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As vaias nos Estaduais: apenas pressa?

Disputado no último sábado (27), o clássico entre Flamengo e Vasco, válido pelo Estadual de futebol do Rio de Janeiro, não teve gols. Não chamou atenção por dribles, jogadas de efeito ou mesmo pela disposição. No entanto, há um motivo para o jogo ter sido extremamente emblemático: foi a partida em que uma parcela considerável da torcida rubro-negra demonstrou ter perdido totalmente a paciência com Éverton Ribeiro e Rômulo, dois dos reforços mais caros que desembarcaram na Gávea nas últimas temporadas. Ambos foram vaiados por torcedores que queriam mais espaço para atletas como Lucas Paquetá e Ronaldo, que atuam nas mesmas posições dos medalhões criticados.
Rômulo chegou ao Flamengo no início de 2017, e Éverton Ribeiro foi contratado meses depois. Ambos voltaram ao Brasil sob grande expectativa – eram postulantes a vagas na seleção quando foram negociados por Cruzeiro e Vasco, respectivamente. Pelo que fizeram anteriormente em suas carreiras e pelos valores que movimentaram na ida e na volta ao país, preencheram sonhos de muitos rubro-negros.
As duas negociações têm a ver com um momento positivo das finanças do Flamengo. A diretoria vigente conseguiu reduzir consideravelmente a dívida, aumentar o potencial de investimento do clube e reforçar o elenco com jogadores de um nível alto de custo.
Entretanto, a chance de ir ao mercado e brigar por nomes de peso fez com que o time carioca fechasse um pouco os olhos para seu próprio DNA. A reação dos torcedores ao rendimento claudicante dos reforços tem muito a ver com o time que eles gostariam de ver em campo: um perfil mais aguerrido, mais ligado às raízes. Em outras palavras, os rubro-negros podem até se empolgar com atletas que recebem salários milionários, mas ainda preferem jogadores forçados no próprio clube e que realmente os representem em campo.
Os torcedores não vaiaram Rômulo e Éverton Ribeiro apenas porque os reforços ainda não se encaixaram (e essa falta de encaixe pode ter inúmeras razões). Vaiaram porque o time que eles gostariam de ver em campo teria Ronaldo, Lucas Paquetá e outros garotos revelados pelo próprio Flamengo, identificados com o clube e com o Rio de Janeiro.
Os apupos também refletem um aspecto cruel do atual calendário do futebol brasileiro. Os torneios estaduais, do jeito que estão posicionados, funcionam apenas como usinas de pressão e de rótulos. O primeiro mês de 2018 ainda não acabou, mas já serviu para criar craques e determinar nomes desprezíveis.
No Santos, por exemplo, o menino Rodrygo, de 17 anos, precisou de poucos minutos em campo para se tornar o próximo raio da Vila. Montagens já começaram a circular entre torcedores com fotos que simbolizam passagens de bastão entre Pelé, Robinho, Neymar e o novo candidato a jogador.
Em contrapartida, Rodrigão precisou de apenas alguns jogos da temporada para ratificar a desconfiança que a torcida tinha com ele. O centroavante já foi eleito como vilão e ponto fraco de um elenco com tanto a se acertar na atual temporada.
Kazim (Corinthians) e Borja (Palmeiras) também já convivem com pressão a despeito de terem feito poucos jogos na temporada. E Felipe Melo, que até outro dia era uma incógnita na equipe alviverde, virou uma das grandes armas do meio-campo montado por Roger Machado.
A sensação de que o futebol brasileiro tem vivido de certezas inócuas e voláteis, por mais paradoxal que isso seja, tem sido ainda mais clara numa temporada em que os principais times do país não tiveram tempo para se preparar adequadamente. O futebol pode evoluir em diferentes aspectos, mas nunca vai atingir um patamar mais alto se não respeitar as necessidades básicas de aspectos físicos e técnicos.
Num calendário apertado pela Copa do Mundo e por estaduais que teimam em não diminuir, a primeira fase da temporada serve apenas para que os grandes times do país sejam testados em condições inadequadas e convivam com pressão que não faz nada bem ao trabalho.
Contudo, não se pode confundir a pressa que os estaduais geram com um descolamento entre o projeto dos clubes e o anseio de seus torcedores. O processo de comunicação deve lutar constantemente com esses exageros do Brasil no início do ano, mas também precisa considerar a importância de entender o que o público quer. Os flamenguistas são apenas um exemplo disso.

