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Oportunidade

Não existe um roteiro para oportunidades. Há algumas que aparecem de supetão, como acaso; outras são construídas durante períodos que podem ser curtos ou extremamente longos. O que une essas chances, independentemente da proporção que elas têm, é um fator que se refere a quem as encontra: os mais preparados são os que mais aproveitam.

Existem diferentes formas de preparação ou de treino. O esporte mostra que há caminhos absolutamente distintos para que equipes atinjam níveis parecidos de desempenho. Mas como alguém se prepara para o que não está previsto?

Essa é uma questão que deveria inquietar profissionais em diversos segmentos. O esporte, por exemplo: se um garoto é condicionado desde pequeno a ir até a linha de fundo e cruzar, como ele vai reagir se a única opção for uma diagonal ou um chute?

O improviso, o drible e outros aspectos que sempre caracterizaram o futebol brasileiro são reflexos de um conceito importantíssimo: repertório. Ainda que de forma empírica, a cultura nacional contribui para a formação de atletas com potencial para a resolução de problemas urgentes, independentemente do grau de complexidade.

Conheci uma treinadora de handebol que costumava fazer um exercício curioso: durante a atividade, ela pedia para os atletas trocarem passes até encontrarem espaços para finalizar. Em algum momento, ela pedia para o goleiro adversário deixar a quadra. Os atletas quase sempre seguiam tocando a bola, ignorando a meta vazia.

Em outras palavras: eles estavam condicionados a trocar passes e encontrar espaços na defesa. Tão condicionados que sequer olhavam para o posicionamento do goleiro. Tão condicionados que não percebiam nem a ausência do jogador.

Esse é outro elemento fundamental para o improviso: ter uma noção exata sobre metas. Nenhuma ação inusitada é realmente eficaz se não trabalhar para um objetivo previamente estabelecido. No futebol, por exemplo, o desafio é o gol.

Improvisar não é simples, portanto. É algo que demanda repertório e estabelecimento de metas.

Pois bem: o Brasil está a menos de 24 horas de iniciar o período mais importante da história do esporte nacional. Como exercício de fim de ano, proponho o seguinte: será que o país está realmente preparado para isso?

Não pensem em estrutura física, por favor. Os estádios vão ficar prontos, e isso não se negocia. Poucas obras de infraestrutura vão ficar prontas, e isso não se corrige mais.

A poucos meses de uma Copa do Mundo e a dois anos dos Jogos Olímpicos, a pergunta que fica é: o Brasil está pronto para improvisar? Há repertório suficiente? As metas estão claras?

A impressão é que a resposta para todas as perguntas é uma gigantesca negativa. O Brasil iniciará na próxima quarta-feira a maior oportunidade de sua história, mas fará isso sem ter condição de aproveitá-la. E pior: fará isso sem saber como improvisar.

Só um exemplo besta do mercado dos Estados Unidos. Em um jogo da liga profissional de futebol americano (NFL), neste ano, um atleta se pendurou na trave para celebrar um ponto. Resultado: o aparato ficou totalmente danificado.

Prontamente, uma equipe entrou no campo com um nivelador e ferramentas para o conserto. O jogo ficou parado por menos de dez minutos, e a trave estava totalmente arrumada quando a partida foi retomada.

Agora pense em quanto tempo seria necessário para retomar um jogo do Campeonato Brasileiro se houvesse um problema com uma trave. Qual seria o prazo para a partida ser retomada?

Estou falando apenas de gestão de evento, que é uma parte bem pequena de tudo que os três próximos anos vão representar para o mercado brasileiro. O país tem uma chance de usar o esporte para alavancar uma série de segmentos.

E o que fazer, então? Reconhecer que o país não está preparado e rejeitar a oportunidade? Aproveitar apenas o que for possível e lamentar o que não funcionar?

A discussão é complicada, obviamente. O Brasil ainda tem meses pela frente até o início da Copa do Mundo, mas o impacto do evento no país já começou – ou já deveria ter começado.

Enquanto não discutir metas, porém, o país não vai sequer saber o real impacto dos próximos anos. Não vai nem conseguir medir com precisão o que foi causado pelo esporte.

O Brasil não vai fazer uma Copa do Mundo ruim. Tampouco vai fracassar na organização dos Jogos Olímpicos. Isso nunca esteve em pauta. Enquanto todo mundo pensa em desejos e resoluções para o fim do ano, a provocação que eu faço é: eventos cumpridores são tudo que essas competições oferecem a um país?

Ainda que a economia brasileira tenha desacelerado, é notório o crescimento do mercado de consumo no país. Mais e mais pessoas estão comprando. Tente lembrar de como estavam os shoppings e as lojas na semana que precedeu o Natal.

A ampliação da base de consumidores é um reflexo de um amadurecimento da economia local. Entretanto, qual tem sido o papel do esporte nisso?

É inegável que o esporte é uma plataforma de comunicação extremamente poderosa. É inegável que poucos outros segmentos conseguem mexer tão bem com o aspecto emocional.

Então, como justificar que Palmeiras e Santos, dois dos principais times do principal mercado do país, chegaram ao fim de 2013 sem um patrocinador máster? E que o São Paulo, apoiado pela Semp Toshiba, deve ficar sem o aporte no próximo ano? E que o Vasco, que havia fechado com a Nissan, perdeu o negócio por causa das cenas de selvageria do clube na última rodada do Campeonato Brasileiro?

Como justificar que as camisas do futebol brasileiro estejam nas mãos de marcas como BMG e Caixa Econômica Federal, ondas que são mais ocasionais do que estratégicas?

Como justificar que os principais investimentos no futebol brasileiro nos últimos anos tenham tido como destino a seleção brasileira, a Copa do Mundo e até o Campeonato Brasileiro, mas não os clubes?

O fim do ano normalmente é uma época propícia para reflexões. Espero que o futebol brasileiro aproveite o clima para tentar responder a algumas dessas perguntas. Ainda dá tempo de amenizar o desperdício.

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O tempo que passa: ciclos, términos, recomeços… e por que não, a Física?

