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Um dia a conta chega

Em março deste ano escrevi um texto aqui, na Universidade do Futebol, para abordar a questão da estratégia nos clubes do futebol brasileiro. O título era: “por que tantos problemas?”. No breve estudo, havia uma comparação dos cargos e funções de clubes de futebol comparado com uma empresa de entretenimento.

Meses depois, vemos, seguidamente, processos e tomadas de decisão de boa parte dos clubes sendo feitas sem o mínimo de análise. Não se está aqui cobrando algo robusto e refinado, como, na verdade, deveria se fazer. Mas sim, fazer o mínimo. O último caso é o da relação-relâmpago entre Fluminense e Ronaldinho Gaúcho.

Este é o típico caso, comum ainda em muitos clubes, da falta de visão holística sobre o negócio a qual estão inseridos. Olhar, de forma reduzida, para a entrada e saída de um jogador em um curto período de tempo como o único “problema” é ter-se uma visão míope do todo. Achar que o problema foi simplesmente técnico ou comportamental, impactando apenas na performance da equipe (ou nem isso), é seguir olhando para um clube de futebol apenas como uma célula esportiva e não uma instituição.

A visão estratégica nas organizações esportivas serve não apenas para olhar balanços, receitas e despesas, projetos de patrocínio ou fazer análise do mercado. Serve para tomar decisões criteriosas desde a atividade-fim, que é o futebol, em que se precisa explicar os porquês das escolhas de treinadores, comissão técnica, equipe multidisciplinar e elenco, até se chegar no relacionamento com torcedores, patrocinadores e mídia.

Tudo tem um “porque”! Tudo isso é combinado e deve pertencer ao todo. Para a conta não vir salgada em poucos meses ou anos, é fundamental virarmos urgentemente essa chave. Não se pode mais admitir, com tudo o que já se sabe e as inúmeras possibilidades de acesso à informação, que células de uma organização tomem decisões isoladas que impactam negativamente o todo. Precisamos evoluir para, no mínimo, errarmos erros novos…

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O cabelo de Neymar

Sexta-feira, 25 de setembro: a Procuradoria da Fazenda Nacional conseguiu na Justiça o bloqueio de R$ 188,8 milhões de Neymar, da família dele e de empresas ligadas ao atacante. Sábado, 26 de setembro: o Barcelona, que vinha de uma derrota por 3 a 0 para o Celta, jogou contra o Las Palmas no Campeonato Espanhol. Lionel Messi saiu machucado logo aos 3min do primeiro tempo, e Luis Suárez foi decisivo na vitória por 2 a 1. Neymar não teve uma finalização perigosa sequer, perdeu um pênalti e chamou mais atenção pelo novo estilo de cabelo (raspado, sem os fios alisados que marcaram quase toda a trajetória dele no futebol profissional).

A história de Neymar nos dois dias citados é um bom exemplo do quanto os componentes não podem ser isolados. Temos uma tendência a compartimentar e enxergar atributos como se fossem universos no futebol – discutimos tática, físico, psicológico e comunicação como se fossem coisas que se sustentassem sozinhas, sem influência no todo. Esquecemos muitas vezes que o esporte, como a vida, é feito sempre de ligações complexas e interdependentes.

Neymar pode ter tido outras tantas razões para cortar o cabelo, mas é nítida a tentativa de desviar um pouco o foco. O atacante sempre chamou atenção pelo visual, e raspar a cabeça antes de um jogo era uma forma de criar uma agenda positiva, desviando um foco que poderia ser totalmente direcionado aos problemas judiciais decorrentes da transferência do Santos para o Barcelona em 2013.

A estratégia usada por Neymar repete o que foi feito pelo brasileiro Ronaldo na Copa do Mundo de 2002. Antes da semifinal contra a Turquia, o camisa 9 tinha uma lesão e alguma chance de sequer entrar em campo. Para que isso não fosse assunto, raspou o cabelo de uma forma inusitada, criando um visual eternizado como “cascão”. Ninguém mais falou sobre o problema físico.

As pessoas podem até ter falado mais do cabelo do que dos problemas judiciais, mas Neymar não estava totalmente concentrado. O desempenho irregular do atacante do Barcelona na partida contra o Las Palmas é reflexo direto de algo que provém do fora do campo. É impossível dissociar a cabeça e o corpo de um atleta.

No altíssimo rendimento, qualquer fator tem enorme peso. Um filho doente, uma dívida não paga, uma dor de dente ou um futuro incerto podem influenciar diretamente no desempenho de um atleta de qualquer modalidade. A situação é mais clara em esportes com valências únicas – os segundos que determinam destinos no atletismo ou na natação, por exemplo –, mas interfere em qualquer realidade.

Entender essa relação sistêmica de causa é fundamental para evitar injustiças. Jogadores de futebol podem jogar partidas seguidas ou entrar em campo em momentos difíceis para eles, mas não falamos aqui sobre “conseguir fazer”; falamos sobre “ser submetido a um nível extremo de cobrança interna e externa”.

