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O que explica o Internacional

Analisar sucesso no futebol é sempre uma tarefa complicada e recheada de erros. Quando um time ganha uma partida, isso obviamente faz dele melhor do que o time que perdeu, do contrário o resultado não teria acontecido, independente das variações probabilísticas em curso. Daí a dizer que esse time que ganhou é sempre melhor do que o perdedor ou do que outros com quem ele nem jogou, há um abismo. E esse abismo, muitas vezes, não é respeitado.

Você já leu aqui que futebol é um fenômeno cíclico. Um amigo sabiamente me disse certa vez que todo jogador, independente do quão perna-de-pau for, um dia será chamado de craque. E provavelmente voltará a ser chamado de perna-de-pau pouco tempo depois. O mesmo acontece com times. Todo time será considerado bom em um dia e será considerado ruim no outro, para voltar a ser considerado bom, para depois retornar à ruindade. E assim a roda vai girando. É natural que times passem por ciclos de sucesso e de fracasso.

Esses ciclos, porém, tem sempre alguma motivação. Eles não são decorrentes de processos descontrolados, muito pelo contrário. São frutos de situações, trabalhos e projetos que fazem com que o time obtenha sucesso ou não. Muitas vezes esses processos são invonluntários, o que torna o sucesso instantâneo e breve. Em outras tantas, não.

Assim, se você pretender dar um passo acima da análise normalmente superficial feita pelos atores envolvidos no futebol, você precisa entender que se um time ganha um campeonato, pode ser sim por uma conjuntura única de fatores que dificilmente conseguirá ser replicada. Quando isso acontece, há pouco o que se comentar ou se estudar. Porém, quando um time consegue manter um alto nível de performance por alguns anos em sequência, aí sim há alguma coisa maior acontecendo com ele.

O Atlético Paranaense é um exemplo. No final dos anos 90, o clube conseguiu inventar um mercado novo de atuação, a transferência de atletas medianos. Começou a buscar jogadores desconhecidos e revendê-los para clubes mais ricos no Brasil e, principalmente, no exterior. Com isso, o clube conseguiu ampliar consideravelmente sua receita, o que o levou a entrar em um ciclo de vitórias que teve a primeira clara manifestação em 2001, com o título brasileiro, e terminou em 2004, com o vice-campeonato. A partir dali, o mercado que ele criou passou a ser ocupado por outros clubes, como São Paulo e Cruzeiro.

Em 2002, com a revelação de uma excepcional safra de jogadores, o Santos conseguiu iniciar um ciclo que resultou em dois títulos nacionais e durou até 2007. Em 2005, o São Paulo, com a atuação forte no mercado de empréstimos e de jogadores em fim de contrato, conseguiu criar um outro ciclo de sucesso, que pode ou não estar próximo do fim, possivelmente por conta da entrada de grupos de investidores no mercado, que criou uma nova fase no mercado de jogadores brasileiros e tornou escassa a disponibilidade de jogadores minimamente talentosos por um preço razoavelmente baixo.

O grande beneficiário dessa nova fase do mercado de transferências, com grandes grupos atuantes, parece ser o Internacional, que se relaciona muito bem com estes grupos e tem uma ligação quase que de mecenato com um dos maiores investidores existentes. E esse ciclo, que só se tornou possível por conta de grandes reformulações que o clube no início desse século, é o que pode explicar o grande sucesso do time, que culminou com a nova conquista da Libertadores.

Muito vai se dizer nos próximos dias sobre como que o programa de sócios do Internacional é fundamental para o sucesso do clube. Por mais que o programa seja louvável, porém, a influência dele no sucesso do time é mínima. Se muito, pode complicar o clube no futuro próximo, já que muitos desses mais de 100 mil sócios vão querer se eleger para a presidência ou diretoria, o que possivelmente tornará a disputa política interna algo com um potencial bastante destrutivo para a estrutura administrativa do clube, que precisará ser recheada de acertos, arranjos e favores políticos. No mais, independente dos sócios, a média de público do clube gira em torno de 17 mil torcedores, o que é pouco para ser considerado uma força diferenciada em relação a outros clubes.

