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Música e bola

O relato desta coluna tem relação com o perfil de espetáculo da música e do futebol. A analogia nada tem a ver com as dancinhas (horrorosas, diga-se de passagem) das comemorações de gol dos artilheiros do Campeonato Brasileiro. A reflexão vem desde um fato que ocorreu comigo no último final de semana e uma conversa com um amigo, pertencente ao mundo do futebol.

A história se resume a um show musical que fui com minha noiva no sábado (27/10). Um espetáculo que aguardava com grande expectativa, com um valor compatível ao seu porte – na base de R$ 60 por pessoa – e que lotou a casa, evidenciando que o mesmo era de fato popular.

Acontece que o roteiro do show, conforme todos vinham esperando, praticamente inexistiu por conta de um certo amadorismo do músico, que não se encontrava nos melhores dias (para ser gentil, pois claramente este não se preparou para fazer um grande espetáculo, aparentando embriaguez ou algo do gênero). Para ser sucinto, fomos para casa no meio do show, ouvindo outras pessoas dizer que “foi o pior show da minha vida”, o que simplifica o ocorrido.

Trata-se da “boleragem da música”, pelas palavras deste meu amigo. E de fato foi, tal e qual acontece quando um grande jogador vai para a noite na véspera de um jogo (importante ou não) e não consegue render todo o seu potencial.

Quando falamos em criação de um espetáculo ímpar, com um conteúdo atraente em um ambiente agradável de entretenimento, devemos pensar no conjunto da obra, que vem desde a formação de uma excelente equipe técnica, que prepare adequadamente o artista para que este possa brilhar e gerar retornos satisfatórios em termos de imagem e marketing para o clube.

Para concluir o raciocínio: está claro que as pessoas dispõem de recursos para o consumo de plataformas de entretenimento, estando na mira tanto a música quanto um jogo de futebol. Mas os consumidores precisam ser respeitados e quem entrega o espetáculo precisa fazê-lo na mesma medida das expectativas de seus clientes.

Do relato de caso temos como resultado o fato de eu não querer mais ir a shows deste cantor, se alastrando em um pequeno viral à medida que eu contar para amigos e grupos de amigos o ocorrido. Na mesma medida, pesquisas mostram e conversas com pessoas próximas que atestam que evitam sumariamente ir a estádios de futebol por conta de péssimas experiências do passado. E assim se (des) constrói uma imagem…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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A formação de jornalistas esportivos

Não conheço nenhum segmento profissional que atraia pessoas com perfis tão diferentes quanto o jornalismo esportivo. A despeito de ser repleta de problemas – e qual não é, afinal? –, essa seara ainda é vista como uma opção de unir paixões, um cotidiano sem rotina e a chance de formar opiniões.

“Eu abriria mão de tudo isso”. Ouço isso recorrentemente de pessoas que estão em situação estável na carreira, mas insatisfeitas com a atual posição, e que veem no jornalismo esportivo uma chance de guinada.

Uma das coisas mais legais de dar aulas de jornalismo esportivo é ver o quanto as pessoas que se interessam pela área têm origens diferentes. O segmento parece comportar tudo, desde aqueles que sempre sonharam com isso até os que enxergaram aí um meio de redirecionar a carreira.

Com os megaeventos esportivos que o Brasil receberá nos próximos anos, então, o segmento passou a ser ainda mais atraente. Até para pessoas que não são naturalmente apaixonadas por esporte, mas consideram o segmento promissor em função do calendário de curto e médio prazo no país.

O curioso é que eu sempre considerei a paixão como o maior elo entre os profissionais e postulantes a vagas em jornalismo esportivo. Nos últimos tempos, porém, nem isso tem sido um fator comum a todos os que tentam enveredar por esse caminho.

Se o elã não é o único requisito básico no jornalismo esportivo, o que sobra, então? Com base empírica, posso dizer que as características comuns a todos na área são a vontade de opinar e a impressão de conhecer. Afinal, todo mundo acha que entende de esporte.

Esse é um problema muito maior do que o jornalismo, na verdade. É algo que atinge até as pessoas que estão no meio e que vivem o esporte. Tê-lo como assunto cotidiano, saber as regras e conhecer as táticas não são sinônimos de entender como o jogo funciona.

Independentemente da modalidade, o esporte tem atletas que sabem resolver problemas e sabem os melhores caminhos em cada situação. Só não sabem por que escolheram aquela solução ou aquela rota. Também é assim no jornalismo.

Pense em quantas vezes você leu, ouviu ou viu alguém dizendo que “o time A está melhor em campo porque finalizou mais”. Ou então descrevendo todos os movimentos de um lance para relatar o que acabou de acontecer.

Em geral, descrições de movimentos ignoram o mais relevante em um lance: os porquês. É fácil dizer que um atacante driblou dois marcadores, invadiu a área e finalizou no canto esquerdo do goleiro. Difícil é explicar a quem acompanha o jogo o motivo de aquilo ter acontecido. Mesmo se o motivo for simplesmente o improviso.

Essa transição da opinião pura para uma análise fundamentada é o que separa a maioria dos postulantes ao jornalismo esportivo dos que realmente desempenham bem a profissão.

Entender os porquês do jogo – qualquer jogo – exige um grau muito maior de atenção. Paulo Vinícius Coelho, comentarista dos canais “ESPN”, certa vez comparou a atenção que as pessoas dedicam ao futebol com o grau de concentração que elas têm no cinema.

