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Tite e a sua dificuldade para atacar

Seu time tem mais posse de bola do que o adversário. Troca mais de sessenta passes na partida. Chuta mais de quinze vezes ao gol. Tem como centro de gravidade do jogo o campo de defesa do oponente – ou seja a bola fica mais tempo perto do gol do adversário do que do seu próprio gol. Porém, o resultado positivo não vem. Seja um empate ou até mesmo uma derrota, porque mesmo com esse “domínio” do jogo é possível, por exemplo, tomar um gol de contra-ataque.
A situação descrita acima cai perfeitamente para um time do futebol brasileiro. E hoje se enquadra, também, na seleção do técnico Tite. O que vimos no confronto contra a Venezuela pela Copa América foi um retrato fiel do que acontece nos gramados pelo Brasil: uma ausência gigante de conteúdos ofensivos.
Preciso contextualizar que a cultura, a escola do futebol brasileiro sempre pregou o individualismo ao invés do coletivo. O nosso próprio futebol de rua, com a sua peculiar pedagogia, sempre foi pautado pelos confrontos individuais. E por muitos anos isso fez com que tivéssemos o melhor futebol do mundo. Nossos craques resolviam. O treinador deveria minimamente armar a defesa. E deixar o talento decidir lá na frente.
Não sei se alguém ainda não percebeu, mas o mundo mudou. E o futebol também. Nossa pedagogia da rua encolheu. Nossa metodologia de treinamento e conceitos táticos não evoluíram, assim sendo foram superados. Hoje não cabe mais deixar o craque resolver com a bola nos pés. É preciso conceito, ideia, princípios e sub-princípios para atacar. São conceitos coletivos que fazem com o que o jogador de qualidade apareça individualmente. Coisas que são intuitivas, mas que também podem ser treinadas e condicionadas, como ultrapassagens, mobilidade, apoios, terceiro homem, viajar junto para gerar desmarque, enfim, ideias coletivas que fazem com que uma equipe ataque com qualidade.
Criou-se uma falsa ideia de que para jogar bem é preciso ter posse de bola. Discordo. A posse é um meio. E não um fim nela mesmo. E a análise de qualquer estatística deve ser encarada qualitativamente. Quais finalizações foram realmente limpas e com perigo real ao adversário? As trocas de passes foram predominantemente para frente ou só para o lado e para trás? A circulação de bola foi realmente efetiva ou quem mais participou foram os zagueiros com passes distantes do gol adversário? Cumprir a lógica do jogo e realizar as ações necessárias para a vitória com o menor gasto possível de energia é o essencial. Independentemente da porcentagem da posse de bola.
 

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Sobre o que falamos quando falamos de jogo

O rondo espanhol, bobinho brasileiro: antes e acima de tudo, um jogo. (Reprodução: the18.com)

 
Há algumas semanas, escrevi sobre alguns dos espaços do futebol de rua. Naquele texto, propus discutirmos a rua como espaço de metáfora, de liberdade e de descoberta.
Descoberta, para mim, é descoberta de si e descoberta do jogo. Afinal, aqui está uma das grandes divergências recentes entre os profissionais do futebol, especialmente quando pensamos no treinamento. Alguns dos colegas defendem um olhar que coloca a técnica no centro do processo (podemos chamar de tecnicismo), outros colegas colocam a tática no centro do processo, enquanto outros colegas, dentre os quais eu me incluo, colocam o jogo no centro do processo – jogo este contempla a tática, a técnica, tudo o mais.
É claro que não precisamos de muitas teorias para pensar o óbvio: o futebol é jogo. Mas, sendo jogo, o futebol não é tão óbvio assim. São muitos os autores que se dedicaram, por vezes durante toda a vida, a pensar e trabalhar com a compreensão do jogo e do ato de jogar: Johan Huizinga, Roger Caillois, Tizuko Kishimoto, Ludwig Wittgenstein, João Batista Freire, Alcides Scaglia – apenas para citar alguns.
Hoje, escrevo sobre o jogo, especialmente na lembrança da disciplina Pedagogia do Jogo, ministrada pelo professor Alcides Scaglia, aqui na FCA Unicamp. Por enquanto, deixo três pontos iniciais para pensarmos melhor sobre que falamos quando falamos do jogo.

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O jogo, em primeiro lugar, é suspensão. Suspensão do quê? Suspensão temporária da realidade. Quando jogamos, quando nos entregamos ao jogo, entramos em um outro estado, que podemos chamar estado de jogo, e fazemos uma breve pausa no real. Entramos portanto em um outro mundo, em um tempo e um espaço bastante particulares, mas fazemos isso com uma condição: nós levamos conosco elementos do real. Ou seja, nós saímos do real, entramos em uma espécie de ficção, mas fazemos isso a partir do real. Não por acaso, quando jogamos por inteiro não sentimos a passagem do tempo, ou então sentimos uma outra passagem do tempo, uma outra dimensão, sobre a qual não temos muito controle – ainda que pensemos o contrário. Na verdade, não é que nós jogamos o jogo, parece mais que o jogo joga conosco, parece que Senhor do Jogo (como nos disse João Batista Freire) é quem está no domínio, e é a ele que nos reportamos, deliberadamente ou não.
Pensar no jogo como suspensão temporária do real tem uma implicação pedagógica bastante importante, pois quem joga não joga com uma ou outra parte do corpo (como pensa o tecnicismo), mas joga por inteiro, joga como se é. Por isso, como defendi neste texto, processos formativos baseados no jogo tendem a ser humanizadores, porque exigem do jogador que se revele por inteiro, nas suas qualidades e defeitos. Por isso, treino e jogo devem falar uma língua parecida.

