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Seleção brasileira e Wembley: dois símbolos do futebol moderno

Amanhã, sexta-feira, o Brasil disputa uma partida amistosa com a seleção da Inglaterra. Será uma partida bastante simbólica, bem dizer. É a primeira partida entre seleções principais no recém-inaugurado estádio de Wembley, aberto ao público depois de uma saga de atrasos e estouros de orçamento. O estádio é bonito, coberto, moderno e elegante. É o mínimo que se pede, uma vez que custou mais de 3 bilhões de reais. Ainda assim, críticas recaem sobre a qualidade do gramado, muito solto, que certamente não condiz com 3 bilhões de reais. Dizem que o mínimo que se pode exigir de um estádio é uma grama decente, não importa o que o circunde. De nada adianta ter um bom lugar para sentar se não há um bom lugar para se jogar.
 
O que você prefere: Um Wembley atrasado, superfaturado e com problemas no solo ou um Pan atrasado, superfaturado e com problemas no solo?
 
De qualquer maneira, o simbolismo do Brasil quebrar a champagne de partidas internacionais no casco do novo Wembley, nem de perto tem a importância real que um outro símbolo representado por essa semana de amistosos da seleção. O jogo seguinte à partida de Wembley, em Dortmund, Alemanha, contra a seleção da Turquia, será a vigésima partida seguida da seleção principal fora do país. O último jogo em território nacional foi em 2005, no dia das crianças, 12 de outubro. E só jogou porque foi obrigado, diga-se, uma vez que a partida contra a Venezuela foi pela Eliminatórias da Copa de 2006. A última partida não oficial do Brasil em sua terra de origem foi contra a Guatemala, no dia 24 de abril de 2005, mais de dois anos atrás, realizada em celebração ao aniversário de 40 anos da Rede Globo.
 
Nada disso é surpresa. A seleção brasileira é uma marca global, e certamente possui mais demanda externa do que interna. Mais certo ainda é a superioridade da disposição de gasto do mercado externo em relação ao mercado interno. Quem paga mais, leva. Regra de mercado.
 
Também não é surpresa que Londres será palco da seleção pela quarta vez nos últimos nove jogos. Afinal, não existe outro lugar do mundo em que se gaste tanto dinheiro com futebol. E, também, não há outro lugar no mundo, tirando o Brasil, que tenha tanto brasileiro junto. Estimativas sugerem algo entre 80 e 100 mil cidadãos brasileiros morando em Londres. Como uma boa parte desse montante é ilegal, ninguém sabe ao certo. É possível que Boston tenha mais imigrantes brasileiros, mas como por lá não existe futebol, desconsidere-se.
 
 A surpresa, no entanto, fica para a repercussão desse fato. Não é preciso que eu diga aqui que a seleção brasileira não joga há tempos no Brasil para que você perceba isso. Todo mundo sabe que faz tempo que não tem um amistoso por essas bandas. Porém, aparentemente, ninguém se importa muito. O público não se manifesta, a imprensa não fala nada, e o presidente – ou qualquer representante do Estado – sequer comenta. Um comportamento bastante estranho para quem há alguns anos atrás defendia a investigação do poder público na esfera do futebol, a CPI do Futebol, sob a justificativa que “devemos recordar que a importância do futebol em nosso País e o fato de que todos os brasileiros devemos muito a esse esporte – que nos projetou no cenário internacional – impõe-nos a obrigação de cuidar para mantê-lo no elevado patamar que alcançou com a dedicação, o esforço e o suor de muitos compatriotas” (CPI do Futebol, Volume 1, página 12).
 
Tudo bem que é cada um com seus problemas, e o governo brasileiro ultimamente tem tido bastante, mas ainda assim a passividade da população de um modo geral espanta.
 
Espanta, mas também sugere.
 
