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O neverland do futebol

Michael Jackson se foi. E, junto com ele, foi o seu neverland, a sua terra do nunca, a máscara em que ele mesmo se meteu e se acabou ao longo de quase 30 anos de sucesso na indústria da música e do entretenimento.

O maior erro na vida de Michael Jackson talvez tenha sido ter virado uma presa fácil ao massacre da mídia. Desde que surgiu lá nos Jackson Five, nos anos 60, Michael se prendeu a um rótulo que a mídia criou. O show-man dos palcos se transformou no homem da terra do nunca dentro de casa, preso a uma mansão, atolado em dívidas, viciado em remédios.

A deplorável forma como terminou a vida de Michael Jackson revelou o que há de pior na perseguição da mídia às celebridades. Ao longo de décadas, a pressão da imprensa sobre um astro do pop levou-o à ruína, perdido dentro da imagem que a própria mídia criou.

O que vale para a música, sem dúvida vale da mesma forma para o esporte. O astro é equiparado o tempo todo ao esportista de sucesso. Pressão da mídia, necessidade de dar grandes shows, vida privada sempre devassada pelos jornalistas… 

Na sexta-feira, Vanderlei Luxemburgo foi demitido do Palmeiras. O treinador decidiu usar o Twitter e o seu blog pessoal para anunciar a decisão da diretoria palmeirense. 

Hoje, Luxa talvez seja o mais midiático técnico de futebol do país. Só que essa sua habilidade no relacionamento com a mídia é o que mais tem levado-o ao seu neverland. Luxemburgo tem se perdido na imagem que a própria mídia criou para ele.

Manager, estrategista, rei do Brasileirão… 

Já foram muitos os adjetivos usados para descrevê-lo. Curiosamente, quase sempre todos foram aplicados no momento de glória da carreira do treinador. 

E, assim como Michael Jackson, o treinador Vanderlei Luxemburgo tem ficado cada vez mais preso a essa imagem criada no passado, esquecendo-se da sua essência, que é ser um treinador de futebol.

A pior coisa que pode acontecer a um profissional midiático é ele ficar preso ao rótulo que a mídia criou. E o futebol é repleto de casos assim.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Referências táticas: futebol para a autonomia

Muitas das coisas que fazemos ou deixamos de fazer no dia a dia são norteadas por parâmetros criados ao longo de séculos pelos homens e suas sociedades.

Não importa o lugar, idade ou condição, sempre existirão parâmetros que norteiam nossa conduta.

Em ambientes específicos, a existência de certos parâmetros é comumente confundida com estímulo a dependência, destruição do pensamento, robotização do ser humano. Essa confusão, que faz nascer um ambiente contrário à autonomia, acaba muitas vezes por servir de argumento para que se defenda a abolição de parâmetros em outros ambientes.

No futebol, vivemos a todo o tempo e em varias dimensões esse problema. Aterei-me a um deles.

Na história desse nosso apaixonante esporte, o desconhecimento e a fragmentação cartesiana fizeram com que em momentos distintos surgissem discussões que opuseram por vezes “futebol força” e “futebol arte”, por vezes “preparação” e “talento”, por vezes “regras a serem seguidas” e “perda de autonomia”.

É fato longitudinal no futebol que a visão que impera (e por vezes sai à tona) é aquela na qual ou se privilegia a criatividade, a beleza e o brilhantismo, ou se privilegia o cumprimento das “ordens” do treinador, o resultado e o pragmatismo.

O ser humano não se separa em corpo físico, alma e mente. O ser humano é corpo, é alma e é mente ao mesmo tempo, o tempo todo, sempre. Portanto quando se movimenta, carrega consigo uma série de significados que dão sentido à sua ação (e À sua existência).

Isso quer, dizer em outras palavras, que se a ação tem porquês que a simbolizam, não importa qual seja ela, esses símbolos vão sempre existir. Sendo assim, como é possível que ela (a ação) seja ordenada em um esporte como o futebol, onde 11 jogadores com objetivos comuns (e particularidades distintas) enfrentam outros 11 jogadores?

A resposta é inevitável: criando referências (parâmetros) para o jogo, de maneira que os jogadores possam coletivamente agir a partir de um entendimento comum.