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Em segundo lugar, o jogo é incerto, é imprevisível. Quem aceita jogar o jogo aceita entregar-se à incerteza, à contingência, à surpresa, à dúvida, à novidade, ao caos, ao equilíbrio caótico, à ordem nascida do caos. Este é um dos motivos, dentre tantos outros, por que uma excelente semana de treinamentos, conduzida por um excelente treinador e uma excelente comissão, pode terminar em um jogo terrivelmente ruim. Porque o futebol é modalidade coletiva de invasão (ou seja, existe um adversário interessado em nos anular inteiramente) e porque no jogo não há relações causais – as relações são outras. A não é causa de B. A narrativa do jogo é menos causal e menos antrópica (menos controlada pelo homem) do que nós imaginamos.
Sendo incerto, o jogo não está definido por antecipação. Não existe uma forma (ao menos legítima) de antecipar o que irá se passar no jogo, pois o jogo é construído ao vivo, por quem joga e pelo próprio jogo. Ou seja, o jogo é histórico, ele se faz ao longo da história, inclusive da história que se constroi naquele tempo/espaço específicos. Ao mesmo tempo, isso não impede que uma dada equipe, quando joga, apresente padrões, e aqui entra o trabalho, por exemplo, da análise de desempenho. A análise não diz o que irá, com certeza, acontecer no jogo, pois o jogo é imprevisível, mas a análise identifica padrões e, em certa medida, aposta, investe que esses padrões possam aparecer durante o jogo. Quando? Não sabemos.
Este é um motivo importante porque não basta dedicar-se aos pormenores do futebol. É preciso, antes, dedicar-se ao jogo. É preciso abrir-se à incerteza, é preciso respeitar o jogo, é preciso caminhar junto do jogo – e não tentar domesticá-lo. Não são poucos os colegas que desejam adestrar o jogo, educá-lo como se ele fosse um animal qualquer, e nesses casos costuma ser mais pesada a mão do jogo – que pode até nos dar algo hoje ou amanhã, mas que também nos cobra mais adiante.
Como ocorre na vida vivida, aliás.

***

Por fim, o jogo é regulamentado. Ou seja, o jogo tem regras. São elas que nos dizem até onde podemos ir, quais são nossos limites.
Acho essa ressalva particularmente interessante porque nela mora uma característica pedagógica séria: se decidimos adotar uma metodologia baseada no jogo, precisamos ter muito cuidado com as regras dos nossos jogos. Você e eu já nos deparamos com colegas que, muitas vezes com a melhor das intenções, lotam o jogo de regras, criam inúmeras restrições para nossos jogadores, às vezes ainda pequenos, que querem apenas jogar, mas que se perdem em um mar de referências do que se pode e, especialmente, do que não se pode (ou não se deve) fazer dentro do jogo.
São essas sutilezas que agridem, em certa medida, a imaginação dos nossos jovens jogadores, para quem o jogo deve servir como estímulo e não como obrigação. Nossos pequenos e pequenas carecem de jogos que estejam vinculados a um certo modelo, a um determinado perfil de pessoa/jogador que gostaríamos de formar, mas eles não chegarão nestes lugares mais facilmente se estiverem entupidos de regras, mas sim se escolhermos as regras certas, as regras centrais, as regras mais importantes (com as devidas variações) para chegarmos juntos onde queremos. O fato de ser regulamentado não significa que um maior número de regras nos dará maior controle sobre o jogo.
Em razão da suspensão e da incerteza, inclusive.

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Por enquanto, ficamos por aqui. Mas vamos conversando mais isso em breve.
Falar do jogo é agradável e, desconfio, é cada vez mais necessário.
 

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Ser Profissional

Nas últimas semanas foi praticamente impossível esquivar-se das notícias que envolveram o futebolista Neymar fora das quatro linhas. A coluna não tratará especificamente sobre o que aconteceu, mas buscará analisar como isso mexe com o marketing do futebol e sobretudo o do próprio profissional do futebol.

Assim como referido em colunas anteriores, a sociedade confere bastante confiança e reconhecimento a um ídolo. Em contrapartida um ídolo é referência e possui responsabilidades com a sociedade. É, para muitos, um ideal ético e estético. É pessoa pública e tudo o que faz monitorado não por poucos, mas por todos.

