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O abismo brasileiro

Domingo de eleição em São Paulo. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comemorava sua reeleição à presidência da República, o teatro Abril ficava relativamente cheio para mais uma exibição da peça O Fantasma da Ópera. Com 1.533 lugares, a sala deveria, às 20h do domingão de votação, estar com pelo menos 65% da capacidade lotada.
 
Nas cadeiras, um grupo da cidade catarinense de Criciúma esperava atentamente o início do espetáculo. Era uma família com cerca de dez pessoas. Irmãos, primos, tios, pais e o avô, feliz por poder proporcionar aos familiares um final de semana que se encerraria com chave de ouro. O preço de cada um daqueles ingressos? Cento e dez reais.
 
Só aquela família deve ter deixado cerca de mil reais no teatro. Outros milhares nas passagens aéreas. Mais umas centenas de reais no hotel. Isso sem contar os restaurantes e lojas de uma cidade gigantesca como São Paulo, que a cada dia aprende a explorar o potencial de consumo que tem, tal qual Nova York sabe fazer.
 
No sábado, véspera da eleição, nenhum time de futebol jogou em São Paulo pela Série A do Campeonato Brasileiro. No dia em que toda a cidade não viajou por conta das eleições, nenhum clube ficou na capital para receber o seu público. E a culpa não poderia nem ser atribuída à tabela armada pela CBF. Afinal, para a 31ª rodada do Brasileirão estava programado o clássico Corinthians x Palmeiras.
 
O confronto, remarcado para a quarta-feira, dia 25, atendeu às exigências da televisão. Por isso, foi realizado às 22h e teve um público de 16.593 torcedores pagantes, cerca de 20% da capacidade do estádio do Morumbi. Isso gerou uma renda bruta de R$ 229.770,00. Com os descontos, o Corinthians, mandante da partida, arrecadou pouco mais de R$ 35 mil.
 
Naquele mesmo final de semana que uma família de Criciúma gastou no mínimo cerca de R$ 5 mil para assistir a uma peça de teatro em São Paulo, jogadores de Palmeiras e Corinthians descansavam após o jogo da quarta-feira, sem ter o que fazer.
 
Num exemplo banal como esse que se percebe o abismo que separa a gerência do futebol brasileiro daquela que é aplicada em todas as outras áreas do país. Inclusive no próprio futebol, em que o investimento em qualificação se refere apenas ao profissional que atua diretamente dentro de campo.

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Manifesto pelas olas nos estádios brasileiros

Uma das poucas, pouquíssimas coisas que diferem um jogo de Copa do Mundo de um jogo do Campeonato Brasileiro da série A é a ola.
 
A ola, ou la ola, ou ainda the mexican wave, é um fenômeno próprio de grandes eventos de massa em estádios, que surge no momento em que uma determinada coluna de torcedores nas arquibancadas simultaneamente se levanta com os braços pra cima, muitas vezes gritando algo parecido com “ôôôôôôêêêêêê” e em seguida se senta, no mesmo momento em que a coluna de torcedores ao lado se levanta e repete todo o ritual, e assim por diante até o processo rodar o estádio inteiro, simulando o efeito de uma onda que passa por todos os presentes no evento em questão.
 
A ola, porém, aceita algumas variações. Quando o movimento é de frente para trás, ao invés de ir para a direita ou para a esquerda, a ola é denominada transversa. Caso ela volte ao lugar de origem pelo sentido de partida, chama-se reflexiva. E se ela for para duas direções opostas ao mesmo tempo, ela é conhecida como bidirecional ou oposta. A maior ola já registrada aconteceu nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, quando 110 mil pessoas realizaram uma ola duplo-reflexiva.
 
Em 2002, dois pesquisadores húngaros e um alemão estudaram a fundo o fenômeno da ola para tentar tirar conclusões a respeito de controle de movimentos de massa. Depois de analisar diversos vídeos, chegaram à conclusão que uma ola em geral é iniciada pelo movimento conjunto de não muito mais do que uma dúzia de pessoas e que a partir daí, dependendo das variáveis de excitação e de pessoas envolvidas no processo inicial, ela pode tomar o estádio inteiro em um movimento estável e de forma quase linear.
 