Em outras palavras, da mesma maneira que a ação individual faz sentido para o próprio indivíduo, a ação coletiva também precisa fazer sentido à totalidade dos jogadores e a cada um deles ao mesmo tempo. E ao contrário do que se pensa comumente, isso não precisa significar, inibir o ser criativo ou transformar homens em máquinas; pelo contrário.

Criar referências que deem significado para a ação dos jogadores, não só pode qualificar a ação coletiva a partir de um melhor entendimento do jogo, como também pode cada vez mais propiciar decisões acertadas e criativas por parte de quem joga (e ainda ao mesmo tempo, mais inusitadas para os adversários).

A beleza do jogo está na ação do indivíduo; mas ele não joga sozinho. Os parâmetros para o jogo coletivo em equipe são as referências que norteiam suas ações. Não as referências que o condicionam a burras ações robotizadas pelo controle remoto do treinador – essas só reforçam a correta ideia de que os “parâmetros” inibem o jogador -, mas as referências que possibilitam melhor compreensão individual e coletiva do jogo, para que os jogadores, lendo o mesmo jogo, possam tomar decisões convergentes, de maneira criativa e autônoma.

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A função social do futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Tivemos novamente no futebol notícias com relação a comportamentos não desejáveis entre jogadores profissionais no Brasil. Os jornais de hoje estampam a possível agressão verbal que teria sido feita pelo atacante argentino Maxi López, do Grêmio, contra o zagueiro brasileiro Elicarlos, do Cruzeiro.

Evidentemente, atitudes de desrespeito, e eventualmente criminosas como aquelas envolvendo racismo, são indesejáveis em qualquer parte. No futebol, em especial, isso se agrava pelo fato de termos nesse jogo uma função social importante.

Como mencionamos exaustivamente neste espaço, o futebol cumpre um papel crucial no desenvolvimento de comunidades, na formação de jovens cidadãos e na reinserção social de comunidades menos favorecidas. 

Não só através da participação ativa da população no jogo em si, como também no seu envolvimento como espectadores. O futebol leva a alegria para milhares de torcedores apaixonados.

Esse poder, entretanto, pode ter um efeito negativo. Condutas impróprias dos ídolos podem acarretar em uma má influência nos milhares de fãs.

É assim que o jogador de futebol possui uma grande responsabilidade social. O jogador é, em última análise, a ponte entre o esporte e o torcedor. Entre os princípios de fair play, respeito ao adversário, etc. e os valores do dia-a-dia de uma sociedade.

Tratando-se de o esporte mais popular da face da Terra, essa responsabilidade é evidentemente potencializada. E tratando-se do Brasil, o país do futebol, temos uma potencialização ao quadrado.

Nessa medida, temos que apurar sempre os atos dos jogadores, e punir severamente aqueles que forem comprovadamente danosos a essa imagem positiva do futebol. Temos que garantir que o futebol seja sempre uma forma de transformar nossos jovens em pessoas que valorizam os valores éticos e morais. E que sejam cada vez melhores cidadãos.

E que o racismo não tenha mais espaço neste mundo. E que exemplos como o da torcida da África do Sul sejam utilizados. Como foi bonito ver aquela multidão de sulafricanos, a grande maioria tendo sofrido com o apartheid, gritando o nome de seu ídolo, independente da sua cor e raça.

Vamos nos juntar ao coro: ¨Boooooooo¨!!!

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De utopia e de grandes nomes

O ano de 2009 ainda mal chegou à metade e já nos pregou varias peças… Não! Não estou me referindo à queda de Wall Street e a crise que se seguiu à sua derrubada, mas sim à despedida deste mundo de grandes figuras humanas…
 
Aqueles que acompanham a história de nossa América do Sul receberam com tristeza a notícia do falecimento, dia 19 do mês de maio, do escritor uruguaio Mario Benedetti, “um poeta comunista que traduziu em poemas sua utopia”, segundo palavras estampadas em diário brasileiro.
 
Dias antes (02), logo no início desse mesmo mês, morria entre nós Augusto Boal, teórico, diretor e dramaturgo expoente do teatro de resistência à ditadura sob o jugo da qual vivemos por 20 anos, desde o golpe à democracia brasileira instado pelos militares em 1º de abril de 1964. Mês e meio antes de seu falecimento (25 de março), o criador do Teatro do Oprimido dizia – por ocasião de sua nomeação como embaixador do teatro pela Unesco – que “atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade, e sim aquele que a transforma!”.
 
