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Discurso de unidade

Não foi apenas pelos resultados recentes que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolheu Tite para ser o sucessor de Dunga, demitido após a fracassada campanha da seleção brasileira na Copa América Centenário. Os donos de cinco títulos mundiais caíram ainda na primeira fase, em um grupo em que Equador e Peru avançaram, e só conseguiram balançar as redes na partida contra o Haiti. O novo técnico da equipe nacional tem histórico extremamente prolífico nas temporadas em que comandou o Corinthians, é verdade (venceu um Paulista, uma Recopa Sul-Americana, uma Libertadores, um Mundial e dois Brasileiros em duas passagens, entre 2011 e 2015). O que os dirigentes que comandam o futebol em âmbito nacional buscaram nele, contudo, não foi desempenho: antes de ser uma proposta técnica ou uma solução para o rendimento da seleção, Tite é uma forma de abraçar o discurso de unidade.
Além de ter sido artífice de um período extremamente vencedor no Corinthians, Tite forjou imagem de profissional ilibado e comprometido. A despeito de não ter entrado em campo e de não ter protagonizado lances decisivos, transformou-se no grande símbolo dessa era e se tornou ídolo da torcida alvinegra. Emerson Sheik fez os gols que definiram a conquista da Copa Libertadores de 2012 e Paolo Guerrero definiu a vitória sobre o Chelsea na partida que valia o título mundial do mesmo ano, mas nenhum deles, por diversos motivos, desfruta do mesmo status do treinador.
Tite também se destaca por ter pouca rejeição. Construiu grande parte da carreira entre times do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Mesmo nas ocasiões em que foi demitido, saiu sem ter a imagem extremamente desgastada. Nas últimas temporadas de Corinthians, agregou a consolidação de um estilo respeitoso e até de reverência em relação a rivais. As pessoas podem até não gostar do estilo do técnico, mas é difícil acusá-lo de menosprezo ou de posturas polêmicas.
Foram muitas as facetas do seu trabalho no Corinthians. O time competitivo de 2011/2012 e a equipe brilhante da temporada passada, tiveram erros em proporções parecidas – escolha de atletas, categoria de base preterida, benevolência com erros e insistência com peças e formações, por exemplo. No entanto, o técnico deixou marcas que contribuíram para sua imagem: conseguiu blindar o vestiário, ganhou o respeito de diferentes grupos de atletas, sobreviveu a reformulações mal planejadas, forjou o desenvolvimento individual de uma série de jogadores e evoluiu.
Por todas essas características, incluindo a educação no trato com jornalistas e rivais, o respeito conquistado durante anos de trabalho e a evolução em aspectos técnicos e táticos, Tite era a única opção para a CBF. Se ele dissesse não, a entidade teria de substituir Dunga por outro nome com alto índice de rejeição e encontraria mais dificuldade para amainar o ambiente na seleção.
O Brasil é hoje o sexto colocado nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2018, que será disputada na Rússia, e apenas os quatro primeiros têm vaga assegurada no torneio – o quinto ainda pode se classificar via repescagem. O trabalho do novo técnico não é simples: recuperar a autoestima do grupo, reincorporar jogadores desprezados por Dunga, recobrar a relação entre seleção e torcida e, formar um time capaz de chegar ao Mundial. Isso sem contar a criação de um ambiente positivo com os atletas – o antecessor dele tinha problemas de relações pessoais e já não funcionava como um líder incontestável.
