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Bahia autoriza venda de bebidas nos estádios

O Estado da Bahia aprovou projeto de lei que autoriza e regulamenta a comercialização de bebidas alcoólicas em estádios e arenas de autoria do deputado João Bonfim. O Projeto, agora, o segue para sanção do governador Jaques Wagner.

Segundo a Lei as bebidas alcoólicas poderão ser comercializado em bares, lanchonetes, camarotes e Espaços Vips, reiterando-se a proibição da venda para menores de 18 anos, prevendo, inclusive multa, suspensão ou proibição da comercialização se esta determinação for descumprida.

A Lei estabelece, ainda, uma série de regras para que as vendas sejam realizadas, como, por exemplo, a necessidade de apresentação de documento de identidade pelo comprador a cada operação e a restrição de retirada, a cada vez, de apenas um copo (plástico), de até 500 mililitros, de bebida por pessoa.

Há também a diferenciação entre os teores alcoólicos das bebidas vendidas em cada área dos estádios. Nos bares, lanchonetes e congêneres podem ser vendidas bebidas com até 20% de teor alcoólico (cervejas, por exemplo), já em camarotes e áreas VIP, estão liberadas bebidas com graduação alcoólica de até 43%, como vodcas e uísques.

Apesar de não haver proibição legal, a venda e o consumo de bebidas alcoólicas cessaram nos estádios brasileiros em 2008, quando o Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assinaram Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Posteriormente, o Ministério Público firmou TACs semelhantes com as Federações Estaduais, proibindo a venda em torneios regionais.

A bebida alcoólica tornou-se vilã nos estádios de futebol, já que muitos relacionarem seu consumo a violência no estádios e arenas.

Entretanto, não há estudos acadêmicos a respeito e, além disso, de 2008 até os dias atuais a violência aumentou.

As causas da violência nos estádios de futebol e seu combate necessitam estudos mais profundos, eis que são fruto de múltiplos fatores.

O Poder Público a fim de camuflar sua incapacidade de solucionar o problema procura vilões e buscam proibições.

Vale dizer que a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol nunca foi proibida no Brasil, eis que o Estatuto do Torcedor não traz nenhuma previsão a respeito e a Constituição Brasileira assegura a todos o direito de fazer ou deixar de fazer algo, salvo por disposição de Lei. Dessa forma, se legislação brasileira fosse respeitada a lei aprovada na Bahia seria desnecessária.

De toda sorte, a Bahia mostrou estar na vanguarda do debate acerca das bebidas alcoólicas nos estádios de futebol. Parabéns ao Deputado João Bonfim, à Assembleia Legislativa da Bahia e ao Instituto de Direito Desportivo da Bahia, na pessoa de seu presidente, o Dr. Milton Jordão, pela iniciativa.

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Motivando atletas para o sucesso

Provavelmente muitos treinadores em início de temporada passam pela mesma necessidade de motivarem seus jogadores para o sucesso, de criarem ambiente de estímulo adequado ao sucesso do grupo e individualmente de cada atleta.

Então, como um treinador pode promover este estímulo de maneira eficaz? Pergunta difícil não é mesmo?

Creio que na maioria das vezes em que pensarmos nisso, sim a resposta será complicada e diversificada e a partir daí devemos refletir sobre a importância de recorrer a técnicas que facilitem o trabalho dos treinadores neste sentido.

Nesta coluna mais do que motivar, quero compartilhar com vocês uma forma de estimular os atletas a seguirem rumo ao sucesso profissional. O que você acha ser melhor para estimular as pessoas: Utilizar a censura e condenação? Ou o elogio? Acredito plenamente que o elogio seja a maneira mais adequada de estímulo ao desenvolvimento, elogiando mesmo os menores progressos fará com que o atleta e qualquer pessoa na verdade continue trabalhando e melhorando cada vez mais.

O psicólogo Jess Lair certa vez comentou: “O elogio é como a luz do sol para o ardente espírito humano; sem ele, não florescemos nem crescemos. Mas, enquanto muitos de nós estão preparados para soprar contra os outros o frio vento da crítica, de algum modo relutamos a dar ao próximo o aquecedor raio de sol do elogio.”

Acredito demais nessa citação e sempre que a releio faço reflexões na minha própria vida profissional e pessoal sobre quantas vezes ou situações umas poucas palavras de elogio poderiam ter transformado minha vida até aqui; e acredito que se você também relembrar alguns momentos de sua vida talvez conseguirá encontrar momentos em que um elogio poderia ter mudado alguma situação importante.

Ao pensarmos sobre a relação dos treinadores com os atletas, as coisas não são diferentes, pois um treinador pode simplesmente anular um jovem talento com sua atitude inadequada. São comuns os relatos de atletas que comentam sobre a soberba ou arrogância de alguns treinadores, fazendo com que a capacidade de performance de alguns atletas acabe se reduzindo naturalmente e quando essa situação atinge a maioria do grupo de atletas a ausência de estimulo culmina em derrotas e resultados em campo negativamente surpreendentes para o clube.

O conteúdo de hoje trata diretamente sobre a mudança genuína nas pessoas, há uma mágica na habilidade de elogiar as pessoas através da qual conseguimos incentivá-las quanto a compreensão de suas possibilidades latentes em suas vidas. Conforme Dale Carnegie escreveu: “Com a crítica, a capacidade do ser humano declina; com o estímulo, ela floresce.”

