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A parte pelo todo

Sinédoque é uma figura de linguagem usada quando se toma a parte pelo todo. Essa é uma das bases do filme “Sinédoque: Nova York”, de Charlie Kaufman, lançado em 2008. Focada em um diretor de teatro que prepara uma nova peça, a obra aprofunda a simbologia utilizada anteriormente pelo cineasta para discutir a relação entre homem e meio e o quanto um influencia o outro.

A reta final do Campeonato Brasileiro de 2016 também é uma questão de sinédoque. Para o bem ou para o mal, as principais disputas do certame nacional serão influenciadas por uma ordem sistêmica e terão relação com fatores que nem sempre aparecem dentro das quatro linhas.

O Palmeiras, por exemplo: líder do Campeonato Brasileiro, dono de um elenco equilibrado e de uma campanha sem altos e baixos, o time paulista chegou ao trecho final da tabela como o time a ser batido. Não apenas pela pontuação acumulada, mas pelo ambiente que se criou. O grande desafio agora é a manutenção disso, a despeito da expectativa por um título que a equipe não conquista desde 1994.

Também pesam sobre o Palmeiras alguns fantasmas – o título perdido em 2009 ou a insegurança do técnico Cuca, por exemplo. O time até pode funcionar em campo, mas precisa lidar com toda essa bagagem para que o ambiente vencedor não seja debelado na reta final do Brasileiro.

Um bom exemplo nesse sentido é o Corinthians de 2015. O time alvinegro conviveu com salários atrasados e intensa crise política durante a maior parte do Campeonato Brasileiro. No fim do primeiro semestre, perdeu também algumas de suas referências técnicas e emocionais (Emerson, Fabio Santos e Paolo Guerrero, principalmente). No entanto, o técnico Tite conseguiu blindar o grupo e impedir que essas pequenas crises comprometessem o todo.

Tite também tem feito esse papel na atual seleção brasileira. A equipe nacional vivia uma crise de credibilidade causada por sucessivos escândalos na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e convivia com críticas ferrenhas ao estilo do técnico Dunga, que comandou o grupo até meados deste ano.

Quando trocou a comissão técnica, a cúpula da CBF imaginou substituir Dunga por alguém que tivesse maior aprovação (ou menor rejeição) em âmbito nacional. Tite fez mais do que isso: construiu em torno do time uma redoma e moldou em poucos jogos um bom ambiente que havia sido descartado. Ainda que seja uma parte de uma engrenagem que nem sempre roda de forma correta, o treinador soube livrar seu trabalho da influência externa.

São muitos os exemplos similares no esporte. Times foram campeões a despeito de problemas de relacionamento entre seus atletas ou apesar de crises institucionais em suas diretorias. Em todos os casos, uma chave para que isso aconteça é um bom plano de comunicação.

O Campeonato Brasileiro disputado em sistema de pontos corridos aumenta a margem para esse tipo de interferência externa. São muitos meses de competição, com elementos como janela de transferências, crises financeiras, instabilidade política e similares.

O Flamengo poderia ter sentido mais a ausência do técnico Muricy Ramalho, que iniciou a campanha com o time e se afastou por problemas de saúde. O Atlético-MG poderia ser mais influenciado pelo mau momento do técnico Marcelo Oliveira, em baixa com a torcida. O Santos poderia sofrer mais com desfalques como a negociação de Gabigol ou a lesão de Gustavo Henrique. No fim, ainda que todos tenham sofrido percalços, esses times souberam manejar problemas internos e tiveram tempo para lidar com isso sem cair na tabela.

A questão é que esse enorme volume de fatores externos acaba prejudicando a competição como um todo. Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG, Santos e outros candidatos ao título durante o ano tiveram de superar suas próprias limitações. No fim, é um título de quem sofre por menos tempo.

Se tivesse um interesse no todo, a CBF trabalharia para diminuir a incidência de fatores externos em sua principal competição. Se houvesse um interesse coletivo, os clubes brigariam por isso.

Contudo, o que existe é apenas uma leva de times em busca de projetos. Clubes que procuram alguém com uma varinha mágica ou com um escudo intransponível. Equipes que tentam achar um técnico, um ídolo ou até um dirigente para fazer essa interface com as cobranças.

O futebol brasileiro não sabe lidar com a relação entre parte e todo. Faltam projetos institucionais e faltam visões de comunicação para isso. Com esse cenário, o principal título nacional será uma prova de resiliência. Faltam cinco rodadas para isso.

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Resgatando melhores desempenhos

Em momentos decisivos do Campeonato Brasileiro, todas as atenções estão voltadas para o resultado coletivo das equipes na busca por melhores colocações na tabela de classificação.

Mas como fazer atletas, que são indivíduos, desempenharem da melhor forma dentro de campo e situações em que seu time vai de mal a pior nas colocações da tabela de classificação ou se a equipe tem chances remotas de obter resultados positivos na temporada?

Penso que uma das formas de estímulo e engajamento do atleta em situações mais difíceis em busca de performance é o comprometimento! Isso mesmo, comprometimento.

