Categorias
Sem categoria

Corrupção na Fifa: como fica o futebol?

Na última quarta-feira o mundo amanheceu assombrado com a prisão, por corrupção, de sete dirigentes do alto escalão da Fifa. A prisão se deu faltando dois dias para a eleição da entidade e foi criteriosamente arquitetada para deter os dirigentes que estariam reunidos e hospedados no mesmo hotel, em Zurique.

Dúvida sobre a idoneidade da Fifa não é algo recente. O jornalista escocês Andrew Jennings, em 2006, publicou o livro “Foul!: The Secret World of FIFA: Bribes, Vote Rigging and Ticket Scandals”, traduzido para o português como “Jogo Sujo, o mundo secreto da FIFA: Compra de votos e escândalo de ingressos”, onde descreve histórias de falcatruas, subornos, armações, compra de votos, de ingressos para os jogos da Copa do Mundo, de fraudes na escolha de países-sede dentre outros esquemas.

Os fatos que ocasionaram as prisões foram investigados pelo FBI (Polícia Federal dos EUA), já que eventuais subornos e pagamentos se deram em território norte-americano. De certo, os detidos não contavam com a exímia capacidade investigativa da polícia dos EUA e, muito menos, com a celeridade processual, já que a ação penal foi proposta no dia 20 de maio, em Nova Iorque e as prisões se deram sete dias depois, na Suíça.

Os EUA estão começaram a tomar gosto pelo futebol e é praticamente unânime o entendimento de que em médio prazo passarão a figurar entre as maiores seleções do mundo. Entretanto, não se esperava que a revolução imposta pela eficiência ianque iria para além das quatro linhas a ponto de estremecer a poderosa FIFA.

Em um primeiro instante, sem dúvidas, arranha-se a imagem do futebol e gera-se a incômoda sensação de que a corrupção possa ter interferido até em resultados.

Mas, se hoje o futebol “chora”, amanhã ele “sorrirá”, pois as medidas adotadas pela Justiça norte-americana auxiliarão estrondosamente a transparência e a lisura na administração do esporte mais popular do mundo.

Aqui, no Brasil, é importante aprendermos e viabilizarmos uma Justiça célere e efetiva, bem como uma imparcial investigação dos meandros das entidades administradoras do futebol, a fim de que, rapidamente, os nomes mais badalados do esporte bretão possam ser os craques e não os dirigentes nas atividades extracampo. 

Categorias
Sem categoria

Ciranda, cirandinha no futebol

Mais uma vez estamos vendo a reprodução da canção popular “Ciranda Cirandinha” no futebol brasileiro, ou seja, a ciranda dos técnicos nos clubes que disputam o campeonato brasileiro da série A.

Apesar de terem se passado apenas três rodadas, os clubes já se movimentam, demitem seus comandantes e partem em busca por novos profissionais para comandar suas equipes.

O curioso é percebermos que os técnicos que ontem figuravam como os profissionais mais adequados para atingir as metas do clube e que contavam com a confiança do grupo de gestão em seus clubes, rapidamente passaram a ser o principal problema pelo desempenho inicialmente ruim de suas equipes.

Se pensarmos em nossa vida cotidiana, os gestores muito se assemelham à alguns motoristas dirigindo seus automóveis em dias de engarrafamento nas grandes cidades.

É comum vermos um motorista mais impaciente trocar de faixa da esquerda para a direita acreditando que a outra faixa está evoluindo numa velocidade maior do que a que ele estava. Porém, quando ele passa à faixa ao lado, logo cria a percepção de que a faixa anterior está evoluindo melhor e por aí segue, trocando de faixa sucessivamente em busca de conseguir atingir mais rapidamente seu objetivo no trânsito.

Os gestores muitas vezes pensam da mesma forma e buscam nos outros clubes opções de comando técnico que aparentemente trarão melhor desempenho para suas equipes, mas na maioria das vezes isso não se materializa ou não se sustenta por muito tempo. O clubes acabam passando o ano com dificuldades para obter melhores resultados e invariavelmente brigam apenas para se manterem na mesma divisão do Campeonato Brasileiro.