Pois o que isso tem a ver com a Universidade do Futebol e esse canto que nela ocupo? Tudo!
 
Explico… Tenho acompanhado as recentes peripécias do Corinthians – cá pra nós, superando até as expectativas do mais fervoroso fiel torcedor -, as quais me fizeram lembrar de um cronista que ocupava um espaço semanal na Folha de S. Paulo lá pelo final da década de 70, início da de 80 do século passado (!!), vez ou outra escrevendo sobre uma de suas paixões, qual seja… O Corinthians.
 
Pois em 1977 – mais exatamente no dia 12 de novembro – Lourenço Diaféria -assim se chamava – se superou, escrevendo o que abaixo transcrevo a vocês.
 
Ele não faleceu em 2009, mas um pouco antes, em setembro de 2008. Mas como os que acima menciono, faz parte da galeria dos que enaltecem a raça humana!
 
Antena ligada
 
Troquei meu televisor em branco e preto por um em cores com controle remoto, para facilitar a vida de meus filhos, que agora, sabe como é, época de provas, estão se virando mais que pião na roda. Imaginem que outro dia um professor teve a coragem de mandar meu filho gavião-da-fiel fazer um trabalho sobre o Sócrates.
Fiquei uma arara.
 
Em todo caso, apanhei a revista Placar e recomendei que o garoto consultasse os arquivos esportivos aqui da Folha e do Jornal da Tarde. Não é por ser meu filho, mas o guri caprichou do primeiro ao quinto.
Tirou zero.
 
Puxa, assim também é demais. Resolvi levar um papo com o professor, ver se não era perseguição. O professor foi muito gentil, porém ninguém me tira da cabeça que ele é palmeirense disfarçado de sãopaulino. Garantiu-me que havia ocorrido um equívoco: o Sócrates que ele queria era um craque da redonda que tomou cicuta. Essa é boa. Por que não avisou antes? Como é que vou adivinhar que o homem jogava dopado?
 
Me manguei, mas o professor percebeu meu azedume. Disse que ia dar uma nova chance.
 
Falou e disse.
 
Preveni meu garoto que ficasse de orelha em pé, lá vinha chumbo. Dito e feito. O professor, deixando cair a máscara alviverde, deu uma de periquito campineiro e pediu um trabalho completo sobre o Guarani.
 
Deixa que eu chuto, falei a meu filho. Pode contar comigo na regra três. Eu mesmo cuido da pesquisa.
 
Peguei a escalação completa do Guarani, botei o Neneca no gol, fiz a maior apologia do time da terra das andorinhas. Pra me cobrir e não deixar nenhum flanco desguarnecido, telefonei pro meu amigo Antonio Contente, que transa em assuntos culturais e conexos, como seja a imprensa, e pedi por favor que ele me mandasse uma camisa oito autografada. Diretamente de Campinas e pelo malote.
Não é pra falar, mas o trabalho escolar ficou um luxo.
 
Sem falsa modéstia, estava esperando pro meu filho no mínimo aprovação cum laude e placa de prata, para não dizer medalha de honra ao mérito.
 
Pois deu zebra.
 
Começo a desconfiar que o tal professor me armou uma arapuca e entrei fácil, como um otário. O homem deve ser primo do Dicá. Sabem o que o mestre fez? Hem? Querem saber? Deu outro zero pro meu filho. O pior é que não devolveu a camisa oito autografada.
 
Essa não deixei barato. Fui de peito aberto, às falas.
 
– Ilustre – eu disse -, com o perdão da palavra, mas que diabo de safadeza vossa senhoria anda arrumando pro meu garoto gavião-da-fiel? Então eu perco tempo, pesquiso, consulto a história gloriosa da equipe campineira, faço a maior zorra com o time do Brinco da Princesa, e o garoto ganha cartão vermelho?
 
Que grande cínico! O homem me olhou com aqueles olhos de olheiras – acho que tem almoçado e jantado mal, sei lá dizem que professor padece um bocado -, coçou a cabeça, murmurou:
 
– Foi o senhor que fez a lição?
 