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Poluição visual

O cenário não é favorável, sem sombra de dúvidas. Qualquer patrocínio é bem-vindo e em nome destes recursos financeiros, as marcas aparecem nos lugares mais diversos: na frente, nas costas, nas mangas, nos ombros, na frente mais em cima…nas axilas! O escudo do clube fica imperceptível e às vezes até mesmo a cor do uniforme inidentificável, em função de dezenas de patrocinadores, apoiadores ou simples anunciantes.
Conseguir patrocínio não é tarefa das mais fáceis, sem dúvida. Décadas de má gestão fizeram com que a administração do futebol no Brasil gerasse desconfiança por parte da iniciativa privada. Isso somado a um cenário econômico nem sempre favorável, torna a conquista de uma empresa parceira ser celebrada sob o título de “salvadora da pátria”. Muitas vezes.
Não é este o caminho. Existem inúmeras opções de expor a marca de um patrocinador nas propriedades do clube (uniforme, placas de publicidade, estádio, redes sociais e conteúdo de mídia). E tudo isso é construído com base em um plano de comunicação dentro do planejamento estratégico cujas ações tem base na missão, visão e valores da instituição, tudo isso elaborado e executado por uma equipe de gestores do esporte.
Tudo isso em nome da preservação e valorização de dois dos elementos mais importantes para um clube: seu distintivo e uniforme. É o que o dinheiro não compra. Os elementos através dos quais a instituição será reconhecida Brasil adentro e mundo afora, facilmente de serem identificados. Simbolicamente, um escudo especialmente preservado na camisa e em escala maior que os patrocinadores, significa a instituição está acima dos interesses comerciais e financeiros. Sem falar que visualmente é bem mais agradável.

Camisa do Santos Laguna/MEX da temporada 2010/2011, repleta de patrocinadores. Imagem: Divulgação

 
Com tudo isso, é inegável que os patrocinadores são importantes e peças fundamentais para o sucesso de um clube de futebol. Para uma potencialização da exposição das suas marcas e valorização da instituição esportiva, é preciso planejamento de comunicação, haja vista as infindáveis formas de veiculação dos produtos do clube (jogos, treinos, plantel, estádio, história), para além da televisão.

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Entre o Direito, o seu clube e o atleta depois da base

Bem-vindos ao fechamento do Especial Copinha 2018 sobre o futebol de base aqui no nosso “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos conversar um pouco sobre mais uma maneira que o seu clube tem para ter um retorno quando investe na formação de um jogador: o “eu voltei” do futebol de base. Vamos começar com um resumo desse mês para chegar na origem do “mecanismo de solidariedade” até explicar o que é e como funciona.
Vamos lá?
A base do nosso futebol não é brincadeira. De lá saem os atletas que jogam pelos nossos times em todo o Brasil, de lá saem os craques que representam o nosso país na seleção canarinho, de lá saem os jogadores que são transferidos e dão retorno para o seu clube quando não conseguem mais fazer a diferença em campo – seja por uma falta de salário aqui, umas férias no Peru ali, ou até falta de qualidade técnica mesmo.
Afinal, entre o Direito, o Esporte e a Base, o seu clube tem que pagar as contas também.
E os clubes conseguem esse dinheiro quando investem na formação do jogador. O futebol de base é a base do nosso futebol. E como a gente tem conversado nesse último mês, os clubes que investem na formação de um jogador precisam que o departamento de base seja sustentável. Ou seja, que a base não gaste mais dinheiro do que ganha – como tudo deveria ser, né?
É por isso que falamos sobre o Certificado de Clube Formador (CCF) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que serve como um “manual do bom clube” de base. Esse CCF é uma maneira de proteger o seu clube em troca da sua base fazer o “mínimo do mínimo” e tratar a criança como pessoa e como jogador durante o “período de formação” dela.
É aí que o seu clube pode assinar aquele primeiro contrato (de formação) com o jogador, e receber aquele primeiro respiro financeiro quando tem planejamento. A indenização por formação é um dos jeitos de ter dinheiro em caixa com o futebol de base. É uma das maneiras de deixar a base do nosso esporte autossustentável. Só que não é a única.
Imagina que em 10 de janeiro de 2008 um menino de 15 anos estreava na Copa São Paulo de Futebol Junior – a “Copinha”. Esse menino dez anos atrás já estava na capa do jornal que dizia que ele “estreia e mostra talento”. Esse menino já era tratado como joia pelo seu time e era apadrinhado pelo “Rei das Pedaladas”. Esse menino, segundo os jornais, já tinha uma multa de 25 milhões de dólares em um contrato (de imagem) com o clube dele. O clube dele via o menino como o próximo Pelé até.
O resto da história a gente sabe: o menino virou jogador, o jogador virou ídolo, o ídolo virou craque. E o craque foi ser rei em outro lugar. Foi ser rei em outro país. Foi ser rei em outro continente. E para entender melhor como essa história ainda afeta o seu clube formador, a gente tem que conversar sobre o mecanismo de solidariedade no futebol.
A gente, torcedor, fala que o jogador hoje em dia não tem amor pela camisa e vai para fora só para ganhar mais dinheiro. A gente, torcedor, fala que lá atrás o que valia era esse amor pela camisa e que aquilo que era futebol. A gente, torcedor, fala que o futebol no Brasil hoje é mais fraco por isso. Não importa se isso é verdade, certo, ou mesmo justo, e, sim, que lá atrás existia o “passe” e hoje não.
Resumindo décadas de história em uma linha: um jogador belga conseguiu romper os “ferros” do futebol nos anos 90, e isso mudou todo o sistema de transferência de atletas no mundo. E um de seus reflexos aqui no Brasil foi o fim do “passe”. A ideia desse “passe” era que o jogador continuava “preso” ao seu clube mesmo que não fosse mais empregado e só era “liberado” quando o seu clube dava o “passe” para outro. Hoje não é mais assim, e os jogadores estão livres quando seu contrato acaba. Aliás, como a gente bem sabe, mesmo durante o contrato os jogadores podem ir para outro time, outro país, outro continente.
Para compensar os clubes, a FIFA criou um novo sistema para que entrasse dinheiro no futebol de base. Um sistema que ajudasse os clubes a manter seus jogadores. Um sistema que desse um retorno aos clubes mesmo depois que um jogador seu saísse. É aí que entra o “mecanismo de solidariedade” – o bom “eu voltei” do futebol de base.
Esse mecanismo é parte da síntese do futebol moderno que nem o “mercado de transferência” de hoje e a “indenização por formação”. E, como síntese do futebol brasileiro com seus dribles, irreverência e talento, o Neymar é o melhor exemplo de tudo isso desde quando vi a sua estreia no profissional contra o Oeste de Itápolis pelo Campeonato Paulista lá em 2009 no Pacaembu quando ele tinha 17 anos. Seu sucesso foi instantâneo. Convocado em 2010 para a seleção brasileira, transferência para o Barcelona de tantos outros craques nacionais em 2013, e um dos líderes no ouro olímpico em 2016.
E quando ele saiu da Espanha rumo a Paris por 222 milhões de euros, o Santos Futebol Clube ainda sorriu e ganhou dinheiro com ele mesmo depois de todos esses anos.
O atleta tem seu “passaporte”. Esse “passaporte” é o histórico do jogador. Lá você vai achar todos os clubes que ele fez parte desde os 12 anos de idade. E se o seu clube é um desses, é motivo de sorriso. Toda vez que esse atleta se transferir para outro clube por algum dinheiro, o seu clube vai ganhar até 5% do valor dessa transferência.
O valor que o seu clube vai receber depende de duas coisas: de quanto tempo o jogador ficou no seu time durante período de formação dele, e se vai para fora ou outro clube daqui. Para o seu time receber 5% da transferência quando o ex-jogador do seu clube vai de um time brasileiro para outro, ele tem que ter treinado no seu time dos 14 aos 19 anos. Já se ele vai para fora, o “período de formação” começa aos 12 anos e acaba aos 23 anos.
É por isso que o Paris Saint Germain repassou cerca de R$ 33 milhões ao Santos Futebol Clube como mecanismo de solidariedade quando o Neymar foi para lá, cerca de 4% do valor total para tirar ele do F.C. Barcelona. Neymar ficou no Santos dos 12 aos 21 anos, e por isso vai continuar distribuindo sorrisos na base do seu clube formador até se aposentar.
É isso, espero que tenham gostado do nosso “Especial Copinha 2018”. Eu fico por aqui, e em fevereiro retornamos para falar um pouco sobre “entre o Direito e a Torcida”. Convido vocês para falarem comigo nos comentários ou pelas redes sociais, toda ideia é bem-vinda. Um bom final de semana a todos e até a próxima!

