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As estatísticas e o futebol

A estatística é uma ciência que muito tem contribuído para o desenvolvimento humano. No sentido de que ela pode ser tudo aquilo que conseguimos extrair dos dados, transformando-os em informações e conhecimentos, é inegável sua importância para o progresso de diferentes áreas do saber.

 

Há, entretanto, aqueles que contestam radicalmente as estatísticas. Aaron Levenstein, por exemplo, diz que elas são iguais a biquínis porque o que revelam é sugestivo, mas infelizmente escondem o essencial. Alguém disse também que há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.

 

Sem querer desprezar o seu valor, penso que o mais sensato é manter-se uma visão crítica sobre o seu papel, caso contrário corremos o risco de, ao invés de revelar, escondermos a realidade das coisas e dos fatos, através dela.

 

Podemos encontrar provas de como a estatística pode falsear a realidade em qualquer campo do conhecimento, mas vamos ficar aqui no exemplo do futebol que é o nosso campo de reflexão e atuação.

 

Todos que acompanham com certa atenção o futebol sabem que alguns dados estatísticos costumam balizar as análises de jornalistas e profissionais que têm a tarefa de interpretar uma partida.

 

Porcentagem na posse de bola, número de chutes a gol, passes certos e errados, são alguns dos dados utilizados para justificar a superioridade de uma equipe sobre a outra.

 

Quando os dados, aparentemente frios e isentos, coincidem com o resultado final da partida, a estatística é a prova mais cabal da importância decisiva dos números apresentados.

 

Mas quantas vezes constatamos que uma equipe teve mais posse de bola, chutou a gol muito mais vezes do que o adversário, teve um número superior de acertos e menor de erros nos passes e, contudo, foi derrotada em campo?

 

Diriam alguns, contrapondo o argumento da fragilidade das estatísticas, que os exemplos citados se tratam de exceções. Penso que cabe aqui uma análise mais quantitativa dos números.

 

Concentremo-nos na questão dos passes certos e errados numa partida de futebol. É muito comum os analistas destacarem os jogadores com altos índices de acertos nos passes, sem levar em conta as circunstâncias e situações de jogo. Uma coisa é um jogador acertar 95% dos passes, muitas vezes passes laterais e curtos, mas que em dois errados pode ser o causador direto da derrota de sua equipe.

 

Outra bem diferente é o atleta que acerta apenas cerca de 70% dos passes, mas que numa função de criação, de construção de situações ofensivas, pode propiciar a marcação de vários gols e decidir a partida em favor de sua equipe. 

 

Façam o teste. É quase matemático. Basta analisar os números e constatar: os jogadores mais criativos são exatamente aqueles que erram mais. Paradoxal mas verdadeiro. 

 

Não seria hora de revisarmos nossos conceitos sobre as estatísticas?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

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O profissionalismo e a velocidade das mudanças no futebol

A velocidade com que as informações e o conhecimento circulam à nossa frente está cada vez maior.  Pensando nisso, e fazendo um exercício de futurologia, é bem provável que nas copas de 2020 ou 2024 a maior parte das coisas que sabemos hoje sobre futebol estará obsoleta. 

 

Fico imaginando que tipo de profissional teremos no mercado de trabalho daqui a 15 ou 20 anos. Teremos a capacidade de acompanhar esta velocidade sempre crescente e que ultimamente atinge níveis vertiginosos?

 

Vejam, por exemplo, o desafio que é fazer-se uma consulta ou pesquisa na internet. Teoricamente, através deste recurso tecnológico maravilhoso, temos à nossa disposição tudo quanto é tipo de informação, desde um simples horóscopo elaborado por um charlatão até trabalhos científicos valiosos contendo textos, sons, fotos, vídeos ou imagens animadas.

 

Acontece, porém, que o exercício de encontrarmos aquilo que realmente nos interessa não é tarefa das mais fáceis. Se bobearmos ficamos horas navegando na rede sem encontrarmos aquilo que precisamos ou que nos possa ser útil de alguma maneira. Além do mais é fundamental que saibamos transformar os dados, as informações em verdadeiro conhecimento. E esta tarefa também não um coisa simples para ser realizada.