No cinema, não há nada além do filme. Isso permite, por exemplo, que alguns diretores escondam informações ou até homenagens em algumas cenas. Nos Estados Unidos, esses elementos são chamados de Easter Eggs.

Se houvesse Easter Eggs no futebol, sou capaz de apostar que eles seriam pouco notados pelo público em geral. Há um teste de atenção no site de vídeos YouTube que mostra um pouco disso. Jogadores de basquete trocam passes, e o objetivo do exercício é dizer quantas vezes
a bola muda de mãos. Veja a avaliação:
 


 

E aí? Você fez o teste? Acertou o número de passes? É óbvio que esse é um exemplo extremista e que uma situação assim nunca aconteceria em um jogo de futebol profissional. Também é óbvio que o grau de atenção ao lance que acontece em primeiro plano nunca é tão alto quanto o que dedicamos quando seguimos a movimentação da bola no vídeo do YouTube. Tente pensar, porém, no quanto você não tem o hábito de olhar um jogo de futebol de forma sistêmica.

O problema é que você pode ter esse hábito. Um profissional, não. O jornalista que se contenta com o que vê e com o que faz parte do cenário comum a ele perde a chance de fomentar discussões sobre o que realmente importa e estabelecer debates que enriqueçam a análise do jogo.

PS: Como tantos amigos e colegas de profissão, aprendi a ler jornalismo esportivo com exemplares do “Jornal da Tarde”. Foi ali que eu tive as primeiras noções de estilo, jargões e do quanto essa área admite visões dicotômicas. Foi ali que eu tive a certeza de que jornalismo esportivo era o que eu queria para mim. O veículo surgiu nessa área e foi sinônimo de excelência durante muitos anos. Entretanto, não foi só o esporte que perdeu com a morte do “JT”. Toda a sociedade perde com um veículo a menos para se manifestar, e isso é muito triste.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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O que o futebol deveria aprender com Robert Plant

Fui ao espetacular show de sir Robert Plant neste fim de semana. Muitas memórias de adolescência vieram à tona, pois o rock and roll clássico do Led Zeppelin marcou algumas das experiências e momentos dessa época de descobertas e incertezas.

Naturalmente, esperava-se que Plant desfiasse o repertório de músicas da banda que o consagrou como vocalista.

Não foi o que se viu. Para um respeitável senhor de 64 anos, foi um show de bastante intensidade e energia, mas a plateia pode conhecer músicas do próprio Plant, todas muito bem conduzidas pela banda que o acompanha, The Sensational Space Shifters.

A banda conta com músicos de primeira linha, mas um dele roubou a cena: Juldeh Camara, africano (pelo que entendi, de Gâmbia), que tocou dois instrumentos típicos do continente e que se encaixaram perfeitamente à experiência vanguardista de Plant em misturar rock com tais infusões sonoras.
 


 

Plant tem se negado a ficar refém e escravo do legado do Led Zeppelin. No show, foram apresentados temas da banda, com essa pegada distinta e rica.

No futebol brasileiro, alguns dogmas, hábitos, costumes pautam o comportamento de muitos profissionais. Isso é decorrente da visão de curto alcance que se tem do futebol.

Enxerga-se longe quando o assunto é exaltar conquistas e feitos do passado. Um saudosismo, uma nostalgia, paralisantes, que impedem a introdução do novo – sejam ideias, pessoas e processos de gestão.

Plant rompe com o mecanismo que lhe permitiria ficar eternamente preso àquilo que ele mesmo construiu, mas que já não serviria mais se fosse sempre realizado.

Paulinho da Viola, na introdução da música “Meu mundo é hoje”, diz que “não vive no passado; o passado vive em mim”.

Jamais conseguiremos, ainda que queiramos, renegar a história, pois ela nos acompanhará sempre, em versões contadas pelos outros ou por aquelas que construímos.

Esse tipo de autoanálise, no espelho, ainda precisa melhorar muito no futebol brasileiro.

Assim, vamos evoluir com consistência e fundamento. Adaptar-se para evoluir. Darwinismo puro.

Simplesmente, confrontar ou negar o passado e o presente é sinal de teimosia involutiva. Para mim, Robert Plant merece o título de “sir”, porque se nega à paralisia, vive em movimento uniformemente variado.

Poderia ficar na Inglaterra, no seu chá com bolachas e vivendo dos royalties do Led Zeppelin. Esperando descer sua “Stairway to Heaven”. Prefere rodar o mundo fazendo boa música e compartilhando essa energia.

Nosso futebol precisa rolar muitas pedras ainda para alcançar esse estado de espírito que o rock consegue provocar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A construção de referências coletivas

Uma das grandes justificativas para a utilização do jogo no processo de treinamento em futebol deve-se à possibilidade de, através dele, induzir os jogadores, por meio de adequadas intervenções, a um nível de aplicação de comportamentos de jogo individuais e coletivos que, com outros métodos de treino, demorariam muito mais tempo para serem construídos.

Nesse sentido, as ações de cada elemento da equipe respeitam certos princípios e regras que tendem a dar ordem ao sistema e que, se estiverem em direção à lógica do jogo criado, irão aproximar a equipe da vitória.

