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Rompendo fronteiras

Grêmio e Internacional fizeram, no último domingo, o clássico de número 384 em suas histórias. O número passaria batido não fosse pelo detalhe de que, pela primeira vez, o “Gre-Nal”, como é conhecido o choque entre os dois clubes, foi disputado fora do Brasil.

O confronto em Rivera, no Uruguai, poderia ter sido uma das mais brilhantes sacadas de marketing de um campeonato estadual de futebol dos últimos tempos.

A decisão de mandar o clássico para fora de Porto Alegre já vem sendo tomada há dois anos pela Federação Gaúcha de Futebol, uma vez que os clubes se enfrentam apenas uma vez na fase de classificação do torneio e, assim, não há privilégio de uma equipe atuar em seu estádio e a outra não.

Agora, porém, pela primeira vez o jogo rompeu fronteiras e acabou sendo realizado em Rivera, que de uruguaia tem praticamente só o fato de pertencer ao país vizinho, já que o Brasil domina idioma e costumes da região.

A mudança de país para o clássico partiu de uma iniciativa do comércio local. Os comerciantes decidiram bancar o jogo, pensando nos dividendos que teriam com a presença dos dois times mais famosos e comentados da região.

Mas, com as atenções de Grêmio e de Inter voltadas para a disputa da Copa Libertadores, a alternativa mostrou-se não tão eficiente. Jogadores desconhecidos, técnico ausente (Renato Gaúcho não foi ao Uruguai, e o time do Grêmio foi comandado pelo auxiliar Roger) e pouco estardalhaço em cima do primeiro Gre-Nal no exterior minaram a presença de público e o próprio interesse da mídia. No final das contas, dos 21 mil torcedores esperados, apenas um terço compareceu. Foram pouco mais de 7 mil em Rivera, um público ínfimo se compararmos a outros Gre-Nais da história.

Romper fronteiras é, para o futebol brasileiro, um desafio que se aproxima cada vez mais. Com o público consolidado dentro do país, os times de futebol precisam buscar novos mercados e novos fãs. Essa foi a lógica que permeou a invasão estrangeira dos grandes clubes de futebol da Europa e que, no passado, era o que sustentava boa parte dos times do Brasil (o Santos de Pelé era o melhor exemplo disso).

Só que não adianta nada buscar novos caminhos se ainda não estivermos preparados para promover essas novidades. No final, o Gre-Nal de Rivera vai passar batido na história, quando tinha tudo para ser um marco revolucionário do esporte brasileiro.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Clássico for export

O Gre-Nal deste domingo será disputado no Uruguai, em Rivera.

Pela primeira vez em sua história, o clássico será, oficialmente, disputado em outro país.

Não se trata apenas de vontade dos dois clubes em promover o futebol do estado em outras bandas, mas também – e principalmente – da Federação Gaúcha de Futebol.

A entidade chancela a realização do jogo oficial, na esteira da valorização da competição nos últimos sete anos.

Tal qual em outros estaduais do Brasil, a FGF administrava uma competição altamente deficitária, que se tornava mais atraente para os clubes do interior, que necessitavam de calendário e, com muita sorte, chegar longe, revelando alguns jogadores para obter mais dinheiro e projetar o ano seguinte.

A FGF reorganizou sua estrutura administrativa, instituiu departamento de marketing profissional, aperfeiçoou calendário de competições e qualificou a relação com patrocinadores e mídia.

Agora, como consequência, vê sua competição cruzar a fronteira nacional, retroalimentando o ciclo virtuoso estabelecido.

Em 2011, a FGF se orgulha de ser o primeiro naming rights de um campeonato estadual no país – Gauchão Coca-Cola 2011.

A projeção de receita, para 2012, é de R$ 20 milhões de reais.

Como comparação, o Campeonato Paranaense foi comercializado por pouco mais de R$ 4 milhões.

E o Gre-Nal de hoje já movimenta a economia da pequena Rivera.