Atletas não são máquinas, ainda que cobremos deles um desempenho próximo a isso. São seres humanos, e seres humanos são influenciados por uma série tão grande de fatores que é praticamente impossível controlar.

Na comunicação ou na análise de desempenho, a cobrança precisa ser para minimizar erros. E minimizar erros quase sempre é um processo mais eficiente quando feito de forma coletiva, sem pensar apenas em vilões ou culpados.

Nesse caso, mais uma vez, o Barcelona de sábado serve como exemplo. Neymar estava em jornada ruim por causa de problemas pessoais e Messi saiu machucado, mas o Barcelona tinha alternativas e conseguiu vencer. É uma metáfora perfeita de gestão de projetos (preparar seus pontos fortes, avaliar seus adversários, colocar força máxima e ter alternativas para o caso de algumas dessas virtudes não funcionarem).

Precisamos entender que futebol não é tática, técnica, físico, psicológico ou outros aspectos. Futebol é tudo isso junto, em conexão, com relações que fogem do controle ou da compreensão.

Entretanto, nós ainda vivemos numa realidade em que as coisas são analisadas de forma separada no futebol. Vivemos num período em que todas as mídias vivem de estatísticas, telões com imagens paradas e fotografias de lances. São coisas isoladas, que podem ter diferentes pesos de acordo com o contexto. Vivemos num período em que o contexto interfere bem menos do que deveria.

O caso do pênalti da Série D

Palmas-TO e Remo-PA fizeram no sábado (26) uma partida válida pelas oitavas de final da Série D do Campeonato Brasileiro. Jogando em Palmas, o confronto estava empatado sem gols até os 45min do segundo tempo, quando Whashington invadiu a área pela direita e se atirou no gramado. O árbitro Avelar Rodrigo da Silva anotou pênalti, e Dan deu a vitória aos donos da casa em Tocantins.

O lance foi absolutamente bizarro. Whashington não tinha rivais sequer próximos de seu corpo, e o árbitro Avelar Rodrigo da Silva cometeu um erro que pode interferir no futuro da competição.

Contudo, o maior erro foi o do jogador do Palmas. Num ambiente em que todo fator tem enorme peso e pode interferir no todo, uma tentativa tão deliberada de ludibriar e tirar vantagem é uma ofensa a todo mundo que trabalhou para obter o alto rendimento.

Criar agenda positiva é um dos desafios mais concretos que a comunicação tem no esporte atualmente. Criar agenda positiva num cenário em que os protagonistas são tão dúbios e cometem ações de falta de caráter é ainda mais difícil.

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Entenda o mecanismo de solidariedade por formação de atleta

Com o objetivo de incentivar o surgimento de futuros jogadores, a Lei Pelé e os regulamentos da Fifa asseguram ao clube formador o direito de obter resultado financeiro pela formação do atleta.

Entretanto, para ter direito ao “mecanismo de solidariedade”, o clube precisa atender de forma concomitante aos seguintes requisitos:

• Fornecer programa de treinamento nas categorias de base;

• Fornecer complementação educacional;

• Estar com o atleta em formação inscrito por pelo menos um ano;

• Comprovar que utilizou o atleta em competições oficiais;

• Garantir assistência educacional, psicológica, médica, odontológica, bem como alimentação, transporte e convivência familiar;

• Manter alojamento e instalações desportivas em condições adequadas;

• Manter corpo de profissionais especializados;

• Ajustar o tempo destinado a efetiva formação (nunca superior a quatro horas diárias) ao horário escolar, exigindo do atleta presença e satisfatório aproveitamento;

• Ser a formação gratuita para o atleta, ou seja, às expensas do clube;

• Comprovar que participa, anualmente, em pelo menos duas categorias de campeonatos oficiais.

O clube que atender a todos os requisitos terá o direito a 5% do valor de cada transferência do jogador.

Na hipótese de haver mais de um clube formador, o valor da indenização é partilhado: 1% para cada ano de formação do atleta, dos 14 aos 17 anos; 0,5% para cada ano de formação do atleta, dos 18 aos 19 anos.

Com o objetivo de agilizar o burocrático processo de comprovação dos requisitos, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) tem certificado os clubes que os comprovarem como Entidade de Prática Desportiva Formadora.

Dessa forma, no momento da transferência, basta o clube formador apresentar o “certificado” e a comprovação de que aquele atleta foi formado por ele.

O direito ao recebimento do “mecanismo de solidariedade” pode ser realizado mediante acordo diretamente com os clubes que transacionaram os direitos do atleta, ou, em caso de inadimplência, pleitear junto à entidade máxima do futebol.

Interessante observar que a Lei Pelé tem redação bastante similar ao que estabelecem as normativas da Fifa, o que viabilizam as indenizações por transferências nacionais e internacionais.

Urge destacar que, recentemente, a Fifa determinou que os pedidos de valores oriundos do “mecanismo de solidariedade” passem a tramitar de forma eletrônica pelo seu sistema TMS, o que trará uma rapidez ainda maior.

