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Enfim, a negociação de Neymar

O início de uma nova era! Esta foi a expressão utilizada pelo zagueiro e capitão da equipe do Santos, Edu Dracena, durante uma entrevista, para se referir à confirmação da negociação de Neymar, até então seu companheiro de clube, ao Barcelona-ESP.

Apesar de todos os esforços do clube santista para mantê-lo pelo menos até ao final da Copa de 2014, o fato é que a pressão externa realizada sobre o craque adiantou a esperada (e inevitável) transferência para a Europa.

Tal transferência é a oportunidade de ratificação das expectativas criadas em torno do atacante. Torcedores, imprensa, treinadores e especialistas esperam uma evolução do jogador que deverá solucionar problemas distintos dos que enfrentava no futebol brasileiro.

Com maior ou menor aprofundamento, muitos afirmam que a marcação na Europa é diferente da praticada no Brasil. Se por aqui, ele estava acostumado a enfrentar marcações e pressões individuais, no Velho Continente encontrará linhas do adversário mais próximas, marcações zonais com ou sem pressing, coberturas e direcionamentos para setores de menor risco. Mecanismos defensivos comuns no futebol europeu que exigirão maior inteligência de jogo individual e coletiva de Neymar.

E não é só no momento ofensivo do jogo (para desorganizar o momento defensivo do adversário) que a evolução será necessária. A participação efetiva em todos os momentos do jogo, exigida de todos os jogadores, comum ao Barcelona e a todas as equipes taticamente evoluídas, seguramente lhe será exigida.

Nas transições defensivas, o Barcelona rapidamente apressa o adversário em espaço e tempo, enquanto no Brasil, o Neymar comumente perde segundos preciosos reclamando com a arbitragem. Quando reage mais rapidamente, faz uma ou duas pressões no adversário portador da bola sem um maior compromisso coletivo.

Defensivamente, para cumprir o modelo de jogo da equipe catalã, o jovem atacante deverá jogar orientado para a recuperação da posse de bola o mais rápido possível.

Para isso, comportamentos de jogo habituais como estar à frente da linha da bola e andar enquanto compõe o balanço ofensivo deverão ser substituídos.

Já nas transições ofensivas, a evolução passa, principalmente, por jogar com menos toques na bola no setor tiki-taka da equipe espanhola e também saber ocupar espaço distante da bola, cumprindo a função determinada pelo modelo e pelas circunstâncias do jogo.

Tal evolução é necessária para evitar o excesso de jogadas individuais nas faixas intermediárias do campo de jogo e a demasiada centralização à bola.

A capacidade do jogador é indiscutível e sua adaptação ao futebol europeu seria mais rápida se ele saísse do país com mais competências, que lhe serão exigidas, já adquiridas. No entanto, no Brasil, tanto na formação, como no profissional, ainda estamos distantes de termos o futebol evoluído como realidade.

E como disse Edu Dracena, inicia-se uma nova era! Não para o Neymar, um grande talento que vai para uma das maiores equipes do futebol mundial, mas para o Santos, que segundo o zagueiro, estava acostumado a dar a bola ao atacante e esperar para ver o que acontecia.

Sem o Neymar, vamos precisar mais de Muricy, que trouxe os reforços que queria para a temporada 2013 e ainda assim continuou praticando o que muitos chamaram de "Neymardependência".

O treinador santista, pelas suas conquistas, pelo peso que possui no futebol nacional e pelo seu cargo é um dos responsáveis por acelerar (ou desacelarar) o processo de evolução do nosso futebol.

De acordo com a declaração de Edu Dracena e os próximos jogos da equipe santista, agora sem o craque, vamos torcer para que a nova era não comece nos decepcionando.

Obs: Muricy Ramalho foi demitido no início da sexta-feira e optei por não alterar o conteúdo da coluna. Que os votos feitos ao Muricy sejam estendidos ao novo treinador da equipe santista.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Neymar e o dilema do Santos

Na semana que passou, a transferência de Neymar para o Barcelona dominou os noticiários esportivos. Imprensa e torcedores promoveram acalorados debates. Diante de tudo que foi dito torna-se imprenscindível algumas ponderações.

Necessario destacar que o Neymar não foi vendido, eis que o "passe" foi extinto. Na verdade, o atleta teve o seu contrato especial de trabalho rescindido.

Assim, não houve pagamento pelo atleta, mas, sim da cláusula indenizatória pela rescisão antecipada do contrato de trabalho.