São esperados 30 mil torcedores, cujo gasto médio estimado é de 500 dólares no fim de semana, que lotam hotéis, restaurantes e campings, além de comprar muito nos free-shops com preços atraentes.

Parte do crédito se deve também ao perfil do presidente da FGF, Francisco Noveletto, que também acumula o cargo de presidente do São José EC, de Porto Alegre.

Porém, a principal característica de Noveletto é a veia empreendedora aplicada na rede de lojas de varejo Multisom que, seguramente, faz parte do seu dia-a-dia na gestão da FGF.

Atraiu grandes patrocinadores, como bancos, empresas de telefonia, da saúde, do varejo e do setor de alimentos e bebidas.

O trabalho ecoa na CBF e na Conmebol. Além do trâmite político construído nestes anos, goza de prestígio junto a Ricardo Teixeira e Nicolas Leoz – que o tem como possível sucessor.

Somando esposa e filhas, tem sete mulheres, que diz mandarem na sua vida.

Também diz que na FGF mandam os clubes, e na sua empresa, os clientes.

E costuma dizer que é mero facilitador das coisas.

Com uma visão simplista, porém com trabalho eficaz, dá um bom exemplo de como valorizar um campeonato estadual.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Jogador de futebol: a detecção e o desenvolvimento do talento

Todos podem aprender a jogar futebol.

Todos podem aprender a jogar futebol bem.

Alguns de nós podemos, potencialmente, jogar futebol melhor do que outros de nós.

Uma série de fatores ambientais, associada a uma série de expressões e características naturais dos indivíduos, pode fazer com que alguns jogadores alcancem um nível de jogo mais elevado do que o de outros.

Dentro de um processo de formação de jogadores para o alto nível competitivo, conseguir evoluir ao máximo as potencialidades de cada um é, ao mesmo tempo, resultado de um trabalho de excelência e necessidade primeira deste trabalho.

Quanto maiores forem os potenciais dos indivíduos que serão estimulados dentro de um processo de treinamento de base (bem organizado e estruturado), melhores serão os resultados finais da formação do jogador.

Isso quer dizer que é necessário, além do ótimo e adequado conjunto de estímulos de treino, respeitando processualmente o desenvolvimento potencial dos jogadores, uma detecção pontual, qualificada e bem norteada dos indivíduos com as maiores chances de chegarem ao final do processo, aptos a jogarem em altíssimo nível competitivo.

Obviamente que isso não é simples como pode parecer.

Existe um enorme número de cientistas, dissertações de mestrado e teses de doutorado Brasil afora, tentando entender, de acordo com diferentes modalidades desportivas, que parâmetros usar para conceber um método de análise que permita, com erro mínimo, detectar talentos em potencial.

No caso, especificamente do futebol, o grande problema é que, em um sem número de vezes, busca-se identificar o talento por meio de parâmetros que estão ou descontextualizados do próprio jogo, ou ainda da cultura de jogo da própria equipe.

Em outras palavras, o que quero dizer, é que ou se fragmenta o jogador em pedaços, para que esses (os pedaços) sejam analisados e qualificados em partes específicas, ou tentando avaliar o jogador como todo, descuida-se do “jogar” integrado à cultura e ao modelo de jogo da própria equipe.

Para minimizar erros dentro do processo de formação e de captação de jogadores, grandes clubes ingleses, por exemplo, a partir de um conjunto de informações pautadas em construtos científicos, qualificam observadores de jogadores, que espalhados pelo mundo, tentam identificar aqueles com perfil (de jogo, de conduta, etc.) condizente com o desejado para, ao final do processo, fazer parte de seus primeiros times.

Outra questão importante é que dentro de um processo em que se sabe exatamente o caminho a ser seguido, onde se está e onde se quer chegar (e como fazer isso!), ele próprio (o processo) dá conta de excluir, ao longo da “caminhada”, aqueles que de certa forma demonstram se guiar por outros nortes.

Será que estamos perto disso no Brasil?

