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Porque o futebol não gosta de mudança?

Olá amigos,

Hoje quero discutir com vocês algo que já comentamos em diversas situações: a dificuldade das pessoas, ou seria da instituição chamada futebol, em aceitar e lidar com as mudanças e com o novo.

Falamos essencialmente sobre a adoção da tecnologia na arbitragem, sobre a utilização destes recursos por parte de técnicos e dirigentes como ferramentas auxiliares. Refletimos ainda sobre tal receio ser observado não só com os recursos tecnológicos, mas com tudo que é novo em termos de processo e ações diferenciadas.

Comentamos ser, até certo ponto, natural do ser humano o medo de lidar com o desconhecido, como primeira reação antes de uma adaptação com ambientação e controle do novo. Mencionamos esse fato com o exemplo do dentista incorporado a seleção de 58 por Paulo Machado, que foi alvo de inúmeras críticas e hoje é reverenciado como o Marechal da Vitória, destacando dentre suas ações ter percebido a importância do tratamento das infecções dentárias dos jogadores para o desempenho naquela época.

Enfim falamos sobre o processo digestivo do impacto tecnológico, utilizando a expressão de Lima para compreender que é necessário um tempo para se digerir e acostumar com o novo.

Porém, o que observamos é que o mundo do futebol insiste em ir na contra-mão de todos os segmentos. E que me desculpem os mais conservadores, isso não é romantismo, isso é atraso.

Utilizo como referência o técnico interino Sergio Baresi do São Paulo. Na semana que vem farei novamente uma reflexão tendo como base o São Paulo, focando a questão de planejamento e troca de técnicos.

Em meio a todo o turbilhão que vive a equipe paulista, Sergio Baresi assumiu interinamente com a perspectiva e esperança que pudesse fazer o que Jorginho fez no Palmeiras na saída de Luxemburgo, e o que Andrade fez com Flamengo: se der certo vai ficando.

Porém, Sergio Baresi representa, comparando o que existe no mundo do futebol hoje, o novo. E como tudo que é novo, sofre com o impacto digestivo. E pior, não só dos costumeiros críticos de carteirinha, sofre críticas dos mais diversos segmentos, de dirigentes, de imprensa e dos próprios jogadores, pasmem.

Ilustram essas críticas, manchetes e reportagens que relatam que o técnico quis inventar num determinado jogo, um jogador que fala que demorou o treino inteiro para entender o que o técnico pedia, um dirigente que apóia sem apoiar. Enfim, na emergência recorre-se ao novo, porém, sem dar espaço para que ele possa desenvolver suas idéias, porque corre-se o risco do novo “contaminar” a estrutura velha e precária do futebol.

É assim com Baresi, é assim com a tecnologia, é assim com qualquer processo que traga inovação para o futebol, porque como diriam alguns: “processo é coisa de advogado e não do futebol.” Que os novos processos incorporados à prática e gestão do futebol possam inocentar-me.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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A mídia e a Copa

A mídia está preparada para a cobertura da Copa do Mundo no Brasil? Essa pergunta, a cada dia que passa, fica maior, pelo menos para mim. Não, a questão aqui não é simplesmente nos perguntar se nossa imprensa saberá falar do tema futebol com mais ênfase do que já existe. Isso, está muito claro, os jornalistas estão mais do que aptos a falar.

O problema reside fora das quatro linhas. Em busca do furo, da notícia em primeira mão, do inédito, muitos jornalistas têm, no que tange à organização da Copa do Mundo, deixado de lado o senso crítico para adotar o interesse pela informação.

Saber onde será a abertura do Mundial, ter uma notícia exclusiva sobre a escolha de um estádio ou poder dizer primeiro qual a nova cifra envolvendo uma construção da Copa.

Em busca dessas informações, o senso crítico muitas vezes é deixado de lado pelo jornalista. E é aí que reside o maior problema do Mundial.

Será que o jornalista brasileiro vai conseguir se manter crítico em meio a uma disputa feroz por audiência e prestígio? Em nome da fama, muita gente deixa se levar por jogos políticos e interesses maiores em relação à Copa do Mundo no Brasil.