Incontestavelmente, treina-se futebol para aperfeiçoar o nível de desempenho atual. Em contrapartida, o que já não pode ser definido como consenso é o modo que as comissões técnicas do futebol brasileiro desenvolvem suas periodizações e as operacionalizam. A julgar pelo baixo número de referências coletivas comuns apresentadas por nossas equipes na atualidade é possível concluir que os jogos (e a necessária indução) não estão sendo utilizados.

Conforme discussão semelhante de semanas atrás, quando nossas equipes recuperam a posse de bola no setor defensivo, é comum observarmos em muitas delas, dois ou três jogadores se omitirem da ação de transição ofensiva e posterior ação ofensiva. Se, por circunstância do jogo os omissos acabam sendo acionados, restam-lhe os chutões – comportamento que não precisa de jogo qualificado para ser treinado.

Outro grande problema que escancara nossa distância do nível de jogo elaborado é a ação realizada após a perda da posse de bola no campo de ataque. Enquanto dois, três ou até quatro jogadores arriscam uma pressão desordenada no portador da posse de bola (o que pede uma distância não excessiva entre linhas da equipe de modo que a mesma não fique “espaçada”), um outro grupo de jogadores (que já não subiu o bloco) recua ainda mais na ânsia de proteger o gol, ou então, procura adversários distantes da bola para “ir à caça”.

Em organização defensiva a situação é deprimente. Não é difícil observar uma distribuição semelhante a que será identificada a seguir em relação à estratégia defensiva adotada: dos dez jogadores de linha, um não marca ninguém e, quando marca, ataca o portador da bola de qualquer maneira; três ocupam o espaço e marcam individualmente os jogadores que estão na sua área de atuação; dois acompanham até o final a descida dos laterais adversários e outros quatro alternam aleatoriamente combates desordenados, proteção do gol e marcações individuais.

Mas como modificar esses comportamentos de jogo? Qual a solução que pode ser posta em prática afim de melhorar o nível de organização do nosso futebol?

A solução está no elemento central da periodização: o nível de jogo atual da equipe. Hipoteticamente, uma determinada equipe apresenta um nível de jogo “X” identificado em cada um dos momentos do jogo.

Se, para um determinado momento do jogo, o treinador espera algum comportamento coletivo e o mesmo não está acontecendo com a frequência e qualidade de ações pretendidas fica evidente que, no referido problema, a equipe (unidade complexa) não está conseguindo interpretá-lo e resolvê-lo. Não consegue, pois os jogadores (elementos da unidade complexa) estão enxergando o problema de forma diferente. Como enxergam o problema de forma diferente, consequentemente responderão a ele também de forma diferente. Em termos sistêmicos, o produto/resposta será o “todo desorganizado”.

Esta equipe de nível de jogo “X” precisa de um treinador que identifique as falhas circunstanciais apresentadas nos momentos do jogo e que elabore as sessões de treino ideais para corrigi-las.

E as correções passam, necessariamente, pela construção de referências coletivas comuns para os onze jogadores.

Se o treinador conseguir fazer com que toda sua equipe, durante o maior tempo possível, jogue o mesmo jogo, o upgrade de organização será notável.

Com bons treinos e intervenções, gradativamente os jogadores passarão a apresentar o mesmo padrão de comportamento nas situações que se repetem no jogo e nos diferentes problemas do jogo. Então, a partir das diferentes referências do jogo (bola, alvo, adversário, espaço, ou qualquer outra que a comissão deseje criar), que serão comuns a todos os jogadores, um novo nível de organização está estabelecido.

Em toda essa construção, não se pode esquecer que os objetivos do treino devem incidir nas partes (fractais) específicas do jogo e que favoreçam o cumprimento da lógica do jogo. Somente dessa forma a construção das referências coletivas faz sentido.

Para exemplificar, como exemplos de referências coletivas: linha de marcação, zonas de pressing, perda da posse da bola, adversário chegar à faixa lateral próximo à zona de risco, escanteios a favor, recuperação da posse de bola, zonas de finalização, entre outras.

Quais referências coletivas você já construiu em sua equipe?

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Vila Belmiro, ambulância e interdição: aspectos jurídicos

Na quarta-feira, 17 de outubro, Atlético-MG e Santos duelaram na Vila Belmiro pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro quando, aos 27 minutos do primeiro tempo, logo após o segundo gol da equipe visitante, momentos de apreensão tomaram conta do estádio quando o zagueiro atleticano Rafael Marques se chocou com o companheiro Leonardo Silva ao tentar cabecear a bola e desmaiou.

Imediatamente percebeu-se a gravidade da lesão, mas o atleta da equipe mineira demorou dez minutos para deixar o estádio a caminho do hospital.

A demora se deu em virtude de um problema no acesso ao gramado da Vila Belmiro, pois um desnível de cerca de um metro entre o campo e o saguão do estádio impediu que a ambulância entrasse no gramado e fosse até o Rafael Marques.

Dessa forma, os médicos de Santos e Atlético-MG prestaram os primeiros socorros no local do choque até que o zagueiro fosse colocado numa maca que atravessou o gramado e entrou na ambulância e deixou a Vila.

Angustiados com a espera, jogadores das duas equipes gritavam por socorro, inclusive, Léo e Neymar chegaram a puxar placas de publicidade para que a ambulância entrasse no campo.