Uma análise fria sobre esse fenômeno – seleção jogando fora e ninguém reclamando – indica que talvez alguns paradigmas estejam sendo quebrados, na medida em que o país e sua sociedade evoluem. Futebol no Brasil, em especial a identificação com a seleção nacional, não surgiu naturalmente, mas foi uma coisa imposta a todo mundo, principalmente a partir da metade do século XX. Na medida em que o tempo foi avançando, essa imposição estatal do futebol foi diminuindo. Novos esportes, novas condições de acesso e novas tecnologias permitiram que o interesse do cidadão brasileiro fosse sendo diluído em diversas segmentações, raramente compondo um elemento de massa maior. Adicionando a isso uma série de outros fatores, é natural que a identificação do país com a seleção venha sendo diminuída com o passar dos anos.
 
Concomitantemente a esse fenômeno, houve uma explosão mercadológica global da marca da seleção brasileira. Em tempos de globalização, glocalização e cosmopolitização, nada mais natural que a demanda externa baseada em mercado se superasse a demanda interna baseada em instrumentos simbólicos.
 
A sociedade brasileira está passando por um intenso processo de mudança, dia após dia.
Essas mudanças podem ter influência direta na demanda pelo futebol.
Um dia, os brasileiros podem deixar de gostar de futebol.
Um dia, os brasileiros podem preferir jogar peteca.
Seria um dia bastante simbólico.

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Os perigos da altitude

A Federação Internacional de Futebol (Fifa) vetou a realização de jogos oficiais internacionais em estádios que estejam situados a mais de 2.500 metros de altitude.
 
A decisão provocou reações de praticamente todos os países que usufruem da vantagem de jogar em condições que dificultam em graus distintos os jogadores adversários, dependendo da altitude e do perfil biológico e psicológico de cada atleta.
 
Os estudos que tentam demonstrar os malefícios da prática de exercícios físicos intensos, por pessoas sem adequada adaptação à altitude, variam. O leque vai desde leves sintomas como fadiga excessiva, náuseas, tontura, enjôo até alegação de riscos de morte.
 
A Bolívia, que possui estádios como o de La Paz, com mais de 3.500 metros, está protestando bastante. Até seu presidente Evo Morales, aficionado pelo futebol, fez um pronunciamento oficial condenando a atitude da FIFA. Já o presidente da Federação Boliviano de Futebol chegou a afirmar que a medida tem conotações políticas e nitidamente discriminatórias.
 
Peru, Equador, Colômbia e México, em situação semelhante ao da Bolívia, também reclamam da medida que consideram arbitrária.  
 
A Fifa alega que a decisão foi tomada apoiada por razões médicas e que a intenção é proteger a saúde dos jogadores.
 
O interessante, entretanto, é que o próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, em fevereiro de 2000, defendeu o direito de a Bolívia jogar na altitude. Afirmou ele: “Eu nasci nas montanhas. Meu povo na Suíça está diante das montanhas mais altas da Europa. Por isso não tenho medo da altura”. Esta frase está escrita em uma placa colocada em frente ao Estádio Hernando Siles em La Paz.
 
Embora quem acompanhe de perto o futebol saiba que alguns atletas enfrentam, de fato, problemas sérios quando vão jogar na altitude, não há como deixar de dar razão aos argumentos de que a medida da Fifa tenha sido discriminatória e arbitrária.
 
Afinal se é para proteger a saúde dos jogadores por que permitir jogos em Copa do Mundo em horários onde a temperatura ultrapassa os 40 graus?

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Relações perigosas

Eles não podem errar. Têm mais de dez câmeras em cima deles no jogo, esperando o momento de deslize para fazer o julgamento. E, num instante, a vida deles pode virar um inferno por causa de cinco centímetros de diferença.
 
Com o desenvolvimento da tecnologia no futebol, o trabalho do trio de arbitragem ficou ainda mais difícil. Sem dúvida que erros como aqueles cometidos por Ana Paula de Oliveira no Botafogo x Figueirense já aconteceram inúmeras vezes em jogos do passado, mas a ausência de tira-teimas e diferentes ângulos de câmeras não conseguiram captar a imprecisão do auxiliar.
 
Agora, porém, além de toda a parafernália tecnológica, os árbitros ganharam mais um “problema” para trabalharem. Cada vez mais parece nítida a intolerância da crítica com os erros de arbitragem. Erros que causam danos irreparáveis, como esta mesma edição 2007 da Copa do Brasil já vitimou Palmeiras, Atlético-MG e agora Botafogo em erros crassos dos árbitros e assistentes.
 
