os atletas festejam o quarto título brasileiro do São Paulo, o supervisor de futebol, Marco Aurélio Cunha, participava do programa “Mesa Redonda”, da TV Gazeta. Vestido com uma camisa da Reebok, patrocinadora do clube, o dirigente fazia uma afronta ao departamento de marketing do clube, tendo ao seu lado um daqueles chapéus em forma de estrela, que são vendidos na porta do estádio e que, obviamente, não é um produto oficial do clube. De que adiantava a camisa do patrocinador (que não tinha o escudo do clube), se o chapéu ao lado era um produto falsificado?
 
São Paulo e Atlético têm se preocupado demais em patrulhar o trabalho da imprensa, numa correta busca pela profissionalização do pensamento dos jornalistas sobre o marketing esportivo. Mas têm de ter a consciência de que o exemplo deve ser dado dentro de casa. Os funcionários do clube, pelo visto, ainda têm de passar pela mesma aula que geralmente é dada à imprensa.

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O fenômeno Micah Richards

Aconteceu ontem o fato mais importante da história do futebol brasileiro na Inglaterra, que ultrapassa até o jogo do Sócrates pelo Garforth Town. No amistoso da seleção inglesa com a Holanda, um passo foi dado para a transformação completa do futebol britânico, motivado diretamente pela influência tupiniquim: estreou na partida, substituindo o delongo Gary Neville, o novo fenômeno do futebol inglês, Micah Richards.
 
Ok. Bacana. E que diabos o Brasil tem a ver com isso?
 
Aparentemente, nada. Micah Richards é um jogador do Manchester City, de 1,80m de altura, que em 12 jogos da Premier League marcou um gol e levou um cartão amarelo. Entretanto, e aí entra a sua importância histórica para o Brasil, Richards é o primeiro jogador da seleção inglesa a ser formado pela Brazilian Soccer School, uma escola de futebol sediada na ilha britânica que se dispõe a ensinar seus alunos com os mesmos métodos aplicados em terras brasileiras, e isso se resume basicamente a trocar a bola normal pela bola de futebol de salão.
 
A Inglaterra, sabe-se muito bem, possui um grande apego às suas tradições futebolísticas, principalmente com relação ao método de treinamento e ao esquema tático, ambos bastante focados na coletividade e no desenvolvimento físico. Uma das primeiras frases do recém-lançado livro “The Italian Job”, escrito pelo italiano Gianluca Vialli, ex-jogador e técnico do Chelsea, pergunta: “Qual é o esquema que existe entre os ingleses e o 4-4-2?”, numa clara referência ao esquema tático empregado por quase todos os times em quase todos os níveis de quase toda a Inglaterra. Por isso, a Brazilian Soccer School pode ser entendida como uma revolução na idéia de construção do ideal inglês de futebol.
 
O projeto da Brazilian Soccer School é de autoria do jovem de trinta e poucos anos Simon Clifford. Ele é um dos personagens mais polêmicos do futebol inglês, que nunca teve muita relação com o futebol brasileiro, até conhecer um atleta que jogava por aquelas bandas e vir ao Brasil para entender qual era o negócio dos brasileiros com o seu estilo de jogar e por que os melhores jogadores quase sempre surgiam por aqui. Após a visita, Clifford concluiu que a raiz de todo o sucesso brasileiro no mundo do futebol está diretamente atrelada ao futebol do salão.
 
Com isso em mente, voltou pra Inglaterra e abriu a Brazilian Soccer School, uma escola de futebol que foca a estrutura de seu ensino em três aspectos chaves: no futsal, na ênfase no desenvolvimento das habilidades individuais, e no maior tempo de treinamento. Aparentemente, a idéia vem dando certo. Só na Inglaterra são 600 escolinhas, que somam quase 200 mil alunos de idades de 5 a 16 anos. Fora da Inglaterra, são 11 países com pelo menos uma escolinha da Brazilian Soccer School.
 
Simon Clifford crê que irá revolucionar o futebol britânico. O primeiro passo foi criar a Brazilian Soccer School. Depois, comprou o pequeno time Garforth Town, que ficou bem conhecido quando contratou o Sócrates pra uma partida, e criou um planejamento a longo prazo para a equipe, que culmina com o título da Premier League em 2028. E agora, Clifford colocou um jogador da sua escola como titular da seleção inglesa.
 
Micah Richards, volto a dizer, é um fenômeno. É o jogador mais jovem da sua posição a ter pisado em campo com a camisa inglesa. É cria de Simon Clifford. É um jogador formado por uma escola que ensina o jeito brasileiro de se jogar futebol.
 