Ao Santos e aos investidores, foi importante considerar a transferência neste momento, pois, a legislação da Fifa traz norma na qual a partir dos últimos 6 (seis) meses de vigência do vínculo contratual, o atleta se encontra disponível para discutir um pré-contrato com qualquer outro clube que tenha interesse em adquirir os seus direitos desportivos, sem que este clube interessado necessite recompensar, obrigatoriamente, o empregador, no qual está o jogador com o contrato de trabalho desportivo a expirar, vejamos o artigo 18, parágrafo 3º, do Regulamento do Status e da Transferência de Jogadores da Fifa, de 18 de dezembro de 2004:

– Artigo 18 Disposições especiais relativas a contratos entre atletas profissionais e clubes (…)

3. Um clube que pretende estabelecer um contrato com um atleta profissional deve informar ao clube atual do jogador, por escrito, antes de abrir negociações com ele. Um atleta profissional só poderia ficar livre para estabelecer um contrato com outro clube, se o contrato com o seu clube atual tivesse terminado ou estivesse por terminar dentro de seis meses. Qualquer violação a esta disposição deve estar sujeita a sanções apropriadas.[1]

Depreende-se facilmente do que está previsto na referida norma da Fifa que se o contrato laboral desportivo ainda estiver com período superior a 6 (seis) meses para ser executado, clube algum poderá abordar um atleta para contratá-lo sem antes consultar o seu empregador, sob pena de responder pelas sanções previstas civil e/ou criminalmente, em virtude do cometimento de aliciamento desportivo.

Tal consulta será devidamente formalizada por escrito.
Contrariamente, ocorrerá se estiver nos últimos 6 (seis) meses para terminar o contrato, caso em que o clube adquirente poderá abordar o atleta de forma direta.

Sendo assim, firmado o pré-contrato e após o cumprimento dos últimos 6 (seis) meses, o jogador encontra-se livre para se transferir para o seu novo clube, sem que compensação alguma seja devida ao clube anterior.

Todavia, caso o clube adquirente, futuro destino do atleta, queira contar com os seus serviços antes do término dos 6 (seis) meses finais, deve pagar a multa indenizatória estabelecida para estes casos, em face de o contrato firmado com o clube cedente ainda estar em vigor.

Sendo assim, considerando que o contrato do Neymar terminaria no meio de 2014, ou o Santos aceitava o pagamento da rescisão ou correria o risco de, no final do ano (seis meses antes), o atleta sair do clube sem nenhum tipo de compensação.

Portanto, diante das normativas Fifa para transferências de atletas, o Santos atuou da maneira mais recomendável a fim de se evitar prejuízos financeiros ao clube e aos seus investidores.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Tomada de decisões (fora das quatro linhas) na carreira esportiva

Na semana em que um dos assuntos mais comentados no mundo esportivo está sendo a transferência do Neymar para o Barcelona, um tema importante na carreira esportiva merece ser debatido: as decisões do atleta fora do campo.

Dentro de campo, o atleta toma diversas decisões durante uma partida, que são acontecimentos de forma antecipativa (teoria da ação) com a participação de processos cognitivos, de representações mentais, do conhecimento, da memória.

Mas, na coluna desta semana quero abordar justamente o processo de decisão que acontece fora das quatro linhas, ou seja, durante a carreira do atleta. Atualmente, os atletas são estimulados pelo ambiente a olhar mais para fora do que para dentro deles mesmos, o que dificulta o processo de autoconhecimento.

É necessário parar e refletir de tempos em tempos e esta melhor hora de parar e olhar é sempre o agora, seja o momento que for. Medos, dúvidas e inseguranças colocam pressão e os atletas precisam para continuar a jornada da sua carreira.

É importante para os atletas conhecer as fases de uma carreira e os impactos de uma decisão infundada. Me parece que em alguns momentos os atletas tomam decisões talvez equivocadas, não atendendo suas reais expectativas pessoais e profissionais, muitas vezes gerando consequências que causam desânimo e reduzem sensivelmente o desempenho do atleta.

Desta forma, realizar um movimento preventivo na vida profissional do atleta pode evitar as graves doenças relacionadas ao trabalho, como também facilitar a percepção do melhor momento para tomar as decisões de carreira e realizar as mudanças que se fizerem necessária; permite ainda resgatar a capacidade de pensar sobre a realidade e tomar a consciência do que diz respeito aos seus interesses internos e ao que pertence aos desejos do mundo que o cerca; facilita também o reconhecimento de seus próprios limites e ajuda a definir o grau de tolerância às interferências externas.

Mas, como promover reflexões adequadas e eficientes em momentos de decisão extra campo?

No processo de coaching, um coach capacitado e experiente utiliza com o atleta como cliente ferramentas que apoiem na tomada de decisão e nesta coluna compartilho com vocês uma delas: a análise do campo de força, um modelo baseado no trabalho de Kurt Lewin’s – "Teoria dos Campos".

A análise do campo de força descreve o campo de forças ou pressões agindo em um evento particular num determinado momento. Essencialmente, a teoria sugere que forças que agem para mudar uma situação são balanceadas com forças que agem para resistir a mudança.

E na prática, como funciona?