O tempo passa muito rápido…

Há quem diga que não. Há quem diga que ele nem existe…

Para um jovem adolescente talvez ele demore a passar, especialmente pela ânsia da maior idade, da carteira nacional de habilitação, da falsa ideia juvenil de que aos 18 (18 anos) tudo vai ser diferente: sem satisfações, sem proibições, sem nãos (ou melhor com nãos que não precisam ser ouvidos) !!!

Para alguém com muitas décadas de vida é uma loucura. O tempo parece passar tão rápido que é como se de verdade os dias não tivessem mais 24 horas, as horas não tivessem mais 60 minutos e os minutos não chegassem a ter 30 segundos… A sensação do “parece que foi ontem” … mas foi a quatro décadas…; a sensação de que os anos passam como dias que já foram, mesmo os que ainda não foram…

Mas, rápido demais, ou lento demais o fato é que nada é igual ao que já foi um dia, e nem tão pouco ao que será em um momento futuro qualquer.

O tempo é um conceito criado pelos homens. Por isso ao longo da história do nosso planeta diferentes civilizações tiveram maneiras distintas de organizá-lo estruturalmente falando.

Então a maneira que o entendemos, a maneira que a nossa compreensão permite percebê-lo, é resultado da organização do homem ao longo de sua existência.

Para nós, hoje, 1 minuto tem 60 segundos. Uma hora tem 60 minutos. Um dia tem 24 horas… E de dias, semanas e meses (organizados assim pela humanidade a partir do conhecimento atual sobre o planeta Terra e o Universo) chegamos ao ano de, normalmente, 365 dias.

Pois é. De ano em ano ele (o tempo) vai passando, e sem nos darmos conta, todos os dias pela manhã quando acordamos e levantamos da cama para começar nova jornada, muita coisa já ficou para trás até aquele momento – e se não nos mexermos rápido outras tantas também ficarão.

E por falar em mexer rápido, o tempo é relativo. Segundo Albert Einstein, se pudéssemos nos movimentar pelo Universo em uma velocidade infinitamente alta, o tempo para nós passaria muito mais lentamente do que para nossos pares humanos do planeta Terra. Envelheceríamos mais lentamente…

Mas, como essa velocidade de movimentação ainda não nos é possível – ao menos com segurança – vamos ter que, por um “bom tempo” conviver com ele (o tempo) do jeito que nos é apresentado hoje.

Pois bem.

Mais um tempo se passou…

Mais um Natal, mais um ano terminando, mais uma recomeço em vista…

Às vezes penso – filosoficamente e romanticamente falando – que é muito bom que o tempo seja assim… ciclos começam, ciclos terminam, as esperanças, as forças, as vontades e as motivações se renovam… as dores, as dificuldades, as tristezas têm um motivo a mais para terminar…

Se o tempo não passasse em minutos, dias, anos, décadas, teríamos que criar algum outro tipo de marca para estabelecer início e fim de ciclos sociais, psicológicos, emocionais, biológicos, etc. que simbolicamente pudessem nos propiciar uma ideia profunda de términos e recomeços, desprendimentos e renovações.

O tempo é a vida, e a vida é o que fazemos do tempo nela…

Que o tempo seja bom para todos nós, ainda que relativamente… Que a vida seja um tempo de proveito, e que na composição do proveito, a Saúde, a Paz, o Amor, as Paixões, os Sonhos e a Felicidade estejam presentes!

Termino com uma composição do Gonzaguinha, que conheci num tempo distante, perto dos meus 10 anos de idade, ouvindo Erasmo Carlos, em sala de aula com a turma da classe e com a professora que a memória não me deixa lembrar o nome… Ah, o tempo…

Sementes do Amanhã

“Ontem um menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã
Para não ter medo que esse tempo vai passar
Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo
Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será”

Feliz Tempo!

Feliz Vida à todos!

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Uma receita para 2014

Caros leitores,

A busca pela vitória é uma constante em nossa profissão. Neste ambiente, uma sequência de resultados positivos é facilmente esquecida após uma ou outra combinação de reveses. Logo, por uma simples questão de sobrevivência, ter a receita do sucesso pode ser uma grande arma para a indispensável vantagem competitiva e consequente acúmulo de vitórias.

Com o término de 2013 e o início da temporada seguinte, inevitavelmente, nos fazemos diversos questionamentos sobre como pensamos e intervimos no jogo (e no treino) de futebol.

Muitos destes questionamentos referem-se aos incontáveis procedimentos (técnicos, táticos, físicos, psicológicos, de relacionamento, administrativos, etc.) que adotamos ao longo do ano e como agiremos na próxima temporada diante de acontecimentos semelhantes.

Como parte destas reflexões, tendemos a estabelecer uma lista (mental, manual ou digital) com elementos indispensáveis: a plataforma de jogo ideal, a sessão de treino infalível, os comportamentos do Modelo de Jogo que levam as vitórias, a preleção certeira e até os melhores vídeos motivacionais. A partir da combinação destes elementos temos a nossa receita para o sucesso.

Já são mais de 20 anos de envolvimento com a modalidade, 14 anos como atleta e 6 anos como gestor de campo (auxiliar técnico, analista de desempenho ou treinador), e apesar da curta experiência “fora das quatro linhas”, para encerrar o ano, gostaria de compartilhar alguns “ingredientes” da minha receita com vocês:

• Tente ser um exemplo para o seu grupo de jogadores. Suas atitudes valem mais do que qualquer discurso;

• Seu próximo treino deve ser o melhor que já aplicou em toda sua carreira;

• Estude muito. Mesmo sabendo que nenhuma das respostas que procura está pronta em algum livro;

• Livro de Jogos? Evite-o. Você deve elaborar o treino de acordo com a necessidade da equipe e não encaixar um treino nela;

• Cobre, oriente, corrija e mostre caminhos. Lembre-se: você é um educador;

• Não seja amigo de jogador. Boa relação e respeito mútuo podem ser mantidos com a natural relação hierárquica atleta/comissão técnica;

• Integridade e ética. Mesmo que lhe custe a vitória;

• Compartilhe sua opinião e ouça a do outro. A troca de conhecimento o tornará melhor;

• Sinta e viva o jogo que você quer ver sua equipe jogar;

