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A seleção brasileira e o consumo

A seleção brasileira de futebol venceu os Estados Unidos por 4 a 1 na última terça-feira (08), em amistoso disputado na casa do rival. No entanto, apertado entre assuntos como a luta pela liderança do Campeonato Brasileiro e movimentações de dirigentes para criar ligas regionais na próxima temporada, o jogo acabou sendo um dos assuntos menos relevantes na semana. Sintomático, afinal: quem é o consumidor da equipe nacional e que tipo de produto ele deseja encontrar?

No modelo atual, a seleção brasileira é o principal foco da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A entidade também organiza as competições nacionais, é verdade, mas a equipe que representa o país é o que demanda mais esforço, tem mais gente envolvida e gera mais receita para a instituição. É o time que justifica a enorme quantidade de patrocínios e que atrai receitas crescentes.

Ora, então por que os jogos da seleção repercutem cada vez menos no Brasil?

A resposta tem a ver com o público que a seleção tem abraçado. Nas últimas décadas, a CBF adotou a prática de vender a organização dos jogos da equipe nacional para empresas estrangeiras. Essas companhias pagam um cachê ao time verde-amarelo por jogo e definem aspectos como adversários, datas e locais (tudo isso com aval posterior dos brasileiros).

Foi por causa de acordos assim que a seleção passou anos jogando na Inglaterra. É por causa de acordos assim que o Brasil hoje atua mais nos Estados Unidos do que em casa.

Atualmente, a organização dos jogos da seleção brasileira é da International Sports Events (ISE), empresa que paga à CBF um valor superior a U$ 1 milhão por amistoso. A agência pode explorar todas as receitas das partidas (como bilheteria e negociação de mídia) e exige convocação de força máxima (a cláusula 9.1 do contrato, que fala sobre isso, foi publicada pelo jornal “Estado de S. Paulo” em maio deste ano).

Não é por acaso: as receitas da ISE estão diretamente ligadas à promoção dos amistosos, e a promoção dos amistosos depende das estrelas. É uma relação que pode ser discutida do ponto de vista moral, mas que comercialmente não tem qualquer problema. O problema nessa história é a CBF abrir mão da organização dos jogos de seu principal produto.

Ao fazer isso, a CBF se submete a interesses de uma empresa que tem mercados consumidores muito diferentes dos que a entidade gostaria de explorar. A seleção não apenas joga fora, mas tem uma comunicação totalmente voltada para centros que não são o território local.

A consequência desse afastamento é que a seleção gradativamente tem perdido espaço e interesse no mercado local. É um processo que não é tão simplista assim (a dissociação entre público e equipe também tem a ver com estilo de jogo, resultados, relevância dos atletas e fatores similares), mas é inegável que a CBF, ao abrir mão do controle sobre seu principal produto, perdeu também a chance de dar a ele um perfil adequado aos brasileiros.

Num mercado como o do entretenimento, com uma concorrência tão ferrenha, o que a CBF fez foi apenas adiantar uma parte da receita. No médio e no longo prazo, a estratégia da entidade foi um gigantesco tiro no pé.

Um exemplo disso foi dado na semana passada por uma reportagem publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O texto relata o fechamento da loja oficial da CBF dentro da sede da entidade, que havia sido inaugurada em 2014. O ponto de venda de produtos da equipe nacional tinha faturamento inferior a R$ 10 mil por mês.

Hoje em dia, a melhor comunicação sobre a seleção brasileira é feita pela própria ISE. Em mercados locais, os jogos da equipe canarinho têm promoção e ações para atrair o público. E a CBF, o que faz para ter algo similar em âmbito nacional?

A CBF não faz um trabalho similar sequer com as principais competições que ela organiza, como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Um pouco pela falta de cultura do país, não há promoção por jogo e não há um enorme esforço de comunicação em torno desses eventos.

Por isso, as discussões sobre ligas regionais no Brasil não são apenas gritos por mudanças no atual modelo de calendário do futebol nacional. Clubes estão insatisfeitos com algo que é muito maior do que isso: a inépcia e a inércia de uma entidade que relega a eles todo o esforço de comunicação de eventos de grande porte.