É ou não é a verdadeira “Ciranda, cirandinha” representada no futebol? Um sai, outro vem e muita coisa não muda na situação atual de cada clube na tabela.

De fato, nos resta refletir se realmente a melhor alternativa para os clubes é se antecipar aos primeiros sinais de baixo desempenho e promover rapidamente uma troca de comando, ou se é ter um pouco mais de paciência, validar a confiança no trabalho que está sendo desenvolvido e aguardar um pouco mais para que o trabalho amadureça e apresente seus melhores resultados. Ah, levando em consideração que o material humano disponível (no caso os atletas) não muda com a troca de comando, são os mesmos comandados que serão corresponsáveis por obter na prática melhores e diferentes resultados dentro de campo.

E aí, amigo leitor, na sua opinião qual pode ser a melhor alternativa?

Até a próxima. 

Categorias
Sem categoria

Engajamento do torcedor

Há um hábito, nos últimos tempos, em criticar ou apontar erros nos departamentos de marketing dos clubes pela sua inoperância ou ineficiência. E é fato! Precisamos evoluir muito em termos de ações de engajamento e aproximação junto ao torcedor/consumidor. Mas quando aparecem boas práticas, é preciso destacar para servir de modelo com a finalidade de evoluirmos como indústria.

Para tal, vou citar o início de uma campanha de conscientização do torcedor feita pelo Joinville Esporte Clube. O mote é “# Tô Fechado com o JEC”, que procura abrir um ponto de reflexão no sentido da cobrança por resultados esportivos do clube na sua volta a Série A do Campeonato Brasileiro (veja o vídeo aqui: http://globotv.globo.com/rbs-sc/jornal-do-almoco-sc/v/joinville-lanca-campanha-to-fechado-com-o-jec/4192240/).

O sentido é fazer com que o torcedor siga apoiando o clube independente do resultado dentro de campo. E é exatamente a isso que se presta um bom departamento de marketing de clube de futebol: desenvolver um trabalho que transcenda os resultados esportivos.

Logicamente, a campanha é tanto arriscada quanto ousada. O risco está, principalmente, se a performance da equipe for muito aquém do previsto, podendo virar alvo de torcedores rivais contra os do JEC. Mas estes pormenores do universo do futebol não podem inibir a liberdade criativa e os projetos necessários para melhorar o relacionamento do clube com o seu consumidor.

O que de fato acredito é que a ousadia poderá trazer frutos muito mais positivos do que negativos. E esse é o seu grande valor em uma campanha que percorre essa linha tênue! Reforçar a paixão do torcedor pelo clube através da campanha poderá gerar reflexos muito bons no presente e no futuro, como maior participação nos programas de sócio torcedor do clube, venda de produtos licenciados e ativações diferentes por parte dos patrocinadores.

O ambiente do futebol brasileiro precisa de ações mais efetivas para dialogar de forma mais clara e direta com o torcedor. Que bom, também, que podemos começar a citar exemplos de clubes com impacto regional. Isto é um bom indicador que as coisas podem evoluir muito bem em um futuro próximo à medida que os clubes começarem a ver os seus departamentos de marketing como “Centro de Investimento” e não como “Centro de Custos”! 

Categorias
Sem categoria

Agenda positiva

Um amigo meu costuma dizer que “nós não vivemos mais na Era da Dúvida”. Instantes depois, desliza os dedos em alguns movimentos na tela de um smartphone e apresenta resposta para questões que anos antes perdurariam por horas – o autor de um gol numa partida histórica, o filme que ganhou o Oscar em determinado ano ou o autor de uma frase marcante, por exemplo. O advento da internet proporcionou uma disseminação inigualável da informação, e isso transformou o controle dos dados em grande diferencial. O problema é que o esporte muitas vezes não entende isso.