Fiquei meio sem jeito:
 
– Bem, fazer não fiz. Dei uma orientação didática. Pai é para essas coisas…
 
Ele não se comoveu. Ao contrário, foi até rude:
 
– Se aceita um conselho, para de dar palpite na lição de casa de seu filho. O senhor não conhece nada do Guarani.
 
Falar isso na minha cara! Tive de agüentar calado. Nunca soube que no diacho do time campineiro figurasse uma dupla de área chamada Peri e Ceci. E com essa constante mudança de técnicos, como podia sacar que o técnico atual é o Zé de Alencar?
 
– Tá bem – eu disse -, não vamos brigar por tão pouco. O professor pode dar outra oportunidade ao menino?
 
Deu. O professor quer agora os capítulos completos de um romance, por
coincidência com o mesmo nome do time de Campinas: o Guarani. É qualquer coisa com índio sioux que de repente se vê obrigado a salvar uma mulher biônica das águas da enchente. Deve ser novela em cores. Mas só para complicar a vida de meu filho, o professor não revelou o horário. Porém desta vez ele não me ferra. Pela dica do enredo, que deixou escapar, deve ser mais uma dessas sucessões de cenas de violência que a gente é obrigado a engolir todas as noites na televisão.
 

Estou de antena ligadona, meu chapa.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Confronto de gigantes

A BSkyB, mais conhecida apenas como Sky, sempre dominou o futebol inglês. Aliás, foi a grana depositada por ela que permitiu que o futebol daquelas bandas se reerguesse no começo da década de 1990. A Sky salvou o futebol inglês, e o futebol inglês também acabou salvando a Sky, que hoje está em diversos cantos do mundo, inclusive, sabe bem você, no Brasil.

Quando a Sky comprou os direitos de transmissão da Premier League, ela estava na beira do abismo. A dívida da empresa era absurda e ela não conseguia atrair consumidores que estivessem dispostos a pagar pelo conteúdo que ela oferecia. Ela precisava ampliar a sua programação com produtos de qualidade. E com urgência. Por isso que ela quase triplicou os direitos da Premier League. Quando ela assegurou a exclusividade sobre o futebol na televisão inglesa, a venda das antenas explodiu. A partir daí, foi lucro após lucro, ano após ano. Seu dono, Rupert Murdoch, só é o magnata midiático que é por causa da Sky. E a Sky só é o que é por causa do futebol inglês.

Pois bem. Alguns anos depois, a ITV, um canal aberto inglês, tentou fazer a mesma coisa que a Sky fez. Na verdade, a ITV sempre foi a dona do futebol inglês, em conjunto com a BBC. Ela era a detentora dos direitos da primeirona inglesa até a chegada da Sky. Depois, ficou apenas com a seleção inglesa e com a FA Cup, dois subprodutos. E eis que, em 1999, ela resolveu lançar um canal fechado e pagar 250 milhões de libras pela exclusividade da transmissão da Segunda Divisão da Inglaterra, de forma a popularizar a sua nova plataforma. Logicamente, não deu certo. Em 2002 a ITV Digital, o novo canal, foi fechado.

A Sky nunca se incomodou muito com a ITV, mas o sucesso da ITV Digital poderia significar certa concorrência. Como ela quebrou, a Sky seguiu tranquila o seu reinado, até o momento em que a Comissão Européia mandou a Premier League acabar com o monopólio da Sky e dividir os direitos com outras emissoras. A PL dividiu o calendário em seis pacotes de jogos, dos quais uma emissora poderia comprar no máximo cinco. A Sky comprou quatro, os mais importantes. Os jogos menores, dois pacotes de 23 partidas cada, ficou com a Setanta, uma rede irlandesa que começava a querer dar passos maiores no mercado. Além da Premier League, a Setanta também comprou uma série de outros eventos esportivos, como o campeonato escocês.

Mas eis que os dois pacotes de jogos, menores, não foram o suficiente para que a Setanta popularizasse o seu canal. Como não é barato comprar direitos de transmissão do futebol inglês, ela acabou dando um calote na Premier League. Logo depois, decretou falência. Os clubes escoceses entraram em desespero, porque não iriam mais receber pela transmissão do campeonato, o que implicaria na falência de diversos clubes. Alguns clubes ingleses temiam seguir o mesmo caminho.

