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Futebol, longo prazo e desenvolvimento

Um dos maiores economistas do século 20, John Keynes, certa vez disse que “no longo prazo estaremos todos mortos”. A frase, fora de contexto, parece desestimular ou criticar aqueles mais precavidos que buscam no planejamento uma ferramenta para programar mais adequadamente o futuro.

Sem deixar de considerar o aspecto positivo da mensagem do economista Keynes, alertando para a necessidade de pensarmos o planejamento sintonizado com a nossa realidade ou com o momento presente, temos que entender a nossa dificuldade em pensar no futuro de forma mais objetiva e clara.

No Brasil, via-de-regra, somos avessos aos projetos de longo prazo.  No futebol, então, nem se fale! Conheço dirigentes que não conseguem vislumbrar horizontes maiores além de uma semana ou um mês. E pautam suas atitudes, única e exclusivamente, em função dos resultados imediatos dos jogos de seu time. Ganhando, aproveitam para fazer a propaganda de sua “administração” na mídia. Perdendo, demitem o treinador e assim procuram renovar as esperanças dos torcedores no curto prazo. O panorama traçado é um pouco caricato, mas infelizmente verdadeiro em muitos casos.

Apesar dessa resistência quase cultural ao planejamento, vivemos um momento oportuno para repensarmos nossas instituições e, dentro delas, o futebol, este que é um dos nossos maiores patrimônios.

E neste repensar, bem que poderíamos começar um movimento para discutir e pensar seriamente na possibilidade de realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil.

A idéia já conta com o apoio oficial da CBF e a simpatia do governo federal, embora ainda divida um pouco a opinião pública. Seria ótimo se essa discussão fosse aprofundada. 

Que tal se utilizássemos o futebol como metáfora da vida? Será que, com isso, ao organizar melhor o nosso futebol não conseguiremos contribuir para o desenvolvimento de nossa sociedade como um todo?

A organização de uma Copa do Mundo não é tarefa simples. Exige a mobilização de forças políticas e econômicas. Mas depende também da compreensão de todo cidadão que participa da construção de um país como o Brasil, dentro de toda a sua complexidade.

Encarar o desafio de realizar uma Copa do Mundo vai exigir muito trabalho e competência. Mas está aí um bom motivo para exercitarmos nossa capacidade de construir uma grande Nação através do futebol.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Futebol brasileiro: um balanço de 2005

Em termos externos, 2005 está terminando de forma muito positiva para o futebol brasileiro. Que país não gostaria de estar no nosso lugar? Nossa seleção se classificou em primeiro para a Copa do Mundo e foi campeã da Copa das Confederações de forma brilhante, vencendo com uma goleada os velhos adversários argentinos no jogo final. O organizado São Paulo foi tricampeão mundial interclubes, batendo o Liverpool, nada menos que o campeão da badalada Champions League deste ano. E, finalmente, nosso Ronaldinho Gaúcho foi escolhido como o melhor jogador do mundo pelo segundo ano consecutivo. Que mais poderíamos querer?

Tais conquistas só fazem fortalecer o prestígio e a admiração do mundo em relação ao nosso futebol. De negativo, no âmbito internacional, talvez apenas o fracasso de Vanderlei Luxemburgo e sua equipe de auxiliares brasileiros no Real Madrid, um dos times mais poderosos do mundo.

Embora o saldo seja inegavelmente positivo, é bem verdade que, no âmbito doméstico, as coisas não terminaram tão bem assim, ainda mais se compararmos o andamento do futebol dentro do Brasil com o nosso sucesso internacional.

O Campeonato Brasileiro da série A, conquistado pelo Corinthians, ficou manchado pelo escândalo na arbitragem e por uma seqüência de trapalhadas que se seguiram à denúncia sobre manipulação de resultados. E, paradoxalmente, em nome da justiça, talvez tenham sido cometidas ainda mais injustiças.