Aparentemente, o que responde mesmo pela qualidade recente do time é a enorme habilidade do clube em negociar com diferentes grupos privados, seja na venda ou na compra de atletas, tanto nas equipes de base quanto na equipe profissional. Ao que tudo indica, o Internacional faz isso muito, muito bem, o que é louvável. Resta agora apenas saber quanto tempo vai levar para que o mercado mude ou para que alguém comece a fazer isso melhor do que ele.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Mais que um jogo

O título desta coluna é apenas uma livre tradução de um artigo que li recentemente e gostaria de compartilhar com os leitores do Universidade do Futebol. “More Than Just a Game? Corporate Social Responsibility and Super Bowl XL” (Mais que apenas um jogo? Responsabilidade Social Corporativa e o Super Bowl XL), de Kathy Babiak e Richard Wolfe (Sport Martketing Quarterly, 2006 – West Virginia University), conta a história do quadragésimo jogo final do futebol americano realizado na cidade de Detroit em 2005 e o impacto social causado por este multimilionário evento esportivo.

Lá, como cá, há a crítica recorrente das pessoas perante o investimento de altos montantes em estruturas para receber um megaevento, sendo que outras áreas poderiam ser prioritárias para investimento público ou mesmo privado, como a saúde e a educação.

A resposta, em alguma medida, passa justamente pelas ações sociais implementadas, com o cuidado de atender uma demanda reprimida e deixar um legado significativo do Super Bowl naquele ambiente. Tal análise, por óbvio, tem reflexo naquilo que esperamos de legados para a Copa e as Olimpíadas no Brasil.

O que chamou a atenção e motivou o levantamento destes dados é que a organização “Super Bowl” trabalhou (e trabalha) em inúmeras frentes, buscando o engajamento de parceiros governamentais, corporativos e organizações sem fins lucrativos, incluindo aí ONGs, escolas e fundações. O impacto de tais ações se baseiam no componente da ética, elemento base e chave dentro de itens relacionados à responsabilidade social.

Destaca-se, assim, itens relacionados com o meio-ambiente a partir do implemento de programas de reuso de alimentos, reciclagem de lixo do jogo e a plantação de árvores para neutralizar a emissão de gases de efeito estufa decorrentes do aumento do tráfego de veículos. E nós, com a “Copa Verde”, o que temos de projetos efetivamente sendo desencadeado neste sentido?

O programa de combate a práticas injustas de negócios, abrindo oportunidades para pequenas empresas se tornarem fornecedoras do Super Bowl, contribuindo sobremaneira para a comunidade em que o evento se instala. Na ocasião, 750 empresas puderam se inscrever e 250 delas receberam contratados que giraram em torno de 5,8 milhões de dólares.

Ações filantrópicas igualmente foram observadas: doação de livros para escolas públicas de Detroit; construção de casas para desabrigados; ações culturais e algo em torno de 8 milhões de dólares investidos em benefícios diretos para a comunidade local.

Todas as ações, em alguma medida, utilizam o potencial midiático e de relevância social que o esporte proporciona. Todas as ações, em certos casos, são de simples execução e, por conta disso, acabam tendo um respaldo comunitário importante para a sua consecução.

Finalizo para uma reflexão final: o atendimento aos inúmeros interessados e não só aqueles que se ligam por um número “X” de horas para ver os jogos é o grande diferencial de negócio implementado pelo Super Bowl. E nós, como conseguiremos alcançar todo potencial competitivo dos maiores eventos mundiais, deixando legados sociais significativos para as regiões de abrangência e o país? Será que estamos nos preparando efetivamente para isso? Ou só teremos atitudes pontuais, com reflexo único e exclusivo durante os dias de jogos?

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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A função de analista de desempenho: quem deve ser?

Olá, amigos!