Ao mesmo tempo, alguns pensadores sobre marketing esportivo dizem que o ídolo completo é composto por elementos que compõem as letras da palavra “TOPSTAR”. “T”, de team, sobre possuir espírito de equipe. “O”, de off-field life, ou seja, sobre “a vida fora de campo”. “P” se refere, em inglês, aos atributos físicos do ídolo. “S” em relação ao sucesso. “T” de transferência, ou seja, uma característica do ídolo que se conecta com o fã. “A” de idade, quanto mais novo, mais ligado às crianças. Finalmente o “R” é a reputação. A partir disso, podemos fazer um exercício com vários atletas que temos como referência. Poucos são os que encaixam em todas as letras.

Assim como qualquer pessoa, o atleta profissional precisa estar atento a este tema. Afinal, as organizações esportivas – potenciais empregadoras dos seus serviços – levarão em consideração o espírito de equipe, a conduta, as condições físicas e a reputação para contratá-lo. Dificilmente apenas a confiança e reconhecimento de outrora bastarão. Afinal, talvez nem estejam preocupados em associar a marca da instituição ao atleta, mas o quanto ele pode agregar para o quadro de colaboradores, colegas em campo e os que atuam fora dele. Capaz de conturbar e perturbar o ambiente que, ruim, não é nem um pouco produtivo. Com o tempo, é natural que o valor de mercado do atleta e da instituição caiam.

(Foto: Divulgação)

Portanto, ser profissional não basta ser pago para trabalhar. A palavra possui um amplo sentido, sobretudo o de fazer valer a sua vocação. A base para tê-la é a educação, quer seja formal ou aquela que vem dos nossos grupos de convívio. Infelizmente, vivemos em uma sociedade tão consumista, gananciosa e individualista que instituições bastante importantes – como a família – estão em crise e valores como o respeito e o discernimento, cada vez mais raros. Problema muito mais sério do que se pensa.

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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

O Barcelona não precisa do Neymar. O Barça tem gente muito boa. Para que gastar dinheiro? A não ser que ele jogue para a equipe e para o Messi.
Johann Cruyff(1947-2016), em declaração de março/2013, antes de o brasileiro
ter sido transferido ao clube catalão/espanhol em agosto/2013.

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A importância do goleiro na transição ofensiva e defensiva

O futebol é um jogo desportivo coletivo no qual a sua dinâmica resulta da competição entre duas equipes pela conquista da posse da bola, com o objetivo de introduzir a bola o maior número de vezes possível na baliza adversária e evitar que esta entre na sua própria baliza (Castelo,2009).
Transição é sinônimo de passagem, transferência. Quando o goleiro recupera a posse da bola, sendo ela vinda de um cruzamento, finalização ou cobertura defensiva. O atleta inicia a construção ofensiva da equipe, o goleiro será responsável por esse momento no jogo, seja com uma saída rápida, média ou lenta.
O momento da equipe dentro do jogo será fundamental para que o atleta tome essa decisão dentro da partida. A leitura de jogo e a tomada de decisão são fatores importantes nesse momento do jogo, uma leitura bem feita, juntamente com uma tomada de decisão rápida na transição podem acarretar em um gol importante dentro da partida.
Geralmente é acionado o “ contra-ataque”, posição rápida, seja ela com os pés ou mãos, para que a sua equipe possa surpreender a falta de organização defensiva da equipe adversária, ou criar uma superioridade numérica para contra atacar a equipe adversária e finalizar com mais facilidade.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

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O mito da pausa para a Copa América

Com a Copa América rolando tem muito treinador de time brasileiro aliviado. Mas tem outros preocupados. Os que são bons de treino falam com convicção que essa pausa será importante para treinar suas equipes nos aspectos técnicos, táticos, físicos e emocionais – tudo isso é treinado junto, ao mesmo tempo. Se treina o todo do jogo de futebol para que em campo a equipe como um todo melhore – vale hoje em dia a máxima de que o todo é maior que a soma das partes.
Exemplificando: uma equipe fisicamente bem não é a que corre mais e sim a que tem as valências físicas necessárias para o modelo de jogo pretendido. Ou alguém questiona que uma equipe que tem 75 por cento da posse de bola em todo jogo, que está sempre agrupada e no campo adversário precisa de um preparo diferente de uma equipe que joga toda atrás e tem como principal arma ofensiva o contra-ataque, com grandes sprints de velocidade? Então para treinar essa parte física nada melhor do que treinar o jogo pretendido.
Pois bem, há no Brasil técnicos muito bons que conseguem através de treinamentos integrados, sistêmicos e transdisciplinares fazer com que suas equipes melhorem. Por outro lado, vamos agora falar dos treinadores que estão preocupados. Esses são aqueles que dão graças a Deus que tem jogo toda quarta-feira e todo domingo. Dessa forma, não há porque se preocupar em elaborar atividades que façam os jogadores compreenderem os princípios de jogo pretendidos, melhorarem suas capacidades cognitivas e de tomadas de decisão para cumprirem melhor a lógica do jogo na resolução dos problemas que se apresentam em uma partida. Se não tem tempo para treinar, fazer o que? Pensam eles…
Está no cerne da figura do treinador competente reunir habilidades metodológicas e pedagógicas de treino. Acabou faz tempo a figura do “bom treinador é aquele que não atrapalha”. E acredite em mim: jogador gosta de técnico que o faça crescer e se desenvolver.
Acompanharei atentamente as primeiras rodadas do futebol brasileiro logo após a Copa América. E não precisa de muito para ver se uma equipe está ou não está bem treinada. Os bons técnicos deixarão o campo falar. Os maus vão usar os mesmos microfones que antes serviam para lamuriar os poucos dias entre um jogo e outro para talvez agora reclamarem que falta ritmo de jogo ou que os atletas engordaram (!) nessa mini-férias. Estamos de olho nos jogos e nas entrevistas!
 