Ainda de acordo com eles, uma ola geralmente roda no sentido horário – provavelmente devido ao fato da maioria das pessoas serem destras -, a uma velocidade estável de 12 metros por segundo, ou 43,2 km/h, o que dá mais ou menos uns 20 assentos por segundo, e possui uma largura entre 6 e 12 metros, mais ou menos uns 15 banquinhos.
 
Há atualmente uma intensa discussão a respeito do surgimento da ola. A idéia mais aceita é que ela apareceu no começo da década de 80 nos estádios de hóquei sobre o gelo do Canadá, mas que logo migrou para os estádios de beisebol dos Estados Unidos. Fato é que ela ganhou notoriedade mundial em 1986 durante a Copa do Mundo do México, daí a homenagem ao país em um de seus nomes de batismo.
 
Aliás, Copa do Mundo e ola são duas coisas que combinam bastante. Em geral, as olas surgem em estádios lotados, quando ou o jogo está muito chato, ou as pessoas que foram ao estádio não estão lá muito interessadas na partida. Em jogo de Copa do Mundo, é bastante comum acontecer os dois ao mesmo tempo. Aí como a torcida tende a fazer o que for preciso para aparecer na televisão, mesmo aqueles que não vão fantasiados ou pelados, ela vai lá e começa uma ola. É batata que a montoeira de braços levantados será transmitida para os bilhões de espectadores ligados no jogo da Copa. A manha é começar a ola quando alguém precisar de atendimento médico em campo.
 
No Campeonato Brasileiro, porém, é raro uma ola aparecer. Existem suas razões para isso. Primeiro porque não dá. Dos vinte clubes jogando a primeira divisão, cinco possuem estádios em que é impossível acontecer uma ola normal, uma vez que vai aparecer um buraco no meio do caminho, já que os estádios não possuem arquibancadas cercando os quatro lados do campo. Ainda assim, mesmo nos estádios que possuem a volta completa, falta gente. Na maioria dos jogos, uma ola estaria fadada ao desaparecimento uns três segundos depois que for iniciada. Ou, no caso, 36 metros. 60 colunas de cadeiras. Talvez nem isso.
 
Ainda assim, o ambiente é propício. O jogo, na maioria das vezes, é de pouquíssima qualidade, e alguns dos torcedores nunca vão ao estádio muito interessados em ver o jogo. O problema é que ao invés de esses torcedores se concentrarem em criar olas, o desinteresse é convertido em pancadaria pra tudo que é lado. Ao invés de se levantar e jogar os braços pra cima, o torcedor se levanta e dá um soco no outro.
 
Os órgãos públicos responsáveis vêm se empenhando em resolver o problema da violência dentro dos estádios. Talvez eles devessem começar a incentivar as olas durante os jogos do Campeonato Brasileiro. Aí sim ficaria tudo igual à Copa do Mundo.
 
Tim-tim por tim-tim.

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Descanso de Ronaldinho evidencia diferenças entre Brasil e Europa

Ronaldinho Gaúcho pediu, a diretoria e a comissão técnica do Barcelona aceitaram, e o jogador iniciou nesta semana um trabalho de recondicionamento físico. Sentindo uma queda de rendimento físico, Ronaldinho fez algo que raramente um jogador de futebol pede publicamente, que é ficar sem atuar para trabalhar a parte física.
 
Mas, dentro da comissão técnica da seleção brasileira, a atitude tomada pelo camisa 10 do Barcelona não é uma surpresa. Ronaldinho apenas fez algo comum aos atletas brasileiros que atuam na Europa, mesmo que informalmente.
 
“Muitas vezes os jogadores conversam pela gente por e-mail e pedem para passarmos um exercício que geralmente damos na seleção, para fazer algum trabalho de fortalecimento”, afirma Odir de Souza, fisioterapeuta da seleção brasileira na última Copa do Mundo.
 