Na semana passada, falamos sobre a função de analista de desempenho que Mano Menezes indicou para a seleção brasileira.

Recebi e-mails de alguns amigos que leram a coluna citada. Alguns comentários gerais, mas em quase todos tivemos uma reflexão de quais os pré-requisitos para esse novo profissional, quais os conhecimentos necessários e, sobretudo, onde formá-lo.

Com o despertar desse tema, me arrisco a levantar alguns pontos, sem a pretensão de ter a verdade, apenas de estimular o debate.

Antes de qualquer caracterização sobre as competências e habilidades desse profissional, é importante ressaltar que o técnico tem decisivo papel na escolha e na elaboração das funções que serão desempenhadas pelo analista. É o técnico quem deve definir a pessoa e o perfil das atividades que devem ser desenvolvidas, afinal é a ele que serão reportadas as informações e as interpretações.

Nesse aspecto, acho que quando pensarmos em cursos, atualizações ou seminários sobre o assunto, uma figura importante para debater a função do analista de desempenho é o próprio técnico. Não adianta nada discutirmos e elaborarmos uma riquíssima estrutura de conhecimentos pensando a formação e orientação deste “novo” profissional sem ouvir o mais interessado nos resultados fornecidos por ele.

Feito isso podemos elencar, em caráter de reflexão para o debate, alguns breves pontos para quem pretende se inserir neste segmento.

a. Formação

O conhecimento da ciência do treinamento esportivo é importante para esse profissional, pois deve compreender as variáveis e aspectos que interferem no desempenho esportivo.

Agregado a isso, o profissional pode direcionar sua formação para uma visão integrada de trabalho, buscando elementos dos estudos da gestão de informações e conhecimento para complementar sua atuação

b. Especialização em análise do jogo

Um aspecto que pode ser o diferencial deste profissional, quando o mercado realmente entender a sua importância e continuar a valorização dada pelo técnico da seleção, é o aprofundamento nas ciências e estudos focados na análise de jogo.

Estudos de Hughes, Franks, Bayer, Garganta, entre outros, são caminhos importantes para compreender a lógica dos jogos coletivos bem como os processos da analise do jogo

c. Relações pessoais – Networking

O bom relacionamento e os contatos pessoais como em qualquer área são imprescindíveis. É através dele que as portas se abrem para que o profissional possa mostrar seu valor e a partir disso se estabilizar graças às suas competências

d. Atualização tecnológica

Para alguns isso pode soar estranho, já que vivemos numa era tecnológica, porém para outros isso pode ser um tormento. Mas é extremamente necessário que o analista de desempenho se torne um usuário intermediário dos recursos tecnológicos. Não basta usar o computador para ler e-mail e ver vídeo – dentre suas habilidades, devem ser desenvolvidas questões de análise de planilhas, elaboração de relatórios, interação e aprendizados constantes dos sistemas e novos sistemas que surgirão nesse segmento.

Por fim, ressalto que são pontos levantados para discussão. Com certeza há inúmeros outros aspectos que devam ser considerados, e outras opiniões que podem contribuir para entendermos o caminho que poderá ser seguido para quem pretende se aventurar nesse campo.

Mano Menezes abriu este debate. Agora cabe a todos nós contribuirmos com os rumos que podem ser tomados.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Cala a boca, Galvão?

“Eu acho até que a Globo deveria mandar mais no futebol. Porque ela paga as contas”. Essa foi a frase dita por Galvão Bueno em entrevista à jornalista Mônica Bergamo na “Folha de S. Paulo” do último domingo.

Pelas mídias sociais, muita gente ampliou o coro do “Cala a boca, Galvão”, por conta da declaração. Muito dessa gritaria veio, possivelmente, por ser Galvão Bueno. A voz da televisão brasileira no esporte já há, pelo menos, quase duas décadas. O cara que fala pelos cotovelos e que, muitas vezes, fala mais do que deve. Ou que deveria, pelo menos na visão do torcedor.

