Categorias
Colunas

Aos americanos bicampeões – méritos incontestáveis

Nunca tive a pretensão de fazer deste espaço um tributo exclusivo aos treinadores e jogadores de futebol. Mas ao abordar questões táticas e outras nuances que acabam interferindo nas ações do campo, me vejo forçado a dar nome aos “pais das crianças” que impreterivelmente acabam sendo os treinadores e seus comandados.
Preciso me apressar em falar de dois campeões brasileiros que se juntaram para ser bicampeões com louvor. O América Mineiro, que teve a felicidade de encontrar outro mineiro, o treinador Enderson Moreira, num trabalho de alta performance no futebol. Em 2017 foram bicampeões brasileiros da Série B.
O América já levantara o troféu em 1997 e o Enderson em 2012 pelo Goiás.
Sou testemunha de tudo o que aconteceu e continua acontecendo no América desde o segundo semestre de 2016 e gostaria de dividir com o leitor pontos importantes do jogo de qualidade forjado pelo Enderson Moreira, seus jogadores e comissão técnica. Fiquei verdadeiramente impressionado com o alto nível de abordagem tática que frutifica no ambiente vivido hoje no América Mineiro.
Sei que é meio óbvio elogiar campeões! Não quero vulgarizar o conteúdo deste post passando mais um pouco do mesmo neste assunto. Quem me conhece mais de perto sabe o quanto defendo a causa de um “jogo brasileiro” bem jogado e acompanhando a modernidade do futebol. Estou assistindo de palanque esta transformação no jogo americano que segue as ideias de um treinador que demonstra ser um grande construtor de jogo moderno. Acompanho o Enderson Moreira há pelo menos trinta anos e sei o que estou falando!
Analisando à distância outras equipes, tenho sempre a dificuldade em conhecer detalhes da construção do jogo, métodos de treinos, perfil de liderança, conhecimento do jogo, qualidade da comunicação, dentre outros pontos importantes na competência dos treinadores. Fico somente com o jogo para fazer as conjecturas e projeções das análises. É sempre injusto julgar o comportamento tático das equipes e a qualidade dos seus treinadores e jogadores somente com o que vemos nos jogos. Ainda mais no Brasil onde seus treinadores quase nunca têm boas condições de trabalho para concretizarem suas ideias.
Sobre a conquista do América Mineiro em 2017 fico mais à vontade, pois estou lá todos os dias.
Poucas vezes vi no América um time tão consistente em termos táticos como em 2017. E podem acreditar, pois sou mineiro de BH e estou em minha quarta passagem pelo “Coelho das Gerais”. Os números americanos falariam por si só, mas a exemplo do que vi no Corinthians-2017, o América Mineiro foi muito inteligente e organizado em sua forma de jogar. Praticou o jogo moderno a exemplo do seu comandante que aplica concepção de jogo e métodos de treinos de ponta. Além disso, desenvolveu processos de comunicação muito interessantes para vender suas ideias: vídeos, treinos, verbal, etc.
Um dirigente americano revelou-me o comentário de um torcedor americano que corrobora com a reflexão que proponho neste espaço: o América joga da mesma forma contra um time fraco e um time forte! As palavras do torcedor podem não ter sido exatamente estas. Mas, o que quis dizer não deixa dúvidas! Ele falou com “todas as letras”, ainda que inconscientemente: o América tem uma ideia de jogo!!
Bingo!!! Pois é justamente isso o que acontece com todas as grandes e modernas equipes do mundo! Jogam um jogo construído sob orientação de conceitos táticos bem consolidados e varia em detalhes para o confronto de cada partida.
O treinador americano tem ideia de jogo, sabe o que quer dele, consegue ler e interferir na sua dinâmica com maestria. Sem isso, dificilmente teremos um jogo construído com qualidade. Tenho dito no ambiente de meu convívio diário que o professor Enderson Moreira é um dos melhores treinadores do Brasil e não me sentirei justo e confortável se não externar isso publicamente. As respostas que o futebol brasileiro está procurando para o seu jogo são justamente estas: valorizar treinadores que possuam o discernimento e a arte para construir o jogo moderno. Claro, em um ambiente futebolístico que permita o desenvolvimento destes construtores e suas obras.
Num país onde o treinador de futebol é uma figura tão maltratada, é preciso estar sempre decifrando os segredos desta profissão para, pelo menos, contribuir com parte do entendimento da sua importância.
Em quase todas as reflexões que faço neste espaço e interações com a mídia esportiva ao longo da minha carreira, enalteço os jogadores brasileiros como protagonistas de altíssimos níveis para o futebol mundial. Aos jogadores do América Mineiro que fizeram e ainda fazem parte do projeto atual digo que foram e continuam sendo “peças-chave” na construção deste momento. O treinador Enderson Moreira é quem o diz: – é o clube onde consigo melhor traduzir minhas ideias táticas do futebol graças, principalmente, aos jogadores que temos! Portanto, não se considerem menos valorizados porque falei um pouco mais do treinador neste espaço! Sem vocês as dificuldades seriam imensas.
Além do mais, não sou daqueles que procura dar mais ou menos importância a treinadores ou jogadores na construção de jogos moderno e de qualidade no futebol. Os dois são importantes em igual proporção nesta tarefa. Sempre foi assim e continuará sendo nos esportes coletivos em geral!
Será que estou atrasado na publicação deste post? Acho que não, pois uma das razões que me motivam escrever é divulgar minhas ideias a tempo e hora que me convier. Nunca estaremos fora do tempo esportivo quando reforçamos conceitos que só fazem solidificar um jogo de qualidade para o futebol brasileiro, hoje e sempre. Além do mais, estou com o meu tempo muito ocupado em alguns novos projetos literários e não quero, nem preciso ter pressa. Portanto, professor Enderson, jogadores e colaboradores americanos, também campeões brasileiros com todos os méritos, não considerem descaso e ou demora a publicação destas palavras. Foi apenas uma questão de organização das ideias e do tempo!
Abraço! Até a próxima!!

