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Formado nas categorias de base do Palmeiras, Elias era atacante e teve carreira errática nos primeiros anos como profissional. Virou meia, mas só conseguiu verdadeiro destaque como volante. Fernandinho era armador no PSTC, e foi nessa posição, ainda como armador, que ele chamou atenção do Atlético-PR. Teve destaque no Mundial sub-20 de 2003 e anotou o gol que deu o título à seleção brasileira. Os dois volantes de Dunga na Copa América de 2015 têm em comum o passado como homens de definição e o presente como símbolos de uma equipe nacional que não deu certo.

O fracasso que Elias e Fernandinho não tem a ver apenas com questões individuais – os dois somaram apenas três finalizações em toda a primeira fase da Copa América e estiveram longe de decidir qualquer partida. Ambos foram escolhidos por características que apresentavam desde quando ainda não eram volantes (velocidade e jogo vertical, principalmente), mas foram as matrizes de problemas graves da seleção de 2015 (falta de controle de jogo, dificuldades na transição entre meio-campo e ataque e verticalização dos laterais, por exemplo).

A ideia aqui não é crucificá-los ou atribuir a qualquer jogador o fracasso de um time. Os erros da seleção não são individuais, mas de proposta. Por isso, mais uma vez, é fundamental que a análise seja alinhada às carências da equipe. Tudo é questão de contexto.

Ora, perdemos um tempão discutindo quais são os brasileiros protagonistas em grandes times do futebol mundial ou quais são os craques que vestem a camisa verde e amarela e têm capacidade para decidir um jogo. Será que essas são realmente as perguntas?

Nunca houve um projeto para o futebol brasileiro, e isso é indiscutível. Em meio a essa carência de ideias e de programas que pensem além do curto prazo, a seleção local sempre foi carregada por individualidades. Nós nos acostumamos a usar exemplos de 1962 e 1994 para exaltar jogadores como Garrincha e Romário, mas nos esquecemos de pensar no quanto o talento deles escondeu problemas de preparação, formação e condução nos grupos em que ambos estavam incluídos.

Talvez fosse o caso de perguntar por que o Brasil não tem um armador entre os principais times do mundo. Ou por que os jogadores brasileiros que atuam no setor ofensivo são vistos como opções de velocidade pura, algo que combina pouco com a proposta de muitas potências.

O futebol mundial mudou. Posições e funções foram alteradas, e nós demoramos para entender esse processo. Nós ainda somos o país em que jogadores carregam a bola da defesa até a intermediária ofensiva, e aí a velocidade de atletas que eram agudos – Elias e Fernandinho, por exemplo – pode ser um diferencial.

Tente olhar para qualquer outra seleção. Independentemente do nível e da qualidade, não há times no mundo que façam a transição entre defesa e ataque com a bola dominada. Há troca de passes, e um dos motivos para isso é o perfil dos atletas: menos velocidade, repertório mais pobre em termos de habilidade e fundamentos mais lapidados em aspectos como passe e coordenação de movimentos, por exemplo.

Mas nós seguimos discutindo, como fazemos a cada fracasso da seleção, o nível individual de cada atleta. Seguimos pensando em motivos para não termos mais Neymares ou mais protagonistas, mas esquecemos de pensar no contexto.

O fracasso da seleção brasileira em 2015 é também um fracasso da crítica. Já passou da hora de entendermos que não precisamos apenas cobrar jogadores melhores: precisamos cobrar uma nova leitura e uma nova compreensão das necessidades do futebol.

Para isso, porém, é preciso que também transformemos nosso olhar sobre o jogo. Precisamos deixar de ser analistas de resultados, e não apenas os resultados de partidas. Muitas vezes buscamos a conclusão de um lance sem tentar entender o que levou as ações até esse ponto.

O futebol brasileiro já teve outras crises técnicas, mas não é apenas técnica que falta à seleção comandada por Dunga; falta contexto.

A seleção do despreparo

A despeito da discussão sobre a questão técnica ser premente, nenhum problema da seleção brasileira na Copa América de 2015 foi maior do que a comunicação (num sentido amplo, e não apenas como relação entre a equipe e a imprensa). Se ainda cabe debate sobre o nível da equipe de Dunga, não existe dúvida sobre o altíssimo nível de despreparo do grupo (incluindo o comandante).

Entre os atletas, o maior exemplo foi dado por Neymar. O capitão e principal jogador comportou-se como iniciante na derrota para a Colômbia. Xingou, reclamou, cavou uma expulsão, tentou agredir um adversário e ainda foi reclamar com o árbitro. Criou o cenário para uma punição que o tirou da Copa América.

Depois, Neymar falou com o grupo e se desligou da seleção. Enquanto os jogadores seguiam no Chile, o atacante curtia festas no Brasil. Agora pense na estrutura de um ambiente corporativo: que tipo de exemplo esse comportamento de um líder transmite? O que ele comunicou ao grupo ao agir assim?

As entrevistas pós-jogo foram igualmente assustadoras. Daniel Alves sugeriu, depois da derrota para a Colômbia, que existe um complô na América do Sul contra o Brasil. Vários atletas elogiaram o desempenho da seleção minutos após a eliminação para o Paraguai (empate por 1 a 1 no tempo normal e derrota por 4 a 3 nos pênaltis).

Dunga fez ainda pior. Numa tentativa de ser irônico, o técnico disse que “gosta de apanhar” e que “deve ser um afrodescendente” para justificar a relação com as críticas. Ao fazer isso, julgou uma dor que não tem capacidade para entender e brincou com um dos aspectos mais tristes da existência humana.