A CBF ainda não entendeu que é responsável por despertar interesse das pessoas para os produtos que ela oferece. A camisa amarela nem sempre é suficiente para isso.

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Elitização do futebol: caminho sem volta?

Nos últimos anos, os preços dos ingressos para os jogos de futebol tiveram um aumento substancial (segundo pesquisa recente, o Brasil tem os bilhetes mais caros do mundo), o que tem gerado calorosos debates acerca da elitização do futebol e do afastamento dos estádios de significativa parte da população brasileira. O debate torna-se ainda mais relevante quando se considera o esporte bretão como parte da cultura brasileira.

O lazer é um direito social consagrado no artigo 6º, da Constituição Brasileira. Além disso, o artigo 217, do texto constitucional, que trata do desporto, estabelece que o Poder Público deverá incentivar o lazer como forma de promoção social. Ou seja, o desporto, inclusive o futebol, correspondem a atividades de lazer que devem ser incentivadas e promovidas pelo Estado. Finalmente, o artigo 227 determina que o Estado assegure à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, direitos fundamentais e, dentre eles, o lazer. Outrossim, o desporto tem a importante função de auxiliar os programas governamentais de saúde e combate à violência.

Importante destacar que o futebol surgiu como pedagogia, nos colégios universitários da Inglaterra vitoriana, ou seja, o futebol, antes de tudo, é pedagogia, ou seja, uma instância instauradora e promotora de valores.

Neste sentido, o sociólogo Maurício Murad, no livro a violência e o futebol (editora FGV, Rio de Janeiro, 2007) aponta experiências bem sucedidas de uma prática desportiva utilizada de forma pedagógica sócia como: o basquete da meia-noite, nos EUA, com equipes de “menores abandonados”; a Vila Olímpica da Mangueira, no Rio de Janeiro, que retira do vício e do crime um número considerável de jovens expostos à marginalidade; o Deporte para los Desplazados, na Colômbia, situado na área central do narcotráfico, em Medelin; o futebol feminino no Irã, um espaço onde as mulheres se despem orgulhosamente de coberturas negras que as escondem, desde o rosto até aos pés, e assim denunciam hábitos e dogmas; o futebol de integração em Cabul, onde também as mulheres ousam enfrentar os estigmas de uma cultura milenar, que as subvaloriza e que as escraviza; os clubes de “torcidas organizadas”, no Japão, “com um total de 67% dos seus integrantes, composto por crianças e por mulheres”, que não permite que os jogos tenham um ambiente nervoso, tenso, impulsivo; o futebol ecumênico no Líbano, com disputas ardorosas entre equipas das três grandes religiões monoteístas e em que um altíssimo grau de religiosidade se casa com imensa tolerância.

Por outro lado, o desporto de alto rendimento, especialmente, o futebol demandam altíssimos investimentos e a receita das bilheterias é essencial para sua manutenção. As equipes possuem orçamentos de milhões de reais mês a mês para manterem bons times e as atividades. Além disso, os torcedores querem que seus clubes de coração mantenham craques em seus elencos e que disputem títulos, o que, seguramente, não custa barato.

Como qualquer espetáculo de qualidade, o futebol tem um custo muito alto e que deve ser arcado por seus “clientes” como ocorre, por exemplo nos grandes shows de estrelas internacionais. O Estatuto do Torcedor, por sua vez, traz uma série de exigências no que diz respeito à infraestrutura e ao conforto dos torcedores que acabam por impulsionar os preços dos ingressos.

Apesar do incrementos nos preços dos ingressos, o futebol brasileiro continua perdendo suas principais estrelas para os grandes clubes europeus e os clubes permanecem endividados.

Seria, então, a elitização do futebol brasileiro um caminho sem volta?

Sob o ponto de vista econômico e de viabilidade de um futebol de alto nível e de alto rendimento, a elitização mostra-se como um caminho sem volta, já que os clubes devem ofertar seu espetáculo com a venda de ingressos com preços compatíveis aos investimentos realizados. Outrossim, ao fixar os valores dos bilhetes, as entidades desportivas devem observar critérios e preços que permitam uma curva ascendente de receita e não uma descendente.