A mídia talvez não esteja preparada para perder a audiência, mas ganhar pelo Brasil no Mundial. Em nome de muito furo de reportagem teremos, até 2014 e além, muita derrota da análise crítica e da isenção.

Na era do controle do envio de informações, o jornalismo tem cada vez mais ficado longe da sua essência, que é o combate ao que se faz de errado.

A questão do estádio paulistano para o Mundial, ou o atraso das sedes em simplesmente todo o processo de construção do país da Copa mostra, claramente, como estamos despreparados para a Copa do Mundo. Pelo menos fora das quatro linhas.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br 

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Clube de futebol falido

A expressão “clube de futebol falido” vem perseguindo o ideário deste esporte há muito tempo no Brasil.

Talvez o seu clube do coração já tenha padecido deste rótulo outrora.

Nesta semana, um deles foi à falência. Não legalmente, de direito, como se costuma dizer.

Mas de fato.

O Moto Club, de São Luís, no Maranhão, fundado em 1937, decretou o encerramento das atividades.

O clube venceu 24 campeonatos estaduais, mas já vinha sofrendo dificuldades financeiras e esportivas, confusões com a Federação de Futebol do Maranhão, o que o conduziu ao rebaixamento para a 2ª divisão estadual em 2009.

Atualmente, qualquer 2ª divisão estadual é uma penúria para os clubes…

Juridicamente, a falência decorre de um processo judicial de arrecadação dos bens do falido e verificação do passivo deixado pela empresa, tendo como finalidade o pagamento de credores e apuração de eventuais crimes falimentares.

Neste caso, foi mais uma declaração de autofalência proposta pelo clube do que algo perpetrado por terceiro.

Acredito que, realmente, a situação do clube deveria estar irreversível.

Na atividade econômica privada e com fins lucrativos, normalmente, antes da falência, tenta-se salvar a empresa e tudo aquilo que dela depende com um período antigamente chamado de concordata.

A concordata foi substituída pelos conceitos de recuperação judicial ou extrajudicial. São termos que expressam melhor o instituto jurídico que visa prolongar a existência de um empreendimento, beneficiando credores e trabalhadores, segundo parâmetros de saneamento legal-financeiro da gestão.

Seria benvinda uma força-tarefa, no futebol brasileiro, capaz de mapear e indicar soluções para a sustentabilidade da indústria, baseadas numa matriz de gestão, jurídica, financeira, econômica e de marketing.

À exceção de raros clubes e de raríssimas federações e, principalmente, da CBF, muita coisa chegaria à autofalência ou à declaração de falência, sem sequer ter fôlego para um processo de recuperação.

Triste, mas verdadeiro, pois o mercado do futebol no Brasil é demasiadamente saturado.

Mercados saturados costumam ter concentração de negócios visando à eficiência, ganhos de escala e sustentabilidade. Fusões e aquisições costumam ocorrer naturalmente entre empresas.

No futebol, fica quase impossível imaginar.

Difícil supor que o Moto Club fosse incorporado por ou fundido com o Sampaio Corrêa para se tornar uma força do futebol regional.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Fatores da derrota

Muitos de nós que estudamos e trabalhamos com o esporte, em algum momento de nossa jornada, já ouvimos, desconfiamos e/ou concordamos, que o desempenho esportivo depende de muitos fatores (ao mesmo tempo!).

Esses fatores interagem entre si, e dependem, com mais, ou com menos força, uns dos outros.

No futebol, no entanto, quando se ganha, ou quando se perde (ainda que exista consenso sobre a “multivariedade” de fatores que estão ligados ao desempenho final de uma equipe), a tendência rotineira é de que as explicações para uma vitória ou uma derrota sejam “unifatoriais”.

Em outras palavras, quero dizer que existe uma força quase incontrolável no futebol, que gera uma necessidade de se atribuir relações simples e diretas de causa-efeito, para explicar coisas complexas, de maneira que heróis e vilões são construídos e desmanchados de um jogo a outro.