O treinador tem na seleção um desafio profissional praticamente inigualável: se vencer, subirá a um patamar de idolatria em âmbito nacional; se perder, terá justificativas como a falta de talentos ou o início ruim de trabalho sob a gestão de Dunga. A escolha, contudo, não podia ser mais respaldada. A CBF buscou a unidade ao elegê-lo para o cargo
Além disso, Tite se preparou para o cargo. O treinador sempre deixou claro que almejava trabalhar na seleção e vinha fazendo o possível para estar pronto quando o convite aparecesse – ele esperava ter sido chamado em 2014, depois da Copa do Mundo, quando a CBF preferiu Dunga.
Ao contratar o treinador, portanto, a CBF faz um apelo à popularidade dele. É uma tentativa de resgatar o apoio do público à seleção e ao menos reduzir a crise de imagem vivida pela equipe nacional nos últimos anos. Para fazer isso, a entidade aposta num profissional carismático, defendido pela massa e com pouca rejeição, mas também entrega uma mensagem subliminar de valorização do trabalho e da preparação para as oportunidades.
Se souber usar isso, o treinador desfrutará de uma autonomia que ninguém tem no posto desde Luiz Felipe Scolari na seleção pré-Mundial de 2002. Na época, o dilema era parecido: a seleção acumulava crise de identidade e resultados ruins, e a CBF atravessava momento político conturbado – Ricardo Teixeira, presidente no período, convivia com denúncias e estava fragilizado, situação que também emula o panorama atual de Marco Polo del Nero. Felipão usou o influxo e conseguiu liberdade em aspectos como planejamento, convocações e metodologia.
A presença de Edu Gaspar, que era gerente de futebol do Corinthians e servirá como elo entre Tite e a diretoria da CBF, sugere que o técnico também conseguiu algum respaldo. O ex-jogador pode ser um preposto ou um representante em assuntos políticos. Assim, além de isolar o trabalho de campo, evitaria um contato mais próximo entre o comandante e dirigentes – Tite assinou em dezembro, é bom lembrar, um manifesto pedindo a saída de Del Nero e de toda a atual cúpula da CBF.
Até por isso, Tite perdeu uma chance de fazer história. Ele teria dado um recado incrível se renunciasse ao cargo e anunciasse ter feito isso em nome das questões políticas da CBF. Mas esse era apenas um caminho e não, necessariamente, o mais eficiente. Se tiver autonomia e tempo, o treinador pode promover mudanças em aspectos concernentes a seu trabalho – o campo, a postura dos atletas e o orgulho da seleção, por exemplo.
Ter confiança no caráter de seus superiores é sempre o cenário ideal, evidentemente, mas não é sempre a única solução (infelizmente, diga-se). É possível trabalhar com pessoas que tenham posturas discutíveis, desde que isso não contamine suas escolhas ou prejudique sua autonomia. O ambiente é uma influência relevante, é claro, mas não é tudo. Dizer coisas como “todo político é corrupto”, “todo mundo é corrupto em determinada empresa” ou “trabalhar para tal pessoa é ser conivente com as ações dela” é um reducionismo perigoso e ignora noções extremamente pessoais.
É lícito que Tite tenha o sonho de dirigir a seleção brasileira e é justo que ele imagine ter algo a contribuir com o futebol nacional. É perfeitamente compreensível que ele entenda que estar dentro é a melhor forma para isso. Desde que exista liberdade de trabalho, é claro.
Por isso o discurso de unidade é tão importante agora. Tite não é apenas uma aposta diferente para o comando técnico da seleção brasileira, mas uma chance de mudança real na equipe e no futebol nacional. Basta saber se ele e as pessoas que comandam o esporte local saberão aproveitar isso.