Curiosamente, Micah Richards é um zagueiro.

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Treinador de futebol – O paradoxo de uma profissáo

O que é preciso para ser um treinador de futebol?
 
Não muita coisa, se tirarmos como exemplo o que fez a CBF há pouco tempo, quando escolheu um ex-jogador para dirigir uma das mais respeitadas e temidas seleções do planeta, a seleção brasileira.
 
Embora Dunga possua uma respeitável biografia como jogador de futebol e pelo que sabemos trata-se de uma pessoa idônea, a verdade é que nunca teve experiência e nem formação acadêmica para exercer essa função.
 
O fato, entretanto, não é uma exclusividade do Brasil ou do nosso futebol. Muito poucos treinadores possuem os requisitos mínimos básicos para ocuparem esse cargo com competência, seja qual for o país ou continente que escolhermos.
 
Até na Europa, tão badalada em muitos aspectos por nós brasileiros, são poucos os treinadores que têm formação consistente para serem considerados verdadeiramente profissionais, na sua mais completa acepção.
 
Diferentemente de outras profissões, o treinador de futebol, não só aqui como em tantos outros lugares do mundo, possui suas características próprias e peculiaridades.
 
Apesar de ser uma profissão bastante valorizada pelo mundo afora, aonde alguns chegam a ganhar em um mês aquilo que muitos trabalhadores não conseguirão ganhar em toda a sua vida, não se exige muitos pré-requisitos desses profissionais se os compararmos com outras funções executivas.
 
Embora, pela importância e complexidade de sua profissão, um treinador precisasse de consistente liderança, formação acadêmica, conhecimentos diferenciados sobre tática, pensamento estratégico, metodologia que incorporasse processos pedagógicos avançados, além de sólidos conhecimentos das ciências humanas para poder lidar com os atletas e todos aqueles que circundam seu trabalho (entre outros saberes), o fato é que a grande maioria nem passa perto destes requisitos mínimos.
 
Ressalvadas as exceções, na verdade o treinador de futebol que deveria estar em permanente busca de novos conhecimentos e desenvolvimento, parece estagnado e sem forças em busca de sua valorização.
 

Enfim, um paradoxo incompreensível que mereceria um estudo sociológico mais aprofundado.

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Náo pense em crise, trabalhe

Na década de 80, uma dessas frases anônimas que se tornam sábios ditos populares era uma que dizia: “Não pense em crise, trabalhe”. Não sei por que motivo, desde moleque tinha um adesivo com essa frase colado no parapeito da janela do quarto.
 
Na época da escola, crise mesmo era ver o time perder, ser gozado pelos colegas no dia seguinte, ter de agüentar a pilhagem dos amigos por torcer para a equipe perdedora. Mas mesmo assim a gente trabalhava, se esforçava, esperava o dia em que a sorte viraria a nosso favor.
 
Até hoje, nos momentos de dificuldade, lembro-me do adesivo no antigo quarto. Ele serve de motivação e até mesmo fonte de inspiração para trabalhar mais e mais para reverter situações de crise. Agora, já estou pensando em recriar tal adesivo e vender em grande escala para os clubes de futebol de nosso país.
 
Cada vez mais vemos que dirigentes, treinadores e jogadores se preocupam muito mais com a crise e, em vez de trabalharem, discutem e fomentam o problema, fazendo com que não se consiga sair dele de maneira alguma.
 
Palmeiras, Fluminense e Corinthians foram três clubes que se cansaram de fazer isso no Brasileirão. Com elencos bons, o trio sucumbiu por problemas internos, que foram se agravando e colocando o time na berlinda durante toda a competição. No Palmeiras, o problema foi o técnico. No Flu, a disparidade de tratamento dos jogadores contratados da Unimed daqueles revelados em Xerém. No Corinthians, a crise sempre foi o relacionamento da diretoria do clube com os gestores da MSI. E, na reta decisiva do campeonato, só o Corinthians deixou de pensar tanto na crise de sua tumultuada relação com a “parceira” MSI para trabalhar.
 
Na parte de cima da tabela, porém, o lema é totalmente diferente. Será que existe crise para São Paulo, Inter, Grêmio, Santos, Vasco e Paraná? Durante todo o campeonato esses times se mantiveram num grau de excelência em performance e, conseqüentemente, resultados.
 
Há três rodadas, o líder São Paulo, cada vez mais próximo do título, bobeou num facílimo jogo em casa e perdeu para a ameaçadíssima Ponte Preta, vendo diminuir sua vantagem para o Inter. Em vez de pensar em crise, o time resolveu trabalhar. Agora, está a uma vitória de seu quarto título nacional.