Será que as grandes equipes formadoras sabem exatamente que jogador estão procurando para fazer parte do processo?

Será que os processos de formação estão bem organizados e estruturados, com conteúdos bem definidos para serem desenvolvidos?

Será que as equipes têm claros os objetivos finais do processo de formação?

Será que ao final do processo, rumo ao 1º time, estará clara qual a cultura e o modelo de jogo deste 1º time (não circunstancialmente, mas de forma bem determinada, ao ponto de ser identidade da equipe)?

São muitas as questões a serem respondidas. São muitas as reflexões necessárias.

Por hora, paro por aqui (“paro, sem ficar parado”), na esperança (e na ação) de que as coisas entrem no rumo e contribuam para a transformação do nosso futebol.
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  
 

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Berros

Nos últimos dois meses, o preço do aço subiu mais de um terço, por conta de uma série de fatores. Um deles é o climático, que afetou o fornecimento para produtores de aço, que por sua vez produziram menos, o que levou a um aumento no preço.

Isso que o mundo ainda está engatinhando na recuperação econômica.
E isso, aparentemente, não tem nada a ver com futebol.

Mas tem.

Aço mais caro significa construções mais caras. Ou seja, aço mais caro significa estádios mais caros. E isso tem potencial de virar um problema do tamanho da Copa do Mundo.

Por enquanto, a maioria dos estádios pra Copa do Mundo não conseguiu sair do papel. A hora que saírem, todas as construções devem ser simultâneas. Não só dos estádios, mas de toda melhoria de infraestrutura urbana tão defendida e propagandeada. Com tudo sendo construído ao mesmo tempo, o preço da matéria prima obviamente já subiria. Como há um deadline evidente para o prazo dessas construções, o valor então vai disparar. Parece ser bastante provável que o custo da Copa estimado até agora vai se tornar bastante sub-valorizado. A conta vai ser um pouquinho maior.

Isso que o mundo ainda está engatinhando na recuperação econômica. E isso que estou falando só de matéria-prima, e não de mão de obra.

Construtores já reclamam da escassez de mão de obra especializada, visto que o número de obras de grande porte no Brasil é alto e vai ficar ainda maior se o governo resolver tirar o grosso do PAC do papel. Com uma montoeira de obras simultâneas, a briga pelo peão de obra vai ser grande. A usina hidrelétrica vai brigar com a rodovia. E a rodovia vai brigar com o porto. E o porto vai brigar com o estádio. E o estádio vai brigar com a nova pavimentação da cidade.

A estrutura para a Copa clama pelo início. O PAC também. E a recuperação econômica mais ainda.

Resta saber quem vai gastar mais pra gritar mais alto. E quem vai ter que acabar ficando de lado.

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Não aprendem nem com os erros e nem com os acertos

Fazendo uma análise rápida e pontual de alguns casos que suscitaram debates e exposição midiática neste primeiro mês de 2011, é possível chegar a uma conclusão simples e direta: definitivamente, os clubes brasileiros têm dificuldades em pesquisar, analisar e tomar decisões com coerência com base no histórico de seus concorrentes e, pasmem, de seu próprio passado recente.

A começar pelo Flamengo, tão debatido e exposto em todos os meios de comunicação social em razão da contratação de Ronaldinho Gaúcho e outros pseudo craques, faz lembrar o seu centenário, quando montou o ataque dos sonhos em 1995, liderado por Romário. Na época, negligenciou completamente a coletividade, o que resultou em um desastre dentro de campo (e o endividamento do clube, que paga a conta até hoje).

Onze anos mais tarde, a cena se repete e, aparentemente, pouco se discutiu sobre a inserção de craques dentro de um elenco que se mostrou deficitário no último Campeonato Brasileiro. Novamente, a sorte é lançada sobre um jogador que deverá resolver boa parte das partidas sozinho em um esporte que preza pela relação entre 11 jogadores diante de seus adversários, ou seja, o conjunto.