Hoje em dia, qualquer dado está a poucos cliques de distância. Com um acervo tão vasto à disposição, vivemos um período em que o controle da informação é a grande moeda: saber como tratar, entender o que é relevante e ter relevância (credibilidade + popularidade + popularidade com os nichos certos).

Um dos pilares desse controle é o trabalho reativo, que muitas vezes é baseado em administração de crise. Pensar em gerenciamento de informação demanda criar uma estrutura para conter vazamentos e direcionar o que é publicado sobre determinado assunto, mas também inclui um esforço para minimizar o que foge desse espectro.

É o que acontece em um escândalo, por exemplo. Uma equipe de comunicação tem de montar estratégias para minimizar denúncias, preparar porta-vozes e estruturar contragolpes para reduzir o impacto de algo que já é negativo.

O ponto aqui, contudo, é outro: o trabalho proativo. O esporte brasileiro tem bons exemplos de gerenciamento de crise, mas quais são os esforços para criação de agenda positiva? Já falamos inúmeras vezes sobre a falta de cultura de promoção de evento, e esse é um aspecto nevrálgico para a deficiência.

O Campeonato Brasileiro, principal torneio do futebol brasileiro, já teve três rodadas em 2015 e serve como exemplo. A média de gols (2,00 por jogo) é a pior desde 1990, e o público não chega a 13 mil por partida (12.968, para ser exato), com taxa de ocupação de estádios em torno de 28%.

As histórias do início da temporada são negativas. É um campeonato de baixo nível técnico, com estádios vazios e times grandes em momentos conturbados (Corinthians, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Palmeiras e São Paulo, por exemplo). A quantidade de notícias ruins sobre o certame é infinitamente maior do que o volume de críticas. Agora pense: o que é feito para mudar isso?

Sport e Goiás, times que ocupam as duas primeiras posições da tabela, são dois bons exemplos de histórias que podiam ser mais bem contadas. Além de tudo, são elencos com boas opções de personagens.

No entanto, quais são os grandes jogadores de cada uma das equipes? O que eles fazem para ter um índice de ascendência que extrapole suas próprias torcidas? Trabalhar apenas com o público que já consome sua marca é fácil, mas contribui pouco para o evento no sentido institucional.

Um projeto eficiente de comunicação no esporte tem de ser totalmente alicerçado em protagonistas. O contato direto e bem feito de atletas com o público ainda é a melhor forma de vender uma ideia. Qualquer liga estruturada entende isso.

E o Campeonato Brasileiro? O que o torneio faz para criar uma agenda positiva e garantir que as pessoas tenham uma percepção favorável sobre o que está acontecendo? Que tipo de controle é exercido sobre a informação?

A resposta é “nenhum”. O futebol brasileiro simplesmente não controla a informação. Não há um projeto direcionado a aproveitar melhor os bons personagens ou as boas histórias. Não há qualquer esforço para que as pessoas falem bem do produto.

Agora tente transportar essa lógica para a publicidade – ignorando uma série de particularidades das duas áreas, é claro: qual empresa se contenta em mostrar um produto apenas a pessoas que já têm pré-disposição para comprá-lo, e ainda por cima não faz qualquer esforço para falar bem da marca? É isso que acontece no Campeonato Brasileiro.

O mercado americano tem dado dois bons exemplos contrários. O primeiro vem da NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos. A competição tem uma temporada regular arrastada, que muitas vezes é criticada por questões técnicas e físicas, mas é inegável o esforço para gerar conteúdo. Isso fica ainda mais nítido em períodos como o atual, perto do término da disputa.

Você não precisa acompanhar a NBA para ter ouvido falar em nomes como James Harden, LeBron James e Stephen Curry, por exemplo. E mesmo se você não ouviu os nomes ou não viu os conteúdos gerados pela liga sobre seus protagonistas, certamente viu as imagens deles em alguma peça publicitária do torneio, dos times ou dos parceiros.

A temporada da NBA está a poucos jogos do desfecho. O conteúdo sobre a liga, contudo, extrapola demais o limite imposto pelo calendário. Essa é uma lição relevante.