E fecho nossa coluna desta semana com um importante princípio de influenciar as pessoas do próprio Carnegie:

“Elogie o menor progresso e elogie casa progresso. Seja sincero na sua apreciação e pródigo no seu elogio”.

E você amigo leitor, já fez um elogio hoje?

Abraços e até a próxima!

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A Copa e a rebeldia (com ou sem) causa – parte 01/03

A avalanche de protestos que assistimos no ano passado e estão previstas para ocorrer em um momento pré-Copa 2014 é um importante indicador da insatisfação das pessoas contra o evento e, ao mesmo tempo, uma total falta de senso sobre inúmeros aspectos que norteiam um dos maiores eventos do mundo. Sobre uma série de demagogias e hipocrisias em torno da Copa é que pretendo discorrer meus próximos três textos aqui neste espaço…

Comecemos por esclarecer meu ponto de vista:

– Se acho que está tudo certo? Não! Na realidade vejo tudo como a perda de algumas oportunidades em desenvolver o futebol brasileiro e o país. A Copa em território nacional, se bem aproveitada, pode contribuir e catalisar a transformação do mercado como um todo. Depois, que estamos falando de algo que a população brasileira gosta (e muito – aproximadamente 2/3 dos brasileiros admiram ou consomem a modalidade, segundo inúmeras pesquisas), o que justifica qualquer investimento público nesta área (enfim, aqui cabe uma pausa para não entrar efetivamente no mérito de “políticas públicas”, pois o debate é amplo e complexo, não sendo objeto específico desta coluna, neste momento).

– Se acho que está tudo errado? Não! O que falta, na maioria dos casos, é informação e cobrança maior de quem administra os recursos públicos – que, aliás, não se restringe à Copa.

Para este princípio de discurso, vou me amparar na análise dos “Rebeldes sem Causa”. Vez por outra, pelo excesso de reclamação, caímos na velha mania do brasileiro de reclamar de tudo (com o perdão da redundância…). Aliás, as redes sociais estão virando, ultimamente, um enorme muro de lamentações: se chove, está ruim porque chove; se faz sol, não dá pra sair de casa por que está muito calor; se faz frio, vamos todos ficar resfriados. O estereótipo desta cultura está aí retratado. Ao invés de “fazer do limão uma limonada”, preferimos ficar sentados (ou ir às ruas) reclamar. Simplesmente reclamar, sem uma ação efetiva e objetiva (ou um foco nas reivindicações) ou uma proposição coerente de soluções.

Lembro, usando outra analogia, de muitos ex-alunos meus de cursos de Educação Física ficar uma aula inteira reclamando da ineficiência do “Conselho Regional de Educação Física” (CREF) porque muita gente que eles conheciam trabalhava na área sem portar o registro do Conselho. No final do debate, fazia a simples pergunta: “OK, faça de conta que concordo com vocês… Quer dizer então que vocês já fizeram denúncias destes ‘pseudo-profissionais’ ao CREF? Ela foi atendida?”. Não, nunca ninguém tinha se mexido efetivamente (e nem se mexeu) – é mais fácil falar por falar, de preferência na mesa do bar e deixar tudo como está.

Reformulando a pergunta, vamos ao nosso tema: “Alguém já usou o canal específico do ‘Portal da Transparência da Copa 2014’ para fazer denúncias de desvios? Houve algum resultado?”:

Só para ficarmos em um exemplo de uma forma coerente, legal e que faz parte da cidadania. Outro caminho para reivindicações é procurar o Ministério Público para que este ofereça denúncias – sei que, entretanto, isso é bastante complicado, pois exigiria uma pesquisa minuciosa sobre obras, custos e identificação de desvios.

É muito mais fácil, obviamente, postar alguma coisa qualquer em uma Rede Social insinuando qualquer coisa que não se sabe para depois fazer megaencontros para protestar tudo aquilo que ninguém sabe do que estão falando…

Para fechar esta, cabe esclarecer que eu adoraria que, em havendo tantos desvios quanto se propala em torno da Copa, que tivesse uma infinidade de políticos (ou mesmo empresas privadas) sendo processados e julgados. Só assim conseguiríamos contribuir para a tão sonhada transformação do país.

(continua…)

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Tolerância

O grego Costa-Gravas é um dos cineastas mais relevantes do século 20. Ele lançou em 1969 um longa-metragem chamado “Z”, obra que se desenvolve a partir de uma manifestação popular. Baseada no romance de Vassilis Vassilikos, a obra foi premiada com dois Oscar (melhor edição e melhor filme estrangeiro).

Antes de a ação se desenrolar, um aviso provocativo aparece na tela: “Qualquer semelhança com pessoas ou lugares realmente existentes não é coincidência. É intencional”. O filme foi proibido no Brasil durante o período da ditadura militar.

A história central da obra é o assassinato de um deputado liberal. O romance de Vassilikos tem como ponto de partida a morte de Grigoris Lambrakis, que ocorreu nos anos 1960.

Tente esquecer tudo isso quando vir o filme. Tente deixar de lado a profundidade da trama política, a direção bem conduzida e o ritmo extremamente equilibrado do filme. Dê mais atenção aos diálogos, como os discursos de autoridades logo na primeira cena. Costa-Gravas podia ter escrito tudo isso ontem.

