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A Fórmula 1 e o futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Os esportes de alto rendimento dividem-se, basicamente, em dois grupos. Os individuais e os coletivos.

O futebol, por exemplo, é um esporte coletivo. Não existe um jogador campeão, mas sim uma equipe. O tênis, por outro lado, é um esporte individual (ressalvada a exceção da Copa Davis e, de certa forma, os torneios de duplas). Nesse último esporte, o atleta é considerado individualmente o campeão.

Nesta coluna, gostaria de usar um exemplo do futebol para fazer uma crítica à Formula 1.

A modalidade do automobilismo da Formula 1 possui atualmente um problema gravíssimo, que é o conflito entre ser um esporte individual ou um esporte de equipe, o que compromete, de forma inaceitável, o espírito fundamental do esporte da busca pela vitória.

Diversos males hoje reconhecidos e combatidos também afetam esse espírito da vitória. A má utilização das apostas desportivas, por exemplo, pode fazer com que um time entregue um jogo de propósito, o que é inaceitável. O doping, de outro lado, maximiza o espírito da vitória de forma desleal e prejudicial à saúde dos atletas: igualmente reprovável.

Pois bem. O conflito entre esporte coletivo e individual, presente hoje na Fórmula 1, também em nossa opinião deveria ser combatido. Quem paga ingresso para assistir ao evento, sai evidentemente decepcionado ao ver um piloto deixar o outro passar por questões estratégicas da equipe. E em um cenário pessimista, mas possível, essa atitude pode levar ao afastamento de torcedores, mídia e patrocinadores, minando a viabilidade financeira do esporte.

Pelos regulamentos da competição, a Formula 1 é um esporte individual, tanto que a atitude da escuderia em questão provocou a sua punição. Entretanto, o erro reside em premiar e reconhecer, de forma muito ostensiva, a melhor escuderia da competição, por pontos de seus pilotos.

É como se o prêmio de artilheiro do Brasileirão fosse algo muito relevante (principalmente em termos financeiros). Esse fato não tiraria o aspecto da coletividade do jogo, porém poderia provocar distorções. Ou então, em outra perspectiva, se premiassem ostensivamente o melhor país em termos de rendimento dos seus clubes nos torneios continentais.

Um exemplo bacana para o caso (mas triste por outro lado) é o que aconteceu em certa temporada no campeonato de futebol do Nepal (!!). Naquele país, em que o futebol é muito pobre, o artilheiro da competição leva um cobiçadíssimo carro do patrocinador do torneio.

Em um certo jogo de última rodada, em que um time “A” precisava vencer para não cair e o outro time “B” estava no meio da tabela e não dependia de resultado algum, o time A acabou vencendo por 9×8, tendo o artilheiro do time B feito os 8 gols e sagrando-se o artilheiro da competição.

Em outras palavras, os esportes coletivos devem premiar as equipes, e os individuais premiar os atletas, apenas menções a outros destaques marginais. De forma que o esporte impeça que o verdadeiro espírito do esporte mantenha-se intacto.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Fifa na contramão do mundo

Caro amigo, sabe quando um ator famoso, um político, ou mesmo um jogador de futebol, faz tanta, mas tanta besteira, que a gente até dúvida? E por vezes nos pegamos pensando se não o fazem pelo simples prazer de aparecer? E mais, já que não conseguem destaque só pelo que fazem de normal e coerente, acabam tomando atitudes que são totalmente contrárias ao bom senso?

Pois é. Imagino que a Fifa tenha adotado esta estratégia. Em nota do dia 21 de julho, a federação que rege o futebol divulgou que vai intensificar os testes com dois assistentes extras com vistas à melhoria da arbitragem.

Na nota referente ao encontro realizado no País de Gales na última semana, a International Football Association Board aprovou solicitações para a realização de testes com dois árbitros assistentes a mais no campo de jogo para as temporadas de 2010/2011 e 2011/2012.

Num mundo onde a capacidade intelectual, isto é, as pessoas (que aqui chamaremos de recursos humanos) está cada vez mais sendo valorizada e especializada, tirando-lhe o fardo de trabalhos que podem ser feitos com maior precisão e velocidade por recursos tecnológicos, a International Board vai na contramão.

Aqui faço um pequeno recorte no texto para justificar o parágrafo anterior. Muitas pessoas pensam, erroneamente, que a tecnologia vem substituir o ser humano. Seria um erro maior ainda atribuir essa afirmativa a incapacidade das pessoas de compreender o fenômeno, pois a primeira vista numa fábrica onde um computador substitui o trabalho de quatro funcionários, essa premissa estaria correta, concordam?

A questão é que devemos esquecer um pouco aquele pragmatismo que nossas professoras nos ensinaram nas tenras séries escolares, de que não era possível subtrair maçãs e somar abacaxis ao mesmo tempo.