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Sobre raízes e modernos: uma breve entrevista

Deyverson, comemorando um dos seus gols: onde está a fronteira entre o raiz e o moderno? (Reprodução: torcedores.com)

 
Há pouco mais de dois meses, fui gentilmente convidado pelo colega Bruno Madrid, do BOL, a falar sobre uma dessas discussões que, de alguma forma, repercute no nosso imaginário futebolístico: as diferenças entre aquilo tido como raiz contra aquilo que se chama de moderno.
No fim das contas, vejo equívocos importantes dos dois lados, com a diferença que os modernos mais extremistas parecem pretensiosos demais (pela negação do passado, inclusive). Todas as minhas respostas seguem abaixo, na íntegra. Neste caso, eu não preciso fazer comentários, uma vez que as respostas falam por si só. Apenas acho importante ler a última resposta com uma certa dose de sarcasmo.
Aliás, elas também aparecem, mais enxutas, nesta matéria, escrita pelo próprio Bruno, quando minhas visões foram confrontadas com as de alguns outros colegas do meio.

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O futebol brasileiro dos anos 90/2000 era melhor do que o futebol atual?
O futebol brasileiro dos anos 90/2000 tinha outros elementos. Por exemplo, vários dos nossos melhores jogadores passavam mais tempo no Brasil do que os jogadores desta geração. Entendo que existe uma certa tendência para a romantização do passado (não apenas no futebol), mas o romântico, para sê-lo, precisa superestimar as qualidades do que ama. Só que se pegarmos qualquer mesa-redonda daquela época e assistirmos hoje, provavelmente iremos comprovar que as discussões são, na raiz, as mesmas – mudam apenas os nomes! Ou seja, não se trata de melhor ou pior. São tempos diferentes.
 
A priorização das táticas e análises mais ajudou ou mais atrapalhou o futebol do país?
O Brasil deve ser um dos únicos lugares do mundo moderno que desconfia que o estudo é capaz de nos deixar mais burros. Pelo contrário, o esforço de vários colegas para se aprimorar, buscar outros olhares para o jogo, é super positivo. Você foi muito feliz citando o termo ‘táticas’, no plural. Existe uma tendência que confunde tática com esquemas táticos. Mas não, a tática é algo maior. O esquema está para a tática assim como um galho está para uma árvore, é uma derivação. Ou seja, mesmo a equipe mais descompromissada tem suas táticas, individuais e coletivas, e responde aos problemas do jogo, que também são táticos. Mas isso não nos impede, por exemplo, de refletir se não estamos tornando hiperobjetivo e metódico um jogo que é humano, logo, que vai para muito além da objetividade e do método. O futebol é mais poesia do que tese.
 
Depois da Copa de 2014, houve um sentimento de mudança geral, e técnicos como Felipão e Luxemburgo perderam espaço. Foi justo com eles? Há ‘desatualização’?
Aquele episódio causou enorme incredulidade, mas não sei se houve (e nem se deveria haver) uma perda de espaço. Um ciclo depois e Scolari, por exemplo, voltou simplesmente para a equipe mais abastada do futebol brasileiro – e foi campeão! Além disso, é importante considerarmos que o tempo e dinâmico, as ideias também. Mano Menezes, Cuca e Sampaoli, por exemplo, são treinadores da nova ou da velha geração? Não sei, sei que são bons treinadores. Não me agrada o termo ‘desatualização’, mas acho importante que o futebol brasileiro se habitue a conversar mais regularmente, trocar ideias com os bons profissionais daqui e do exterior, criar espaços de debate regulares e democráticos, sobre metodologias de treinamento, formação de atletas e treinadores, organização do calendário e etc. As melhores práticas internacionais nos mostram que esse é um caminho interessante.
 