Segundo o preparador físico do time sub-20 brasileiro, Paulo Camello, quando o atleta é convocado para a seleção, o primeiro trabalho feito em conjunto com a comissão técnica é o de readequação do jogador para a realidade de treinamento implantada no Brasil.
 
“Na Europa os times treinam em apenas um período, geralmente pela manhã, e depois os jogadores são liberados, só voltando a fazer algum trabalho de condicionamento no dia seguinte”, diz.
 
Durante apresentação no Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ, Camello afirmou que tão logo o atleta se junta ao grupo, a primeira providência é fazer uma avaliação geral de todos os jogadores. Na seqüência, os convocados são divididos em alguns subgrupos, com o objetivo de condicioná-los conforme o nível que estão.
 
“Além disso, fazemos um trabalho de reforço muscular. Os jogadores intercalam os treinos com exercícios de musculação. Eles não gostam muito, mas depois entendem que é importante”, afirma Odir de Souza.
 
Segundo os dois profissionais envolvidos no trabalho da seleção brasileira, outro grande problema que existe na Europa é a falta de investimento na formação de uma comissão técnica com profissionais das mais diversas áreas.
 
“Muitas vezes é o treinador ou o seu auxiliar que executa o treinamento físico, sem saber se o atleta pode ser submetido àquela carga de exercícios”, diz Camello.
 
Além da falta de profissionais de outras áreas nas comissões técnicas européias, os especialistas afirmam haver uma falta de cultura dos dirigentes e jogadores europeus para entender a importância de se investir num novo estilo de treinamento físico.
 
“O Vanderlei [Luxemburgo, ex-técnico do Real Madrid e atualmente no Santos] tentou fazer isso na Espanha, fazer o time treinar em dois períodos, dar mais exercícios físicos, mas acabou, em pouco tempo, sendo boicotado”, afirmaram os dois em suas palestras.

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Longevidade de um técnico pode contribuir para o sucesso do time

Não é só pela questão cronológica, que é vantajoso um treinador ficar muito tempo em um clube de futebol. A permanência e seqüência de um trabalho só fazem sentido se houver uma clara proposta política, administrativa e metodológica do que diretoria e treinador pretendem executar ao longo de meses ou anos (se é que no Brasil se pode falar em anos de trabalho no mesmo clube para um treinador).
 
Há clubes que chegam ao absurdo de trabalhar com quatro, cinco ou até mais treinadores em uma única temporada de 11 meses. Mas existem algumas raras exceções.
 
Sábado passado assisti ao jogo entre Paulista de Jundiaí e Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro da série B, ao lado do treinador do Paulista, Vagner Mancini.
 
Suspenso, ele teve de assistir ao jogo em uma cabine, acompanhado de alguns auxiliares e do consultor Evandro Mota, que faz palestras motivacionais ao grupo. No banco de reservas ficou o treinador de goleiros, recebendo instruções do técnico.
 
Foi curioso verificar como Mancini pôde realizar um trabalho coordenado com seu grupo interdisciplinar, sem que jamais fosse fragilizado ou comprometido seu papel de treinador, verdadeiro líder da equipe técnica e dos jogadores.
 
Entre várias ocorrências interessantes, a mais marcante deu-se perto dos 30 minutos do primeiro tempo, quando o Paulista vencia por 1 a 0 e passou a ter problemas em seu sistema defensivo. Atento, o treinador decidiu mexer no esquema tático da equipe, o que exigia alterar a postura e posicionamento de vários jogadores.
 
Constatei, impressionado, que entre a decisão de mudar e sua correta aplicação prática, não se passaram mais de dois minutos.
 
Várias razões podem contribuir para que uma ordem do treinador seja cumprida com tanta agilidade. Mas uma delas, com certeza, é que Vagner Mancini é o treinador que há mais tempo está no cargo, entre as 40 equipes que disputam o campeonato brasileiro das séries A e B.
 
Considerando que mais da metade dos treinadores está no cargo há menos de três meses, é de se comemorar que Mancini esteja caminhando para o terceiro ano como treinador do modesto, mas sensato e organizado Paulista de Jundiaí.