Mas Galvão não falou tanta bobeira assim. Porque a pergunta foi sobre o futebol. Sim, a Globo impõe alguns horários dos jogos, dificulta a aparição de patrocinadores, boicota times com nome de empresas. Mas sua influência sobre as disputas do futebol geralmente para por aí. Fossem outras modalidades esportivas disputadas no Brasil, aí Galvão nunca poderia dizer que falta maior poder para a emissora.

A Globo manda no esporte fora do futebol. É ela quem determina quando, como e o que pode ser veiculado pela TV aberta no país. Essa política de dominação do mercado atrapalha, e muito, no desenvolvimento de outras modalidades esportivas. Mas, mesmo aí, fica-se naquela velha discussão sobre quem é mais poderoso: a mídia ou o esporte. Sob essa ótica, Galvão deu mais uma de suas Galvãozadas. Dizer que a Globo precisa ter mais poder sobre o esporte porque é ela quem paga a maior parte da conta é uma grande besteira.

No futebol, nos últimos cinco anos, a influência da TV sobre a receita dos clubes tem ficado cada vez menor. O desenvolvimento do esporte como negócio tem feito com que os clubes ganhem cada vez mais com patrocínio, venda de ingressos, venda de produtos licenciados e criação de programas de incentivo para os seus torcedores (mais popularmente conhecido como sócio-torcedor). Isso tudo faz com que o bolo tenha fatias cada vez mais parecidas entre essas que são as principais fontes de arrecadação dentro de um clube de futebol.

Além de o poder de barganha da TV ter ficado mais fraco por conta disso, outro fator, que é muito importante, deve ser levado em consideração nessa que é uma das mais delicadas relações do esporte: a convivência da mídia com o esporte.

Sim, a Globo é rica, influente e forma opinião. Com isso, ter uma competição esportiva exibida pela emissora é um dos sonhos de qualquer organizador de evento. Cinco minutos na telinha da Globo valem muito mais do que uma hora em qualquer outro veículo de mídia neste país.

Mas será que o esporte também não é artigo de luxo para a Venus Platinada?

As maiores audiências da TV estão hoje ligadas ao esporte. Numa era de fragmentação da mídia, com o consumidor passando a ser quem decide o que vai ver, como vai ver e onde vai ver, o conteúdo de um veículo de mídia passa a ser o seu produto mais valioso.

Não é mais a grade fixa de programação de uma emissora que determina o comportamento de consumo, especialmente entre aqueles com maior poder aquisitivo (e que, por conta disso, tem acesso mais fácil aos diferentes tipos de mídia). É o consumidor que escolhe.

Com isso, o esporte ganha uma força brutal na estratégia de um canal de TV. O conteúdo de uma competição esportiva passa a ser fundamental para assegurar audiência. A fidelidade do torcedor com seu time ou atleta preferido levam-no a querer consumi-lo em tempo real, quando o evento esportivo acontece.

É uma situação diferente daquela vivida pelo fã de uma novela, de um filme ou de uma banda de rock. Ele consumirá seu evento, mas não necessariamente ao vivo. Com o esporte, a necessidade do consumo imediato faz dele um produto de grande valia para as emissoras. E, dessa forma, dizer que é a TV quem deve mandar no esporte pode não ser tanta verdade assim.

O mundo ideal coloca TV e esporte do mesmo lado, trabalhando juntos para a promoção de um evento. Para a mídia, é a chance de aumentar a audiência e, assim, ganhar mais verba dos anunciantes. Para o esporte, ter a presença da mídia em seu evento atrai mais fãs, mais atletas e, consequentemente, mais dinheiro para o evento.

Só que, para que o esporte passe a ser tão forte e influente assim, não pode deixar acontecer aquilo que Galvão disse em sua entrevista. Ou ele se prepara para obter diferentes fontes de receita, ou a TV vai continuar a ser mais forte do que ele. E, aí, ou ela manda e desmanda ou o esporte acaba. E, pode ter certeza de que, se isso acontecer, a função da mídia que fala sobre essa modalidade também vai acabar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Potencial construtivo

Potencial construtivo é possibilidade de comercialização, pelo proprietário de um imóvel, do direito de construção para além da metragem permitida pela legislação municipal de zoneamento e uso do solo urbano.