Em 1993, como bem lembrou João Pereira Coutinho, colunista da “Folha de S.Paulo”, Samuel Huntington publicou na revista “Foreign Affairs” um artigo intitulado “The clash of civilizations” (algo como “o embate de civilizaçãoes”, em tradução livre).

No texto, Huntington diz que é impossível imaginar a repetição de guerras econômicas ou políticas, como as que aconteceram no século passado. Findaram as lutas clássicas entre Estados.

No entanto, isso não quer dizer que os conflitos tenham cessado. Ele ainda identifica enorme tensão formada pelo multiculturalismo. Huntington podia ter escrito isso ontem.

Costa-Gravas e Huntington não escreveram nada sobre o Brasil. Tampouco tentaram deslindar o atual momento do país sul-americano. Com distanciamento histórico e geográfico, contudo, as obras de ambos servem muito para analisar o que tem acontecido aqui.

No último sábado, 13 capitais do Brasil receberam um protesto chamado “Não vai ter Copa”. A manifestação acabou em tumulto em muitas delas, e São Paulo foi o foco mais conturbado. Houve mais de cem detidos, e um estoquista de 22 anos foi baleado por policiais militares.

Os policiais militares alegaram legítima defesa. Disseram que Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves tinha material explosivo na mochila, portava um estilete e tentou golpear um oficial.

A tese da defesa do garoto é dicotômica. Segundo Daniel Biral, advogado que tem cuidado do caso, Chaves portava um estilete porque usava no trabalho. O jurista sustenta que o estoquista foi abordado por policiais, ficou com medo, correu e foi alvejado.

Ainda é cedo para teorizar sobre a história. Faltam elementos que indiquem qual versão é real (ou qual se aproxima mais da verdade). Entretanto, a história do manifestante baleado por policiais militares já serve para mostrar o quanto a guerra cultural e a repressão descabida são problemas latentes no Brasil atual.

Afinal, se a Copa do Mundo de 2014 já conseguiu produzir algo de relevante no país, definitivamente é isso: antes mesmo de ser realizado, o evento mostrou o quanto ainda somos imberbes como sociedade e o quanto precisamos evoluir como palco de massas.

Porque tem sido assim em todas as manifestações populares: elas têm servido, antes de tudo, para mostrar o quanto nós precisamos adquirir cultura de discussão (e aí a generalização é pertinente).

Enquanto não discutirmos ideias e não estivermos prontos para contrapor argumentos, sempre correremos riscos de explosões de violência. Isso vale para todos os lados.

Enquanto acharmos que o caminho correto para qualquer discussão é destratar o argumentador e diminuir os méritos de quem diz, perderemos tempo que podia ser gasto com questões realmente relevantes.

Policiais militares não são treinados para discutir. São treinados para cumprir e dar ordens. São raros os que sabem conversar e improvisar quando a autoridade conferida pela farda não é suficiente para impor respeito.

Manifestantes não são treinados para discutir. A tensão dos protestos também tem a ver com gente que extrapola e que não sabe debater ideias. Não existem apenas culpados ou apenas mocinhos.

Tudo isso tem importância para o esporte em diferentes âmbitos. A começar pela organização de eventos – não conseguiremos fazer sequer jogos locais enquanto não estivermos preparados para discutir e buscar soluções em vez de impor autoridade.

O curioso, porém, é ver que essa cultura se alastra até para o que acontece dentro das quatro linhas. Impregnados por essa cultura militarizada e sem contestação, formamos atletas que se preocupam apenas com o cumprimento de ordens e dão pouco ou nenhum espaço para o entendimento do jogo.

Esporte é transgressão, improviso e arte. Mas esses elementos só podem ser combinados por quem tem domínio do jogo, ainda que esse domínio seja totalmente empírico. É o que algumas pessoas chamam de “antevisão”.

Somos um país jovem e temos uma sociedade ainda mais nova. Ainda temos muitos problemas decorrentes disso, e obras antigas mostram que essa mesma ciclotimia atingiu outros países em momentos não tão distantes.

A questão é, e isso vale para todas as searas, o quanto estamos dispostos a mudar. Se continuarmos achando que a formação militarizada é o caminho e que não precisamos aprender a contestar, vamos seguir parados no tempo. No campo e – principalmente – fora dele.

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Os pontapés iniciais da temporada

Idealizamos um futebol melhor. Mais belo, mais ético, mais organizado, mais atrativo e mais profissional. O produto atual, no entanto, é um resultado global de como a modalidade tem sido gerenciada, pensada e, mais tecnicamente, treinada. Em síntese, distante do ideal.

Muitos queriam um tempo maior de preparação para a temporada, mas o fato é que a avalanche dos campeonatos estaduais já começou e a velocidade das informações noticiadas pela mídia esportiva nos configura um cenário pessimista, com retratos e ideias excessivamente presos ao passado; mas que gradativamente divide o espaço com outro cenário (desta vez otimista), com discursos relevantes, críticos e que permitem uma projeção de esperança ao futebol brasileiro.