Já, sob o ponto de vista social, é possível, por meio de projetos governamentais, reverter a elitização do futebol. O primeiro passo foi dado, eis a “MP do Futebol”, determina que os clubes de futebol, que renegociarem suas dívidas fiscais com o governo, mantenham “oferta de ingressos a preços populares”. No entanto, a lei não estabelece os valores e forma de concessão dos preços populares.

Portanto, para se impedir a irreversível elitização do futebol e, ainda, utilizá-lo de forma pedagógica, o Poder Público, no exercício de seu dever constitucional, deve criar meios e programas que permitam aos clubes oferecer ingressos populares e, ao mesmo tempo manter a receita necessária para sua manutenção em alto nível. 

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Futebol ético?

Estamos vendo, rodada após rodada, no Campeonato Brasileiro de futebol, sucessivos erros de arbitragem e o consequente enxame de reclamações e discussões sobre os impactos destes erros nos resultados das partidas de futebol.

Mas, eventualmente, nós nos perguntamos se os clubes não acabam por serem tentados, através de seus interlocutores, em utilizar estas falhas de arbitragem como forma de esconder outros problemas internos em suas instituições esportivas.

Penso particularmente que sim, pois se o volume de reclamações contra a arbitragem cresce e ganha espaço exponencialmente. Por qual motivo o mesmo volume de retratações ou reconhecimentos de tais benefícios não cresce na mesma proporção?

Ou seja, será que nos falta mais ética no meio do futebol? Será que o lúdico do jogo perdeu definitivamente para a necessidade desesperada de vitórias e de sucesso das instituições esportivas? O falado Fair Play nestas situações é deixado de lado quando os erros de arbitragem acontecem?

Quando este erro acontece, o beneficiado geralmente não o reconhece e por este motivo igualmente não se pronuncia a respeito, se reserva o direito da palavra como que se o problema fosse apenas do outro clube e do trio de arbitragem de uma determinada partida. Aí talvez esteja um dos nossos problemas, não apenas dentro do futebol, mas dentro de nossa própria sociedade. Não nos respeitamos o suficiente e infelizmente buscamos intensamente a busca pela vantagem, mesmo que essa seja ilícita e que infrinja os direitos do outro que muitas vezes chamamos de coirmão.

Relembrando a definição de ética, por Mario Sergio Cortella, podemos endente-la como o conjunto de valores e princípios que usamos para definir nossa conduta. É a arte de responder a três grandes questões da vida: Quero?; Devo?; Posso? Ou seja, é a forma como lidamos com as questões sobre: Nem tudo que queremos, é possível fazermos; nem tudo que podemos, nós devemos fazer e nem tudo que devemos, nós podemos fazer. Ainda, de acordo com Cortella, nós estamos em paz de espírito quando aquilo que queremos é ao mesmo tempo o que podemos e o que devemos fazer.

Ou seja, a ética corresponde a teoria sobre a conduta que devemos ter em relação aos assuntos da vida cotidiana. É sobretudo a nossa capacidade de fazer escolhas e quando nossas escolhas deixam de refletir uma atitude integra e transparente podemos deixar de ser éticos.

Então, compreendendo que o jogo de futebol acontece num universo de uma disputa esportiva baseada no lúdico e mais, se entendermos que os próprios atletas mudam constantemente de clubes no futebol brasileiro, chega o momento de termos uma nova conduta em relação ao que acontece para todos os clubes de futebol. Afinal, o quão ético somos no futebol, se quando o erro nos beneficiam ficamos calados e felizes pelo simples fato de termos obtido a vitória numa determinada partida? Quer dizer que somos éticos apenas quando o erro não nos beneficia?

Neste ponto, podemos dar partida a uma nova reflexão a respeito, talvez seja o momento para o qual estejamos prontos a iniciar uma jornada de conduta mais adequada para o meio que atuamos: o esporte. E você amigo leitor, o que acha sobre o tema? 

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Arbitragem

O que temos a ver com a arbitragem? Tudo! As polêmicas recentes com arbitragem no Campeonato Brasileiro impressionam não exatamente pelos erros, mas sim pelas atitudes e comentários em torno de um problema crônico, que continuará sendo crônico enquanto não se mudar a forma como ele é tratado e compreendido.