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A inveja européia

Demorou, mas aconteceu. Finalmente a Uefa baixou a bola e resolveu aceitar os fatos como eles são. Aconteceu aquilo que todos nós grandes nacionalistas sempre soubemos. Valeu a pena não desistir. Nunca. Jamais!
 
O futebol brasileiro é um exemplo para o mundo.
 
E não sou eu quem tá dizendo, é a Uefa.
 
Sim. Arregale os olhos e continue lendo, pois vou me repetir: a Uefa admitiu que o Brasil é um exemplo a ser seguido pelo mundo do futebol. Sério. Quem disse isso, na verdade, foi Andy Roxburgh, diretor técnico da Uefa, no editorial da quinta edição da Uefa Grassroots Newsletter.
 
Para contextualizar, Andy Roxburgh é diretor-técnico da Uefa desde 1994, cargo que começou a desempenhar um ano depois de ter largado o papel de técnico da seleção escocesa de futebol, que havia assumido em 1986, sucedendo o hoje Sir Alex Ferguson. E sim, as datas estão corretas. Andy Roxburgh foi de fato o técnico da seleção escocesa na Copa de 90, aquela que tinha sete titulares com o sobrenome MacAlgumacoisa, que enfrentou o Brasil de Lazaroni e foi derrotada por 1 a 0, gol de Muller aos 37 do segundo tempo.
 
Curiosamente, Andy Roxburgh enfrentou uma seleção que muitos consideram como a pior seleção brasileira da história do futebol moderno, que jogava de uma maneira extremamente desfigurada daquilo que se entende como o padrão brasileiro de futebol. Ainda assim, Roxburgh mostra-se um apaixonado pela capacidade nacional de revelar grandes talentos. Ou, pelo menos, mostra-se apaixonado pelo país. Diz ele no começo do seu texto:
 
“Pense no Brasil: sol, mar, samba e futebol. Pense no sorriso do Ronaldinho – um sorriso que epitomiza o amor do brasileiro pelo jogo e a alegria de jogar futebol. Pense no fato direto para o futebol europeu de que o país com o maior número de representantes na primeira rodada da Liga dos Campeões da Uefa desse ano foi o Brasil. Como reportado por um jornal alemão, a equipe titular das 32 equipes incluíam 65 brasileiros, 37 franceses, 24 portugueses, 22 italianos, e apenas 12 alemães. O Brasil pode não ter ganhado a Copa de 2006, mas sem dúvida alguma continua como o maior exportador de talento futebolístico do planeta. E, com o seu ambiente natural e sua população apaixonada, é um modelo para o desenvolvimento do futebol de base”.
 
Aí ele disserta sobre como é bacana estar na beira do mar e ver as pessoas com roupas de praia e jogando futebol por brincadeira. Depois pondera sobre a influência do futebol de praia e do futsal no jeito de jogar brasileiro. Nada lá de muito brilhante.
 
Mais pro final do editorial, Andy Roxburgh diz que – obviamente – “(…) poucos países na Europa podem reproduzir as condições do ambiente natural brasileiro. Mas, de qualquer maneira, lições podem ser aprendidas. Associações de futebol que são sérias quanto à saúde e o crescimento do jogo são necessariamente obrigadas a promover a participação e o interesse em massa. Futebol de base que age como veículo de integração social, saúde e alegria é o objetivo. Por conseqüência, talentos irão emergir. No Brasil, o amor pela bola, expressão pelos jogos em campos diminutos, e a alegria absoluta de jogar foram tão cultivados que a paixão e criatividade do futebol começaram a fazer parte do DNA da nação. A Europa pode ter tido os quatro finalistas da Copa de 2006, mas em um mundo altamente competitivo, complacência não é uma opção. É imperativo o desenvolvimento constante do jogo e a fundação de todo o crescimento e desenvolvimento do futebol está na sua base”.
 
Basicamente, Andy Roxburgh sugere que o Brasil tem tantos jogadores de futebol de qualidade por causa dos campos pequenos, das praias e da alegria do povo. Obviamente, não se preocupa em ver exatamente o que está por trás de todo esse processo. Mas tudo bem, afinal o cara é diretor-técnico da Uefa. Merece, pelo menos, algum respaldo em suas ponderações, leviandades ou não.
 
Mas que parece um papo típico de turista que chega na beira do mar, degusta uma caipirinha, petisca um camarão, pega um bronzeado pra ficar como um camarão, filosofa sobre como é bacana o lugar, como as pessoas são bonitas e como isso tudo se relaciona com o futebol, ah, isso parece.

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