Em relação ao primeiro cenário, podemos apontar os seguintes exemplos:

Na busca por uma visão mais complexa do jogo, ouvir de um técnico consagrado no futebol nacional que é mais fácil construir uma maneira “diferente” de jogar num clube sem expressão, pois a pressão é menor, conota-se um contrassenso. Nas grandes equipes do país, composta pelos melhores jogadores e melhores treinadores, não estão também os melhores recursos, aliados ao poder da marca e das imensas torcidas, para emergirem elementos e conceitos do futebol moderno?

Com cada vez mais informações relativas à análise global do desempenho, é inconcebível a justificativa de uma derrota à preparação física. Alguns dias depois, sem tempo para treinos e grandes mudanças, uma goleada facilmente apaga a derrota anterior e surpreendentemente a preparação física não é mais lembrada.

Recentemente, um defensor contratado por uma das principais equipes do país se caracterizou como um rebatedor. Um zagueiro-zagueiro. Esta definição ruma na contramão dos princípios do futebol total, da inteireza do jogo e do jogador quanto a sua participação individual e coletiva no sistema em todos os momentos do jogo.

Será impossível formar (já que é mais difícil contratar) um zagueiro-zagueiro que seja bom no 1×1 defensivo, em bolas aéreas, tenha boa recuperação, boa cobertura, boa antecipação, bom posicionamento, mas que, com bola, saiba fazer outra ação que não rebatê-la?

Paralelamente a estes discursos, surgem outros, como mencionado, mais otimistas:

Um grande técnico do nosso país afirma (não é o primeiro) que falta atualização aos nossos treinadores. Para ele, assim como o médico deve se atualizar para não ficar ultrapassado, o treinador deve fazer o mesmo para que suas equipes não fiquem para trás. Este mesmo treinador contou que, em visitas à Europa, teve ciência da necessidade (e importância) da formação para dirigir as principais equipes do futebol mundial.

Outro grande técnico do nosso futebol nos brindou com um ótimo ponto de vista: escreveu para a Universidade do Futebol e afirmou sobre a urgência dos treinadores brasileiros serem cobrados por parâmetros de jogo distintos dos apresentados atualmente. Para ele, esta é a saída para que observemos um jogo menos individualizado, de “correria” e com desespero mental.

Para concluir, com o término da Copa-SP tivemos a definição de melhor jogador do torneio: o volante-volante Lucas Otávio. Marcador, aguerrido, com bom desarme, cobertura e posicionamento. Com bola, Lucas Otávio pisa no campo de ataque, ultrapassa, lança, finaliza, troca de posição e joga numa velocidade complexa (física-técnica-tática-mental) acima da média dos jogadores de sua idade. A sua escolha como melhor jogador da competição dá mostras de que volantes não precisam ter mais de 1,80m e que a análise atual sobre o que é jogar bem futebol também chegou ao Brasil.

Os exemplos estão à nossa frente. Que saibamos quais iremos seguir…

Obrigado Nicolau e Bruno pelas sugestões!

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Uma “nova” visão para o jogo

O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Este é um dilema que o futebol brasileiro não consegue resolver. Aliás, acho até que não sabemos se existe. A forma de ver o jogo de futebol é tão dependente do sistema tático e do jogador que não conseguimos perceber a existência de algo além disso. Estamos particularizando tanto as questões táticas de campo que mal conseguimos ver a aura de um jogo. No Brasil, é comum ouvir:

• O time não joga pela direita porque o lateral do lado não ataca;
• Hoje, a defesa não está bem devido às falhas dos zagueiros;
• O time não chuta a gol porque os atacantes são fracos;
• Vamos começar arrumar o time pela “cozinha”;
• Dentre outras.

Todas as análises acima estariam corretas se contextualizássemos o que significam a uma ideia tática de jogo, algo maior que as respostas individuais ou setorizadas no campo. Desde que abandonamos o “toque de bola” em favor do jogo ansioso e ou de correria, não sabemos mais o que é jogo. Um dia, um dirigente de um clube onde trabalhei me indagou: – Você fala muito em jogo da sua equipe, não é?! Como se isso fosse uma coisa estranha ao ambiente do futebol brasileiro. Nos acostumamos a seccionar o entendimento do jogo como forma de justificar todos os fenômenos táticos do campo.

Para inaugurar o meu momento de crônicas táticas no Universidade do Futebol é importante não abandonar a visão que concebo do jogo, pois tudo e ou todas as abordagens serão feitas a partir deste ponto de vista. Não consigo ver um lance descontextualizado do todo, de um jogo. Não consigo criar um treino sem inseri-lo na dinâmica das onze peças. Jogar pelos flancos, por exemplo, não se traduz em simplesmente treinar os lances de cruzamentos das beiradas. Todo mundo sabe disso, mas fazemos leitura equivocada do processo que desenvolve estas jogadas. Estamos culturalmente envolvidos com esta maneira de ver e ou conceber o jogo.

Como treinar o jogo pelos flancos, ou o hábito de se jogar por aquele setor do campo? Só jogando ou treinando um jogo com estas características dará condições ao meu time de fazer isso. Portanto, a montagem e o perfil dos treinos estão diretamente relacionados à forma de construir o jogo da minha equipe. Não me adiantará, ou adiantará muito pouco, pedir aos jogadores que façam isso ou aquilo. É importante induzi-los a fazer. O treinamento tem poderes para isso.