Outro exemplo foi dado pelas 500 Milhas de Indianápolis. Veja: é apenas uma etapa de uma categoria que nem de longe é um fenômeno mundial de popularidade no automobilismo. Ainda assim, é uma marca extremamente relevante, que desperta interesse muito além dos fãs do esporte.

As 500 Milhas de Indianápolis são, na verdade, um evento que dura 30 dias, com uso do circuito para shows, apresentações de diversos esportes e diferentes formas de interação com o público. A corrida é apenas um detalhe nesse projeto todo.

Com uma programação tão extensa, o evento movimenta o noticiário local e atrai consumidores que não são apenas os apaixonados por corrida. É uma chance perfeita para aumentar a base de vendas.

Além disso, trata-se de uma forma de ampliar a relação de patrocinadores com o público, reduzindo a importância da exposição de mídia para essas marcas. É algo que aumenta consideravelmente o valor associado aos aportes, portanto.

O Brasil, o tal país do futebol, não consegue lotar estádios em sua principal competição nacional e não consegue fazer com que o evento seja notícia por motivos positivos. Achar que a simples paixão do povo pelo esporte vai ser suficiente para virar esse jogo é ingenuidade demais ou preguiça demais.

Categorias
Sem categoria

Boca, River, rivalidade e violência

Boca e River protagonizam a maior rivalidade da Argentina e uma das maiores do mundo. Esta rivalidade atingiu o ápice da violência no confronto válido pelas oitavas de final da Libertadores da América, quando um torcedor do Boca, dono da casa, lançou gás de pimenta no túnel de jogadores do River. O incidente culminou com decisão do Tribunal Disciplinar da Conmebol que eliminou o Boca Jrs da competição.

Fundado em 1901, o River Plate é fruto da fusão de dois clubes amadores de Buenos Aires e, nos anos 30 adquiriu a alcunha de “Millionarios” devido ao elevado número de associados que garantia ao clube uma receita considerável.

O Boca Juniors, por seu turno, foi fundado em 1905 por imigrantes italianos que residiam no bairro de La Boca, região menos abastada de Buenos Aires. Sua origem ligada à população humilde trouxe ao clube grande identidade com o povo.

A rivalidade acentua-se no paradoxo socioeconômico estabelecido entre os clubes.

No intuito de banir a violência que ronda o confronto, passou-se a adotar as torcidas únicas. Entretanto, como se percebeu e já era previsto pelos pesquisadores, tal medida não é eficaz no combate à violência nos estádios de futebol.

Ora, a paz nos estádios de futebol necessita de medidas pedagógicas, bem como punição célere e efetiva, dentre outras.

Não obstante, os dirigentes e as autoridades buscam restrições ao álcool e torcida ao invés de atacar o problema na sua raiz.

No caso em comento, a Conmebol acertou ao punir o Boca com a eliminação e perda de mandos de campo e, ainda, demonstrou significativa evolução desde que seu Tribunal Disciplinar foi criado, eis que no incidente do Corinthians, em 2013, na Bolívia onde ocorreu uma morte, a punição havia sido extremamente branda.

O futebol sul-americano precisa extirpar a violência de seus estádios de forma a valorizar seu produto e fortalecer seus clubes, caso contrário cada dia perderão mais torcedores e telespectadores para o futebol europeu.

Categorias
Sem categoria

Equipes em armadilha

Mal começou o Campeonato Brasileiro de futebol deste ano e já nos deparamos com a primeira demissão de um treinador. Após apenas duas rodadas, o primeiro técnico de um clube da série A já deixou o comando do seu clube.

O que terá acontecido para que os resultados esperados não se materializassem?

Sabemos que este tipo de situação se manterá presente durante a competição, seja para um ou outro clube. Mas como se prevenir de algumas questões que podemos considerar como armadilhas que os times estão sujeitos a passar, conforme as citadas por Patrick Lencioni em seu livro “As cinco disfunções de um time”.