Em toda a Copa América, não houve uma entrevista sequer que tenha sido bem colocada e que tenha ajudado a aproximar a seleção do povo brasileiro. Ao contrário: platitudes, falta de envolvimento e uma série de escorregões.

O processo de evolução que o futebol brasileiro necessita passa obrigatoriamente por um entendimento maior sobre a relação que a equipe nacional precisa ter com a mídia e o papel que esse aspecto tem para fomentar o orgulho do povo.

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Os leões de treino, o treino e o jogo de futebol

As crenças fazem parte da nossa sociedade!

O futebol, como um produto e espelho do nosso povo, reflete a visão que temos do mundo e, consequentemente, da modalidade. Imprensa, dirigentes, comissões técnicas e jogadores influenciam e são influenciados por crenças, muitas vezes limitantes, que engessam e restringem nosso pensamento.

Quem não faz toma, em time que está ganhando não se mexe, só pelo jeito que anda dá pra saber se é bom ou mau jogador, tem que ser amigo do jogador para que ele produza, zagueiro tem que ser alto, jogador de futebol é burro, craque só nasce em favela, treino é treino e jogo é jogo, tem coisas que só quem jogou sabe, as equipes tem quer ser uma família, treino analítico dá confiança para o jogador, saber driblar significa jogar bem, câimbras significam má preparação física, se a equipe não fez gol tem que treinar mais finalizações, o futebol europeu é robotizado, a troca de treinador é a solução para escapar do rebaixamento, são algumas das “verdades” que escutamos e/ou reproduzimos cotidianamente, de forma consciente ou não, em nossa atuação profissional.

Na coluna desta semana, será abordada uma crença conhecida por todos e propagada pelos treinadores de futebol dos mais variados níveis, da base ao profissional: os leões de treino.

Tal expressão é utilizada no futebol para se referir àqueles atletas que arrebentam no treino, se destacam, vão muito bem nos coletivos mas que no jogo, valendo 3 pontos, simplesmente desaparecem.

Você já trabalhou com alguns leões de treino? Qual a sua opinião sobre eles?

Para quem atua no futebol sob uma perspectiva sistêmica, logo, não separa o jogo em partes (física, técnica, tática, psicológica) que não representem o todo, a essência do treinamento será criar ambientes de aprendizagem que utilizem o jogo enquanto método de ensino para a construção da equipe.

Respeitando um princípio básico do treinamento, o da especificidade, treinar jogando garantirá a imersão num ambiente imprevisível, desafiador, de desequilíbrio, e de predominância da subjetividade, ou seja, num cenário com os pressupostos do contexto competitivo.

Neste ambiente, cada jogador, poderá ser avaliado globalmente em função dos diferentes cenários que surgem e/ou são construídos. Sendo assim, é possível que se analise no treinamento como joga cada jogador com vantagem no placar, com desvantagem, ao ser cobrado pelos companheiros ou ser exposto pelo treinador, ao não lhe dar uma falta, como titular, como suplente, vivendo um bom momento, vivendo um mau momento, ou por quaisquer outras situações que possam gerar reações de jogo, ou seja, também psicológicas. E nesta análise, possivelmente, se detecta quem são os leões de treino.

Sabidamente, a carga do jogo oficial é muito maior do que qualquer treinamento realizado. Aspectos irreprodutíveis como a torcida a favor ou contra, o peso da competição, o ambiente gerado pelo posicionamento da equipe na tabela e as características do adversário dão um formato ímpar ao jogo oficial.

É sabido também que cada treinador deve ir a campo ciente do que a equipe, coletivamente, e cada jogador, individualmente, é capaz de dar.

E se o leão de treino “acaba” com os treinos, sempre com uma boa performance, os treinadores deveriam ter ciência de que o que se faz no treino, também se faz no jogo.

Utilizando a máxima do dr. Alcides Scaglia, que contraria mais uma das crenças vigentes no futebol brasileiro, “treino é jogo e jogo é treino”, deveríamos deixar os leões de treino mais vezes em campo para que se adaptassem ao ambiente e treinassem, no jogo, aquilo que tão bem eles fazem no treino. Dessa forma, se adaptariam, especificamente, aos elementos que limitam o seu desempenho.

Queremos e ensinamos os nossos jogadores a praticarem posicionamentos, finalizações, marcações, cobranças de faltas, esquemas táticos, movimentações. Muitas vezes esquecemos que, simultaneamente, também treinamos mentes!

Os leões de treino deveriam ser também os leões do jogo.

O futebol está cheio de crenças! Quais são as suas?

Abraços e até a próxima! 

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Eles também perderam de 7 da Alemanha

Na última rodada das Eliminatórias para a Eurocopa de 2016, a seleção alemã voltou a vencer marcando 7 gols. Desta vez, a vítima foi o Gibraltar que não marcou sequer um gol de honra.

O Gibraltar é um território britânico ultramarino localizado no extremo sul da Península Ibérica. Trata-se de uma pequena península com uma estreita fronteira terrestre ao norte, e limitado, dos outros lados, respectivamente, pelo Mar Mediterrâneo, Estreito de Gibraltar e Baía de Gibraltar, este último, já no Atlântico.

A Espanha reivindica o Rochedo, o que é não é aceito pela população local, já que em um referendo no ano de 2002, 99% dos votantes rejeitaram qualquer proposta de partilha de soberania entre o Reino Unido e a Espanha.

A Seleção de Gibraltar de Futebol foi criada em 1993 e representa Gibraltar em competições não-oficiais. Seus maiores êxitos no futebol resumem-se aos Jogos das Ilhas, vencidos em 2007.