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Emoções à flor da pele

Ao entrarmos no último terço do Campeonato Brasileiro, com equipes que estão mais distantes da melhor performance esportiva e consequentemente das vitórias, um tema sempre vem à tona: as condições emocionais do grupo em momentos de crise e recuperação.

Já comentei anteriormente em outras colunas assuntos sobre o sequestro emocional, o estresse e os benefícios do gerenciamento das emoções por parte dos atletas e de todos os envolvidos na prática esportiva.

Existem formas de desenvolvermos um melhor controle de nossas emoções, como também existem formas para desenvolvermos uma eficiente prevenção do sequestro emocional. É igualmente possível gerenciar os níveis de estresse dos atletas e do elenco. Existem exemplos de aplicação prática desses assuntos e aqui não vou me concentrar nesse aspecto.

A reflexão de hoje está apoiada sobre o momento no qual deve-se recorrer a alguma forma de desenvolvimento humano para que os atletas possam se preparar para os momentos de crise e falta de bons resultados dentro de campo, bem como se prepararem para os momentos de decisão na parte de cima da tabela dos campeonatos ou nas fases finais de Copas que disputam.

Todo trabalho emocional pode ser mais assertivo quando feito de maneira prévia a estes momentos, com isso torna-se mais valioso e sustentável e duradouro para aqueles que recebem este tipo de trabalho de desenvolvimento. Porém, muitos atletas e equipes de futebol também conseguem responder muito bem aos trabalhos feitos em momentos difíceis, muitas técnicas e ferramentas são utilizadas para que se busque fortalecimento mental, aumento dos níveis de consciência e aumento da confiança.

Neste aspecto, talvez seja por este motivo, que mesmo de forma reativa, os clubes atualmente estejam cada vez mais contratando coaches com objetivo de realizar um trabalho sério de coaching para contribuir com busca por melhores desempenhos esportivos. Relembrando a definição de coaching, este é um processo eficaz que alavanca as mudanças, despertando o máximo potencial e colaborando para que os atletas, equipes e instituições alcancem suas metas e objetivos.

Com isso, aqueles clubes que ainda não experimentaram a aplicação deste valioso processo de desenvolvimento humano, e estão passando por momentos delicados nas competições que disputam, podem lançar mão desta disciplina dentro do esporte para somar com os esforços das demais disciplinas técnicas, táticas, fisiológicas e psicológicas para promover um adequado desenvolvimento dos seus atletas de futebol. Afinal de contas, ainda faltam muitos jogos a disputar e com certeza muita água ainda vai passar debaixo desta ponte.

Até a próxima.

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Criar, copiar ou adaptar?

 As movimentações políticas dos clubes nos últimos meses estão no sentido de recriar as ligas regionais. Ganhou força especialmente a partir da Copa Sul-Minas e a inusitada adesão de Flamengo e Fluminense a este processo. Do lado das federações e da Confederação, naturalmente, o movimento é contrário. E, assim, começa mais um (velho) novo imbróglio do futebol brasileiro.

O mais interessante de tudo isso é que um movimento destas proporções, em pleno Século XXI, poderia ter como cerne as questões de mercado, que precisam ser efetivamente melhor debatidas em todas as esferas. No entanto, trata-se de mais um debate movido, dominado e amparado por um jogo ainda extremamente politizado, o que é lamentável, à medida que a concorrência de clubes europeus e de outras plataformas de entretenimento têm ocupado um espaço deixado justamente pela ineficiência na visão sobre os negócios do nosso futebol.

Quando se tenta falar de negócios, os argumentos redundam para uma lógica que tenta copiar ora o modelo americano, ora o modelo europeu. E, muito por isso, tem dificuldade de se desenvolver e ganhar corpo por não combinar com a nossa cultura, tampouco com o sistema político das nossas organizações esportivas. Aqui, vale uma ressalva para não parecer redundância: o DEBATE sobre o modelo não deveria ser político mas, nem por isso, é preciso anular completamente a questão política para se constituir e propor um novo modelo. Eis uma sútil diferença, mas que muda completamente a lógica de raciocínio para se construir e se propor um formato realmente consistente e aplicável.

O grande erro tem sido no sentido de se pensar em ideias mirabolantes que desrespeitam os poderes previamente constituídos. Assim, ficamos em um jogo de empate sem gols, uma vez que aqueles que querem mudar ferem princípios básicos de respeito às instituições.

Pensando em tudo isso, recentemente, procurei fazer um desenho daquilo que acredito ser o modelo mais adequado para as estruturas do futebol brasileiro, buscando criar sinergias entre os modelos americano, europeu e brasileiro para se chegar em um formato adequado para a nossa realidade. Novamente, aqui tem mais uma sútil diferença: não pensei em pegar o formato de comercialização de direitos de transmissão de um e juntar com o calendário de outro. Não é assim que as coisas vão funcionar. Não é juntando as partes que chegaremos no todo.