O Coach avalia junto ao coache (atleta, como cliente) quais são as forças que impulsionam e as forças contrárias em relação a uma determinada situação, cenário ou objetivo. Ou seja:

• Define-se a situação atual da carreira do atleta;

• Define-se o objetivo do atleta (resultado desejado);

• Identifica-se todas as possíveis forças impulsionadoras;

• Identifica-se toas as possíveis forças contrárias;

• Realiza-se uma análise das forças concentrando-se em:

o Redução das forças contrárias a resistência;
o Fortalecimento ou adição de forças impulsionadoras e favoráveis ao processo.

Tendo em mãos estas reflexões o atleta tem maiores condições de perceber se o cenário avaliado é o que mais de adere aos seus objetivos de carreira e aos seus desejos pessoais. Sendo este cenário o escolhido pelo atleta, deve-se elaborar um plano de ação para atender os itens que fortaleçam e impulsionem a realização do cenário escolhido.

Aos atletas em momento de decisão, procurem um coach e aumentem as chances de sucesso na sua tomada de decisão fora do campo. Além de apoiar no processo decisório o trabalho de um coach é fundamental na elaboração de metas, planejamento estratégico da carreira, bem como no aumento da performance esportiva.

E voltando ao assunto Neymar, será que ele também tem um coach?

Faça coaching e potencialize sua carreira esportiva!

 

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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O futebol não é só uma atividade física. É de facto uma atividade humana

Como presidente do Real Madrid, Florentino Pérez já despediu do seu clube vários treinadores: o Vicente del Bosque, o Carlos Queirós, o Camacho, o Garcia Remón, o Wanderley Luxemburgo e o Pellegrini. Desta feita, foi o José Mourinho, para mim, o melhor treinador do mundo, que foi despedido também. Foram estas as palavras de Florentino, segundo a Marca, de 21 de Maio de 2013: “Mou me dijo que era mejor irse y yo lo comparto, es lo adecuado”. Mas acrescentou: “Con él (Mourinho), hemos dado un importante salto deportivo y competitivo y le deseamos suerte en su nueva etapa”.

Em entrevista à televisão portuguesa, o Special One afirmou: “Considero esta minha temporada, de 2012/2013, no Real Madrid, a mais infeliz de todas as que já levo como treinador de futebol”.

Ora, precisamente nesta temporada, de 2012/2013, o Real Madrid venceu a Supertaça, classificou-se em segundo lugar na Liga e na Copa do Rei e chegou às meias-finais da Liga dos Campeões. Para José Mourinho, tudo isto é muito pouco e vai procurar fazer melhor, noutro clube e noutro país. Embora todos os seus erros, todas as suas imperfeições (ele é um ser humano, nada mais do que isso), torna-se evidente que ele exige muito de si mesmo e, por isso, quer voltar a fazer melhor, ciente de que é mesmo capaz de mais êxitos, iguais aos que ele tem, no seu currículo. Ele faz suas as palavras de Florentino Pérez: “La temporada no es suficiente para el nível de exigencia de Mou e del Madrid”.

Quais os motivos do fracasso, se o treinador, os jogadores e os métodos eram precisamente os mesmos da época anterior, em que o Madrid foi o campeão de Espanha? Porque o futebol alemão é, hoje, o melhor da Europa (para mim, a Alemanha é o país favorito à vitória, no Mundial do Brasil) e porque a liderança de José Mourinho entrou de ser contestada, no seio da equipa madridista, pois que, nela, há jogadores mais importantes do que o treinador, qualquer que ele seja. Iker Casillas e Sérgio Ramos são campeões da Europa e do Mundo, afirmam-se madridistas convictos, Vicente del Bosque considera-os indiscutíveis na seleção de Espanha – se os resultados desportivos não ajudam, o Iker e o Sérgio passam a ter mais importância, entre os aficionados, do Real que o treinador e os seus métodos de treino.

No futebol, quem não ganha, não sabe: é assim que pensa o senso comum. “A Verdade é o Todo” o Hegel o disse; o Mourinho já foi campeão em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha e já venceu uma Taça da Europa e duas Ligas dos Campeões – mas isso pouco interessa a quem precisa das vitórias do seu clube, para superar as frustrações do dia-a-dia.

O Real Madrid foi proclamado, com pompa e circunstância, o maior clube mundial do século XX. Muitos madridistas de fracos recursos económico-financeiros, vítimas da crise que assola a Europa do Sul, precisam, a cada instante, de um “Madrid” forte, invencível, dominador, para esquecerem as dificuldades, que parecem insuperáveis, da vida económico-política.