Como não era filiada à UEFA/ FIFA, até então Gibraltar disputava apenas amistosos e torneios não-oficiais. Em 1993, fez sua primeira partida internacional contra a Seleção das Ilhas Jersey (dependência da Coroa Britânica que não faz parte do Reino Unido), perdendo por 2 a 1. A maior vitória dos Giblets, como são chamados, veio dez anos depois: 19 a 0 contra a Seleção de Sark (ilha pertencente ao grupo de Ilhas do Canal que pertence administrativamente ao bailiwick de Guernsey).

Já a maior derrota de Gibraltar ocorreu também em 1993, quando a equipe perdeu de 5 a 0 da Groenlândia (nação constituinte autônoma do Reino da Dinamarca). A equipe nacional do Gibraltar participa desde 1993 do torneio de futebol dos Jogos das Ilhas, espécie de Olimpíadas entre territórios ultramarinos.

Em 2006, Gibraltar foi convidado para a disputa da primeira FIFI Wild Cup, torneio disputado por seleções não-reconhecidas pela FIFA, oportunidade em que conquistou a terceira colocação. A seleção da República Turca de Chipre do Norte foi a campeã desta competição.

Após rejeições por parte da Espanha e de setores da FIFA e da UEFA em relação à filiação de Gibraltar, o Tribunal Arbitral do Esporte determinou a entrada do território nos dois órgãos.

O Comitê Executivo da Uefa admitiu, então, Associação de Futebol de Gibraltar (GFA) como membro provisório, conforme determinação do Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) por meio de resolução exarada em agosto de 2011.

Enfim, em 24 de maio de 2013, durante o XXXVII Congresso Ordinário da UEFA, ocorrido na cidade de Londres, a entidade admitiu Gibraltar como seu 54º membro de pleno direito, apesar da insatisfação da Real Federação Espanhola.

Para evitar conflitos mais acentuados, a UEFA determinou que Gibraltar não enfrente a Espanha em fase eliminatória de torneios.

Diante da decisão do O TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), os clubes de Gibraltar conquistaram o direito de disputar as competições européias e a sua seleção de disputar as eliminatórias da UEFA, entre as quais as fases de qualificação para o Europeu e para a Copa do Mundo.

Criado em 1984, TAS julga conflitos entre partes que não estejam no mesmo país, como Comitês Olímpicos, o COI, federações esportivas, clubes, atletas. Dentre os casos mais comuns, estão as disputas relativas às transferências internacionais de futebolistas e casos de doping.

O Gibraltar lutava pelo seu reconhecimento desde 1997, sempre com oposição da Espanha, primeiro porque os espanhóis reivindicam a posse da pequena península britânica. Segundo porque a filiação de uma Associação de um país não reconhecido pela ONU poderia abrir um perigoso precedente para que a Catalunha e o País Basco (Comunidades Autônomas espanholas) busquem sua filiação.

A primeira experiência oficial do Gibraltar foi a participação na fase de classificação para a Eurocopa de 2014 de futsal, graças ao reconhecimento até então provisório. Na primeira rodada, Gibraltar foi derrotado por Montenegro por 10×2. Em seguida, perdeu para a França por 6×2. Na despedida da competição, bateu San Marino por 7×5.

Gibraltar possui uma competição nacional composta por seis equipes que se enfrentam em quatro turnos, o que assegura uma partida de futebol todos os dias entre os meses de maio e outubro.

Todas as partidas são disputadas no Victoria Stadium, que possui capacidade de cinco mil torcedores e, agora, deverá adequar-se às normativas UEFA/FIFA. Há, ainda, uma segunda divisão, denominada “Liga Reserva”, torneios juvenis, equipes femininas e a Copa del Peñon.

Como o Victoria Stadium não possui os requisitos mínimos de infraestrutura exigidos pela UEFA e a Espanha, por questões políticas inviabiliza as partidas em seu território, a seleção de Gibraltar manda seus jogos em Portugal, no Algarve,

Enfim, não estamos sozinhos no vexame do 7 gols da Alemanha. Basta saber se é o caso de se sentir aliviado ou ainda mais preocupado. 

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Quando vamos mudar nossa maneira de enxergar o jogo e avaliar nossos talentos?

Teimamos em acreditar que vivemos escassez de talentos no futebol brasileiro. É incrível como nós, brasileiros, continuamos míopes ao analisar, conceber e construir o jogo para o futebol atual.

Estamos à procura de grandes talentos a cada lance nos jogos que assistimos e “não conseguimos encontrá-los”. Por que será? Nossos olhos cartesianos estão focados na plástica do individualismo de campo, enquanto o protagonismo do futebol migra cada vez mais para as ações coletivas. Continuamos acreditando que o jogador deve fazer tudo em campo a partir das suas arbitrárias intenções e individuais capacidades. Não conseguimos enxergar algo além das competências particulares dos jogadores. É, talvez, o maior equívoco tático vivido pelo futebol brasileiro da atualidade!

Enquanto isso, o mundo esportivo moderno se desenvolve. Nele, a qualidade do jogo é vista em decorrência da aplicação dos conceitos táticos – coletivos, grupos e individuais – e, o “quilate” do jogador, em decorrência do jogo jogado. O potencial dos bons jogadores se destaca contextualizado a uma ideia de jogo. Melhor dizendo, o protagonismo do futebol atual, na melhor das hipóteses, está dividido entre a qualidade do jogo e o desempenho que cada jogador tem no cumprimento das tarefas que fazem este jogo se consumar. E nós brasileiros continuamos acreditando que o jogo depende só do talento individualmente produzido.