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Conversando sobre “a lógica do jogo de futebol”…

Olá amigos!
Após um pequeno tempo ausente, retorno aqui para mais uma discussão, em cima do seguinte questionamento: qual é a lógica do jogo de futebol? Bom, como sempre, vale lembrar que a ideia não é conceituar (até porque alguns autores já o fizeram em um espaço muito maior que este). A ideia é debater, provocar, refletir, pensar, conversar…
Buscando algumas referências na literatura, encontraremos autores dizendo que há uma lógica comum a todos os jogos desportivos coletivos. Outros dirão que o futebol tem uma lógica interna específica. Alguns defenderão que cada equipe tem (conscientemente ou não, bem estruturada ou não) sua própria lógica interna de jogo, e que uma equipe deve procurar fazer prevalecer sua própria lógica. Encontraremos muitas informações relacionadas também às maneiras de cumprimento da lógica do jogo de futebol a partir do conhecimento e utilização de suas regras, princípios e referências norteadoras. Recomendo a busca de autores franceses (Gréhaigne), portugueses (Garganta, Castelo) e brasileiros (Scaglia, Leitão, Freire, Daolio) para aprofundar os detalhes conceituais desta questão.
Conversando informalmente com algumas pessoas que transitam no meio futebolístico, fiz a pergunta tema desta coluna, solicitando uma resposta simples de um parágrafo (eu sei, o tema é complexo, mas o fiz de propósito). A ideia era que as respostas viessem de um sistema cognitivo de fácil acesso – responda aquilo que lhe vem na cabeça espontaneamente e de imediato. Foram interessantes respostas. Sem querer generalizar, encontrei algumas ideias similares (na minha interpretação, que fique claro), outras nem tanto. As respostas mais comuns foram “a lógica do jogo de futebol é fazer mais gols do que o adversário” ou “vencer o adversário”. Outros disseram que a lógica do jogo está relacionada com fazer o gol com o menor esforço possível, ou ainda, com o menor número de ações possíveis, ou chegar ao gol de maneira mais óbvia e efetiva. Também ouvi que a lógica do jogo está relacionada aos caminhos que levam ao cumprimento do objetivo do jogo (este sim seria fazer mais gols do que o adversário), e outra muito interessante também, onde a lógica do jogo está diretamente relacionada ao prazer em jogar. Este rápido levantamento não tem cunho científico, era apenas uma busca informal por padrões de respostas imediatas.
Mas para que discutir sobre a lógica do futebol? Seja a lógica interna ao jogo de futebol ou comum a todos os jogos, interna à equipe, relacionada aos meios de cumprir o objetivo do jogo, relacionada ao prazer em jogar, devemos conhecê-la no nosso ambiente para buscar o acesso ao bom jogo. Entre os vários motivos para isso, vou me atentar apenas a dois aqui neste espaço. O primeiro deles é, a partir do conhecimento da lógica do jogo, ter um norte para modulação do treino. Cada sessão de treino, cada detalhe, cada atividade, deve ter como norte a melhora no cumprimento da lógica do jogo, seja ela qual for. Por exemplo, se para efetuar a lógica do jogo devemos fazer mais gols que o adversário, é pertinente sabermos, entre outras várias coisas, como acontece a maioria dos gols no jogo de futebol – regiões de finalizações, melhores regiões e momentos para recuperação da posse, estruturação de espaço para aumentar as chances de fazer o gol, entre outros – e assim estimularmos isso no dia a dia. Outro motivo para conhecermos a lógica do jogo é termos uma diretriz para avaliação do trabalho, e as ferramentas que serão utilizadas para mensurar a performance da equipe.
Conhecer a lógica do jogo e preparar-se adequadamente para seu cumprimento não garante a vitória, infelizmente, por conta de um pequeno detalhe: a imprevisibilidade. Mas sem dúvida, nos aproxima de jogar de maneira bem elaborada e estar mais perto da conquista dos nossos objetivos. A ideia não é simplesmente definirmos a lógica do jogo, até porque simples ela não parece ser. A ideia é pensar, discutir, questionar.
Proponho o seguinte exercício para finalizar. Como sua equipe (que você treina, que você torce) ou a equipe adversária, ou ainda, alguma equipe qualquer de alto nível busca cumprir a lógica do jogo? Que elementos você consegue reconhecer e relacionar com o cumprimento da lógica? Aguardo sua resposta. Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!