Permanecendo no exemplo anterior, sabemos ler que uma equipe não joga pelos flancos, mas não somos capazes de detectar as causas. Não nos resta outra saída senão responsabilizar os protagonistas das ações de campo: – “Não há cruzamentos vindos dos flancos porque os laterais não o fazem”. Até os jogadores, maiores alvos das críticas, acreditam nisso e reproduzem discursos confirmando suas falhas. Não consigo ver o fenômeno senão pela consequência da grande e prejudicial “miopia tática” da visão brasileira do jogo.

No início da nossa resenha há uma pergunta: – O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Na questão, me refiro à avaliação das qualidades de um jogador para fazermos uma determinada opção. Para respondermos corretamente esta pergunta precisaríamos saber como vemos o jogo. Existe um jogo além do jogador? Todos nós sabemos que não há orquestra sem as individualidades musicais. Mas é verdade também que uma orquestra não existe somente com parte do som das individualidades.

No esporte coletivo e ou no futebol é da mesma forma. O jogador está em campo como grande protagonista das ações. Mas que tipo de ação? Ações que traduzem um jogo. Uma forma de jogar. Esta é a saída para uma “nova” visão do jogo brasileiro. Só devemos entender a importância do jogador no contexto de um jogo, ainda que suas habilidades lhe permita desempenhar papéis táticos com a plástica de um craque. Por isso, serão reconhecidos e valorizados com destaque em relação aos companheiros de profissão. Ter craques no time não trará nenhum prejuízo ao jogo se estes jogarem em função de uma ideia de jogo.

Quando falamos de jogo e ações táticas para o jogo queremos aclarar a mente dos leitores para a existência de princípios e ou conceitos táticos que são responsáveis pela construção do jogo. Assim como o bolo tem seus ingredientes e sua forma de fazer, o jogo tem os seus jogadores e forma de fazê-los jogar. Por isso, e nesta visão, é preciso pensar na importância do jogador relacionada a uma forma de jogar. A sutileza na diferença dessas visões táticas de jogo altera muito o processo da construção do próprio jogo.

Às vezes, o casual encaixe das características individuais faz brotar um jogo de qualidade mesmo que não tenhamos nos preocupado em treinar os conceitos táticos que dali brotaram. Às vezes também, alguns bolos saem gostosos mesmo não aplicando os segredos da receita proposta. Mas eu disse “às vezes”! Regra geral, as receitas consagradas costumam render dividendos interessantes aos seus detentores. O jogo pode e deve ser construído sob a orientação dos conceitos táticos que fazem um jogo eficiente e eficaz. Assim, tanto o jogo quanto o “bolo” terão padrões de qualidade consagrados.

Para o futebol brasileiro, que tem no poder das suas individualidades o grande marketing da qualidade, é preciso “reencontrar” sua antiga visão tática do jogo. Aquilo que faça o jogo ser visto como um todo que tem vida. O jogo do toque de bola, por exemplo, como era conhecido e ficou famoso em todo o mundo. Um time que joga compacto, ofensivamente, com posse de bola, atuando pelos flancos, dentre outros predicados táticos coletivos é facilmente percebido quando apresentado. Vide grandes equipes europeias e alguns poucos e efêmeros modelos sul-americanos.

Nós, treinadores brasileiros, só saberemos e ou teremos interesse em construir um jogo com estas características quando formos cobrados sobre estes parâmetros. Hoje, só sabemos jogar por vitórias e das formas mais diversas. Geralmente produzimos o “jogo” com muita correria, ações individualizadas e desespero mental, fruto da pressão do ambiente em que jogamos.

Há “receitas de bolos” excelentes para a construção do jogo inteligente. Não é preciso jogar ao acaso ou ao sabor do encaixe das individualidades. Tudo começa com o desenvolvimento de uma nova visão tática para o jogo!

Até a próxima resenha…

…e me desculpem pela distância entre as publicações. Vida de treinador não é fácil!
 

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Uma "nova" visão para o jogo

O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Este é um dilema que o futebol brasileiro não consegue resolver. Aliás, acho até que não sabemos se existe. A forma de ver o jogo de futebol é tão dependente do sistema tático e do jogador que não conseguimos perceber a existência de algo além disso. Estamos particularizando tanto as questões táticas de campo que mal conseguimos ver a aura de um jogo. No Brasil, é comum ouvir:

• O time não joga pela direita porque o lateral do lado não ataca;
• Hoje, a defesa não está bem devido às falhas dos zagueiros;
• O time não chuta a gol porque os atacantes são fracos;
• Vamos começar arrumar o time pela “cozinha”;
• Dentre outras.

Todas as análises acima estariam corretas se contextualizássemos o que significam a uma ideia tática de jogo, algo maior que as respostas individuais ou setorizadas no campo. Desde que abandonamos o “toque de bola” em favor do jogo ansioso e ou de correria, não sabemos mais o que é jogo. Um dia, um dirigente de um clube onde trabalhei me indagou: – Você fala muito em jogo da sua equipe, não é?! Como se isso fosse uma coisa estranha ao ambiente do futebol brasileiro. Nos acostumamos a seccionar o entendimento do jogo como forma de justificar todos os fenômenos táticos do campo.