Ora, se a preparação e o desempenho competitivo de um futebolista dependem de um emaranhado de fatores, isolar causas, perdendo a visão de todo um contexto global-integral para justificar resultados, significa dar ao acaso, qualquer possibilidade de prever, dimensionar e controlar os “efeitos”.

Se em uma equipe de futebol, o objetivo de seus gestores é conseguir fazer com que o todo (a equipe), seja maior que a soma das partes (os jogadores), sem perder de vista as particularidades dessas partes, e ao mesmo tempo propiciar que elas (as partes), tenham seus desempenhos potencializados pelo todo, como conseguir concretamente que a performance coletiva de uma equipe melhore ao ponto de se conseguir vitórias e conquistas?

Ainda que o que vou escrever agora possa soar “simplista” ou cartesiano (e eu adianto e garanto, não é nada simplista, e muito menos cartesiano), com os óculos certos poderemos ver a imagem que quero desenhar. Se tomarmos o conceito de “inteligência” como algo dinâmico, vivo, circunstancial, e se aceitarmos que em um jogo de futebol ela se manifesta individual e coletivamente; vencerá jogos aquela equipe que for mais inteligente!

Então, respondendo a pergunta que antecedeu o último parágrafo, para conseguir concretamente que a performance coletiva de uma equipe melhore, ao ponto de conquistar vitórias, precisamos torná-la mais inteligente para jogar.

Não vou entrar no mérito de uma saudável discussão sobre questões que envolvem o conceito de inteligência. Isso já foi imensamente discutido por mim em outro fórum.

Quero aqui apenas salientar que se assumirmos que dentro de um jogo de futebol, a cada fração de segundo, novas circunstâncias se desenham, e propõem dinamicamente novos problemas para que jogadores e equipe os resolvam com urgência, dar solução à eles significa estar apto, integralmente (fisicamente, mentalmente, tecnicamente, taticamente, etc.), para agir da melhor maneira possível.

E agir da melhor maneira possível é a expressão de uma inteligência circunstancial de jogo, individual e coletiva.

Essa inteligência, dentro do contexto de jogo, se manifestará muitas vezes em situações extremamente emergenciais, onde o hiato entre o pensar e o agir praticamente desaparece, e a intenção se tornará a principal norteadora da ação.

A construção de uma equipe vencedora passa, então, pela intencionalidade vencedora dos elementos que através de suas interações a compõe.

E o que isso significa? Significa que se o desempenho esportivo é multifatorial, talvez seja o ponto de partida para o entendimento dos motivos que levam a vitória ou a derrota, a compreensão sobre o conceito de intencionalidade.

Claro, não quero reduzir a ideia de intencionalidade, ao vencer ou perder no jogo de futebol. Muito longe disso! Mas entendê-la melhor (a ideia a respeito de intencionalidade), pode ajudar a enxergar o processo de preparação do “ser humano futebolista”, e especialmente possibilitar aos gestores de uma equipe (diretores técnicos, gerentes de futebol, coordenadores, treinadores, etc.) a perceber as pequenas sutis questões do processo que eu chamarei de pedagógicas (porque todas são), que podem fazer toda diferença!

Aí, quem sabe, grandes quedas possam ser evitadas, e turbulências, mesmo quando forem inevitáveis, recebam atenção prévia de um planejamento que permita ao voo seguir em frente…

Para fechar esta semana, um texto que já utilizei em algum outro momento do passado, mas que dada minha indignação com as “palhaçadas” que acontecem no Brasil, e que especialmente afloram em época de eleições, acho que cabe novamente.

Escrito por Elisa Lucinda, e declamado por Ana Carolina, segue a composição “Só de sacanagem”:

“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
– Não roubarás!
– Devolva o lápis do coleguinha!
– Esse apontador não é seu, minha filha!
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
– Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.
E eu vou dizer:
– Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão:
– É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi:
-Não admito! Minha esperança é imortal!
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Ruim, mas muito bom

A Fifa concluiu hoje a inspeção da proposta da Inglaterra para hospedar a Copa do Mundo de 2018. A conclusão foi que a proposta é quase perfeita. Na cabeça dos inspetores, outra conclusão, imagino, é que a Inglaterra está mais pronta hoje pra receber uma Copa do que o Brasil, ainda que exista uma diferença de quatro anos entre um e outro.