Sim, é verdade que há madridistas da “alta sociedade” que, ao nível do futebol, pensam como uma pessoa de mais baixa condição. Mas também têm frustrações, como qualquer ser humano! E o futebol também, para eles, é remédio. Para uns e para outros, a sabedoria é o melhor dos remédios – a sabedoria que “é o esforço por concordar as próprias exigências emocionais e morais, com a ordem profunda do Universo”. E, no Universo, nem sempre se ganha, nem sempre se perde e alguns até perdem menos do que os outros (como o José Mourinho). Ganhar sempre, é impossível – até para o ex-treinador do Real Madrid, José Mourinho!

Em Portugal, são também muitas as frustrações, entre os benfiquistas. Nos três últimos jogos, perderam o campeonato e, como habitualmente, o F.C.Porto voltou a ser campeão! Em Portugal, o futebol define-se deste modo: é um desporto em que jogam onze contra onze e, no fim, o F.C.Porto ganha! Por quê? Porque o líder nunca é o treinador, é o presidente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa que, de há trinta anos até hoje, estabeleceu normas que permitiram grandes vitórias e sólida unidade e por isso foram aceites e são vividas, intelectual e emocionalmente, por todos, treinadores e jogadores, como sinal certo de altos desempenhos.

Quando recebeu o prémio Príncipe de Asturias, o neurologista português, António Damásio, afirmou ao El País, de 21 de Outubro de 2005: “La toma de decisiones correctas exige tres elementos: emoción, conocimiento y razón, que deben manejarse en equilibrio”. Para um clube vitorioso, não basta a competência do treinador – o clube tem que ser competente, todo ele, desde o presidente ao mais humilde funcionário. E assim nasce e se perpetua uma cultura de vitória. Como a que distingue o F.C.Porto.

Poderia até dizer que o F.C.Porto é uma equipa emocionalmente inteligente. E não só fisicamente…


*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

 

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O que Neymar nos ensinou?

Neymar nos ensinou que é possível fazer diferente!!! Não exatamente o Neymar Jr., atleta, com seu talento e trabalho, que vem se prestando a jogar futebol e a desenvolver muito bem sua imagem em diferentes plataformas de comunicação, como produto efetivo de marketing.

Mas sim como fator relevante de mercado. Desde o início dos anos 2000 que ouço de especialistas e leio em bibliografia especializada, conteúdo que mostra a importância do ídolo para o esporte, potencializando negócios diretos e indiretos para as marcas que se associam a ele e para a equipe que o tem em seu elenco de jogadores.

Por força do amadorismo e das fraquezas da nossa economia, acompanhamos uma enxurrada de ações malsucedidas de venda precoce destes talentos.

É por tal razão que Neymar e Santos, com um pouco de inteligência e compreensão holística da indústria do esporte, provaram que é possível fazer diferente. Tem-se, nesta nova ordem, uma comprovação explícita de que as teorias da gestão e do marketing esportivo estavam alinhadas com a realidade.

Cabe, por fim, colocar dois pontos importantes: o primeiro para rechaçar alguns argumentos que fizeram aquilo que chamamos de "conta de padaria" ao afirmar que o "Santos perdeu dinheiro com a venda do Neymar apenas em 2013", pois poderia ter feito anteriormente e teria, por conseguinte, recebido mais pela comercialização de seus direitos federativos – nestes casos, não faz-se a conta do montante exato aferido pelo clube pela exposição de sua marca, tampouco dos produtos licenciados, do valor de patrocínio ou da atração de novos torcedores que a equipe capitaneou ao longo do tempo; o segundo que, apesar do case, ainda temos muito a evoluir na entrega do espetáculo esportivo, que necessita ainda de mais e mais ídolos para que se potencialize todas as oportunidades de negócios – lembrando que, Neymar, apesar de tudo que conquistou e repercutiu, tem apenas 21 anos de idade!!!

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O sapo na panela

Robert Kaiser, secretário de redação do jornal norte-americano "Washington Post", viajou ao Japão em 1992. Na volta, produziu um relatório endereçado à cúpula do periódico e alicerçou a argumentação em uma analogia.

Segundo ele, o veículo era como um sapo em uma panela com água. Incapaz de perceber alterações sutis na temperatura ambiente, o animal ficaria inerte até diante da fervura.

A metáfora de Kaiser abre a conclusão de um estudo do Tow Center for Digital Journalism, núcleo da Columbia Journalism School. O material foi publicado no Brasil pela edição do bimestre maio / junho da revista de jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e eu já havia citado o material na semana passada.

Naquela época, Kaiser comparou o "Washington Post" ao sapo na panela porque viu no modelo de negócio do periódico uma discrepância muito grande com o mundo proposto pelos produtos eletrônicos tão disseminados na cultura asiática. O relatório de 2.700 palavras que ele elaborou propõe duas medidas ao veículo norte-americano: a criação de um jornal eletrônico e o desenvolvimento de um produto eletrônico de classificados.