• “Eu venci, nós empatamos e vocês perderam”. A grande receita para o fracasso (Obrigado, Bellão);

• Adapte-se ao ambiente. O seu ritmo (e sua visão) não é o mesmo de todos a sua volta;

• Modifique o ambiente. Seu comportamento tem poder de transformação;

• Seu próximo jogo deve ser o melhor que comandou em toda sua carreira;

• Preleções curtas. Ensinar o que instantes antes da partida?;

• Dê autonomia a sua comissão técnica e demonstre confiança neles. O elenco perceberá! Tanto a confiança, como a falta dela;

• Siga os melhores de sua profissão. A melhor maneira de segui-los? Assista a seus jogos;

• Em alguns momentos, a melhor sessão de treino é uma roda de conversa;

• Conheça-se. É bem provável que você tenha limitações que afetam a equipe;

Seria pretensão afirmar que esta é uma receita de sucesso. São apenas alguns elementos praticados por alguém que está começando e que tem ciência do quão longo é o caminho até ao êxito.

E, para concluir, não é pretensão nenhuma afirmar que um ingrediente básico para toda receita de sucesso é saber que ela está em constante modificação e construção.

Um abraço e um excelente 2014 a todos!

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O “Padrão Fifa” no Mundial de Clubes

Desde o século passado, busca-se indicar o melhor clube do mundo. A ideia surgiu na Grã Bretanha e o primeiro clube a se proclamar "campeão mundial de futebol" de que se tem notícia foi o escocês Hibernian, campeão da Copa da Escócia que se proclamou campeão mundial ao vencer o clube inglês North Preston End em 1887. Atá 1901, o vencedor do confronto “Escócia x Inglaterra” se declarava campeão do mundo, muito embora já houvesse campeonatos de futebol em outros países.

Em 1951 foi realizada a Copa Rio, o primeiro torneio intercontinental de clubes que se tem notícia e a partir de 1960 deu-se início à Copa Intercontinental disputada entre o campeão da Libertadores da América e o campeão da Europa.

Somente em 2000 a Fifa resolveu organizar um campeonato de clubes de maneira oficial. Entretanto, após a primeira edição, a competição somente se tornou contínua a partir de 2005.

Com sede alternada, a Copa do Mundo de Clubes já foi disputada no Brasil, no Japão, nos Emirados Árabes Unidos e este ano, no Marrocos onde, no último sábado, estive, na cidade de Marraquesh para a partida final envolvendo o Raja Casablanca, representante dos donos da casa e do Bayer de Munique, representante europeu.

Ao chegar no Marrocos, a realização do Mundial de Clubes no país era evidenciada com uma série de cartazes e bandeiras alusivas à competição no aeroporto e nas principais vias da cidade.

Iniciei o dia da finalíssima com uma visita ao “Village Footobal”, a “fun zone” criada pela Fifa para o evento.

Havia tumulto para entrar e a entidade permitia a entrada livre de estrangeiros, mas os marroquinos somente tinham acesso ao local portando ingresso para as partidas. Isso gerou imenso tumulto na entrada, eis que vários torcedores locais insistiam para entrar.

Ao chegar na “fun fest” deparei-me com um evento esvaziado e bastante sucateado. Os stands dos patrocinadores não possuiam mais brindes e/ou atividades promocionais e a loja oficial praticamente não tinha produtos para vender. Ademais, muitos dos produtos tinham qualidade questionável.

Os ingressos foram adquiridos pela internet, mas a sua retirada foi extremamente tranquila, pois haviam pontos de “troca” no aeroporto e na estação de trem.

Para ir ao estádio, que é bem distante do centro da cidade, a organização disponibilizou ônibus. O grande problema é que não havia qualquer informação ou sinalização acerca do local de saída dos ônibus e os policiais e seguranças da “fun zone” não falavam inglês. Para piorar, os ônibus não possuiam qualquer indentificação que indicasse se tratar de acesso ao estádio.

Conseguindo-se chegar aos ônibus, havia certa organização e eles demoraram pouco tempo para sair e o acesso ao estádio foi bastante rápido e tranquilo.

Chegando-se ao estádio, apesar dos “auxiliares” não falarem inglês, eram muito educados e atenciosos e os locais de acesso e assentos foram identificados com bastante tranquilidade.

Na maioria dos casos, mas não em todos, os números de assentos foram respeitados. Entretanto, havia muitas pessoas assistindo à partida de pé nas escadas de acesso, o que é proibido pelas normativas FIFA.

O estádio, apesar de novo, moderno e bem cuidado, foi construído sob uma orientação geográfica em que o sol ofuscava a visão de parte dos torcedores.

Os banheiros bastante simples, não tinham nenhum material de higiene, nem papel higiênico, nem sabonete e nem papel toalha. No banheiro masculino não existia vaso sanitário.

E os bares improvisados e desorganizados. Não havia filas para aquisição de comidas e bebidas, mas um aglomerado desordenado de pessoas gritando para chamar a atenção dos atendentes que, desorientados, não conseguiam atender a todos. No meio da partida acabaram os lanches e, quando, foram repostos, não havia troco. Um detalhe importante é de que não havia venda de bebidas alcoolicas, de certo, pelo fato do Marrocos ser um país muçulmano.

A acústica do estádio é excelente e, no meio da partida, foi pedido aos torcedores do Raja Casablanca, em nome do”fair play”, que parassem de incomodar os atletas do Bayer de Munique com laser.

Ao final da partida, o escoamento de torcedores foi tranquilo e a localização dos ônibus oferecidos pela organização também foi bastante célere.

Entretanto, apesar da partida ter terminado às 21:30, os ônibus somente sairam do estádio por volta de meia noite.

Diante de tudo, a sensação é de que a Fifa trata o Mundial de Clubes como evento de segunda linha, já que abre mão de uma série de padrões de excelencia criados pela própria entidade.

O torcedor não chegou a ser mal tratado, mas, de longe o “Padrão Fifa” tão comentado em virtude da realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014, não foi exigido pela entidade que organiza o desporto na realização do Mundial de Clubes.