No outro lado da moeda aparece o São Paulo Futebol Clube, que tomou conta dos noticiários esportivos na última semana ao contratar o ex-jogador em atividade e presidente do Mogi Mirim, Rivaldo. O clube tricolor paulista repete uma estratégia de pouco sucesso na maioria dos clubes que a tentou, que é apostar em atletas que praticamente já encerraram a carreira. Nem o mote do marketing, tão utilizado no caso do Ronaldo, parece que terá algum efeito significativo.

Somado a isso, o alicerce que sustentou as vitórias do São Paulo na última década, formada por uma base de profissionais qualificados em matéria de conhecimento técnico e científico, foi desmantelado. Os casos do fisiologista Turíbio Leite de Barros, do preparador físico Carlinhos Neves e do superintendente de futebol Dr. Marco Aurélio Cunha, cada qual, aparentemente, com saída do clube por razões distintas, devem enfraquecer toda a estrutura que dava suporte para o rendimento da equipe dentro de campo.

Com esses dois casos, poderíamos até entoar um “até tu São Paulo”, pelo histórico de “clube-modelo” que o acompanhou nos últimos tempos. Percebe-se que a cabeça dos dirigentes transcende qualquer tentativa de análise mais lógica que possamos fazer.

Por falar nisso, como muitos prognósticos são susceptíveis a erros (apesar de calcados em um senso de lógica), encerro janeiro fazendo duas previsões de fracasso futebolístico nos casos ora narrados. E se o sucesso vier? Serão apenas exceções dentro de um universo de clubes que persiste com um modelo de gestão sem padrões e critérios bem definidos.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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O uso das informações em tempo real

Olá, amigos!

Esta semana estive acompanhando alguns jogos in loco. Na conversa com técnicos, auxiliares e membros da imprensa também gosto de fazer uma enquete informal sobre o que acham do uso de informação em tempo real, se utilizam, se conhecem, enfim, qual a opinião a respeito.

As reclamações foram bem centradas e direcionadas para a questão da falta de estrutura, que no Brasil é impossível desenvolver algo em tempo real, porque dependem de conexões e infraesturutra segura, etc.

Porém, no local que estávamos tudo isso, não faltava. Aliás, digo que a conexão de internet, a estrutura de tomadas, e tudo aquilo que os profissionais citaram faltar para que o uso do tempo real nas informações pudessem ser úteis, estava ali.

Poderíamos pensar, então, e com razão, a crítica ao profissional que não detém recursos intelectuais para lidar com esse tipo de informação ou algo como uma falta de atualização para lidar com a tecnologia. Confesso que minha primeira reação foi de imediato caminhar para esse rumo. O que não deixaria de ter um fundo de verdade.

Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi mesmo a falta de cultura, e digo o porquê isso pesou mais em relação ao segundo item comentado. Se os profissionais não soubessem ou não tivessem acesso, não estariam utilizando uma série de recursos em tempo real. Chats online, Twitter, Facebook, enfim, tudo funcionando com a estrutura que eles julgam precária quando pensam em informação estatística para análise do jogo. O que sabemos muito bem, não precisa de nada além do que faz rodar ali esses outros serviços.

Tampouco estava diante de um grupo de pessoas “analfabetas tecnologicamente”, pois ali estavam com celulares modernos, netbooks, notebooks, iphones, ipads, etc. Na hora que começou o jogo, tudo foi deixado de lado e retomado após o término ou nos intervalos que permitiam seu manuseio.

Isso me leva a questões que começamos a levantar no texto da semana passada: será que não se desenvolve esse campo por falta de estrutura ou de pessoal que saiba manusear?

Embora aquele possa ser o argumento para muitos que militam no meio e este outro o argumento de outros que estudam e atuam no segmento, como este autor que vos escreve, a verdade é que tanto estrutura e pessoas aptas para lidar com os recursos ali estavam.