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A enganação dos estaduais

Calma e cautela para analisar futebol não são sinônimos de falta de opinião. Como cronista, tento sempre exprimir um ponto de vista e deixa-lo muito claro. Às vezes acerto, em outras erro. Mas antes de qualquer comentário é sempre bom ter duas coisas: muitos fatos e evidências para ponderar, e entender que tudo pode cair por terra por conta do caos imprevisível que é uma partida de futebol. Coloco isso para acalmar os torcedores que estão eufóricos e acalentar os que estão ressabiados com o início dos seus respectivos times nos campeonatos estaduais. Tudo pelo meu primeiro argumento: não há dados factíveis para analisar nenhuma equipe.
Um padrão de comportamento e resposta de um time para as fases do jogo se manifesta em no mínimo de cinco a oito partidas. Isso em condições normais de uma temporada. E não com apenas dez dias de preparação, como é o caso agora.
Pego o Palmeiras, por exemplo – até porque mais uma vez pelo alto investimento, a equipe é apontada como favorita em tudo. Como saber com apenas duas partidas que o 1-4-1-4-1 utilizado até aqui será a plataforma de ocupação de espaço que mais vai potencializar as virtudes dos jogadores? Ou como sem ver nenhuma partida podemos prever que Lucas Lima e Gustavo Scarpa vão se complementar dentro de campo? Só pelo nome? Bem, Everton Ribeiro e Diego também tem nomes imponentes e não produziram juntos o que o Flamengo esperava no ano passado.
Sem falar das relações interpessoais do elenco e e da comissão técnica de Róger Machado. Como o ambiente vai reagir quando um Dudu ou um Felipe Mello tiverem que ir para o banco de reservas? O clichê ‘elenco rachado’ em 99% das vezes desmonta qualquer time de futebol.
O jogo é muito complexo para tirarmos conclusões e estabelecermos verdades e mentiras absolutas. Basear-se então em apenas duas partidas é um completo suicídio.