Mais de 20 anos após a analogia de Kaiser, contudo, a mídia mundial ainda é como o sapo. A diferença agora é o que faz a água ferver. A tecnologia e os produtos eletrônicos já foram assimilados ao cotidiano do segmento, mas o advento de novas mídias provocou uma revolução que as empresas e os profissionais ainda não compreenderam totalmente.

O site "Buzzfeed" publicou em maio deste ano um artigo que corrobora essa ideia. O texto parte de um fato: em 2012, todas as séries de televisão dos Estados Unidos perderam audiência. O curioso é que o índice de pessoas que viram esses produtos na TV caiu, mas o número de seguidores não.

Se as pessoas não deixaram de ver as séries, como todas perderam audiência? Uma das explicações para isso é que os espectadores migraram para plataformas que oferecem o conteúdo on demand, no horário mais adequado à rotina deles e sem interrupções para comerciais.

O artigo sustenta que as novas gerações vão consolidar uma sociedade com ideias e conceitos diferentes. E assim como o casamento gay será uma adição natural ao dia a dia, o atual formato de comerciais e publicidades não será sequer considerado.

Sim, isso tem total relação com a penúria enfrentada por emissoras de rádio e TV no Brasil. Não é por acaso que canais nacionais ainda precisam alugar horários para fechar a conta. As gerações mais novas simplesmente não admitem a ideia do comercial tradicional.

Em maio deste ano, o grupo Publicis fez uma pesquisa com dois mil estudantes de marketing. Para 70% deles, o segmento vai ser dominado no futuro por "criação de conteúdo" e "estratégias de relações públicas".

O levantamento é interessante também para ratificar uma série de ideias sobre o futuro. Por exemplo: quase 90% acham que os executivos de marketing deveriam estar mais preocupados com as mídias digitais, mas 80% preveem a morte das agências que trabalham exclusivamente com esse tipo de plataforma de comunicação.

É claro que os jovens estudantes de marketing não são necessariamente a melhor fonte de previsões sobre o futuro da indústria, mas a análise deles tem muito fundamento. As mídias sociais precisam deixar de ser elementos externos no plano de comunicação.

Aliás, os planos de comunicação precisam deixar de ter elementos externos. Como em outras searas, a comunicação precisa vencer o pensamento multidisciplinar e avançar à interdisciplinaridade.

Nos últimos dias, o esporte deu dois grandes exemplos do quanto o mundo está mudando e do quanto as mudanças são drásticas. O primeiro foi dado por Neymar, principal ícone do futebol brasileiro nos últimos anos. O camisa 11 do Santos usou a rede social Twitter para anunciar no sábado que vai trocar o time alvinegro pelo Barcelona.

Há alguns anos, o anúncio de Neymar jamais teria sido feito no Twitter. Quando aceitou jogar no Corinthians, o atacante Ronaldo, representante de uma geração anterior, foi ao "Jornal Nacional", principal jornalístico diário da "TV Globo", para anunciar o acordo.

O anúncio de Neymar é um exemplo escancarado do quanto o paradigma mudou. Ele não correu à emissora mais popular do país, mas aproveitou um assunto de interesse nacional para se valorizar como plataforma de comunicação. O atleta é a própria mídia.

O outro caso aconteceu no Grand Slam de Roland Garros, disputado na França. Na segunda-feira, o ucraniano Sergiy Stakhovsky, número 101 do mundo, protagonizou uma cena curiosa durante o revés para o francês Richard Gasquet.

O duelo era válido pela primeira rodada. No primeiro set, Stakhovsky discordou de uma marcação da arbitragem. Revoltado com a decisão, o ucraniano foi até a bolsa, pegou um iPhone, correu até a linha e tirou uma foto. Depois, publicou a imagem no Twitter e a utilizou como argumento para reclamar.

Neymar tem 21 anos. Stakhovsky, 27. Os dois são representantes de gerações diferentes, mas os exemplos recentes mostram que ambos têm uma ideia clara do poder que possuem como mídia.

Em 2012, Neymar foi a terceira figura mais acionada na publicidade brasileira. O astro do Santos fez no país um caminho raro: ultrapassou o limite do esporte e se transformou em celebridade. O que ele faz fora de campo também passou a ser notícia, e uma das explicações para isso é uma boa estratégia de comunicação, ainda que muito se deva a um misto de carisma e empirismo.

A idolatria em torno de Neymar não tem como base apenas o que ele fez dentro das quatro linhas. Sem desmerecer as conquistas, os gols e os dribles fantásticos do atacante, há um componente que o diferencia de outros grandes atletas no Brasil: o comportamento. O cabelo, as roupas, o jeito de falar e a atitude do jogador ditam tendência no país.

Neymar também é ídolo porque sabe como falar com os jovens brasileiros. E isso passa por um bom uso de plataformas de mídia. O atacante não se restringe ao espaço tradicionalmente oferecido ao esporte.

