O estádio do Pacaembu sempre foi para os moradores da cidade de São Paulo, e também para os amantes do futebol, um grande orgulho, palco de grandes batalhas esportivas e memória viva da cidade. Inaugurado em 27 de abril de 1940, teve o primeiro jogo realizado um dia após sua abertura, com o Palestra Itália, atual Palmeiras, vencendo o Coritiba por 6 a 2.
O projeto inicial contemplava as arquibancadas principais e a antiga concha acústica que funcionava como anfiteatro e recebeu dezenas de shows e espetáculos musicais, além de produzir um efeito sonoro diferenciado durante os dias de jogos. Somente em 1970 a concha acústica foi derrubada para a construção do atual tobogã, com o pretexto de aumentar a capacidade do estádio.
Recentemente, o vereador Juscelino Gadelha apresentou um projeto na Câmara paulistana para a reconstrução da concha acústica e demolição do tobogã.
A discussão permanece, e em abril acontece um painel sobre o assunto, na própria Câmara, com a presença de várias personalidades do esporte e da política. Além disso, a Prefeitura de São Paulo e a Fundação Roberto Marinho deram o “pontapé” inicial para a construção do Museu do Futebol no estádio.
O alvará que permite o início das obras foi entregue pelo prefeito Gilberto Kassab para membros da Fundação. Orçado em R$ 25 milhões, o Museu será um templo da cultura esportiva, dedicado à memória e história do futebol brasileiro.
O espaço cultural deve estar pronto no primeiro semestre de 2008. Todas estas histórias, obras e projetos estão localizadas no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, mas o que pouca gente sabe, ou se preocupa em saber, é que existem pessoas trabalhando diariamente para que tudo o que se refere ao estádio funcione perfeitamente.
Esta é a missão de Aléssio Gamberini Júnior, formado em educação física, atual diretor do estádio. Sob sua responsabilidade está todo o funcionamento do complexo do Pacaembu. Campo de futebol, clube, infra-estrutura, tudo passa pelo crivo de Aléssio.
A equipe de reportagem da Cidade do Futebol conversou com exclusividade com o diretor do Pacaembu, empossado em 15 de fevereiro de 2007, que falou sobre os projetos futuros e a atual situação do estádio.
Cidade do Futebol – De modo geral, quais são as funções do diretor de estádio, especificamente do Pacaembu?
Aléssio Gamberini Jr. – Sou responsável por todo o complexo do Pacaembu. Desde o estádio até o clube cuido de toda a sua infra-estrutura. O clube conta com piscina olímpica, quadras poliesportivas cobertas e descobertas, pista de cooper, quadras de tênis e mais algumas opções de lazer. Tenho que zelar pelo bom funcionamento de tudo, além do que se refere ao campo de futebol, como condição do gramado, pintura de arquibancadas, manutenção, enfim, tudo o que engloba o complexo.
Cidade do Futebol – Em dias de partidas de futebol, quais são suas principais atividades?
Aléssio Gamberini Jr. – Em dias de jogos tenho que cuidar de toda a infra-estrutura para que a partida ocorra normalmente. Este é um trabalho em conjunto com a Polícia Militar e a Federação Paulista de Futebol. Estado do gramado, acesso do público, viabilidade de transmissão para todos os profissionais de imprensa, iluminação, condições dos banheiros. Preciso me ater a todos os detalhes para que o palco esteja pronto para receber o espetáculo.
Cidade do Futebol – Tem alguma participação direta com a partida?
Aléssio Gamberini Jr. – De maneira alguma falo sobre a partida em si. Não discuto sobre a parte técnica do futebol. Na verdade funciono como um elo de ligação entre todos os profissionais envolvidos na partida. Minha preocupação é preparar a casa.
Cidade do Futebol – Quantos associados têm o clube?
Aléssio Gamberini Jr. – São mais de 20 mil carteirinhas de associados. O clube é um dos melhores da cidade. Entre estes associados, alguns freqüentam o clube gratuitamente, participando de uma iniciativa da prefeitura de disponibilizar lazer e esporte para todos. Além disso, o complexo recebe muitos visitantes semanalmente.
Cidade do Futebol – Fale sobre o projeto do Museu do Futebol.