O primeiro passo é entender que o departamento de arbitragem não é uma bolha intocável dentro do negócio como um todo. Enxergá-lo como um apêndice ou como uma célula a parte tem sido o grande fator de insucesso em seu processo de gestão e entendimento sobre a inovação necessária. Este distanciamento fica evidente à medida que vemos dirigentes, treinadores e atletas reclamando da arbitragem como se eles viessem de outro planeta, caindo de paraquedas no estádio apenas para apitar (ou “prejudicar” o seu próprio clube).

O segundo e óbvio passo é parar com o cansativo “papo” de usar ou não tecnologia. Definitivamente, cansou. Estamos no século XXI. Um torcedor qualquer vê no estádio o replay do lance no seu celular e tem a certeza do ocorrido em qualquer lance polêmico! É inadmissível que estejamos ainda neste debate. O futebol evoluiu. Os jogadores correm o dobro – e contam com muitas tecnologias para correr e performar mais. Só os árbitros ficaram no tempo. Somente por conta disso, deveriam ser tratados como vítimas e não como vilões do sistema!

Por fim, e corroborando com os dois itens anteriores, compreender que isso tudo é só mais um complemento necessário e fundamental para as melhorias da entrega do produto dentro de uma perspectiva da gestão da modalidade. Ao excluirmos a arbitragem do sistema, apesar de, ao mesmo tempo, eles estarem lá, em todos os jogos, mandamos uma mensagem muito ruim para aqueles que acompanham ou investem no futebol.

A melhora da qualidade na arbitragem é tão importante quanto a necessária melhora da gestão do futebol brasileiro como um todo. Dirigentes, treinadores, atletas e, naturalmente, árbitros e oficiais, são corresponsáveis por isso. E devem trabalhar juntos para a melhoria do sistema! 

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Estamos preparados para analisar o futebol moderno?

O trabalho do técnico Pep Guardiola tem marcas indeléveis desde a época em que ele comandava o Barcelona. Posse de bola, marcação pressão e linha de defesa adiantada são características que servem como exemplos de todas as equipes montadas por ele. Na temporada 2015/2016, porém, esses pontos tiveram um novo patamar. O Bayern de Munique montado pelo espanhol prescindiu de zagueiros e venceu o Bayer Leverkusen por 3 a 0 no Campeonato Alemão. Isso, não houve zagueiros. Não houve zagueiros de ofício e não houve zagueiros improvisados. A equipe bávara é o caso mais bem lapidado de um futebol que nós ainda não sabemos analisar.

Quando a escalação do Bayern de Munique foi montada, a notícia repercutiu na rede social Twitter. Jornalistas, torcedores e curiosos de todo o mundo discutiram qual seria o esquema do time de Guardiola e quem seria responsável pela zaga. Lahm é lateral direito, mas também atua como volante. Alaba e Bernat também são alas, e Xabi Alonso, volante, já havia sido escalado na linha defensiva. Seriam os quatro? Três deles? Dois?

Guardiola já tinha transformado Mascherano em zagueiro no Barcelona. Também criou no time espanhol uma formação fluida, que tinha o lateral esquerdo Abidal alternando funções na linha defensiva de acordo com a necessidade de cada partida.

No Bayern de Munique, Guardiola criou algo ainda mais flexível. A defesa que jogou contra o Bayer Leverkusen não tinha defensores. Aliás, o meio-campo também não tinha meio-campistas, e o ataque não tinha atacantes. O espanhol tem tentado derrubar o posicionamento fixo, com nomes e números, algo que norteou as opiniões sobre o futebol nas últimas décadas.

O futebol preconizado por Guardiola é alicerçado em leitura de jogo e na necessidade de posicionamento para cada instante. O que o espanhol defende é que os atletas entendam o que está acontecendo no campo e se comportem de acordo com isso.

A criação de um ambiente assim vai contra o modelo de formação usado no futebol brasileiro há anos. Vivemos num país em que a base pedagógica – e não apenas no esporte – é tecnicista e militarizada, com pouquíssimo espaço para entendimento e construção de raciocínio crítico. Como o colunista e ex-jogador Tostão cansou de escrever, nossos atletas têm conhecimento empírico (sabem fazer e conseguem resolver problemas, mas não sabem por que fazem ou como resolvem).