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Quando as pessoas não falam a mesma língua

Kaká fez tratamento médico intensivo para estar na Copa do Mundo de 2010 com a seleção brasileira; em 2016, um dia antes de ser cortado da Copa América Centenário, viajou com outros jogadores da equipe nacional para assistir ao jogo entre Golden State Warrios e Cleveland Cavaliers na decisão da liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA). Neymar, capitão e principal referência técnica do elenco (ainda) comandado por Dunga, não comprou briga com o Barcelona para estar na competição disputada em solo norte-americano; enquanto o time canarinho era eliminado ainda na primeira fase após derrota para o Peru, o camisa 10 curtia férias e festejava em Las Vegas.
Foram seis as dispensas da seleção brasileira antes da Copa América (além de Kaká, Dunga perdeu Douglas Costa, Ederson, Luiz Gustavo, Ricardo Oliveira e Rafinha). Neymar nem chegou a ser convocado – a comissão técnica priorizou os Jogos Olímpicos, e o Barcelona não liberaria o atacante para as duas competições.
Lesões, desgaste mental, calendário e outros aspectos que podem ter influenciado nos cortes são assuntos recorrentes para qualquer seleção no atual momento da temporada. Não é essa a discussão sobre o time brasileiro: especificamente falando do elenco montado para 2016, o que chama atenção é o distanciamento de objetivos.
E aqui, sem querer parecer oportunista, existe um problema de comunicação nevrálgico no trabalho de Dunga. Ao contrário do que aconteceu no ciclo anterior do treinador na seleção – ele trabalhou no time nacional entre 2006 e 2010 –, o grupo atual não “comprou” o discurso do comandante. Os exemplos são grandes, como Kaká ou Neymar (que estavam totalmente dentro do direito deles, diga-se), ou pequenos, como jogadores que não se encaixaram no que o comandante imaginou para o funcionamento coletivo da equipe.
Porque sim, a crise da seleção brasileira passa diretamente por um problema de comunicação. Isso não é uma simplificação – existe um problema maior, que passa pela estrutura do futebol nacional e que inclui toda a cúpula da falida CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mas um aspecto relevante na lista é a dissociação entre o discurso do treinador e as atitudes de seus atletas.
Antes de 2010, Dunga conseguiu moldar um elenco que cumpria suas determinações táticas com a mesma voracidade com a qual assimilava a ideia de grupo que o treinador tinha fora de campo. Esse elã não se repetiu em momento algum na atual jornada. Independentemente da lista de convocados ou da equipe disposta em campo, o Brasil não conseguiu repetir a formação de um elenco orgânico e disposto a representar os pensamentos de futebol e de mundo de seu criador.
Isso passa, é claro, por alterações na comissão técnica. O Brasil de Dunga na passagem anterior tinha Jorginho como auxiliar técnico. Hoje treinador do Vasco, era ele o responsável por atividades diárias e por muitas conversas com os atletas – o grupo que se unia em torno da fé evangélica, principalmente. Andrey Lopes, o Cebola, auxiliar da vez, é descrito por atletas como um estudioso. Tem treinos mais atualizados e ajuda na construção de um time que troca passes e muda rapidamente de direção, mas não contribui para os problemas de Dunga na gestão de pessoas.
A mudança de perfil dos atletas também influencia, é claro. Jogadores – e jovens – de hoje têm objetivos de vida distintos e maneiras diferentes de assimilar discursos. O treinador nunca foi um bom gestor de grupo, mas tornou essa característica ainda mais evidente ao não se atualizar.
Dunga de hoje não é como o Dunga de outrora. O técnico mudou em vários aspectos, do visual ao trato com a imprensa. No entanto, a sua personalidade segue com um problema intrínseco: é difícil formar um grupo coeso se você não souber como abordar personalidades diferentes usando caminhos diferentes.
Não é apenas pela falta de resultados que a situação de Dunga na seleção brasileira é insustentável. A demissão do técnico é questão de tempo porque ele não conseguiu ser o gestor de pessoas que o elenco necessita. E isso, por ser um problema pessoal, não tem a ver com crise técnica, problemas de gestão ou com a formação do atleta brasileiro, embora tenha relação de causa e efeito com tudo isso.
O futuro da seleção brasileira pode passar por diferentes perspectivas de jogo, diferentes atletas ou diferentes estratégias. Em todos os casos, contudo, é fundamental que a CBF pense em caminhos para que o espaço entre treinador e elenco seja menor do que o buraco existente atualmente.
A seleção brasileira não vive uma crise apenas dentro de campo. Enquanto a discussão for sobre fulano escalado em determinada posição ou beltrano ausente em sei lá quantas convocações, seguiremos vendo problemas como a avalanche provocada pela atual gestão de Dunga. O time nacional não deixou de ser prioridade para os atletas apenas por questões de status ou de carreira. Existe um problema de comunicação em aspectos como formação de grupo, clareza de objetivos e transparência sobre funções. E isso o treinador não parece sequer preocupado em mudar.
 