Na prática, o poder público municipal, por meio da legislação específica, determina zonas urbanas especiais, visando preservar o patrimônio histórico, o meio ambiente ou de interesse social relevante.

Quem tem direito de construir, mas cujo imóvel esteja gravado com essas características especiais, pode vender seu direito a um terceiro, e reverter a receita ao restauro, conservação e preservação.

Em Curitiba, a figura jurídica da “Transferência do Potencial Construtivo”, existente desde 1982, mas pouco explorada, visa à preservação de imóveis de interesse arquitetônico, paisagístico e ambiental, bem como para a implantação de equipamentos comunitários e programas de habitação social.

A partir de 2010, a TPC será estendida aos clubes esportivos e recreativos, dado o fato relevante da necessária obra de adequação do Estádio Joaquim Américo (Arena da Baixada) aos encargos da Fifa, para que a cidade possa sediar os jogos da Copa do Mundo em 2014.

Com efeito, o problema que causava a indefinição sobre essa obra era econômico: o Clube Atlético Paranaense não gostaria de assumir toda a responsabilidade pelo custeio, orçado em quase R$ 140 milhões. Sempre esteve disposto a arcar com um terço do valor. O restante deveria ser compartilhado pelo Município e pelo Estado.

Porém, em ano de eleição, o que é econômico vira político. Some-se a esse cenário a leniência, paixões clubísticas e falta de articulação (incompetência também) das lideranças envolvidas, e Curitiba corria perigo de exclusão da Copa.

Ninguém queria ver o Poder Público injetando dinheiro diretamente na obra. Nem eu, apesar de reconhecer que, politicamente, as obras prometidas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal) para a cidade dependem de sediar a competição internacional.

O jogo de empurra acabou quando a abordagem da questão se tornou econômico-jurídica: a TPC, com os devidos ajustes legais, pela Camara Municipal, já despertou o interesse de grandes grupos empresariais locais, que irão concorrer na licitação para executar a obra e, em troca disso, farão uso do potencial em outras obras de seu interesse privado.

Simples.

Quase no fim de uma novela que dura um ano.

Mas, no país da Copa do Mundo 2014, nada é simples.

Menos ainda em ano de eleições majoritárias, que determinarão o Presidente, o Governador e os Senadores até lá.

E que o grande imóvel chamado Brasil não seja gravado, por sediar a Copa, com potencial destrutivo.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Exemplo de uma sessão de treino

Depois de quase 20 dias ausente, estou eu aqui de volta às colunas táticas. Estive viajando a trabalho para as belas República da Irlanda, Irlanda do Norte e Inglaterra para aprender um pouco mais sobre o futebol europeu.

Estive com treinadores e preparadores físicos irlandeses, ingleses, portugueses, espanhóis e mexicanos. Uma magnífica experiência e oportunidade.

Bom, mas isso é assunto para outro momento.

Nesta semana, quero trazer aos leitores, atendendo a solicitações, um exemplo de uma sessão de treino da equipe sub-17 da qual sou treinador.

Então, apresentarei exercícios que correspondem a uma etapa da construção do modelo de jogo da equipe, coincidente com a 15ª semana de trabalho com os jogadores.

São quatro atividades, que foram monitoradas com GPS e cardiofrequencímetro, e que têm relação total, íntima e direta relação com os treinos que antecederam e com os treinos que sucederam esta sessão.

Confira clicando aqui.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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O poder do futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Tivemos essa semana a notícia dos episódios envolvendo a seleção da Coréia do Norte que chocou o mundo do futebol. Segundo as notícias veiculadas nos principais jornais do mundo, o governo ditatorial da Coréia do Norte teria punido, de forma desumana, a delegação que participou do último mundial da Fifa na África do Sul.