Isso porque, diferente do Brasil, a proposta da Inglaterra se baseia principalmente em estádios prontos. Das doze cidades que fazem parte da proposta inglesa, cinco (Londres, Birmingham, Sunderland, Manchester e Newcastle) já tem estádios que poderiam ser sede da Copa no próximo final de semana. Outros cinco precisam passar por reformas em diferentes proporções (Liverpool, Leeds, Milton Keynes, Sheffield e Plymouth) e apenas dois novos estádios precisarão ser construídos do zero (Nottingham e Bristol). Com distâncias bastante curtas entre as cidades e uma malha de transporte bem desenvolvida, o problema, por enquanto, é apenas hotelaria, já que Newcastle, Leeds e Sunderland não são lá grandes pólos turísticos.

Obviamente, não dá pra comparar uma coisa com outra. São duas realidades financeiras e, principalmente, organizacionais completamente diferentes. Mas também é óbvio que não dá pra fechar os olhos pro atraso absurdo da Copa de 2014. O atraso é tão grande, mas tão grande, que parece que ninguém tá acreditando muito que a Copa vai ser por aqui. Porque uma coisa é começar, a outra é acabar um estádio. Nesse ínterim, um oceano de outros atrasos podem e irão ocorrer. Muito do que foi visto na África do Sul deve se repetir, principalmente, as greves de trabalhadores dos estádios. Eu, se fosse trabalhar na construção dum estádio, faria greve. Afinal, com prazos apertadíssimos, o poder de barganha está todo em minha mão. Um líder sindical mais esperto conseguirá grandes aumentos de salário e benefícios para a classe por conta da ameaça de paralisação das obras. Ou conseguirá grande aumento na conta bancária própria para não começar um movimento de ameaça de paralisação das obras.

Fora isso, as obras poderão ficar dependentes da justiça brasileira, o que normalmente é um baita problema. Ações deverão aparecer de todos os lados. Funcionários, construtoras, fornecedores e governos acionarão um ao outro na justiça. Os períodos pré e pós Copa deverão testemunhar enormes batalhas jurídicas.

Em outros tempos, isso talvez não fosse um problema. Em 1950, por exemplo, essas coisas não devem ter incomodado muito. O país ainda caminhava no estabelecimento de suas instituições, o que criava um cenário mais livre para o governo fazer o que bem entendesse. A Copa foi enfiada goela abaixo na sociedade. No boom de estádios dos anos 60 e 70, a mesma coisa deve ter se repetido. Para o azar da Copa e da Fifa, o Brasil evoluiu bastante de lá pra cá. Hoje, ao que tudo indica, o cidadão consegue ter muito mais voz do que tinha antes, e a sociedade civil consegue ao menos criar obstáculos, ainda que mínimos, aos desmandos governamentais. E isso, ao que tudo indica, pegou todos aqueles que planejaram a Copa no Brasil meio que de surpresa.

A lentidão no início da construção dos estádios brasileiros pode ser vista por muitos como sinal de incompetência da sociedade brasileira. Não ter a estrutura minimamente pronta, de fato, é incompetência das grandes. Que ela esteja demorando a começar a ser construída, porém, é um sinal de maturidade social. Aparentemente, o governo e os governantes não conseguem fazer mais o que querem com o país. E isso é extremamente louvável. A demora e a lentidão no início da construção de estádios e estrutura para a Copa do Mundo pode ser visto como algo muito, muito positivo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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O jogo proibido

Uma rede importante de televisão aberta, em seu telejornal de horário nobre, iniciou nesta segunda-feira uma série de reportagens que mostra o “outro lado do futebol”, intitulado “O JOGO PROIBIDO”. Nele relata os escândalos e envolvimento de atletas da modalidade com os submundos, promiscuidades e tudo mais de ruim que pode se julgar socialmente e politicamente incorreto.

Abrindo um parêntese, devo dizer que esta é uma questão super relevante de debate e o fiz em algumas oportunidades, inclusive em textos e colunas aqui neste portal, que se refere à responsabilidade dos clubes na educação de jovens jogadores para os tornarem melhores cidadãos, ou seja, referência para aquelas pessoas que os idolatram e tem os atletas como modelo de conduta a seguir.