 
 

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A contribuição da Universidade do Futebol ao legado olímpico

Produzido pelo Comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 em parceria com escolas públicas e particulares, o projeto Transforma  Educação vem criando oportunidades, dentro das escolas de todo o Brasil, para estudantes de Ensino Fundamental e Médio vivenciarem os valores Olímpicos e Paralímpicos, através da prática de novos esportes que irão ocorrer dentro do território brasileiro.
A Universidade do Futebol, em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), contribuiu com conteúdos de aulas para quatro tipos de multiplicadores (Coordenadores Pedagógicos, Professores de Educação Física, Agentes Jovens e Tutores de Agentes Jovens), que transmitirão as experiências para o restante da escola e, principalmente, para os alunos. Os seguintes conteúdos são:
Aula 1: A brincadeira, o jogo e o esporte na sociedade
Aula 2: O esporte como direito
Aula 3: Os princípios da educação pelo esporte
Aula 4: Aspectos didáticos do ensino dos esportes
O projeto atua em mais de 10 mil escolas dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, envolvendo mais de 6 milhões de alunos direta ou indiretamente. O Transforma, desde 2014, já possibilitou mais de 7 mil vagas em formações, prática e teórica, e capacitações esportivas totalizando 40 mil horas de atividades.
Nós da Universidade do Futebol acreditamos que o esporte, assim como a brincadeira e o jogo, são excelentes ferramentas educativas que permitem aos alunos aprenderem bem mais do que técnicas, possibilitando bem mais do que diversão. Esses recursos, quando empregados claramente, favorecem a aprendizagem de valores, o desenvolvimento físico, motor, cognitivo e psicológico, entre outros.
 
Para ter acesso aos conteúdos, clique aqui e veja mais informações sobre o projeto:

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Novos rumos da Justiça Desportiva do Futebol