Outra característica de 2005 foi o destaque dos jogadores estrangeiros como os melhores nas competições nacionais. Nomes como Tevez, Gamarra, Lugano, Petkovic, Renteria brilharam no Brasileirão. Por outro lado, os veteranos Romário e Edmundo foram os grandes nomes nacionais do torneio, o que evidencia a existência de um espaço que deveria ser ocupado por jovens talentos do nosso tão decantado celeiro de craques. E isso deixa ainda mais nítido o fato de que nossos melhores jogadores simplesmente não jogam aqui. Estão todos mostrando sua arte no exterior.

E o que esperar do próximo ano em termos futebolísticos? A resposta é simples.  Continuar brilhando no âmbito internacional e, se possível, conquistar o campeonato mundial pela sexta vez.  Seria sensacional, não? E, convenhamos, poucos duvidam de que temos amplas condições de conseguir mais esta façanha.

O problema continuará sendo as nossas questões domésticas. Será que veremos o surgimento de novas lideranças entre os dirigentes que conduzem os destinos do nosso futebol, combatendo esta estrutura viciada que insiste em permanecer no poder, sem medo de retaliações e suspensões? Teremos dirigentes que sejam capazes de defender suas teses sem receio de verem seu time excluído de competições importantes? Que tenham coragem de perder no curto prazo para que todos possam ganhar no longo prazo? E que finalmente nos permita ter a esperança de vermos nossos clubes e nossas estruturas realmente se profissionalizando?

Vamos torcer para que isso ocorra em 2006!

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Informações que desinformam

Entender a realidade, a vida e todos os fenômenos que os cercam nem sempre é uma tarefa fácil.

Alguém já disse que a mentira é uma verdade que deixou de acontecer. Já a desinformação é algo que aconteceu, mas é dito de um jeito que dá a idéia de que aconteceu de forma diferente.

Isso, muitas vezes, acontece por pura desinformação da fonte que produz a dita “informação”. Mas pode também estar envolto de uma verdadeira manipulação dos fatos o que, sem dúvida, se torna algo muito mais grave.

Vemos, com mais freqüência do que gostaríamos, os órgãos de imprensa praticando a desinformação que, não raro, nos faz desconfiar de que alguma espécie de manipulação pode estar por trás das noticias.

Dias atrás, por exemplo, ouvi e li comentários sobre o desconhecido time de futebol da Arábia Saudita, chamado Al Ittihad.  Desconhecido se levarmos em conta que vivemos no Brasil, pois no mundo árabe este é um dos times mais conhecidos e famosos por sua história e performances no Oriente Médio.

Como trabalhei neste clube na temporada de 2003-2004 e conhecendo um pouco de sua historia e seus jogadores, fiquei surpreso quando me deparei com noticias afirmando que este clube, que jogou com o São Paulo pelo mundial interclubes, era apenas um time de aluguel, ou pior um time de mercenários.

Pensei, então, acompanhando estas noticias que, talvez, o Al Ittihad tivesse mudado sua política e contratado na última hora um novo time para disputar o mundial de clubes.

Isso talvez pudesse ter algum fundamento se o clube conseguisse inscrever três brasileiros contratados recentemente que, juntamente com Khallon, entrassem em campo. Coisa que não ocorreu. Apenas Khallon, um destacado jogador de Serra Leoa que há anos joga na Europa, conseguiu condições de jogo.

O que pude observar (e esta é a realidade que deveria também ser contada para não distorcer os fatos) foi que o time saudita jogou contra o Al Ahli do Egito e o São Paulo Futebol Clube com nada menos do que 9 jogadores que jogam juntos há praticamente 3 anos consecutivos. 

Penso que em um modelo de jornalismo mais atento e crítico estes acontecimentos, aparentemente – e só aparentemente – sem muita importância, deveriam ser considerados.

Fatos como este, se não esclarecidos adequadamente distorcem a realidade e são capazes de transformar a informação em desinformação.

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O mito do título internacional

Mitos são histórias ou conceitos de origem não muito confiável que com o passar do tempo vão sendo retransmitidas de papo em papo até virarem verdade, mesmo que às vezes não sejam.