A visão deve ser holística porque é preciso compreender cada modelo de negócio para se construir um próprio, incluindo-se a análise do nosso modelo dominante e das nossas características econômicas e sociais, que impactam diretamente na forma de gestão e financiamento da grande maioria dos clubes.

Lógico que, para ser completo, o passo ideal para a construção de um modelo é o de diálogo com todos os entes envolvidos (incluindo os que poderão vir no futuro a se relacionar com o negócio) e, a partir daí, propor algo que combine realmente com o que precisamos fazer e implementar em prol do nosso mercado.

Hoje, boa parte das propostas que aparecem não são aplicadas porque olham tão somente para um dos lados. Muitas vezes, o próprio umbigo. Logicamente, a reação contrária vem daqueles que não participaram do processo. A falta de alinhamento entre todas as partes é o que reforça a oposição à mudança.

A longa introdução serve para pautar a base de constituição de um modelo. E ele precisa necessariamente ser ousado por pretender quebrar paradigmas. Respeita, no entanto, as instituições esportivas e o poder emanado por elas, o que é fundamental para este processo.

Em síntese, propõe-se que o sistema como um todo funcione pautado em quatro ligas regionais, sendo que duas delas já existem (a Nordeste e a Verde) e as outras duas seriam recriadas (a Sul-Minas e a Rio-São Paulo). Elas seriam a base para se constituir uma hierarquia efetiva de competições em que uma competição alimenta a outra, até se chegar em um Campeonato Brasileiro. O acesso e o descenso também é hierárquico, ou seja, na base da pirâmide, e não na ponta, como ocorre hoje.

Em outras palavras, a ideia é que as Ligas Regionais se transformem no pilar básico para o sistema. O acesso às Ligas Regionais se daria pelos Campeonatos Estaduais, que funcionariam como a 2ª Divisão de cada Liga Regional, ou seja, cada Liga Regional poderá ter 2, 4, 10 ou até 11 “segundas divisões”. Para acessar a Liga Regional no ano seguinte, os clubes melhores classificados nos Campeonatos Estaduais precisariam disputar um “Torneio de Acesso” contra os clubes rebaixados na Liga Regional. Tudo isso ocorreria em um mesmo ano: os Estaduais e as Ligas Regionais acontecendo de forma simultânea; posteriormente, os Torneios de Acesso e os Campeonatos Brasileiros.

Para o Campeonato Brasileiro, a vaga deve ser conquistada todos os anos, a partir das Ligas Regionais. A quantidade de clubes classificados de cada Liga Regional respeita as tradições regionais e a força dos principais clubes – naturalmente, as Ligas Sul-Minas e Rio-São Paulo teriam, proporcionalmente, mais vagas no torneio principal do que as demais (a questão, aqui, é numérica e não emotiva!).

Este desenho foi pensado para preservar os grandes clubes e, ao mesmo tempo, gerar interesse deles sobre as Ligas Regionais associado com as expectativas dos clubes de médio e pequeno porte. Mal comparando, chega a ser uma adaptação do modelo americano, em que as franquias devem conquistar a vaga para os playoffs a partir de suas divisões todos os anos, independente do título conquistado no ano anterior. Podem, inclusive, ser campeãs das respectivas divisões tal e qual se propõe nas Ligas Regionais. Para este modelo, o conceito de playoffs é substituído pelo do Campeonato Brasileiro, mesmo que este último não seja jogado apenas em formato de mata-mata (é apenas o conceito). A grande diferença do sistema como um todo é que lá se trata de uma liga fechada e aqui seriam quatro ligas abertas, com princípios esportivos.

Assim, o famoso “Campeonato de Pontos Corridos” seria a Liga Regional. É ela que irá garantir o calendário para a grande maioria dos clubes. O Campeonato Brasileiro não seria diminuído por conta disso. Pelo contrário. Ele se transformaria na grande estrela do modelo de negócio. Essa é a grande quebra de paradigma. Não porque é um campeonato mais curto em tempo que é, por isso, menos importante. Temos potencial de torná-lo, neste formato, um produto tipo exportação, ampliando-se as oportunidades de desenvolvimento de novos negócios e competindo como um produto globalizado.

Neste desenho, a responsabilidade de realização dos Campeonatos Estaduais continuaria sendo das Federações, sendo jogado por todos os clubes, menos aqueles que disputam as Ligas Regionais; dos Torneios de Acesso e das Ligas Regionais seria gerido e operado por uma personalidade jurídica a ser constituída por uma hol
ding entre os respectivos clubes e as respectivas federações de cada Liga, em um modelo de governança previamente definido e padronizado entre todas elas; e o Campeonato Brasileiro continuaria sendo feito pela CBF.

Esta constituição, talvez, seja a mais polêmica. Os mais radicais não querem ouvir falar de federações e Confederação envolvidas na organização de competições locais. Em certa medida, estão certíssimos. Mas a realidade é outra. Querer mudar este status a qualquer custo tem sido o maior tiro no pé destes que defendem a mudança.