Por fim, imprescindível destacar um ponto extremamente positivo: o comportamento da torcida local do Raja Casablanca que agiu durante todo o tempo de forma amistosa e festiva. Deram uma verdadeira aula de como torcer sem violência. Aliás, estavam presentes várias torcidas organizadas com as suas faixas que, juntas, no início da partida exibiram um belissimo mosaico com a palvra “fight”, pedindo que seus jogadores “lutassem” em campo, isto é, que jogassem com raça. Fica, assim, a indagação, será que a existência de torcidas organizadas por si só é um causador de violência?
 

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Liderança eficaz dentro de campo

Na coluna passada, abordei a questão dos pontos de avaliação importantes a serem considerados para a escolha de um novo técnico de futebol para a temporada que se renova. Mas aqui cabe a pergunta: e quanto aos atletas, é possível desenvolvê-los em termos da liderança para que seja cada dia mais efetiva dentro de campo?

Claro que sim! A liderança de um atleta pode tornar-se mais efetiva com um desenvolvimento adequado e quanto a isso já começo a coluna indicando alguns elementos básicos do treinamento para promover este desenvolvimento:

•Empatia;
•Escutar ativamente;
•Técnicas de comunicação;
•Flexibilidade na liderança;
•Técnicas de feedback e suporte social;
•Técnicas de solução de problemas;
•Delegação de tarefas.

Os técnicos devem estimular o desenvolvimento de várias destas características nos atletas para que eles possam se tornar bons líderes no futuro. Vamos conhecer melhor duas delas.

Técnicas de comunicação

São técnicas que permitem ao líder expressar melhor seus objetivos e influenciar os seguidores. Acredito que um atleta enquanto líder necessitará desta habilidade, não é mesmo? Para melhorar a comunicação do atleta é sugerido:

•Ser consciente da necessidade de melhorar a capacidade de comunicação;
•Identificar os problemas de comunicação, para desenvolvê-los;
•Aprender e praticar novas técnicas de comunicação;
•Procurar feedback sobre o comportamento verbal e não-verbal;
•Integrar as técnicas de comunicação na vida diária.

Flexibilidade na liderança

Possuir esta habilidade possibilitará ao líder uma maior eficácia no exercício da função de líder. Hersey e Blanchard (1986) sugerem como pontos para desenvolver a capacidade de variar os estilos de liderança:

•Capacidade de diagnóstico;
•Espírito de observação;
•Sensibilidade;
•Identificar a realidade do ambiente;
•Adaptar o estilo de liderança em função do meio;
•Flexibilidade e habilidade para variar o comportamento.

Formar futuros líderes de campo é obra fundamental na base do futebol, pois as equipes carecem de líderes que possam comandar dentro de campo o grupo ao desempenho desejado e esperado por todos.

Uma liderança efetiva dentro de campo contribui com todo o trabalho feito fora dele, criando sinergia adequada de todos e reunindo forças numa mesma direção para a conquista dos objetivos comuns.

Essa dicas poderiam ajudar um clube ou uma seleção na prática? Reflita e continuamos nossa conversa em 2014!

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A Mentira do Neoliberalismo e o Natal de Jesus

Dos dinossauros só os ossos ficaram. Os maiores e mais fortes animais que a terra já conheceu desapareceram. A força e o tamanho não lhes serviram para nada. Ao contrário, as lagartixas, suas parentes pobres, escaparam ilesas e assistiram, incrédulas, aos funerais dos primos que mandavam, na Terra.

Às lagartixas, por refeição, bastavam umas poucas moscas e umas formigas. Por isso, por aí rastejam e, num abrir e fechar de olhos, desaparecem. Mas estão vivas, frescas e contentes.

Os dinossauros, bocas enormes, estômagos descomunais, corpos gigantescos comiam demais e ocupavam muito espaço – foram vítimas de uma crise de combustíveis! Há grandes semelhanças entre os dinossauros e os capitalistas. É que, também estes, comem demais e é bem possível que estejam prestes a desaparecer, por diabetes, obesidade e doenças das coronárias. E porque a injustiça social é uma bolha de sabão que vai rebentar, mais tarde ou mais cedo.

A teoria do capitalismo de crescimento linear ininterrupto sofre de uma contradição, pois que o crescimento constante quer realizar-se num planeta de recursos limitados. Relação harmoniosa com a natureza é coisa que o capitalismo desconhece. Mas também os povos do Sul vão revoltar-se inevitavelmente, sabendo que uns morrem de fome e outros de comer demais.

E não só: porque também os pobres já sabem que, no capitalismo, tudo o que é humano se reduz à quantidade, ao lucro! Embora muitos capitalistas assistam à missa, eles criaram um novo evangelho: “Buscai, em primeiro lugar, o reino do lucro e tudo o mais vos será dado por acréscimo”.

Karl Marx tinha razão: “A desvalorização do mundo humano aumenta, na razão directa do aumento do valor do mundo das coisas”. Para que a quantidade cresça, a qualidade tem de diminuir.

O que fazer, num mundo que a todos nos ameaça, porque nem o rico poderá fugir à revolta da natureza e dos mais pobres? Há que fazer um mundo outro. O neoliberalismo deve ser erradicado da face da Terra. É o próprio Jesus a dizê-lo: “Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, nem vinho novo em odres velhos”. É necessário um recomeço, ou seja, reconstruir a sociedade em alicerces novos.

Segundo Thomas Kuhn, muitas vezes o conhecimento científico chega a situações de impasse e, então, é imperioso e urgente uma revolução. Kuhn entendeu que a sua tese alcançava outros domínios, para além da ciência. E por isso escreveu: “Do mesmo modo que as revoluções científicas acontecem quando se consciencializou que o paradigma existente deixou de funcionar de maneira adequada, as revoluções políticas tornam-se necessárias quando cresce um sentimento de que as instituições deixaram de resolver convenientemente os problemas. Só que os instalados, os carreiristas, os exploradores sentem que estão bem e não vêem que há necessidade de fazer o novo e consideram até a criatividade um acto proibido. Eles desconhecem aquela frase célebre de Ernst Bloch que diz: “o que é não pode ser verdade”. Mas os ricos, os poderosos não têm alternativa: eles querem que tudo continue como está! A História não regista um único caso no qual o poderoso abdique dos seus interesses.