Mas desta feita vou inverter um pouco os papéis e pensar que o futebol como um todo é uma enorme corporação (o que na verdade é…). Vamos falar então em “Futebol S.A.”, formado pelas entidades de administração e prática desta modalidade. Se a “Futebol S.A.” fosse unida de fato, operando em um mercado de acordo com sua missão, visão e valores, deveria, perante informações que denigrem sua imagem corporativa, exercer uma força contrária para reverter aquilo que a opinião pública traduz sobre suas atitudes.

Longe de querer defender a atitude repugnante de algumas estrelas de nosso futebol. Reforço: bem longe disso, até porque concordo que algumas barbáries cometidas não fazem parte daquilo que defendemos como socialmente responsável e correto por cidadãos. Apenas fico impressionado como a opinião pública trata, em inúmeras situações, o futebol à margem da sociedade.

Pegam depoimentos de “mulheres da vida”, como é o caso da reportagem ora comentada, que relatam histórias espetaculosas havidas com jogadores e envolvimento com drogas como uma verdade fim. Maquiam reportagens como se isso acontecesse apenas no ambiente dos jogadores de futebol e que a culpa toda está centrada única e exclusivamente nos clubes, por formarem incorretamente seus craques.

Acredito que haja sim um distanciamento dos clubes daquilo que chamamos de educação esportiva para a tal educação social, sendo que eles têm sua parcela de culpa. Também não estou aqui para dizer se o que a série de reportagens mostra é verdade ou não, mas sim para, se é fato tudo o que ocorre no meio do futebol, é fácil imaginar que isso acontece em todos os graus da nossa sociedade.

Não sejamos hipócritas em afirmar (e acreditar) que é porque os atletas são provenientes de classes econômicas inferiores e depois percebem elevados vencimentos, não tendo limites sobre suas ações posteriormente junto à sociedade como um todo. Jogadores de futebol não são aberrações da natureza, tal e qual muitas vezes a mídia os trata.

A necessidade de educação, sociabilização e respeito ao próximo de crianças e adolescentes é um problema sério em todos os setores de nosso país, não só no futebol. É um problema de Estado. Na forma em que é conduzida a informação para o público, o senso comum vai traduzir que nenhum jogador de futebol tem valor social e que, em consequência disso, não vale a pena mais “perder tempo” (e dinheiro) com ele(s), comprando ingressos para ver seres irresponsáveis que saem do jogo e vão para prostíbulos ou “encher a cara”.

Esse tipo de mensagem é péssima para a indústria do esporte e do futebol em particular, podendo ter efeitos nocivos no médio-longo prazo para os negócios, a comercialização da imagem dos jogadores, a venda de direitos de transmissão, a constituição de produtos licenciados etc., devendo ser combatida, em ações preventivas e também contrárias pela “Futebol S.A.”.

Ou a organização se une para transmitir mensagens mais positivas em relação àquilo que ela realiza e defende, protegendo sua imagem corporativa ou então as informações negativas, pouco a pouco, vão minar a intenção de investimentos públicos e privados. 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Blindagem felipônica

Luiz Felipe Scolari chegou ao Palmeiras, criou uma regra para que os jogadores não dessem entrevista à beira do campo, reclamou da arbitragem, da imprensa, da torcida e… Agora, numa vitória extraordinária sobre o Vitória, voltou a ser o Rei Felipão, aquele que é especialista em mata-mata, que sabe conduzir um time como poucos, que tem a sina de ser um vencedor.

Por trás de todo esse sucesso de Felipão está uma interessante estratégia de tratamento com a mídia que o treinador adota e que, aos poucos, cria num time o ambiente propício para que os atletas tenham calma para trabalhar, a imprensa deixe de ser tão perseguidora e, por fim, a equipe consiga se tornar vitoriosa.