Para inaugurar o meu momento de crônicas táticas no Universidade do Futebol é importante não abandonar a visão que concebo do jogo, pois tudo e ou todas as abordagens serão feitas a partir deste ponto de vista. Não consigo ver um lance descontextualizado do todo, de um jogo. Não consigo criar um treino sem inseri-lo na dinâmica das onze peças. Jogar pelos flancos, por exemplo, não se traduz em simplesmente treinar os lances de cruzamentos das beiradas. Todo mundo sabe disso, mas fazemos leitura equivocada do processo que desenvolve estas jogadas. Estamos culturalmente envolvidos com esta maneira de ver e ou conceber o jogo.

Como treinar o jogo pelos flancos, ou o hábito de se jogar por aquele setor do campo? Só jogando ou treinando um jogo com estas características dará condições ao meu time de fazer isso. Portanto, a montagem e o perfil dos treinos estão diretamente relacionados à forma de construir o jogo da minha equipe. Não me adiantará, ou adiantará muito pouco, pedir aos jogadores que façam isso ou aquilo. É importante induzi-los a fazer. O treinamento tem poderes para isso.

Permanecendo no exemplo anterior, sabemos ler que uma equipe não joga pelos flancos, mas não somos capazes de detectar as causas. Não nos resta outra saída senão responsabilizar os protagonistas das ações de campo: – “Não há cruzamentos vindos dos flancos porque os laterais não o fazem”. Até os jogadores, maiores alvos das críticas, acreditam nisso e reproduzem discursos confirmando suas falhas. Não consigo ver o fenômeno senão pela consequência da grande e prejudicial “miopia tática” da visão brasileira do jogo.

No início da nossa resenha há uma pergunta: – O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Na questão, me refiro à avaliação das qualidades de um jogador para fazermos uma determinada opção. Para respondermos corretamente esta pergunta precisaríamos saber como vemos o jogo. Existe um jogo além do jogador? Todos nós sabemos que não há orquestra sem as individualidades musicais. Mas é verdade também que uma orquestra não existe somente com parte do som das individualidades.

No esporte coletivo e ou no futebol é da mesma forma. O jogador está em campo como grande protagonista das ações. Mas que tipo de ação? Ações que traduzem um jogo. Uma forma de jogar. Esta é a saída para uma “nova” visão do jogo brasileiro. Só devemos entender a importância do jogador no contexto de um jogo, ainda que suas habilidades lhe permita desempenhar papéis táticos com a plástica de um craque. Por isso, serão reconhecidos e valorizados com destaque em relação aos companheiros de profissão. Ter craques no time não trará nenhum prejuízo ao jogo se estes jogarem em função de uma ideia de jogo.

Quando falamos de jogo e ações táticas para o jogo queremos aclarar a mente dos leitores para a existência de princípios e ou conceitos táticos que são responsáveis pela construção do jogo. Assim como o bolo tem seus ingredientes e sua forma de fazer, o jogo tem os seus jogadores e forma de fazê-los jogar. Por isso, e nesta visão, é preciso pensar na importância do jogador relacionada a uma forma de jogar. A sutileza na diferença dessas visões táticas de jogo altera muito o processo da construção do próprio jogo.

Às vezes, o casual encaixe das características individuais faz brotar um jogo de qualidade mesmo que não tenhamos nos preocupado em treinar os conceitos táticos que dali brotaram. Às vezes também, alguns bolos saem gostosos mesmo não aplicando os segredos da receita proposta. Mas eu disse “às vezes”! Regra geral, as receitas consagradas costumam render dividendos interessantes aos seus detentores. O jogo pode e deve ser construído sob a orientação dos conceitos táticos que fazem um jogo eficiente e eficaz. Assim, tanto o jogo quanto o “bolo” terão padrões de qualidade consagrados.

Para o futebol brasileiro, que tem no poder das suas individualidades o grande marketing da qualidade, é preciso “reencontrar” sua antiga visão tática do jogo. Aquilo que faça o jogo ser visto como um todo que tem vida. O jogo do toque de bola, por exemplo, como era conhecido e ficou famoso em todo o mundo. Um time que joga compacto, ofensivamente, com posse de bola, atuando pelos flancos, dentre outros predicados táticos coletivos é facilmente percebido quando apresentado. Vide grandes equipes europeias e alguns poucos e efêmeros modelos sul-americanos.

Nós, treinadores brasileiros, só saberemos e ou teremos interesse em construir um jogo com estas características quando formos cobrados sobre estes parâmetros. Hoje, só sabemos jogar por vitórias e das formas mais diversas. Geralmente produzimos o “jogo” com muita correria, ações individualizadas e desespero mental, fruto da pressão do ambiente em que jogamos.

Há “receitas de bolos” excelentes para a construção do jogo inteligente. Não é preciso jogar ao acaso ou ao sabor do encaixe das individualidades. Tudo começa com o desenvolvimento de uma nova visão tática para o jogo!

Até a próxima resenha…

…e me desculpem pela distância entre as publicações. Vida de treinador não é fácil!
 

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E vai rolar a festa?

Enfim, os campeonatos estaduais iniciaram-se e tem início um ano futebolístico ímpar. Ora, não é um ano qualquer. É ano de Copa do Mundo no Brasil.

Quem acompanha futebol desde a infância sabe o significado disso. Lembro-me de acompanhar Mundiais desde o México em 1986, quando tinha 6 anos. Como se fosse hoje me recordo da derrota para a França com direito a bola na trave, bola nas costas do goleiro Carlos e gol. Em 1990, Itália, irritei-me com o Cannigia no nosso melhor jogo na Copa.