Quero citar uma destas cinco armadilhas como um ponto de importante análise por parte das equipes de seus treinadores – “a falta de confiança”. Esta armadilha é como se fosse a causa raiz de problemas que causam a partir dela uma certa quantidade de efeitos colaterais para o time.

Se pensarmos na palavra confiança, podemos compreende-la como a crença de que as pessoas de quem dependemos irão realmente cumprir com nossas expectativas. A confiança está lastreada em 3 pilares básicos:

• Resultados
• Demonstração de preocupação
• Integridade

É raro um time conseguir uma relação de confiança que resista a resultados insuficientes dentro de campo, assim podemos entender que o resultado pode ser considerado uma premissa para que a confiança se instale em qualquer grupo de atletas. Em relação a preocupação, toda vez que uma pessoa se preocupa com outra, demonstra todo esforço dedicado a cumprir com as expectativas do outro, estimulando assim a criação de um elo de segurança que sustentará a relação de confiança entre os membros do grupo. A integridade se qualifica como uma palavra que pode ser decomposta em Ética, Honestidade, Consciência e Responsabilidade.

Nos grupos em que a confiança se faz presente, os atletas demonstram comportamentos como por exemplo:

• Pede ajuda a outro membro do grupo
• Aceita sugestões de pessoas externas
• Admite fraquezas e erros
• Fornece o benefício da dúvida antes de concluir algo pelo simples julgamento do outro
• Cumpre as expectativas dos outros e informar quando não irá conseguir cumpri-las
• Aprecia as competências compartilhadas dos membros do grupo

Neste sentido, o papel do treinador pode ser fundamental pois a confiança nunca é adquirida do dia para a noite, irá requerer que o grupo dedique seu tempo juntos e que efetivamente possam tratar francamente suas vulnerabilidades. Seguindo nessa direção o treinador poderá exercer um papel de integrador e também de membro deste grupo, criando elos duradouros de segurança com seus atletas, para que possam aceitar as vulnerabilidades da equipe e com isso possam admitir que algo de melhor possa ser feito em termos de evolução tática e técnica dentro de campo.

E aí amigo leitor, concorda que esta armadilha poderá estar presente durante todo o campeonato?

Até a próxima. 

Categorias
Sem categoria

Bolhas de gestão

A gestão do esporte entrou definitivamente na pauta dos principais programas e reportagens sobre o esporte nos últimos tempos. Ainda que, por vezes, muitos dos argumentos são construídos de maneira empírica, é inegável como este tem sido um tema recorrente, a ponto de se tornar pauta, também, dos “papos de botequim”, o que evidencia a sua “popularização”. Não são raros os programas que passam do debate das quatro linhas do jogo para falar de patrocínio, finanças e política dos clubes de futebol.

Bom por um lado, uma vez que passamos a começar a olhar os resultados de campo de uma maneira diferente, a partir de uma percepção mais cética, cautelosa e ampla. Muito ruim, porque, ainda, existem muitas percepções completamente distorcidas da realidade vivida pelos clubes de futebol do país e dos significados sobre os conceitos de gestão do esporte, o que atrapalha em certas circunstâncias o desenvolvimento desejado para as organizações do esporte.

No que diz respeito a forma e aos casos relacionados a gestão dos clubes, uma definição que para mim começou a ser convincente no ambiente de diálogo com colegas (especialistas ou não da área) ou alunos ou mesmo individualmente, para analisar os fatos, é o que passei a chamar de “Bolha de Gestão”.

O significado deste conceito é que a gestão por especialistas ainda não se tornou uma cultura enraizada nos clubes de futebol, passando por processos de altos e baixos. São levados ao sabor do vento sob as crenças e atitudes de grupos que passam pelo clube a cada ciclo eleitoral, ou seja, quando há um grupo político disposto a melhorar a forma como as coisas funcionam, conseguem fazê-lo por um curto período de tempo, até a chegada de um novo que, com pensamentos diferentes, podem dar continuidade, com aperfeiçoamento, ou simplesmente mudar tudo, retrocedendo um conjunto de mudanças positivas.