Então, o que falta? Não tenho uma resposta clara e precisa, gostaria sinceramente de tê-la, mas não fugirei de emitir minha opinião. Acredito que falte uma cultura de lidar com estatística esportiva, e o termo cultura aqui pode ainda que superficialmente lembrar os conceitos de Geertz na Antropologia, contato este que tive através das aulas do professor Jocimar Daolio, sobre o homem ser produto e produtor de cultura.

A sociedade hoje produz tecnologia, mas parece que os homens do futebol têm dificultado serem produtos ou produtores nela em seu meio. Sei que recorri a um argumento das ciências humanas, muitas vezes recusado no meio esportivo de alto rendimento, mas não tenho receio de me basear nele, pois primeiramente acredito na sua contribuição, e para quem ainda precisa de mais referências, fico com as defesas de Jose Mourinho e Manuel Sergio às ciências humanas no futebol.

Talvez pensar o futebol por essa perspectiva ajude a compreender o papel da tecnologia, da informação estatística, por mais paradoxal que isso possa parecer. Continuemos o debate em outro momento para esmiuçar esse paradoxo de como uma tecnologia pautada em informação objetiva e até certo ponto positivista pode ser mais bem entendida quando a partir de uma análise mais humana – ainda que esse termo me cause arrepios, porque tecnologia não deixa de ser humana em nenhum momento, mas isso são outros quinhentos…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Dois lados

O acerto entre o meia Rivaldo e o São Paulo pode ser visto sob dois prismas. Um, o do jogador. O outro, o do dirigente. Desde dezembro do ano passado, Rivaldo tem desempenhado a função de presidente e de principal jogador do time do Mogi Mirim, que tem nele seu mais famoso atleta e, hoje, único dono.

O acordo com o São Paulo, da parte do Rivaldo jogador, está corretíssimo. Ele volta a jogar num grande clube brasileiro, completa a passagem pelo “Trio-de-ferro” paulista (já defendeu, nos anos 90, Corinthians e Palmeiras) e vê a perspectiva de encerrar a carreira disputando títulos num time de massa.

Mas o acerto, do ponto de vista do Rivaldo presidente de clube, é catastrófico. Ao abandonar o seu clube em meio à disputa do Campeonato Paulista, o jogador rompe com a confiança de seus jogadores e, também, abre uma séria discussão ética. Afinal, como o próprio jogador disse no seu perfil no Twitter, ele deixa o Mogi Mirim como atleta, mas segue como presidente do clube e, agora, numa parceria com o São Paulo.

O que pode acontecer caso os dois clubes venham se enfrentar numa fase de oitavas-de-final? Como seria o comportamento do jogador Rivaldo contra o clube que ele preside? Como será que foi a rescisão do contrato do jogador Rivaldo do Mogi para defender o São Paulo? Ele tinha contrato com o clube do interior por um ano, assinado em dezembro passado. Houve pagamento de multa para que ele deixasse o clube e defendesse o time da capital? Se isso não aconteceu, o Rivaldo jogador lesou o clube que é presidido por ele mesmo. Ou será que ele não recebia salários pelos dois cargos que acumulava no Mogi Mirim?

Obviamente tudo tem os seus dois lados. Nesse caso de Mogi-Rivaldo-São Paulo, o triângulo amoroso levanta uma série de dúvidas sobre os conflitos éticos que acontecem quando um jogador é também o presidente de um clube. A própria decisão de fechar com o São Paulo envolve os dois lados (o do jogador e o do presidente ao firmar acordo com um clube grande).

Uma pena que o debate da ética no esporte seja tão ínfimo. Porque surgiu uma baita oportunidade para discutirmos até onde vai o limite do correto nesse caso.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Mad Men

Não importa o que você é, mas como se vende.

A premiada série americana Mad Men retrata o dia-a-dia de uma grande agência de publicidade de Nova York nos anos 1960.

O nome remete à Madison Avenue, mas também pode ser entendido como a vida louca e cheia de transformações pelas quais passam os protagonistas – Mad Men pode também ser traduzido por “homens loucos”.

Na série, vemos como o pano de fundo social dos Estados Unidos impactava a expansão da atividade publicitária.