Importa lembrar, ainda, que sequer falei de Copa do Brasil ou das competições sul-americanas, que formam um capítulo à parte. Tampouco da construção de oportunidades para realização de jogos e torneios festivos em âmbito internacional. São capítulos complementares e importantes para a construção de todo o sistema, que prevê um mínimo de 6 meses de atividades para todos os clubes e um máximo de 9 para aqueles que fizerem todas as etapas finais da grande maioria das competições.

Enfim, tem muito mais detalhe técnico para a análise feita até aqui. Procuro explicar muitos porquês em todo este emaranhado de negócios que foi sinteticamente descrito em uma proposta à parte. Vou parar por aqui para não parecer mais uma série de divagações sem fundamentos. O breve relato está pautado em um desenho mais completo que fiz, estando igualmente defendido com números e informações que considero fidedignas e, portanto, qualificadas.

Para quem quiser aproveitar estas reflexões iniciais para aprofundar e ampliar o debate em torno de um novo modelo, bem como trocar algumas ideias já construídas, estou à disposição pelo geraldo@universidadedofutebol.com.br. Não ouso pretender virar o modelo de cabeça para baixo… Mas contribuir minimamente com algumas destas provocações para a mudança podem fazer sentido para o futuro do futebol brasileiro.

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O estádio de futebol não é feito para você

Poucas coisas são mais mentirosas no Brasil do que “pesquisas” sobre torcidas. São números inflados, que disseminam conceitos distorcidos e atrapalham qualquer análise sobre potencial dos clubes nacionais. E isso tem reflexo direto nos estádios.

Segundo pesquisa “Lance!/Ibope” de 2014, por exemplo, o Flamengo tem 32,5 milhões de torcedores. O Corinthians, segundo colocado no ranking, possui 27,3 milhões. Somados, os dois representam quase 25% da população brasileira. Mesmo assim, nenhum deles consegue ocupar totalmente o estádio.

Na soma de toda a temporada, a ocupação média do Corinthians como mandante é de 67% – no Brasil, o time alvinegro perde apenas para o rival Palmeiras, que tem registrado 68% de lugares tomados em sua arena. O Flamengo atua num estádio maior e preenche apenas 36% dos assentos.

Líder nacional em receita bruta com bilheteria neste ano, o Corinthians já amealhou R$ 59 milhões. Ainda que esse montante seja destinado a um fundo para custear a construção do estádio da equipe paulista, isso representa 22,8% da arrecadação de 2014 (R$ 258,2 milhões). O percentual não é tão diferente da realidade do Real Madrid, dono do maior faturamento do futebol mundial (549,5 milhões de euros, ou R$ 2,4 bilhões, dos quais 21% são oriundos de match day e incluem venda de ingressos).

O incremento de receita é uma das necessidades prementes no futebol brasileiro. Para aumentar o bolo e manter a relevância da bilheteria, é fundamental que os clubes trabalhem em duas frentes: ocupar mais os estádios e fazer com que as pessoas ali gastem valores maiores.

Aí entra uma transição que tem gerado ruídos no Brasil. Desde a profusão de novas arenas para a Copa do Mundo de 2014, surgiu um movimento contra a elitização e a higienização dos estádios. As necessidades comerciais e o perfil advindo disso simplesmente não eram condizentes com o público que sempre frequentou esses espaços.

Em vez de uma simples preocupação, porém, esse movimento foi abordado quase sempre com viés saudosista. Sobretudo porque os formadores de opinião no esporte são provenientes de uma das menores faixas entre os torcedores, que é o grupo composto pelos verdadeiramente apaixonados e devotos – algo como 5%, segundo as “pesquisas”.

A mudança de perfil dos estádios abriu uma série de possibilidades. É um processo que ainda não foi concluído e que está longe de render aos clubes o que é possível ou necessário. A receita de match day no Brasil ainda é risível – quantas pessoas saem de um estádio com um souvenir do jogo ou de seu time?

Entretanto, enquanto a discussão for apenas sobre o modelo, seguiremos aquém do potencial. Aqui entra uma lógica difícil, mas necessária: o estádio não é feito para você. Você pode tratá-lo como segunda casa, mas não é um espaço pensado para necessidades individuais ou perfis menos numerosos. A inclusão não pode ser feita pela falta de qualidade.

A transformação dos estádios no Brasil tem de ser acompanhada de um pensamento mais inclusivo. As arenas precisam comportar pessoas com diferentes perfis se os clubes quiserem ocupação e faturamento. A questão é que atender aos interesses de todos esses grupos passa por modelos mais genéricos.

O torcedor fanático pode reclamar de um estádio que tem “câmera do beijo”, “telão HD” ou “comidas refinadas nos bares e restaurantes”. O novo torcedor pode reclamar dos assentos duros, do serviço precário e da limpeza deficiente. Nenhum deles está sendo bem atendido, e a lógica individualista só aumenta essa insatisfação.