Romper esses paradigmas é parte fundamental para a construção de um futebol diferente no Brasil. Muitos dos problemas que o país tem no esporte – e a seleção brasileira é o ápice disso – são decorrentes de como aprendemos a olhar para o ambiente e como construímos conceitos sobre o jogo.

O problema é que o futebol está mudando tão rapidamente quando o mundo que nos cerca. O futebol de outro dia não existe mais, assim como o mundo de outro dia não existe mais. Se continuarmos buscando as respostas antigas e continuarmos usando apenas os conceitos antigos, não conseguiremos ler o jogo moderno.

É só pensar em como são conduzidos os debates sobre o futebol brasileiro atualmente. Vivemos numa época em que as análises se baseiam em frames de vídeos, em imagens congeladas e em provocações de torcedores. Vivemos numa época em que se coloca os erros sob lupa (erros de atletas, de técnicos e de árbitros), mas não temos contexto. Criticar a arbitragem a cada falha é fácil (e necessário, diga-se), mas precisamos atacar o problema certo: a estrutura que possibilita a escalação de profissionais mal preparados e mal formados.

O futebol, como costuma dizer o sociólogo Ronaldo Helal, é um microcosmo da sociedade. Assim como o mundo que o cerca, o esporte tem coisas boas, coisas ruins, gente boa e gente ruim. A estruturação pedagógica é apenas parte disso, mas nós vamos seguir com problemas se não atacarmos as questões certas.

Não basta questionar o nível da seleção brasileira se não colocarmos isso em contexto e cobrarmos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e dos clubes uma estrutura que melhore a formação dos atletas. Não basta criticarmos treinadores e dirigentes se não tivermos um nível melhor de formação deles no Brasil. Não basta reprovarmos árbitros e auxiliares se não pensarmos em como eles podem ser mais bem preparados.

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A manifestação intuitiva da Lógica do Jogo

A tarefa, no papel, é fácil: colocar o implemento móvel do jogo, leia-se bola, no alvo adversário mais vezes do que o adversário coloca na meta da sua equipe.

Na prática, dada à imprevisibilidade e complexidade das relações que constituem o jogo, o gol, evento raro ao longo de 90 minutos, é classificado como a donzela difícil do futebol (Sally e Anderson, 2013).

E enquanto cada uma das equipes tenta cumprir a tarefa, uma leitura instantânea parte de fora das quatro linhas, mais precisamente das arquibancadas, e retrata a capacidade coletiva de resolução dos problemas do jogo. A torcida, que vibra, lamenta, aplaude, critica, canta, xinga, empurra, suspira, empolga, vive e se emociona com o jogo em maior ou menor dimensão. Ao viver o jogo demonstra, mesmo que intuitivamente, se sua equipe está ou não no caminho para a vitória.

Obviamente, a torcida não enxerga o jogo de maneira especializada. Não precisa, afinal, não é sua função. Desvendar complexamente o jogo, composto pelas interações, oposições, sistemas com padrões de organização (e/ou desorganização!?) muito bem definidos e todos os detalhes estratégicos é função, em qualquer que seja a área, dos que recebem para isso. Não é o caso das torcidas…

O fato é que todo este trabalhoso desvendar, construído nos treinamentos, é resumido circunstancialmente pela torcida em cada uma das milhares de jogadas que acontece durante um jogo. O resumo é simples e objetivo: o coro da aprovação ou desaprovação.

Vamos, então, para alguns exemplos:

Um chutão para interceptar um ataque envolvente do adversário é visto com bons olhos pela torcida, que aprova a equipe por ter conseguido evitar uma ação ofensiva do adversário. Já um chutão com a equipe em posse de bola, com possibilidades evidentes de construir um ataque elaborado, é desaprovado.

Jogo empatado e o adversário sobe a marcação na tentativa de recuperar a posse de bola. Sem alternativas de passe vertical, o zagueiro usa o goleiro para manter a posse e dessa forma buscar outras possibilidades de progressão. A torcida responde em tom de aprovação. Jogo empatado e o adversário espera em seu próprio campo. A equipe, com a bola no meio campo, sem alternativas de passes verticais, mas com alternativas de passes horizontais, recua a bola para o goleiro. A vaia da torcida é um sinal claro de desaprovação.