Na verdade, o mundo contemporâneo exige que as maçãs subtraídas sejam comparadas com os benefícios dos abacaxis somados no processo. E antes que o amigo tome “guela abaixo” essa vitamina, explico. Quando um computador faz o trabalho de quatro funcionários, ele está fazendo o trabalho que podemos chamar de braçal, repetitivo, de pouco teor intelectual, ou ainda o trabalho complexo , que demoraria um bom tempo para nós seres humanos realizarmos (só lembrando que complexidade não é sinônimo de inteligência como infelizmente alguns pensam).

O que para alguns significaria a perda destes quatro funcionários, o mundo hoje deve encará-los como o ganho de quatro novos recursos intelectuais, ou seja, quatro pessoas que podem ser atualizadas e capacitadas para desempenhar atividades muito mais intelectuais do que braçais, envolvendo criatividade, solução de problemas, inclusive elaboração de novas máquinas e recursos tecnológicos.

E nesse sentido que a Fifa vai na contramão do mundo, ao invés de adotar recursos mais precisos e confiáveis do que o ser humano (embora alguns insistam em não perceber, o ser humano é passível de erro), prefere colocar novos assistentes ao e ignorar o fato de que a tecnologia é no mínimo um paradoxo do avesso.

Se para eles mais duas pessoas podem ajudar a minimizar os erros, como conduzir as diferenças nas interpretações de mais duas pessoas envolvidas no processo. Imaginemos uma bola que teria ultrapassado a linha de gol, dependo do ângulo, do posicionamento e da intenção do arbitro ou assistente, as opiniões serão diferentes ao passo que adoção de um recurso tecnológico tornaria o lance preciso e claro.

A entidade ainda fixou os seguintes critérios para o teste que visa a adoção dessa “inovação”, de acordo com o disponibilizado no próprio site da Fifa

1. Que ele seja realizado nas ligas e competições profissionais das federações nacionais ou em nível de confederação continental (apenas competições de clubes).
2. Que ele seja concluído a tempo de permitir que uma decisão seja tomada em 2012.
3. Que os custos adicionais de tal experimento sejam de responsabilidade da liga, federação nacional ou confederação continental em questão.
4. Que todas as partidas da competição em questão sejam apitadas com dois árbitros assistentes adicionais.

Para não nos alongar, me atenho a provocar o amigo a refletir sobre o item 3.

Um dos grandes argumentos daqueles que defendem é que a tecnologia não deve entrar na arbitragem por que encarece o futebol e seria privilégio apenas das ligas mais ricas, o que fere o tão transparente espírito democrático do futebol.

Assim que diferença tem em investir em desenvolvimento de tecnologia e aplicação do que adotar dois novos árbitros, em termos de custo um pode ser mais alto agora, mas ao longo do tempo é diluído já que o mais caro é o investimento inicial (tecnologia), enquanto o outro (dois árbitros) exige também custos de treinamento e capacitação num primeiro momento, mas não tem possibilidade de diluição ao longo do tempo.

Enfim, enquanto todos reduzem custos e aperfeiçoam processos, investindo em tecnologia e, consequentemente, em recursos intelectuais, o futebol descarta os recursos tecnológicos “investindo” em trabalho passível de erro, afinal, segundo dizem, o erro é um charme no futebol. Que não me venham falar isso quando meu time for prejudicado.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Jornalismo declaratório

Uma das grandes coisas da internet foi possibilitar que a notícia se propagasse de maneira tão rápida quanto o rádio, mas acessível até mesmo para quem está no ambiente de trabalho. Afinal, desde que o computador virou instrumento de trabalho, a internet passou a ser um meio de acesso à informação em tempo real.

Só que a transformação da realidade na cobertura jornalística mudou a forma como o jornalista passou a se comportar. A busca pelo “furo” tem sido paulatinamente substituída pela busca por audiência e pela velocidade na publicação da informação. Ao mesmo tempo, as fontes se tornaram mais bem preparadas para evitar cair em armadilhas.

Isso tudo leva a um novo cenário. Jornalismo, hoje, virou sinônimo de reprodução das declarações das fontes. A apuração da reportagem ficou em segundo plano.

O caso Muricy Ramalho e CBF evidencia isso.

Ricardo Teixeira disse que já estava tudo certo, restando o ok do Fluminense. Muricy disse, em linhas gerais, o mesmo.

A imprensa em geral já dava como fato consumado a efetivação do treinador do Fluminense na seleção brasileira.

E o que aconteceu depois?

A essência do jornalismo é a apuração. Apurar não significa reproduzir as frases das fontes, mas ir além da superfície.

O jormalismo declaratório sempre permeou o trabalho do jornalista de economia. E, agora, invadiu o esportivo.

É preciso ter mais gente que saiba mergulhar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Maldito FC

O mês de julho de 2010 é o mês dos técnicos de futebol.

Não só aqueles que ocuparam os principais papéis na Copa do Mundo da África do Sul – Parreira, Dunga, Domenech, Löw, Del Bosque.

O espaço é também preenchido por Mourinho, cujos capítulos da história no Real Madrid recém começam.

Sem falar de Felipão, que retorna ao Palmeiras depois de alguns anos, onde obteve enorme sucesso, que o catapultou ao estrelato como treinador do Brasil e Portugal.