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O hino do Brasil no futebol

Muitos podem achar este não ser tema tão importante, entretanto, é pelo fato de fazer parte de um produto do esporte, que é o jogo de futebol profissional. Um produto que é colocado no mercado e à disposição de consumidores que podem ou não adquiri-los. Falo da execução do Hino Nacional Brasileiro antes das partidas.
Este texto tem como origem uma tarde de domingo vendo jogo de futebol americano. Especificamente o cerimonial e protocolo em torno do hino dos Estados Unidos da América. Ora, a modalidade é uma das que simbolicamente mais representam o estilo de vida norte-americano e, mesmo com a presença de militares nestas cerimônias pré-jogos, o culto aos símbolos nacionais não é diretamente associado às forças armadas ou a um período em que elas governaram um país. Não é preciso ser perito em história estadunidense, mas o trabalho que fazem em torno da sua bandeira, hino e selo resgatam valores e propósitos daquele lugar, conhecidos e divulgados desde a sua fundação. Por mais que possam não cumpri-lo (ausência dos direitos civis nos anos 1960, por exemplo), existem e acredita-se nisso. Com isso, surge o respeito aos símbolos e ele se solidifica com o tempo.
Não é o que acontece no Brasil. Pode ser que um dia mude, mas vai levar tempo. O cenário da construção e valorização dos símbolos pátrios foi bastante diferente. Somado a isso, o caos político, social e administrativo, além da crise de valores em que vive o país. A exclusão dos menos favorecidos e o constante desrespeito ao cidadão, quer seja através da corrupção (quer seja dos governantes ou do cotidiano) ou das filas nos postos de saúde, são capazes de desintegrar a sociedade. A prazo, é possível o indivíduo se afastar da crença em uma ideia de nação. Como consequência, a falta do costume em cantar o hino nacional e o uso da bandeira como fim político.

Imagem: Divulgação

 
Desta maneira, o hino do Brasil é colocado antes dos jogos para que o público cante, celebre. Mas não é o que acontece. Salvo raríssimas exceções. Isso serve nos jogos das seleções brasileiras, serve sim. Se os símbolos nacionais tivessem um quarto elemento, ele certamente seria a camisa amarela. Cantar o hino não representa mais civismo ou faz alguém ser mais patriota. No futebol americano, poucos cantavam o hino. Os que cantavam, murmuravam. No entanto, todos respeitavam.
Com tudo isso, não vai ser o gesto de cantar o hino do Brasil antes dos jogos de futebol, fazer com que haja uma popularização da sua canção e letra. Isso vai acontecer a partir do momento em que os direitos e deveres de todos os cidadãos sejam compartilhados, respeitados e cumpridos.