Como grande parte do conhecimento do futebol é disseminado através de papo em papo, nada mais natural que ele acabe ganhando um grande contorno mítico, recheado por verdades que nem sempre são lá muito verdadeiras.

Um desses mitos do futebol diz que em time que está ganhando não se mexe. Outro mito diz que dois a zero é um resultado muito mais perigoso para o time vencedor do que um a zero. E outro, ainda, diz que clubes europeus não dão a mínima para as competições intercontinentais, os tais campeonatos mundiais da Fifa.

Enquanto os dois primeiros mitos possuem um embasamento bastante questionável, o terceiro é nada mais do que pura e simples verdade. Clubes europeus não dão a mínima para campeonatos em que tenham que jogar contra clubes de outros continentes. Priorizam seus campeonatos nacionais e continentais, relegando os campeonatos intercontinentais a uma insignificância tal que só não jogam com o time reserva porque a Fifa não deixa.

Pergunte para um torcedor do Manchester United se ele por algum acaso se lembra da primeira edição do campeonato mundial de clubes promovido pela Fifa e ele provavelmente dirá que não. Você dá mais detalhes. Cita o golaço do Edmundo depois de um drible desconcertante em cima do Silvestre, zagueiro dos diabos vermelhos. Edmundo quem?

Aí você perde a paciência e fala que foi no Rio de Janeiro no comecinho do ano 2000 e que teve Real Madri e tudo mais. Fala que até o Beckham tava lá pegando um bronze em Copacabana. Ele vai se lembrar, indignado, mas a lembrança vai aparecer só porque esse campeonato foi a razão pela qual o Manchester United não pôde participar naquele ano da FA Cup, uma espécie de Copa do Brasil inglesa, que é o campeonato mais antigo do mundo.

Numa jogada política, a FA – algo como a CBF inglesa – obrigou o Manchester a levar seus jogadores para o Rio de Janeiro para agradar a Fifa e ajudar a então candidatura da Inglaterra para sediar a Copa do Mundo de 2006. Como você bem deve saber, o Manchester United não ganhou o campeonato e a Inglaterra não vai sediar a Copa ano que vem.

Interessantemente, esse episódio é visto hoje pelos ingleses como um dos maiores fracassos da história da FA, e não como um fracasso do Manchester United.

Assim como na Inglaterra ninguém se gaba de ter ganhado uma Copa Toyota, ninguém também tira sarro do outro por ter perdido.

“Nós apenas não damos bola”, explicou pra mim um fanático torcedor do Liverpool que chegou a viajar até Istambul para assistir a final da última Copa dos Campeões contra o Milan.

Para entender o porquê disso, é preciso primeiro entender aquilo que significa o futebol para Liverpool e para a Inglaterra. Liverpool é uma cidade mundialmente conhecida por causa dos Beatles e por causa dos seus clubes de futebol, Liverpool e Everton.

É uma cidade de tamanho mediano para os padrões ingleses e foi muito importante no passado por causa da sua grande capacidade portuária. Com a queda do império inglês no começo do século 20 e com o desenvolvimento de novas tecnologias e novos pólos de navegação, Liverpool sofreu uma forte crise econômica e só agora começa a dar sinais de recuperação. A cidade foi abandonada pelas indústrias e se sente abandonada pelo governo. Possui uma das maiores taxas de desemprego de todo Reino Unido e em 1998 era considerada a cidade mais desfavorecida de toda a Inglaterra.

Como o futebol sempre caiu muito bem em locais com altas taxas de desemprego, não é de se espantar que ele assuma tamanha importância. É tão importante que a cor oficial da cidade é roxo, uma mistura entre o vermelho da camisa do Liverpool e o azul da camisa do Everton.

Mas não por isso ache você que a grande rivalidade existente é entre os dois clubes da cidade. Rivalidade existe, claro, mas ela é muito menos intensa do que a rivalidade demonstrada para com clubes vizinhos, em especial o supracitado Manchester United.

Em qualquer lugar do mundo o futebol envolve fortes sentimentos de identificação e pertencimento a uma determinada sociedade. Na Inglaterra, porém, esse sentimento é muito maior.