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Calendário e precocidade dificultam preparaçáo de base brasileira

As diferenças de calendário, de hábitos de treinamento e, ainda, de costumes culturais, têm causado muitos problemas para a preparação das categorias de base da seleção brasileira. Em janeiro de 2007, o time sub-20 do Brasil terá seu primeiro desafio no ano, na disputa do Sul-Americano da categoria, que vale vaga para o Mundial. E, desde já, a comissão técnica brasileira estuda como preparar melhor o atleta para a competição.
 
“Pelo calendário nacional, o Brasileirão termina em 4 de dezembro e por volta do dia 15 já haverá convocação para o Sul-Americano. Como muitos estão atuando em seus times, vamos pegar os jogadores querendo férias, descansar”, afirmou Paulo Camello, preparador físico do time sub-20, durante palestra no Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ (Federação Internacional de Educação Física).
 
Segundo Camello, como cada vez mais os atletas são usados precocemente nos times principais, a seleção brasileira acaba tendo uma preparação dificultada para a disputa das principais competições menores.
 
“Fazemos convocações periódicas de treinamento [de dois em dois meses], enquanto monitoramos os atletas à distância. Mas hoje até o time sub-17 tem problemas de convocação. Muitas vezes usamos um time considerado de terceiro escalão”, disse.
 
O maior problema é que, por normas da Fifa, o clube só é obrigado a ceder um jogador 15 dias antes de uma competição oficial da entidade. Como apenas Sul-Americano e Mundial se enquadram nessa categoria nas divisões de base, os treinadores acabam procurando alternativas para os torneios amistosos.
 
Em razão do pouco tempo para preparar o atleta, Camello afirma que faz um trabalho diferenciado com os garotos. Em vez de estudos detalhados sobre a saúde física do atleta, é feito um trabalho junto com os clubes e, também, avaliações concisas quando os jogadores se reúnem para o treinamento.
 
Na seleção sub-20, Camello implementou dois sistemas de avaliação. A primeira é considerada uma “avaliação geral”, na qual o atleta passa por exames médico, odontológico, físico e psicólogo. Posteriormente é feita uma “avaliação física”, envolvendo teste de composição corporal, de repetição máxima de musculação, do liminar anaeróbico do atleta, um teste anaeróbico de 300 m e, por fim, uma avaliação do equilíbrio muscular.
 
“Tudo deve ser feito de forma prática, porque o tempo é extremamente curto”, afirmou o preparador, que durante 20 anos trabalhou no Fluminense e hoje se dedica à seleção quando é convocado para as competições.
 
Essa praticidade a que Camello se refere é a preferência pela realização de testes diretamente no campo de jogo, já que, nas categorias menores, dificilmente existe um laboratório móvel à disposição da comissão técnica.

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Profissionalizaçáo total

O detalhe é, a cada dia que passa, ponto fundamental dentro da estrutura de uma equipe de futebol. Atualmente, os mais diversos estudos são usados para auxiliar o atleta em sua performance e conduzir as equipes às vitórias.
 
A antiga estrutura de uma comissão técnica de um clube é coisa do passado. O grupo formado pelo técnico, o médico, o massagista e o preparador físico já não tem mais condição de ser usado na disputa de alto nível.
 
O clube não pode mais se dar ao luxo de brincar quando o assunto é trabalhar a performance do atleta. E o Brasil talvez seja, atualmente, o país que mais dá abertura para que o treinamento esportivo seja estudado ao máximo, elaborado nos mínimos detalhes.
 
Mas por que ainda não conseguimos levar esse pensamento para além das quatro linhas?
 
Se é certo hoje que a performance esportiva é tudo, ainda não ficou tão claro dentro da estrutura de um clube que a performance financeira pode potencializar todo o restante. Geralmente temos, na presidência dos clubes, empresários bem-sucedidos, que trabalham em grandes empresas ou na sua própria companhia. Mas que ainda acham que o clube é um espaço de lazer.
 