A lógica é parecida com a que move a rede varejista Ponto Frio. A empresa é uma das maiores anunciantes do país no modelo convencional de publicidade, mas tem investido um valor gradativamente maior em novas mídias. O resultado disso é que ações integradas em redes sociais geraram R$ 20 milhões em vendas para a companhia em 2012.

O bom uso das novas plataformas de mídia não depende de estratégias especificamente focadas nelas. Na verdade, o fundamental é inserir essas ações em um contexto. É isso que as novas gerações mais querem, e não apenas na comunicação.

O clichê diz que a internet e os
novos meios de comunicação aproximaram as pessoas e findaram barreiras. O resultado, porém, é muito maior. O que temos hoje em dia é um novo paradigma de pensamento, e pensar de forma integrada é premente.

O estudo do Publicis que eu citei anteriormente tem mais um dado curioso: questionados sobre as maiores campanhas de marketing de 2012, os estudantes elegeram, na ordem: Red Bull Stratos, My time is now (Nike) e a abertura dos Jogos Olímpicos de Londres.

Grifo: a pergunta não era sobre as maiores campanhas de marketing do esporte; era abrangente, e qualquer área podia ter sido citada. O resultado mostra como a emoção produzida pelo esporte é um componente difícil de ser substituído.

Há outros aspectos que permeiam os três exemplos vencedores: todos eles foram universais e passaram por diferentes plataformas da "velha" e da "nova" mídia.

Se continuarmos a olhar para as coisas como elementos dissociados, seguiremos como o sapo na panela. O salto dali depende de estratégia e de esforço para uma abordagem sistêmica das coisas. A sobrevivência da mídia e o bom uso dela no esporte dependem disso.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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O conhecimento complexo e a volta ao passado: os vários caminhos para o sucesso

Apesar de já ter discorrido sobre o tema desta semana, faço-o novamente porque infelizmente – em minha opinião – o assunto tem sido retomado (acreditem!) com mais frequência do que eu poderia imaginar a essa “altura do campeonato”.

Existem muitas maneiras de se chegar ao sucesso. No que diz respeito à preparação desportiva do futebolista, a história tem nos mostrado que os caminhos são muitos para alcançá-lo.

A evolução do conhecimento, a exposição a problemas similares e frequentes na prática do treinamento desportivo e o estreitamento e desaparecimento das fronteiras científicas e tecnológicas, têm trazido à tona a ideia geral de que o aperfeiçoamento de soluções diferentes pode trazer resultados igualmente bons na preparação de jogadores de futebol (formação, desenvolvimento e aperfeiçoamento).

Seja no Brasil, observando as distintas ideias e concepções culturais regionais para a forma de se jogar, ou no mundo, tentando entender o sucesso dinâmico que se alterna pelo futebol italiano, francês, holandês, espanhol e mais recentemente alemão, fica cada vez mais claro que não há fórmulas mágicas, ou certos e errados.

O que existe é aquilo que funciona melhor ou pior em determinado ambiente, o que pode trazer resultados mais rapidamente ou não em determinada realidade, o que pode potencializar o ganhar ou o perder.

Pois bem, mas ainda que isso tudo seja assim, é importante ressaltar e lembrar sempre que, circunstancialmente, são muitas as variáveis que complexamente se envolvem com problemas e soluções, êxitos e insucessos.

Isso quer dizer que ainda que sejam muitas as possibilidades para superar os mesmos desafios, é importante que essas possibilidades estejam intimamente conectadas com a evolução do conhecimento, com o desenvolvimento do mundo e com a inegável contribuição que a ciência e experiência prática diária dão para entendimento do passado, compreensão do presente e planejamento para o futuro.

É óbvio que não serve ao futebol (ou a qualquer outra coisa) a verdade científica produzida dentro das salas de aula das universidades ou dos seus laboratórios de pesquisa, se essa verdade estiver desconectada do mundo real e dos seus problemas reais (como não é incomum).

Mas é óbvio também que não serve o discurso viciado e vazio de que aquilo que sempre deu certo em 1970 (80 e/ou 90 – porque não no início dos anos 2000), servirá ainda hoje, absolutamente, sem adaptações ou transformações.

O treino físico de outrora, por exemplo, não pode mais ser o treino físico de hoje. O treino técnico-tático de outrora não pode mais der o treino técnico-tático de hoje. O treino psicológico de outrora não pode mais ser o treino psicológico de hoje.

Venho da Fisiologia e Bioquímica do Exercício e do Esporte (ainda ministro uma disciplina de pós-graduação nessa área). Venho do Treinamento Desportivo, da Pedagogia do Esporte. Estudei Psicologia. Me aprofundei em conhecimentos das Ciências Exatas e da Filosofia Humana. Sou Professor de Educação Física. E quero mais! Tudo isso porque sempre acreditei na necessidade da compreensão de diversas coisas para saber um pouco de todas elas e entender bem o que eu concluísse ser essencial.