Como você enxerga a nova geração de treinadores (Carille, Roger, Barbieri e cia)?
Novas gerações têm duas características: sempre vão surgir e sempre causarão incômodo. Fico imaginando, por exemplo, se não havia resistência a um treinador como Luxemburgo no início de carreira. Provavelmente, era ele o ‘moderno’ da época. É um processo que precisa ser encarado com mais naturalidade. Em linhas gerais, vejo duas coisas: em primeiro lugar, o sarrafo para os jovens treinadores é sempre mais alto, de modo que a tolerância é menor. Thiago Larghi e Barbieri, na minha opinião, são dois bons exemplos: entendo que ambos fizeram ótimos trabalhos no último ano, mas não foram suficientemente reconhecidos. Jardine mal assumiu o São Paulo e já estava sob a mira feroz de parte razoável dos mesmos colegas que pedem ‘renovação’. Por outro lado, esta nova geração, na qual eu me incluo, precisa ter claro que o jogo de futebol não existe para ser domesticado, que a ordem surge do caos. Se não refletirmos seriamente sobre o conhecimento que nos chega, se não sairmos do futebol para entendê-lo melhor, podemos caminhar para um jogo cada vez mais estéril, limitado.
 
Quais os motivos técnicos dos fracassos da seleção brasileira ultimamente?
Técnicos, nenhum. Jogadores de qualidade não nos faltam. Sobre os ‘fracassos’, vejo duas coisas: para o torcedor médio, qualquer resultado que não seja o título será tido como ‘fracasso’, o que denota um problema maior no ideário brasileiro sobre futebol do que no jogo jogado, em si. O outro ponto está no campo. Na Copa do Mundo da Rússia, por exemplo, julgo que a maioria das críticas feitas ao desempenho e ao treinador da seleção brasileira foram absolutamente secundárias. Foi um trabalho de muito bom nível, que enfrentou percalços importantes em um período sensível (lesões de Daniel Alves, Renato Augusto e Neymar, por exemplo), e que terminou vencido por outra excelente equipe, que poderia muito bem ter sido campeã.
 
E em relação aos fracos desempenhos dos clubes (só o Corinthians de time brasileiro venceu o Mundial nas últimas 12 edições)?
Não acho que o Mundial de Clubes deva ser parâmetro para o sucesso internacional. Com a disparidade econômica cada vez maior, e tendo em vista este novo modelo apresentado pela FIFA, os títulos mundiais serão uma utopia. O ponto positivo é que talvez passemos a relativizar a importância do torneio, potencialmente fortalecendo nossa competição continental. Este sim, é um ponto a ser discutido. Ano após ano, a Libertadores não tem sido terreno simples para os clubes brasileiros, inclusive para os mais saudáveis financeiramente. Vejo bons programas de formação de treinadores nos países vizinhos (especialmente da Argentina), e acho que isso já tem e terá reflexo ainda maior no nível de exigência das competições continentais ao longo do tempo. No ano que vem, um Defensa y Justicia, por exemplo, mais maduro e mantendo Sebastian Beccacece, pode ser um adversário muitíssimo incômodo, apesar dos poucos recursos econômicos.
 
Por que há cada vez mais menos “personagens” (como Serginho Chulapa, Edmundo, Romário, Viola, Dinei…) no nosso futebol?
Mas será que realmente há menos personagens? Deyverson não é um deles? Walter, talvez o Felipe Melo, Lisca e Renato, Fred, Douglas, Marquinhos (ex-Avaí), o próprio Neymar… Veja bem, não quero comparar os ‘personagens’ do ponto de vista qualitativo, mas penso de uma outra forma: será que a estrutura hiperprofissional e burocratizada do futebol moderno não acaba criando uma barreira que não deixa os atletas serem como são? Vários dos ‘personagens’ mais antigos, se jogassem hoje, iriam colecionar visitas ao STJD e cartões amarelos em comemorações de gols. Acho algo a ser considerado. Novamente, são tempos diferentes.
 
Qual sua opinião sobre Deyverson?
Tenho a impressão de que ele se sente incompreendido. Cada uma das polêmicas em que ele se envolve me parecem um pedido inconsciente de ajuda, um sinal de que há problemas a serem resolvidos (exatamente como nós temos os nossos, com a diferença de que ele é uma pessoa pública). Como não é possível separar o humano do jogador, é claro que isso tem repercussões dentro do campo. Mas me parece um sujeito gente boa.
 
Você se considera mais “raiz” ou mais “moderno?
Sendo muitíssimo sincero, acho essa discussão entediante, embora os rótulos sejam naturais para cada tempo. A questão central é que existem coisas, no futebol e fora dele, que vão para além do tempo e unem os extremos. Rinus Michels e Cruyff são sujeitos raiz ou modernos? Telê Santana e Jorge Valdano? Enfim, é por aí que deveria estar a nossa busca. Para não te deixar sem resposta, diria que me vejo um boleiro atemporal.
 

 

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O futebol de rendimento: indústria de lazer e entretenimento

Durante o fim de semana a repercussão em cima do preço médio dos ingressos do futebol foi bastante grande. Mais do que antes, porque é tema delicado e ficou ainda mais após a construção dos estádios que receberam o mundial de futebol masculino, há cinco anos. Sem dúvida alguma que os preços dos ingressos aumentaram de maneira considerável, no entanto é preciso ao mesmo tempo compreender o porquê deste aumento.