No meio do ano terminam os mandatos dos auditores e do Procurador Geral de Justiça do Superior
Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da CBF.
Esta semana, Wellington Campos divulgou em primeira mão, na Itatiaia, os prováveis nomes dos novos
auditores e do novo Procurador Geral.
Importante destacar que o Pleno do STJD é composto por nove membros, sendo 2 indicados pela CBF, 2
indicados pelos Clubes da Série A, 2 indicados pelos atletas, 1 indicado pelos árbitros e 2 indicados pela
OAB.
Dentre os prováveis vários nomes conhecidos e, com grande respeito no direito desportivo nacional,
estão:
a)Indicados pela CBF
Dr. Mauro Marcelo de Lima e Silva (SP) é delegado de polícia e presidente do TJD da Federação
Paulista de Futebol. Lima e Silva leva para o STJD sua experiência como presidente da Justiça
Desportiva da principal Federação estadual do futebol brasileiro.
Dr. Paulo César Salomão Filho (RJ) está no pleno desde 2012 e deve ser reconduzido. Salomão é
auditor do STJD do basquete, foi presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/RJ e membro do
Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RJ.
b)Indicados pelos Clubes
Dr. José Perdiz (DF) atualmente presidente da Quinta Comissão Disciplinar (1ª instância) do STJD da
CBF. Sua indicação demonstra a importância da Comissão Disciplinar.
Dr. João Bosco Luz (GO) é ex-presidente do Goiás, ex-procurador do STJD da CBF e é advogado
atuante no Direito Desportivo. Membro da Academia Nacional de Direito Desportivo, Bosco leva ao
Tribunal o casamento da teoria acadêmica e da prática.
Os nomes indicados pelos clubes teriam surgido de um consenso entre os 12 clubes de SP, MG, RJ e
RS que disputam a Série A.
c)Indicados pelos Atletas
Dr. Décio Neuhaus (RS) está no Pleno desde 2012 e deve ser reconduzido. Nuhaus é advogado
atuante no Direito Esportivo, advogado do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio Grande do
Sul desde os anos 90. E, desde 2008, da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol, a
Fenapaf. Já foi auditor do TJD-RS.
Dra. Arlete Mesquita (GO) é membro do TJD-GO e advogada do Sindicato de Atletas Profissionais do
Estado de Goiás. Mesquita advoga para uma série de entidades sindicais e deve ser a única mulher a
compor a cúpula do Tribunal. Conhecida pela boa fundamentação em seus julgamentos, ela levará ao
Tribunal os debates que tem proporcionado a Justiça Desportiva goiana.
d)Indicado pelos árbitros
Dr. Ronaldo Piacente (SP) atual vice-presidente do STJD, e cotado para ser o novo presidente, deve
ser reconduzido. Piacente foi presidente do TJD-SP .
e)Indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Dr. Otávio Noronha (DF), advogado militante, atualmente é auditor da Primeira Liga e da Quinta
Comissão Disciplinar (1ª instância) do STJD da CBF. Sua indicação demonstra a importância da
Comissão Disciplinar.
Dr. Antonio Vanderler (RJ), advogado militante, foi presidente do TJD-RJ e possui o Legal Law Master
pelo IBMEC-RJ. Atualmente, é auditor do TJD-RJ.
f)Procuradoria-Geral
Dr. Felipe Bevilacqua (RJ) é auditor do STJD da CBF. Advogado militante e professor da Universidade
Cândido Mendes, Bevilacqua é bastante respeitado no meio jusdesportivo. Mais um nome que levará ao
Tribunal o casamento da teoria acadêmica e da prática.
Caso se confirmem os nomes divulgados pelo Wellington Campos, haverá significativa renovação na
Justiça Desportiva brasileira, apontando para uma grande gestão que deve ser pautada pela tecnicidade
dos votos e pela qualidade dos debates.
A maior missão do “novo STJD” deve ficar a cargo do Procurador Geral Dr. Felipe Bevilacqua que deverá
substituir o competente e polêmico Dr. Paulo Schimitt.
Como ponto negativo, a falta de um representante mineiro.

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Por que a cena mais marcante de Flamengo x Palmeiras não fala apenas sobre violência