Rafael Marques foi levado para a Santa Casa de Santos com suspeita de traumatismo craniano. No final, tudo transcorreu bem e o atleta está bem.

Em virtude desses fatos, o procurador do STJD, Paulo Schmidt, requisitou as imagens da partida entre Santos e Atlético-MG e pediu a interdição do estádio da Vila Belmiro.

Diante do pedido, o presidente do STJD, Flávio Zveiter, concedeu a liminar e interditou o estádio até que uma nova vistoria e novos laudos sejam concedidos com o problema resolvido.

O Estatuto do Torcedor, em seu artigo 16, estabelece como dever da entidade responsável pela organização da competição disponibilizar uma ambulância para cada dez mil torcedores presentes à partida, donde se apreende que se trate de maquinário em perfeitas e completas condições de uso.

O legislador buscou trazer segurança a todos os envolvidos no evento, razão pela qual uma ambulância sem combustível, sem pneus ou sem acesso não atinge o espírito da lei.

Outrossim, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva assim dispõe em seu artigo 211:

– Deixar de manter o local que tenha indicado para realização do evento com infraestrutura necessária a assegurar plena garantia e segurança para sua realização;

– Pena: multa de R$ 100 (cem reais) a R$ 100.000 (cem mil reais), e interdição do local, quando for o caso, até a satisfação das exigências que constem da decisão.

Portanto, agiu acertadamente o STJD ao interditar a Vila Belmiro e, certamente, aplicando-se a legislação, o Santos deverá ser multado.

No intuito de liberar o estádio para partidas, o alvinegro praiano, no dia seguinte à interdição da Vila Belmiro iniciou obras para melhorar o acesso de ambulâncias ao gramado do estádio, mas a liberação depende de laudo da CBF.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Lições de uma derrota

Em geral, o fracasso no esporte ou em qualquer outra área de desempenho, tende a impactar diretamente em nossa autoestima. As sensações de uma derrota podem resultar na queda da autoconfiança, preocupação excessiva ou mesmo um grande sentimento de culpa. Numa ocasião em que uma equipe de futebol depara-se com uma derrota de um jogo importante ou talvez do jogo mais importante de uma competição uma pergunta vem à tona, o que fazer agora? Como recuperar este grupo? E talvez poucos reflitam e se perguntem: o que o grupo aprendeu com essa derrota?

Mesmo que pensamentos negativos tendam a dominar por completo a cabeça dos jogadores, não há nenhuma razão aparente para que isso aconteça. Deve-se lembrar de que o fracasso não é o grupo ou um atleta específico, mas sim alguma situação que estes estão passando no momento e que como toda etapa momentânea ela certamente se encerrará. Os grandes campeões também falharam um dia, ninguém está livre disto. Mas os grupos coesos, compostos por atletas comprometidos e com um objetivo comum desenvolvem estratégias para aprender e se beneficiarem dessas experiências.

Mas por onde começar? Quanto mais cedo os times e seus atletas que o compõem aprendem a reagir a obstáculos, adversidades e desafios de modo positivo e concentrado, melhor se sairão no próximo desafio. Qualquer momento infeliz numa partida pode gerar certo abatimento, mas também deve servir de lembrete positivo de que o time precisa se concentrar totalmente na próxima partida. Podemos traduzir isto em redirecionar a energia de modo mais produtivo e analisar atentamente os erros num momento mais apropriado. Devem-se repassar mentalmente alguns movimentos mais importantes, ou pontos de decisão, e com isso procurar extrair lições que ajudem a se concentrarem melhor da próxima vez. Isso serve como orientação para o atleta individualmente falando e também para o time, porque não? Caberia aqui perfeitamente uma visualização guiada, por exemplo, como exercício de aprendizado. As lições construtivas que cada um pode extrair desta análise cuidadosa fornecerão um preparo mental adequado para uma melhor atuação no futuro.

Mas é necessário deixar para analisar erros após os jogos, pois após uma jogada mal sucedida em campo o atleta certamente terá outra nova jogada a ser executada, para a qual ele precisará estar totalmente concentrado no jogo e poder exercer o melhor de suas habilidades. Os atletas devem estar orientando o foco para jogar, afastando-se do sentimento e raiva ou aborrecimento, pois esta emoção interfere diretamente na capacidade de concentração. A única forma e libertar seu corpo para uma performance excelente é eliminar de sua mente qualquer pensamento negativo sobre o passado ou futuro, livrando-se de toda a ansiedade e conseguindo se concentrar totalmente nas tarefas que ainda restam realizar e sobre as quais o atleta ainda tem controle.

É necessário manter o pensamento positivo e gerir a autoconfiança, sendo que para isso o ambiente no qual o time em recuperação está inserido é também fundamental para criar um cenário harmônico no qual os atletas possam encontrar um amparo adequado para o seu desenvolvimento.

Dietmar Samulski, psicólogo do Esporte e doutor em ciências do Esporte possui uma literatura de referência àqueles que desejam compreender melhor este cenário de recuperação da motivação. Neste vasto manancial podemos destacar a utilização de algumas medidas de automotivação, ou seja, medidas que qualquer pessoa pode aplicar assumindo o controle sobre seu próprio comportamento para regular seu nível de motivação do grupo. Dentre estas medidas temos as técnicas cognitivas que correspondem a todas as funções psíquicas como, por exemplo, o processo de percepção, imaginação e memória do indivíduo.