A Fifa pode suspender ou até desfiliar a Coréia do Norte dos seus quadros. A pergunta que se faz é a seguinte: na hipótese de os fatos terem mesmo acontecido, como dizem as notícias, e também na hipótese de a lei nacional da Coréia do Norte permitir tal conduta, estaria a Fifa correta em punir a Federação Nacional?

Em minha opinião, sem dúvida que sim.

Em regimes ditatoriais, a noção de justiça é de totalmente deturpada. Uma das formas de se ver a justiça é justamente olhar para o sistema legislativo e equiparar o justo ao lícito. Por exemplo, podemos com certa tranquilidade dizer que uma pessoa que tem um bem de sua propriedade subtraído sem sua concordância (eg, furtado), sem ter uma reparação à altura, é uma pessoa que sofreu uma injustiça. Ou seja, furtar é algo ilícito, e o seu ato gera uma injustiça.

Muito bem. No sistema ditatorial, como na Alemanha de Hitler, ou até na África do Sul do apartheid, a legislação é criada pelos representantes da ditadura de forma a legalizar condutas que são tidas no meio internacional como inaceitáveis. Isso gera a estranha sensação de que algo lícito pode não ser justo (ou mais do que isso, pode ser repugnável).

Dentro desse entendimento, a Fifa, na qualidade de representante e autoridade máxima do futebol perante todos os países, pode (e DEVE) atuar como um instrumento para que a democracia e o respeito aos direitos humanos sejam protegidos. Foi assim, por exemplo, com a exclusão da África do Sul dos quadros da Fifa.

O futebol sempre foi e sempre será um instrumento poderosíssimo para unir um povo em torno de seu governante. Uma verdadeira ferramenta de propaganda política, que inclusive foi muito utilizada por regimes antidemocráticos e segregacionistas. Mas, por outro lado, o futebol também pode ser usado como ferramenta igualmente poderosa para retirar a popularidade de um governo que faz mal à sua nação, e que vai de encontro aos direitos humanos e princípios democráticos.

Portanto, que sigam as investigações e, se forem comprovados os fatos que levaram os jogadores e treinadores à humilhação pública, que a Federação seja excluída. E que essa medida sirva como exemplo para outras organizações internacionais pressionarem a Coréia do Norte que qualquer forma de regime antidemocrático seja banido.

Ganhar é fundamental. Mas “o saber ser derrotado” deve fazer parte de todos os grande vitoriosos. A derrota não pode, nem deve, envergonhar nenhum atleta, nenhuma nação.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Com os pés

Nesta semana, o Brasil jogou contra os Estados Unidos e todo mundo tratou o evento como se fosse o país que mais sabe de futebol no mundo contra o país que menos sabe o que é futebol no mundo. Justo, diga-se, dado o estereótipo cultivado da aversão natural existente entre americanos e futebol jogado com os pés. Comentários sugeriam o desconhecimento generalizado das regras pelo público e o ar de excentricidade que o esporte trazia para a terra do Tio Sam.

Mas ninguém parou pra analisar de fato o crescente mercado de futebol nos Estados Unidos. Mais importante, ninguém parou pra pensar que o futebol nos Estados Unidos pode ser considerado maior que o futebol no Brasil. Pensamento excêntrico, não?

Normalmente, sim. Mas analisando dados, não. E memorize bem os números que você vai ver a seguir, porque eles podem mudar pra sempre o jeito que você vê o futebol nos Estados Unidos e, possivelmente, no Brasil.

Em 2010, a média de público do Campeonato Brasileiro, de acordo com a CBF, é de 13.351 pessoas por jogo. Na MLS, também em 2010, a média de público por jogo é de 16.143 torcedores por jogo, 2.792 (21%) torcedores a mais por jogo do que no Brasil. A média de público do Seattle Sounder, clube recém-criado, é de 36.154 torcedores por jogo, 11.247 (45%) a mais do que a média de público do Corinthians e mais do que o dobro da média do Internacional no Brasileirão desse ano.