Na prática, a intenção é contribuir para que o atleta possa descobrir ou definir um objetivo que lhe traga motivação para elevar sua performance, algo que lhe desafie e promova significado para seu momento de carreira. E o comprometimento é uma peça-chave para orientar a busca deste atleta rumo à excelência.

Por exemplo, quando um atleta define uma ou mais metas pessoais de desempenho para melhorar seus resultados atuais, sejam elas para buscar uma transferência ou uma renovação contratual, o simples fato dele se impor esta meta e traçar um plano de ações que lhe permitirão chegar até ela, fará com que ele tenha mais positividade, empenho e confiança em suas capacidades.

Nesta reflexão, muitos podem se questionar sobre o ponto de vista individualista desta abordagem, mas na prática isso pode ser justamente o contrário. Imagine comigo, dentro da coletividade do futebol, ninguém consegue elevada performance sozinho e, o simples fato de um atleta estipular uma meta pessoal que dependa do coletivo, muito pode se realizar através desta iniciativa. O atleta fica mais participativo, engajado e naturalmente acaba por permear essa confiança e entusiasmo por todo elenco.  Neste gancho, pode-se estimular outros atletas a definirem metas individuais que atendam seus desejos de carreira. Porém, cabe lembrar a importância da manutenção da compreensão elevada por parte dos atletas, que os resultados das metas individuais só se materializarão, como resultado do pensamento coletivo.

Para reforçar a importância do comprometimento, pode-se explorar as seguintes reflexões que podem colaborar para estimular o comprometimento junto aos atletas:

  • Seus objetivos são claros para você, desafiadores e têm por meta alcançar o seu melhor nível?
  • Você está fazendo algo, todos os dias, que o leve um passo mais próximo de suas metas?
  • O que fez hoje para chegar um passo mais perto do seu objetivo ou grande meta?
  • Tem comemorado pequenas vitórias cotidianas ou ainda se perde observando a distância que falta percorrer para atingir seu objetivo principal de longo prazo?
  • Seu comprometimento com a qualidade da concentração em treinos, aprendizados, práticas e atuações está forte o suficiente para levá-lo na direção dos seus sonhos? O seu comprometimento poderia ser melhor?

E aí amigo leitor, também acredita que até nos momentos difíceis é possível promover alto desempenho dos atletas de futebol?

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Administrando erros…

Quantas vezes você assistiu a um jogo onde os jogadores só trocavam passes para o lado sem objetividade? Ou a única forma de progressão dos zagueiros era o famoso “chutão” em direção ao campo adversário? Ou então, atacantes que quase nunca arriscam um drible, uma jogada individual? Qual o seu sentimento quando vê equipes/jogadores muito conservadores?

Acredito que todos (pelo menos eu!) apreciem ver equipes/jogadores que buscam fazer o diferente, que prezam por um jogo onde prevaleça a criatividade, a ousadia, que se arriscam. Imaginem: o que seria do mundo hoje se grandes navegadores não tivessem se aventurado no mar? Ou se Alberto Santos Dumont não tivesse desafiado as leis da física pela sua ânsia de voar?

Se é notório que grandes invenções e descobertas da humanidade partiram da ousadia de alguns homens e que a grande maioria dos amantes do futebol apreciam jogadas que primam pela criatividade, coragem, ousadia de seus executores, por que, então, tais atitudes, não são a via de regra do jogo? E sabe o que estes inventores, exploradores e “artistas da bola” tem em comum? O erro! Todos erraram bastante até conseguir alcançar o que almejavam. Não são poucos os relatos de pessoas notáveis que atrelavam suas conquistas aos erros cometidos anteriormente. Michael Jordan disse: “Eu errei mais de 9.000 arremessos na minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Em 26 oportunidades, confiaram em mim para fazer o arremesso da vitória e eu errei. Eu falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E é por isso que tenho sucesso”. (Nike Culture: The Sign of the Swoosh – 1998).

Sendo assim, por que, em nossos treinos, somos tão incompreensivos e intolerantes com o erro de nossos atletas? E notem, é claro que não devemos ser condescendentes, isso é bem diferente, a busca pela perfeição deve ser diária, mas entender que existem muitos percalços neste caminho, é primordial.

Administrar os erros, entendê-los e transformá-los em acertos, é também tarefa do treinador. Psicólogos atestam que cobranças em excesso, desproporcionais e, principalmente, que não geram reflexão sobre o erro, contribuem para a formação de atletas que dificilmente irão se arriscar, tentar algo novo, que serão diferentes! Termo tão usado para designar aqueles atletas que saem do trivial e que tantos treinadores afirmam desejar ter em suas equipes.