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A arte do desnecessário

Foi cheio de simbolismo o anúncio da aposentadoria de Ronaldinho Gaúcho, 37. No dia 17 de janeiro deste ano, em um post na rede social Instagram, ele oficializou o desfecho de sua carreira profissional depois de ter passado “quase três décadas dedicadas ao futebol” e fez um agradecimento amplo, genérico, justificado por timidez e por “não ter o costume de falar muito”.
Ronaldinho foi, durante dois ou três anos, o maior jogador de futebol do planeta. Ganhou dois prêmios de melhor do mundo em eleição da Fifa (2004 e 2005), mas isso conta apenas parte da história. Ele não ocupou apenas o topo do esporte: naquele período, o brasileiro foi genial a ponto de ter tornado maior o próprio meio em que estava.
Uma das histórias mais recorrentes sobre Pelé é que o Rei chegou a interromper guerras. Durante excursões com o Santos ou com a seleção brasileira, países paravam o que estavam fazendo apenas para ter a chance de vê-lo em ação. Numa era totalmente diferente, num contexto totalmente diferente e numa proporção totalmente diferente, Ronaldinho tem um mérito extremamente similar. O agora ex-jogador conseguiu atrair atenção e expectativa de um público que é municiado de informações por todos os lados, recebe conteúdo constantemente e tem cada vez menos disponibilidade.
Hoje em dia, talvez o maior desafio do processo de comunicação seja captar e manter atenção do público. É cada vez mais fácil imaginar que o consumidor de informação se disperse ou tenha menos tempo de concentração em determinado tema. Por isso, é extremamente relevante que um jogador de futebol tenha conseguido se transformar em atração e em assunto relevante.
A construção de Ronaldinho como personagem foi alicerçada em uma série de elementos únicos. Contaram aspectos como o carisma, a trajetória vitoriosa e o fato de ter representado alguns dos maiores clubes do planeta, é claro, mas pesaram ainda mais a alegria, o amor quase infantil pelo jogo e uma das traduções mais perfeitas do que é o futebol como entretenimento.
Ronaldinho é, por diversas razões, a antítese do que representam Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, os jogadores que dominaram premiações individuais na última década. O português é eficiente, direto e simboliza o uso de um esforço descomunal para atingir o máximo da capacidade; até por isso, tem uma relação de orgulho exacerbado com o produto que entrega em campo. O argentino, por sua vez, é um minimalista: Messi é genial exatamente por fazer parecer que todos os movimentos são estritamente necessários. O camisa 10 do Barcelona e da seleção argentina é responsável por alguns dos lances mais geniais do futebol nos últimos anos, mas tente revê-los agora, sem o calor do jogo: a impressão é que ele busca sempre a solução mais rápida e que comete poucos excessos (em campo e fora dele).
Se fossem artistas de outro segmento, Ronaldo seria o resultado de anos de dedicação e estudo, com um conteúdo seguro e extremamente focado no que faz sucesso com público e crítica. Messi, por outro lado, seria aquele pintor que não coloca uma cor a mais na tela se não houver necessidade ou aquele escritor que suprime absolutamente todas as linhas menos relevantes de seu livro.
Ronaldinho foi o contrário disso porque nos mostrou o prazer do supérfluo. Foi um jogador que subverteu a lógica de que o futebol, como qualquer jogo, é apenas sobre perder ou ganhar. A distância mais curta entre dois pontos pode ser sempre uma reta, mas o futebol não é sobre a distância mais curta ou mais eficiente; futebol é entretenimento, e uma das principais funções do entretenimento é contar histórias que emocionem verdadeiramente e que produzam encantamento.
No futuro, estou certo de que olharemos para trajetórias de outros jogadores e diremos que foram muito maiores do que Ronaldinho Gaúcho. Cristiano Ronaldo e Messi, por exemplo, têm trajetórias e currículos muito mais significativos. Mas pense bem: é sobre os lances de Cristiano Ronaldo e Messi que você vai contar para seus filhos ou netos?
Até nesse sentido a trajetória de Ronaldinho é única. As principais críticas ao brasileiro são sobre ele não ter conquistado muitos títulos como protagonista ou ter se omitido em muitos momentos decisivos. Contudo, quem diz isso não entende o que significou Ronaldinho ou o quanto ele é relevante em nuances do jogo que vão além do resultado, do protagonismo ou da estratégia. Ele pode não ter encantado em profusão, mas o que ele entregou fez diferença para quem verdadeiramente ama o jogo. Compreender isso demanda um pouco de criatividade, de inocência ou de apreço por um modelo que contraria o pragmatismo.
A relação de Ronaldinho com o jogo sempre foi um amor que transcendia o que acontecia em campo. Era, como outros foram antes, uma figura extremamente onírica. Era um produtor de excessos e de pouco (ou nenhum) compromisso com a realidade, como Buñuel.
Mas Ronaldinho durou pouco. Durou pouco porque esse tipo de relação no futebol de hoje é pouco sustentável. Não só no futebol, aliás: o que ele representou para o esporte é um tipo de figura que tem pouco espaço em qualquer seara.
Antes da Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha, era comum ler, ver ou ouvir até os comentaristas mais comedidos questionando se Ronaldinho poderia estar entre nomes como Pelé e Garrincha em caso de uma campanha positiva da seleção. Depois de o time nacional ter sido eliminado pela França nas quartas de final, a marca que ficou daquele certame foi a de uma equipe que levou o evento pouco a sério, que se preparou mal e que teve jogadores pouco comprometidos.
Depois daquela frustração, a figura de Ronaldinho viveu apenas de lampejos. Foi o jogador que fracassou no Flamengo, a despeito de ter produzido mais uma série de lances plásticos para sua coleção pessoal, mas também foi um dos líderes de um Atlético-MG campeão da Libertadores, por exemplo. Voltou a frequentar listas de convocados para a seleção, mas não chegou às Copas de 2010 ou 2014, por exemplo.
Em vez de amadurecer, ser o líder que dele se esperava ou lutar para que seu talento tivesse longevidade no alto nível competitivo, Ronaldinho foi se apagando. Lembrar dele hoje é pensar mais no que ele poderia ter sido do que no que ele realmente foi.
Todas essas questões têm a ver, é claro, com a comunicação da figura Ronaldinho. O jogador que, como ele mesmo disse no ocaso da carreira, “nunca gostou de falar muito”, acabou sendo um exemplo de gênio muito cobrado por coisas que jamais tentou entregar. Acabou lidando com expectativas descabidas e fez isso com um silêncio que mais pareceu escapismo.
Por isso o anúncio da aposentadoria é tão simbólico. Ronaldinho escolheu o Instagram e uma mensagem genérica porque ele precisava dar alguma satisfação, mas nunca foi uma pessoa exatamente preocupada com a imagem pública. No fim, além da genialidade com a bola nos pés, o que fica sobre o brasileiro é a ideia de alguém que não soube conduzir a carreira e que se subjugou (por interesse ou apenas por uma questão de personalidade) diante de um irmão que realmente era o protagonista da “empresa Ronaldinho”.
Ronaldinho poderia ter ficado para a história como um dos maiores exemplos de amor ao jogo. Podia ser o símbolo de magia em diferentes acepções da palavra (por ser um produtor de surpresas ou por provocar uma relação mágica das pessoas com o jogo, por exemplo). Em vez disso, por silêncio ou por dificuldade para se explicar, acaba a trajetória como um produtor de lampejos. Ronaldinho foi um gênio, mas um gênio hermético em muitos momentos. Talvez em algumas décadas possamos compreender exatamente o tamanho de seu legado.