O presente realiza o que lhes convém e portanto a transcendência não lhes interessa. Na tradição religiosa, os demónios não são aceites; são expulsos. Os ídolos não são convertidos; são destruídos. A esperança de um futuro diferente depende da possibilidade de se destruírem ídolos e de se expulsarem os demónios. A terapia é declaradamente ética e política.

A mentira do neoliberalismo está aí, à vista de toda a gente! A Bíblia dá-nos, a propósito, a lição que o teólogo Leonardo Boff resumiu assim: “A economia não se pode independentizar da sociedade, pois a consequência será a destruição da própria ideia de sociedade e de bem comum. O ideal a ser buscado é uma economia do suficiente, para toda a comunidade de vida”.

Se bem entendo o que a Bíblia nos ensina, é preciso morrer para o fausto, para o luxo, para o supérfluo, para que possamos renascer para a fraternidade, para a igualdade, para a solidariedade.

Crescimento não pode ser sinónimo de exploração, de cegueira pelo ter que se acumula em detrimento dos pobres, dos miseráveis, dos excluídos. Crescer é, para mim, encontrar a urgência do amor e da justiça, que decorre da mensagem que nos revela por que Jesus, numa sociedade escravocrata, foi capaz de proclamar a igualdade radical de todos os seres humanos – mensagem que, digamo-lo, sem receio é também de conteúdo verdadeiramente social e político.

Eu sei que Jesus Cristo é “a forma suprema e insuperável do compromisso de Deus com o mundo e pelo mundo”, que não se deixa absorver por qualquer ideologia política, por mais magnânima que ela se apresente. Mas também sei quem são (e têm sido) os defensores de um neoliberalismo que é um perfeito (e pernicioso) logro.

No entanto, o grande desafio à solidariedade, no mundo de hoje, não pode limitar-se à condenação do capitalismo neoliberal – tem também a ver com todos e cada um de nós! De facto, em que espécie de pessoa, em que espécie de gente nos queremos todos transformar?

A desigualdade na distribuição do rendimento pressupõe corrupção no coração da política, “rambificação” do entretenimento popular, desinteresse pelo bem-estar do nosso próximo. Há quem, vítima embora da sociedade injusta, também defenda o lucro sem freios e o consumismo.

Assim se caminha para a falência civilizacional, para uma sociedade de fundas desigualdades, para um mundo transformado num centro comercial. Onde os culpados são muitos e… nós!

Um ponto ainda a salientar: a morte do fundamentalismo do mercado liberal não deve fazer esquecer-nos que também já morretam (e estão prestes a morrer) algumas ditaduras, mascaradas de socialismo, que enfebreceram de entusiasmo os desiludidos com as injustiças que o capitalismo gera.. Este é um tema que é preciso não esquecer, dado que se torna inadiável criar o novo, sem disfarces, e não o velho mascarado de novo.

Há muitos “treinadores de bancada” que, perante a crise do capitalismo neoliberal, querem voltar ao capitalismo de Estado. Até eu, um pobre conhecedor destes assuntos da Economia, venho lutando, no limite das minhas poucas forças e há um bom par de anos já, contra o neoliberalismo. Só que, completados os 80 anos de idade, sei bem quais são as taras e os vícios do capitalismo de Estado. E onde nunca há progresso – há imobilismo, porque tudo foi decretado, uma vez por todas!

Mas o que me interessa salientar, neste passo, é o rotundo fracasso da revoluç&atil
de;o neoliberal. Segundo afirmação autorizada, “hoje, a mundialização não funciona. Não funciona para os pobres do mundo. Não funciona para o ambiente. Não funciona para a estabilidade da economia mundial”.

Palavras, palpitantes de emoção, de Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia de 2002. E, porque os pobres não podem esperar, estaremos nas vésperas de uma rajada impetuosa de descontentamento dos marginais e marginalizados?…

Estes os pensamentos que me ocorrem, em mais um Natal de Jesus! Que nada têm a ver com o Desporto? Se o Desporto é uma Atividade Humana e não só uma Atividade Física, é evidente que a mensagem de Jesus concorre também a um Desporto Novo, quero eu dizer: mais fraterno e mais justo!
 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo damotricidade. É reitor do Instituto Superior de EstudosInterdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus deAlmada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

 

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Fim de ano e as expectativas para 2014 – parte 1

Começamos o ano esperançosos de dias melhores, com novas arenas e novos projetos para o futebol brasileiro. Acabamos, entretanto, de forma melancólica, com violência, justiça desportiva e fracasso esportivo no Mundial de Clubes, voltando a colocar os mesmos pontos de interrogação que colocávamos no início dos anos 2000: qual o problema? Como solucioná-lo?

Antes de mais nada é bom lembrar que que nada do que acontece no futebol não se repete na sociedade brasileira como um todo. A questão da violência nos estádios não é nem um pouco diferente daquela que vemos nas ruas ou em eventos com grandes multidões e forte apelo emocional. A diferença é, certamente, a repercussão e a espetacularização destas questões pela mídia quando o assunto é a modalidade mais popular do país.

No caso da Portuguesa no STJD, os comentários gerais vão na linha do “coitadismo”: “Poxa vida, a Lusa fez uma bela campanha no Brasileirão, mas só por causa de 15 minutos vai ser rebaixada? Não é justo!”. Eis um argumento “clássico” sobre o caso. Esquecem-se, muitos, que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) existe há anos, que a aplicação de penas para atletas ocorreu de forma igual ao longo de 38 rodadas (e não apenas na 38ª, como muitos querem sugerir) e que a responsabilidade pela escalação de atletas é do clube e de ninguém mais. É comum, em nossa cultura, “passar a mão” e “aliviar” a incompetência, quando deveríamos fortalecer a meritocracia.

A melancolia de final de ano é causada, sobretudo, porque achávamos que estávamos avançando significativamente no combate à violência nos estádios ou sobre a incompetência (pelo menos para erros elementares) no mundo da gestão do esporte. O resultado esportivo negativo no Mundial é apenas a cereja no bolo, não merecendo análise mais profunda (até porque, vez por outra, alcançamos vitórias em campo por força do trabalho de grupo e não por conta de uma estrutura que faça jus à conquista).

