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Os campeões e os vices

Santos, Paranavaí, Grêmio, Atlético Mineiro, Atlético Goianiense, Flamengo, Vitória, Sport de Recife são alguns dos campeões estaduais de futebol em 2007. São Caetano, Paraná Clube, Juventude, Cruzeiro, Goiás, Botafogo, Bahia, Náutico são os vices.
 
Mas bem que poderia ser o contrário. E caso isso acontecesse, haveria justificativas para todos os resultados. Entretanto essas justificativas ou explicações são, quase sempre, anunciadas após os fatos consumados. As previsões antes dos eventos são quase sempre superficiais e inconsistentes.
 
São poucos os observadores, jornalistas ou aficionados, que procuram analisar todos os elementos que compõem a complexidade do futebol e buscam luzes para conscientemente prever o futuro.
 
Como se pode ler no livro “Desafio aos Deuses – A Fascinante História do Risco” de Peter Bernstein “a idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que o capricho dos deuses e de que homens e mulheres não são passivos diante da natureza”.
 
O futebol, como tudo na vida, é um sistema complexo e dinâmico. E para entendermos o que isso significa talvez precisássemos estudar um pouco mais sobre as teorias que analisam o risco e o caos.
 
Essa teoria tenta nos explicar como e por que as coisas acontecem. E sinaliza no sentido de que os resultados, embora instáveis, são passíveis de previsão. A simples formação de uma nuvem no céu, por exemplo, é conseqüência de vários fatores como o calor, o frio, os ventos, o clima, a evaporação da água entre outros e, portanto, passível de ser prevista.
 
E assim também pode ser um jogo de futebol. Seu resultado pode ser causado por um incidente na concentração, uma palavra bem ou mal colocada pelo treinador, um placar positivo ou negativo no jogo anterior, um lance inesperado da equipe adversária e assim por diante.
 
Provavelmente é a somatória desses fatores objetivos e subjetivos que determinam o resultado final de uma partida. Bastaria conhecê-los para que pudéssemos prever que Santos, Paranavaí, Grêmio, Atlético, Flamengo, Vitória, Sport, seriam os campeões estaduais de 2007.
 
Mas será que quando isso puder acontecer o futebol não perderá um pouco do seu encanto?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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O preço da vitória

Santos, Grêmio, Flamengo e Atlético-MG sagraram-se campeões estaduais na tarde do último domingo. Nem mesmo três dias depois de festejarem a conquista, os jogadores desses quatro times entrarão em campo para mais uma decisão: a classificação para a fase seguinte das competições que disputam.
 
O Santos se desgastou para alcançar os 2 a 0 no São Caetano. O Grêmio passeou no Olímpico em cima do Juventude. O Atlético se preocupou com a derrota por 2 a 0 para o baleado Cruzeiro, atropelado na semana anterior. O Flamengo só superou o Botafogo nos pênaltis numa eletrizante decisão no Maracanã.
 
Talvez è exceção do Galo mineiro, os outros três times não puderam pensar em poupar jogadores e muito menos se pouparem dentro de campo para a disputa das decisões no meio de semana. E por que isso acontece?
 
Imagine se Vanderlei Luxemburgo abrisse mão de escalar todos os titulares na árdua tarefa santista de derrubar o fantasma azul de São Caetano. Ou, então, que Mano Menezes deixasse Lucas de fora da batalha regional no Olímpico. Que Levir Culpi entrasse com o time reserva depois de enfiar quatro no primeiro jogo. E, por fim, que o Flamengo abrisse mão da conquista carioca para estraçalhar o Defensor na quarta-feira.
 
Choveriam críticas ao comportamento “antiesportivo” dos treinadores dessas equipes. Pelo menos até o meio de semana, quando o time vencesse e, então, os treinadores seriam transformados em gênios.
 
Normalmente a imprensa critica a falta de planejamento e de trabalho de longo prazo dos clubes de futebol. Não faltam vozes para desancar o dirigente que demite o treinador só porque os resultados não aparecem. Mas quem é o primeiro a se levantar contra a falta de resultados de uma equipe?
 