Conflitos entre homens e mulheres, preconceitos, vida sexual, tabagismo, hábitos e estilo de vida, surgimento da TV, vida em família, independência das mulheres, que trabalham e usam anticoncepcional, assédio, consumismo.

A própria agência Sterling Cooper, nesse microcosmo, encerra o caldeirão de transformações culturais do país, e como sua atividade impulsionou a venda do “sonho americano”.

O mercado de patrocínios no futebol brasileiro tem crescido em ritmo aceleradíssimo em anos recentes.

Parte disso pode ser creditada à correção de distorções nos valores historicamente pagos aos clubes e às competições, é verdade.

A consultoria Sport+Markt divulgou, neste mês, resultado de pesquisa, que sinaliza que os clubes de futebol do Brasil arrecadam 104,6 milhões de euros por ano com a exposição de marcas apenas no uniforme.

O valor é superado apenas por Inglaterra (128 milhões de euros) e Alemanha (118 milhões de euros).

Um exemplo vívido desta impressionante constatação é o Corinthians, com lucro de 22 milhões de euros por ano, como o quarto maior patrocínio do mundo – atrás de Manchester United, Liverpool e Real Madrid.

Entretanto, podemos crer que alguns indutores deste crescimento podem mascarar uma bolha inflacionária, que não acompanhará o crescimento sustentado do mercado do futebol.

O chamado “efeito Ronaldo” no Corinthians e, agora, o efeito “Ronaldinho Gaúcho”, no Flamengo, não necessariamente evidenciam a convergência de melhores práticas administrativas nos clubes, para criar círculo virtuoso de investimento e qualificação de propriedades comerciais para os patrocinadores.

Ainda mais perigoso é saber que os tomadores de decisão nas empresas patrocinadoras raramente se utilizam de métricas para avaliar o retorno de investimento em mídia esportiva e patrocínio. Soube após conversar com um amigo que atua na maior empresa do ramo no país.

Disse que o seu escritório nunca esteve tão cheio, mas que ainda vê muita insensatez em alguns investimentos em patrocínio.

Nossos Mad Men brasileiros não despacham em escritórios na Madison Avenue.
Resta a segunda interpretação.

Afinal, não importa o que você é, mas como se vende.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Novo Rico

Quando eu era pequeno, tinha um amigo que era meio quebrado. Vida simples e sem maiores luxos. Em determinado momento, o pai ganhou uma bolada. Da noite pro dia, ou do dia pra noite, a vida mudou. Carrão, apartamento novo, restaurantes caros, viagens e afins. Tudo sem lá muita preocupação de esconder. Esbanjamento, leia-se.

Pois bem. Isso tudo é meio estereótipo de novo rico. Gente que está acostumada com pouco, mas que, quando recebe muito, faz questão de mostrar pra todos. Muitas vezes, recebe só um pouco mais do que normalmente recebia, mas gasta muitas vezes a mais do que o valor real do aumento. É uma tentação difícil de resistir. Satisfaz o ego como poucas coisas na vida.

É mais ou menos a essa tentação que alguns clubes do Brasil não estão conseguindo resistir. Clubes do Brasil hoje ganham como nunca ganharam na vida. Considerando a desvalorização das principais moedas frente ao Real, então, nem se fale. O poder econômico do futebol brasileiro no mercado de transferências teve um aumento real significativo no último par de anos.

Apesar de alto, porém, esse aumento nem de perto justifica o custo que os clubes começaram a assumir. O mercado brasileiro nem de longe está maduro o suficiente para justificar as transferências que estão acontecendo. Apesar de tudo, o desenho da indústria do futebol brasileiro não mudou. Ainda somos exportadores de talento, e desenvolvemos nossas atividades em função disso. Não somos importadores. Não temos nem dinheiro e muito menos uma boa razão para alterar esse panorama.

Mas isso não está sendo levado em conta. A hora é de gastar. No momento, o que importa é satisfazer o ego.