É claro que nem todo erro é bom, que nem todo erro é necessário e é possível criar ambientes de aprendizagem onde este erro seja controlado e direcionado a uma reflexão. Por exemplo, vejamos a seguinte atividade:

Imagem1

Uma atividade simples, porém, um erro pode gerar grandes prejuízos:

  • O adversário estará sempre próximo a baliza que você está defendendo.
  • Perder a bola ou errar um passe quase sempre irá gerar uma situação de inferioridade numérica.
  • Qualquer perda de bola pode acarretar em um gol adverso.
  • Além da “dura” vinda do treinador e dos companheiros em função do erro.

Porém, ao mesmo tempo, um drible ou passe vertical, pode criar uma situação extremamente favorável de superioridade numérica e desencadear num gol pró. A condução de uma atividade como essa, carregada de cobranças por erros, ou de abordagens do tipo “não se arrisca perto do gol”, “só bola de segurança”, “aí não se brinca” etc, resultam em atletas que terão, na maioria das vezes, como primeira opção o “passe para o lado, de segurança”, que não irão se arriscar para buscar o gol adversário. Agora, se forem realizadas abordagens que encorajem os atletas a buscar superar esse risco, buscar soluções para chegar ao gol adversário, que sejam responsáveis com seus atos, aliadas à manipulação de algumas regras, podem induzir nossos atletas a tomar atitudes audazes, criativas, diferentes!

Imagine a mesma atividade, com o acréscimo das seguintes regras:

  • A cada drible vertical (sentido do gol adversário) a equipe soma 1 ponto.
  • Gols = 2 pontos. Se anotados com a perna não dominante somam mais 2 pontos.

Isso aliado aos estímulos do treinador, iria encorajar a todos a se arriscarem mais, para em determinadas situações, optarem pelo drible, tentar uma finalização com sua perna não dominante, serem mais criativos, ousados, diferentes! Isso não irá eximir da responsabilidade e cobranças em caso de erro destas tentativas, porém, o encorajamento para tais atitudes seria muito maior e viria de companheiros e treinador, já que todos estão cientes dos riscos, porém o ambiente que se cria, é de que os benefícios são igualmente grandes e vantajosos.

O Prof. Dr. e livre docente em psicologia pela USP, Lino Macedo, afirma que “o erro significa que eu poderia ter feito melhor, que não antecipei uma surpresa. O erro é criativo também, a gente aprende com ele, por isso, o professor deve guiar o aluno para jogar no nível correto de sua experiência”. Ofertando a possibilidade de adquirir mais experiência no âmbito do erro e acerto, e das vantagens em se arriscar nos momentos propícios, formaremos jogadores mais capazes, conscientes e corajosos para lidar com os riscos do jogo.

Em um dos trechos do livro “Os números do jogo: Por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado”, os autores David Sally e Chris Anderson, nos dizem que:

Os gols são raros no mundo inteiro. São raros nas partidas. Basta pensar que, em média, um time do campeonato inglês marca um ou nenhum gol em 63% de seus jogos, e em 30% deles não marca nenhum. Os gols são raros para os jogadores. Em três temporadas da Premier League entre 2008 e 2011, 861 jogadores entraram em campo – ao todo, foram 30.937 participações individuais. A vasta maioria dessas participações – 28.326, ou 91,6% – terminaram sem que o jogadores tivesse feito um gol; 45% dos jogadores não marcaram um gol sequer nessas três temporadas; e 17.322 participações individuais – 56% – terminaram sem que o jogadores finalizassem uma vez sequer ao gol; em um pouco mais de 80% das vezes, o jogadore finalizou uma ou nenhuma vez.”

A média histórica de gols do Campeonato Brasileiro Unificado (dados futpedia.globo.com) desde a 1º Taça Brasil em 1959 até o Campeonato Brasileiro em andamento de 2016, é de 2,49 gols por jogo. Dada a notória capacidade de produzir excepcionais atacantes que nosso futebol possui, não é uma média tão alta, e sabendo que alcançar a vitória é cumprir a lógica do jogo (marcar mais gols que o adversário), por que não nos arriscar mais nisso?

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Futebol é “coisa de menina”: possibilidades para a educação física escolar

Nos nossos textos anteriores apresentamos algumas das dificuldades vivenciadas pelas mulheres em relação ao futebol tanto no esporte de alto rendimento quanto nas possibilidades relacionadas às práticas de lazer. Nessas discussões, consideramos os elementos culturais presentes em nossa sociedade e a historicidade destas práticas para compor o panorama do futebol feminino atual.

Baseadas na importância desses aspectos para a ampliação da participação das mulheres na modalidade, em nossa última coluna iremos envolver os espaços escolares como uma possibilidade de garantir estas transformações sociais.

Ao pensarmos no contexto escolar, podemos considerar ingenuamente que a prática do futebol é feita prioritariamente pelos meninos por uma questão de preferência – os meninos escolhem o futebol e as meninas outras atividades, como a corda ou o vôlei. Entretanto, uma análise um pouco mais profunda nos permite entender que não se trata de um gosto pessoal, mas sim de um quadro que tem contribuição cultural e histórica, e que a escola insiste em perpetuar, ao invés de tentar modificá-lo.