 

Fica, portanto, o impasse entre a velocidade alucinante da circulação das informações e a nossa real capacidade de assimilarmos aquilo que possa nos servir para sermos melhores profissionais e, em última hipótese, termos uma vida melhor.

 

Tendo como modelo este nosso embate com os desafios de utilização dos recursos da internet, concluo que, embora nas copas de 2020 ou 2024 tenhamos à nossa disposição uma infinidade de novas informações que poderão transformar nossas práticas para melhor, nada garante que isso, de fato, ocorrerá.

 

Aqueles que forem capazes de superar, passo a passo, os obstáculos e tiverem sabedoria para driblar os desafios que terão pela frente, serão os profissionais mais preparados para este futuro não tão distante.

 

A capacidade de entendimento e interpretação dos dados e informações que chegam até nós depende de fatores psicológicos, neurológicos, sociais e culturais. O profissional que quer vencer este desafio terá que ter uma clara noção disso. Caso contrário não conseguirá pensar no futuro de forma muito diferente do que pensa no presente.

 

Para constatar isso basta observar que ainda hoje convivemos com profissionais que analisam, interpretam e intervêm no futebol exatamente da mesma maneira que faziam há 20 ou 30 anos.

 

De nada adianta termos um telescópio Hubble à nossa disposição se quisermos enxergar o mundo através de uma lupa.  

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Livros e futebol

A 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou e poderá ser visitada até o dia 19 de março. Este tipo de evento sempre estimula reflexões, reportagens e matérias nos meios de comunicação sobre a importância do livro na formação das pessoas.

Infelizmente, devido ao nosso atual estágio de desenvolvimento, somos um povo que tem dificuldades para o acesso à leitura. Ainda possuímos um grande número de analfabetos funcionais, cidadãos incapazes de interpretar textos elementares.

Para muitos outros, a aquisição de um simples exemplar é totalmente inviável devido ao seu preço. E ainda, se quisermos visitar ou freqüentar uma biblioteca pública, descobriremos que quase a totalidade delas, em nosso país, está descuidada, empobrecida, com enorme falta de recursos ou sucateada.

Portanto, um evento como a Bienal do Livro deve não só estimular a discussão sobre a fundamental importância do ato de ler como também a reflexão sobre como gerar as soluções para que os problemas estruturais que nos afetam sejam enfrentados com força e determinação.

Entre os profissionais do futebol, a exemplo da sociedade em geral, este fenômeno da falta de leitura é também facilmente observado. Em pesquisa informal feita com alguns treinadores, descobri que são bem poucos aqueles que efetivamente gostam ou têm o hábito da leitura sistemática e séria. Alguns apreciam, no máximo, os livros de auto-ajuda, de fácil leitura, enquanto muitos nem a isso se dão ao trabalho.

A própria produção literária no futebol brasileiro é pobre e incipiente. Felizmente nos últimos anos este quadro começa a mudar e algumas boas obras têm surgido no mercado. Neste ano de 2006 uma quantidade acima da média já começa a surgir nas livrarias. Mas nada comparável com a produção observada em alguns outros lugares.

Outro dia, por exemplo, viajando por países europeus, deparei-me com nada menos do que quatro livros diferentes sobre o treinador português José Mourinho, que possui uma carreira de sucesso relativamente recente. Um número ainda maior pode ser encontrado sobre Alex Ferguson, o treinador do Manchester United, já há mais anos na estrada.

Espero que este ano de Bienal do Livro e de Copa do Mundo possa representar um marco na produção de livros de boa qualidade sobre os diferentes aspectos e dimensões do futebol. Torço também para que estes eventos possam estimular a leitura crítica destas obras.