Como dois ou quatro anos, por vezes, é muito pouco tempo, na prática, consegue-se apenas formar uma bolha que blinda momentaneamente aquilo que não é desejável entrar de fora para dentro. Como as intervenções necessárias para o futebol brasileiro deveriam ser pensadas e executadas em décadas em virtude da sua complexidade e defasagem histórica sobre processos de inovação, o quadro final é o que temos hoje: “causos” e não “cases” de gestão do esporte! E é sob esta confusão, especialmente, o aspecto principal que os analistas mais erram, o que prejudica a evolução continuada.

Também e, talvez, principalmente, que as decisões do presente, na grande maioria dos casos, são para resolver problemas unicamente do momento, sem uma visão sobre os impactos no futuro. A sustentabilidade das decisões é moldada conforme a necessidade de hoje!

É por isso que assistimos um Corinthians avassalador no início desta década e já vemos uma situação periclitante na metade dela, apenas 5 anos depois. A conta demorou um pouquinho a chegar, mas veio. E com força que pode ser devastadora para os projetos do clube nos próximos anos se não aparecer um fato novo que mude o quadro preocupante de hoje.

O São Paulo é um exemplo ao contrário. Cansou de acertar nas décadas de 1990 e início dos anos 2000. De tanto acertar, parece que resolveu voltar a um modelo de clube do passado. A situação talvez só não seja pior porque a construção histórica deu bases muito sólidas para a manutenção de um status razoável hoje em dia, isto é, uma cultura forte de gestão que é difícil ser mudada no curto prazo para gerar um efeito tão negativo.

Já o Flamengo é a “menina dos olhos” do momento. E de forma justa! Os problemas do passado são enormes e desafiadores, impactando em muitas coisas na gestão do presente. Muito provavelmente, as intervenções dos últimos 3 anos só terão efeito positivo daqui mais uns 3 a 5 anos, se não mais. O dilema aparece quando há um conflito entre o que deve ser feito no âmbito da gestão ante aquilo que o torcedor (e opinião pública) desejam que se faça no campo, no próximo jogo… É aí que os bons projetos tem perdido a mão no país.

Não que a boa gestão é contrária à performance em campo. Muito pelo contrário: um lado contribui com o outro. A boa gestão irá garantir que se faça um bom trabalho no aspecto esportivo sem afetar o desenvolvimento organizacional futuro, de modo a manter de forma mais perene a performance e os resultados econômicos do clube.

O ponto de inflexão está nas dificuldades em processos de tomadas de decisão pelo ambiente de conflito entre uma gestão mais racional e equilibrada com a necessidade de resultados esportivos de curto prazo. Eis uma situação peculiar da indústria do esporte que não é percebida em outros ambientes de negócio.

Por isso, o equilíbrio é fundamental! Para não termos as tais “bolhas” ao longo do tempo, para o bem ou para o mal, é necessário que os clubes passem a trabalhar com mais clareza e transparência seus processos de gestão e onde querem chegar com o tempo – e com recursos próprios!

Outra forma de “bolha” comum no meio do futebol é a chegada de dirigentes mais abastados que colocam dinheiro no clube, seja por meio de doação ou mesmo por empréstimo. A falsa sensação de melhoria em um período específico dá lugar à realidade anos mais tarde. Por isso o termo “recursos próprios” foi enfatizado no parágrafo anterior.

Enfim, para o bem do futebol brasileiro, precisamos desenvolver urgentemente um processo de melhoria da visão de performance organizacional em detrimento a performance de diferentes dirigentes. Se invertermos um pouco esta lógica, tenho plena convicção de que muitas coisas poderão mudar positivamente! 