A pressão exercida pela imprensa no dia-a-dia da cobertura dos clubes de futebol é, sem dúvida alguma, uma das grandes responsáveis pela falta de cumprimento ao planejamento dentro dos clubes.
 
Muricy Ramalho foi duramente criticado pelos jornalistas por não mudar o time do São Paulo no empate contra o São Caetano na primeira semifinal do Campeonato Paulista. Talvez Muricy estivesse pensando no jogo da quarta-feira seguinte, quando, com o time reserva (que estava descansado), bateu o Alianza Lima e ficou em primeiro do seu grupo, em posição de vantagem para decidir a vaga em casa e pronto para enfrentar o Azulão.
 
Mais fácil dizer que Muricy era “teimoso” ao manter o time jogando daquela forma do que tentar ouvir dele uma explicação plausível para a “teimosia”.
 
A obrigação dos resultados é, acima de tudo, uma exigência que a opinião pública coloca para dentro dos clubes de futebol. É raro vermos um jornalista defender um treinador quando ele poupa o seu time numa partida decisiva pensando numa decisão futura.
 
Imagine o estardalhaço que seria se o Santos tivesse optado por deixar escapar o título paulista e preservasse seus atletas para seguir firme na Libertadores? Será que a imprensa entenderia isso?
 
Obviamente que o torcedor age de maneira irracional quando vê seu time perder uma decisão. Mas, às vezes, é melhor estabelecer prioridades. E já passou da hora de a imprensa entender isso quando vai criticar a decisão de um treinador…
 
Do contrário, a vitória sempre terá o ônus do cansaço para a decisão da partida seguinte.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O Exemplo do Leeds United

Dias atrás, foi confirmada a queda do Leeds United para a Terceira Divisão do Campeonato Inglês. Sim, o Leeds. Aquele que certa vez contratou o Roque Júnior e que entrou na disputa pra levar o Ronaldinho Gaúcho do Grêmio. O mesmo Leeds que há seis anos atrás brigava com o Valencia nas semifinais da Liga dos Campeões. Há seis anos, o Leeds era pro mundo esportivo o que hoje são Liverpool, Chelsea, Manchester United e Milan. Hoje, parece mais com o Bahia.
 
O declínio do Leeds é resultado da convergência de uma série de fatores técnicos, mas todos derivados essencialmente de uma questão econômica.
 
Na temporada seguinte após a surpreendente chegada às semifinais da Liga dos Campeões, o Leeds se reforçou em campo. Para tal, colocou em campo jogadores como Paul Robinson, Woodgate, Rio Ferdinand, Danny Mills, Dacourt, Bowyer, Robbie Fowler, Robbie Keane, Viduka, Kewell e Alan Smith. A aposta era ir bem no Campeonato Inglês e conseguir a classificação para a Champions League da temporada seguinte.
 
No final da temporada, cinco míseros pontos separaram o Leeds da Liga dos Campeões. Com o quinto lugar do campeonato, o time conseguiu apenas a classificação para a Copa da Uefa. Foi o começo do desastre. Tão logo o time perdeu a vaga, a diretoria anunciou que no começo da temporada, ela havia realizado um empréstimo gigantesco para conseguir bancar as contas do time. A idéia era que tal time conseguiria a classificação para a Liga dos Campeões, e o empréstimo eventualmente seria pago com a enorme soma de dinheiro que viria de patrocinadores, direitos de televisão e dos dias de jogos. Foi uma aposta arriscada. Que não deu certo.
 
O time perdeu a vaga e, consequentemente, toda a receita futura projetada. No final das contas, o time não conseguiu bancar o empréstimo e muito menos o salário dos jogadores. Como resultado, atletas foram vendidos por conta do desespero fiscal, que implica diretamente em menor poder de barganha, e os novos contratados correspondiam à realidade do caixa do clube. Deu-se início a um espiral de declínio. O clube entrou num ciclo vicioso de péssima performance e péssimo fluxo de caixa.
 