A educação física na escola deveria ter como função apresentar e discutir práticas corporais como a dança, a ginástica, a luta, o jogo e o esporte, levando em conta diversos aspectos associados à estas práticas. Assim, o futebol não deve ser apenas “jogado” na escola, sem uma mediação pedagógica, mas, sim, estudado em seu contexto social e a partir das diferenças de gênero estabelecidas entre seus praticantes.

O papel dos professores de educação física e dos demais educadores presentes no espaço escolar não deve ser só a promoção do futebol para as meninas, sugerindo uma falsa igualdade. A questão é que enquanto os meninos têm diversas oportunidades de praticar este esporte tanto na escola quanto em seus momentos de lazer, as meninas precisam de estímulos para que o futebol ganhe novos contornos e significados, dentro e fora do espaço escolar. Assim, é preciso dar um trato pedagógico às manifestações culturais relacionadas ao futebol, construindo novos saberes.

Este trato pedagógico é capaz de alterar essa relação “naturalizada” das meninas com o futebol, como evidenciado em uma pesquisa realizada em um colégio que oferecia aulas extracurriculares de futsal aos meninos e as meninas. Esta oferta originou um novo gosto em relação ao esporte, que foi considerado por mais de 70% delas como o esporte preferido de praticar, tanto na escola quanto em espaços destinados ao lazer.

Além disso, outros tempos escolares, como a entrada e o recreio, também poderiam ser aproveitados para diminuir as diferenças de gênero. Vemos que nesses espaços as atividades esportivas “espontâneas” são dominadas pelos meninos. Embora o professor de educação física possa “controlar” o uso da quadra em suas aulas, deixar que essas atividades aconteçam “naturalmente” serve apenas para perpetuar esse descompasso.

Concluímos nossa série de futebol feminino no Outubro Rosa da Universidade do Futebol apresentando o grande potencial da escola em transformar o panorama existente em relação ao futebol feminino no Brasil. É lá que nascem as possibilidades das meninas construírem novas relações de pertencimento e novos conhecimentos com relação à modalidade, seja na torcida, na análise, nas práticas de lazer ou profissionalmente.

Há uma tênue relação entre todos os aspectos que foram tratados nas colunas, seja no âmbito da seleção nacional, no âmbito das equipes de futebol feminino que insistem em se fazer existir no país, no bojo dos times que surgem a todo o momento nas praças e campinhos, seja nas escolas.

Em todos estes locais, basta um simples incentivo para que poucas interessadas se tornem uma grande equipe; basta um simples direcionamento para que pequenas ideias se tornem grandes projetos; basta um simples apoio para que pequenas crianças se tornem grandes atletas. O desejo das colunistas é que este nosso singelo incentivo às discussões sobre o futebol feminino, iniciadas no especial “Outubro Rosa”, sejam, quem sabe, um pequeno passo para grandes transformações no cenário do futebol feminino nacional.

** Esta coluna é dedicada às nossas alunas, que transformam escolas em espaços cotidianos de resistência.

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Futebol é "coisa de menina": possibilidades para a educação física escolar

Nos nossos textos anteriores apresentamos algumas das dificuldades vivenciadas pelas mulheres em relação ao futebol tanto no esporte de alto rendimento quanto nas possibilidades relacionadas às práticas de lazer. Nessas discussões, consideramos os elementos culturais presentes em nossa sociedade e a historicidade destas práticas para compor o panorama do futebol feminino atual.

Baseadas na importância desses aspectos para a ampliação da participação das mulheres na modalidade, em nossa última coluna iremos envolver os espaços escolares como uma possibilidade de garantir estas transformações sociais.

Ao pensarmos no contexto escolar, podemos considerar ingenuamente que a prática do futebol é feita prioritariamente pelos meninos por uma questão de preferência – os meninos escolhem o futebol e as meninas outras atividades, como a corda ou o vôlei. Entretanto, uma análise um pouco mais profunda nos permite entender que não se trata de um gosto pessoal, mas sim de um quadro que tem contribuição cultural e histórica, e que a escola insiste em perpetuar, ao invés de tentar modificá-lo.

A educação física na escola deveria ter como função apresentar e discutir práticas corporais como a dança, a ginástica, a luta, o jogo e o esporte, levando em conta diversos aspectos associados à estas práticas. Assim, o futebol não deve ser apenas “jogado” na escola, sem uma mediação pedagógica, mas, sim, estudado em seu contexto social e a partir das diferenças de gênero estabelecidas entre seus praticantes.

O papel dos professores de educação física e dos demais educadores presentes no espaço escolar não deve ser só a promoção do futebol para as meninas, sugerindo uma falsa igualdade. A questão é que enquanto os meninos têm diversas oportunidades de praticar este esporte tanto na escola quanto em seus momentos de lazer, as meninas precisam de estímulos para que o futebol ganhe novos contornos e significados, dentro e fora do espaço escolar. Assim, é preciso dar um trato pedagógico às manifestações culturais relacionadas ao futebol, construindo novos saberes.