Mas, eis que surgiu a ESPN e comprou os direitos da Premier League da ITV. Pela primeira vez, a gigante mundial manifestou seu interesse em começar a dar passos maiores no mercado europeu. Diferente da ITV e da Setanta, a ESPN é uma rede consolidada, de alcance global, e possui diversos canais de financiamento. Ajuda, e muito, fazer parte do grupo Walt Disney.

A Sky deve entrar em desespero. É a primeira vez que a competição se acirra dessa maneira. Dentre as diversas previsões possíveis, a mais provável é que, caso a ESPN realmente queira entrar no mercado inglês e europeu, os valores dos direitos da Premier League vão disparar. Se o montante pago já é alto e significativamente superior aos outros mercados europeus, a tendência é que fique ainda maior. Nada mal para tempos de crise.

Pena que o futebol escocês não possa dizer o mesmo.

Para interagir como autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Trabalhar e ter sucesso no futebol globalizado? Obrigatória a língua inglesa, pelo menos…

Carlos Alberto Parreira está 40 anos à frente da maioria absoluta dos técnicos brasileiros.
 
Calma, sem polêmicas…
 
Não por sua sabedoria tática no comando de clubes e da seleção. Mas porque domina a língua inglesa, escrita e falada, desde o final da década de 1960, quando foi desbravar a então longínqua África para comandar a seleção de Gana.
 
Em 2010, a Copa do Mundo será na África do Sul, hoje comandada por outro brasileiro, Joel Santana – que não domina a língua e, naturalmente, isso lhe impõe muitas dificuldades no dia-a-dia do relacionamento com equipe, jornalistas e torcedores.
 
O “embromation” do treinador virou sucesso no Youtube e até ganhou versões funk e mixada com os desvarios de outro compatriota imperito na língua predominante no mundo, Anderson, meio-campista do Manchester United.
 
Não é só com o inglês que nossos profissionais sofrem. Luxemburgo também passou pelo mesmo enquanto foi “galáctico” no Real Madrid e destilava seu “portunhol” sem perder a pose jamás.
 
Aprender o inglês como segundo idioma, o espanhol como terceiro, o alemão como quarto não significa ser arrogante para atuar em um meio historicamente avesso aos letrados, estudiosos e ávidos por conhecimento.
 
Atualmente, isso é sinônimo de vantagem competitiva, pois dá aos profissionais mais chances de buscar dados e informações diretamente nas fontes de pesquisa (vide internet) para sua área de atuação, o que pode acarretar melhores contratos, mais chances de adaptação no estrangeiro e credibilidade.
 
Informação de qualidade e confiável vale muito num futebol fantasticamente globalizado em que vivemos hoje. Muito dela é produzida na esteira da vanguarda profissional européia e norte-americana, quando se trata de gestão esportiva e seus desdobramentos.
 
Para o Parreira sempre valeu muito, dentro do futebol, pois lhe possibilitou treinar várias seleções e clubes do exterior. E fora de campo, também, pois foi garoto-propaganda justamente de uma rede de escolas de inglês no Brasil durante a Copa do Mundo de 2006.
 
So, keep learning.
 
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
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Porcos-espinho, tecnologia, Muricy e São Paulo

Olá amigos.

Gosto muito de alguns textos, fábulas e parábolas que, de maneira curta e sutil, nos trazem muitas lições. Em especial esta que apresento a vocês, me fez refletir sobre dois pontos, um que nos acostumamos a abordar nessa coluna e outro que foi repercutido nesta semana.

A difícil convergência entre alguns setores profissionais do futebol com os recursos tecnológicos e a saída de Muricy Ramalho do comando do São Paulo.

Eis o texto:

Durante uma era glacial, muito remota, quando parte do globo terrestre esteve coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso. Indefesos, morreram por não se adaptarem às condições do clima hostil.  Foi então que uma grande manada de porcos-espinho, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, e juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte e afastaram-se feridos, magoados, hostilizados, por não suportarem mais tempo os espinhos dos seus companheiros.

Aqueles espinhos que aqueciam também feriam e doíam muito. Mais tarde, descobriram que essa não era a melhor solução: afastados e separados, logo começaram a morrer congelados, os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, compreensão, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver, resistindo à longa era glacial.

Um texto curto e simples, mas que, conforme afirmado anteriormente, se identifica muito com os casos citados.