Felipão usou a velha tática de criar e derrubar crises para desviar o foco de atenção. Quando chegou ao Palmeiras, o treinador encontrou um clube em frangalhos, com crise de identidade e sem resultados dentro de campo. Para encerrar com especulações em torno de atletas e dirigentes, ele assumiu o papel de porta-voz do time.

Ninguém mais falou, apenas ele. E, nessas declarações, o treinador passou a ser um espanta-crise. Ou um gerador de outros problemas, que não a sua equipe. Uma derrota e a culpa foi do árbitro. Um empate bobo dentro de casa, falha da torcida, que não pressionou o quanto deveria. Outro empate bobo, fora de casa, e declarações de que a coisa não ia bem por falha dele…

A estratégia desviou o foco do time e passou a ser o treinador. Atletas proibidos de falar logo após o jogo. Com a cabeça fria depois de passarem pelo vestiário e, quem sabe, até com um discurso previamente acordado, os jogadores começaram a falar só na saída do estádio.

Aos poucos, a biruta virou. E, ao que tudo indica, mudou o vento desde a quinta-feira, quando heroicamente o Palmeiras conseguiu a classificação na Copa Sul-Americana aos 43 minutos do segundo tempo, numa festa emocionante, unindo time e torcida como há cerca de dez anos não acontecia, justamente quando Scolari era o comandante do time campeão da América.

A seu estilo Felipônico, Felipão dá uma aula de como gerenciar crises, manipular o comportamento da mídia e, o mais importante, dar tranquilidade para sua equipe. Dizer que tudo isso é sorte é ser muito superficial. Mas que, sem dúvida, o imprevisível é sempre mais a favor de Scolari, isso é inegável…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A bola não entra por acaso

O Internacional acaba de conquistar, pela segunda vez, em 5 anos, a Copa Libertadores da América.

Não foi por acaso.

Nada é por acaso.

O processo evolutivo na gestão do clube passou por um período de diagnóstico, do qual o grande professor Medina foi o protagonista, na gestão anterior ao grupo que está comandando o clube há 8 anos. Naquela ocasião, a devassa no clube sugeria um conjunto de mudanças que passavam da cozinha ao ponta-esquerda.

O Internacional passou a equilibrar-se na gestão e nas finanças a partir de boas campanhas esportivas nas competições em que disputava. Essa é a premissa que interessa: um clube de futebol vive de conquistas esportivas, ainda que parciais. Participar de um torneio continental de clubes já é uma conquista.

O FC Barcelona – que, apesar da grandiosidade institucional e esportiva, foi derrotado pelo próprio Internacional no Mundial Interclubes em 2006 – é exemplo de gestão.

Tive a oportunidade e o privilégio de, no ano passado assistir a uma palestra proferida pelo ex-diretor econômico do clube na gestão 2003-2008, de Joan Laporta. A palestra inspirou o livro A Bola não Entra por Acaso, que acabo de ler e se recomenda como leitura obrigatória na área de gestão.

É, diretor econômico é algo mais amplo e complexo que apenas diretor financeiro ou contador (controller para os que defendem o vocabulário corporativo em inglês).
E um clube como o Barça o tem em seus quadros. Duvido que exista um diretor econômico no futebol brasileiro.

A economia, segundo o portal Wikipédia, consiste na produção, distribuição e consumo de bens e serviços. O conceito vem do grego oikos (casa) enomos (costume ou lei), ou também gerir, administrar: daí “regras da casa” (lar) ou “administração da casa”.

É também a ciência social que estuda a atividade econômica, através do desenvolvimento das teorias econômicas, e que tem na administração a sua aplicação. Portanto, quanto mais próxima a administração da economia, mais um clube terá chances de “arrumar a casa” e buscar a performance esportiva, que é sua essência. Maiores, então, são as chances de racionalizar o planejamento e executá-lo.

Claro que é obrigatória a interpretação diagnóstica inicial para executar as mudanças com certa dose de ousadia e pulso administrativo.

Tal qual fez o Barcelona em 5 anos.

Tal qual fez o Internacional em 5 anos.

E que, se bem administrados segundo princípios da economia, podem projetar ciclos de crescimento mais longos.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A duração da sessão de treino: a fisiologia, o Modelo de Jogo e os equívocos emergentes

Na semana passada apresentei na Coluna Tática, um exemplo de sessão de treino, a partir da construção de jogos com regras específicas.