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Futebol: a unificação da mentalidade não deixa o resultado ao acaso (Parte I)

Olá, sou Diogo Cardoso Santos e hoje começo uma jornada de grandes expectativas como colunista da Universidade do Futebol. Aqui neste espaço tratarei de assuntos relacionados ao processo de formação, mas não somente daqueles que fazem ou evitam os gols.
Entretanto, antes de começar a falar regularmente sobre este tema, contarei um pouco da minha história.
Posso arriscar em dizer que desde o meu primeiro chute em uma bola de futebol até a minha graduação em Ciência do Esporte na UEL em 2007, a minha concepção sobre a prática ou ensino do futebol não teve grandes mudanças. Todavia, ao abraçar uma oportunidade de realizar um mestrado em 2009 na Faculdade de Motricidade Humana em Lisboa, pude conhecer meios e métodos de ensino que realmente abriram meus olhos.
Com acesso irrestrito à um acervo fantástico de estudos relacionados ao futebol, apesar de me identificar totalmente com aquela mentalidade, me deparei com uma questão: será que isto realmente funciona?
Sim! Funciona! Não era uma receita pronta, mas sim uma indicação de como o processo de treino/ensino deveria ser levado, e durante toda a temporada 2010-2011 pude observar de perto, participando ativamente dos treinos, jogos e eventos para captação como treinador estagiário do U9 do Sporting Clube de Portugal. Naquele momento percebi que existiam executantes extraordinários da teoria tanto dentro como fora do campo.
De lá para cá, muitas ideias foram surgindo e a aplicação da teoria nos treinos foi melhorando. Seguramente, o período de trabalhos no Programa Atleta Cidadão em São José dos Campos foi dos mais enriquecedores e conseguiu reunir muitas partes num todo. Ali discutia-se como seria todo o processo (do sub-11 ao sub-20), rotinas e conteúdos de treino, abordagem durante o treino, aplicação adequada dos conteúdos e assim por diante.
De certa forma foi algo isolado. Quase dez anos após minha ida à Portugal, ainda não vejo aqui no Brasil um nível de produção massificado de conhecimento, e isto nos leva a encontrar trabalhos que deveriam ser sustentados por princípios pedagógicos sendo facilmente substituídos por valores imediatistas, desrespeitando o desenvolvimento saudável dos praticantes, sejam eles treinadores ou jogadores.
Por fim, uma obra deste perfil representa o nosso esforço em conjunto para abordarmos este tema de importância excepcional. Enquanto a mentalidade entre todos dentro de um clube não estiver alinhada, restará somente o resultado do jogo e isto é nocivo para todos os envolvidos no processo de formação.
O desafio agora é elevar o nível da discussão e mostrar que o talento também está fora das quatro linhas!

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Entre o Direito e a formação da base