Mentalização das capacidades positivas, para criar motivação diante da situação-problema. Ex: “Eu consigo realizar isso” ou “Eu acredito na minha preparação”.

Mentalização de metas concretas, que consiste em mentalizar situações concretas de treinamento e competição, como os seguintes exemplos: “Eu posso melhorar meu rendimento com treinamentos intensivos” ou “Eu imagino o time conquistando o título”.

Deve-se também utilizar as técnicas de autoafirmação, sendo estas o reforço material e a manifestação interna do autoelogio.

Reforço positivo após boas ações, utilizando afirmações do tipo: “Eu estou feliz com meu rendimento” ou “Eu penso comigo: você realizou uma ótima partida”.

Antecipação mental de autoesforços, utilizando afirmações do tipo: “Eu ficarei feliz comigo mesmo” ou “Eu sugiro a mim: farei algo grandioso mais tarde”.

Antecipação de reforços externos, utilizando afirmações do tipo: “Eu penso no meu reconhecimento da imprensa” ou “Eu penso em um novo contrato de trabalho”.

Outra medida é a utilização de técnicas motoras, no qual podemos fazer os atletas reagirem ao desânimo por meio da movimentação.

Automotivação por meio do movimento e exercício. Ex: “Eu me tranquilizo me movimentando” ou “Eu corro na chuva, então me sinto incrivelmente forte”.

Participação ativa e autorresponsabilidade. Ex: “Eu participo ativamente do treinamento” ou “Eu participo no planejamento do treinamento, por isso treino mais motivado”.

E por fim, mas absolutamente importante temos as técnicas emocionais, pois determinados atletas estimulam-se essencialmente através de sensações e emoções positivas durante a execução do movimento.

A sensação de fluidez ou Flow-feeling, a sensação de alegria que ocorre durante a realização de uma atividade. Ex: “Eu corro como uma máquina perfeita” ou “Eu tenho o domínio completo sobre meus movimentos”.

A sensação de sucesso ou Winning-feeling, a sensação de sucesso durante a realização da atividade. Ex: “Sinto que o próximo chute sairá perfeito” ou “Durante uma partida sempre acredito que podemos ganhar”.

A sensação de união do grupo ou Group-feeling, um sentimento de identificação emocional com o grupo. Essa técnica promove um clima emocional positivo, gerando uma união do grupo em torno de um objetivo comum e a consequente satisfação de seus membros. Ex: “Sinto-me muito bem aceito e seguro neste grupo” ou “Identifico-me totalmente com o objetivo deste grupo”.

Bem, temos então razões de sobra para concluirmos que é possível um grupo aprender com uma derrota e através deste aprendizado tornar-se mais forte e preparado mentalmente para novos desafios.

Agora, cabe aos clubes através de seus gestores do futebol e de suas respectivas comissões técnicas lançarem mão de tais métodos para uma pronta e eficiente recuperação de seus times e aprendizado contínuo em tempo de competição.

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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O público nos estádios

Estudo recente da Pluri e divulgado no blog “Olhar Crônico Esportivo” (http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/10/23/os-100-times-com-maior-media-de-publico-do-mundo/) mostra a triste realidade do Brasil quanto à média de torcedores por equipe que acompanham os jogos de futebol nos estádios.

O debate é amplo e já foi levantado algumas vezes em colunas aqui na Universidade do Futebol. O fato é que o país do futebol apresenta índices pífios quando olhamos para a frequência de pessoas que vão, in loco, ver seus times jogarem.

A explicação parte da soma de um conjunto de fatores. Destacamos três deles: (1) preços de ingresso Premium e serviços de péssima qualidade; (2) insegurança e dificuldade de acesso à grande maioria dos estádios; (3) comunicação, por parte dos clubes, de que o que interessa é o resultado esportivo e não o mote do entretenimento.

Este é um dos grandes paradigmas para se trabalhar no futebol brasileiro. Sem público não há futebol de qualidade.

Sem público não há, inclusive, transmissão de jogos pela televisão de maneira atrativa para quem o assiste. É preciso uma intervenção ampla para uma mudança deste cenário em um futuro de curto/médio prazo.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O fenômeno Zizao

Chen Zhizhao tem 24 anos, nasceu em Guangdong (China) e podia andar totalmente incólume pelas ruas do Brasil até janeiro deste ano.

Agora, o jogador de futebol é tema de 277 verbetes do site de buscas Google, em registros que relatam a primeira visita dele ao Mercado Municipal de São Paulo e a avaliação que ele fez da tradicional feijoada.

Contratado pelo Corinthians, Zhizhao virou Zizao e foi descrito pela diretoria alvinegra como a principal estratégia do clube para ganhar espaço no mercado asiático. Assinou um vínculo de dois anos com a equipe do Parque São Jorge e recebeu a camisa 200, alusão ao 200º aniversário da chegada dos primeiros imigrantes chineses no Brasil.

Só que o plano inicial tinha uma série de furos. A começar pelo próprio Zizao, que nunca foi um ídolo ou um jogador renomado no futebol da China.

O esporte, aliás, é outro entrave. O governo de Deng Xiaoping impõe severas restrições a aglutinações populares superiores a dez mil pessoas, e isso sempre brecou o desenvolvimento de algumas modalidades no país.