Categorias
Colunas

Marketing e comunicação do futebol eletrônico

Outrora passatempo de gerações, os jogos eletrônicos (vídeo-games) comunicam-se com centenas de milhares de torcedores, praticantes e simpatizantes, com poder aquisitivo de médio para alto. Um nicho de mercado bastante interessante para as marcas do futebol se comunicarem. De um lado, as empresas que produzem esses jogos querem torná-los mais reais. Do outro, clubes, seleções, atletas, ligas, estádios, narradores, comentaristas e emissoras de TV que querem comunicar seus produtos, a fim de potencializar suas marcas e atrair mais torcedores/consumidores.
É isto que este trigésimo texto da coluna trata. A tecnologia está cada vez mais presente nas vidas das pessoas. O crescimento das grandes cidades, a especulação imobiliária e a consequente redução dos espaços para lazer – infelizmente -, somado ao avanço das telecomunicações, levou a um aumento pelo consumo destes telejogos. E isso não tem volta. Só tem a crescer. É uma oportunidade para que todos façam parte do universo do futebol, independentemente das suas habilidades práticas. Em um primeiro momento, a falta de intimidade com o console não compromete a autoestima de um jovem do que a falta de intimidade, de fato, com a bola.

À direita, Guilherme Fonseca, o “GuiFera”, jogador do Santos FC no eletrônico PES (Pro Evolution Soccer) do e-Brasileirão (organizado pela CBF)| Foto: Santos Futebol Clube

 
Vê-se um movimento interessante – porém tardio – do futebol do Brasil em trabalhar com este nicho. Alguns clubes já envolveram algumas referências neste mercado eletrônico, como o Flamengo e o Santos. Para além disso, é uma oportunidade para os pequenos clubes brasileiros estarem mais em evidência. Atualmente, é inegável que o futebol de rendimento envolve recursos financeiros bastante inacessíveis para instituições sem tantas condições de tê-los. E os jogos eletrônicos, em comparação, não são tão caros assim. Ademais, há uma igualdade de gêneros maior do que no esporte de rendimento.
Com tudo isso, mesmo esta coluna ter demorado para tratar deste tema, ele é importantíssimo. Inclusive o Comitê Olímpico Internacional tem tratado de inseri-lo nos Jogos Olímpicos. Os jogos eletrônicos têm se mostrado cada vez mais ao alcance de todos, ou seja, universal, que por si só já é um dos princípios do esporte. Um tema polêmico e que vai render discussões, mas que não têm volta.