E que ocupa o primeiro lugar na preferência nacional – talvez da CBF – para assumir a vaga na seleção brasileira, até há pouco nas mãos do criticado Dunga.

Saibam todos que não há cargo profissional, na iniciativa privada, que receba mais pressão que a de técnico de futebol.

Seja de clube pequeno, médio ou gigante. Seja da seleção de Antígua e Barbados. Seleção nacional como Brasil, Argentina, Itália, Alemanha, Inglaterra então…

Nenhum presidente de empresa ou alto executivo tem receio de sair à rua, para os afazeres cotidianos, e ser interpelado – pacificamente ou de forma constrangedora – por fanáticos dos produtos da empresa, querendo satisfação sobre determinada estratégia de venda ou queda no balanço trimestral.

São e serão sempre ilustres desconhecidos do povo.

A trajetória de êxitos e fracassos na vida de um técnico de futebol é desvendada, brilhantemente, pelo filme inglês Maldito FC (Damned United), cuja inspiração foi a biografia de Brian Clough.

Brian foi um atacante mediano, apesar de sua média de gols por partida nos clubes que defendeu chegar a impressionar e que o levara ao English Team. Devido a uma séria lesão, interrompeu a carreira e passou anos difíceis de transição profissional até chegar ao cargo de técnico.

Seu grande feito fora levar o clube inglês Derby County ao título da segunda divisão do país em 1969, dois anos após assumir o trabalho. Em 1972, era campeão da primeira divisão e levava o clube à disputa da então Copa dos Campeões da Uefa.

De temperamento forte e, até mesmo, irascível, rompeu com o clube e seu auxiliar após as conquistas e passou certo período em baixa, para voltar em grande estilo em 1975.


 

O filme aborda o período no Derby County e no Leeds United – fracassado, de seis semanas – em 1974.

Brian aceitara o cargo de Don Revie, técnico que transformara o Leeds no maior clube inglês em seus 13 anos de comando e que assumiria o English Team.

Don Revie era o paradigma de sucesso e a obsessão de Brian ao mesmo tempo.
A obsessão por superar Revie lhe fez deixar de lado aquilo que o alçara ao estrelato: a convicção no seu método de trabalho, nos seus colegas de comissão técnica e no seu estilo de liderança.

Quis implementar muito rápido a transição entre o anterior e o novo. Não funcionou. O ser humano – e o jogador de futebol ainda mais – é dado à zona de conforto profissional…

Quando se deu conta dos equívocos, retomou as rédeas do sucesso e levou o Nottingham Forest, da segunda divisão à conquista de títulos na Inglaterra e, pasme, ao bicampeonato da Copa dos Campeões da Europa em 1979-1980.

Os extras contidos no DVD do filme exaltam as inovações e o pioneirismo no estilo de trabalho de Clough. Alguns ex-atletas comandados e dirigentes destacam o perfil vanguardista que adotava.

A equação para a montagem de uma grande equipe, como Dunga queria em 2010, como Mourinho e Felipão já alcançaram em sua carreira, necessita do fator equilíbrio.

Não bastam comprometimento, suor e inteligência. Pois, se a convicção do trabalho parte de premissas equivocadas, o resultado pode ser o precipício coletivo.

Brian Clough morreu em 2004 aos 69 anos.

Diz-se que ele era o melhor técnico que o English Team jamais teve…

Recomenda-se o filme para todos os técnicos. Do presente e do futuro.

Inclusive Felipão e José Mourinho. Conhecimento pela experiência dos outros também serve.

Recomendar para o Dunga seria óbvio demais.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O arco e a flecha, o futebol e o treino analítico

Recentemente no Café dos Notáveis, um visitante empolgado por conhecer lugar tão ilustre, após alguns minutos escutando de canto uma conversa entre dois seguranças do Café (dois “caras” que se vestem invariavelmente com ternos italianos de um botão, de cor marrom metálico, e sapatos bicolores – marrom e branco) – descrevo parte de suas vestimentas para ilustrar os carismáticos, engraçados e ácidos homens que cuidam da segurança do Café desde sua “fundação” – resolveu participar e fazer alguns apontamentos que representavam sua opinião sobre o assunto.

Os seguranças (nesse caso o Duk Dúvida e o Tom Certeza) falavam sobre como eram bons os arqueiros que disputaram o último campeonato de arco e flecha.

Para se ter ideia, na última rodada de flechadas, os três finalistas (que eliminaram juntos mais de 200 participantes) tiveram que atirar mais de 50 flechas cada um, em um alvo marcado a 30 metros, até que chegassem ao vencedor da competição.

Tom, que não tinha dúvidas comentava com Duk, que não tinha certezas, que ao certo aqueles arqueiros deviam atirar mais de 500 vezes em um dia, para ficarem com a “mira” refinada e quase tornarem impossível qualquer erro.