A cena mais marcante do Campeonato Brasileiro de 2016 não é de um gol, um drible ou de uma grande jogada. Aliás, sequer aconteceu dentro das quatro linhas. No último domingo (05), depois de torcedores terem entrado em conflito no estádio Mané Garrincha e de a Polícia Militar ter respondido com violência desproporcional e gás de pimenta, um homem com a camisa do time paulista chorou ao descer a arquibancada carregando no colo o filho cadeirante. Foi um trecho trágico de um episódio que apresentou alguns dos principais problemas do futebol nacional. E essa lista de problemas, ao contrário da maior parte do debate sobre o caso, não é apenas sobre violência.
Sobre violência: passou da hora de o futebol brasileiro discutir a composição de torcidas organizadas e o uso indevido que elas fazem de elementos como a imagem dos clubes ou o espaço público de entretenimento. São grupos heterogêneos, e pesquisas indicam que as ações violentas são causadas por uma minoria, mas não podemos seguir convivendo apenas com essa visão e admitindo que um pequeno grupo siga oprimindo todo um mercado consumidor de esporte.
Precisamos de ações mais incisivas, com inteligência e foco, para identificar e punir os culpados por ações criminosas dentro e fora de estádios de futebol. Precisamos parar de entender como natural uma relação promíscua como a que existe entre torcidas organizadas e a maior parte das equipes nacionais. Precisamos parar de admitir problemas tão graves como coisas naturais.
A entrevista extremamente lúcida do goleiro Fernando Prass ao canal fechado “Sportv” depois de o Palmeiras ter vencido o Flamengo por 2 a 1 passou um pouco sobre essas questões. O jogador da equipe paulista falou sobre como o comportamento criminoso de alguns que se dizem torcedores é reflexo de uma sociedade violenta e de como esses assuntos são tratados em âmbito nacional (e não apenas no esporte).
Prass, contudo, não falou sobre um aspecto extremamente relevante do problema. Mais uma vez, uma ação desastrosa da Polícia Militar transformou um problema grande em algo ainda maior. A reação dos oficiais ao que aconteceu no Mané Garrincha foi de guerra e não de segurança, e essa é a distinção básica em todos os episódios de violência em estádios pelo país.
Aliás, não apenas em episódios de violência. O tratamento destinado pela Polícia Militar ao torcedor de futebol é de combate e não de segurança. Desde a área externa, quando as pessoas são recebidas por oficiais da cavalaria, até a revista e a entrada, os procedimentos são virulentos, pouco educados e nada gentis.
As experiências com segurança privada não são infalíveis, bem entendido. Foi por causa de uma empresa que um grupo de chilenos conseguiu invadir o Maracanã durante a Copa do Mundo de 2014, que foi realizada no Brasil. No entanto, a questão aqui não é de margem de erro, e sim de procedimento. A violência da Polícia Militar não é condizente com um ambiente saudável e apenas amplia o estresse do consumidor. Isso não naturaliza a violência, mas é um elemento que não pode ser desconsiderado.
Outro elemento que não pode ser desconsiderado é exatamente esse: a experiência do torcedor. Quais são as lembranças que uma pessoa retira de uma ida ao estádio, desde o momento em que ela ficou sabendo do evento até a volta para casa?
A experiência começa com uma promoção adequada (em discurso, escolha de meios e planejamento de agenda), passa por um sistema de comercialização que seja eficiente (preço, ponto de venda e entrega dos bilhetes), inclui transporte até o estádio, alimentação, vivência no local e o jogo. Sim, o jogo.
Tenho um primo de oito anos que descobriu recentemente o estádio de futebol. O relato dele sobre a primeira partida vista in loco tem duas vertentes claras: um roteiro do que aconteceu em campo e um estranhamento sobre a quantidade de palavrões ditos na arquibancada.
Agora tente comparar isso com as grandes experiências de entretenimento. Tente comparar com um parque de diversões. Você pode até ficar espantado com as atrações (ou com o jogo), mas isso nunca vai encerrar seu relato. Sempre vai existir um detalhe sobre o ambiente, a estrutura ou o que acontece entre um brinquedo e outro.
O episódio de domingo é um exemplo da falência do futebol brasileiro porque mostra o quanto nós negligenciamos o debate sobre a experiência do torcedor. Ignoramos aspectos que vão desde a segurança a conforto, rota de saída em casos de conflito e coisas menos graves e igualmente relevantes, como as atrações além do que acontece em campo.
Na última segunda-feira (06), depois do episódio, a diretoria do Palmeiras avisou que vai convidar pai e filho para ver um jogo do clube no Allianz Parque, em São Paulo, para que ambos tenham uma experiência diferente com a equipe.
A pergunta é: retire da conta a violência. Retire da conta o que aconteceu de problema entre torcedores e polícia. Ainda assim, o modelo proposto por estádios brasileiros é o melhor tipo de entretenimento? Existe aí uma experiência que seja realmente incrível?
Enquanto não pensarmos nisso, vamos seguir achando que a violência é o quadro todo. Na verdade, esse assunto é apenas um trecho do contexto.ra