Não consigo conceber hoje tomadas de decisão e/ou planos de ação que considerem conhecimentos de uma área só.

Não consigo conceber hoje o desconhecimento sobre qualquer variável que esteja presente em determinada área de atuação.

Não consigo conceber hoje a ignorância sobre o Todo e de suas Partes…

Ainda que mudanças sejam difíceis, mais ainda é se desprender da burrice que nos cega a olhos bem abertos que enxergam apenas uma direção…

Que sobrevivam os jogadores de futebol!
 

PS – Gostaria de aproveitar e agradecer publicamente o apoio tecnológico e operacional da ClanSoft, e o seu pronto atendimento no desenvolvimento de ferramentas específicas, de grande utilidade didático-pedagógica, no aplicativo Tactical Pad para uso desse treinador que vos escreve. Obrigado!
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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Banco de Jogos – jogo 8

Muitos gols ocorrem a partir de jogadas de transição ofensiva. Sendo assim, ter comportamentos de jogo bem definidos após a recuperação da posse de bola, aproveitando a desorganização adversária, pode aproximar a equipe das vitórias.

Na atividade desta semana, a equipe que melhor gerir sua transição ofensiva, cumprindo a Lógica do Jogo criado, é quem terá maiores possibilidades de êxito.

Jogo Conceitual em Ambiente Específico de Transição Ofensiva

– Dimensões do campo oficial. ~ 100m x 70m;
– Campo dividido em 4 corredores laterais, 2 faixas centrais e 1 faixa horizontal, conforme ilustra a figura:

 

 

Regras do Jogo

  1. Três toques no campo de defesa e passe somente pra frente (para cada jogada é permitido 1 toque pra trás);
     
  2. Recuperar a posse de bola no corredor lateral e em até 4 passes ultrapassar o meio campo com a bola dominada ou através de passe = 1 bônus;
     
  3. Recuperar a posse de bola na faixa central defensiva, em frente a grande área e errar o passe = 1 ponto para o adversário;
     
  4. Recuperar a posse de bola na faixa horizontal intermediária e acertar o passe para o campo de ataque, à frente da faixa = 1 bônus;
     
  5. Cinco bônus = 1 ponto;
     
  6. Gol = 5 pontos;
     
  7. Gol de contra-ataque = 8 pontos;

Assista aos vídeos com os exemplos de algumas regras:

Regra 2

O jogador número 2 da equipe listrada recupera a posse de bola no corredor lateral e em menos de 4 passes a equipe ultrapassa o meio campo. Esta ação vale 1 bônus para a equipe listrada.

Regra 3

O jogador número 5 da equipe vermelha recupera a posse de bola na faixa central. Na sequência da jogada erra o passe para o jogador número 9. Esta ação vale 1 ponto para a equipe listrada.

Regra 4

O jogador número 5 da equipe listrada recupera a posse de bola e na sequencia acerta o passe para o jogador número 7 no corredor lateral. Esta ação vale 1 bônus para a equipe listrada.

Aguardo dúvidas, críticas e sugestões. Abraços e bons treinos!
 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Banco de jogos – jogo 1
Banco de jogos – jogo 2
Banco de jogos – jogo 3
Banco de jogos – jogo 4
Banco de jogos – jogo 5
Banco de jogos – jogo 6
Banco de jogos – jogo 7

 

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Jovem Tijuana é exemplo no marketing desportivo

Estreante na Copa Libertadores da América, o Tijuana do México, carinhosamente chamado por seus torcedores de xolos, passou a ser conhecido no Brasil após enfrentar (e vencer) Corinthians e Palmeiras, tendo eliminado os alviverdes da competição.

Agora, a equipe mexicana tem pela frente outra equipe brasileira, o Atlético de Ronaldinho Gaúcho e companhia, equipe com melhor campanha e sensação do campeonato.

O Tijuana, fundado em 2007, teve uma ascensão meteórica ao conquistar o campeonato mexicano no ano de 2012. E, após seis anos de sua fundação a equipe disputa sua primeira Libertadores e já está entre os oito melhores.

Este crescimento ocorre de maneira concomitante a um excelente trabalho de de fortalecimento da marca.

Sediado na cidade de mesmo nome, capital do estado mexicano da Baixa Califórnia, o clube possui cinco lojas oficiais com diversos produtos licenciados. Encontra-se desde a camisa oficial do clube até produtos mais baratos, como canetas, pen drive, adesivos, canecas e roupas de passeio.

Os "xolos" possuem, ainda, um programa de sócio-torcedor, chamado "Xolopass", que concede aos associados benefícios como possibilidade de compra antecipada de ingressos para jogos.

Trata-se de mais um exemplo de resultado desportivo construído também nos bastidores por meio da captação de novos clientes (torcedores).