Duk, que tinha muitas dúvidas, achou desta vez que Tom devia estar certo; afinal, para acertar alvo tão minúsculo em considerável distância (segundo o entendimento deles) realmente o número de repetições que um arqueiro devia realizar em um dia de treinamento não poderia ser menor.

Repetir, repetir e repetir e só assim chegar à excelência, assim como disse certa vez Platão; ou Sócrates – talvez, quem sabe Aristófanes – pensou, mas sem certeza, o segurança Duk.

O fato é que o empolgado visitante, do qual não me lembro bem o nome, logo se intrometeu no debate entre Tom e Duk e, cheio de convicção, disse:

– Ora, senhores… É o que eu sempre digo sobre o futebol. Jogador para ficar bom tem que repetir os fundamentos até a exaustão. Tem que passar, chutar e cabecear duzentas vezes por dia se for preciso. Se os arqueiros para ficarem bons atiram quinhentas vezes em um dia de treino, tentando acertar o alvo, o mesmo vale para o nosso futebol!

E emendou:

Não é possível ensinar, trabalhar e aperfeiçoar passes ou qualquer outro fundamento, com jogos adaptados, reduzidos, direcionados, conceituais, específicos, ou seja lá quais forem… Tem que repetir o movimento e ponto!

Duk, que não tinha certeza, depois de ouvir atentamente as palavras do visitante, pensou que talvez ele estivesse certo. Mas tinha muitas dúvidas, principalmente porque um arqueiro treina quinhentas vezes (ou seja lá qual for o número), a fazer exatamente aquilo que fará quando estiver competindo – exatamente o mesmo. É concentrar, mirar e atirar (sempre da mesma distância, com o mesmo equipamento, com as mesmas condições competitivas de luz e vento).

Então, colocou à prova seu breve pensamento e suas rápidas e incertas conclusões.

Tom, que também ouvira tudo com bastante atenção, olhou para o visitante e com toda calma que lhe é característica, disse que repetir gestos é diferente de repetir ações, e que no caso do arqueiro, gesto e ação estavam carregados de um único significado e intenção, que era o de acertar a flecha no alvo.

Disse que conhecia muitos arqueiros, inclusive um dos finalistas da competição, e que jamais havia visto um deles treinar quinhentas repetições de empunhadura do arco, separada das repetições de puxada da corda do arco, separada da própria flecha ou da mira ao alvo.

Concluiu que toda repetição se concentrava em torno do significado do movimento em sua totalidade e intenção, que era o de atirar a flecha, com o arco, no alvo.

E ainda acrescentou:

– Então, se formos transferir seus apontamentos sobre o arco e flecha ao futebol (disse ao visitante), esteja certo de que eles reforçam justamente a necessidade de que no futebol, para ensino e aperfeiçoamento das habilidades básicas do jogo, devemos nos atentar para ele (o jogo) e para as ações e seus significados. Isso quer dizer que ao criarmos jogos que exijam dos jogadores criatividade para resolver problemas específicos, parte fractal desta solução estará também na habilidade técnica básica que se manifesta no jogo como ferramenta para dar solução a eles (aos problemas).

– Isso quer dizer que “repetir” ações de jogo, com toda sua circunstancialidade e imprevisibilidade, pode melhorar, dentre outras coisas, as habilidades técnicas básicas? (perguntou Duk).

– Claro que sim!!! (respondeu Tom).

O visitante, que escutava tudo atentamente em silêncio, olhou para Tom e para Duk, deu um suspiro, fez uma cara de desconfiança e resolveu abandonar o debate. Afinal, pensou ele, realmente Pelé, Zico, Maradona, Romário, Ronaldos, Messi e tantos outros deviam ter aprendido o que sabiam nas peladas de rua ou de terreno baldio, e não repetindo passes dois a dois festejando a monotonia. Mas esses eram craques. Nasceram assim. Não precisavam de treino… E além do mais (continuando com suas introspectivas reflexões), explicar isso para dois seguranças não ia ser fácil…

Deixou pra lá e foi embora.

Tom olhou para Duk e, com ar sereno, disse:

– É, caro amigo Duk, a verdade está em como enxergamos o mundo que está ao nosso redor… Você já leu o “Pequeno Príncipe”?

– Aquele em que as pessoas acham que o desenho da cobra que engoliu um elefante é o desenho de um chapéu? (perguntou Duk).

– Esse mesmo. Para alguns sempre vai ser um chapéu. Para outros uma cobra que engoliu um elefante…

E assim encerraram a conversa para receber um dos Notáveis que estava a chegar…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Na mesma

No ano passado, eu fiz um estudo bem simples que projetava o balanço anunciado do clube de futebol com o maior faturamento no país no ranking das maiores empresas brasileiras produzido pela revista Exame. Na época, o São Paulo, com um faturamento de aproximadamente R$ 158 milhões, ficava na 1195ª posição, empatado com uma usina hidrelétrica mato-grossense que possuía seis funcionários. A idéia era mostrar que apesar de ser extremamente badalado, o negócio do futebol em si não é muito grande e está longe de gerar tanta receita quanto a maioria das pessoas tende a imaginar.