A equipe rouba a bola no meio de campo e dispara um contra-ataque fulminante. O levantar das arquibancadas é a mostra de que a equipe percebeu a exposição do adversário. Se a jogada terminar com finalização, aprovação completa e muitas palmas. A mesma roubada de bola, seguida de desaceleração do jogo e lentidão para fazer a bola chegar ao terço final do campo é correspondida com lamentação por desperdiçar uma jogada potencialmente perigosa. Reprovação unânime!

O drible vertical, quando a equipe tem as linhas de passe fechadas e enganar o adversário é uma das poucas alternativas restantes, é facilmente aprovado. O drible num setor errado, egocêntrico e individualista, seguido de contra-ataque ao adversário é, também facilmente, reprovado.

E a aprovação e reprovação surgem também dos lances que envolvem as finalizações, a falta delas e os gols. O pouco espaço encontrado que permite um chute de fora da área que raspa o travessão, enche de expectativa o torcedor que suplica por mais lances como este. A troca de passes sem objetivo, a falta de movimentações agudas e o avanço do cronômetro sem tentativas de finalização irritam, incomodam e deixam os torcedores impacientes, que se perguntam: “será que eles sabem que precisa chutar em gol”? E, é claro, os gols! Sempre aprovados, mais ou menos comemorados, em função do contexto, do peso e do placar do jogo.

Muitos outros lances, que se sucedem ao longo de 90 minutos, são passíveis de interpretação intuitiva pela torcida em relação ao cumprimento da lógica do jogo. As substituições da comissão técnica, a característica dos passes errados e a postura mais ou menos comprometida dos jogadores são apenas mais alguns exemplos.

A essência do jogo é captada pela torcida. Ao longo dele, a incidência da aprovação e desaprovação pode ser um bom indicador do que a equipe tem feito para se aproximar ou distanciar das vitórias.

O dito popular afirma: “não se deve dar bola para a torcida.” A lógica do jogo contrapõe: “não seria melhor ouvi-la?”

Pensemos nisso! Até a próxima!  

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A (necessária) profissionalização da arbitragem

O futebol movimenta bilhões de dólares anualmente. Alguns jogadores possuem salários milionários e se tornam celebridades. Centenas de profissionais entre comerciantes, jornalistas, empresários, publicitários, dentre outros vivem do futebol.

Entretanto, uma categoria essencial para o bom andamento dos jogos de futebol carece de profissionalização: a arbitragem.

Em um meio em que muitos profissionais conquistam a independência financeira, os árbitros tornam-se dependentes de escalas para sorteios e ao menor sinal de desagrado, são colocados na “geladeira”.

A dependencia doa arbitros deve-se ao fato de que eles somente são remunerados pelas partidas que atuam, logo, caso sua decisão desagrade clube ou dirigente influente, poderão ficar sem escalas e, consequentemente, ter sua subsistência comprometida.

Alem disso, enquanto os jogadores são pagos para treinar e possuem toda a estrutura dos clubes à sua disposição, os árbitros são responsáveis pelo seu preparo fisico, médico e nutricional, bem como se veem impedidos de exercer outra profissão, ja que as escalas saem em cima da hora e eles ficam ausentes de sua cidade por 3 dias.

Assim, os árbitros de futebol, como os juízes nos tribunais, precisam de independência e estabilidade.

Ato contínuo, enquanto os árbitros dependerem de escala para sorteio e correrem risco de “geladeira”, na duvida, sempre, errarão em favor dos mais fortes e influentes.

Ora, os árbitros são imprescindíveis para o sucesso das competições, eis que qualquer dúvida quanto à sua imparcialidade afasta a torcida e patrocinadores.

Portanto, federações devem conferir autonomia financeira aos árbitros garantindo um salário mensal fixo independente de escalas, bem como oferecendo-lhes toda estrutura de treinamento e tratamento médico. Ademais, deveriam possuir um contrato especial de trabalho semelhante ao dos atletas que permita-lhes atuar de forma tranquila e isenta de pressões. 

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Crise no time: o que fazer?