Por mais que o espinho chamado tecnologia possa incomodar alguns profissionais, a convivência entre ambos é por demais necessária para que a tecnologia não morra, como também para evitar que o profissional se iluda com a falsa consciência de que não precisa de ninguém e de nada, pois já é auto-suficiente (diz que sempre ganhou tudo sem precisar de nada, ainda que nunca tenha ganho nada). 

Em outro fato, temos a saída do tricampeão brasileiro Muricy Ramalho. Muitos espinhos sobram para todos os lados nesse fato. Seja na relação Muricy x imprensa, ou Muricy x diretoria, ou ainda diretoria x Copa do Mundo. Enfim, muitos caminhos.

Confesso que não sou um fã incondicional do Muricy Ramalho. O que para alguns pode ser uma tremenda heresia e um desconhecimento de futebol, por não considerar o que todos observam que ele é o técnico eleito melhor do Brasil por quatro anos consecutivos, tendo conquistado três títulos. Mesmo porque, penso existir diferentes formas de se desenvolver um trabalho sem que uma exclua a outra (sem que os espinhos sejam nocivos). Mas deixemos essa discussão para outra oportunidade. 

Nesse momento, deve-se atentar que o São Paulo, reconhecidamente um clube estruturado e mestre em planejamento, deve ter motivos sólidos para suas ações. Apenas para reflexão, basta pesquisarmos a quanto tempo Arsène Wenger é técnico do Arsenal e pensar como seria se a cada eliminação do torneio intercontinental, ou ainda, no período de construção do estádio, ou nas reformulações do elenco, sua cabeça fosse colocada a prêmio. 

O fato é que na era glacial que o São Paulo está passando, os muitos porcos-espinho se aproximaram demais uns dos outros e sabemos como é que é, a corda sempre estoura no “espinho mais fraco”.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Gangorra da vida

Dunga, Ronaldo, Keirrison, Cuca, Muricy Ramalho. Semana sim, outra não, esses personagens dominam boa parte do noticiário esportivo. E, a cada sete dias que passam, a imprensa teima em sentenciar o destino já traçado para cada um deles.

Até a próxima rodada, é assim que a imprensa vai traçar os destinos desses personagens e de tantos outros que disputam uma partida profissional de futebol. No final de semana, foi a vez de a corda de Muricy Ramalho roer. Após quase quatro anos de tentativas insistentes da imprensa em decretá-lo como imprestável ao ser eliminado de uma Copa Libertadores, finalmente o São Paulo “cedeu” aos apelos e desfez-se do técnico mais vitorioso da década.

É curioso como o atleta e o treinador de futebol são tratados, em geral, conforme o resultado que apresentam dentro de campo. Se não houver um bom desempenho, a sentença derradeira é determinada, como se não fosse possível passar por uma má fase ou ter um dia ruim. Por outro lado, quando há resultado, tudo se transforma num mar de tranquilidade.

Muitas vezes a pressa no dia-a-dia do jornalista é vista como a grande vilã para que a mídia trate o trabalho no futebol como algo relacionado apenas ao resultado que é apresentado dentro de campo. Nesse cenário, não existe tempo para a análise crítica, para a criação de critérios mais claros que permitam um julgamento mais profundo do trabalho no esporte mais popular do país.

Mas o fato é que essa situação evidencia a falta de um trabalho mais estruturado, vindo lá da base, para a formação em educação física no nosso cotidiano.

Hoje, para trabalhar com o esporte profissional de alto rendimento, a pessoa tem de se especializar muito, tem de obter conhecimentos nas mais variadas áreas, tem de saber pensar para poder ter um bom desempenho profissional. 

Treinador, psicólogo, fisiologista, médico, atleta, massagista, nutricionista, sociólogo, administrador, marketeiro. Todos os setores envolvidos no cotidiano de um time profissional de futebol tiveram de passar por um processo de ampliação dos estudos, da profissionalização e atualização constantes, para poder chegar ao nível que hoje estão. 

Do outro lado, porém, a imprensa reflete a falta de educação na escola, que é a base para a formação da sociedade. O jornalista que hoje fala sobre esporte raramente possui uma qualificação interdisciplinar. Na verdade, dificilmente encontramos jornalistas que tiveram, de fato, uma educação física na escola. 