Categorias
Colunas

Entre o direito, o sócio, e o torcedor

Bem-vindos a mais uma sexta-feira aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos continuar a falar sobre a festa das arquibancadas e a torcida nos estádios. Nesse mês de fevereiro a gente já conversou sobre o torcedor no estádio e sobre a torcida organizada no estádio, certo? E para fechar o mês do carnaval hoje vamos tratar daquele que é sócio e torcedor, e que de vez em quando parece que não é nem um nem outro.
Hoje vamos falar sobre o sócio-torcedor.
Para deixar um pouco mais organizado, vamos falar um pouco sobre como o Estatuto de Defesa do Torcedor deu essa abertura aos clubes, para entrar no que a gente encontra geralmente nesses planos, para então comparar o torcedor, a torcida organizada, e o sócio-torcedor em como tudo isso afeta o seu clube – pelo menos para o direito desportivo.
Fechou?
Começando pelo começo… o Estatuto de Defesa do Torcedor (EDT) surgiu lá em 2003 para deixar ainda mais claro o que é óbvio para quem vai aos estádios: o torcedor é um consumidor. Um consumidor do futebol. Um consumidor que tem seus direitos – e também seus deveres, né?
Pelo Estatuto os clubes têm que publicar um documento que tenha as informações básicas do seu relacionamento com os torcedores. E lá deve falar para o torcedor desde como é a entrada no estádio, até como é a comunicação com o torcedor. E, foi justamente ao falar da comunicação que veio a ideia do sócio-torcedor quando EDT reconhece (juridicamente) a existência de programas desse tipo – e que os sócios-torcedores poderiam ter direitos mais restritos que os demais sócios dos clubes (leia-se: sem direito a voto para a maioria quando das eleições presidenciais).
Mas, vamos lá, o que é um programa de sócio-torcedor para começar? Tudo bem, você é um e já sabe. Mesmo assim, te convido para continuar aqui comigo que tenho certeza que alguma coisa vai ser útil – mesmo que seja para reclamar com o seu clube que algum outro tem alguma ideia que você queria que o seu também tivesse.
Resumindo: o programa de sócio-torcedor é um programa de fidelização do consumidor. Ou seja, esse programa busca manter o torcedor cada vez mais próximo do seu clube – e, de preferência, cobrando um valor a mais por mês.
Sabe quando você vai naquela sorveteria tomar uma casquinha no fim de semana? Então, certeza que te dão um cartãozinho que depois de um número de casquinhas você ganha uma de graça. Esse é a base de um programa de fidelização, e o sócio-torcedor é uma versão bem mais cheia de opções do que esse “cartãozinho do sorvete”.
Como exemplo, em troca da mensalidade num programa de sócio-torcedor você vai achar descontos nos setores do estádio, clube de vantagens, pré-venda exclusiva de ingressos para partidas e shows, desconto em rede de parceiros – ufa, cansei. Vários acessórios para garantir que você torcedor continue torcendo e gastando com o seu clube.
E em troca você ainda ganha revistas, acesso a experiências (como dias de treino, conversa com jogadores, e por aí vai), e o tal do rating ou ranking. Falando a verdade, como sócio-torcedor eu adoro tudo isso (e aquele tal do Movimento por um Futebol Melhor), só que o que é bom mesmo é essa história de comprar o ingresso antes e me garantir. Né?
Só que como a gente sabe, não é bem assim que funciona já que tem a “prioridade relativa à frequência”. E os clubes restringindo certos direitos a certos torcedores podem dar preferência para quem paga mais – tipo aquela história do fim da neutralidade da internet para quem tem visto essas coisas de computador, sabe? Assim, tem torcedor que mesmo sendo sócio-torcedor continua “chupando o dedo” quando seu time vai para a Libertadores e só pode assistir de casa o jogo. E o EDT diz que isso é (juridicamente) legal, então segue o jogo!
Agora, o sócio-torcedor é tão diferente assim dos outros torcedores? Sim, é.
E, para muitos, acaba sendo até melhor assim. O torcedor mais presente fica feliz com os ingressos antecipados, o clube fica feliz com o dinheirinho extra no fim do mês, e os parceiros do clube ficam felizes com a exposição (né, Crefisa?). O torcedor comum continua indo ao estádio quando pode, a torcida organizada continua na sua (com o seu cartão da paz se você for de São Paulo). E todo mundo responde se fizer besteira no estádio – e o seu clube também, então se comporte mesmo quando os jogadores do seu time não ajudam!
Só que… a gente não está esquecendo de ninguém? Afinal, qual a diferença entre o sócio e o torcedor?! Aí sim tem uma bela diferença! O sócio-torcedor pode até ser torcedor, mas muitas vezes não é sócio de nada (fora do clube de vantagens). O torcedor não faz parte da vida política do clube e não faz parte da vida do clube social – salvo raríssimas exceções.
Assim, o sócio-torcedor não pode votar em eleições – para o bem (as decisões do seu clube podem te afetar sem você ter voz) ou para o mal (o seu voto não interfere na vida do clube social que o sócio-torcedor não faz parte). Em alguns casos, os sócios dos clubes sociais são também sócios-torcedores. O que deixa bem clara a diferença entre esses dois tipos na vida dos clubes brasileiros – e as vezes bem complicada na cabeça de quem é de fora do esporte ou não vai nos estádios.
É, meu amigo… torcer não é fácil, não (e é mais difícil ainda se você torce para o meu time). E é por isso que é importante a gente saber quando que a gente é um torcedor, um sócio-torcedor, ou se a gente faz parte de uma torcida (organizada ou não). É assim que a gente deixa a nossa festa nos estádios ainda mais bonita – e com paz e tranquilidade sempre, por favor!
Espero que tenham gostado de mais um “Entre o Direito e o Esporte”, nosso mês sobre os torcedores fica por aqui e em março vamos conversar sobre um novo tema que a gente adora comentar: o contrato de trabalho do seu ídolo no seu time. Que tal?
Por hoje é isso! Aproveitem essa sexta-feira de calor em quase todo o Brasil… um bom final de semana a todos! Como de costume, a porta de casa está aberta e deixo meu convite para falarem comigo aqui, pelo meu LinkedIn (só achar meu nome lá), ou pelo Twitter (@RBarracco). Até semana que vem e valeu pela companhia de todas as semanas!