Mais uma vez a repercussão foi muito boa e recebi muitos e-mails. Creio que não conseguirei responder a todos, então me adianto em agradecer as mensagens. Li atentamente todas elas.

Pautando-me em uma dúvida comum que surgiu em alguns desses e-mails, resolvi escrever o texto de hoje.

No texto da semana passada, para ilustrar a sessão de treino da qual falava, acrescentei algumas figuras, com alguns apontamentos sobre as atividades, e com a descrição resumida de cada uma delas. Em todas, escrevi que o tempo de duração do jogo apresentado, era controlado e definido, em função da solução dos problemas propostos.
 

 

Pois bem. Foi justamente com relação ao entendimento da variável “tempo” que algumas pequenas “confusões” surgiram.

E é sobre isso que quero debater.

Antes, porém, cabe salientar que os conceitos que envolvem esse debate, sob o ponto de vista da complexidade, merecem muitas páginas e argumentos (já deram inclusive, origem a pesquisas de mestrado e doutorado). Vou tentar, no entanto, ir “direto aos pontos” e resumir o máximo que puder sem perder a qualidade das informações.

Como já mencionei em outra oportunidade, pautar-se na complexidade para a construção de meios, métodos e modelos de treino no futebol, significa tomar como norteador do processo para o desenvolvimento e evolução de um jogar melhor, o próprio Jogo (em letra maiúscula) – e não o Modelo de Jogo (e isso muda tudo).

A evolução e desenvolvimento de um jogar melhor, sempre se expressará através dos jogadores, individualmente e como equipe, jogando.

Jogar melhor significa resolver melhor os problemas que surgem, quando se está jogando. Para resolver melhor os problemas do jogo, o jogador deve estar apto a fazê-lo (expressão de sua intencionalidade). E estar apto, significa ter condições totais e indissociáveis (psíquica, mental, física, técnica, fisiológica, etc.) para fazer o que é melhor para resolver o problema circunstancial do jogo.

Ora, como garantir em uma sessão de treino, a partir de jogos com regras específicas, adaptadas e direcionadas, que o jogador evolua individualmente e coletivamente o seu jogar?

Claro, compreendendo a complexidade de coisas que interferem ao mesmo tempo e o tempo todo na expressão desse seu “jogar”.

Então, por exemplo, com relação à duração da sessão de treinamento, e seus objetivos complexos (que são ao mesmo tempo, físicos, técnicos, táticos, mentais, sócio-culturais, psicológicos, etc.) o tempo total de atividade é dimensionado a partir do tempo real total em que o jogador está envolvido em uma sessão competitiva formal – no caso do futebol, o tempo de preparação para o pré-jogo formal + aquecimento para o jogo formal + tempo total do jogo formal + tempo da conversa e procedimentos finais.

Com a manipulação de outra variável da magnitude da carga (que não a duração), a “densidade”, por exemplo, ao longo de uma semana de treinos (ou de várias semanas, meses ou anos), é possível gerar respostas em vários níveis “aclimatativos” ou “adaptativos” – que gerarão também, por exemplo, melhor resposta metabólica (como me foi perguntado em um dos e-mails) as exigências do jogo.

Então, em uma sessão de treino, a partir da construção de jogos (mas não o “jogo pelo jogo”, sem compreensão sobre a idéia de processo), e respeitando conceitos da complexidade, as atividades, separadamente podem ter um tempo esperado, que é maleável, mas que respeite, por exemplo, a densidade (física, mental, técnica, etc.) planejada e também a duração total programada da sessão.

O mais importante, é que fique claro, que atrelar o tempo das atividades à solução dos problemas que elas propõem, não quer dizer deixar que o tempo dessas atividades transcorra ao bel prazer do acaso – pelo contrário, ele tem que estar amarrado à totalidade e transdimensionalidade que norteia o processo.