Em alguns clubes brasileiros existe uma consciência de que é fundamental se ter uma excelente estrutura de treinamento, recuperação e formação de atletas. O conceito é básico. Quanto mais eu invisto no meu jogador, mais rendimento ele pode ter. Mas, ao mesmo tempo, na área gerencial tal pensamento não faz parte do cotidiano do clube. E aí a questão que se coloca é simples: será que investir na gestão não traz resultados?
 
Hoje, cartolas e profissionais do esporte se vangloriam de que a medicina esportiva brasileira é a mais avançada do mundo. Mas não conseguem enxergar além disso. O resultado é que, salvo raras exceções, o Brasil continua a achar que investir na profissionalização plena do clube não é fundamental.
 
Enquanto isso o país continua a ser exportador de pé-de-obra. Quando passar a exigir excelência na gestão, a coisa pode mudar. Mas antes disso temos de mudar a cabeça.

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CBF elabora relatório sobre Copa 2006

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deverá apresentar até o início de novembro um relatório técnico sobre a Copa do Mundo de 2006. O documento está em fase final de elaboração e deverá servir de base para o técnico Dunga ter um estudo sobre as tendências táticas do futebol, assistidas durante o Mundial da Alemanha.
 
Baseado no relatório apresentado pela FA (Federação Inglesa de Futebol), o documento brasileiro será elaborado por Jairo Santos, observador técnico da seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Com cerca de 100 páginas, o estudo pretende mostrar como atuaram as 32 seleções do Mundial, de que forma foram marcados os 147 gols da competição, num nível de detalhamento máximo.
 
“Em cerca de dez dias o relatório deverá ser apresentado. Informalmente uma parte já foi entregue, mas o grande objetivo é dar um caráter científico para evitar uma confusão na análise dos resultados”, afirmou Santos com exclusividade à Universidade do Futebol durante o Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ.
 
O observador, que desde 1978 atua na CBF, pretende agora criar uma metodologia de análise dos dados. O objetivo é evitar disparidades de interpretação, dando condição para que seja formado um estudo científico sobre o futebol e, especialmente, a Copa do Mundo.
 
“Tem que haver uma falsificabilidade do que for produzido. Quanto mais isso ocorrer, melhor”, disse.
 
Nas análises que serão apresentadas, Santos mostra que as seleções, na Copa do Mundo, tiveram de ser rápidas para marcar os gols. Dos 147 marcados em gramados alemães, 88% foram feitos com até sete passes dados entre os jogadores. A maior incidência foi de gols marcados após dois e três passes dados, com 31% do total. Além disso, a jogada de um gol na Copa foi construída, em sua maioria, em menos de meio minuto, sendo que a maior incidência é de gols criados em jogadas de até dez segundos.
 
Outro dado importante levantado pelo observador é sobre a origem dos gols na Copa. O estudo, feito por um profissional contratado especificamente para isso, mostra que cerca de 54% dos gols surgiram em cobranças de bola parada. O relatório aponta, ainda, que os dois finalistas, Itália e França, foram os líderes em gols desse tipo. O Brasil, que perdeu seu jogo contra os franceses numa cobrança de falta, ficou em oitavo lugar no ranking.
 
Para o ex-treinador da seleção brasileira na Copa de 90, Sebastião Lazaroni, os números mostram que o Mundial da Alemanha foi marcado pela profusão de sistemas defensivos.
 
“A bola parada passou a ser a principal arma. Por isso o time tem de conseguir se posicionar para não sofrer com esse tipo de lance”.

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O ano em que meus pais saíram de férias

Quando Rupert Murdoch, um velhinho bilionário, durão e neoconservador australiano naturalizado americano, criou sua rede de televisão por satélite na Inglaterra, a Sky, decidiu que pra ganhar dinheiro com o esquema era preciso assegurar o direito sobre três tipos de programas televisivos: filmes, futebol e pornografia. Com a exclusividade dos melhores produtos dessas três categoria, a Sky – hoje BSkyB – se tornou líder absoluta do mercado de televisão por satélite inglês, o que deixou o velhinho durão, que já era rico, muito, mas muito mais rico.
 