Categorias
Colunas

Análise contextualizada

A tecnologia mudou o mundo e por tabela mudou o futebol. O número de informações que se gera de um jogador, de uma partida e de uma equipe é estratosférico. Se antes o empirismo, o achismo ou o chamado ‘olho clínico’ imperavam, hoje não se pode mais analisar um jogo ou até mesmo o mercado da bola sem informações fidedignas.
Posto isso, vem o mais importante: o conhecimento de quem analisa essas informações geradas e a sensibilidade para contextualizar os números em um contexto mais amplo, formam a parte mais importante e valiosa de todo esse processo.
Pegando, por exemplo, a análise de mercado: quando o Palmeiras contratou por cifras milionárias o atacante Borja no ano passado criou-se uma expectativa gigantesca em função dos números. Uma passada de olhos nos gols marcados por ele no segundo semestre de 2016 garantia que cada centavo gasto havia sido bem pago. Mas em algum momento se analisou qual o modelo de jogo que privilegiava as características de Borja fazendo com que ele fosse a rede tantas vezes? O Palmeiras teria esse mesmo modelo? Observação: o verdão teve três treinadores no passado (Eduardo Baptista, Cuca e Alberto Valentim). Cada um com uma ideia de jogo. Sem falar no aspecto emocional e comportamental.
Fizeram essa análise? Borja tinha ido para o futebol italiano, mas voltou rapidamente para a Colômbia por não se adaptar. Como foi a adaptação dele no ano passado com a cultura, clima e idioma aqui no Brasil? Isso pode explicar muito o desempenho de um atleta dentro de campo.
Contratar os melhores nomes do mercado não garantem a formação de um grande time. São inúmeros aspectos a serem analisados em cada contratação, permanência de jogador e até transição de quem está chegando da base. Os números frios não vão responder as perguntas certas que devem ser feitas. Não é só o técnico, nem só o tático, nem o físico e nem o emocional. O todo é maior que a soma das partes. O valor maior não está na informação. E sim no conhecimento para avaliar o que é mais adequado ao momento.

Categorias
Colunas

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

Olá, caro leitor.
Dê uma boa olhada na imagem.
Que sentimentos vem à tona ao observá-la?
Num final de semana onde passeava com minha esposa por São Paulo, ao me deparar com esse grafite em um dos muros do “beco do Batman”, fiquei por alguns minutos o observando, perplexo e com muita agonia.
Este grafite retrata algo que, infelizmente, é muito comum na vida da maioria de nós: estarmos em situações nas quais, claramente, não nos encaixamos, mas que, ainda assim, somos forçados a nos enquadrar. Obviamente, não é possível levar a vida saciando todas as nossas vontades, uma sociedade repleta de pessoas assim seria insustentável, todos, de alguma maneira, precisamos ceder um pouco.
Mas, um pouco, e não por completo! Não devemos, ou não deveríamos, negligenciar aquele desejo interior em expor aquilo que sentimos, que desejamos, só porque isso pode ir contra, ou ser diferente daquilo que a maioria (ou um grupo “dominante”) faz ou pensa.
E o futebol? O futebol é expressão humana! Aflora e traduz sentimentos! E sendo assim, está sujeito a também ser, de alguma forma, oprimido.
Convido a se remeter a seus tempos de criança, de adolescência, relembre os momentos de prazer, de alegria ao jogar bola… Estes momentos ocorreram em situações onde você jogava livremente, ou onde seguia tudo aquilo que um treinador/professor ditava fora de campo?
A cultura de futebol em nosso país é um tanto quanto conservadora e imediatista. O que, desde cedo, acaba ceifando a criatividade de jogadores e treinadores. Muitos destes jogadores que no futuro serão também treinadores e irão apenas reproduzir o que com eles foi feito, dando então continuidade a um ciclo vicioso.
No Brasil, ao se ler e ouvir análises sobre jogos, jogadores e treinadores, tudo soa muito igual! Muitas destas análises retratam cenários bem distintos do que na realidade são. Quando Guardiola trocou o Barcelona pelo Bayer, e posteriormente indo para o Manchester City, muitos insistem em falar que o treinador busca reproduzir o “Tiki-Taka” (abominado por Pep) em seus novos clubes, quando cada uma destas equipes que ele dirigiu, possui uma identidade própria, algumas semelhanças sim, mas bem longe de serem iguais, de serem tão-somente cópias.
Parece-me que estão sempre querendo fazer como na imagem, encaixar uma equipe ou jogador, num padrão que não lhes cabe. São comuns as improcedentes comparações de equipes europeias com as brasileiras, tentando-as colocar na mesma moldura, ou então, de jogadores que possuem destaque nacional, são alçados ao posto de craques, de revelações do futebol mundial, mas que não conseguem obter sucesso no extremamente competitivo e qualificado futebol dos grandes centros europeus, e assim cada vez mais cedo retornam ao Brasil ou migram para mercados de menor expressão e nível competitivo.
Ao se assumir uma equipe, o que se busca primeiramente?
Convido o leitor a assistir este fragmento do documentário “Quando sinto que já sei”, um documentário extremamente interessante (e pertinente) a todo aquele que se dedica a transmitir qualquer tipo de conhecimento.