Serve, portanto, como um sinal de alerta para os avanços que estamos buscando, sob pena de continuarmos patinando em assuntos que já não fazem mais parte da mesa de debates de países desenvolvidos no mundo do futebol…
 

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Papai Noel espanhol

Thiago Alcântara é filho de brasileiro, mas nasceu na Itália e defende a seleção da Espanha, país em que se formou como jogador de futebol. Defende atualmente um time alemão, o Bayern de Munique, que conquistou no último sábado, no Marrocos, o título mundial de clubes da Fifa. Primogênito de Mazinho, campeão da Copa de 1994, o camisa 6 é um resumo da globalização do futebol atual. Mas também é uma aula constante de vários conceitos que nós discutimos por aqui durante o ano.

Contratado para esta temporada, Thiago Alcântara fez um movimento curioso. Deixou o Barcelona, time em que era uma das maiores apostas para o futuro. Deixou um ambiente que ele conhecia e dominava desde as categorias de base. Deixou uma torcida afeiçoada ao estilo de jogo dele.

A adição de Thiago ao elenco do Bayern de Munique, que havia conquistado na temporada anterior a Copa da Alemanha, o Campeonato Alemão e a Liga dos Campeões da Uefa, foi um pedido de Pep Guardiola, espanhol que assumiu o time exatamente depois da tríplice coroa.

Assim como Thiago, Guardiola é egresso do Barcelona. Ambos foram formados de acordo com a filosofia de jogo do time catalão. Ambos veem futebol como o time espanhol os acostumou a enxergar.

O Bayern não contratou Guardiola apenas para ter sucesso esportivo. Para isso, seria mais simples manter o time vencedor, veloz e mortal da temporada passada. A equipe alemã percorria caminhos mais curtos para as vitórias.

A contratação de Guardiola tem a ver com a mensagem que o Bayern de Munique quer transmitir. Mais do que vencer, o time alemão assumiu o desafio de assimilar a filosofia do treinador: controle do jogo, domínio da bola e encantamento produzido pelo coletivo.

O Bayern de Munique não se tornou no Marrocos o melhor time do mundo. Os alemães são os melhores do mundo desde o término da temporada passada.

Aí começam a entrar alguns conceitos fundamentais de comunicação. Em primeiro lugar, a visão da diretoria da equipe alemã: o Bayern não se acomodou e não se contentou com o êxito. A cúpula quis construir um time que transmitisse mensagens e que produzisse um impacto em quem vê. Hoje em dia, é impossível passar incólume por um jogo dos bávaros.

Outro ponto é a postura de Guardiola. O treinador foi questionado no início, até mesmo por jogadores. Bastian Schweinsteiger chegou a dizer que não sabia em que posição ele atuava.

Guardiola montou um Bayern que joga no 4-1-4-1 na maior parte do tempo, mas que tem liberdade. E é extremamente complicado convencer um jogador de futebol a aproveitar a liberdade.

Num esporte mecanizado, moldado desde cedo por conceitos tecnicistas, jogadores não costumam pensar. Resolvem problemas, mas fazem isso de forma empírica. Improvisam, mas fazem isso por pura necessidade.

O Bayern de Guardiola subverte isso. É um time que controla a bola, que usa uma movimentação intensa e que oferece liberdade para os jogadores. São conceitos simples, mas extremamente raros.

Guardiola merece um elogio a mais. O treinador pode não vencer nada, mas em momento algum abriu mão de suas convicções. Montou o Bayern com características que ele havia impingido ao Barcelona. O time alemão lidera com folga a Bundesliga e se classificou com facilidade para a fase decisiva da Liga dos Campeões da Uefa.

Aqui é fundamental uma lembrança: um treinador novato, que tinha apenas uma experiência na profissão, precisou convencer a equipe que tinha vencido tudo na temporada anterior a mudar tudo. Ele precisou mostrar a um grupo inteiro que vencer não era tudo.

O Bayern deu uma aula de comunicação ao contratar Guardiola. Guardiola tem dado aulas de comunicação ao transformar o estilo e a postura do Bayern.

E onde entra o meio-campista Thiago Alcântara nessa discussão?

Thiago simboliza o que Guardiola pensa de futebol. É um jogador refinado, que toca a bola sem pressa e que tem autossuficiência. Ele sabe o quanto domina o jogo, o que o ajuda a ousar em passes e finalizações.

É difícil dizer a posição de Thiago Alcântara. Ele não é um volante, tampouco um meia. É um armador, mas um armador que atua sempre de frente para o jogo.

No Brasil, Thiago provavelmente teria de escolher entre as duas opções. Teria de se acostumar a jogar de costas para o gol, protegendo a bola até o time se movimentar, como fazem os meias. Ou então marcar, fechar espaços nas laterais e reduzir as investidas ao ataque, como fazem os volantes.

Ele não escolheu nenhuma das coisas. Escolheu ser um armador que percorre a zona intermediária do campo, assim como Xavi. Dono do passe mais perfeito do futebol mundial há muitos anos, o espanhol é subvalorizado porque não é um goleador ou um definidor de lances. Mas ele é a principal razão de o Barcelona e a seleção espanhola terem o perfil que têm.

A visão de futebol de Thiago é moderna e extremamente alinhada ao que Guardiola preconiza.

Aí está mais uma lição de comunicação do Bayern: o time tem objetivos claros, que são construídos por pessoas que estão alinhadas a essas estratégias.

Repito: o time alemão pode não vencer tanto quanto o anterior. Futebol, afinal, é um jogo.

Independentemente disso, porém, o Bayern já atingiu feitos nesta temporada. Na comunicação, principalmente.

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O jogo de futebol: percepções erradas = análises de jogo equivocadas

Hoje escreverei um pouco sobre um tema propício ao momento, proposto pelo leitor R. B. (iniciais do nome) de Belo Horizonte, a partir de e-mail enviado a mim.