Naquela época, nunca imaginaria que um dia teríamos uma Copa do Mundo aqui, no nosso Brasil Varonil. Teremos a chance de exorcizar o fantasma do Maracanazo de 1950 e deixar de ser a única grande Seleção a nunca vencer em casa.

Entretanto, nem tudo é festa. 2013 terminou com violência nos estádios de futebol, discussão sobre o calendário e, ainda, em meio a um imenso embate jusdesportivo envolvendo Portuguesa, Fluminense, Flamengo e STJD.

Todo esse imbróglio faz com que iniciemos o ano futebolístico mais esperado dos últimos tempo sob o ar da desconfiança e da dúvida. O campeonato brasileiro iniciar-se-á em abril e ainda não sabemos quais os participantes, pois uma guerra de liminares altera sua composição diuturnamente.

As jogadas, gols e craques deixaram de ser o centro dos debates e entraram em campos os tribunais, as leis e os advogados. De milhões de técnicos viramos especialistas em Lei Pelé, Estatuto do Torcedor e Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Independente do final dessa história, o ano começa melancolicamente. Ademais, se há campo para tanta discussão, talvez seja o momento de olharmos para dentro e refletirmos sobre nosso desporto.

Neste esteio, o Direito Desportivo é uma importante ferramenta de desenvolvimento do desporto nacional que deve ser cada vez mais estudado e ensinado nas Universidades Brasileiras.

Assim, ao mesmo tempo que damos as boas vindas ao futebol, fazemos votos que o ano termine melhor do que começou.

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Conteúdo e Contexto

Li recentemente em uma edição da Revista Sport Business International (Novembro de 2013) uma ampla reportagem que abordava a “Gestão de Grandes Eventos” e, no cerne de um dos temas apareceu uma citação que me chamou a atenção. Na tradução livre, é o que segue:

“Existe uma visão do público em geral de que as pessoas que entendem de esporte e, portanto, estão aptas a operar um evento esportivo, são ex-atletas. Eles não são! Na realidade, a compreensão de um ex-atleta é sobre o conteúdo e não sobre o contexto”. Will Glendinning.

Ótimo! Eis mais uma explicação plausível e interessante sobre o viés da profissionalização na gestão do esporte. Neste caso, é bom separar aqueles ex-atletas que buscaram uma formação adequada, seja ela antes, durante ou após sua carreira esportiva, e agora estão atuando competentemente no segmento.

O ambiente que circunda os projetos esportivos é amplamente complexo, não cabendo a restrição e o olhar único sobre a competição e/ou o jogo propriamente dito. O conhecimento tácito e prático é extremamente relevante, mas não suficiente.

Pensar e lembrar deste conceito é um importante passo à medida que se pretende debater e desenvolver o profissionalismo no esporte, seja na montagem de equipes multidisciplinares, seja na gestão propriamente dita.

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O centroavante matemático e o quarterback que ajuda o turismo

Não há comparação entre modalidades, funções em campo, histórias no esporte ou perfis. Ainda assim, o centroavante Rafael Moura, que defende o Internacional, e o quarterback Peyton Manning, do Denver Broncos, deram boas aulas de comunicação nos últimos dias.

A história começou com Manning. Na semifinal da conferência americana (AFC) da liga profissional de futebol americano (NFL), o camisa 18 do Denver Broncos gritou em vários momentos a palavra “Omaha”.

A palavra foi sempre dita nos momentos que precederam jogadas. Esse tipo de expressão é chamada na NFL de “audible”, algo que os times combinam e que o quarterback usa para mudar algo de última hora na movimentação de sua equipe.

No caso de Manning, a expressão “Omaha” criou algo diferente. Ao gritar isso antes do início das jogadas, o quarterback fez com que a defesa do San Diego Chargers se mexesse antes que fosse permitido, o que rendeu várias faltas. Esse tipo de infração assegura avanços de cinco jardas para o time que está com a bola.

Os “audibles” de Manning já viraram até produtos – vários foram reunidos em estampas de camisetas, por exemplo –, mas nenhuma dessas expressões chamou tanta atenção quanto “Omaha”. Na última semana, parte dos Estados Unidos passou um tempo investigando o que o quarterback queria com essa palavra.

Manning pode ter usado isso para acelerar jogadas, mudar o posicionamento dos recebedores ou simplesmente para atrair atenção da defesa dos Chargers. O fato é que o “Omaha” dele motivou as maiores discussões do país na semana que precedeu as partidas finais de conferências.

Recapitulando: quarterbacks costumam gritar palavras antes das jogadas. Fazem isso para alterar movimentações ou fazer ajustes no que havia sido combinado para o lance. Manning fez isso com várias outras expressões e em muitos outros momentos. E de repente, a tal “Omaha” virou notícia.

Alguns aspectos contribuíram para isso. O fato de a defesa dos Chargers ter cometido faltas quando ouviu a palavra, por exemplo. A frequência do uso de “Omaha” e o ineditismo – Manning não havia usado com tamanha incidência anteriormente.

O principal motivo para “Omaha” ter repercutido tanto nos Estados Unidos, contudo, é a curiosidade. Sobretudo porque Manning, questionado sobre o teor da expressão, contribuiu para o mistério.