 
Será que nossos atletas são folhas em branco?
E nossas equipes, nosso grupo de jogadores, estamos tentando lhes enfiar um modelo “goela abaixo”?
Como são nossos treinos? Meras reproduções daquilo que foi feito conosco quando éramos mais jovens? Um ambiente fechado, sem espaço para o novo, para a criatividade? Estamos simplesmente tentando encaixar cada jogador encerrado numa série de regras para cada posição?
O quanto estamos permitindo que nossos atletas criem? O quanto estamos nos permitindo criar?
Não é porque o modo de jogar “y” deu certo com a equipe “x”, que naturalmente eu deva reproduzir isso. O conservadorismo e imediatismo de nosso país pode acabar nos induzindo a ir por uma via mais fácil, que de forma sedutora transmite a falsa ideia de maior segurança. Na busca por aceitação, acaba-se fazendo aquilo que a maioria faz e espera que também o façamos, limitando a possibilidade de se criar algo novo, de arriscar fazer diferente. E não estou dizendo aqui em desprezar o que já feito, mas sim, de o usar como modelo e não como molde.
Cada jogador é único, traz algo em si e tem muito a oferecer, uma equipe é composta de vários destes seres únicos, e ela não é algo fechado, assim como os seres estão em constante mutação, a equipe situa-se na mesma condição, sempre sujeita à novas possibilidades, novos comportamentos, novas formas de jogar. Ela não se encaixa em somente um padrão, mas pode caber em vários! Atletas e consequentemente equipes, tudo será fruto dos estímulos ao qual são expostos, sejam eles castradores ou instigadores.
Agonia! Agonia ao ver que muito do potencial de tantos meninos e meninas se esvai pelo ralo da opressão. Que tantos treinadores se reprimem em função do meio e não buscam alimentar a criatividade que possuem dentro de si. Acredito que seja preciso um basta para essa realidade! Há espaço e possibilidade de inovar mais, ousar mais, permitir que cada um expresse mais aquilo que é, sem forçar que todos se encaixem em um espaço onde não cabem.

“A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer”

Trecho da Música “Comida” da Banda Titãs.

 
Link para o documentário completo:

 

Categorias
Colunas

O futebol nos tempos do cólera e de Copa do Mundo

O país e a sociedade brasileira enfrentam grave crise institucional e de princípios. Desde a irresponsabilidade no trânsito, de jogar lixo na rua até o crime organizado. A injustiça social, conservadorismo e intolerância. O futebol é reflexo disso tudo: a ausência – em grande parte – de profissionalismo em sua gestão, do tráfico de influência de alguns dirigentes, dos clássicos com torcida única e batalhas campais (entre os próprios atletas). O Brasil está doente. Muito doente.
Estamos em ano de Copa do Mundo – a pouco menos de quatro meses – e não se percebe a euforia nas ruas em torno do evento em comparação com os outros anos. Apesar de o treinador da seleção brasileira ser uma das poucas unanimidades deste país e da impecável campanha nas eliminatórias, o clima de Copa do Mundo não passa de uma leve brisa. Vai sim tomar forma com a aproximação do torneio. E a torcida pelo Brasil vai ser muito grande.
Isso porque, historicamente, não há nada que eleve tanto a autoestima quanto a seleção brasileira de futebol. Um dos maiores – senão o principal – produtos deste país. Desde a Copa de 1938 com uma equipe de diferentes origens étnicas e sociais, aliada ao sucesso da obra de Gilberto Freyre “Casa Grande & Senzala”, passando pelo fim do complexo de “vira-latas” (Nelson Rodrigues), aos noventa milhões em ação de 1970, pelo Plano Real de 1994, até o otimismo do início do século XXI, a camisa amarela da seleção de futebol é importante fator para a autoestima do povo brasileiro.

Seleção Brasileira de Futebol campeã do mundo em 1958. Foto: Divulgação

 
As chances de este enredo voltar a acontecer em 2018 são grandes. E não temos bons exemplos sobre a utilização – na maioria das vezes como instrumento político – deste produto esportivo que é o futebol do Brasil e, especificamente, a sua seleção. Entretanto, ao mesmo tempo, é inegável que ela possui um enorme papel social. E é este que pode ser o ponto de partida, diferente das outras vezes, a de que a seleção brasileira de futebol seja exemplo público de compromisso, trabalho sério, respeito, diálogo e planejamento. Princípios que estão escassos nestes tempos.
Uma vez um antigo treinador da seleção, durante uma Copa, disse que “a CBF era o Brasil que deu certo”. Preferível dizer que a seleção brasileira é o Brasil que pode dar certo. A conquista da Copa do Mundo não vai resolver os problemas do Brasil. E atualmente esta máxima também é unânime. Com tudo isso, este produto esportivo, que é a seleção, ao romper com o retrógrado e quebrar velhos paradigmas, pode servir exemplo para mudança que este país precisa.