Quando crianças, geralmente fomos ensinados a praticar esporte, e não a estudá-lo. Nas aulas, o professor dividia a classe em times e o melhor era sempre quem ganhava a partida. Na sua essência, essa aula era apenas para a prática do futebol. Estudar a história do esporte, para não sair do que é mais superficial, não fazia sequer parte dos planos de um professor de educação física. E, assim, a sociedade se acostuma a produzir pessoas capacitadas em ver apenas a necessidade do resultado.

Talvez as histórias dos Dungas, dos Ronaldos e dos Cucas sirvam para nós de lição. Mostrem o caminho para que a gente entenda que o esporte não é apenas o resultado, que o que é ruim hoje pode ser excepcional amanhã. 

Hoje, a gangorra na cobertura do futebol pela mídia mostra que, em todos os setores da sociedade, sofremos com a necessidade de ver o resultado positivo para poder aceitar algo como bom. 

Quase sempre essa gangorra nos reforça a pensar e agir dessa forma, sem entender que, por trás de qualquer história de vida, estão pequenas narrativas de fracassos e conquistas. 

A imprensa reflete hoje a falta de conhecimento que permeia a sociedade brasileira. E o nosso senso crítico é colocado quase sempre para escanteio, dando vazão, sempre, à irracionalidade. O que é besta vira bestial num piscar de olhos. E, assim, vidas vão sendo idolatradas e massacradas ao dissabor do resultado.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Conhecimento tático ou inexperiência: qual a arma de Dunga?

Não estou aqui a escrever esse texto para defender esse ou aquele treinador, nem tão pouco para apontar defeitos personificados em um sujeito qualquer que um dia decidiu se tornar treinador de futebol.

Quando aponto falhas no comportamento organizacional de uma equipe, não tenho pretensão alguma de criticar o trabalho do “comandante” da tal equipe, apenas quero discutir como ela joga o jogo.

Hoje, vou então abrir uma exceção, para escrever sobre o treinador da seleção brasileira de futebol, o Dunga.

Confesso ainda achar muito estranho que alguém assuma como primeiro trabalho em sua profissão (em sua carreira), aquele que é tido como o mais importante, difícil e valorizado dentre seus pares.

O fato é que depois de ouvir recentes depoimentos de jogadores brasileiros que jogam ou jogaram na Europa nos últimos anos, começo a pensar que aquela que era para mim a principal fragilidade (defeito, problema!) do treinador da seleção do Brasil, é na verdade sua principal arma (vantagem, qualidade, virtude).

Explico. É muitas vezes assustador assistir nos programas “especializados” em futebol na televisão brasileira as comparações infundadas sobre o futebol praticado na Europa e o praticado no Brasil. Um sem número de argumentos vazios é usado para tentar convencer aos ouvidos menos atentos de que dentro do campo, seja no âmbito da preparação física, técnica ou tática, nós brasileiros somos imbatíveis.

É um velho-novo discurso que, reduzindo o futebol à relações de causa-efeito, simplifica ao bel prazer dos achismos,  fatos e teorias que explicam o ponto de vista que se quer defender.

É incontestável que fatores como a preocupação da Uefa com a qualidade da formação dos treinadores em ação no território europeu (da base ao profissional), a proximidade entre as Universidades (Ciência) e a prática em alguns centros, e o grande número de eventos que promovem discussão entre profissionais em diversos países da Europa têm garantido já há algum tempo um grande salto de qualidade no jogar das equipes européias.

Nossos jogadores saem do Brasil e no velho continente (aqueles que se adaptam aos novos paradigmas) aprendem coisas novas sobre o jogo, evoluem seu jogar e em contrapartida oferecem as suas equipes novas outras possibilidades (e está feita a troca).

E o Dunga com isso?

O treinador brasileiro passou cerca de 11 anos de sua carreira de jogador fora do Brasil (6 anos na Itália, 2 anos na Alemanha e 3 anos no Japão [fonte: Wikipédia]). Aprendeu muitas coisas por lá. Algum tempo depois de se “aposentar” no Brasil, tornou-se treinador – e logo da Seleção Brasileira.

Não precisou respirar os bastidores dos clubes brasileiros (em sua maioria viciados em um tempo “estragado” que parou no passado), nem conviver com alguns de seus jogadores acostumados com desmandos de um futebol que “é assim mesmo”.