Longe de defender esta alta, que afasta boa parte do público do futebol, muita coisa mudou nas últimas décadas em termos de padrões de segurança, acomodação, acesso e operação de um evento esportivo, que também nestes casos também são de entretenimento. Há muito mais pessoas envolvidas e complexas operações que exigem tempo e profissionalismo. Ao mesmo tempo, a indústria do lazer cresceu sobremaneira e, com isso, a concorrência. Em outras palavras, a disputa pelo mercado consumidor. Não há muito tempo as pessoas se lembram de como era antigamente chegar ao estádio, escolher (ou não) um lugar, tomar chuva ou ‘aquele’ sol bem ‘na cara’. Se houver outra opção, mesmo mais cara, mas que o torcedor não passe por isso, a paixão fica de lado na maioria dos casos.

Simultaneamente, temos uma economia em que a concorrência não é grande e a competitividade baixa em comparação com os grandes centros econômicos do mundo, nomeadamente América do Norte, Europa e Ásia. Soma-se isso à paridade do poder de compra da nossa moeda, os preços acabam ficando mesmo caros. Exemplo: uma partida de futebol da primeira divisão de um importante centro na Europa a 40 euros, comparado ao salário mínimo daquele país, é preço relativamente acessível e as operações do estádio ou do clube são pagas. Não é o que acontece no Brasil, com o ingresso a 40 reais e nem fazendo o câmbio exato de euros para reais.

É uma sequência em cadeia.

Ademais, o futebol de rendimento está caro. Os futebolistas de ponta ganham cada vez mais, com inúmeras pessoas envolvidas no processo de preparação, formação e contratação do atleta. Há muito mais partes interessadas que operam em um mercado de baixíssima regulamentação e fiscalização. Isso permite pensar que a barganha política que existe é muito grande. Um setor regulamentado e fiscalizado sugere sustentabilidade. É por isso que, volto a dizer, sou fã da política de teto salarial e normatização para agentes de atletas nas ligas norte-americanas.
 

(Foto: Divulgação)

 

Com tudo isso, parte desta grande alta dos preços dos ingressos tem como origem toda esta gama de transformações da indústria do entretenimento, em também como a sociedade e o conceito de lazer mudaram, somada à complexidade do modelo econômico e uma ausência de regulamentação do mercado.

Mais uma vez: longe de querer justificar a alta dos preços, mas mais perto de querer compreendê-la.

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 Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

Desporto é a expressão corporal do progresso sócio-econômico de um povo.
Prof. Dr. Manuel Sérgio, filósofo português (1933-)

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Bom futebol se joga com boas ideias

Sou muito crítico a tudo o que acontece no futebol brasileiro. Tenho claro que o 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014 não foi acaso. Nem culpa do Felipão. Eu, como imprensa, perdi de 7 naquele dia também. Todos que de alguma forma estão envolvidos na indústria do futebol foram derrotados pelos alemães. A partir dessa pancada, fiz minha parte e comecei a estudar. A fundo mesmo, tudo que rola dentro e fora de campo. Quanto mais aprendo mais quero continuar aprendendo. E passei a ser mais duro com o nosso atraso. Por outro lado, quando vejo coisa boa me sinto obrigado a também registrar. E aqui vai o elogio para uma das classes mais atrasadas da nossa cadeia: a de treinadores.
Consigo enxergar hoje o que no passado não existia em Campeonatos Brasileiros: muitos técnicos com ideias claras de futebol. Uma intencionalidade treinada para cada fase do jogo. É claro que só isso não basta para termos uma qualidade semelhante as principais ligas europeias, por exemplo. Mas já é um avanço, visto que antes a aleatoriedade e o caos prevaleciam. Inclusive na primeira divisão tupiniquim.
Vamos aos fatos: consigo ver uma ideia clara, tendo a posse como meio para dominar o adversário, nos sistemas propostos por Eduardo Barroca no Botafogo, Fernando Diniz no Fluminense, Rogério Ceni no Fortaleza, Renato Gaúcho no Grêmio, Jorge Sampaoli (argentino!) no Santos e Thiago Nunes no Atlético-PR. E se o início de tudo é ter ideia, e não julgo o que é bom ou ruim até porque isso é relativo, sendo que a eficiência é a marca de vitórias no futebol, também temos ideias que privilegiam a defesa, com ataques rápidos e diretos, como Mano Menezes no Cruzeiro, Fábio Carille no Corinthians, Felipão no Palmeiras e até Róger Machado no Bahia.
Não aceito a falta de tempo para treinar como desculpa para um jogo mal feito. Até porque um dos problemas da nossa cultura sempre foi o famoso ‘migué’ em treinamentos. Inclusive dos técnicos, por incrível que pareça. De uma maneira geral, ainda treinamos mal aqui no Brasil. Tem pouco tempo? Como otimizar as atividades para rapidamente criar comportamentos e padrões de resposta? Mas quero salientar que a troca constante no comando das equipes faz com que trabalhos sejam remendados e quem chega sempre tenha que lidar com uma herança do ex-treinador.
Porém, se o um mau futebol é com jogada más ideias ou sem ideia e um bom futebol é jogado a partir de boas ideias consigo ver uma luz no fim do túnel baseado nessas rodadas iniciais do Brasileirão. Falta muito para termos uma competição do nível top mundial. Porém, ter técnicos com intencionalidades claras para desenhar uma equipe já é um grande avanço.
 