O Seattle Sounders leva por jogo praticamente a mesma coisa que o público somado de Atlético Mineiro, Palmeiras e São Paulo e apenas 569 torcedores a menos do que Santos, Atlético Goianiense, Avaí, Guarani e Grêmio Prudente juntos. E isso é assustador.

Alguém pode dizer que isso é decorrente da boa campanha dos EUA na Copa de 2010. Justo, mas superficial. Nos últimos cinco anos, a média de público do Brasileirão foi de 15.739 torcedores por jogo. Da MLS, foi 15.996 torcedores por jogo, 227 torcedores por jogo a mais do que no Brasil.

A MLS vem se desenvolvendo aos poucos e de maneira bastante planejada. Atualmente, conta com 16 times. Até 2012, terá 19. Tudo programado, tudo bem estudado e tudo com muita, muita calma. Sem passos maiores do que a perna. Tirando um ou outro jogador, os salários e os valores de transferências são bastante inferiores, mantendo a operação financeira viável e, principalmente, estável. Devagar e sempre.

Na última terça, ficou claro que a seleção americana tem muito o que aprender com a seleção brasileira. Mas o Campeonato Brasileiro tem muito mais a aprender com o Campeonato Americano.

Para interagir com o autor: oliver@149.28.100.147

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A dança dos treinadores

Tem uma música “das antigas” de Gabriel o Pensador que começava assim…

Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você

É impressionante como essa música faz sentido para o futebol brasileiro. Apesar que, neste caso, poderíamos falar em dança das cadeiras ou algo do tipo, pois treinador, nestas terras de Cabral, pulam de galho em galho. O assunto já é batido, muita gente já teceu comentários (inclusive nesta semana) sobre tal fato que é recorrente para nós e evidente, mais uma vez, no Brasileirão 2010.

E o pior, a “mudança” dificilmente resolve ou modifica de forma drástica, em questão de meses, o panorama de insucesso que se desenhava anteriormente, salvo raríssimas exceções. Mas ser “genial” para nossos dirigentes perante o fracasso dentro de campo, que ele mesmo ajudou a construir, é trocar de comando técnico.

Vamos recorrer a um pouquinho de teoria para aguçar este debate. No livro AGÔN – Gestão do Desporto, o Prof. Dr. Gustavo Pires coloca: “nas organizações, a taxa de aprendizagem deve ser sempre superior a taxa de mudança”.

Isso quer dizer o que, caros leitores? Que as organizações são feitas de pessoas e, portanto, de inúmeros conhecimentos acumulados ao longo do tempo. Cada organização tem uma característica peculiar, uma cultura diferente. Nos clubes a lógica é exatamente a mesma, cada qual instalado em uma cidade, com um povo de diferentes visões, com torcedores, rivais, concorrente com múltiplos interesses distintos, com um elenco de jogadores distintos um do outro, com uma equipe operacional de trabalho (massagistas, roupeiros, serviços gerais, supervisores etc.) diferente uma da outra e por aí vai.

Cada elemento desses influencia, cada qual a sua maneira, diretamente no trabalho de uma equipe técnica e multidisciplinar de um departamento de futebol. Se trocamos pessoas, começa-se um novo ciclo de aprendizagem, de entendimento dos processos, de adaptação à estrutura de trabalho, conforme Pires nos quis revelar.

Como no futebol o tempo é curto para tudo, muitas vezes não é possível aferir resultados de imediato. Pior que isso, as mudanças ocorrem, em muitos casos, apenas na carteira de trabalho, pois a concepção e a percepção dos treinadores que estão no mercado parecem ser basicamente as mesmas: pedir para reforçar o elenco, colocar o “coração na ponta da chuteira” e amontoar 11 jogadores em campo para ver no que vai dar. E se perder, reclama-se da arbitragem, que pelo menos um lateral vai inverter ao longo de todo o jogo para o adversário.