Assumiu um cargo em que os seus comandados aprenderam coisas novas, experimentaram outros paradigmas, atravessaram o Atlântico e cresceram como atletas e como homens; passaram a jogar um futebol que o próprio Dunga tirou lições. E como não tinha experiência alguma como treinador tratou de buscar informação e conhecimento.

Sem os vícios que poderiam dificultar seu trabalho com os grandes astros do futebol brasileiro e com uma visão mais ampla sobre o que se faz no futebol europeu tem tentado, de certa forma, dar significado a coisas que antes eram substituídas ou ficavam ofuscadas por gritos na beira do gramado.

Não acredito que Dunga seja melhor ou pior o que esse ou aquele treinador. Penso somente que sua vantagem é não ter tido tempo e experiência como técnico dentro do nosso bom futebol brasileiro; e só com isso já tem tido resultados mais satisfatórios do que seus antecessores em vários aspectos.

O que acredito sim, é que estamos muito distantes ainda de ter uma seleção brasileira jogando de maneira a potencializar o talento de nossos jogadores ao mesmo tempo em que se apresenta como uma equipe tática avassaladora.

Por fim, só para constar, uma questão: por que os “especialistas futeboleiros” de maior “alcance” na mídia, diferente do que faziam (e fazem como praxe) com outros treinadores, vivem a elogiar o Dunga (a responsabilidade é sempre dos outros)?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Um exemplo a ser acompanhado

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Hoje tivemos uma notícia na Formula 1 de grande importância para o cenário do esporte mundial, em especial para o futebol.

Em colunas passadas, discutimos neste espaço o que aconteceria na hipótese de determinados clubes romperem com suas federações e ligas. Essa hipótese teve espaço quando foi recentemente veiculado na imprensa um possível rompimento entre ECA (associação dos principais clubes da Europa) e Uefa (confederação européia de futebol).

Apesar de posteriormente desmentido, esse boato despertou enorme curiosidade no mercado, que ponderou o que poderia acontecer nessa hipótese. Como jogadores, mídia, patrocinadores e torcedores reagiriam?

Seria de fato uma queda de braços interessante (porém com conseqüências negativas para todas as partes, não tenho a menor dúvida).

A questão ficou no ar, e a conclusão foi a de que dificilmente isso aconteceria na prática. Nenhuma das partes assumiria esse enorme risco, eventualmente irreversível, de abrir mão do apoio da outra na luta pela sua viabilidade financeira.

Enfim, hoje os agentes do futebol podem aproveitar do atual momento, e refletir sobre essas possíveis conseqüências sem as sofrerem na pele.

A Associação das Equipes de Fórmula 1 (Fota) anunciou ontem um rompimento com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a conseqüente organização de uma competição própria entre suas escuderias. Aparentemente apenas a Williams e a Force Índia permaneceriam na competição da FIA.

Assim, será interessante observar qual vai ser o comportamento dos pilotos, dos patrocinadores e das televisões mundiais (isso na hipótese de essa posição da Fota ser efetivamente mantida).

Entendo que a FIA poderá impor multas relevantes aos “desertores”, incluindo eventualmente a recusa de poderem disputar, no futuro, qualquer prova organizada pela FIA. Se isso de fato ocorrer, teremos uma grande pressão sobre aqueles que estiverem planejando migrar para a competição da Fota. 

Por outro lado, estamos falando de escuderias tradicionalíssimas, como o caso da Ferrari. Estaria a FIA em uma posição de abrir mão para sempre dessa escuderia em prol de um exemplo a ser seguido no futuro por seus membros? 

Guardadas as devidas proporções, seriam as mesmas perguntas que estaríamos fazendo caso a notícia fosse a de que clubes como Milan, Manchester United, Real Madrid e outros grandes estivessem rompendo com a família da Fifa. 

Infelizmente, para o mundo do automobilismo temos a chance, talvez única, de observar as conseqüências de um rompimento dessa magnitude na realidade.

Os próximos desenvolvimentos dessa briga serão cruciais e poderão ganhar contornos irreversíveis e irreparáveis. E que os agentes dos demais esportes tirem as suas lições.

Vamos acompanhar e manter nossos leitores informados.

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