No e-mail, ele questionou as análises que são feitas e encontradas na mídia em geral para explicar vitórias e derrotas em jogos de futebol – e apontou particularmente o jogo entre Atlético-MG e Raja Casablanca.

Pois bem, sem falar especificamente sobre o jogo vou tentar abordar o tema.

Em pesquisas e análises realizadas por esse que vos escreve, referentes a Copa do Mundo Fifa de futebol 2006 e a jogos do Campeonato Brasileiro de futebol 2012, uma das situações observadas dizia respeito ao confronto circunstancial de princípios operacionais de ataque e de defesa entre equipes nessas competições.

Em linhas gerais e em outras palavras, o que queria era observar o que acontecia com as equipes na sua organização de ataque, quando submetidas circunstancialmente ao confronto de determinada organização de defesa (e vice-versa) – tendo os princípios operacionais de defesa e ataque como viés da análise.

Sem entrar em detalhes a respeito da pesquisa quero trazer à tona uma das coisas que foi observada.

Na grande maioria das sequências ofensivas das equipes, quando suas adversárias propunham como princípio operacional, uma organização coletiva para “impedir a progressão da bola”, elas (as equipes que atacavam) tendiam a aumentar muito o volume de passes para o lado nessas sequências.

Aumentar o número de passes para o lado, levava muitas vezes a um aumento da participação com bola de zagueiros e volantes, a uma “lentidão” na transmissão da posse da bola entre os jogadores, a uma sensação (é exatamente essa a palavra) de falta de dinamismo por parte dos atletas e por fim a lançamentos errados forçando jogadas em ligação direta aos atacantes.

Então quase como em um roteiro bem programado e desenhado, quando as equipes em fase de ataque eram submetidas ao comportamento defensivo descrito, as respostas observadas eram quase sempre as mesmas.

Em outras palavras, os ataques (sistemas de ataque) eram induzidos pelas defesas (sistemas de defesa) a responderem como elas, as defesas, queriam.

Assim, olhando para os jogos dentro da imprevisibilidade circunstancial que os caracteriza, era como se as regras de ação com bola se tornassem variáveis determinadas em um grande pacote de “possíveis previsíveis”, induzidos e condicionados pela organização defensiva adversária.

Pois bem.

Agora guardemos um pouco essas informações e vamos à frente.

Contando com 2013, nos últimos quatro anos tivemos equipes brasileiras vencedoras da Copa Libertadores da América – e portanto representando o Brasil no Mundial de Clubes da Fifa.

Em 2010, Internacional de Porto Alegre (Sport Club Internacional), em 2011 o Santos FC, em 2012 o Corinthians e em 2013 o Atlético Mineiro (em 2007, 2008 e 2009 não tivemos equipes brasileiras disputando a competição – Mundial de Clubes).

Na conquista do Corinthians, muito se falou a partir das mídias em geral, sobre os méritos da equipe, especialmente no jogo final contra o Chelsea.

Nas derrotas de Internacional e Atlético Mineiro, muito se falou sobre “subestimar” o adversário, sobre “baixo rendimento técnico” de alguns jogadores e até de nervosismo (mostrado também, pelo Corinthians nos documentários pós conquista – mas, teoricamente, superado nesse caso).

Na derrota do Santos FC o que mais se viu pelos meios de comunicação pós-jogo foi o discurso de uma tal “aula de futebol” e uma tal falta de “competitividade” do time brasileiro.

De certa forma em todos os casos havia uma grande expectativa a respeito dos possíveis confrontos das equipes do Brasil com as representantes europeias – e exceto no caso do Corinthians que conquistou o título –, nas outras situações a grande sensação de frustração acabou por tomar conta de torcedores, imprensa e especialistas.

No caso dos times brasileiros mencionados que perderam, mesmo na situação do Santos FC, onde de certa forma houve na mídia a “navegação de informações” reconhecendo o bom desempenho da equipe do FC Barcelona, nunca deixou de se construir a ideia de que houve baixo rendimento técnico dos atletas e de que faltou para os times brasileiros “competitividade”, e no caso de Inter e Atlético ainda, menosprezo em relação aos adversários.

Ora, por que quase sempre nossos olhares são direcionados somente as esquipes brasileiras? Por que quase nunca, direcionamos nossos olhares ao jogo?

Deveríamos tentar entender e olhar para o jogo!

Afinal, para exceto aqueles que no momento da partida efetivamente estão jogando e que têm, portanto, o aparente controle das decisões que vão escrever as histórias dos confrontos (e que detêm todo o conhecimento que envolve o momento que os levaram até ali), o melhor que podemos fazer para tentarmos ser justos com as nossas percepções, é olhar para o JOGO!

Não deveríamos, olhando por de fora das coisas, falar sobre coisas que só podem ser realmente percebidas e sentidas por de dentro delas.

E aí, voltando as informações iniciais do texto, e olhando para o recente jogo entre o Clube Atlético Mineiro e o Raja Casablanca, e sem me aprofundar em nenhuma análise eu me questionaria:

Não seria aceitável, possível e mesmo provável, a ideia de que aquilo que observamos como produto final – a partida entre as duas equipes – seja sintoma de coisas que foram gerando e induzindo comportamentos em jogadores e equipes, e que em resultado final trouxeram problemas organizacionais (individuais e coletivos) reais de jogo para os dois times?

Não seria aceitável, possível e mesmo provável que os jogadores do Raja Casablanca se “adaptaram” melhor as exigências emergentes no jogo, e que talvez os jogadores do Atlético não?

Não seria aceitável, possível e mesmo provável que as sensações geradas em nós, observadores externos ao assistirmos o jogo, fossem e sejam sintomas também de uma percepção inconsciente de algo que incomoda nossos olhos – gerada e condicionada pelo jogo e jogadores –, mas que não somos capazes de identificar e de trazer ao nível consciente – e então passamos acreditar somente em “baixos rendimentos técnicos” e “menosprezos aparentes”?

Precisamos refletir muito a partir disso tudo!

O fato, real e marcante é que mesmo com o grande número de matérias falando sobre o suposto “vexame” do time do Atlético MG; em uma enquete realizada pelo programa Arena SporTV, do canal a cabo SporTV, o principal motivo apontado pelos internautas para a derrota da equipe brasileira, foi a superioridade do Raja Casablanca!