Comprovando a presença dessa visão distorcida em nossos meios, certa vez um renomado treinador brasileiro disse:

– Enquanto nós tínhamos time, estávamos em quarto ou quinto lugar do Brasileirão. Perdemos cinco jogadores e caímos na tabela!

Será que este treinador acreditava que tinha time ou cinco jogadores que “seguravam” o jogo da sua equipe? Será que este treinador acredita na existência do “jogo”, que ele é algo coletivo, uma ideia macro, que transcende ao valor das individualidades em campo? Tenho certeza absoluta que não. E se esta maneira de pensar representa, mais ou menos, o que nós brasileiros ainda pensamos do futebol hoje em dia, estamos na contramão da história do desenvolvimento deste jogo.

Para o brasileiro, quando o talento não se destaca em campo é sinal de fracasso do nosso jogo, e dos nossos jogadores. Aí sobra pra todo o mundo!! Só que não nos atinamos para a realidade de que os destaques individuais poderão ou não surgir mais em virtude do que o jogo pode produzir. Cito em meu livro – Universo Tático do Futebol – escola brasileira – que hoje o Pelé, mito do futebol mundial, não faria os mesmos 1.200 gols que fez em épocas passadas. A analogia é muito simples e a minha admiração pelo rei do futebol continua inabalável: o jogo de hoje é outro, em intensidade e poder tático, principalmente. O Pelé continuaria sendo o Pelé, assim como sempre tivemos e teremos talentos se destacando em todos os esportes. Mas as dificuldades do jogo de hoje são bem diferentes das encontradas no passado. Façam a mesma analogia para os vários níveis de talentos do futebol e veremos o quanto o jogador atual está dependente do jogo para desenvolver o seu potencial. Não existe talento sem jogo, assim como um jogo construído com talentos de ótimo quilate torna-se mais poderoso em relação a outros em outras circunstâncias. Este fenômeno está muito claro no futebol atual, quando vemos vários times, seleções e clubes, dando espetáculos pelo mundo.

“No futebol, não tem mais ninguém bobo”.

Melhor dizendo e para não ficar apenas com o dito popular, a maneira moderna de se jogar o jogo está chegando ao entendimento de todos. O futebol brasileiro precisa se atentar para isso. Costumamos nos contentar em ver jogadores brasileiros espalhados pelos grandes times europeus, mas não estamos “cuidando” da nossa forma de treinar e jogar. A Escola que desenvolve o talento e a Escola que constrói o jogo brasileiros tratam de conteúdos distintos apesar de estarem em um mesmo ambiente de desenvolvimento.

Voltemos aos questionamentos sobre a “escassez dos talentos brasileiros”. Esse é um discurso e uma “verdade” que confirma e enaltece a majestade dos que foram craques no passado, além de acusar um grande equívoco na forma de enxergar as necessidades de um futebol moderno. Enquanto isso, o mundo do futebol de alto nível continua importando nossos jogadores e assim será por muito tempo. Isso porque temos a “escola de rua” em nossa origem de formação.

Esta é a base preciosa para a formação do jogador de futebol. A revolução alemã, responsável pelo grande salto de qualidade dos últimos anos, começou seu projeto, dentre vários pontos, pela implantação da escola de rua para as crianças do futebol do seu país, a “escola da habilidade”. Nós, brasileiros, graças às características da nossa própria escola, podemos pular esta etapa. Em contrapartida, precisamos aprimorar o segundo nível do projeto alemão que é qualificar a “escola do jogo”.

Os europeus importam a habilidade do jogador brasileiro e dão a ela o preparo para o jogo. A “base” da nossa escola é muito poderosa. Podemos, no entanto, ainda valorizar e aprimorar os conceitos e métodos que a desenvolvem. Além disso é preciso adaptar o talento brasileiro, fruto desta escola, a uma nova concepção de jogo. Um jogo que precisa ser organizado, coletivo e regido por conceitos táticos que dão às ações das onze peças em campo um sentido comum que facilite a superação aos adversários. O jogo de futebol não é mais a soma das ações dos onze talentos em campo. É a concretização de uma ideia que explora o talento dos onze jogadores. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente!

Mais uma vez, já estamos querendo queimar uma geração de novos talentos brasileiros em decorrência da campanha pouco satisfatória da nossa seleção no Sul-americano Sub-20 do Uruguai e da perda do título mundial, na mesma categoria, na Nova Zelândia. Por que não nos atrevemos a avaliar o jogo jogado pela seleção ao invés de procurarmos “heróis de chuteiras para a nossa pátria do futebol”. Será que dá mais trabalho avaliar o jogo e todas as suas nuances? Ou será uma “simples” questão de miopia futebolística? Eu continuo achando que é um pouco das duas coisas.

A revolução que muitos “só pregam e ou sugerem” desde a Copa no Brasil passa por uma nova forma de conceber, treinar e construir o jogo. Isto é urgente!! Sempre tivemos e teremos grandes talentos para o futebol. O que não pode acontecer mais é nossas equipes continuarem jogando o jogo de trinta anos atrás. Regidos pelos mesmos conceitos que fazem o nosso futebol há décadas. Estamos presos a um futebol “paradigmatizado”, regido por conceitos de gestão e de jogo antiquados que não nos fará sair do estágio em que est
amos tão cedo. Se já está ruim, pode ficar pior!! Não se trata de um prognóstico pessimista. Simplesmente não estamos nos envolvendo com as mudanças necessárias à transformação.