Este trato pedagógico é capaz de alterar essa relação “naturalizada” das meninas com o futebol, como evidenciado em uma pesquisa realizada em um colégio que oferecia aulas extracurriculares de futsal aos meninos e as meninas. Esta oferta originou um novo gosto em relação ao esporte, que foi considerado por mais de 70% delas como o esporte preferido de praticar, tanto na escola quanto em espaços destinados ao lazer.

Além disso, outros tempos escolares, como a entrada e o recreio, também poderiam ser aproveitados para diminuir as diferenças de gênero. Vemos que nesses espaços as atividades esportivas “espontâneas” são dominadas pelos meninos. Embora o professor de educação física possa “controlar” o uso da quadra em suas aulas, deixar que essas atividades aconteçam “naturalmente” serve apenas para perpetuar esse descompasso.

Concluímos nossa série de futebol feminino no Outubro Rosa da Universidade do Futebol apresentando o grande potencial da escola em transformar o panorama existente em relação ao futebol feminino no Brasil. É lá que nascem as possibilidades das meninas construírem novas relações de pertencimento e novos conhecimentos com relação à modalidade, seja na torcida, na análise, nas práticas de lazer ou profissionalmente.

Há uma tênue relação entre todos os aspectos que foram tratados nas colunas, seja no âmbito da seleção nacional, no âmbito das equipes de futebol feminino que insistem em se fazer existir no país, no bojo dos times que surgem a todo o momento nas praças e campinhos, seja nas escolas.

Em todos estes locais, basta um simples incentivo para que poucas interessadas se tornem uma grande equipe; basta um simples direcionamento para que pequenas ideias se tornem grandes projetos; basta um simples apoio para que pequenas crianças se tornem grandes atletas. O desejo das colunistas é que este nosso singelo incentivo às discussões sobre o futebol feminino, iniciadas no especial “Outubro Rosa”, sejam, quem sabe, um pequeno passo para grandes transformações no cenário do futebol feminino nacional.

** Esta coluna é dedicada às nossas alunas, que transformam escolas em espaços cotidianos de resistência.

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Se o futebol é ciência?

Quando falamos de futebol, invariavelmente estamos, mesmo inconsciente, entrando em áreas estritamente técnicas. Considero, as dimensões predominantes no futebol (técnica, tática, físico e psicológica) áreas da Ciência. Áreas que requerem, ao meu ver, algum tipo de estudo (mesmo que seja raso). Se o futebol é ciência? Não sei, penso que até pode não ser. Como diria Garganta: “O futebol é demasiado arte para ser Ciência e demasiado Ciência para ser só arte”. Essa ambiguidade de valores forma o sentido fantástico do futebol. O aleatório. Aquilo que até podemos prever, porém, não podemos dizer quando irá acontecer. Por isso, digo que o futebol não é imprevisível e sim aleatório. E, necessitamos pensar assim, a fim de construir algo. Lembrando que a forma de jogar é construída, arquitetado em ideias para o individual e coletivo.

O jogo coletivo é considerado por diversos autores, de preponderância tática que consubstanciam a necessidade de resolução das situações de jogo, isto é, problemas táticos continuamente de variáveis que derivam do grande número de adversários e companheiros com objetivos opostos através do fator técnico coordenativo.

Isto significa que a resolução de qualquer situação de jogo consubstancia-se numa dupla dependência:

– da capacidade técnico-coordenativa do jogador: “se uma situação de jogo determinar uma mudança do ângulo de ataque que o jogador não pode realizar, é necessário que este escolha uma outra solução que não será na lógica das opções táticas mais eficazes, mas que exprimirá as possibilidades de resposta desse jogador nesse momento” (Grehaigne, 1992);

– da opção tático-estratégica tomada pelo jogador: “na qual procura surpreender os adversários executando uma resposta imprevisível dentro das opções lógicas da situação por forma que resulte na ruptura da organização da equipa adversaria” (Grehaigne, 1992).

A tática não significa somente uma organização em função do espaço de jogo e das funções específicas dos jogadores, esta pressupõe, em última análise, a existência de uma concepção única para o desenvolvimento do jogo ou, por outras palavras, o tema geral sobre o qual os jogadores concordam e que lhes permite estabelecer uma “linguagem comum”. Neste sentido, a tática impõe diferentes atitudes e comportamentos estruturados num conjunto de combinações, cujos mecanismos assumem um caráter de uma disposição universalmente válida, edificada sobre as particularidades do envolvimento (meio). Logo, “a inteligência do jogo deverá permitir um pensamento lógico, flexível, original e crítico garantindo a execução ótima das habilidades táticas e permitindo modificações autônomas da ação segundo as circunstâncias” (Garganta).

Na construção do hábito tático, o desenvolvimento das possibilidades de escolha do jogador depende do conhecimento que ele tem do jogo. A forma de atuação de um jogador está fortemente condicionada pelos seus ”modelos de jogo”, ou seja, pelo modo como ele concebe e percebe o jogo. São esses modelos que orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a compreensão das informações e a resposta motora.