Na preparação do futebolista, sob o ponto de vista da complexidade, a dimensão tática do jogo não é mais importante que a dimensão física (ou vice-versa), nem a fisiológica mais importante que a mental ou qualquer outra. Todas são importantes e devem estar subordinadas ao Jogo. Subordiná-la a qualquer outra coisa (como a aspecto físico, tático ou Modelo de Jogo, por exemplo) pode significar um grande erro – e uma armadilha para quem dá os primeiros passos no estudo do tema.

Acho que é isso.

Por fim, uma frase de um texto que escrevi em 2008 (“Caos, acaso e equívocos sobre a preparação do futebolista”) que pode ajudar na reflexão (e colocar uma “pulga atrás da orelha”) dos amigos leitores, que têm me enviado mensagens com dúvidas sobre o conceito de Modelo de Jogo e a preparação desportiva do jogador de futebol:

“Construir uma preparação do futebolista tendo o Modelo de Jogo como fim é um equívoco. O delineamento do Modelo de Jogo deve estar subordinado ao cumprimento da Lógica do Jogo. A preparação do futebolista, então, só faz sentido se estiver subordinada ao Jogo”.

Ah, e mais uma coisa:

No dia 27 de agosto (sexta-feira), no período da tarde (15h30 as 18h30), ministrarei um curso no III Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol (“Preparação técnico-tática”). Para maiores detalhes, sobre o curso ou sobre todo o Congresso, segue o link com as informações:

http://www.educacaofisica.com.br/inscricoes/futebol/mostra_curso.asp?id=3456

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Raridades devem ser celebradas

Ontem pudemos ver uma bela festa no Pacaembu. Não necessariamente pela vitória do Palmeiras, mas principalmente pela comemoração em torno de São Marcos, que disputou sua partida de número 500 com a camisa do clube alviverde do Palestra Itália.

Sempre comentamos nesta coluna que vivemos tempos bem distintos de décadas passadas. Desde a decisão do caso Bosman, na Europa, com a consequente queda do conceito de “passe” gradativamente da Europa para o resto do mundo, o futebol vive tempos de grande comercialização e internacionalização de clubes, jogadores e até de seleções nacionais. O poder aquisitivo fala mais alto do que a identidade de atletas com seus clubes formadores.

A Fifa, sempre preocupada com os rumos que o futebol moderno toma e com possíveis efeitos indesejáveis desses rumos, patrocina uma campanha a favor da chamada “contractual stability” – estabilidade contratual. Esse conceito foi introduzido em seus regulamentos para incentivar que contratos sejam cumpridos. Veja que não estamos nem falando em permanência de jogadores por longos períodos nos clubes. A preocupação, dadas as circunstâncias, é focada no simples cumprimento de um contrato de um, dois ou três anos. Ou seja, os jogadores, nem nesses curtos períodos de contrato, tencionam a permanecer no clube empregador frente a uma proposta um pouco mais vantajosa (ou às vezes até menos vantajosa, mas com maiores perspectivas futuras).

Essa tendência, evidentemente, é compreensível. A carreira do jogador de futebol profissional é curta. Com 35 anos, qualquer profissional comum está em fase de amadurecimento. O jogador nessa idade já está em fase de aposentadoria.

Portanto, sem entrar na discussão do juízo de valores, gostaria de utilizar essa coluna para parabenizar todos aqueles que, diante de tantas dificuldades e tentações, são fiéis aos seus clubes de origem. Faço essa homenagem hoje em nome do Marcão, aproveitando o momento das justas comemorações pela marca alcançada de 500 jogos pelo Palmeiras. Mas, justiça seja feita, tantos outros merecem a lembrança. Essas são as “raridades a serem celebradas”.

Talvez esses exemplos possam servir para, ao menos, segurar nossos craques nos seus clubes de origem pelo período de formação, i.e., até os 21-23 anos. Para o bem dos clubes formadores, mas também, e principalmente, para o bem dos próprios atletas, que garantirão uma melhor formação pessoal e profissional, dentro e fora de campo, antes de se aventurarem a jogar em outros países.

E, finalmente, para o bem de todo o futebol brasileiro, que precisa emplacar a marca de seus campeonatos nacionais a nível mundial, como a individualidade do jogador brasileiro já conseguiu fazer.

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