Chegamos a nossa terceira semana de 2018 juntos aqui no “Entre o Direito e o Esporte” e hoje vamos continuar com o “Especial Copinha 2018”. Dessa vez vamos conversar sobre o que é conhecido aqui como “indenização por formação”, ou lá fora como “compensação por treinamento” – training compensation.
Esse tema faz parte do que a gente tem conversado nessas últimas semanas. Um clube formador precisa se sustentar, né? E é aí que a “indenização por formação” entra em cena e dá um importante reforço no caixa dos clubes brasileiros – é, claro, quando são bem geridos. Ainda mais no meio de uma Copa São Paulo que é sempre uma vitrine para jogadores aparecerem no mercado. Aliás, quem não lembra de pelo menos uma história de sucesso? Do Valdívia brasileiro lá no Rondonópolis ao Fabinho do Mônaco ainda no Paulínia.
Para deixar esse tema mais tranquilo, hoje vamos conversar sobre o que é o “período de formação”, o que é um “contrato de formação”, e o que é a “indenização por formação”. Resumindo bastante, você vai ver aqui hoje qual é aquele período em que o jogador é considerado um “atleta de base” mesmo, que tipo de contrato ele assina (ou deveria assinar) com o seu clube, e o que acontece quando ele é transferido para outro lugar – seja para outro time daqui, ou para um time de fora. Assim até dá para você trocar uma ideia com o pessoal da base do seu time ou mesmo em casa quando surgir a próxima estrela.
Bora?
Formando pessoas e craques, o que é o “período de formação” no futebol? É o começo do esporte de rendimento. É aquele tempo em que o treinamento de base foca no atleta como pessoa e como jogador. Tipo aquela história que a gente vê nos programas de TV, sabe? A gente tem que estudar e também cuidar do corpo, senão a gente vai ter um monte de problemas depois – e viva o bem-estar. Com o jogador é a mesma coisa!
Nesse “período de formação”, o atleta tem um acompanhamento físico, técnico e tático específico. Assim o jogador “ganha corpo”, melhora nos fundamentos do jogo (como no passe e no chute), e aprende uma posição – ou seja, aprende a “jogar bola” de verdade. E, também, tem (ou deveria ter) um acompanhamento psicológico e social. Afinal, como falamos semana passada, o atleta também é uma pessoa, né? E isso é essencial no esporte.
É aí que se forma o jogador e a pessoa para a vida de “gente grande”. E para que isso aconteça, o planejamento é importante e leva em conta várias formas de preparação do atleta para o futuro. Atleta que pode ser desde uma criança de 12 anos até um adulto de 21 anos. É por isso que esse “período de formação” é base do jogador de futebol na vida.
E sabendo disso é que a FIFA em seu programa “FIFA 2.0” diz que o objetivo é sempre desenvolver o futebol respeitando o outro. É aí que entra a ideia do contrato de formação para o futebol de base. Afinal, o atleta em formação ainda não é um profissional da bola, só que muitas vezes é tratado assim.
O contrato de formação serve para dar segurança (jurídica) ao clube e ao atleta. É o documento que deixa a relação clube-atleta clara. E, com isso, evita o trabalho infantil, o “trabalho análogo à escravidão“, e o tráfico de menores no futebol. Assim, separa os clubes que tratam o atleta como “só jogador” daqueles que tratam ele também como pessoa.
No Brasil, o contrato de formação pode ser assinado durante uma parte do “período de formação” – entre os 14 e os 20 anos. E quando o jogador assina esse contrato, ele passa a receber uma bolsa durante sua formação na base e outros auxílios como convênio médico e odontológico. É como se fosse um “menor aprendiz” em uma empresa, sabe?
Do lado dos clubes vale a pena também, já que o clube formador tem a preferência quando o jogador vai assinar seu primeiro contrato profissional – mesma coisa na primeira renovação desse contrato por até mais três anos. E se mesmo assim o atleta sai por uma oferta de outra equipe, o clube formador recebe uma indenização (dinheiro). É aquela situação que todos ganham um pouco, sabe? Mesmo que o clube não segure o jogador, pelo menos tem a garantia de receber alguma coisa em troca da formação daquele atleta.
Agora que a gente já viu um pouco sobre o “período de formação” e o contrato de formação, vamos falar sobre a indenização por formação ou compensação por treinamento. A ideia por trás disso é manter o atleta no clube ou garantir que quem forme o atleta tenha um retorno financeiro quando o jogador vai atuar em outro lugar. Assim, o pré-requisito é que o clube seja formador e tenha o Certificado de Clube Formador (CCF) emitido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – que vimos semana passada. É o que o clube recebe por fazer “o mínimo do mínimo” na formação do atleta.
Aqui as regras variam um pouco se o atleta sai para um clube brasileiro ou de fora.
Para um clube brasileiro. Se for antes da assinatura do primeiro contrato profissional, o valor chega a 200 vezes o custo da formação do jogador. Se for durante a renovação do primeiro contrato profissional, chega a 200 vezes o salário mensal proposto pelo formador.
Para um clube de fora. É um valor fixo por ano de formação de acordo com a categoria do clube em um ranking feito pela FIFA. A compensação para clubes brasileiros em 2017 era de 2 mil dólares a 50 mil dólares por ano de formação do atleta no clube.
Seja como for, é um caixa que dá um fôlego para o seu clube. O que é bem-vindo, né?
É por isso que vale a pena ser um clube formador. Quando o clube cuida da sua base, garante que seus atletas se desenvolvam como pessoas e como jogadores. E mesmo quando o seu clube não pode aproveitar um jogador, recebe um dinheirinho que ajuda a investir na base e até mesmo dar um fôlego no caixa do clube.
Espero que tenham gostado de mais uma semana do “Entre o Direito e o Esporte”, e nos vemos semana que vem aqui para a última coluna do “Especial Copinha 2018” – que vai ser sobre mais uma vantagem de investir no futebol de base, o mecanismo (ou contribuição) de solidariedade. Convido vocês para falarem comigo por aqui ou pelas redes sociais com qualquer dúvida ou ideia. Um bom final de semana a todos, e até a próxima!

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Que honra estar aqui

É um prazer imenso estrear hoje como colunista da Universidade do Futebol. Minha relação com essa instituição respeitadíssima dentro da indústria nacional vai além do aspecto profissional. O respeito e a consideração pelo professor João Paulo Medina são enormes. Sem falar a amizade que tenho com vários colaboradores não só pela minha presença nos eventos organizados pela Universidade, mas também por fazer parte de um grupo de estudos que temos mensalmente para discutirmos diversos aspectos do nosso esporte.
Em 2015, comecei a fazer os cursos da Universidade do Futebol e não parei mais. Comecei com o Gestão Técnica no Futebol e passei pelo Tática, Direito, Análise de Desempenho, Modelo de Jogo e Gestão e Metodologia do Treinamento. E posso dizer sem sombra de dúvidas, que esses cursos foram um marco na minha carreira. Passei a enxergar o jogo de outra forma.
Sou jornalista, formado pelo Mackenzie e pós-graduado pela Fundação Cásper Líbero. Atualmente, estou na rádio 105 FM, apresento diariamente o Futebol Esporte Show, veiculado pelo SBT, através das afiliadas TV Sorocaba e VTV e tenho um Blog no LANCE!. Já passei pela TV Gazeta, Band Campinas, Folha de São Paulo Online, dentro outros veículos.
O meu objetivo com essa coluna é trocar experiências. E quero deixar um canal aberto para compartilharmos conhecimentos e vivências. Não hesite em me contactar. E vamos juntos transformar o futebol através do conhecimento.