O Leeds até conseguiu escapar do rebaixamento na temporada imediatamente seguinte. Mas na outra não deu. O time caiu pra segunda divisão e, com o enorme montante de dívidas, que quase bateu nos R$ 500 milhões, começou a ser passado de mão em mão, de dono em dono.
 
Com alguns sacrifícios, a direção do clube resolveu zerar a dívida, ou seja, fechou a torneira para maiores pagamentos. No sistema futebolístico um pouco mais racional que é o futebol inglês, isso significa em imediata perda de performance. Culminou, agora, com o rebaixamento para a terceira divisão.
 
A idéia, porém, é que o clube possa se reerguer em breve, com as dívidas zeradas, e alcançar a glória de outrora. Talvez tenha chegado ao fundo do poço, mas foi a conseqüência natural de uma aposta financeira extremamente arriscada. Qualquer pessoa que pense com o mínimo de lógica dentro do mundo do futebol sabe que não se contrai dívidas pensando que estas serão pagas a partir da receita gerada pelos resultados em campo. Contrai-se dívida que possam ser controladas, em investimentos mais palpáveis e não tão dependentes da ação do acaso.
 
O Leeds é um caso clássico que uma boa parte dos maiores clubes do Brasil deveria prestar atenção. Eles pagam um preço caro por uma atitude racionalmente errada, mas que tende a não ser tão incomum por terras tupiniquins.
 
É claro que uma dívida aqui talvez não signifique a mesma coisa que uma dívida por lá. Porém, com a ascensão do mercado financeiro por essas bandas e com a responsabilidade fiscal passando a desempenhar um intenso papel no mercado nacional, os clubes que ainda se arriscam nesse tipo de aposta podem começar a pagar caro, assim como o Leeds vem pagando há um bom tempo.
 
Esqueçam o Manchester United, o Chelsea, o Liverpool ou o Arsenal. O melhor exemplo do futebol inglês para o futebol brasileiro, acredite, é o Leeds United.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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São Caetano, o campeão paulista de 2007

Em minha coluna da semana passada brinquei com os leitores da Universidade do Futebol dizendo que o Santos seria o campeão paulista de 2007. A idéia, na verdade era questionar as análises simplistas que costumam fazer os aficionados do futebol, prevendo os resultados dos jogos com certezas que quase sempre não correspondem à realidade. E comentei que o favoritismo no futebol costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.
 
Não sei se o favoritismo do Santos desmobilizou o time para o jogo com o São Caetano, mas que desmoralizou alguns entendidos, isso não tenho dúvidas.
 
É interessante constatar que fazer previsões, definir favoritos, adivinhar o que vai ocorrer numa partida parece ser tão estimulante quanto o jogo de futebol propriamente dito.
 
E estas reflexões sobre favoritismo no futebol nos remete a pensar um pouco sobre a afirmação de que o futebol é uma coisa muito simples.
 
Sob certo ponto de vista o futebol, como fenômeno cultural e humano, pode ser considerado tão complexo quanto entender o significado da própria vida.
 
O sociólogo e pensador francês Edgar Morin nos ensina que complexidade é efetivamente o tecido dos acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações e acasos, que constituem o nosso mundo.
 
Se o futebol é parte constituinte deste mundo em que vivemos, não temos como fugir à constatação que de que entender o futebol é tão complexo quanto entender o mundo.
 
Portanto, para aqueles que achavam que o Santos seria o campeão, resta buscar novas explicações e fazer novas previsões.
 
Com a vitória contundente por 2 a 0 no primeiro jogo da final, já há pesquisas de opinião demonstrando que mais de 80% das pessoas acham que o São Caetano será o campeão paulista deste ano.
 
Mas seja lá quem for o novo campeão o fato é que estas discussões e previsões só conseguem nos mostrar o quanto é complexo entender realmente o que é o futebol.
 
E de qualquer forma quero dar os parabéns ao São Caetano que sendo campeão ou vice nos permitiu refletir um pouco sobre o fenômeno da complexidade que envolve o futebol.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br