Um ano depois, o São Paulo não é o clube que mais fatura no país. Com a volta à Série A, Ronaldo e patrocínios, o Corinthians ultrapassou o seu rival e se tornou o clube que mais faturou em 2009, com R$ 181 milhões. O São Paulo caiu pra terceiro, com R$ 174,8 milhões, um acréscimo de 10% em relação ao ano anterior, e o Inter ficou em segundo, com R$ 176,2 milhões.

Apesar da evolução financeira, o São Paulo caiu de posição na projeção do ranking da Exame. Se em 2008 o clube foi a 1195ª organização que mais faturou no país, em 2009 ele foi ultrapassado por oito empresas e caiu para a 1203ª posição, ficando entre a Camaquã Alimentos, empresa gaúcha de 179 funcionários localizada a 130km ao sul de Porto Alegre e especializada em arroz parboilizado, e a Pioneiros Bioenergia, usina de derivados da cana-de-açúcar localizada no interior paulista.

O Internacional, que ficaria na 1201ª posição, faturou um pouco a menos que Rivelli Alimentos, empresa de Barbacena, Minas Gerais, que é especializada em frango e patrocinadora do América-MG, e um pouco a mais que a Sandvik Mgs, mineradora sueca com base em Guarulhos que, possivelmente por conta do desquecimento da economia mundial, teve uma redução de mais de 50% do faturamento em relação a 2008.

Curiosamente, apesar de o Corinthians ter faturado em 2009 R$ 23 milhões a mais que o São Paulo faturou em 2008, o clube ficou exatamente na mesma posição do ranking da Exame que o campeão de faturamento do ano passado, a 1195ª posição. Isso deixou o clube paulista entre a Alcoazul, mais uma usina de álcool, açúcar e biodiesel, que fica em Araçatuba, e o Hiper Moreira, de Goiânia, que, com uma única loja de 11 mil metros quadrados de área de venda divididos em dois andares, é, aparentemente, o maior hipermercado regional do Centro-Oeste do Brasil.

O fato de o clube que mais faturou do Brasil ter mantido a mesma exata posição projetada no ranking da revista em dois anos seguidos mostra que, se não houve grandes avanços comerciais no futebol brasileiro, pelo menos os clubes estão acompanhando o crescimento do mercado nacional. Ao mesmo tempo que isso é bastante positivo, o fato também consolida a ideia de que o mercado do futebol no país (e fora dele) é pequeno e gera muito mais exposição do que dinheiro.

Ademais, mostra que a preocupação da indústria do futebol brasileiro como um todo não deve ser pautada pelas possibilidades de ganhos financeiros, mas sim no controle crescente e desenfreado dos seus gastos, principalmente com salários e valores de transferência. Existe um nítido teto de receita que pode ser atingido pelos clubes de futebol do Brasil. O buraco dos custos e das dívidas, porém, parece ser cada vez mais profundo.

*****
Depois de uns quatro anos escrevendo neste espaço quase que ininterruptamente, vou pegar umas pequenas férias de três semanas. No interim, você pode acompanhar alguns devaneios de 140 caracteres pelo Twitter em @oliverseitz. Nos vemos em breve. Até.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Breves comentários: fim de Copa e retorno dos campeonatos

Fim da Copa. Hora de refletir e avaliar o que foi feito e os impactos que serão deixados pelo mundial.

Tecnologia

Talvez, e apenas uma mera especulação, a tecnologia pode ser a grande beneficiada com a Copa que se encerrou. Não por ter sido a grande sensação, ainda que tenhamos que avaliar a repercussão das transmissões em 3D e outras questões mais voltadas para a linha do entretenimento. Mas com certeza, sua ausência em meio a tantos lances polêmicos já exerce uma pressão pública muito forte em cima da Fifa.

Entidade essa que até admite rever e discutir algumas possibilidades, mas que deixa bem claro que o erro humano é o que move o futebol.

Enquanto o mundo inteiro (a exceção do futebol) procura através de recursos diferenciados aperfeiçoar seus serviços e minimizar o erro humano, o futebol, nas palavras de Blatter, se vangloria de ter o erro humano como grande “atrativo”. Mas ainda assim o presidente da Fifa promete encaixar a discussão na próxima reunião.

Já discutimos isso, mas é inevitável falarmos de novo, o torcedor gosta de polêmica com certeza, mas será que ele colocaria uma eliminação injusta por erro de arbitragem em segundo plano? Lembro da coluna recente na qual pedimos fair play para a Fifa.

Retorno dos Campeonatos

Agora retornaremos aos campeonatos de clubes. Uma inter-temporada maior que a própria pré-temporada. Com um recheio para lá de interessante, que foi justamente a Copa, possível de ser analisada e avaliada em termos de novas tendências táticas de estilo de jogo e outras coisas mais.
Será que os técnicos brasileiros se atentarão a isso. Por enquanto li apenas o Mano Menezes comentar sobre o legado do estilo de jogo alemão e espanhol.