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Traços da formação

Até alguns anos atrás, a formação do jogador de futebol era exclusivamente realizada pela “informalidade fértil da rua”. Era uma época identificada como “formação silvestre”. Na formação silvestre, jogadores voluntariamente e emocionalmente, envolviam-se “jogando” de diferentes maneiras. A interação do jogar-superar com emotividade deixava marcas positivas e às vezes negativo-positivas, amadurecendo diariamente as probabilidades cognitivo-motoras.
Cotidianamente, por muitas horas, as crianças submetiam-se a situações-problemas mutáveis e libertas. Nestas atividades, além do acervo individual, compreendiam valores morais, se auto-organizavam, cooperavam reciprocamente e aprendiam conceitos coletivos, claro, dentro de uma informalidade estrutural, mas com muitos aspectos interessantes para o “bom futebol”. Craques “brotavam” nos jogos de diferentes formatos, terrenos e espaços a todo instante. Absolutamente a formação silvestre foi o maior canteiro de formação de jogadores brasileiros.
O odiado e amado “El Loco Bielsa”, um dos treinadores mais estudiosos do planeta, abordou algumas questões pertinentes sobre essa temática, vejam só:
“A formação silvestre é a melhor de todas. Não tem rigidez e os jovens a executam espontaneamente. Mas isso deixou de ser possível, porque para que a formação silvestre se concretize, é necessário ter cinco horas por dia de prática, por um período de quatro a seis anos. Mas há ainda alguns continentes e algumas regiões que continuam a criar futebolistas com essa formação por que existe isso: lugar, tempo e amor para o jogo. Se um jovem tiver que ir para a computação, inglês, música …certamente ele não vai jogar cinco horas por dia futebol. Se ele mora em uma cidade urbanizada, também não encontrará o lugar apto para essa formação.”
“El Loco Bielsa” deixa claro que está cada vez mais escassa a formação silvestre. Mas, será que ainda vemos o futebol silvestre por aí? A resposta para essa pergunta está cada dia mais clara.
Quem sabe no interior, nas regiões praianas, favelas, muito pouco (não todo dia) e por muito pouco (poucas horas durante o dia) o futebol silvestre ainda esteja sobrevivendo. Mas está morrendo lentamente. O crescimento urbano-social, a acessibilidade e opção demasiada por outras “atividades”, excepcionalmente distanciou as crianças da essência formativa refinada do jogador de futebol.
Mas como suprir essa carência? Como o jogador brasileiro está sendo formado? O que é formar? O que requer a formação do jogador de futebol atualmente? Será que conseguimos interligar três dimensões inerentes ao formar? Conseguimos realizar o transfer da formação do jogador de futebol por essas três dimensões? Visualizem:
Autoformação – é a dimensão individual
Se a formação silvestre foi a melhor de todos os tempos (pois os jogadores se desafiavam e jogavam constantemente), por que não bebermos do acervo de possibilidades que elas dispõem? A formação individual é um ato de constante modificação, constante estimulação. Somente atividades libertas e com uma variabilidade poderá atingir a dimensão individual em sua plenitude. Então, a autoformação nas primeiras idades deve estar balizada por uma gama de atividades advindas da formação silvestre, evidente, balizada por ideias pela conjuntura atual, mas sempre respeitando a natureza do jogo, da criança e a sua autossuperação constante.
 Heteroformação – interatividade – noção de coletividade
Um jogador de futebol, antes de estar numa lógica coletiva, uma forma de jogar específica, é um ser individual. Mas um ser individual isolado, sem interagir com outros seres e elementos, viverá em uma ilha e certamente não conseguirá entender a natureza deste esporte. Se os estímulos individuais são necessários, o entendimento do jogo coletivo com estímulos gerados pelo treinador, respeitando essa individualidade, especialmente nas primeiras idades é uma tarefa imprescindível, mas também desafiadora. Essa interação requer uma enorme sensibilidade de “saber que ferramentas utilizar”, pois qualquer situação em demasia pode gerar reflexos ou distúrbios. A chave é contrabalançar com sensibilidade, pois uma lógica desde as primeiras idades deve existir para o trabalho não ficar “no vácuo”, e até mesmo pela demanda que o futebol atual e as modificações sociais exigem.
Ecoformação – relação cultural
Em qualquer cidade, região ou país que estamos inseridos, recebemos estímulos culturais que nos identificam, seja na forma como falamos, nos comportamos ou como jogamos. E se nosso objetivo é o jogar, temos que ter essa sensibilidade de respeitar as raízes que estamos inseridos. E isso, já no que diz respeito “de como jogamos no Brasil”, mata a charada, pois quase todos perderam o mapa do Brasil em termos de jogo. Como jogamos? Ninguém sabe!
A formação silvestre-organizada-cultural tem “entrelaçado” todos esses parâmetros para construir futuros jogadores. Jogadores que mantenham sua singularidade, se relacionem muito com a bola, interpretem o jogo com criatividade, tenham um refinamento técnico apurado e sejam representantes da verdadeira cultura brasileira, que na atualidade, de verdadeira…
Abraços e até a próxima!