O jogador não se move, nem age isolado, mas antes atua em contexto, em coletivo, em equipe. Estas ações coletivas representam a soma de todas as ações individuais que a compõem.

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A cultura da pressão

Pode ser um gol irregular, uma expulsão injusta, um cartão exagerado ou até uma falta discutível no meio do campo: no Brasil, não há decisão da arbitragem que não preceda um bolinho de jogadores exaltados, gritos de diferentes naturezas e reclamações efusivas de um (ou dos dois) treinadores. Sim, o nível dos juízes no futebol brasileiro é baixo e carece de uma discussão mais ampla. Contudo, também precisa ser repensada a cultura de pressão que se naturalizou em âmbito nacional. Admitir isso como um aspecto indissociável do jogo é realmente o melhor caminho?

Há uma série de fatores a serem abordados em uma discussão sobre o nível dos árbitros e auxiliares no futebol brasileiro. Há uma série de medidas a serem tomadas para reduzir a margem de erro e aumentar a fluência dos jogos. O uso da tecnologia é uma saída, por exemplo; uma preparação mais eficaz para os profissionais do segmento é outra.

A questão aqui, entretanto, não é apenas o nível da arbitragem ou a quantidade de erros no Campeonato Brasileiro. É necessário discutir a cultura da pressão: o tipo de abordagem que temos com árbitros e auxiliares é mais do que uma simples manifestação de discordância. Existe um processo de formação de vilões que é ótimo para construir narrativas com menos conteúdo – culpar o árbitro é fácil para quem precisa explicar um resultado e não sabe como. Há também uma estratégia de criação de ambientes hostis – aposta alicerçada na lógica de que esses fatores podem influenciar sobremaneira as decisões.

Quando o Fluminense anotou um gol em flagrante impedimento num clássico contra o Flamengo, por exemplo, jogadores das duas equipes cercaram árbitro e auxiliar. Pressionaram e vociferaram, contribuindo para uma dúvida que já havia se instalado entre juiz e assistente. Foram 13 minutos até que o lance fosse impugnado, com suspeita de que houve influência externa – o que é proibido por lei.

No dia seguinte, presidentes dos dois times cariocas concederam entrevistas coletivas para falar sobre o lance. E o presidente do Palmeiras, que disputa com o Flamengo o título nacional, também convocou a imprensa para condenar o que identificou como ajuda externa. Os três (vexatórios) discursos dos dirigentes foram cheios de frases de efeito, repletos de juízos de valor e pululados por denúncias vazias.

A estratégia do Palmeiras prosseguiu na partida posterior, contra o Figueirense. Desde o apito inicial, todas as decisões de árbitro e auxiliares motivaram ostensiva pressão dos jogadores da equipe alviverde, que venceu com um gol marcado em pênalti inexistente.

Substitua essa sequência de fatos por qualquer outra história no futebol brasileiro ou tente pensar no inverso: quantos dirigentes são cobrados internamente em seus clubes por não serem incisivos em reclamações ou por não exercerem pressão adequada sobre árbitros?

Agora tente comparar com o que acontece no exterior. No último fim de semana, o Barcelona foi extremamente favorecido em vitória sobre o Valencia. Depois da partida, jogadores e comissão técnica da equipe derrotada até falaram sobre isso, mas adotaram um tom totalmente diferente e não permitiram que isso afetasse o diagnóstico que fizeram sobre o duelo. É um exemplo pontual, mas é um exemplo que diz muito sobre a diferença de cultura.

O que essa comparação diz é que o futebol brasileiro admitiu passivamente a existência de um processo de “vilanização” de árbitros e auxiliares. É fácil escolher uma muleta assim, sem qualquer necessidade de explicação mais densa. O difícil é entender como a tolerância zero com o trabalho de uma categoria e a reação violenta aos erros dizem muito sobre nosso comportamento como sociedade.

Difícil entender que culpamos os árbitros como culpamos políticos, sem tentar entender processos ou individualizar condutas. E nos dois casos, essa lógica só serve para manter o status quo e diminuir espaço para discussões que tenham potencial real para alterar as coisas.

Precisamos olhar para o nível da arbitragem como um problema grande, abordado de forma sistêmica e desprovida de pré-conceitos. Precisamos pensar em medidas que podem contribuir para que o jogo evolua como um produto.

Entretanto, também precisamos pensar no que queremos para a comunicação do futebol brasileiro. Em ligas mais organizadas pelo planeta (não apenas no futebol) há uma combinação de fóruns adequados para reclamação e conscientização da comunidade. Existe um trabalho institucional para evitar que o nível técnico ou o que acontece dentro das quatro linhas sejam menos relevantes do que erros pontuais.

A ordem no Brasil é inversa, com enorme contribuição da mídia (o espaço dado a erros e lances discutíveis sobre arbitragem é simplesmente absurdo). Já passou da hora de os dirigentes nacionais entenderem que vendem o jogo e que precisam falar sobre o jogo. Mas será que isso interessa a alguém?