O estádio é um ambiente coletivo, e os clubes precisam disso. O tíquete médio cobrado no Brasil pode ser abusivo e pode contribuir para a elitização, mas a discussão não é apenas sobre isso. O ingresso é caro, o serviço não é condizente com o valor, mas a ótica do torcedor também precisa ser preparada.

É aí que entra uma questão nevrálgica para a comunicação nos estádios. A torcida precisa ser preparada para entender essa mudança de perfil como algo positivo, e não apenas como uma tentativa de mudar o perfil do público que frequenta as arenas. Hoje temos um ranço contra qualquer tentativa de entretenimento como se residisse aí a natureza da elitização do futebol.

A inflação do custo de ingressos no Brasil é fruto de uma série de outras coisas. Clubes cobram muito porque não conseguem obter outras receitas nos estádios, porque não conseguem encher as arquibancadas e porque têm dificuldade para arrecadar em outras fontes, por exemplo. Cobram mais porque é mais fácil. Mas de quem eles cobram mais? Que perfil de público eles querem atrair ao estádio? E o que é feito para explicar aos antigos torcedores que essas mudanças são benéficas?

Infelizmente, o futebol brasileiro segue trabalhando com lógica de crescimento orgânico. Apresentamos um espaço diferente ao público e esperamos que as pessoas se adaptem – que muitos deixem de frequentar o espaço e que outros mais afeitos a esse ambiente percebam naturalmente a melhora, talvez.

Para o torcedor, o momento agora é de entender esse processo e começar a conceber o estádio com uma lógica coletiva. Eu posso preferir as arenas de antigamente, mais populares e menos voltadas ao comércio, mas não posso ignorar as necessidades financeiras dos clubes e o perfil de gente que isso atrai para o ambiente.

O estádio de futebol não é feito para você. O estádio de futebol é um espaço para gerar negócios, e por isso precisa ser inclusivo e atender a necessidades de diferentes perfis de público. Os clubes estão errados também por não fazerem algo para que os torcedores abandonem a lógica individualista.

O erro de não falar

Zeca fez um pênalti escandaloso em Vagner Love no clássico Corinthians x Santos, no último domingo (21). O árbitro Flavio Guerra não viu o lance, mas anotou a infração após ter sido avisado por um auxiliar. Depois errou ao expulsar o zagueiro David Braz.

Imagens mostradas pela “TV Globo” e pelo canal fechado “Sportv” são indícios fortíssimos de que Guerra expulsou David Braz porque achou que a infração tinha sido cometida pelo zagueiro. Na súmula, porém, o árbitro disse que deu o vermelho direto ao defensor por causa de reclamações e xingamentos.

O erro dos santistas é gritante. Zeca deveria ter assumido a infração. Os companheiros dele deveriam ter indicado o autor. O silêncio da “malandragem” só contribuiu para que um erro fosse consolidado e prejudicasse um inocente.

Em sequência, Guerra errou. As câmeras mostram que a versão da súmula foi criada posteriormente para preencher lacunas e explicar algo q
ue não aconteceu. Mais uma vez, a honestidade perdeu feio.

Nas arquibancadas ou nos campos, passou da hora de entendermos de que não podemos pensar apenas no próprio umbigo. Precisamos entender que a vida em sociedade pressupõe pensamento voltado ao bem coletivo, e a honestidade é uma das bases para isso.

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Atividade extracampo: a análise do clássico estadual

Nos anos anteriores foram publicadas duas colunas que tinham como elemento central da discussão a missão desafiadora de gerir o tempo dos atletas em alojamentos. Caso queira retomar a leitura destes textos acesse: coluna 1 e coluna 2.

Uma frase que ouvi esta semana, de um profissional que estimo muito, me motivou a voltar a escrever sobre o tema. A expressão é a seguinte: “o sistema nos prepara para falhar”. De imediato, percebi o quão impactante é a frase e a inseri nas reflexões sobre o quanto sou responsável, como profissional de categorias de formação, por estimular os jovens jogadores a terem uma visão mais crítica sobre as profissões e sobre seus papéis enquanto cidadãos.

O sistema quer a alienação, a reprodução e a mínima educação. No ambiente do futebol, como uma parcela da sociedade que muito bem a representa, se não tomarmos cuidado, a tendência pode ser (e muitas vezes é) a mesma.

Numa tentativa de ir à contramão do sistema, há alguns meses, o Coritiba Foot Ball Club iniciou um projeto intitulado Formação Integral. Liderado por um dos treinadores das categorias de base, Danilo Benjamim, o objetivo do projeto é envolver todos os atletas em formação do clube (e não somente os alojados) em atividades que extrapolem as duas horas diárias de treinamento de campo.

O projeto prevê uma gama de atividades de cunho cultural, social, esportivo ou educacional, como visitas a museus, teatros, ONGs e projetos sociais; ambientes de debate, leitura e reforço escolar; discussão de filmes e documentários; além de uma série de atividades esportivas, dentre elas, análise de grandes jogos do futebol mundial, análise de grandes jogadores do futebol mundial, palestras nutricionais, médicas, técnicas, jurídicas, etc.