Obviamente a derrota por um erro do árbitro é doída, ainda mais quando envolve torneio mata-mata. Mas, às vezes, a crítica tem excedido o bom senso. Como na última quarta-feira, quando Ana Paula de Oliveira mais uma vez se envolveu em polêmica por conta de impedimentos mal marcados.
 
O Botafogo caiu por esses erros, assim como só chegou à semifinal da Copa do Brasil por conta de falha grosseira de Carlos Eugênio Simon no último minuto do jogo decisivo das quartas-de-final contra o Atlético-MG. Erros que acontecem e que fazem parte do futebol. Mas que, cada vez mais, são tratados com intolerância pelo meio do futebol.
 
Em seu blog, o respeitadíssimo jornalista Juca Kfouri fez as críticas de praxe a Ana Paula de Oliveira pelos erros em Botafogo x Figueirense. Mas incluiu uma informação aos leitores: Ana Paula e o Figueirense são patrocinados pela mesma empresa, a Umbro. De fato isso é verdade. Mas Ana Paula já não havia errado contra o Santos, também patrocinado pela Umbro, no clássico contra o São Paulo?
 
Juca não fez crítica alguma ao fato de a auxiliar atuar em jogo de clubes patrocinados pela mesma empresa que a usa como garota-propaganda. Mas a simples menção do fato leva a uma interpretação errônea de que ela havia agido de má fé ao marcar impedimento num lance em que não houve. Ou, ainda, todos se esqueceram de que caberia a ela também enxergar falta no lance do segundo gol do Botafogo, que foi ignorado pelo árbitro?
 
Hoje, ações de má fé de árbitros, pelo menos no Brasil, estão cada vez mais raras. Compras de resultados são casos esporádicos, como os de Edílson Pereira de Carvalho, em 2005. O que existe é erro, cada vez mais detectável. Mas cada vez mais absurdamente condenado.
 
Ana Paula de Oliveira é, entre todos os árbitros do Brasil, quem mais atrai a atenção da mídia. Logicamente é interessante a uma marca se associar a ela, que é personagem em matérias de revistas de comportamento e, quase sempre, tem fotos estampadas em jornais.
 
O retorno de exposição que ela garante à Umbro é, provavelmente, o mesmo que a empresa tem ao patrocinar um clube como o Figueirense, que nem sempre está sob mira da grande imprensa. A estratégia da empresa é clara, ter sua imagem ligada a um símbolo sexual do futebol brasileiro.
 
Cabe aos colegas jornalistas entenderem que o erro faz parte do trabalho dos árbitros. E ter o discernimento, mas não a ingenuidade, de saber que erros acontecem, fazem parte do cotidiano do futebol. E que, com os recursos tecnológicos, ficaram mais fáceis de serem identificados.
 
Imagine se as câmeras não tivessem mostrado a cabeçada de Zidane em Materazzi? Provavelmente Horacio Elizondo seria considerado um dos maiores ladrões de Copas pelo resto de sua vida.
 
Mas, se ele não tivesse expulsado Zidane, teria sido apenas um erro ou seria por que a Fifa é patrocinada pela Adidas, que também é patrocinadora dos árbitros e da seleção da França? No estádio, sem o recurso da TV, ninguém entendeu a expulsão do 10 francês na final da Copa…

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Quem Inventa Agüenta

Estava eu a pensar com os meus botões.
Sábios botões eles.
 
Pensava sobre aquilo que mais tem movimentado a indústria nesse início de Campeonato Brasileiro. Pensava, portanto, em estádios.
Especialmente em estádios para a Copa do Mundo de 2014, o que me levou a pensar sobre toda a estrutura para a Copa de 2014.
Veio a pergunta que todos se fazem: estará o Brasil apto a receber uma Copa do Mundo?
 
Sempre defendi a idéia de que não. Que 2014 me parece muito cedo. Seria melhor se fosse em 2018, ou em 2022. Hospedar em sete anos me parecia prematuro, um grande desperdício de oportunidade.
 