“Espero que surta efeito, principalmente para ver laterais jogando como laterais, zagueiros jogando como zagueiros, com a linha de quatro jogadores atrás, que há dez anos é uma realidade muito forte na Europa e aqui ainda andamos na contramão”, disse Mano Menezes à Gazeta Esportiva.

Mas será que (aqui peço desculpas pela generalização) os técnicos que nem sequer avaliam e estudam seus oponentes estão preocupados em entender tendências da Copa. Muitos ainda acham que mais vale chutar uma garrafa de água no vestiário para motivar os jogadores no segundo tempo, imagine falar em tendência e análise de jogo.

Contudo, esperamos que essa excelência tática que uma Copa do Mundo às vezes traz, possa cria na cabeça de alguns técnicos uma preocupação com aspectos voltados a análise do jogo.

E lembro: análise de jogo não é só observar, precisa aliar conhecimento, experiência, critérios e intervenção. Pois se só olhar resolvesse, a coruja ocuparia o trono do leão como Rei da selva.

Vejamos então o que acontecerá com a tecnologia no futebol como ferramenta de auxilio da arbitragem e também como os treinadores se comportarão com a questão das tendências táticas da Copa.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Colunas

Os usos do futebol

Desde sempre a filosofia duvidou. A dúvida é o seu gesto instaurador. Por isso, com algumas exceções, nela tudo é anti-ordem e anti-poder. O Futebol, ao invés, procura sofregamente o apoio do Ter e do Poder e expande-se, desenvolve-se, com Ordem e Medida. Por outro lado, também o Ter e o Poder precisam do futebol para legitimar-se. De fato, as seleções nacionais de Futebol, as equipas mais representativas dos vários países representam interesses desportivos mas, sobre o mais, interesses midiáticos, interesses comerciais, interesses publicitários, interesses políticos. Os desempenhos das seleções e dos clubes encontram-se intimamente ligados aos desempenhos dos serventuários do grande capital. Chegou, portanto, a altura de questionar se o carácter eminentemente formativo do futebol (como desporto que é) não desaparece diante da lógica de outros interesses incapazes de assumir uma intervenção pedagógica global. É que o Ter e o Poder são declaradamente despóticos, ou seja, têm uma verdade indiscutível e o futebol, que os serve, transforma-se na expressão corporal dessa verdade.

O futebol concorre mesmo à interiorização, em cada dos seus agentes, dos vereditos imperiais do déspota. Não é por acaso que as práticas dopantes, nele, permanecem; não é por acaso que o alto rendimento é sempre acompanhado de produtos farmacêuticos, os mais sofisticados; não é por acaso que são, cada vez em maior número as doenças súbitas que atormentam os jogadores de futebol; não é por acaso que o desporto (e portanto o futebol) é uma atividade física ou, segundo alguns, um meio de educação física (e quanto mais físico o desporto for, mais acéfalo e acrítico será e mais servilmente representará a vontade do Ter e do Poder).

Por sua vez, o treinador, sempre que se refere aos jogadores que trabalham sob as suas ordens, repete, de forma exaustiva e massacrante: os meus jogadores. Como se, de fato, os jogadores fossem mesmo dele! Mas não é assim que pensa o déspota quando exclama: “meu povo”? O treinador, para ser um profissional exemplar, para a ideologia dominante, só tem de imitar o déspota. E assim como o Poder diz trabalhar para o povo, para mascarar a sua função constitutiva, a repressão – também os treinos, os estágios, as competições se resumem ao exercício de uma soberania astuciosa, que controla os atletas como quem comanda singelos títeres. Não são os agentes do futebol que fundam o futebol, mas o Ter e o Poder, com a sua libido dominandi, geradora de violência. De fato, a lei e a ordem, no futebol, nada têm a ver com a Justiça, mas com a delimitação do espaço onde se movimentam o senhor e o servo, dentro de uma competição insanável, que forma o devir histórico do futebol, de há cem anos a esta parte.

O pensamento único neoliberal (a ideologia dominante) é o que faz, no futebol e no mais: um mundo de riqueza, cercado de pobreza, por todos os lados, onde funcionam a liberdade, o livre comércio e o livre mercado, tão intimamente associados que delas surge, dominador, o capitalismo neoliberal. Que admira que, também no futebol, coexistam os ricos e os pobres, os senhores e os servos? O Real Madrid, o Barcelona, o Bayern de Munique, o Manchester United, o Chelsea, o Manchester City, a Inter, o Milan e poucos mais são os senhores; os demais são os servos. Aliás, este futebol é o que gera: senhores e servos. E produz assim uma certa imagem da essência da sociedade, onde os antagonismos, típicos do capitalismo, aparecem como causa de manutenção do status quo. O aumento galopante do desemprego, nos países desenvolvidos, está a empurrá-los à pobreza do Terceiro Mundo. Entretanto, o povo delira e aplaude o futebol promovido e organizado pelo mesmo neoliberalismo altamente competitivo que o leva à penúria e à ausência total de segurança social…

É um truismo afirmar que o capital capitaliza o futebol. De fato, o capital procura, acima de tudo, o lucro. O Cristiano Ronaldo não seria tão publicitado se as suas qualidades físicas (as outras pouco importam) não despontassem, na imprensa, no rádio e na televisão, de mãos dadas com determinados produtos… que é preciso vender! Em nenhum modelo invasor, ou inspirado de fora de um “ethos” livre e libertador, se descortina o escrupuloso respeito da dignidade das pessoas e da sua capacidade de, no desporto, serem sujeitos (ser sujeito é não sujeitar-se) e não objetos.