Categorias
Colunas

Amadurecimento

Robinho tinha 21 anos em 2005, quando trocou o Santos pelo Real Madrid. Àquela altura, já havia sido protagonista em dois títulos de Campeonato Brasileiro e frequentava listas de convocados da seleção. Uma história ilustra bem a expectativa que o circundava: na caixa postal de seu celular, o atacante pedia que as pessoas deixassem recados para “o melhor do mundo do ano que vem”. O “ano que vem”, como se sabe, nunca veio para ele.
É curioso acompanhar o que acontece com quem vivencia uma trajetória tão irregular quanto a de um jogador de futebol. Em poucos anos, alguns deles saltam das privações para a vida de luxo; do descaso advindo da pobreza para a fama e o desenvolvimento de um séquito de aduladores. Muitas vezes são cobrados para que mantenham em campo a leveza de quando eram meninos praticando o esporte, mas ao mesmo tempo viram esteios precoces para familiares, amigos e profissionais que os acompanham.
Esse entourage contribui sobremaneira para que algumas pessoas se descolem um pouco da realidade. Vi uma vez um caso de um menino que havia sido aprovado em uma peneira para defender o time sub-11 de um clube do interior de São Paulo. Ele não tinha garantia sequer de alcançar o profissionalismo, mas o pai deixou de trabalhar porque precisava “administrar a carreira do filho”. Aquele garoto, que podia não querer nem um futuro como jogador, de repente tinha virado a única aposta de futuro para a família toda.
Jogadores convivem desde muito cedo com um paradoxo extremamente cruel para o ego: são bajulados e possuem ao redor um enorme grupo de pessoas que inflam suas qualidades e fecham os olhos para defeito ou contexto; paralelamente, são cobrados desde muito cedo como se fossem adultos prontos, infalíveis e totalmente maduros.
Foi assim com Vinicius Junior, 17, atacante do Flamengo. Após ter feito o gol que selou vitória rubro-negra por 3 a 1 sobre o Botafogo em semifinal da Taça Guanabara, ele celebrou com um gestual que imitava um choro, provocação recorrente aos torcedores da equipe da estrela solitária. A comemoração fomentou polêmica a ponto de abalar um acordo que havia entre os clubes para uso do estádio Nilton Santos. E é claro, o ápice do “pode ou não pode” aconteceu em redes sociais.
Juninho Pernambucano, ex-jogador e atual comentarista da Globo, criticou a atitude de Vinicius. Enxergou na comemoração um tom provocativo e desnecessário para aquele momento. Novamente em redes sociais, recebeu respostas nada afáveis, foi ofendido e lembrado de uma imagem de quando defendia o Vasco e mostrou os dedos do meio para a torcida do Flamengo. Acabou levando o caso à delegacia de crimes virtuais e pediu para não trabalhar no fim de semana.
Todos esses casos mostram que o amadurecimento de jogadores de futebol nem sempre é simples ou acompanha o relógio biológico. Existe um ambiente de pressão em torno desses atletas, que têm atitudes vigiadas durante todo o tempo e precisam dar respostas não apenas para o público, mas para os que são sustentados por seu talento.
Em poucos atletas, contudo, a discussão sobre amadurecimento foi tão necessária quanto o que acontece atualmente com Neymar, 26. O atacante do Paris Saint-Germain  não é mais um garoto: vive fora do país há cinco anos, tem um salário astronômico, convive com patrocinadores de ponta e protagonizou a maior transferência da história do futebol quando trocou o Barcelona pela Cidade Luz.
Neymar também ocupa há pelo menos cinco anos o posto de grande (ou talvez único) protagonista da seleção brasileira. É a esperança de quem ainda torce pelo uniforme canarinho ou pelos petrodólares despejados no PSG.
Entretanto, as atitudes de Neymar não condizem com esse status. O atacante vive, dentro e fora de campo, entre arroubos de molecagem. A picardia contida no drible virou uma marca que ele tenta sustentar em todos os momentos.
Só que falta autenticidade nesse processo. Ele não consegue transmitir, em campo ou fora, a felicidade e a vivacidade que Ronaldinho Gaúcho mostrava, por exemplo. O ex-melhor do mundo também era “irresponsável”, mas fazia isso de um jeito cativante – e esse é apenas um bom exemplo de atleta que soube fazer da brincadeira uma marca positiva.
Neymar também não se encaixa entre os “marrentos”. Não tem a autossuficiência de um Romário ou a autoconfiança de um Eric Cantona, para citar dois outros exemplos.
A impressão que Neymar passa é a de alguém em busca de autoafirmação. Alguém que vive o tempo todo tentando mostrar que aprova os caminhos que escolheu. Mesmo se os caminhos não tiverem sido escolhidos por ele.
O estafe de Neymar tem pessoas extremamente capacitadas para planejar todas as interações do jogador. Existe um trabalho em diferentes níveis, e disso eu não duvido. A questão é que o subproduto dessas ações tem sido um garoto sem confiança no que está fazendo, em busca de aprovação sabe-se lá de quem, com uma dificuldade enorme de evoluir – e evolução aqui não tem nada a ver com o jogo ou com o status profissional.
Neymar não é mais um menino. Tem 26 anos, passou por muita coisa e já suportou a pressão de ser o camisa 10 e principal líder da seleção brasileira em uma Copa do Mundo disputada no país. Não é uma questão de vivencias ou do que ele representa. Neymar precisa é deixar a casca e ser mais verdadeiro consigo. Mesmo que isso signifique mostrar lados que não façam tão bem assim para seus planos comerciais.

Categorias
Colunas

Talento: propriedade inata ou aprendida?