Foi quando um dos meus botões me lembrou de uma das mais importantes brincadeiras da minha infância: esconde-esconde. Aquele jogo que uma criança se encosta em algum poste ou coisa do tipo, fecha o olho, conta até cem, mais ou menos, e enquanto isso todas as outras crianças procuram um lugar para se esconder. Ao término da contagem, a criança encostada sai à procura dos escondidos, que por sua vez tem como objetivo se esconder até conseguir uma brecha pra chegar ao local da contagem antes da criança-encostada.
 
O esconde-esconde moldou e influenciou muitas cabeças infantis. A minha, inclusive. E dos inventores do Lost, provavelmente.
 
Era uma brincadeira muito divertida, menos pra criança que procurava as outras. Ninguém queria fazer a contagem. Todos queriam se esconder. Por isso, era muito difícil escolher quem era a criança que iniciaria o jogo contando. Afinal, como começar uma brincadeira de esconde-esconde se ninguém quer contar? Voluntariado?
Para tal, foi inventada uma regra, a regra do quem-inventa-agüenta.
 
Diz a regra do quem-inventa-agüenta que se você sugerir a brincadeira de esconde-esconde, é você quem vai começar contando.
Algo como:
“Vamos brincar de esconde-esconde?”
“Vamos! Quem inventa agüenta!”
“Droga!”
“Êêêêê!”
 
Essa regra valia pra outras coisas. Valia pro pega-pega. Pro mãe-cola. Pro mãe-cola-americano.
 
E vale, agora, pra FIFA.
 
O raciocínio é o seguinte.
Tanto a África do Sul quanto o Brasil só vão receber a Copa do Mundo por causa do rodízio de continentes inventado pela FIFA. Não fosse por ele, dificilmente os dois países conseguiriam fazer frente a eventuais propostas da Austrália, Inglaterra, Índia, China e Canadá.
 
Pois bem.
Se foi a FIFA quem inventou o rodízio, por que é que a África do Sul e o Brasil precisam se preocupar tanto em oferecer as mesmas condições que a Alemanha, o Japão, a França e os Estados Unidos ofereceram?
Não dá. É impossível. Não vai acontecer.
 
A Copa da África do Sul tem que ser adequada à África do Sul, do mesmo modo que a Copa de 2014 no Brasil tem que ser adequada ao futebol brasileiro.
O Brasil não precisa se maquiar para os padrões de países desenvolvidos. Tem que mostrar aquilo que é.
Não dá pra fazer estádio muito grande porque vai ter prejuízo no futuro? Não faz.
Não dá pra ter vias de acesso bem feitas para os estádios uma vez que não dá pra ter vias de acesso bem feitas pra qualquer outro lugar? Que se tenham vias de acesso mal-feitas.
Não dá pra garantir a segurança de ninguém perto do estádio porque também não dá pra garantir a segurança quando o carro parar no sinaleiro? Que se tenha o risco da insegurança.
 
Ou o Brasil muda inteiro pra Copa, ou não muda em nada. O que não pode é haver um desequilíbrio entre aquilo que será apresentado para o mundo por conta de um evento futebolístico controlado por uma entidade privada e aquilo que o país realmente é. O investimento do Estado, principalmente, não pode se restringir em atender à Copa. Tem que atender a todos, em todos os lugares, em todos os setores, sejam eles ligados ao futebol ou não. Somos, ou pretendemos ser, um país de iguais.
 
Agora, se a FIFA vier reclamar que as estruturas são precárias, que a segurança é fraca e que o país é desorganizado, azar. Ninguém mandou inventar o rodízio de países.
 

Afinal, como dizem as sábias crianças, quem inventa tem que agüentar.

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Romário e paixão – Como o sentimento apaixonado pode superar as limitações biológicas

Há pouco mais de um ano em um artigo sobre envelhecimento e longevidade no futebol, comentávamos que em 2007 Romário estaria ainda, aos 41 anos de idade, em sua busca obstinada pela feitura do milésimo gol.
 
E isto ocorreu, finalmente, no último dia 20 de maio, no Estádio do Vasco em São Januário no Rio de Janeiro, onde o atleta começou sua vitoriosa carreira.
 