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Sobre os sentidos do futebol

Klopp e os jogadores do Liverpool comemoram: sinais de caminho, significado e afetos. (Reprodução: RTE)

 
Há algum tempo, por ocasião do meu trabalho de mestrado, tenho me dedicado um pouco mais às palavras, ao peso que as palavras têm e também aos significados que as palavras podem trazer. No futebol, como em qualquer outro lugar, precisamos das palavras mais do que elas precisam de nós.
Nesta semana, gostaria de refletir um pouco sobre a palavra sentido. A partir dela, podemos falar sobre treinamento, formação, modelos, estratégias, táticas e etc. Divido este texto em três partes. Em cada uma delas, apresento um olhar diferente do sentido e como cada um desses olhares se realiza pelo futebol.
Vejamos.

***

Em primeiro lugar, acho possível olhar para o sentido no futebol a partir do caminho. O que é um modelo de jogo, por exemplo? O modelo de jogo é um caminho. Um caminho diferente da estratégia, porque o modelo é maior, resiste ao tempo, enquanto que a estratégia é mais pontual, sofre alterações sutis, de acordo com o adversário, de acordo com nós mesmos, de acordo com o modelo. Mas, nos dois casos, estamos falando de caminhos.
Dar sentido ao nosso trabalho (para além de uma direção) é sinônimo de dar um caminho. Nessas horas, não me esqueço daquela passagem de Alice nos País das Maravilhas, quando Alice diz não saber para onde vai, ao que o Gato Louco responde algo do tipo: ‘para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve’. Traçar um sentido é traçar um caminho, um caminho específico, um caminho que nos agrada, um caminho que gostaríamos de fazer. Se você preferir, traçar um sentido é traçar um caminho ideal. Ou seja, de certa forma, o sentido é idealista. Mas o jogo não é ideal, o jogo é real.
Este é o motivo por que vários colegas, dentre os quais eu me incluo, defendem metodologias de treinamento baseadas no jogo – não nos recortes do jogo. Um garoto que dribla cones estará cada vez melhor na arte de driblar cones, mas não necessariamente na arte de jogar futebol. Para tornar-se artista no futebol, este garoto precisa jogar. Isso não significa jogar apenas o jogo formal, mas significa jogar jogos, com oponentes reais, em espaços diferentes, com objetivos diferentes, com regras diferentes, não para fazer repetições quaisquer, para fazer repetições inteligentes, mas precisa jogar. Se formamos nossos jogadores para driblar cones, escolhemos um sentido. Se formamos jogadores para jogar, escolhemos outro.
Por isso, pensar no sentido como caminho faz tanta diferença.

***

Mas também é possível olhar para o sentido no futebol a partir do significado. Por exemplo: pense na organização dos nossos treinamentos. Quando organizamos um treino, fazemos isso de qualquer jeito? Bom, espero que não. Cada exercício (ou cada jogo) tem a ver com o sentido da sessão, que por sua vez se encaixa no sentido do microciclo, que por sua vez é uma parte do mesociclo (assim sucessivamente) e todos eles conversam com o modelo, com aquele caminho que estabelecemos lá em cima. Ou seja, talvez exista um sentido anterior ao treino (caminho), mas também existe um sentido posterior ao treino – o significado.
Encontrar um significado quer dizer, no mínimo, duas coisas: primeiro, que aquele jogo, aquela sessão, aquela semana de treinamentos, tudo aquilo significa alguma coisa para alguém. Quando uma parte deste ato de treinar, por menor que seja, não significa nada para alguém (ou pior, quando não significa nada para ninguém) é sinal claro de que erramos a mão. Depois, se o significado deve ser encontrado, então ele não existe em si, ele não foi determinado, ele nasce da busca e, portanto, ele é subjetivo, é único e intransferível. A isso, aliás, nós podemos chamar de experiência. Um mesmo treinamento tem significados completamente diferentes para cada pessoa envolvida no processo.
Para um treinador ou treinadora, não basta que o treinamento (para ficar neste exemplo), faça sentido apenas para si. É preciso, ao mesmo tempo, que o treinamento faça sentido (tenha significado) para um atleta, para todos os atletas, para toda a comissão, para o clube. O significado precisa ser o mesmo para todos os atletas? Claro que não! Como dissemos acima, os significados são subjetivos – e discordo frontalmente daqueles que pensam que, para formarmos uma equipe, os atletas devem pensar a mesma coisa ao mesmo tempo. Os atletas devem pensar diferente, devem tornar-se quem são, e a formação como equipe não acontecerá porque todos os pensamentos têm a mesma cor, mas sim porque todas as cores dialogam entre si. Tudo é um.
Se quisermos que nosso trabalho tenha um sentido, um significado, é preciso então que nossos colegas tenham as devidas ferramentas para fazê-lo. Quanto menor for a capacidade de reflexão dos nossos atletas, menores serão as possibilidades de atribuição de sentido. E educar o pensamento dos atletas (junto do nosso próprio pensamento) também é parte da nossa profissão.