Acobertados pelas chancelas modernas de um jogo com intensidade e ou velocidade, estamos praticando um jogo ansioso, de muita entrega física e pouca lucidez e ou conceituação tática. Não estamos construindo o jogo explorando o potencial fantástico dos nossos jogadores. E ainda bem que os temos! Ao contrário, estamos creditando aos jogadores brasileiros todas as responsabilidades do jogo:

– Vai lá e faz o que você sabe!
– Quer fazer gol, contrate um bom centroavante.
– Quer ter jogadas pelos flancos, coloque laterais que façam o jogo neste setor.
– A defesa é boa porque os zagueiros são bons.
– A equipe não cria, pois não temos um bom meia de criação…

Enquanto isso, fica sem dono a responsabilidade de construir um jogo que, no mínimo, ajude os jogadores a desempenharem estas e outras muitas funções.

Comunidade brasileira do futebol, a mudança precisa ser substancial e urgente! Da concepção do jogo ao treino do próprio jogo é preciso começar a transformação. Das categorias de base ao futebol profissional. Abramos os olhos para essa realidade que se escancara aos nossos olhos. Comecemos por questionar alguns paradigmas táticos do jogo, dos treinos e da gestão no futebol brasileiro. Não dá mais para “ver sem enxergar”!

Mãos à obra, Brasil!

Até a próxima… 

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A desmotivação e o treinador

Recentemente comentei aqui sobre a ciranda dos treinadores nas equipes de futebol do Campeonato Brasileiro nas suas principais divisões. Sugeri reflexões quanto as alternativas dos clubes entre se anteciparem aos primeiros sinais de baixo desempenho e promoverem rapidamente uma troca de comando ou se seria melhor terem um pouco mais de paciência, validarem a confiança no trabalho que está sendo desenvolvido e aguardarem um pouco mais para que o trabalho amadureça e apresente seus melhores resultados.

Na ocasião mencionei que o material humano era um pilar fundamental para o desenvolvimento do trabalho do treinador e sobre este ponto vou compartilhar com vocês um fator que muitas vezes pode ser levando em consideração no processo de melhoria do desempenho das equipes de futebol.

Muitas vezes, apenas trocar de comando traz uma falsa sensação de motivação, o que na verdade nada mais seria do que um espasmo de motivação momentânea que eventualmente não se sustenta, fazendo com que os atletas voltem a estarem desmotivados.

Então quero comentar um pouco sobre a motivação do atleta. Essa pode ser descrita como um fenômeno no qual uma pessoa, atleta ou não, previamente motivada para uma atividade no campo profissional ou pessoal perde o devido interesse pelo que faz. Eventualmente isso pode ocorrer diante de uma situação de grande estresse causado por trabalho excessivo, acompanhado de exaustão física e emocional. Isso acontece na prática por que tudo que o cérebro humano associa a dor ou desprazer carrega uma forte tendência em ser eliminado ou evitado, dificultando com que as pessoas possam atingir seu melhor desempenho ou estado de flow.

Podemos estar atentos a algumas condições que mais podem levar à desmotivação, tais como:

• Dificuldades por parte do atleta em dizer não para pessoas e situações que tiram o foco, a concentração e energia da sua performance;

• Situações excessivamente longas de tensão ou pressão que se estendem por muito tempo e não se resolvem;

• Quando metas são estabelecidas muito além do possível ou alcançável, o que traz insatisfação no atleta pelo fato de jamais se materializarem.

Alguns sintomas podem nos ajudar a perceber a desmotivação na rotina do atleta, sem que percebamos ela se instala através de um processo lento e pode se expressar de forma física ou mental. No caso de expressão física podemos notar sensações mais intensas e recorrentes de fadiga do atleta ou uma eventual vulnerabilidade imunológica. Em relação a expressão mental podemos notar uma certa perda de controle dos compromissos e tarefas por parte do atleta, bem como uma tendência crescente a adoção de pensamentos negativos. Esses sintomas não são exaustivos, mas podem nos dar uma ideia sobre como a desmotivação pode aparecer.

Certamente um processo de coaching pode contribuir muito com os atletas nestas situações, utilizando e aplicando ferramentas que podem contribuir na prevenção da desmotivação e na reversão deste quadro.

Assim, podemos perceber que eventualmente existem recursos adicionais à disposição dos clubes de futebol a serem utilizados junto às suas equipes, para que os atletas possam responder positivamente ao trabalho realizado pela comissão técnica e evitando em alguns casos o desgaste da troca prematura de comando da equipe no início ou no decorrer de uma competição.

Até a próxima. 

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A indigesta gestão do futebol

É um tanto quanto assustador acompanhar alguns fatos ligados aos clubes de futebol no país. Os mais recentes têm a ver com a forma de condução de inúmeros processos (ou falta deles) ligados ao Vasco da Gama.

E aqui não tem apenas a ver com o atual mandatário, que classicamente se apropria do clube. Tem também a ver, mas não é só, mesmo porque não são raros os casos em que ocorrem fatos similares em outros clubes.

O que fica evidenciado é a falta de trato e respeito com a marca do clube. Por isso, a palavra “apropriação” foi utilizada no parágrafo anterior. A lamentação está muito amparada pela perda de oportunidades e falta de aproveitamento do potencial de negócios que o futebol brasileiro possui e não realiza por força deste despreparo.

No nosso cenário, temos uma série de carros importados, de Ferraris a Lamborghinis, trafegando em estradas escuras, esburacadas e cheias de obstáculos pelo caminho. Nem o mais moderno radar de identificação de objetos é capaz de identificar a “surpresa” que vem pela frente. O pior de tudo é que, uma hora ou outra, um desses carros potentes chega antes dos outros. Todo amassado e com a cor desbotada. Mas chega.