Tenho alguns amigos que se dizem cansados em ouvir falar em Romário e sua contagem própria para alcançar a marca dos mil gols, até agora só ultrapassada pelo incomparável Pelé.
 
De fato, quem acompanha o futebol de perto sabe que Romário já não consegue mais empolgar o torcedor pela sua velocidade, potência e habilidade que o caracterizou ao desfilar seu talento por 10 equipes pelo mundo afora, além, é claro, da seleção brasileira, em uma carreira que dura já mais de 20 anos.
 
O que não se pode negar, entretanto, é a beleza deste jovial sentimento apaixonado que Romário demonstra, ao longo do tempo, pelo futebol.
 
Com inteligência, maturidade, equilíbrio, autoconfiança, mas, sobretudo com uma enorme paixão, o Baixinho consegue superar as dificuldades e limitações biológicas impostas pelo tempo de forma extraordinária.
 
Como alguém já disse, a paixão é um sentimento mágico que torna nossas ações mágicas e nos permite alcançar objetivos também mágicos.
 

Este é um dos legados que nos deixa Romário. Ele nunca foi considerado um modelo de profissional exemplar. E talvez o gol 1.000 não tenha sido exatamente o gol 1.000. Mas acho que isso é o que menos importa. Sua paixão pelo que faz, isso sim é exemplar e merece ser comemorado.

 

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Imagem também é informação

Muitas vezes imaginamos que o jornalismo compreende apenas o trabalho do repórter, que vai atrás da informação, entrevista a fonte, relata uma história. Mas, desde sempre, além do trabalho de apuração da notícia, existe um outro tipo de jornalismo, que é aquele produzido por fotógrafos e cinegrafistas.
 
A imagem é, sem dúvida alguma, informação, e dessa forma pode ser compreendida como jornalismo. E de fato é. Sempre temos uma imagem que consegue captar um momento único, que consegue fazer com que a informação seja transmitida sem o auxílio de qualquer outro recurso, seja ele uma entrevista, uma legenda, um relato.
 
Mas a imprensa, principalmente a que cobre o futebol brasileiro, tem se especializado cada vez mais em ocultar algumas informações dos seus telespectadores. Especialmente quando esse tipo de informação tem de ser transmitida por imagens.
 
Em nome de seu padrão de jornalismo, a Globo tem como obrigação não citar os nomes de marcas que investem em patrocínio. A regra não vale apenas para o esporte. Todo o jornalismo da casa é proibido de falar o nome de empresas que patrocinam alguma coisa. O próprio convidado de programas como o “Jô Soares” têm sua entrevista editada para que não seja falado o nome do patrocinador de uma peça teatral, por exemplo.
 
Da mesma forma, a emissora tenta impedir que as marcas se aproveitem de sua enorme audiência para fazerem promoções. Com isso, a Globo também levou a seus câmeras a obrigação de ocultar as marcas que aparecem em backdrops de entrevistas, por exemplo.
 
Como a Globo é a dona do jornalismo de maior qualidade da TV brasileira, o modelo que ela criou no relacionamento com o esporte acabou fazendo com que essa regra se expandisse para todas as outras emissoras do país.
 
Só que, ultimamente, a criatividade dos departamentos de marketing tem feito com que os cinegrafistas sofram para manter intacto o “padrão Globo de qualidade”. E, nessa disputa, quem mais sofre é o telespectador.
 
Na última quarta-feira, após o empate do Santos contra o América, no México, o goleiro Fábio Costa se posicionou para dar entrevista, ainda no gramado do estádio. Prontamente, uma elegante mulher, vestida com a marca da cerveja Corona, patrocinadora da equipe mexicana, se colocou atrás de Fábio Costa. O objetivo não era ela aparecer na TV, mas sim a marca da cerveja, que inclusive tem baixíssima participação no mercado brasileiro.
 
Em nome de seu padrão de jornalismo, o cinegrafista da Globo tratou de fechar a câmera ainda mais no rosto de Fábio Costa, na tentativa de esconder a marca da cervejaria. O que se viu, a partir daí, foi um rosto distorcido do goleiro santista, enquanto a garota no fundo ficava com o boné mostrando apenas uma parte da marca mexicana.
 