A liga chinesa de futebol evoluiu muito na última década, é verdade, e atraiu estrelas como os atacantes Anelka e Drogba. Mas nem isso conseguiu fazer do futebol um fenômeno de popularidade no país.

Com Zizao aconteceu o contrário. O chinês causou furor desde que chegou ao Corinthians, sobretudo por ser um enorme ponto de interrogação. Foi como se o time tivesse contratado um extraterrestre.

Entre lesões, deficiência técnica e a necessidade de um fortalecimento físico, Zizao ficou praticamente oito meses no Corinthians até estrear. Jogou apenas 13 minutos na derrota por 2 a 0 para o Cruzeiro, válida pelo Campeonato Brasileiro, e não tem qualquer perspectiva de ser aproveitado novamente.

Ainda assim, o chinês sempre foi notícia. Se Zizao vai para o banco, todo mundo fala. Se ele é cortado, todo mundo fala. Ele é assunto quando treina bem, quando treina mal e até quando vai conhecer pontos turísticos da cidade.

O projeto de usar Zizao como trampolim para fazer o Corinthians ser mais conhecido na China ainda não evoluiu. E mesmo se o nome do clube começar a repercutir mais no país asiático, isso é insuficiente.

Sem uma estrutura para transformar isso em marketing e negócios, a fama será passageira. Fazer com que o consumidor veja uma vez o nome de um clube não é sinônimo de fazer com que o consumidor conheça o clube, entenda a marca e tenha desejo de comprar.

A falta de uma estrutura consolidada para aproveitar o mercado chinês reforça a ideia: Zizao é um fenômeno, sim, mas no próprio Brasil. É aqui que o anti-herói virou protagonista e ganhou holofotes.
E aí entra um trabalho muito bem feito do departamento de comunicação do Corinthians, que soube transformar Zizao em conteúdo. Todos os passos do atacante foram seguidos, documentados e reverberados em diferentes meios de comunicação.

A importância disso é enorme. O trabalho feito com Zizao, aliás, é o ideal para todos os atletas, independentemente do esporte ou do time que eles defendem.

Para ser comercialmente relevante, qualquer esportista precisa gerar conteúdo. É isso que faz de Neymar o sonho de todo anunciante no Brasil. Tudo que ele faz vira notícia, e tudo que ele fala vira bordão.

É evidente que o perfil do atleta tem grande percentual nesse trabalho. Zizao chama atenção por ser inusitado, jogador oriundo de um país sem tradição futebolística no time mais popular da maior cidade do país do futebol.

Neymar é protagonista, é a maior esperança nacional em muitos anos e ainda sintetiza todo o estereótipo de futebol criativo que sempre foi motivo de orgulho no Brasil. Mas isso não pode ser tudo.

Assim como em qualquer romance, ter protagonistas bem construídos e que sejam interessantes é um requisito para o sucesso. Contudo, é fundamental saber o que fazer com esses personagens. Não há estrela que segure um roteiro capenga.

É nesse ponto que entra a comunicação. De um lado, quem trabalha com os atletas e com os clubes precisa planejar e pensar em como gerar discussão sobre qualquer minúcia na vida do personagem.

De outro, as redações convivem constantemente com sugestões e tentativas lícitas de “vender” assuntos. O desafio é pinçar nesse grupo o que é realmente relevante.

Ainda sobre Neymar, um bom exemplo foi dado pela Red Bull. Patrocinadora do atacante, a fabricante de bebidas energéticas deu a ele um simulador de Fórmula 1.

O brinquedo foi um presente de aniversário, e o próprio jogador divulgou isso na rede social Twitter. A imagem do mimo (e o logotipo da marca, consequentemente) apareceram em sites e jornais de todo o país.

Um exemplo menos comercial e mais estratégico foi dado pelo Palmeiras. Convocado para defender a seleção argentina, o atacante Hernán Barcos levou uma camisa do clube e presenteou Lionel Messi, do Barcelona, que posou para fotos com o presente.
Isso virou assunto num momento em que a equipe alviverde enfrentava uma crise técnica e convivia com resultados ruins em campo.

A comunicação pode servir para aumentar a repercussão de uma marca ou até para abafar momentos ruins. Tudo depende de uma estratégia correta para manipular a mídia.

O caso de Zizao sintetiza tudo isso. Principalmente porque o departamento de marketing usa há anos a exposição de mídia para balizar contratos e valores de patrocínios.

Se audiência e tamanho do espaço dedicado ao clube são argumentos de venda, o chinês ocupa atualmente um posto que já foi de Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano em anos anteriores. A principal função que ele tem atualmente é gerar assunto nos momentos em que o futebol não é suficiente para isso.

E há como evitar Zizao? Essa é a discussão que as redações precisam ter urgentemente. Jornalistas brasileiros têm adotado postura cada vez menos ativa, mais dependente de assessorias de imprensa.

O casamento de fulano é nota em jornal porque a equipe de comunicação dele enviou fotos e texto. Outra personalidade vira assunto na mídia porque foi à praia ou terminou um relacionamento.

Todos os exemplos do parágrafo acima são mais frequentes em páginas de celebridades, mas têm aparecido mais no esporte na medida em que os atletas têm se transformado em estrelas.