E já que o velhinho é um neoconservador, esqueça que aqui citei a pornografia e concentre-se nos outros dois vértices da pirâmide de Murdoch, o futebol e os filmes, que são dois dos mais valorosos produtos midiáticos e que por alguma razão raramente convergem.
 
São poucos, muito poucos os filmes existentes sobre futebol.
 
Que eu me lembre, assim de cabeça, tem aquele do Pelé jogando com o Stallone em um campo alemão de prisioneiros de guerra (Fuga para Vitória), outro do Pelé jogando com o Zacarias (Os Trapalhões e o Rei do Futebol), e um com o Pelé jogando contra bonequinhos de videogame (Pelé Eterno).
 
Sem o Pelé, lembro de um filme inglês sobre um time de presidiários que joga contra o time dos guardinhas (Penalidade Máxima), um filme de Hong Kong sobre um time de ninjas que mistura Winning Eleven com Mortal Kombat (Shaolin Soccer), um filme multinacional dum mexicano que vai jogar na Inglaterra, ou seja, na lama e na chuva (Gol), um filme brasileiro sobre uns velhos que ficam sentados num boteco bebendo e contando histórias e que por alguma razão eu não consigo achar o DVD pra alugar ou comprar em nenhum lugar (Boleiros 1 e 2 – se alguém souber, por favor me indique onde achá-los), e um filme alemão que usa o futebol pra falar sobre o relacionamento entre pai e filho (O Milagre de Berna).
 
É interessante notar as diversas maneiras como cada obra faz uso do futebol. Em algumas, o jogo é o mote da história, e em outras, ele é só o pretexto para imersões um pouco mais profundas. É o caso do ótimo “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, filme nacional que entra em cartaz no dia 2 de novembro e que tem tudo pra ocupar posição de destaque entre as novas produções nacionais.
 
“O Ano”, bem por cima, retrata a história de um menino mineiro, Mauro, que foi abandonado por seus pais no meio de São Paulo e que procura se adaptar a um ambiente estranho e completamente diferente daquilo que estava acostumado. Para isso, Mauro recorre a um dos poucos elementos comuns à maioria dos ambientes brasileiros, o futebol. É através do jogo de botão que Mauro mantém seu vínculo com o seu passado, é pela pelada de rua que ele consegue amenizar as mazelas do seu presente, e é na Copa de 70 que reside a esperança do seu futuro. O futebol age como um cenário interativo.
 
O diretor Caio Hamburger, porém, vai além. É possível perceber no filme uma crítica fina, porém contundente, sobre a utilização do futebol, especialmente da Seleção de 70, como meio de propaganda do regime militar, um fato que apesar de já fazer até parte do senso comum, poucas vezes foi retratado com tanta competência. Caio Hamburger deixa bem clara a euforia massificada causada pelo sucesso futebolístico e seus efeitos retóricos sobre a população.
 
“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” é um filme que vale a pena ser visto. Trata do futebol como poucos já ousaram fazer. É engraçado, mas que faz qualquer um chorar.
 
Se bobear, até o durão do Rupert Murdoch.

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Corinthians já está rebaixado

O significado mais direto de palavras como rebaixado, rebaixamento ou rebaixar é tornar-se mais baixo, descer de nível, abater-se, humilhar-se.
 
Neste sentido não há como negar que o Corinthians, um dos símbolos mais representativos do futebol nacional, a esta altura do campeonato, já pode ser considerado um time rebaixado.
 
Embora a maioria dos torcedores corintianos se preocupe apenas com a permanência do seu time no grupo de elite do nosso futebol, o que por sinal ainda pode perfeitamente ser alcançado, o fato é que mais relevante até do que isso é a atual situação administrativa e financeira em que se encontra o clube.
 
Ao buscar soluções fáceis para os problemas que afetam uma grande parcela dos clubes brasileiros, o Corinthians, através de sua diretoria, optou por uma parceria nebulosa, sem transparência e que nenhuma contribuição pode dar ao desenvolvimento do futebol em nosso país. 
 
O Corinthians tornou-se enfim um case, ou seja, um ótimo exemplo de como não se deve fazer a gestão de um clube de futebol. Mesmo que continue na Série A do Campeonato Brasileiro, com tudo que tem ocorrido, deve se reconhecer como um clube rebaixado, que desceu de nível, que se abateu e humilhou-se.
 