Na analogia, obviamente, os carros são os clubes; a estrada é o campeonato e tudo o que o cerca (dos clubes rivais, que ao invés de se tratarem como parceiros, se encaram como inimigos mortais, a forma como é construído o debate em torno da competição enquanto produto de marketing e tantos outros pormenores); o radar talvez sejam os analistas, que de um jeito ou de outro tentam apontar os melhores caminhos para o futuro, apesar da insistência de os clubes em repetir insistentemente um modelo que se esgotou na década de 1990; o chegar na frente é que sempre pelo menos um dos clubes será o campeão (e outros 4-5 irão para a Copa Libertadores e, por conta disso, teoricamente, atingem seus objetivos, no caso do Campeonato Brasileiro), mesmo que para isso deixe um passivo e um enorme buraco de processos mal administrados que serão reclamados em questão de meses. O estrago, em muitas situações, é de difícil conserto.

Pelo caso citado no primeiro parágrafo é que é tão difícil falar em gestão do esporte no Brasil – afinal, estamos falando do atual Campeão Carioca, que acaba sendo o escudo e a justificativa para qualquer ação bem ou mal estruturada se sustentar no tempo dentro dos clubes. Está-se trabalhando com uma régua muito baixa e, portanto, o nível de aprendizado e de evolução do mercado é tão lento.

Enquanto não mudarmos a forma e o modelo de gestão dos clubes, a tendência é permanecermos discutindo as mesmas coisas ano após ano. Aliás, muitas das minhas colunas aqui na Universidade do Futebol dos últimos 5 anos poderiam ser simplesmente copiadas e coladas, uma vez que os problemas são quase sempre os mesmos neste ciclo temporal… 

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Individualidade

Passamos os dias posteriores à estreia na Copa América de 2015 discutindo o talento de Neymar. Na segunda rodada, debatemos o destempero e o quanto a seleção brasileira depende de seu único fora de série. Depois, o assunto era o substituto do camisa 10 e como o time nacional se comportaria após a suspensão dele. A edição deste ano da competição continental tem sido um exemplo do quanto o futebol, a despeito de ser um esporte coletivo, é visto invariavelmente a partir de individualidades.

Questionar individualidades é o argumento mais corriqueiro entre os detratores da seleção brasileira. “Ora, fulano não pode ser titular do time”, “ah, mas essa equipe tem jogadores com baixo nível técnico” e “é um time excessivamente dependente de Neymar”: quantas vezes você ouviu algo do gênero?

O curioso é que as respostas também apelam a individualidades. “Quem você convocaria no lugar dos jogadores que estão aí?”, “Quem faltou no time?”, “Todos os jogadores representam equipes de bom nível no futebol internacional”: esses são apenas alguns exemplos do quanto a análise coletiva é sempre colocada em perspectiva individual.

A seleção brasileira talvez seja o melhor exemplo para isso, mas está longe de ser o único. A Argentina é incensada e avaliada como favorita em todas as competições que disputa há anos, ainda que o time não tenha um histórico de conquistas. Afinal, é o elenco que reúne Messi, Di María, Agüero, Mascherano, Higuaín e outros atletas que são destaques em suas equipes. A análise sempre parte dos talentos, independentemente de como é o subproduto dessa soma.

A mentalidade personalista é um dos gigantescos problemas que a análise de futebol sofre, e não apenas no Brasil. É muito por isso que o Campeonato Brasileiro tem oito técnicos decepados em oito rodadas – Doriva, que deixou o Vasco e foi substituído horas depois por Celso Roth, foi a última adição a essa lista. O fracasso de um projeto coletivo sempre é visto do ponto de vista individual.

Pense em qualquer análise sobre qualquer jogo, e essa análise pode partir da imprensa, de profissionais do futebol ou de torcedores comuns. Os gols sempre são vistos como méritos ou erros individuais, ainda que raramente aconteçam assim. As vitórias e as derrotas sempre são explicadas como resultado dessas ações.

O futebol é um esporte coletivo complexo, com 11 jogadores que realizam ações diferentes durante os 90 minutos. É raro existir em uma partida um instante em que qualquer um dos atletas esteja totalmente desprovido de função na movimentação ofensiva ou no balanço defensivo.

Por ser um ambiente complexo, com tantas coisas acontecendo concomitantemente, o futebol tem de ser visto do ponto de vista sistêmico. As ações importam, é claro, mas são partes de um contexto e causam impacto determinante nesse âmbito.

A seleção sub-20, que ficou com o vice-campeonato mundial em torneio disputado na Nova Zelândia, é um bom exemplo disso. O time foi convocado por Alexandre Gallo, técnico que não sobreviveu até o torneio e foi substituído pouco antes por Rogério Micale.

A mudança da peça de comando, com os mesmos jogadores, alterou drasticamente o perfil do time. Micale instituiu um novo padrão tático, fez mudanças significativas – a linha defensiva mais adiantada, a marcação pressão e o meio-campo mais cheio, por exemplo – e incutiu na equipe um padrão de toque de bola que Gallo não havia conseguido (ou desejado) impor.

A seleção brasileira vice-campeã mundial sub-20 pode ser individualmente inferior ao time que conquistou o Mundial da categoria em 2011 (aquela geração, que tinha nomes como Danilo, Casemiro, Oscar, Philippe Coutinho, Lucas e Neymar, prescindiu de alguns titulares e ainda assim obteve a taça). No entanto, seria simplório demais comparar os dois times apenas do ponto de vista individual.

Mesmo sem o título, o time de Micale é um projeto bem feito. Um projeto de curto prazo, diga-se, mas um projeto bem feito. É uma seleção com recursos, padrão e boas ideias no sentido coletivo. São características que a equipe nacional não tem entre os profissionais, por exemplo.