Aléssio Gamberini Jr. – O Museu é uma importante obra, que se encaixa perfeitamente no complexo do Pacaembu, um estádio tombado, patrimônio histórico da cidade, que precisa se modernizar. Quando foi construído, o estádio era considerado um dos mais modernos do Brasil e do mundo, porém com o passar dos anos, pouco foi realizado. Com a construção do Museu do Futebol, o Pacaembu ganha muito. É um museu de âmbito nacional e o estádio volta a ser uma referência mundial.
Cidade do Futebol – E como será o museu?
Aléssio Gamberini Jr. – Será um museu virtual, nos moldes do Museu da Língua Portuguesa. Os visitantes não encontrarão peças expostas, mas centenas de imagens, propondo uma série de situações que relacionam o esporte à história cultural, social e comportamental do Brasil. Os visitantes poderão interagir com fatos reais vividos em estádios de futebol de todo o mundo.
Cidade do Futebol – Qual o seu tamanho e onde deverá ser costruído?
Aléssio Gamberini Jr. – O museu ocupará uma área de 5,6 mil m2 aproximadamente, e deverá ficar localizado logo na entrada principal do estádio. A fachada principal permanece, mas seu interior será todo alterado para abrigar a obra.
Cidade do Futebol – Qual será o custo para o público?
Aléssio Gamberini Jr. – Ainda não está definido, mas será aberto a visitação por um custo simbólico de entrada. Porém, a prefeitura já estuda projetos sociais para facilitar a visitação de escolas e usuários carentes.
Cidade do Futebol – Você terá uma função direta no museu?
Aléssio Gamberini Jr. – Não terei uma atuação direta no museu, mas por ser parte integrante do complexo do Pacaembu, também estará vinculado ao meu trabalho. Em conjunto com a prefeitura e a SPTuris (São Paulo Turismo), cuidaremos de toda infra-estrutura. O curador já está definido e será o jornalista Leonel Kaz.
Cidade do Futebol – Recentemente foi divulgado que a prefeitura estuda a realização de obras no Pacaembu. O que deve ser feito?
Aléssio Gamberini Jr. – A prefeitura ainda está em fase de estudos para ampliar as vagas do estacionamento do estádio. Em breve deve começar um recapeamento do asfalto, porém o projeto que está em estudo é muito maior e vislumbra a construção de mais dois andares de estacionamento. Estas obras são necessárias, já que hoje a capacidade é de 90 veículos apenas. Se o projeto de construção de mais dois subsolos de estacionamento for aprovado, este número passaria para 400 vagas.
Cidade do Futebol – Uma visita do Papa Bento XVI está prevista para o estádio do Pacaembu. Você participa dos preparativos?
Aléssio Gamberini Jr. – Sim. Durante a visita do Papa Bento XVI está previsto um encontro aqui no Pacaembu entre vossa santidade e 30 mil garotos. Além dos 30 mil, que acompanharão o Papa dentro do Pacaembu, outras 200 mil pessoas são esperadas do lado de fora. Estou trabalhando para garantir que o estádio estará em condições de receber todos bem. Semanalmente, membros do Vaticano, da Policia Federal e de outras instituições, vem conferir como estão os preparativos e minha missão é orientá-los e garantir que tudo ocorra da maneira correta. Preciso acompanhar os trabalhos e garantir que a casa esteja em ordem para mais este evento.
Cidade do Futebol – Há pouco tempo o vereador Juscelino Gadelha propôs a demolição do tobogã e a reconstrução da antiga concha acústica. Qual sua opinião sobre o projeto?
Aléssio Gamberini Jr. – Minha opinião pessoal é que o tobogã destoa muito do restante do projeto do Pacaembu, de como era a leitura original do projeto com a concha acústica. Mas ele foi construído para aumentar a capacidade e, hoje, é fundamental para a realização de algumas partidas que exigem uma capacidade maior de público. Sem dúvida do ponto de vista arquitetônico ele não se enquadra ao restante do estádio, porém é fundamental para manter a capacidade. Esta é uma discussão que ainda deve render muito assunto. É muito difícil ter uma opinião sobre a demolição ou não do tobogã. Vou continuar trabalhando e participando diretamente de debates. Tenho a certeza que o melhor será decidido.