Uma das atividades deste projeto será a análise em tempo real do clássico Atletiba, válido pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série A. Jogadores e comissões técnicas das categorias sub-15, 17 e 19 se reunirão para avaliar tecnicamente um dos maiores clássicos do futebol brasileiro.

O “piloto-automático” que tendemos a operar nos conduziria (comissão técnica e jogadores) ao jogo para acompanhá-lo somente enquanto torcedores. Não será papel da instituição, representada pelos seus profissionais, que em um jogo deste “peso” o envolvimento e participação sejam maiores do que de um torcedor?

Como jogaram as equipes? Qual o volume de passes no campo de ataque? Quem fez mais finalizações certas? O que agradou a torcida? O que desagradou a torcida? Qual foi o elo fraco de cada equipe? Quem deu mais chutões? Quem tomou mais passes por dentro? Quem desempenhou bem as regras de ação da posição? As respostas destas e outras perguntas podem traduzir o porquê do placar final do jogo.

Esta ação traz uma série de desdobramentos positivos para o clube e é mais uma experiência, com impactos diferentes em cada um dos seres-humanos envolvidos na atividade, que tem como objetivo melhorar a formação dos jogadores e dos integrantes da comissão técnica do clube.

Desenvolver um trabalho interdisciplinar, integrar jogadores e comissões de diferentes categorias, estimular o pensamento crítico, aumentar o envolvimento com a instituição e retirar pessoas da zona de conforto é um tanto trabalhoso. Os resultados, no entanto, podem ser surpreendentes.

As vitórias nas categorias de base não devem se resumir ao que acontece dentro das quatro linhas. Parte do futuro da equipe principal, inclusive, depende do que hoje os jovens em formação fazem fora delas.

Que no Atletiba, dentro das quatro linhas, vença o melhor! E que fora das quatro linhas, mais precisamente das arquibancadas, seja computada mais uma vitória para a formação.

Vitória fora de campo que, se bem direcionada, se reverte em vitórias dentro de campo. Engraçado, não é? Ou seria surpreendente?

Até a próxima!

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Clubes podem ser punidos por empréstimo de jogadores

Conhecido como empréstimo, a cessão temporária de jogadores é prática bastante comum no futebol quando determinado atleta que possui contrato válido não está nos planos da comissão técnica. Em muitos casos, o clube que cede o jogador continua pagando parte do salário.

No intuito de não “fortalecer” equipe adversária no confronto direto com os jogadores que estão, de certa forma, vinculados ao clube e, como mencionado, muitas vezes sendo remunerados por ele, os contratos de cessão, na grande maioria dos casos, preveem a impossibilidade de escalar o atleta nas partidas contra o clube cedente, sob pena de multa.

Tal prática veio à tona na semifinal da Champions League de 2014, quando o goleiro Courtois, do Atlético de Madrid, estaria impedido de enfrentar o Chelsea em virtude de previsão no contrato de empréstimo do clube inglês para o espanhol. Naquela oportunidade, a UEFA decidiu que a cláusula era inválida e que eventual insistência do Chelsea em fazê-la valer seria punida. Assim, Courtois entrou em campo.

No Brasil, a cláusula que impede a atuação do atleta cedido contra o clube cedente passou a ser proibida de forma expressa recentemente pelo artigo 33 do regulamento de Registro e Transferência.

Diante disso, a Procuradoria do STJD denunciou nesta semana 12 clubes brasileiros (Vasco, Flamengo, São Paulo, Corinthians, Coritiba, Atlético-MG, Internacional, Grêmio, Goiás, Sport, Cruzeiro e Palmeiras), que podem sofrer multas de cem a cem mil reais.

Ao contrário do que entendem as entidades que administram o futebol, inclusive a FIFA, o “acordo de cavalheiros” que prevê a não atuação do atleta emprestado contra seu ex-clube, além de não violar o “fair play” esportivo e o direito dos atletas, acaba por assegurar estes institutos.

Com relação ao “fair play” financeiro para o desporto de alto rendimento, além de haver lisura nos eventos esportivos, é importante que ele pareça honesto. Não é ético um atleta que recebe salário do clube adversário disputar a partida. Uma atuação ruim ou penalidade desperdiçada pode gerar desconfianças.

No que diz respeito aos direitos do atleta ao trabalho, o “acordo de cavalheiros” permite que ele tenha um mercado maior para o seu empréstimo, eis que o clube cedente não terá receio de cedê-lo e correr o risco de enfrentar um adversário mais forte.

Diante disso, as entidades de prática desportiva ao invés de proibir, deveriam estimular a existência dessas cláusulas nos contratos de empréstimo, a fim de ampliar o mercado de trabalho do atleta e ainda valorizar ainda mais a sensação de lisura das competições.