Quando nos deparamos com jogadores refinados tecnicamente e tomando decisões certeiras durante os jogos, ouvimos logo que ali se encontra um talento, um craque, um gênio… coisas do gênero. Alguns ousam dizer que tal jogador realiza tudo com muita facilidade. Mas o que poucos percebem é o quanto este jogador procurou se aprimorar continuamente; ou seja, não basta ser melhor uma vez, é preciso fazê-lo constantemente, procurando sempre algo a ser aprimorado e jamais conformando-se com o nível em que está.
Então, a pergunta que fica é: existe talento sem esforço? Penso que o maior talento de um indivíduo é justamente a capacidade de se esforçar. Mas a conta não fecha aqui, pois a aplicação deste esforço em um milhão de horas de experiência pode não produzir melhoras significativas, mas com os estímulos adequados, sim.
Significa, então, que qualquer um pode ser um talento? Não! Principalmente no futebol, alguns fatores, como as capacidades motoras e perceptivo-cinéticas, além da execução correta dos fundamentos técnicos, interferem fundamentalmente o processo de desenvolvimento do talento.
Algumas visões sobre o tema abordam estas questões de maneira muito interessante. Uma delas é que os talentosos nascem com a habilidade “em potencial”; que o treinamento é necessário para atingir um alto nível de desempenho, mas que a habilidade inata estabelecerá os limites do nível que o indivíduo pode alcançar. A outra visão, é que os talentos são criados pelo treinamento e o que distingue os talentosos dos “comuns” é que após anos de prática, o treino serviu para modificar seus circuitos neurais para produzir representações mentais altamente especializadas que tornam possível um reconhecimento de padrão incrível, além de soluções de problemas e outras classes de habilidades especiais que os permitem sobressair em suas atividades.
Por mais que exista uma diferença de semântica entre as abordagens acima, o que realmente me chama a atenção é que ambas concordam que para gerar o talento é necessário treinar para melhorar.
Assim, sabemos que o talento, a excelência, se demonstra nas ações. Desta forma, a prática precisa ser reflexiva, ter objetivos concretos e bem definidos, implica feedback preciso para identificar exatamente onde e em que estamos falhando e talvez a parte mais importante, sair da zona de conforto. Ou seja, fazer algo que não éramos capazes de fazer.

Categorias
Colunas

Entre o Direito e a Torcida Organizada

Bem-vindos à nossa terceira coluna de fevereiro aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Esse mês a gente tem conversado sobre o que a gente vê entre o direito e a torcida, e nessa semana a gente vai trocar ideias sobre as Torcidas Organizadas. Assim, a gente vai ver o que achamos entre o direito e aqueles que fazem parte do espetáculo só que cada vez mais ficam isoladas do esporte pelo Direito.
Para deixar mais organizado, hoje dividi a coluna em três partes: como são criadas as Torcidas Organizadas para o mundo jurídico; depois como “as organizadas” ficaram marcadas por episódios de violência e como o direito brasileiro respondeu a isso – afetando o seu clube; e, por último, vamos falar do papel dessas torcidas no dia a dia do torcedor brasileiro. Já avisando, hoje vou focar (e muito) no meu estado pelo “excesso” de material que temos por aqui nesse tema.
Bora lá?
As Torcidas Organizadas (TOs) não aparecem para o Direito do nada. E assim como o torcedor começa em algum lugar para o mundo jurídico, as “TOs” também tem uma data de nascimento. E aqui a regra geral é até que simples: registro. Imagina que você é criança de novo. Você criança não conseguia fazer muita coisa sozinho. Você criança tinha que ir para a escola. Você criança para ir para a escola, tinha que ser matriculada pelos seus pais. Com as Torcidas Organizadas é a mesma coisa!
Aqui em São Paulo a Federação Paulista de Futebol (FPF) cuida do registro das TOs que nem uma escola cuida do registro dos seus alunos. Cada Torcida Organizada tem que se registrar na FPF para que seus membros possam ir em uma partida como “torcedores organizados” – ou seja, mostrando o amor que sentem pelo clube e pela torcida. E cada torcedor tem que se registar em sua Torcida Organizada para ter direito ao Cartão da Paz – que é um documento obrigatório para os torcedores organizados daqui de São Paulo.
Isso tudo serve para garantir o que a gente viu semana passada aqui, quando o Estatuto de Defesa do Torcedor fala sobre as torcidas organizadas. É uma maneira de deixar o acesso ao estádio mais organizado e mais fácil para todo mundo. É uma maneira de deixar os membros das TOs irem ao estádio. É uma maneira de incluir todos no espetáculo do futebol.
Só que como a gente sabe, não é sempre assim. E as “organizadas” ainda convivem com a crítica de alguns sempre que surge uma notícia sobre a violência no futebol brasileiro. Para esses, as Torcidas Organizadas são “problemas organizados” e não parte do espetáculo. E, nesse caminho, todos pagam pelo que alguns fazem dentro e fora dos estádios – como se ser membro de uma “organizada” fosse uma “vala comum”, te deixando como todos e não como um. É o Direito simplificando até demais o que esses não querem tentar entender.
Em São Paulo são várias as regras criadas para Torcidas Organizadas nos estádios. Essas regras foram criadas com a participação dessas torcidas e também sem – sempre com o Poder Público atuante. Como exemplo, por aqui a venda de ingressos para membros de uma TO só pode ser feito pela internet e com cadastro do torcedor. Esses dados são repassados à Federação Paulista de Futebol e disponibilizados ao Poder Público, como é o caso do Ministério Público Estadual que atua bastante entre o direito e a torcida.
E com essa ideia de prevenir a violência no estádio, mais de 115 Torcidas Organizadas e seus membros foram cadastrados na FPF. Aliás, o “torcedor comum” e o sócio-torcedor também passam por cadastros. E todos passam por checagem de documento, de ingresso, e revista policial. Isso sem falar na vigilância por câmeras, a divisão dos torcedores em setores dentro do estádio por tipo de ingresso, e o dever de não fazer “nada de errado”. Assim, todos fazem parte do espetáculo e podem ser punidos – o que é bom.
Só que as TOs também podem ser suspensas como se fossem uma pessoa. E isso pode acontecer mesmo quando só uma parte dessa torcida faz o que ninguém deveria fazer ou causa no estádio. Aliás, quem segue o site da FPF sabe disso. Isso acontece porque as “organizadas” ainda são vistas como a grande causa da violência no futebol brasileiro. E é verdade que alguns de seus membros realmente são. Só que como é muito mais fácil fechar os olhos, todos das TOs são isolados e tratados como o único mal do nosso futebol. Isso traz uma mancha que deixa de lado todo o papel dessas torcidas no espetáculo do futebol e na sociedade.
É entre o espetáculo e a sociedade que o papel dessas torcidas no Brasil fica claro. Imagina que você pertence a uma TO, isso quer dizer que você é automaticamente uma pessoa violenta? Provavelmente não. É normal a gente fazer parte de um grupo. Fazer parte de um grupo faz parte da nossa vida social. Fazer parte de um grupo é se sentir aceito dentro de uma sociedade. Por aqui é comum a gente ver a Torcida Organizada ser tratada de uma maneira simplista. É comum a gente ouvir dizer que as TOs são responsáveis pela violência nos estádios. É comum que todos sejam tratados como um único indivíduo. E nisso, todas as ações dessas entidades são tratadas como um “problema”. E não é sempre assim.
As Torcidas Organizadas hoje em dia fazem parte até do Carnaval. Por exemplo, aqui em São Paulo desfilaram a Dragões da Real, a Torcida Independente, a Gaviões da Fiel, e a Mancha Verde. Cada vez mais as TOs fazem parte da nossa cultura, e não só do nosso esporte. Hoje os seus membros são consumidores também. E fazem parte de clubes de benefício, contam com espaços para festas e churrascos, além de poderem expressar o seu amor pelo clube e pela torcida em lojas oficiais. Esses mesmos membros de TOs também fazem ações beneficentes, como o Natal solidário e as campanhas de doação de sangue na sede e subsedes pelo Brasil da Dragões da Real.
As Torcidas Organizadas podem ser parte do problema de violência que temos em todo o Brasil, talvez. Agora, com certeza elas também são parte da solução. E tratar as TOs apenas como problema é uma falta de bom senso. Afinal, é só com diálogo que o Direito pode aprender e ajudar a deixar todos serem parte do espetáculo nos estádios com segurança.
Como a gente sabe, falar sobre Torcida Organizada nunca é fácil. Ainda mais que a gente costuma simplificar em vez de tentar entender mesmo o que acontece lá fora, né? Espero ter conseguido ajudar um pouco a mudar o tom do que a gente vê sendo discutido por aí hoje em dia. Ainda mais porque as Torcidas Organizadas fazem parte do espetáculo que é o nosso futebol e por isso é importante trazer todos para esse diálogo.
É isso, fico por aqui essa semana. E vejo vocês na próxima “Entre o Direito e o Esporte” quando vamos conversar sobre os programas de sócio-torcedor para fechar o nosso mês de fevereiro aqui no especial sobre o que a gente acha entre o direito e a torcida. Desejo a todos um ótimo final de semana – e até logo, pessoal!