Não sei quais os motivos para esse resultado aparentemente divergir das grandes manchetes que atingir
am a mídia no pós-jogo – e nem sei se ela necessariamente significa divergência (penso que sim!).

Faz tempo que inúmeros pensadores, especialistas, treinadores e diversos outros profissionais envolvidos diretamente com futebol vêm chamando a atenção para o fato de que “coisas” precisam ser mudadas no futebol brasileiro (a se iniciar pelas análises de jogo)!

Mas poucas pessoas dão ouvidos!

Não são as derrotas do Atlético, do Santos ou do Internacional. Não são as vitórias do Corinthians no Mundial de Clubes da Fifa ou da seleção brasileira na Copa das Confederações 2013 (mérito indiscutível de todos os envolvidos nessas conquistas)!

Não, esses resultados não são os motivos para mudanças ou não mudanças!

Mesmo os vencedores que acabei de mencionar – os envolvidos nas conquistas de Corinthians e Seleção Brasileira – estão a mercê e são vítimas (mesmo que inconscientes) de uma série de variáveis, decisões e processos que estão engatinhando no longo caminho do tempo do nosso futebol!

Estão passando por nós, e nós ainda nem nos demos conta disso!

Acreditamos de verdade que somos os melhores, simplesmente porque sempre fomos, e que portanto sempre seremos!

Para sermos os melhores precisamos ganhar, não apesar do sistema; temos que ganhar contando com ele!

Vitórias “apesar do sistema” são coisas isoladas (assim como derrotas) – e servirão pouco para mudar as coisas.

Se analisarmos mal os problemas a que somos confrontados, tomaremos decisões equivocadas (e continuaremos com problemas)!

Se nem percebermos que temos problemas, bom aí… Aí, só reticências mesmo…

Por hoje, acho que é isso…

Até a próxima coluna!
 

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As referências atitudinais e a inteligência coletiva

Os leitores que acompanharam as colunas que abordavam uma proposta curricular de formação, publicadas em 2011, certamente observaram que o conteúdo “Referências do Jogo de Futebol” está dividido em quatro grandes temas. Plataformas de Jogo, Referências Operacionais do Jogo, Referências Espaciais do Jogo e Referências Atitudinais.

A discussão desta semana refere-se a este último tema que se subdivide nas Referências Atitudinais oriundas de ações da própria equipe e também nas oriundas de ações do adversário.

Como sabemos, todo treinador idealiza um jogar e, em conjunto com a comissão técnica, tenta construí-lo em cada sessão de treino, reunião, conversa individual, preleção, palestra, jogo amistoso e oficial.

O objetivo final desta difícil tarefa é verificar, para cada problema do jogo, a melhor resposta coletiva possível, minimizando, assim, os desajustes na configuração do sistema e a maior exposição à derrota.
Pensando, então, na busca pela melhor resposta coletiva, diversas ações do jogo significam códigos que, se corretamente interpretados (e treinados), orientam a equipe para o cumprimento da Lógica do Jogo.

Fica a critério da comissão técnica definir quais são as ações do jogo, realizadas tanto pelo adversário, como pela própria equipe, que se tornarão as Referências Atitudinais.

Para facilitar a interpretação, serão expostos alguns exemplos de ações adversárias que podem significar códigos para a manifestação de comportamentos individuais e coletivos:

•Passe para o goleiro: como pouquíssimas equipes do país possuem mecanismos de manutenção da posse de bola utilizando o goleiro, pressioná-lo após um recuo de bola pode proporcionar a recuperação da posse de bola;

•Passe do adversário para trás: para tentar afastar o adversário da meta, após a realização de um passe para trás a equipe pode ganhar campo, encurtando a distância entre linhas e aumentando a possibilidade de deixar adversários em impedimento;

•Mau domínio: uma equipe pode estar orientada a impedir progressão e buscar a recuperação da posse de bola mediante a uma má recepção de um jogador adversário;

•Pressionar atleta específico: Uma equipe pode apresentar dificuldade de saída por um dos setores do campo. Pressionar o elo fraco quando o mesmo portar a posse de bola pode ser uma tentativa eficiente de recuperação da posse;

•Pressionar região: de acordo com as Referências Espaciais do Jogo, a equipe pode ter setores de pressão coletiva visando à Recuperação da Posse de Bola.

Abaixo, alguns exemplos de Referências Atitudinais da própria equipe:

•Liberdade para jogadas individuais: geralmente a partir do quarto final do campo;

•Setores favoráveis às inversões: com o intuito de progredir verticalmente e proporcionar situações de vantagem ou igualdade numérica;

•Evitar passes verticais: em algumas regiões do campo o passe reto favorece mais ao adversário que a própria equipe. Se direto ao companheiro obriga-o a recepcioná-lo de costas se projetado ao ponto futuro, favorece a linhas de defesa e cobertura;

•Setor de reposição do goleiro em contra ataque: equipes organizadas tendem a recuperar a posse de bola já bem posicionada para o contra ataque. Ter setores pré-estabelecidos para reposição pode facilitar a progressão ao alvo adversário.

É importante deixar claro que as Referências Atitudinais não podem ser observadas dissociadas das demais Referências e tampouco dos demais conteúdos do currículo. Os exemplos supracitados servem apenas para apontar uma gama de possibilidades que a comissão técnica possui para aperfeiçoar a leitura de jogo coletiva de suas equipes.

A auto-organização do jogo pode passar-lhe a ideia de que muitos comportamentos não são passíveis de intervenção e que a resposta ideal ocorrerá “naturalmente”. Lembre-se, no entanto, que é função do treinador construir a utópica ordem coletiva no caótico jogo de futebol.

Pelas soluções apresentadas nos inúmeros problemas do jogo, podemos afirmar que para muitas equipes brasileiras, infelizmente, a construção das referências de jogo ainda não faz parte dos objetivos de desenvolvimento do Modelo.

É uma pena… Nossos adversários, especialmente os internacionais, têm sabido aproveitar.