Ora, o futebol é um negócio e fortes equipes dependem de recursos financeiros que são arrecadados por meio da venda de ingressos, cotas de TV, patrocinadores, produtos, etc e quanto maior o número de adeptos, mais venda, mais valorização, mais caixa e melhores equipes.

Destarte, como todo consumidor, o torcedor é um sujeito de direitos e deve tê-los respeitados, sobretudo levando-se em consideração o fato de que o futebol deve sua magnitude global justamente à imensa paixão despertada nas multidões.

E, conforme asseverado, o respeito aos Torcedores traz resultado financeiro e esportivo ao Clube, como se observa de iniciativas vencedoras de clubes europeus como o Barcelona e, notadamente os ingleses da "Premier League" e de clubes sul-americanos, especialmente o Internacional e de Porto Alegre. Todos, conhecidos mundialmente pelas conquistas.

O exemplo da "Premier League" mostra como um campeonato maculado pela violência dos torcedores e com seus clubes excluidos das competições internacionais pôde se tornar a liga de futebol mais valiosa do mundo ao tratar seus clientes (consumidores/torcedores) com respeito e excelência na prestação de serviços. Vale lembrar, inclusive, que a segunda divisão inglesa é transmitida para vários países do mundo, inclusive o Brasil.

Torcedores bem tratados e satisfeitos oportunizam Estádios e cofres cheios, pois, neste contexto, independente dos resultados esportivos, a venda de ingressos, de jogos pelo sistema "pay per view" e de produtos licenciados atingirão patamares elevados.

Percebe-se, assim, que os clubes brasileiros tem muito o que aprender com o a jovem equipe mexicana.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Vestindo a camisa

Todo ser humano tem o direito de torcer por um time. Todo jornalista esportivo tem o dever de não distorcer por ele. Nem todo jogador do meu time é Palmeiras – e, nos últimos anos, parece até que muitos torcem e jogam contra… Tem treinador que torce por outro time e trabalha por nossa equipe. Tem até cartola, parece, que não é Palmeiras. Árbitro tem time – e parece ser sempre o que joga contra o nosso. Nem todos que jogam por nós são como nós. Por que o jornalista não pode ter time? Melhor: jornalista PRECISA ter uma paixão além do emprego. Tem de vestir a camisa do seu time como veste a do seu trabalho – e não a do seu emprego.

Só realmente entende de futebol quem conhece e torce por seu time. Só pode falar da paixão que é o esporte quem exerce pela vida a paixão incondicional de torcer.

Abrir o jogo e a guarda e o coração e o credo e as cores é transparência essencial para o saudável exercício do oficio. O jornalismo é plural como o futebol. É preciso conhecer o outro lado. Ouvi-lo. Entendê-lo para poder entender mais.

Vesti a camisa do Palmeiras na campanha da Adidas. Jamais havia feito publicamente em 23 anos de jornalismo por esporte. Usei também não só por ser uma campanha que pretende agregar verdes de paixão. Também por que quero empunhar essa bandeira de que o jornalista pode cada vez mais empunhar a própria bandeira. Vesti com orgulho essa camisa inspirada naquela que usei pela primeira vez em um estádio, há 40 anos. Essa mesma camisa verde esmeralda, para não escrever verde Palmeiras. Foi no Pacaembu, em outubro de 1973. Foi aquele time que viria a ser bicampeão brasileiro. O da segunda Academia. A de Dudu e Ademir da Guia – como a primeira. A da minha primeira camisa em um estádio. Parecida com essa nova da Adidas. Parecida com essa velha paixão.

De peito aberto sou Palmeiras. Só trabalho em rádio, TV aberta e fechada, jornal, revista, internet, livros, filmes, palestras e videogame por que sou palmeirense. O que me fez ser jornalista esportivo.

Um dia deixarei o jornalismo. Mas jamais meu Palmeiras.

Amor não se esconde. Jornalista que não tem clube do coração não tem time e nem coração.

Aos justiceiros da alma alheia: respeitem o jornalista que, por vezes, não pode assumir o time que o levou ao jornalismo.

Mas suspeitem do jornalista que inventa time para torcer.

E deixem de seguir o jornalista que troca de time ou desiste do único amor incondicional que conhecemos na vida.

Que mais jornalistas se juntem ao time dos com-clube – mas sem clubismo. Que os picaretas de coração de pedra das tribunas sigam se escondendo sob o hipócrita manto da imparcialidade fajuta.

Eu adoraria voltar a vestir mais vezes a nossa camisa. Mas muitos entendem que é preciso usar uma burca para escamotear o que quem tem peito jamais esconde.

Já tive de vestir máscara de mister M na arquibancada. Espero agora que algumas máscaras caiam. E mais gente possa tirar do armário a cor de sua paixão.

A minha é verde e branca. Respeito a dos outros. E admiro ainda mais quem usa a cor de criação. A paixão que sabemos de cor.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.