Ora, hoje, o futebol, preso nas mãos férreas de um capitalismo imoral, não é uma prática libertadora e construtiva, mas uma cilindragem opressora e destrutiva. De prática autocontrolada pelos “homens do futebol”, no seio do futebol, passou-se a uma prática heterocomandada longe e contra os “homens do futebol” que deixam de ser os agentes da sua profissão, para surgirem, na praça pública, como réus de crimes que não cometeram. De que podem acusar-se o Dunga, o Carlos Queirós, o Maradona e outros mais, treinadores vacilantes e de muito pouca eficácia, no Mundial-2010? Na ausência de liderança? Na canhestra leitura de jogo? Na incomunicabalidade treinador-jogadores? São ítens a sublinhar, designadamente pelos presidentes das respectivas federações, que escolhem e contratam os treinadores. Mas… pouco mais! Se é pacóvio apontar qualquer determinismo sociológico, nesta “floresta de enganos” que é o desporto (e portanto o futebol) também não nos é lícito julgar a competência de um profissional, como se na totalidade, que é uma equipa, fosse ele o único elemento a ter em conta.

O quarteto mais avançado da seleção argentina, no Mundial da África do Sul (Tevez, Messi, Higuain, Di Maria), tem admiráveis jogadores de valor intacto. Diante da seleção da Alemanha, nas quartas de final, pareciam simples principiantes, submissos pela força e a robustez dos teimosos lutadores que são Lahm, Schweinsteiger, Khedira e os demais das linhas recuadas e a velocidade e os primores técnicos dos jogadores da linha avançada que, quando disparavam a correr, bebendo o vento, quais Pégasos imparáveis, não havia argentino que os segurasse. Será o Maradona o único e o principal culpado, pela derrota? E será o Joachim Low a causa, excluindo outras, do jogo triunfal da Alemanha, no dia 3 de julho de 2010?

Entre informar e imbecilizar a distância é mínima e não se analisa o trabalho global de uma equipe desportiva senão dentro do todo que ela é e do todo onde ela se insere. Os prodigiosos progressos da genética e da biologia molecular permitem-nos conceber os laços indestrutíveis entre a física, a química e a biologia, dado que é pela organização, e não unicamente pela matéria, que a vida se distancia do mundo físico-químico. Por isso, diante do inêxito do futebol brasileiro, ou do português, no último Mundial, há que levantar as perguntas seguintes: as entidades que superintendem, no futebol brasileiro e no português prepararam-se, problematizando-se e reorganizando-se, para o Mundial da África do Sul? E sabem os Srs. Dunga e Queirós que todo o progresso, ao nível do conhecimento, é inseparável da consciência do erro? Onde erraram eles? O que mais me surpreende é, em plena consciência do fracasso, predominar a tendência conservadora, no futebol brasileiro e no português. Talvez por que o futebol se destina, principalmente, a satisfazer as exigências do mercado.

A questão é pertinente: pode encontrar-se num desporto absolutamente mercantilizado algum compromisso com algo mais do que um espetáculo lucrativo? É que não conheço um capitalismo eticamente viável. Ora, é à luz de um futebol (repito-me) totalmente mercantilizado que é possível compreender, hoje, os usos que dele se fazem. E termino antecipando que o Brasil será o campeão mundial de 2014 ! Por quê? Porque nascem no Brasil os melhores futebolistas do mundo, se os avaliarmos do ponto de vista técnico e da intuição. E, no Brasil também, há treinadores para fazerem o resto…

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

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O legado da Copa africana

A África do Sul ficou para trás. E o que fica como exemplo da primeira Copa do Mundo em território africano, do Mundial com um campeão inédito, do torneio que pela primeira vez teve o time anfitrião fora da fase eliminatória?

Durante quase 40 dias em território africano, deu para perceber que o maior legado deste Mundial está muito longe de ser esportivo. Ainda há muitos pontos de interrogação sobre o futuro de pelo menos oito dos dez estádios que foram usados nesta Copa [Ellis Park, em Johanesburgo, e Moses Mabida, em Durban, talvez sejam os dois locais com maior chance de reutlização após o torneio], além do improvável crescimento do futebol em território sul-africano por conta do Mundial.

No final das contas, o maior benefício de termos um torneio da magnitude de uma Copa do Mundo na África do Sul foi mostrar às pessoas como é a África do Sul em seu cotidiano. A imagem de um país sub-desenvolvido, pobre, pouco civilizado e inseguro virou história. Pelo menos para aqueles que tiveram a chance de conhecer o país do Mundial.