A imagem, porém, não transmitia qualquer informação. Para quem via de relance, não era possível sequer saber direito quem era o entrevistado. E, para aqueles que viram a cena desde o início, ficou óbvia a tentativa de esconder a marca da cerveja, o que indiretamente ajudou a marca a ser reconhecida.
 
No final, a estratégia de burlar as marcas em nome do bom jornalismo mostrou-se mais eficiente para o departamento de marketing do que para o telespectador. Mas o trabalho não deveria ser pensando no bem do telespectador?

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Sobre Clubes-Empresa

De um modo geral, impera um sentimento no futebol brasileiro que a salvação para os clubes é a transformação do status de associação desportiva em empresa ou, no caso, em clube-empresa.
 
Não sou jurista e também não sei muito sobre os diversos aspectos legais que envolvem tal transformação. Porém, isso não impede que tal transformação não possa ser analisada sob um aspecto mais amplo.
 
Aparentemente, a grande questão que permeia a discussão é sobre quem incide a responsabilidade pela suposta má administração de boa parte das maiores organizações esportivas do país, que na sua maioria funcionam quase que exclusivamente em razão do futebol.
 
Confesso que não consigo entender exatamente por que uma empresa seria melhor que um clube nesse aspecto.
 
Tudo bem que uma associação desportiva tenha lá diversos benefícios fiscais e tudo mais, mas não são todas as associações, acho, que possuem dívidas e cometem irresponsabilidades ficais. Assim como as empresas brasileiras não são necessariamente um exemplo de comprometimento e responsabilidade social.
 
Talvez aí esteja o ponto mais importante.
O problema, possivelmente, está muito menos na característica societária da organização do que nas ações daqueles que possuem o controle dela.
 
Quantas empresas você conhece que já faliram?
Quantas empresas você conhece que praticam atos condenáveis e irresponsáveis?
 
Não são poucas, imagino.
Nem por isso, elas deixam de existir no Brasil.
Nem por isso, seus acionistas são presos.
Tal qual acontece com as associações desportivas.
 
Pra piorar, ao se transformar em empresas, os clubes se fecham em si.
Só entra quem for convidado.
E olhe lá.
 
Tudo bem que isso também não acontece no Brasil. Boa parte dos clubes não possui liberdade associativa. Mas alguns, grandes, possuem.
Acabar com a possibilidade de se vincular a uma associação esportiva, e eventualmente poder participar do controle da mesma, seria um crime contra a liberdade do torcedor.
 
Uma grande crítica que se faz a clubes europeus que viraram empresas é a falta de interação entre eles e o seu público. Questiona-se, e muito, modelos como o do Manchester United, por exemplo. Um clube, argumenta-se, não é de uma só pessoa, e deve sempre existir a possibilidade do mínimo controle pelo seu torcedor. Pelo menos o direito a voto. Coisa que não existe numa empresa.
 
O debate sobre esse assunto é muito extenso e não é limitado ao que aqui foi exposto, tampouco àquilo que você normalmente lê.
Prometo que volto abordar esse assunto caso, é claro, você ache necessário.
 
Porém, tal transformação não pode ser vista de maneira simplista e descabida.
É preciso ponderar os prós e contras de cada situação.
Afinal, são coisas desse tipo que podem mudar os rumos do futebol nacional, para pior ou para melhor.
 
É preciso parar pra pensar.
É preciso parar pra analisar.
E é preciso, de uma vez por todas, parar de achar que o Manchester United serve de exemplo pra alguma coisa.

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Kaká, Ronaldinho Gaúcho e o não a seleção

Em 1880, o cubano e genro de Karl Marx, Paul Lafargue publicou um texto clássico denominado “O Direito à Preguiça”, uma crítica contundente ao regime capitalista.
 
Os recentes pedidos de dispensa por parte dos atletas Kaká e Ronaldinho Gaúcho da Seleção Brasileira que irá disputar a Copa América 2007 nos próximos meses de junho e julho, provocaram algumas críticas e comentários questionando a atitude desses dois craques brasileiros e me fizeram lembrar deste ensaio.
 