Categorias
Colunas

Coerência na gestão – treinadores

Qual a lógica de o Botafogo demitir com um mês de trabalho um técnico que tinha três anos de contrato? Ou o Atlético-MG ter mandado embora um profissional que virou o ano no cargo e participou decisivamente na montagem do elenco?
Não defendo aqui a continuidade do trabalho pura e simplesmente. Concordo que é possível em um curto espaço de tempo avaliar se um trabalho é bom ou ruim. Quando se está antenado com metodologias de treinamento e padrões de resposta nas quatro fases do jogo, não é necessário uma temporada inteira para diagnosticar se a falta de evolução de uma equipe é em decorrência da competência, ou ausência dela, do técnico.
O ponto chave aqui é a habilidade dos dirigentes em avaliar os cenários envolvendo a comissão técnica: quando se contrata avalia o perfil do treinador? Esse perfil, após ser avaliado, está de acordo com a tradição e história de clube e alinhado com a filosofia de jogo que se pretende seguir? Na maioria das vezes não.
Oswaldo de Oliveira não faz um trabalho consistente há muito tempo. Suas equipes não demonstram a intensidade necessária para triunfar no futebol de hoje. O descontrole emocional naquela fatídica entrevista é uma pequena gota perto do oceano da falta de ideias que apresentava o treinador do Galo.
Felipe Conceição foi alçado à condição de treinador do Botafogo seguindo talvez um chavão generalista que avalia de maneira assertiva nada e nem ninguém: ‘profissional bom nós fazemos em casa’. Empolgados pelo ‘furacão’ Jair Ventura, os dirigentes quiseram repetir um padrão acreditando em uma mística. Ou se havia convicção que deixassem Felipe trabalhar mesmo caindo na Copa do Brasil e na Taça Guanabara.
Não gosto de ser repetitivo e ficar falando toda hora que dirigente tem que acreditar e principalmente saber avaliar o trabalho dos treinadores na parte de campo e de liderança. Errar para contratar e se apressar em demitir só alimenta um nefasto ciclo vicioso. Repetitivo ou não dois treinadores de série A serem demitidos com um mês de jogos oficiais mostra que algo não está indo bem.