Não só por se tratar do país que inventou o jogo, mas principalmente por ser uma ilha que até poucas décadas atrás tinha em mãos o comando do mundo.

A Inglaterra ainda é um império em decadência e, como todo bom império, está mais preocupado com seus assuntos internos do que com qualquer movimento globalizado.

Pergunte pro Bush

Para dar crédito a uma conquista é preciso valorizar o adversário. E ninguém vale mais para os ingleses do que eles mesmos.  É quase impossível conseguir ingressos para assistir as partidas do campeonato nacional, a Premiership. Quase todos os ingressos são vendidos antecipadamente, e o tempo estipulado da fila de espera para conseguir comprar o pacote de ingresso pra temporada do Liverpool é de 20 anos.

Para a Liga dos Campeões da Europa, por sua vez, basta ficar algumas horinhas na fila da bilheteria do estádio que você consegue o ingresso. Se bobear, até sobra no final. É uma relação de importância perfeitamente oposta à sul-americana. Enquanto que para os ingleses o jogo mais importante é o local, para os brasileiros o mais importante é o intercontinental.

O Liverpool ignora o Campeonato Mundial de Clubes da Fifa assim como o São Paulo ignora o Campeonato Estadual da Federação Paulista. Ambos só jogam por pura obrigação. Passa o jogo, ninguém mais se lembra do que aconteceu.

O Liverpool vai aproveitar o tour pelo Japão para desenvolver alguns projetos comerciais com sua crescente torcida asiática. Vai pelo dinheiro, e só por isso.

Caso ganhe o campeonato, o Liverpool não vai colocar uma estrela dourada em seu escudo. O único ouro com que o clube se importa vai para o banco. Se bem que hoje em dia ninguém mais coloca ouro no banco. Já faz muito tempo que isso virou um mito.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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O que podemos aprender com o Brasileirão 2005

Terminou o campeonato brasileiro. Pelo menos dentro de campo. Fora dele, talvez, ainda tenhamos uma prorrogação que poderá durar algum tempinho. Com certeza, não muito, pois sabemos que as forças conservadoras que comandam o futebol vão continuar prevalecendo sobre as vozes dissonantes que insistem em cobrar mais transparência, mais lisura, mais ética e mais justiça para o nosso futebol e para nossa sociedade.

 

Mas independentemente das discussões sobre quem é o verdadeiro campeão brasileiro, ou se é a justiça desportiva ou a justiça comum que deve entrar em campo para solucionar as dúvidas sobre o campeonato, seria maravilhoso se aproveitássemos as experiências do Brasileirão 2005 para aperfeiçoarmos nossas instituições.

 

Se é verdade que o futebol imita a vida seria maravilhoso também se conseguíssemos melhorar, um tostãozinho que fosse, o perfil de nossos dirigentes esportivos, bem como de nossos magistrados que têm a incumbência de fazer justiça neste país.

 

Seria maravilhoso se os jogadores entendessem, um pouquinho mais, que eles são os verdadeiros artistas do espetáculo e que, juntos, podem ajudar a transformar este espetáculo também fora do campo, promovendo a noção de dignidade e cidadania.

 

Seria maravilhoso se a imprensa esportiva entendesse, um tiquinho a mais, o seu verdadeiro papel e contribuísse, sem segundas intenções, para a real evolução deste negócio-brinquedo chamado futebol.

 

Seria maravilhoso se os treinadores percebessem que, através de sua liderança, é possível estimular a busca do alto rendimento, com “fair play”, sem a necessidade de incentivar a violência.

 

Seria maravilhoso se os torcedores que amam, de fato, o futebol, fizessem valer os seus direitos e, com o apoio dos poderes competentes, colocassem os vândalos e bandidos nos seus devidos lugares, tornando os estádios um verdadeiro templo, familiar, saudável e palco para a pura prática do futebol-arte, marca registrada deste nosso futebol pentacampeão.

 

Seria maravilhoso e penso que seria possível. 

 

Mas por que será que não somos capazes de caminhar nesta direção?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br