Lafargue no final do século XIX queria combater os exageros do trabalho. Havia trabalhador que chegava a trabalhar 14, 15 e até 16 horas por dia. Um verdadeiro absurdo na opinião deste médico e militante socialista. Defendia que o ideal seria trabalhar cerca de 3 ou 4 horas por dia.
 
Na verdade um jogador de futebol, em média, não treina muito mais do que 3 ou 4 horas por dia. Entretanto a alta competitividade que cerca o futebol profissional neste século XXI exige muito mais de cada atleta do que as poucas horas que ficam dentro do campo. É preciso cuidados especiais com a alimentação, com o repouso, com a cabeça para enfrentar a enorme pressão e cobranças que vem de toda a parte, além claro das preocupações com inúmeros compromissos que cercam o profissionalismo hoje em dia.
 
Portanto, nada mais natural do que respeitar o direito que um jogador de futebol, famoso ou não, tem de usufruir de tempos em tempos de um merecido descanso ou férias, sem qualquer tipo de moralismos ou inveja.
 
O direito ao lazer, o direito ao ócio, ou se quiser o direito à preguiça é um direito de qualquer trabalhador. Por que não de um jogador de futebol?   

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O poder do microfone

Uma das máximas que consagrou a imprensa mundialmente é aquela referente ao poder que o microfone exerce na vida das pessoas. Uma frase mal-colocada a um microfone pode, certamente, arruinar o autor da entrevista.
 
No futebol, a emoção que contagia uma partida acaba sendo um prato cheio para que o microfone passe a ter ainda mais poder na vida do esporte. Declarações repletas de emoção acabam sendo interpretadas de forma errônea ou, mais recentemente, servem de prova para julgar e condenar um atleta que fere o comportamento desportivo.
 
Na última quinta-feira, porém, o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Santos, levou ao pé da letra o conceito do poder do microfone. Na entrevista coletiva para a imprensa após a suada vitória sobre o Caracas, assegurando vaga nas quartas-de-final da Copa Libertadores, Luxemburgo usou o microfone para protestar.
 
Após ser questionado sobre o jogo por um repórter da ESPN Brasil, Luxemburgo usou o momento que tinha para falar para abrir a boca contra um comentarista da emissora. Sem citar nomes, simplesmente aproveitou a presença de um repórter da ESPN para reclamar publicamente de críticas que lhe são feitas durante programas do canal.
 
A resposta ao repórter não foi feita. O protesto, também, soou como oportunismo barato do comandante santista, sem certamente surtir o efeito esperado. Afinal, as críticas não vão cessar, muito menos após uma reclamação pública contra elas.
 
O microfone tem poder, sem dúvida alguma. Mas esse poder só consegue ser efetivo quando usado com inteligência. Luxemburgo não soube ter calma para se comportar como o devido na entrevista coletiva. Seria mais simples se o comandante santista tivesse deixado para conversar com o repórter após a entrevista, tentando encontrar uma solução para o impasse. Uma resposta em público só serve para fomentar a antipatia.
 
O preço da vitória
 
Santos campeão paulista e classificado para as quartas-de-final da Libertadores. Grêmio campeão gaúcho e também com vaga nas quartas do torneio continental. Atlético-MG campeão mineiro e eliminado polemicamente na Copa do Brasil.
 

Das previsões catastróficas feitas neste espaço na última semana, só mesmo a do Flamengo, que era quase caçapa cantada, se concretizou. Mostra de que o treinador é que sabe mesmo quais são os limites de sua equipe e qual jogador pode render mais ou menos. O jornalista pode até ter uma boa visão de fora de campo. Mas, dentro dele, quem sabe de todos os detalhes, sem qualquer dúvida, é o treinador.
 

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O Tapetão Inglês

Quando o West Ham anunciou a contratação de Tevez e Mascherano, no apagar das luzes da janela de transferência européia de verão, o mundo do futebol foi pego de surpresa. Afinal, ninguém esperava que os jogadores argentinos do fundo internacional MSI que atuavam no Corinthians do Brasil fossem parar num clube mediano da mais rica liga nacional de clubes do planeta, a Premier League inglesa. Um sinal da forte internacionalização do futebol mundial.
 