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Universidade do Futebol e TetraBrazil Soccer Academy fecham parceria para intercâmbio de treinadores nos Estados Unidos

A parceria entre a Universidade do Futebol e a TetraBrazil Soccer Academy, para esse final de ano, visa oferecer aos alunos e seguidores da Universidade do Futebol a oportunidade prática de trabalhar com futebol nos Estados Unidos, além de oferecer aos treinadores da TetraBrazil, acesso especial aos nossos cursos.

Para o ano de 2017, o curso de preparação de treinadores da TetraBrazil, passará por implementações e equiparações metodológicas com a Universidade do Futebol, atendendo as exigências do mercado para o ensino e aprendizagem do futebol por crianças e adolescentes nos EUA, buscando sempre o jeito brasileiro de jogar futebol (pedagogia de rua).

O “TetraPrep” é um curso que visa a formação de treinadores de futebol para o mercado americano com a oportunidade de crescer profissionalmente. Nos últimos quatro anos, 70% dos participantes foram aprovados.

Para a realização do “TetraPrep” é necessário um investimento inicial de R$1000,00 que inclui 70 horas de preparação (22horas online + 48 horas de imersão em Jan/2017); Acomodação no CEFAT durante os 6 dias de treinamento em Niterói; Material didático impresso e online e Certificado de Conclusão de curso.

Uma vez aprovado, o candidato ingressará no programa de trabalho TetraBrazil em 2017 com os seguintes benefícios: salário semanal, todas as despesas pagas (hospedagem, alimentação e carro) e taxas de Visto J1 nos Estados Unidos.

Sobre a Universidade do Futebol

Criada em 2003, a Universidade do Futebol é uma instituição que estuda, pesquisa, produz, divulga e propõe mudanças nas diferentes áreas e setores relacionados ao universo do futebol, enquanto atividade econômica e importante manifestação de nosso patrimônio cultural, nas dimensões socioeducativas e no alto rendimento, e que conquistou nos últimos anos o reconhecimento e credibilidade da comunidade do futebol.

Uma das propostas básicas é provocas reflexões e mudanças de paradigmas que superem a visão conservadora ainda presente no futebol acompanhado a evolução dos processos de aprendizagem e desenvolvimento tecnológico, além de oportunidade a aquisição de diferenciais competitivos e educacionais.

Sobre a TetraBrazil 

Fundada em 1999 nos Estados Unidos, a TetraBrazil Soccer Academy é a empresa líder no setor de Treinamento de Futebol Brasileiro. Em 2009, tornou-se parte da Challenger Sports, empresa líder mundial em clinicas/camps de Futebol. Em 2014, atingiu a marca de 10 mil alunos matriculados nos EUA.

A TetraBrazil está presente em 5 países, 3 continentes, e faz parte de um grupo que treina mais de 150 mil jogadores em todo o mundo. Ao longo dos últimos 15 anos consolidou-se como a maior escola de futebol brasileiro no mundo

Para saber mais, acesse: http://bit.ly/2dDCOCr

Para matricular-se no TetraPrep, acesse: http://www.tetrabrazil.com.br/tetraprep

 

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Humanamente árbitro

Em um momento em que tanto questionamos a qualidade dos árbitros que atuam no futebol brasileiro, uma questão vem à tona, qual a situação de competência emocional destes humanos que atuam num cenário ingrato de avanço tecnológico acelerado que gera inúmeras situações de dúvidas sobre o trabalho realizado em campo?

Pois é, com esses profissionais o Burnout também pode acontecer, tal e qual com nossos atletas, estes também podem sofrer consequências sérias deste quadro.

Aqui, vale resgatar o que significa este conceito, o Burnout é a saturação emocional de uma pessoa, devido à sobrecarga física e mental. De acordo com Dietmar Samulski, o Burnout é uma resposta psicofisiológica exaustiva, que se manifesta como uma tentativa de conciliar a quantidade de preparação conforme as elevadas exigências de desempenho nas competições de futebol. Para nosso conhecimento, compartilho algumas das características de um profissional em estado de Burnout:

  • Exaustão, tanto física como emocional, manifestada por perda de interesse, energia e confiança;
  • Despersonalização, vista muitas vezes como atitude impessoal e insensível;

Sentimentos de baixa realização pessoal, baixa autoestima, insucesso, fracasso e depressão geralmente são percebidos na baixa produtividade no trabalho ou na diminuição aguda dos níveis de desempenho.

Então me pergunto, temos consciência das exatas condições nas quais os árbitros atuam no futebol? O árbitro é aquele que as federações, confederações ou mesmo as ligas nomeiam em comum acordo para resolver o pleito, o jogo. Pensemos então, num profissional que atua num ambiente totalmente vigiado pelas câmeras de televisão, que de maneira despercebida, contribuem para julgamentos instantâneos quanto ao desempenho desse profissional.