Uma coisa tem relação direta com a outra. O fato é: os assuntos triviais e a vida pessoal dos ídolos têm público. E se bem trabalhadas, essas informações podem até contribuir para “humanizar” o personagem.

Nessa disputa por relevância, o papel de quem planeja a comunicação está claro, ainda que nem sempre seja bem feito. As redações é que precisam fazer uma autoanálise. Ou então vamos seguir convivendo com ídolos fabricados na China.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Treinando a eficiência de jogo: gasto energético complexo vs distâncias percorridas em partidas de futebol

Carros, motos, ônibus e caminhões são meios de transporte (de pessoas, animais e/ou cargas em geral) que estão espalhados (e – por que não? – abarrotados), trafegando por todo o planeta Terra.

Apesar de todos os avanços tecnológicos, engatinham, de certa forma, as transformações que, voltadas para esses veículos, deveriam torná-los mais eficientes sob o ponto de vista energético.

Em um carro popular, por exemplo, boa parte da energia gasta por ele (pelo carro) é utilizada justamente para deslocar seu próprio peso (vou usar a palavra “peso”, somente por questões didáticas).

Isso quer dizer que grande parte do combustível depositado em seus tanques é utilizado para superar a grande carga que o carro por si só, já representa.

Se você tiver como peso (massa corporal total) 80 quilos e seu carro popular pesar 800 quilos, por exemplo, veja que interessante:

  • Vamos supor que esse carro consiga percorrer 120 quilômetros com 10 litros de etanol (consumo médio de 1 litro a cada 12 quilômetros – [12 km/l]) quando você está dirigindo. Esses 10 litros são responsáveis por gerar energia para transportar você (sua massa de 80kg) mais a do seu carro (800kg) por 120 km. Mas o interessante é que dos 10 litros, aproximadamente 9,1 litros são consumidos para deslocar a massa do carro e apenas 0,91 litro, a sua.

Isso quer dizer que a eficiência para transformar o combustível em energia útil para aquilo que o veículo se destina é muito baixa.

Pois bem. E o que é que o consumo de combustível dos veículos automotores tem a ver com o futebol?

Vamos lá.

O que motivou a escrever o texto desta semana foi um debate que ouvi recentemente em um programa esportivo de uma emissora de rádio (aliás, só para constar, gosto muito de ouvir os debates esportivos em programas de rádio Brasil afora).

No programa em questão, dois jornalistas e um “especialista” discutiam a respeito das distâncias percorridas pelos jogadores de futebol em partidas dos campeonatos Brasileiro, Argentino, e da Uefa Champions League.

A certa altura, em um consenso raro durante o programa, todos concordaram que equipes de altíssimo nível possuem jogadores que estão mais habilitados a percorrem maiores distâncias em partidas de futebol e, mais ainda, jogadores de equipes melhores correm mais vezes em alta velocidade ao longo de um jogo, do que jogadores de equipes medianas.

Não sei ao certo se estavam, os jornalistas e o especialista, com alguma informação em mãos e, em caso positivo, qual a fonte dessas informações. O meu objetivo aqui nesse texto não é concordar ou contestar o que foi dito no programa. O que quero é propor uma reflexão (fazer uma provocação).

Aceitemos a ideia de que, em um jogo de futebol, um sem número de situações-problema surge a todo o tempo. Com ou sem bola, jogadores precisam tomar decisões acertadas muito rapidamente e agir de maneira eficaz para obter êxito.

Imaginemos que dentro dessas situações-problema, os jogadores precisam, individual e coletivamente, resolver simultaneamente o que devem fazer.

Para alguns jogadores, um problema aparentemente fácil de ser resolvido pode se transformar em uma exigência muito grande – terão que realizar grande esforço e gastarão muita energia complexa.

Para outros, o contrário. Um problema emergencial de jogo muito exigente (difícil) acaba sendo resolvido de maneira aparentemente “simples” (usei a palavra “simples”, apesar de saber que ela não é a mais adequada), sem muito esforço ou gasto complexo de energia.

Bom, e aí chego ao ponto desejado.

Será que jogadores mais bem preparados e mais hábeis para resolverem situações-problema do jogo não seriam também mais eficientes, sob o ponto de vista energético-complexo? Será que eles poderiam conhecer os “atalhos” e conseguiriam, com menor gasto, resultados melhores na gestão das circunstâncias desafiadoras do jogo?

Penso que a resposta para as duas questões – me pautando em dados que venho coletando – é “sim” (é bem possível e provável).

Claro, não espero, a partir apenas de dados sobre distâncias percorridas em baixa, média ou alta velocidade tirar conclusões a respeito disso.

Não quero, tampouco, dizer que jogadores que apresentarem, então, menores valores na “quilometragem” de jogo, resolvem melhor os problemas emergentes nele. Não é isso!

Gostaria apenas que pudéssemos refletir um pouco sobre o tema.

A eficiência energética complexa de um jogador transcende o quanto ele corre em um jogo e pode, ou não, ter algum tipo relação direta com distâncias percorridas por um jogador “A” ou por um jogador “B”.

Talvez o treinamento físico-técnico-tático-psicológico do futebolista devesse estar preocupado em tornar o jogador eficiente, econômico. E eu não quero dizer com isso que o jogador deve ser preparado para aprender a não se entregar ao jogo, se poupar. Não!