E para finalizar vale lembrar a frase do escritor francês André Maurois afirmando que a leitura de um bom livro é um diálogo incessante com a alma. De um lado, o livro fala; de outro, a alma responde.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Lições do futebol inglês

Acabo de chegar da Europa onde prestei alguns serviços de consultoria ligados ao futebol. Numa passagem por Londres, capital de um país cujo povo, como nós brasileiros, também é apaixonado pelo futebol, pude notar algumas características que fazem com que os ingleses sejam diferentes de nós em vários aspectos.

 

Se, por um lado, o Brasil possui uma cultura futebolística capaz de produzir talentos em profusão, coisa que os ingleses têm muita dificuldade em conseguir, por outro, eles nos dão algumas lições quando o assunto é a administração do futebol voltada para o espetáculo e aos negócios.

 

Os responsáveis pelas instituições esportivas do país, com apoio governamental, conseguiram em poucos anos, transformar um futebol feio, de baixo nível técnico e cercado de violência e vandalismo, em um espetáculo altamente valorizado e profissional.

 

É bem verdade que muitos clubes das principais divisões ainda lutam com dificuldades para sobreviver e outros ainda podem ser questionados pela adoção de métodos administrativos pouco ortodoxos.

 

Entretanto, o fato é que algumas agremiações como Manchester United, Arsenal, Liverpool e Chelsea, com apoio da Football Association, conseguem, cada um ao seu modo, demonstrar que é possível fazer do futebol algo que vale a pena ser consumido enquanto produto.

 

Pena que nós, brasileiros, às vezes inebriados pelo talento natural de nossos craques, deixemos de aprender as lições que os ingleses têm para nos dar em termos de profissionalismo no futebol.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

 

 

 

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Intuição, teoria e prática no futebol

O papel da intuição está em alta no mundo empresarial e dos negócios. Descobertas científicas recentes demonstram que as tomadas de decisão de líderes, apoiadas apenas na razão, sem a devida participação de variáveis emocionais que regulam nossa vida, devem ser consideradas coisas do passado.

 

Mas se este ingrediente para as decisões parece ser novo dentro das empresas, no futebol, entretanto ele é usado à exaustão. A intuição ocorre dentro de campo, a todo instante, nas decisões que cada jogador deve tomar para ajudar seu time a atacar e a se defender. Acontece também nas decisões dos treinadores que, muitas vezes, utilizam-se essencialmente dela para balizar suas ações estratégicas. E ocorre também até entre muitos dirigentes que, por exemplo, após derrotas de seu time, têm constantes intuições de que, se mudarem o treinador, o time vai reagir e render mais em campo, já a partir do próximo jogo.

 

Mas refletir sobre o papel da intuição nos leva, quase que inevitavelmente, a pensar na relação entre teoria e prática. O quanto a intuição, a teoria e a prática podem, de fato, ser úteis nas vitórias e conquistas de um time de futebol?

 

Para algumas pessoas, ser teórico é estar desligado da realidade e ser pouco prático. Mas há os que contrapõem esta afirmativa dizendo que nada é tão prático como uma boa teoria. 

 

Como nos ensinam Henry Mintzberg e James Brian Quinn no interessante livro O Processo da Estratégia, todo médico, engenheiro e físico de sucesso seriam incapazes de praticar seu trabalho competentemente sem teorias que dêem suporte às suas práticas. E concluem fazendo a seguinte pergunta: “Como alguém pode dirigir sistemas complexos se não compreender estes sistemas complexos?”.

 

E aí concluo que, salvo melhor juízo, um clube ou um time de futebol é um sistema complexo. Dirigi-lo, portanto, é um ato de tentar controlar variáveis de muitas ordens: física, técnica, operacional, administrativa, social, psicológica, emocional, espiritual entre tantas outras.

 

Se concordarmos com esta hipótese e levando-se em consideração que tudo evolui ou se transforma a todo o momento, é possível refletir que, será cada vez mais difícil conseguirmos bons resultados no futebol apenas com intuição, como ainda fazem muitos dirigentes e treinadores.

 

Definitivamente, dentro em breve não haverá mais espaços para profissionais apenas intuitivos e práticos. Estes se quiserem evoluir terão que entender que, sem boas teorias, não se faz boas práticas.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br