Dunga, que voltou ao comando da seleção brasileira após a vexatória participação na Copa de 2014, amealhou 11 vitórias em seus 11 primeiros jogos na segunda passagem pela equipe nacional. A base disso foi uma combinação entre velocidade, talento individual e proposta de contragolpes.

No entanto, o time de Dunga ficou marcado apenas pelo talento individual. Baseado na força de Neymar, um dos principais nomes do futebol brasileiro nas últimas décadas, o elenco montado pelo treinador virou “a seleção do Neymar”. Mais uma vez, a análise individual foi posta à frente de um senso de contexto.

E por que esse é um problema para quem avalia o futebol? A Alemanha, campeã da Copa do Mundo em 2014, é um bom exemplo: é um time recheado de excelentes jogadores, mas não há um supercraque. Os maiores talentos individuais são colocados em funções que contribuem para um contexto vitorioso.

A Espanha que venceu a Copa de 2010 também era assim. Era uma geração de jogadores que mudaram o futebol, como Xavi e Iniesta, e havia ali uma proposta de domínio da bola que fazia total sentido para aproveitar aqueles talentos. Contudo, não era um projeto alicerçado apenas em individualidades.

Nós nos acostumamos a repetir que “Garrincha ganhou sozinho a Copa do Mundo de 1962” e que “Maradona carregou a Argentina ao título em 1986”. Esse padrão de análise perpassa tudo que falamos sobre times ou seleções: tudo é olhado a partir dos talentos individuais e de como eles podem render isoladamente.

A questão é que o futebol é um jogo de ações individuais, mas não um jogo individual. É uma sutileza, mas entender isso é fundamental para dar profundidade a qualquer análise sobre o que acontece em campo.

Se não for assim, seguiremos buscando projetos individuais e apoiando nossas visões em avaliações isoladas. Precisamos crescer a ponto de superar isso e olhar para o contexto.

É a falta de contexto que produz coisas como a atual seleção brasileira: um time montado pensando no curtíssimo prazo, focado em vencer jogos a despeito do que pode acontecer no próximo mês ou num futuro não tão iminente.

Quando a Copa do Mundo de 2018 acabar, independentemente do resultado, estaremos discutindo “por que os talentos brasileiros foram aproveitados de tal forma” ou “por que formamos jogadores com determinada característica”. Se mantivermos a atual mentalidade, seguiremos sempre olhando para o ponto individual e vamos ignorar o que é realmente relevante: o contexto.

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Neymar no banco dos réus

O fundo do poço da Seleção Brasileira de futebol masculino parece não ter fim. Após o trágico 7 a 1 para a Alemanha na Copa, a equipe perdeu por 3 a 0 para a Holanda na mesma competição e, agora, sofreu uma derrota apática para a Colômbia na Copa América que obriga o Brasil a obter resultado contra a Venezuela para passar à próxima fase.

Para piorar, muitos temem a Venezuela, antigo saco de pancadas, eis que a Seleção Brasileira não poderá contar com sua estrela maior, o atacante Neymar.

Aliás, o jogador poderá não disputar a Copa América este ano, caso a Seleção não avence na competição, já que além dos dois cartões amarelos, o atleta recebeu o cartão vermelho e está de fora das duas próximas partidas, nos termos do artigo 29.3 do regulamento disciplinar da competição.

A referida norma estabelece que, havendo conduta antidesportiva grave punida com cartão vermelho, a penalidade dos dois amarelos será mantida e as penalidades acumuladas.

O nervosismo e o destempero aparentes de Neymar na partida contra a Colômbia podem estar ligados a outra questão jurídica: a denúncia recebida pela Justiça espanhola o acusando de fraude e corrupção em sua transferência para o Barcelona.

Na demanda são reús, ainda, Neymar Santos (pai do atleta), Josep Maria Bartomeu (atual presidente do Barcelona e vice-presidente na época da transação), Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro (presidente do Santos na época) e Odílio Rodrigues (vice- presidente do Santos na época da transação) .

Trata-se de uma ação bastante séria e que pode culminar com pena de detenção de 3 a 7 anos o que, de certo, deve estar interferindo no emocional de Neymar.

O promotor espanhol, responsável pelo caso, em seu pedido inicial descreveu a estrutura de contratos utilizados para, supostamente, contratar Neymar por um custo inferior ao real. O Juiz, por sua vez, entendeu haver indícios de autoria e materialidade (existência) de crime de fraude e corrupção.

Importante destacar que ainda não há condenação e que todos os envolvidos terão a oportunidade ampla de defesa, inclusive, de ouvir testemunhas.

De toda sorte, é de se observar até que ponto o atleta está preparado psicologicamente para responder ao processo sem interferir em sua eficiência nas quatro linhas.

Neymar não é a única grande estrela do Barcelona a se sentar no banco dos réus. Tramita perante a Justiça Espanhola ação em que Messi e seu pai respondem por sonegação fiscal perante a Justiça espanhola, eis que teriam omitido valores recebidos por direitos de imagem nas declarações de imposto de renda de 2007, 2008 e 2009.

O profissionalismo do futebol exige que os grandes astros sejam bem assessorados também fora de campo a fim de que questões externas interfiram em seu desempenho. Enquanto isso, a Seleção Brasileira deve se curar da “neymardependência”. 

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Atleta, exemplo?

Num mundo atual onde a exposição da vida humana chega a índices elevados com o uso indiscriminado das redes sociais e do universo dos selfies vivenciado por todos nós, é muito comum percebermos as pessoas expondo suas vidas sem muita consciência do impacto que podem causar a si próprias e aos demais de sua convivência.