Em entrevista coletiva, questionado sobre o assunto, o quarterback saiu com a seguinte explicação: “Omaha é uma jogada corrida. Mas também pode ser uma jogada de passe ou de play-action [movimento em que o quarterback ameaça deixar a bola com um corredor, se coloca em condição de carregar a bola e ainda pode fazer um lançamento]”.

E qual é a lição que Manning oferece? Toda a história de Omaha é uma demonstração clara do quanto o esporte pode criar conteúdo. Sobretudo se os protagonistas souberem contribuir para isso.

Na semana que precedeu um aguardado confronto entre Manning e Tom Brady, dois dos quarterbacks mais vitoriosos das últimas décadas, falou-se mais sobre Omaha. Até o departamento de turismo da cidade com esse nome, situada em Nebraska, agradeceu.

A comparação é cruel, mas houve um caso antagônico no mercado brasileiro. O protagonista foi o centroavante Rafael Moura, que defende o Internacional.

Questionado sobre o desempenho ruim no Internacional em 2013, o jogador tirou do bolso um pedaço de papel. Então, começou a empilhar números.

“Eu tenho 1667 minutos jogados pelo Inter e seis gols. Se eu fosse titular, jogando 90 minutos, seriam 17 partidas e meia. Em 17 jogos a média aumenta. Joguei 39 partidas pelo Inter. Dezenove como titular e 20 como reserva. Dez vezes como reserva eu entrei faltando menos de 10 minutos. Tenho 42 minutos por partida em média. O titular joga 90 ou 95 minutos. A média de gols é 277 minutos para cada gol. A cada quase três partidas. Ou seja, a cada três partidas o Rafael faz gol”, disse o atacante.

Depois das contas confusas, Rafael Moura ainda fez comparações com companheiros e criticou o desempenho de outros atletas do Internacional. Em duas respostas, portanto, ele foi tão confuso quanto indelicado.

Rafael Moura também criou conteúdo. Depois da entrevista coletiva, as explicações dele reverberaram mais do que se ele simplesmente tivesse tido uma reação mais amena. A questão é: qualquer tipo de conteúdo interessa?

Foi essa a principal dúvida suscitada por um texto de Cassio Politi, diretor de content marketing da agência Tracto. Ele publicou o conteúdo no dia 17 de janeiro, com o título “Se publicidade também é informação, velório também é evento”.

O texto de Politi foi motivado por essa frase, que foi dita por André Rosa, jornalista e referência profissional. Essa conclusão surgiu a partir de uma discussão dos dois sobre o slogan de uma rádio: “publicidade também é informação”.

Politi questiona essa ideia. Segundo ele, informação pressupõe aspectos como isenção e motivação noticiosa. Publicidade, por sua vez, é um conteúdo comercial e busca vender ideias, conceitos ou produtos.

O texto tem um exemplo oriundo do esporte. Em 2012, o atacante Wayne Rooney publicou na rede social Twitter uma resolução de ano novo. Ele enumerou objetivos para a temporada, e então encerrou a mensagem com a hashtag #makeitcount.

A tal hashtag era, na verdade, um selo de uma campanha da Nike, fornecedora de material esportivo do atacante. O caso repercutiu mal a ponto de a empresa ter sido denunciada e obrigada a banir a campanha da rede social.

Com exemplos como esse, Politi discute a relação entre publicidade e informação. A conclusão dele é que são conteúdos diferentes, que não podem sequer transitar em plataformas semelhantes. “Se você misturá-los, o público vai perceber. E não vai perdoar”, escreveu o executivo.

E o que isso tem a ver com Peyton Manning e Rafael Moura? Os dois mostraram, em diferentes caminhos e com visões absolutamente distintas, que é possível incutir conteúdo em um leque enorme de cenários.

Manning e Moura não fizeram publicidade. Eles só mostraram que as plataformas não têm de ser tão puras assim. Desde que isso seja transparente e que o público entenda, é claro.

Eu costumo citar sempre uma entrevista coletiva do ex-jogador Ronaldo “Fenômeno”. O maior artilheiro da história das Copas do Mundo, que na época defendia o Corinthians, tinha acabado de fechar um contrato com a empresa de telefonia Claro. Na conversa com jornalistas, trocou todas as respostas afirmativas por um “É claro”.

A ação de Ronaldo foi sutil. Provavelmente, ele e a empresa sequer discutiram isso. Mas o então atacante mostrou de forma precisa o quanto o esporte pode interligar as plataformas.

Esporte é conteúdo, e a comunicação precisa saber aproveitar isso. Sobretud
o porque esse ambiente tem capacidade de aproveitar o aspecto emocional dos consumidores.

Voltando ao futebol americano, um time campeão do Super Bowl, jogo que decide a NFL, costuma disponibilizar imediatamente um pacote com mais de 200 produtos alusivos ao título. Tudo isso no estádio.

Agora imagine: se você for a um estádio ver um jogo do seu time, acompanhar a conquista de um título e tiver 200 opções de produtos oficiais sobre a conquista, qual é a chance de você não comprar ao menos um chaveiro?

Publicidade pode ser informação, sim. Pode ser conteúdo. O futebol é um exemplo do quanto as boas histórias e a relação com o consumidor ajudam a vender.