Depois de um começo conturbado, as coisas começaram a se ajeitar para os dois argentinos. Após apenas alguns jogos pelo West Ham, Mascherano foi repassado ao Liverpool, onde acabou assumindo a posição de titular e chegando à final da Liga dos Campeões. Tevez, por sua vez, permaneceu em Londres e assumiu posição de destaque da equipe, tendo sido inclusive escolhido pela torcida como o melhor jogador da temporada, e ajudou o time na escalada para escapar do rebaixamento. Aparentemente, depois da tormenta, havia enfim chegado a calmaria.
 
Entretanto, a calmaria parece ser apenas ilusória. No horizonte do West Ham, e do próprio campeonato inglês como um todo, começa a se formar uma densa e temerosa tempestade.
 
Logo após surpreendente transferência entre Corinthians, MSI e West Ham, a Premier League investigou como ela tinha transcorrido, e chegou à conclusão que algumas normas haviam sido quebradas, que papéis foram omitidos, e que mentiras foram contadas. O principal problema, aparentemente, foi o clube ter acordado uma transferência com jogadores que pertenciam a terceiros, o fundo de investimento, coisa que é proibida no regulamento do campeonato inglês. Com isso, a Premier League multou o West Ham em cinco milhões de libras, cerca de 20 milhões de reais, a maior multa já aplicada a um clube inglês.
 
Vinte milhões de reais podem parecer muita coisa. Porém, apesar do alto valor aplicado, alguns clubes ingleses acreditam que a punição foi muito branda, tudo porque a multa só foi financeira, e não teve dedução de pontos do time, o que contraria um certo padrão de punições da Premier League, que normalmente multa em dinheiro e deduz alguns pontos. Esses pontos que não foram deduzidos permitem que o West Ham possa ter a possibilidade de escapar do rebaixamento para a segunda divisão na próxima temporada, uma vez que ele está três pontos na frente do Wigan, o primeiro da lista da degola. O argumento de defesa da Premier League, e do West Ham, é que a multa de cinco milhões de libras já é uma punição suficientemente grande, e não há a necessidade de tamanha soma de dinheiro vir conjunta à dedução de pontos.
 
Entretanto, no ano que vem entra em vigor o novo contrato de transmissão da Premier League, o maior da história. Com ele, um clube com uma boa performance na próxima temporada pode receber até sessenta milhões de libras. E, mais importante pro assunto dessa coluna, um clube que cair de divisão nessa temporada deve perder em torno de vinte milhões de libras, quatro vezes mais do que o valor da multa aplicada ao West Ham.
 
Não é por acaso que o West Ham não vai recorrer da multa. E também não é por acaso que seis clubes da Primeira Divisão estão estudando maneiras de entrar na justiça contra o West Ham e contra a Premier League. Colocando de uma maneira resumida, caso a batalha jurídica realmente aconteça, será uma briga por oitenta milhões de reais. E brigas que envolvem tamanho montante tendem a não ser lá muito pequenas.
 
Essa briga, apesar de localizada, pode ter reflexos no mundo inteiro. Primeiro porque vai afetar o maior mercado de futebol do mundo, o que consequentemente já gera grandes efeitos para a rede integrada do mundo do futebol. Segundo que pode ser o princípio de alguma revolução maior no mercado de clubes, podendo inclusive dar margem a maiores rompimentos entre clubes, ligas e federações. E por último, e mais importante para o Brasil, o imbróglio pode levar os órgãos governamentais do futebol a tomar atitudes enérgicas para com a origem de toda essa confusão: os fundos de investimentos e a posse de direitos econômicos sobre transferência de jogadores.
 
É difícil dizer o que vai acontecer. Prevendo as possíveis danosas conseqüências de tudo isso, o ministro dos esportes britânico, Richar Carbon, urgiu os clubes a tentarem chegar a um acordo comum e não procurarem a justiça para resolver a discussão. É um sinal de que os efeitos dessa briga podem ser maiores do que se imagina.
 
O horizonte é tenebroso na Inglaterra. Os efeitos da tempestade são imprevisíveis para o mundo. E a origem disso tudo, curiosamente ou não, está no futebol brasileiro.
 
Culpa da globalização.

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