Isso tem um preço.
Em poucos anos ele será cobrado.

Meu amigo que o diga.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Formação profissional

Participei de debates recentes que remeteram à análise e troca de ideias sobre a formação profissional dos gestores esportivos no Brasil. Apesar de algumas análises ainda empíricas e da constatação de haver ainda pouco estímulo ou mesmo diminutas opções para que os interessados se voltem a um estudo mais amplo sobre essa área do conhecimento, vamos tentar colocar algumas palavras e apresentar simplificadamente estudos pertinentes
ao assunto.

Primeiro, cabe destacar sucintamente dois estudos que podem servir como fundamento para as argumentações futuras: (1) o de MARONI, MENDES e BASTOS (2010) revela o perfil dos gestores de equipes da Superliga Masculina e Feminina de Voleibol da Temporada 2007-08 e retrata um quadro que aponta para 43,5% possuírem alguma especialização, 13,1% não possui formação superior e os demais terem alguma graduação, predominantemente na área de educação física e administração – ressaltando ainda que o fato do gestor ser ou não ex-jogador da modalidade não seria relevante para ocupação do cargo, além de apontar para a faixa etária entre 30 e 59 anos como a preponderante entre os investigados; (2) o de AZEVÊDO e SPESSOTO (2010) retratam uma comparação sobre o perfil dos dirigentes de clubes do futebol do Distrito Federal entre os anos de 2003 e 2007, com um quadro bem distinto daquele encontrado no voleibol.

Neste caso, a divisão fica entre o ensino médio e o ensino superior, de forma relativamente estável, com alguns dirigentes sem ter o ensino fundamental complementado (chegando a 20% em determinados períodos observados pelos autores). A idade acaba ficando em uma média semelhante àquela encontrada no estudo de MARONI, MENDES e BASTOS (2010).

Realizei também, paralelamente a minha dissertação de mestrado sobre responsabilidade social, uma pesquisa sobre o perfil do gestor das categorias de base de 13 dos principais clubes de futebol de sul e sudeste do Brasil para eventual futura publicação.

Nunca a fiz, por não ter considerado relevante estatisticamente os números levantados. Apenas a título de curiosidade, os exponho para apontar que 37% afirmou ter “Ensino Médio Completo”; 25% afirmou ter “Superior Completo” (dentre elas, “Administração de Empresas” e “Educação Física”) e 38% afirmou ter “Pós-Graduação” (“Doutorando em Desporto Jovem”; “Mestrado em Educação” e “Educação em Psicologia da Motricidade Humana”).

Cabe ressaltar que a investigação foi feita no ano de 2008 e percebe-se aí a clara preocupação dos gestores do setor de formação de atletas em acumularem uma formação mais técnica-científica relacionada ao desenvolvimento de jovens em detrimento do conhecimento mais específico sobre gestão.

Segundo, que é abordado por Lamartine Pereira da Costa em algumas de suas exposições orais, da enorme quantidade de cursos de graduação em Educação Física no Brasil, se comparado a países como EUA e China, e a inexistência de graduações em gestão do esporte em terras tupiniquins, havendo uma desproporcionalidade em termos de mercado em face daquilo que é oferecido no meio acadêmico.

A consequência disso é que os cursos de especialização em gestão do esporte e áreas afins, que estão crescendo em ritmo exponencial, não supre a deficiência anterior, uma vez que as especializações foram feitas para se aprofundar em algum tema previamente conhecido e não para obter conhecidos a partir do zero. Essa disparidade acaba por ser um dos gargalos de desenvolvimento da gestão do esporte no Brasil.

O fato é que não há ainda uma política nacional para a formação de gestores esportivos, nem por parte do meio acadêmico e tampouco por parte das instituições de esporte. Apenas ações isoladas, que atendam demandas específicas e pontuais de mercado em determinados casos. O resultado disso? A diminuta evolução das empresas e entidades do esporte se comparadas com as do ambiente corporativo em termos de inovação e aplicação de novas tecnologias de gerenciamento.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br