Para finalizar, o que mais me intriga é o seguinte: “se o sujeito não deu certo nos últimos 4-5 clubes que passou; a falta de resultados expressivos é recorrente nos últimos anos; ele não estudou, não fez uma especialização, não participou de nenhuma capacitação no exterior, não se aperfeiçoou e continua com o mesmo discurso – que diabos os dirigentes pensam para acreditar que agora vai dar certo no seu amado clube???”

E segue a vida. Os dirigentes fingindo que tomam atitude e os treinadores fazendo de conta que vão mudar alguma coisa. E dá-lhe rescisão contratual para tudo que é lado – depois ninguém sabe explicar porque as dívidas dos clubes estão maiores que sua capacidade de pagamento, e a culpa acaba ficando com a tal “Lei Pelé”.

E vai levando um pé na bunda vai
Vai pro olho da rua e não volta nunca mais
E vai saindo vai saindo sai
Com uma mão na frente e a outra atrás…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Análise de desempenho na seleção de Mano Menezes

Caros amigos,

na última semana falamos um pouco sobre os processos que Mano Menezes está implementando na seleção brasileira. Falamos sobre a delegação de funções e descentralização que o treinador propõe, o que sem dúvida lhe dá mais qualidade de comando.

Dentre as funções delegadas, o treinador anunciou Rafael Vieira como analista de desempenho. Hoje discutiremos um pouco sobre as possíveis e importantes funções que poderão ser exercidas por esse profissional.

No esporte coletivo, já de algum tempo, temos a figura do observador de jogo. Estudos do português Julio Garganta apontam relatos científicos e estruturados sobre a ciência da análise do jogo (também chamada de scout, análise notacional, dentre outras variações e especificidades) desde 1931, com os estudos de Messersmith & Corey.

O olheiro que anota as principais características do time adversário num pedaço de papel, o chamado espião, é uma das figuras já consolidadas no nosso futebol e passam agora por uma atualização. A questão está justamente no valor atribuído às pessoas, mais especificamente as capacidades e requisitos do profissional que ali estão, até então não tratado como um profissional.

Sim, coloco o anúncio de Mano Menezes sobre a existência e oficialização de um analista de desempenho como um marco para o futebol, muito também pela questão do valor que atribui acertadamente a essa função.

Ao oficializar a função, Mano Menezes dá início a uma nova possibilidade de atuação do profissional do futebol. Isso porque esperamos que, de agora em diante, essa função seja oficializada dentro dos clubes, e mais do que isso, que seja valorizada.

Assim, ao invés de pegar o cunhado para coletar informações, ou um ex-companheiro de equipe que está precisando trabalhar, ou ainda o que é muito comum, pegar atletas de categorias de base para coletar informações, a oficialização da função faz com que a pessoa ali colocada tenha alguns pré-requisitos, não simplesmente para anotar num pedaço de papel, mas muito mais do que isso, colocado ali para interpretar, lapidar as informações, construir relações entre os dados e possibilitar que o técnico possa tirar conclusões e intervir com precisão.

Já nos referenciamos nos estudos de Franks (1983) em outros momentos, na qual indicou que treinadores de nível internacional não conseguem memorizar mais do que 30% dos eventos chaves de um jogo. Ao delegar, (e na semana passada falamos um pouco de como deve ser uma delegação de função) Mano reconhece, não os seus limites, mas os limites de qualquer ser humano em processar e armazenar inúmeras informações, assim coloca uma pessoa voltada especificamente para isso, e faz com que essa função não se limite a anotar em pedaço de papel, mas sim recolher, interpretar e utilizar a capacidade intelectual para lidar com as informações.

Talvez agora os clubes tenham uma referência de como lidar com a questão da análise do jogo, que não adianta apenas colocar os meninos da base para fazer scout do time adulto, é necessário investir em processos e tecnologia para obter essas informações, mas muito mais do que isso é preciso alguém na comissão técnica que centralize essas informações e utilize de recursos intelectuais para transformar dados em informação.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br