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Por fim, também é possível olhar para o sentido no futebol a partir do afeto. O que isso quer dizer? Quer dizer que nossos treinamentos e nossas atitudes, como treinadores e treinadoras, não devem apenas estimular o pensamento dos nossos atletas. Devem também fazer com que eles sintam coisas.
Quanto mais indiferentes nossos atletas forem aos nossos treinamentos, à nossa fala, às nossas ideias (ou quanto menos chegarmos aos afetos), maiores serão as nossas barreiras, menores serão nossas possibilidades de construirmos laços humanos, maiores serão as distâncias entre todos nós, envolvidos no processo. Por isso, na nossa formação como treinadores e treinadoras (formação que não termina), não basta nos dedicarmos aos conhecimentos ou às competências, como se os cursos de formação fossem um grande supermercado, onde recolhemos nas gôndolas as competências que gostaríamos e julgamos não ter. Tornar-se treinador ou treinadora é principalmente um caso de sentir, de fazer sentir, de fazer sentir ao longo do tempo, de educar os afetos, de deixar-se educar pelos afetos.
Mas então tornar-se treinador ou treinadora é deixar-se levar. Quando os afetos nos atingem, é porque nos deixamos atingir, é porque estamos abertos, é porque mostramos nossas fraquezas e, exatamente por isso, nos damos o direito de sermos humanos. Nossa humanidade não se faz apenas na força, amigos e amigas, se faz nas fraquezas. Por mais contraditório que pareça, olhar apenas para cima pode ser uma grande fragilidade, assim como admitir e compartilhar nossas fraquezas pode tornar-se, às vezes de imediato, uma força irresistível.
Mas é preciso estarmos abertos. Estando abertos, encontramos sentido.
E pelo sentido, sentimos.
 

 

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As mulheres da seleção brasileira: trabalho, método e mérito

No último domingo tivemos as duas seleções principais de futebol do Brasil em campo. As mulheres fizeram a estreia na Copa do Mundo e os homens, amistoso preparatório para a Copa América. A repercussão foi imensa e a mobilização da torcida pela equipe feminina é algo que deixa qualquer um emocionado. A identificação do público com elas, também. Oxalá não seja temporária, que perdure e aumente mais e mais.

Sobre a identificação, ela não surpreende. É cada vez maior a distância da seleção masculina com o público. O popular, “muito mimimi”. E é isso mesmo. A sociedade confere tanto retorno  aos ídolos no esporte, faz tanto por eles – não apenas o reconhecimento pelas habilidades profissionais -, são referências estéticas e éticas a ponto de precisarem retribuir, quer seja por uma visita a um hospital até a criação de uma fundação assistencial. Em uma sociedade acostumada à indicação, ao nepotismo, influências e interesses, quase sempre os que ocupam cargos de comando  – sobretudo públicos – a meritocracia é rara e o esporte um dos poucos setores em que ela é escancarada.

Em outras palavras, que resumem o parágrafo acima, aquele que é referência tem que dar o exemplo. Dentro e fora de campo. Ultimamente não é isso que se percebe de alguns expoentes da seleção masculina, pois não. 

Cansados de tanta “balbúrdia”, de péssimos ou de nenhum exemplo, as pessoas se lembram do passado e comparam com os tempos em que não havia tantos holofotes. Lembram-se de ser bem menor ou quase nula a presença dos esportes no noticiário policial ou no de fofoca. O “amor à camisa” era mais evidente, falava-se pouco e fazia-se muito. Trabalhava-se muito! 

E é isso que as mulheres fazem e sempre fizeram. Trabalharam e trabalham em um silêncio extremamente barulhento, que são os incontestáveis resultados. Chegam lá pelo esforço, com método e com mérito. De respeito ao passado, às futebolistas pioneiras no Brasil, que desafiaram uma legislação que as impedia de praticar a modalidade principal deste país, que se confunde com a formação da identidade nacional!

Ademais, a conduta diária de esforço contínuo, profissionalismo e empreendedorismo são os melhores exemplos que podem ser dados a um país para atingir os níveis mais altos de desenvolvimento humano, a romper com a cultura da indicação, do nepotismo, das influências e interesses alheios ao crescimento e desenvolvimento.
 

Brasil venceu a Jamaica na estreia da Copa do Mundo 2019 por 3 a 0. (Reprodução: CBF)

 

Diante disso, é absolutamente natural que, nos noticiários esportivos da noite do último domingo,  as manifestações de simpatia pelas mulheres da seleção brasileira tenham sido incontáveis. Principalmente pela maneira como elas têm trabalhado e subido passo a passo. Exemplos para todo um país.

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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

Nunca foi. Ambição, desejo de se tornar herói nacional e ganhar mais dinheiro sempre foi mais forte.
Tostão,
campeão mundial de futebol em 1970, sobre em o alto-rendimento no esporte ser lugar para desenvolver valores morais e éticos