Categorias
Sem categoria

Padrão Libertadores

A cena é chocante. Intervalo de jogo entre Boca Juniors e River Plate, válido pelas oitavas de final da Copa Bridgestone Libertadores. Durante confusão num túnel de acesso aos vestiários da Bombonera, um homem ainda não identificado atirou nos jogadores do River Plate uma mistura conhecida como “mostacero”, que combina pimenta caiena e ácido para fermentação. A partida estava empatada por 0 a 0, e a equipe atacada se recusou a voltar para o segundo tempo. O episódio causou a eliminação do Boca Juniors, punido pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).

Maior clássico do futebol argentino, o jogo era um dos mais aguardados da fase que abriu o mata-mata da Libertadores. Até por isso, foi acompanhado com grande interesse em diferentes partes do planeta. O recado que o futebol sul-americano transmitiu foi o pior possível.

A Fifa, entidade que comanda o futebol mundial, fez pressão para que o Boca Juniors, dono do estádio, fosse punido de forma exemplar. O time argentino alegou que havia tomado todas as medidas de segurança cabíveis e que estava trabalhando para identificar o infrator, mas isso não evitou sua exclusão da Libertadores.

A sanção foi definida após audiência no sábado (16), em Luque (Paraguai), sede da Conmebol. A sessão contraria os procedimentos corriqueiros da entidade, que costuma definir punições com base em um ou dois relatores, mas um julgamento como o que aconteceu é inusitado – o que demonstra mais uma vez o estado de exceção do caso.

A diretoria do Boca Juniors recorreu e chegou a cogitar ir à Fifa. Depois, descartou para buscar o Tribunal Arbitral Sul-Americano, criado no ano passado. A diretoria tenta ao menos reduzir a pena imposta pela Conmebol.

A Fifa, por outro lado, ainda cobra uma punição mais severa. Segundo o jornal “AS”, até a distribuição de vagas para a Copa do Mundo tem sido usada na negociação sobre o futuro do Boca Juniors – temendo prejuízos financeiros causados por uma exclusão mais longeva do time mais popular da Argentina, a Conmebol abriria mão de um lugar no Mundial para ratificar a pena proposta no sábado.

Enquanto a sanção ao Boca Juniors ainda era discutida, o jogador Sebastián Driussi, do River Plate foi internado no sábado, acometido por uma inflamação no cérebro por causa do ataque. Ele deixou o hospital nesta segunda-feira (18), mas ainda pode ser cortado do Mundial sub-20 deste ano – o jogador foi convocado para defender a seleção argentina.

A discussão é política, jurídica, social e até de saúde. A discussão só não é sobre futebol: perdem os clubes, perde a Libertadores e perde o esporte da América do Sul. O padrão de evento mostrado pela principal competição de clubes do continente é mais uma vez uma demonstração de atraso e de total incapacidade de gestão.

A comparação com a Liga dos Campeões da Uefa ou com ligas de outras modalidades é até cruel. A tal mística sul-americana e o espírito de Libertadores, que ajudaram a forjar a história do torneio, podem até ser elementos dramáticos consistentes. Essas coisas só não são boas para o evento em si.

Punir o Boca Juniors de forma exemplar, portanto, não é apenas zelar pelo jogo. A Conmebol precisa fazer isso para mostrar que o que aconteceu na quinta-feira é intolerável – e aí não entra sequer um julgamento de quem fez, quem deixou de fazer ou quem tentou impedir.

Mais do que punir o Boca Juniors, a Conmebol precisa usar o episódio da Argentina como um ponto de virada para o futebol no continente. Chega de escudos protegendo jogadores que tentam cobrar escanteios e chega de torcedores tentando intimidar quem está ali apenas para trabalhar – atletas, técnicos e árbitros, por exemplo. Chega de tudo que moldou a imagem da Libertadores – e moldou da pior forma possível.

A Conmebol tem agora uma oportunidade perfeita para recomeçar. Com ranços e com mágoas produzidas pelas agruras de anos anteriores, mas com uma perspectiva de salvar a imagem do futebol local. O caso da Argentina pode ser o Hillsborough local. Em 1989, episódio em que 96 torcedores do Liverpool morreram e outros 766 ficaram feridos teve papel preponderante para a criação da Premier League.