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Cuidando dos pensamentos do atleta

Relendo recentemente um livro de Augusto Cury que fala sobre pontos a serem melhorados para termos uma vida mais feliz, tive uma reflexão a respeito de como os pensamentos podem ajudar ou atrapalhar a vida dos atletas de futebol.

Para refletirmos conjuntamente sobre o papel dos pensamentos no desempenho dos atletas, se faz valioso entendermos o que significa o tema gerenciar os pensamentos. Isso representa na prática a nossa capacidade para adotarmos uma postura mais protagonista sobre nossa própria vida. No fundo, é conseguir governar a construção dos nossos pensamentos, sendo mais livre para pensar e não escravo de nossos pensamentos. Augusto Cury diz que gerenciar os pensamentos é deixarmos de ser espectadores passivos das ideias negativas que eventualmente tomam conta de nossas mentes.

Pensando nos atletas, vale a nossa apreciação sobre os três aspectos do pensamento que podem prejudicar a capacidade de atingir um melhor desempenho e uma consequente melhor qualidade de vida.

1 – O pensamento negativo. Em geral é curioso como a mente humana pensa coisas ruins, relembra e reforça experiências negativas e ativa preocupações. Por isso estes pensamentos acabam por gerar ansiedade na mente do atleta e estressam seus cérebros. Sobre isso, temos que apoiar o atleta a lidar cada vez melhor com as críticas.

2 – O Pensamento acelerado. É bom sabermos que não apenas o conteúdo negativo dos pensamentos estressa o ser humano, mas também a velocidade de construção dos pensamentos, mesmo quando são positivos. Segundo Augusto Cury, essa é uma grande descoberta, a SPA (síndrome do pensamento acelerado). Ela é caracterizada por ansiedade, insatisfação, inquietação e fadiga. Em relação a isso, podemos apoiar o atleta na construção de momentos para acalmar a mente da agitação cotidiana.

3 – O Sofrimento por antecipação. O pensamento antecipatório é outro grande carrasco de uma vida plena e satisfatória. Todos somos uma espécie que se auto atormenta. Sofremos todos os dias por coisas que ainda não aconteceram e no universo de pressão por resultados que o atleta vive rotineiramente isso se potencializa sensivelmente. Devemos apoiar o atleta a conseguir viver o dia de hoje, pois no ontem nada mais pode ser feito e para o amanhã nada poderá ser vivido por antecipação.

Esta reflexão se faz valiosa, pois nem nós e muito menos os atletas irão conseguir algum resultado extraordinário por pensar demasiadamente. Com isso só acumularão fadiga excessiva e redução percebida de desempenho profissional.

Quero contribuir com estas dicas finais de Augusto Cury para melhor se gerenciar os pensamentos.

1 – Treinar a crítica a cada pensamento negativo nos primeiros cinco segundos que ele for produzido, isso contribui para evitar um registro de memória doentia;

2 – Fazer micro relaxamentos para desacelerar o pensamento na atividade profissional, no trânsito, na vida pessoal;

3 – Praticar o silêncio contemplativo, mudar sua agenda e desenvolver a inteligência emocional para enriquecer a produção de melhores pensamentos.

E aí amigo leitor, também acha que devemos estar atentos ao pensamento dos atletas?

Até a próxima. 

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CEOs da discórdia

 “Ter ou não ter CEO? Eis a questão”! Esta poderia ser uma frase de Shakespeare, mas é a do momento do futebol brasileiro. A grande questão é: qual a importância do CEO? Ou melhor: “uma andorinha faz verão?”.

Eis algumas questões que tem pairado constantemente nos clubes de futebol no Brasil não somente de agora, após a rápida passagem de Alexandre Borgeois pelo São Paulo, que tem tomado os noticiários esportivos e de negócios do esporte nos últimos dias. O tema vem de longa data.

O grande dilema é que a figura dos CEOs modificam as instâncias de poder e os processos de tomadas de decisão nos clubes. Tiram sim o poder de presidentes e diretores estatutários, que se sentem ameaçados pela mudança de seu status quo. A ruptura passa, principalmente, pela acomodação de poderes em um novo modelo de governança.

Por sua vez, um único profissional não é capaz de promover todas as mudanças necessárias em uma entidade esportiva como os clubes de futebol no Brasil. São, geralmente, por característica, entidades que se privam dos melhores especialistas em diferentes áreas por acreditarem que é possível fazer a mesma tarefa por força de trabalho voluntário. Ou pior, só conseguem enxergar a atividade-fim do clube, que é o gol no domingo, e não a atividade-meio, que tende a dar suporte para a perenidade nos resultados esportivos.

São muitos ingredientes para um bolo que costuma azedar. O momento é de reflexão para tentarmos entender onde queremos efetivamente chegar. Se quem paga a conta não trabalhar de maneira mais inteligente visando as mudanças, certamente ficaremos no mesmo lugar… e isso significa ver os nossos concorrentes ocupando um espaço que deveria ser nosso!