Retornando ao Burnout, tem importância sabermos quais os sintomas mais comuns desta síndrome:

  • Baixa motivação ou energia
  • Problemas de concentração
  • Falta de preocupação
  • Perda do desejo de atuar em alto nível
  • Distúrbios de sono
  • Autoestima diminuída
  • Isolamento emocional
  • Ansiedade aumentada
  • Mudanças de valores e crenças
  • Esgotamento físico e mental

Agora, para concluir meu pensamento, imagine a expectativa em torno de um árbitro à beira de uma síndrome destas? Como ter atuação de qualidade, com os sintomas acima comentados?

Penso então, que as entidades que gerenciam e regulam o futebol, devem considerar a possibilidade de estudos e projetos pilotos para adoção definitiva dos recursos tecnológicos e de imagem nas partidas de futebol. Caso contrário, teremos cada vez mais, julgamentos imprudentes e situações conflitivas quanto aos resultados em algumas partidas de futebol. Lembrando que muitas destas, eventualmente decidem campeonatos e a própria do futebol brasileiro.

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Futebol feminino e práticas de lazer: espaços de resiliência

Nas nossas primeiras colunas apresentamos a estrutura e a organização do futebol feminino no âmbito internacional e nacional, discutindo as dificuldades ainda enfrentadas por suas praticantes. Destacamos como o baixo investimento na modalidade e a organização precária dos campeonatos nacionais não estimulam a profissionalização das atletas no nosso país. Mas, será que as mesmas dificuldades são enfrentadas quando a prática do futebol é realizada nos contextos recreativos e de lazer?

Estudos sobre as atividades físicas praticadas pelas mulheres nos momentos de lazer apontam para uma tendência de realização de atividades individuais e não institucionalizadas. Já os homens têm os esportes coletivos, em especial o futebol, como prática hegemônica. Podemos considerar que há uma questão de gosto pessoal que justifica a menor prevalência das mulheres em relação à prática do futebol? Esta equação, em muitos casos proferida, simplifica a complexa relação existente entre mulheres, futebol e práticas de lazer.

Para explorarmos essa relação, precisamos considerar a dinâmica cultural existente na nossa sociedade. Podemos facilmente listar os diversos preconceitos atribuídos às praticantes de futebol, quase todos ligados a masculinização que envolve esta prática esportiva. Além disso, esta dinâmica cultural em que estamos embebidos atribui as tarefas domésticas quase em sua totalidade às mulheres, o que também diminui seu tempo de lazer e de práticas de atividades físicas. Portanto, temos o futebol como um espaço de hegemonia masculina em vários sentidos, limitando a inserção das mulheres neste campo. Isso sugere a falta de oferecimento deste esporte enquanto prática de lazer e a menor ocupação dos espaços destinados ao futebol pelas mulheres.

Entretanto, as dinâmicas culturais estabelecidas pelas mulheres apresentam grande resiliência, ou seja, uma capacidade de transformação e de adaptação. Surgem, neste sentido, novos espaços de prática do futebol e de sociabilidades promovidas por ele, que se sobressaem a todos os problemas expostos e enfrentados pelas futebolistas.

Um bom exemplo é o Pelado Real (https://peladoreal.com.br/) grupo de mulheres que se reúne para jogar futebol society nos campos da cidade de São Paulo, promovendo a prática do futebol tanto para iniciantes quanto já praticantes da modalidade, de todas as idades. Em outras cidades do interior, esta iniciativa também vem crescendo e desenvolvendo novas adaptações dos espaços públicos e privados, como é o caso das equipes do Taquaral, Garotas Fênix, Nascanela F. C. e do Quinta Categoria F. C., iniciativas que reúnem diversas mulheres, de distintas faixas etárias, para jogar futebol na cidade de Campinas – SP.

Vemos que a transformação deste espaço que já foi outrora majoritariamente masculino contou com um aliado importante: as mídias não tradicionais. Enquanto reportagens de mídias tradicionais não abandonam o “cor de rosa” e os tons de feminilidade para abordar o assunto, novos meios de comunicação se preocupam com a técnica, a tática e, principalmente, com a visibilidade e divulgação da modalidade a diversas pessoas. As páginas Dibradoras (http://dibradoras.com.br/) e Planeta Futebol Feminino (http://planetafutebolfeminino.com.br/) são bons exemplos de canais criados para discussões sobre o futebol feminino no Brasil e no mundo, que promovem perspectivas que empoderam as mulheres não profissionais amantes e praticantes desta modalidade.

Aos poucos, esses novos espaços de discussão e de prática ultrapassam as dificuldades encontradas e ampliam o espaço da mulher no futebol. Mas será essa a única maneira de conquistarmos maiores espaços na modalidade? Na nossa próxima coluna discutiremos o papel da escola na desconstrução das desigualdades de gênero que constituem nosso país e na criação de oportunidades de experiências relacionadas ao futebol. Não deixem de acompanhar nossa última coluna do mês de Outubro.

** Esta coluna é dedicada ao Nascanela F. C. e Quinta Categoria F. C., espaços frequentados pelas autoras que também compartilham das dificuldades do estabelecimento de práticas relacionadas ao futebol feminino em espaços de lazer.