Sempre que o returno do Campeonato Brasileiro se inicia, muitos times que estão povoando a parte de baixo da tabela de classificação buscam alternativas para superarem a crise e, em muitos casos, a troca de comando é a alternativa preferida por parte dos clubes.

Antes de trocar o comando técnico do time, acredito que quando ainda se possui alguma crença na capacidade profissional do comando de um determinado time, talvez seja mais prudente utilizar-se de outras formas de contribuição para a equipe e o Coaching pode ser uma delas.

Mas por que o Coaching pode contribuir num momento de crise numa equipe de futebol? Vou compartilhar alguns pontos importantes que podem ser alavancas de transformação num momento de crise.

1. O processo de Coaching pode oferecer aos atletas uma oportunidade de conhecerem suas competências e também de aprimorá-las, auxiliando eles a lidarem com seus pontos a desenvolver e com isso auxiliar no aumento da competitividade;

2. Promover melhoria na comunicação dos atletas, ao serem mais assertivos em sua comunicação eles podem promover um melhor senso de equipe, elevando o respeito que possuem uns pelos outros, além de contribuir para a melhoria do potencial de colaboração entres os membros da equipe;

3. O autoconhecimento estimulado pelo processo de Coaching pode contribuir para melhorar o foco e a autoconfiança dos atletas;

4. Este processo igualmente pode contribuir para a diminuição do nível de stress e número de conflitos no elenco, uma vez que os atletas se conhecem melhor, se comunicam melhor, se respeitam e passam a compreender o poder do coletivo na busca dos objetivos do time.

Outros pontos poderiam ser abordados aqui, mas pensando num momento de crise se conseguirmos endereçar os pontos acima mencionados já estaremos gerando uma contribuição bem significativa e valiosa para as equipes em situação delicada dentro de uma competição de alta competitividade como é nosso campeonato brasileiro de futebol.

Agora, se a gestão do clube tem a crença muito estabelecida de que o problema está ligado ao trabalho realizado pelo treinador atual e que este não apresentou o encaixe de trabalho esperado conforme a filosofia do clube, talvez a troca de maneira planejada e pensada por outro comando que esteja mais alinhado com os conceitos que o clube deseja implantar, seja mesmo a saída mais apropriada, uma vez que ninguém mais acredita que o trabalho atual possa ser capaz de levar a equipe a novas vitórias e com isso superar o fantasma do rebaixamento.

Até a próxima! 

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Vale patrocinar diferente

A ótima entrevista do blog Mkt Esportivo com Rony Meisler, CEO da grife “Reserva”, que está dando nome ao “Banco de Reservas” do Estádio Maracanã (entrevista completa aqui: http://www.mktesportivo.com/2015/09/entrevista-rony-meisler-ceo-da-reserva/), é mais um alento e um indicador importante de que estamos evoluindo na abordagem ao patrocínio esportivo no Brasil.

Eis mais uma bela amostra de que o patrocínio pode ir muito além do que placas na beirada do campo ou estampada feita um outdoor na camisa dos clubes. Novamente, não que este tipo de estratégia não seja boa. Muito pelo contrário! O fato é que são propriedades caras e, quando utilizadas de forma intempestiva ou abusiva, pode resultar em uma multiplicação de um número grande por zero, ou seja, nada. Ou melhor, uma altíssima exposição combinada com uma baixíssima afinidade e engajamento do consumidor.

Por exemplos como esse é possível notar que podemos ser muito mais inteligentes na hora de fechar contratos de patrocínio. E existe ainda um mar de oportunidades para concebê-lo e aplicá-lo. Geralmente, a associação de atributos da marca patrocinadora com o perfil da propriedade a ser adquirida é o que garante os melhores resultados.

No patrocínio esportivo, estamos diante de um enorme quebra-cabeça. Precisamos organizar as peças primeiro para então encaixá-las da forma mais adequada possível. É a única maneira de colhermos bons resultados em comunicação e que seja bom para todos: o patrocinador e o patrocinado! O que temos visto mais recentemente nas camisas de Santos e Cruzeiro não parece benéfico para ninguém (apenas para ficarmos com exemplos mais recentes).

Vamos em frente. Trabalhando para que tenhamos mais projetos com uma visão equilibrada de negócios no patrocínio esportivo!