É improvável achar que o sul-africano vai ficar mais próximo do futebol por conta da Copa. Talvez até haja uma pequena disposição para acompanhar a bola redonda no lugar da oval nos próximos anos. Mas a cabeça do europeu em relação ao país, certamente, mudou.

E aí está um dos maiores benefícios de se organizar um evento do tamanho de uma Copa do Mundo. É a chance de fazer com que as pessoas comuns tirem seus pré-conceitos sobre um país, um povo, etc. Foi assim na África do Sul. Durante os 40 dias em território sul-africano, foi possível conhecer um povo alegre, feliz, machucado por um triste passado, mas que mira um futuro melhor.

Hoje, o Brasil é muito menos “desconhecido” dos outros países. São poucos os que acham que Buenos Aires é nossa capital, muito menor é o contingente de pessoas que acredita que vivemos em cima de árvores.

Foi para acabar com esse pré-conceito que o povo sul-africano se uniu em torno da Copa. Negros, brancos, amarelos, azuis, cor-de-rosa. Todos eles compõem uma África do Sul unida, com problemas, mas preparada [a seu modo] para receber pessoas de todo o planeta.

O legado do primeiro Mundial no continente africano é a mudança na percepção da imagem de um país. Se tem algo que a África conseguiu fazer, foi acabar com qualquer preconceito sobre o seu país. E era exatamente esse o propósito sul-africano quando decidiu receber a Copa do Mundo, há cerca de 15 anos.

O Brasil precisa, urgentemente, entender qual o papel de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos para formar uma percepção de imagem do país para o mundo. Melhor oportunidade, não há.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Um plano simples

O que você faria se encontrasse US$ 4 milhões dentro de um avião soterrado pela neve? Ou melhor, o que essa montanha de dinheiro faria com você?

Talvez, tentar responder à segunda pergunta faça mais sentido diante da história contada no filme Um plano simples, adaptação para o cinema do livro homônimo do autor americano Scott B. Smith, cujo roteiro para as telas foi feito pelo próprio autor do romance.

Sob a direção de Sam Raimi, o filme trata de uma temática bastante recorrente na história do cinema: o conflito entre o lado moral do ser humano, que permeia o convívio social, e as provações às quais se sujeita o caráter das pessoas diante das maravilhas que perpassam os olhos de quem encontra dinheiro fácil.

Hank Mitchell (Bill Paxton), seu irmão, Jacob (Billy Bob Thornton) e o melhor amigo deste, Lou, (Brent Briscoe), descobrem, por acaso, um avião encoberto pela neve com 4 milhões de dólares dentro e o corpo do piloto.

Inicialmente, Hank é contra a idéia de se apoderar do dinheiro, mas, desde logo, as vidas simples destes pobretões de uma cidadezinha do meio-oeste americano sofreriam com as investidas da ganância. Sua integridade moral, que até então passava incólume perante a comunidade local, a não ser pelo beberrão Lou, agora se equilibrava no fio da navalha – única divisão entre o passado exemplar, o presente tentador e o futuro tranquilo.

Pois, os envolvidos na trama passam a confabular um plano, aparentemente singelo, que consiste simplesmente em esperar o castigante inverno da região passar, ao mesmo tempo em que esconderiam o dinheiro do alcance dos olhos dos habitantes da cidade.

A esposa de Hank, Sarah (Bridget Fonda), acha que eles devem devolver o dinheiro, até se deparar com o montante sobre sua mesa e ao pensar o quanto ele poderia modificar suas vidas.

As coisas podem ser simples. Mas, nem sempre, são fáceis.

Nesses casos, difícil é manter a razão. Alguns ditados afirmam que as coisas mudam, as pessoas não.

No futebol, há até os que defendam que esse esporte não forma o caráter das pessoas, antes, o revela.

O recente caso envolvendo o goleiro Bruno, do Flamengo, acusado como principal suspeito do desaparecimento – e possível homicídio – de uma amante e mãe de um filho seu, traz à tona a discussão sobre a discrepância entre o caráter e formação moral dos jogadores e os altíssimos salários, permeado pelas suas origens sociais, culturais e econômicas.

Algo arquitetado de forma simples. Dar um susto. Ameaçar uma pessoa, fazendo uso do poder efêmero conquistado pelo status de estrela do futebol nacional.

Um plano simples, mas que não deu certo.

Perde-se a referência das coisas que realmente importam na vida de um ser humano. E que, normalmente, são construídas dia após dia, dando-lhes o real sabor de vitória, sucesso e, por que não, derrota.

Muitas vezes, isso ocorre no espaço curto de um ou dois anos. Cedo ou tarde, para muitos, vem a cobrança da conta.

No caso do goleiro Bruno, a conta pode ser muito alta.

Não em reais, que corresponderiam à pensão que garantiria o sustento do filho tido fora do casamento e que lhe são assegurados por lei.

Mas em anos. Talvez 30. Cumprindo pena na cadeia.

O Brasil não merece, não pode premiar e deve combater esses planos simples.