Com os atletas de futebol, isso também acontece e em grande escala, muitos são reconhecidos como estrelas da mídia e este status oferece perigos aos atletas que não possuem uma vida mais estruturada e orientada dentro das expectativas traçadas por eles próprios para seu futuro.

Além do prejuízo causado à suas próprias vidas, muitos não percebem que servem de exemplo para muitas outras pessoas desde crianças até adultos. Muitos se perdem nesse turbilhão de estrelismo exacerbado que o mundo atual oferece.

Um exemplo muito recente foi o caso do acidente automobilístico do atleta da seleção chilena Vidal, no qual o mesmo se envolveu num acidente ao dirigir seu veículo após ter consumido níveis elevados de bebida alcoólica. Como ele, muitos não percebem o risco que existe por acreditarem que estão acima do bem e do mal pelo fato de serem atletas de ponta no futebol, seja no âmbito nacional ou mundial.

Pelo status que carregam, o comportamento destes atletas tem seus reflexos potencializados nas demais pessoas, independente se o comportamento apresentado por eles foi bom ou mau. Infelizmente os comportamentos ruins parecem ter mais efetividade nas pessoas que seguem o atleta de ponta, fazendo com que muitos jovens espelhem estes comportamentos em suas vidas.

Bom mesmo seria, se pudéssemos falar muito mais sobre exemplos de ótimos comportamentos dos atletas, que por possuírem uma adequada integridade e congruência de seus atos com suas expectativas para a face pessoal e profissional de sua vida, são invariavelmente associados a bons exemplos de conduta humana.

Assim, cabe a nós ao menos devemos refletirmos sobre o tema e contribuirmos de alguma forma para que a cada dia os exemplos destes heróis populares, do nosso país principalmente, sejam os melhores possíveis. Chega de maus exemplos, certo?

Até a próxima! 

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O (des)serviço na análise do legado da Copa

Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. Esta será a tônica da análise desta coluna baseada nas inúmeras reportagens da última semana que versaram sobre os legados e os “legados” da Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil no ano passado. Separei algumas para ilustrar.

O fato é que, após um ano do megaevento, não foram poucas as tentativas de inflar as razões e emoções para tecer textos ou fazer comentários com baixo nível técnico (na maioria das vezes) e, pior, prejudiciais a qualquer tentativa de buscar uma evolução do segmento. Vamos a alguns deles:

1) ARENAS: já comentei em outras oportunidades que precisamos respeitar a taxa de aprendizado na gestão de novas arenas. Nós não temos, ainda, modelos de referência executados no país nesta área. Sim, temos alguns erros de projetos, que afetam em parte a sustentabilidade de algumas operações! Sim, poderíamos ter avançado mais rapidamente com base em experiências internacionais! Mas nem tudo pode ser jogado no lixo. Esta reportagem da Folha (http://goo.gl/1DxkqQ) é claramente um desserviço a evolução de pensamento que precisamos ter sobre a análise das novas arenas. Quando há tentativa de diversificação de receitas a partir de novos eventos, se é ridicularizado. Se a mesma estratégia fosse feita em uma arena europeia, por exemplo, seria ovacionada e festejada, como case de gênios. Vamos respeitar um pouco quem paga a (cara) conta da manutenção e operação destes equipamentos e contribuir com novas ideias e projetos para a sua rentabilização! Vamos também respeitar os eventuais erros nestas operações. O modelo de gestão de arenas esportivas no Brasil só será encontrado a partir de experiências brasileiras!

2) LEGADO: sim, bem-vindo ao mundo real. O legado estrutural prometido e associado com a Copa do Mundo não veio e não virá. Aliás, este vem sendo um erro tanto de FIFA quanto de COI de promessas de um mundo dos sonhos nos países ou cidades-sede de megaeventos que não se concretizou. O COI já percebeu esta falha – tanto que os Jogos Rio 2016 tendem a ser o último de um modelo que pertence ao passado (vide publicação da Agenda 2020) – e está se transformando no sentido de se adaptar os Jogos a cidade e não o contrário. O fato é que, apesar de grandiosos (gigantescos, mega ou o que for para colocar como superlativo), eles são “apenas” eventos esportivos. Se não respeitarmos as demandas e as características do país e das cidades-sede, não será possível construir legado. Não existe mágica. É triste ver este tipo de reportagem ((a) http://goo.gl/gzGG9u; (b) http://goo.gl/7XENaL; (c) http://goo.gl/TTpM87), principalmente pelo uso político do esporte, que agora nos transforma em vítima. Cabe a nós, do esporte, trabalhar para que, no futuro, o nosso segmento seja respeitado enquanto plataforma de negócio e não como instrumento para alavancagem de mal feitos políticos se quisermos ter algo positivo daqui para frente.

3) ANTECIPANDO OS 7×1: dentro de mais algumas semanas, preparem-se! Haverá muita gente querendo analisar o 7×1 e o “legado” deste resultado para o desenvolvimento do futebol brasileiro. Já antecipo: não, não mudou praticamente nada. Não parece ter havido aprendizado com o mal resultado esportivo como base para a transformação desejada do futebol brasileiro. E não haverá, se continuarmos a querer copiar os modelos daqueles que nos derrotaram. Enquanto não debatermos seriamente o nosso modelo de acordo com a nossa cultura, as características do nosso povo, das nossas instituições esportivas e demais pormenores, continuaremos a andar em círculo.

Para termos um legado de fato e podermos evoluir, precisamos melhorar também o nível deste debate. Enquanto trabalharmos com pensamentos completamente fora da realidade ao fazermos críticas sem embasamento sobre o que é e como funciona o nosso futebol, não haverá evolução, nem revolução, nem legado…