Não, não foi apenas por causa da tragédia que o futebol inglês criou um novo padrão para seus eventos. Contudo, aquela foi uma oportunidade para balizar toda a discussão sobre o jogo e como o futebol podia ser transformado em um produto melhor. Tudo que aconteceu na Inglaterra depois disso tem influência direta de Hillsborough.

A Argentina não é Hillsborough. Kevin Spada não representa centenas de torcedores. Ainda assim, a oportunidade para a Conmebol está dada. Ou talvez a entidade queira aproveitar uma tragédia de grandes proporções para fazer as mudanças que o futebol sul-americano precisa há tempos.

Categorias
Sem categoria

Os conceitos do jogo – parte I

Discutir futebol é uma tarefa complexa! Num país com milhões de treinadores, a missão torna-se ainda mais complicada quando é preciso discutir conceitos.

Utopicamente, seria interessante se a comunidade que acompanha a modalidade compreendesse conceitos universais e atuais do jogo. Com olhar mais apurado, a exigência, a cobrança e a troca de informações sobre os produtos oferecidos pelas equipes (através de seus respectivos Modelos de Jogo) seriam mais ricas e gerariam um efeito positivo neste contexto, geralmente marcado pelas previsibilidades, clichês, análises superficiais e imediatismos comuns de nossa cultura.

Se, no macro-ambiente, as transformações e construções de novos conhecimentos podem ser consideradas, de certa forma, inatingíveis, no micro-ambiente, as possibilidades são maiores. Em um grupo menor de pessoas, torna-se mais fácil conhecer, compreender e dar, permanentemente, novos significados a um fenômeno em constante evolução. No caso, ao futebol.

Para ler a coluna na íntegra, basta clicar aqui

Categorias
Sem categoria

Vai dar Liga? Entenda

A reta final dos campeonatos estaduais ficou marcada pelo desconforto de alguns clubes (especialmente Cruzeiro, Flamengo, Fluminense e Atlético/PR) com suas respectivas Federações e com as competições locais.

Espelhados no estrondoso sucesso da Liga do Nordeste e desestimulados por divergências políticas e pelo baixo índice técnico e financeiro dos campeonatos estaduais, Flamengo, Fluminense, Coritiba, Paraná Clube, Atlético/PR e Cruzeiro tem acenado com a hipótese de criarem uma Liga a ser disputada concomitantemente com os estaduais.

As Ligas, nos termos do art.13, da Lei Pelé, fazem parte do Sistema Nacional do Desporto e, conforme o artigo 16 da mesma norma, são pessoas jurídicas de direito privado, com organização e funcionamento autônomo, podendo filiar-se ou vincular-se à CBF que, por seu turno não pode exigir a filiação ou vinculação.

Ou seja, a Lei Pelé autoriza a criação de ligas independentes, sem qualquer necessidade de “benção” das Entidades Organizadoras.

Assim, conforme estabelece o artigo 20, da Lei Pelé, os clubes poderão organizar ligas regionais ou nacionais, simplesmente comunicando-se a sua criação às entidades nacionais de administração do desporto, no caso, Federações Estaduais e CBF, sendo proibida qualquer intervenção.

No que diz respeito às questões disciplinares, as ligas poderão instituir sua própria Justiça Desportiva para julgamentos de suas competições.

Importante ressaltar que quando se fala em rompimento de clubes com as Federações, seguramente não se trata de desfiliação, mas de uma atitude no sentido de não priorizar os estaduais e disputá-lo com equipes de novos e/ou aspirantes, eis que a desfiliação retiraria o clube de toda e qualquer competição organizada por FIFA, CONMEBOL e CBF.

Portanto, é legalmente reconhecido o direitos dos clubes buscarem competições alternativas por meio de ligas independentes que podem, inclusive, auxiliar no desenvolvimento da modalidade esportiva, como ocorreu no basquete brasileiro que, após a criação da liga independente, conseguiu maior receita e visibilidade e próprio futebol com a Liga do Nordeste.