Mas onde há vida sempre haverá perspectivas de melhorias. E como nos ensina a milenar sabedoria chinesa, sempre é possível descobrir novos e promissores caminhos mesmo nos momentos mais desfavoráveis. Tanto que em chinês, crise e oportunidade se complementam numa mesma palavra.
 
Tomara que o Corinthians aprenda com seus erros e saiba aproveitar a crise e a oportunidade.

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Treinador-problema

Sempre inovador dentro de sua trajetória no futebol, Emerson Leão criou uma nova categoria de treinadores de futebol. A do treinador-problema. Tal qual o craque-problema, o treinador-problema é aquela pessoa competente, que mostra resultados, mas no longo prazo pode ser mais sinônimo de prejuízo do que de lucro para o time.
 
Desde que teve sua malfadada passagem pela seleção brasileira, em 2001, Leão adquiriu o status de treinador top de linha. O reforço veio com o título inédito do Brasileirão de 2002 conquistado pelo Santos, com o treinador revelando astros como Robinho, Alex e Diego para o futebol e lapidando outros bons jogadores como Renato e Elano.
 
Bastou a conquista no Santos e a conseqüente volta por cima no futebol brasileiro para que o treinador, que até então se tornara uma solução, mostrar-se também um pequeno foco de crise para ser administrada.
 
O gozo pela vitória transformou Leão numa pessoa difícil de se trabalhar. A ironia nas respostas, a necessidade de ter comando centralizado e irrestrito sobre o departamento de futebol, a vigilância constante sobre o trabalho de seus jogadores.
 
Aos poucos, Leão foi deixando de lado o “futebol-bailarino”, que havia pedido para a seleção e conseguido adotar no Santos, para o “futebol-militar”, com uma disciplina e centralização de comandos acima do normal.
 
A linha dura de Leão, ou a “ditadurazinha”, como ele mesmo afirmou ter o interesse de implantar junto com o “futebol-bailarino” da seleção, acabou se tornando também o grande problema do treinador.
 
Desde que deixou o Santos em 2004, por fadiga na relação dentro e fora do clube, Leão virou a solução para equipes em crise de relacionamento. E é justamente aí que mora o perigo.
 
No São Paulo, a linha dura de Leão comprometeu o talento de Falcão, que após a segunda tentativa frustrada no futebol de campo voltou para o futsal, onde é o melhor do mundo. Depois, foi a vez de Luizão decidir deixar o clube num protesto velado à linha dura imposta pelo treinador. No fim, foi Souza, o principal assistente do time virtual campeão nacional de 2006, quem quase deixou o São Paulo por não concordar com a geladeira imposta ao treinador.
 
Campeão paulista, Leão saiu por cima no São Paulo, mas provavelmente não teria conseguido ser campeão da Libertadores como foi seu sucessor, Paulo Autuori. No embarque para o Japão, Leão disse que tinha uma dívida com um amigo para saldar. Em menos de meio ano, já voltou para o Palmeiras, com a missão de recuperar o time e alçá-lo à Libertadores.
 
Missão cumprida no Palmeiras, mas nem um ano de casa completado e Leão já se viu às voltas com os jogadores, imprensa, direção, associados… E foi demitido. Leão então virou a salvação da lavoura desordenada do Corinthians.
 
Contratado a peso de ouro, Leão pegou um clube sem comando. Em todas as esferas. Do presidente ao roupeiro, o Corinthians estava sem dono. E logo na chegada Leão despachou os dois astros do time, Tevez e Mascherano. Em dois meses comando do time, o Corinthians melhorou. Saiu da última colocação e agora é o primeiro dos rebaixados. Mas, a cada entrevista, Leão cria mais polêmica, bota mais lenha na fogueira, gera mais crise.
 
Leão inventou moda nos anos 70 ao fazer anúncio de cuecas. Agora, inventa outra ao criar um novo jargão para o futebol. A do treinador-problema.

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