Se for o caso, claro, o jogador deve estar apto a percorrer 12, 15 quilômetros, por que não?

O que quero dizer é que se queremos tornar nossos jogadores eficientes, devemos condicioná-los para canalizar adequadamente a energia gasta e, para isso, acima de tudo, ensiná-los a tomar as decisões corretas, de maneira rápida, e adequadas às suas possibilidades de ação.

Desperdiçar energia sempre será um problema no curto, no médio e no longo prazo. Pensemos nós nos nossos carros ou na ação de um jogador de futebol.

Por hoje, é isso…
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
 

 

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Kaizen e a aplicação do método de treino

As reflexões acerca da atualização da metodologia de treinamento em futebol estão cada vez mais constantes. Ainda que muitas vezes embrionárias, devido às limitações de entendimento dos mediadores das discussões nos ambientes em que elas estão surgindo, o fato é que pensar a prática está para além do ambiente acadêmico e de um pequeno grupo de profissionais que atuam fundamentados nas tendências da pedagogia do esporte. Está ficando cada vez mais comum na mídia a presença de discussões que envolvem, mesmo como pano de fundo, as questões metodológicas do processo de treinamento da modalidade.

Exemplos não faltam: seja com a participação de Bruno Pivetti, preparador físico do Audax-SP, no canal Band Sports; no questionamento recente feito por um jornalista sobre a realização de treinos táticos ao treinador Muricy Ramalho; ou então a participação de Eduardo Tega, diretor executivo da Universidade do Futebol, no programa “Segredos do Esporte” comandado por Paulo Calçade; dia após dia, aumenta-se o espaço na mídia para uma das questões essenciais do processo de mudança/adaptação do futebol brasileiro.
 


 

Como os gestores de campo são milhares espalhados por esse país e nem todos, por motivos diversos, têm acesso ao conhecimento científico, a mídia adquire um papel fundamental com a missão de informar (e instigar) os profissionais do futebol sobre o que é atual em relação às questões metodológicas do jogo (e do treino), além de quais trabalhos estão sendo aplicados sob esta nova perspectiva e que estão obtendo sucesso.

Sabemos que o “peso” da mídia é maior do que o dos pesquisadores do futebol. Tê-la como catalisadora pode aumentar o poder de convencimento sobre os desinformados, desinteressados ou alheios às modificações por medo, acomodação, crenças ou quaisquer outros motivos.

Ter a mídia afirmando que os treinamentos em “caixas de areia” estão ultrapassados é muito mais impactante que um artigo científico com acesso, de certa forma, restrito. Um canal televisivo conceituado divulgar que os treinamentos analíticos não favorecem o desenvolvimento da inteligência do jogo é muito mais “forte” que qualquer monografia sobre o assunto. Um comentarista esportivo comentar que uma boa parte dos treinadores brasileiros estão equivocados quanto aos seus métodos de treino, tem proporções infinitamente superiores se comparadas a uma aula de graduação em que um docente faça este mesmo comentário.

E em todo este processo, essencial para a ruptura de paradigma do grupo de profissionais supracitados, não pensem que as mudanças se darão repentinamente. É um processo que leva anos! Bem que poderia ser simples a transformação da atuação/intervenção profissional da fragmentada para a sistêmica, da reducionista para a complexa.

Poderia, mas não é.

Se você faz parte do grupo de profissionais desatualizados (pouco provável, pois dificilmente estaria acompanhando o site da Universidade do Futebol), não se desespere. Buscar o novo, o atual, num processo de aprendizagem que durem meses ou anos, será recompensador. Já se você está atualizado, mas conhece qualquer profissional que se encaixe num desses perfis (bem mais provável), mexa-se e aponte os caminhos (midiáticos e não somente acadêmicos) que podem gerar o despertar desse profissional.

Quem sabe um dia será possível conseguir uma significativa capacitação de todos os profissionais que atuam no futebol!

Se todos praticássemos o conceito japonês Kaizen, que significa mudança para melhor, seguramente as mudanças seriam rapidamente observadas, pois a melhoria contínua seria um hábito cotidiano.

E se equivoca quem pensa que o exercício de melhora contínua é prática corriqueira no grupo dos atualizados. Como bem publicou Bruno Pasquarelli, nosso país sofre uma crise acadêmica em relação ao futebol por formular incessantemente problemas/questões relativas ao mesmo paradigma. Pesquisamos, publicamos, gastamos o nosso precioso tempo para aquilo que já sabemos a resposta e, consequentemente, não saímos do lugar. Um absurdo e uma obviedade: não melhoramos!

Pergunto-me frequentemente nesses quase dez anos que estudo futebol (seis com maior aprofundamento) se estou atualizado. A julgar pelo número de dúvidas que tenho sobre o exercício da minha profissão, por vezes temo que a resposta seja não.

Não paro, pois olho pra trás e vejo que encontrei muitas respostas sobre as voltas ao redor do campo, os treinos sem adversários, as primeiras leituras inquietantes na universidade, as avaliações físicas, o treinamento integrado e sobre o treinamento sistêmico.

Não paro, pois sei que no futuro também olharei para trás e verei as respostas sobre as dúvidas que tenho no presente.

Agradeço à expressão Kaizen!
 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Bruno Pivetti, preparador físico do Audax São Paulo e autor do livro “Periodização Tática: o futebol arte alicerçado em critérios”