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A violência vencerá o futebol?

O mundo do futebol foi surpreendido pela vitória da violência sobre o futebol. Isso porque o Governo da Grécia decretou a suspensão do campeonato nacional por tempo indeterminado em razão de graves incidentes que antecederam o clássico entre o Panathinaikos e o Olimpiacos.

Os torcedores do Panathinaikos invadiram o campo quando o treinador da Equipe adversária realizava seu ritual de tocar nas redes em frente à torcida.

Infelizmente, a violência tem sido uma constante nos estádios de futebol pelo mundo a fora e, alguns países em específico, dentre eles o Brasil, parecem estar na iminência de deixar o futebol sucumbir.

No Brasil, o Estatuto do Torcedor traz alguns dispositivos que buscam combater a violência nos estádios de futebol, mas tem se mostrado insuficiente. Ademais, não há previsão legal para suspensão das partidas de futebol, como se deu na Grécia.

O ano de 2015 começou com alguns lampejos de genialidade no combate à violência. A primeira grande medida se deu no recife quando a campanha “security moms” levou ao clássico Sport e Náutico as mães dos torcedores como seguranças que receberem treinamento. A campanha trouxe certa comoção aos torcedores que emocionados abraçaram suas mães.

No Paraná, as Diretorias de Atlético e Coritiba sob o slogan “Uma Disputa Sadia. Um aperto de mão” lançaram a campanha “Sempre Rivais. Nunca Inimigos.” A campanha foi, de pronto, abraçada pelas torcidas organizadas que fizeram uma bela festa sem violência no primeiro clássico do ano.

Finalmente, no Rio Grande do Sul, Inter e Grêmio criaram o “clássico da paz” ao reservar um espaço de dois mil lugares para que colorados e gremistas sentem-se lado a lado no primeiro Grenal do Gaúcho. Neste espaço, o colorado terá o direito de levar um acompanhante colorado.

Estas medidas, ao mesmo tempo que representam uma forma da sociedade civil se movimentar, demonstram um incrível amadurecimento dos Dirigentes que deixaram a rivalidade agressiva de lado e decidiram usar a paz para promover o evento.

Tais medidas nos trazem a sensação de que algo de muito bom está para acontecer e de que logo estaremos muito longes do caos instalado no futebol Grego. 

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Razão e Emoção

O eterno dilema da razão ante a emoção aparece com alguma frequência no ambiente do futebol. Isso não é nenhuma novidade! No entanto, compreendê-lo em seus pormenores é fundamental para tentar explicar algumas tomadas de decisão que parecem incompatíveis com a vida real, mas extremamente comuns em um mundo de fantasias como o que se vive frequentemente no esporte.

Para ilustrar um pouco do processo racional, um estudo recente do Itaú BBA sinaliza os grandes problemas identificados nas contas dos principais clubes do futebol brasileiro (veja na notícia aqui: http://goo.gl/QItB1n ou com comentários aqui: http://goo.gl/QjoK47). Por sinal, ótimos estudos financeiros que balizam muito bem a compreensão sobre o estado periclitante do futebol brasileiro. Outros, de consultorias ou institutos de pesquisa igualmente indicam problemas similares.

A pergunta, no final das contas, é sempre a mesma: se é tão evidente que o problema existe, por que não há solução? Por que o futebol anda em círculos há tanto tempo, uma vez que os mesmos problemas somem e reaparecem como um passe de mágica?

A resposta está, sem dúvidas, no fator emocional, que impacta diretamente nos processos de gestão e respectivas tomadas de decisão. Enquanto não houver uma solução prática para o controle ou orientação aos clubes no sentido dos negócios com vistas a sua sustentabilidade econômico-financeira que gere benefícios reais e tangíveis tanto institucionais quanto pessoais (aos dirigentes), continuaremos a manter este estado de paralisia.

E, por mais incrível e inusitado que possa parecer, hoje, na forma que está, existem mais benefícios de curto prazo em não manter as contas em dia do que mantê-las “no azul”. Os efeitos negativos só aparecem no médio-longo prazo, quando o dirigente já não está mais no clube (e, às vezes, com alguns títulos no currículo, o que reforça ainda mais sua atitude nefasta perante a opinião pública em geral).

A resposta para explicar tudo não pode ser restrita a análise fria de balanços financeiros. Enquanto não houver uma solução para o efetivo equilíbrio entre razão e emoção na estrutura de gestão dos clubes, o assunto permanecerá recorrente por longas décadas!!! 

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O planejamento e a gestão esportiva

Hoje, caro amigo leitor, quero compartilhar com vocês uma reflexão breve sobre a importância do bom planejamento para a eficácia da gestão esportiva.

Sabemos que todo bom projeto de sucesso começa por um ótimo planejamento, pois todo esforço e tempo investido na fase do planejamento do seu negócio significa mais eficiência na execução do seu plano de ação e consequentemente aumenta consideravelmente as chances de sucesso na busca por atingir seus objetivos corporativos.

No futebol, se pensarmos no planejamento de uma temporada ou até sendo mais otimistas num sonhado planejamento de três ou cinco anos, de imediato aparece à importância de criarmos um plano de ação que seja robusto e que envolva toda a direção do negócio, bem como todas as áreas envolvidas. Atualmente não só no esporte, mas também nas demais organizações, essa percepção começa a ser valorizada e muitos gestores já estão sensíveis a necessidade de se fazer um planejamento estratégico e buscar com ele definir metas factíveis e mensuráveis para a evolução do negócio em questão. Mas talvez seja justamente neste ponto que muitos gestores possam cair na armadilha de acreditar que apenas por se ter uma ou mais metas o jogo esteja ganho e ao compartilha-las com toda a sua organização ou clube, no caso do futebol, isso já é o suficiente para que elas sejam atingidas no final do ciclo.

Aqui, neste exato ponto, quero dividir com vocês a importância se identificar de maneira mais próxima da realidade qual é a real distância entre a situação atual do seu negócio e a sua(s) meta(s) e em muitos casos falhamos nesse exercício de clarificação. Muitas vezes, enquanto gestores, evoluímos das metas diretamente para a elaboração dos planos de ação pelo simples fato de acreditarmos que conhecemos exata e profundamente os problemas que possuímos e as suas causas raiz, então elaboramos um plano de ação de forma empírica e sem o menor trabalho de análise sobre a situação. Neste momento a armadilha da pressa nos pega e o risco de executarmos um plano, falho em atender os objetivos do negócio, vira um fato e nos perdemos na execução do nosso trabalho de gerir e alavancar o negócio esportivo.

Como dicas para os gestores atuais e futuros, sugiro que usem e abusem das ferramentas básicas de gestão que podem contribuir para uma análise adequada da situação atual do seu clube enquanto negócio, com isso terão fatos e dados e identificação de causas que uma vez validadas, possibilitarão a elaboração de um plano consistente e com ações mais diretamente relacionadas aos seus objetivos estratégicos. Isto feito o desdobramento das metas em grandes ações, baseadas na análise das raízes dos seus problemas, permitirão o detalhamento de projetos e/ou tarefas (com seus respectivos responsáveis e prazos) que muito contribuirão efetivamente ao atingimento das metas desejadas. É importante também que sejam definidos indicadores relacionados às suas metas e que permitirão o devido acompanhamento do efeito da execução do seu plano em relação aos objetivos desejados.

Ah, por falar em acompanhamento, muita atenção com a gestão da sua rotina pois ser fiel as suas reuniões de acompanhamento e avaliação dos seus resultados são de fundamental importância para a manutenção do caminho a seguir e também permitirá que você como gestor do negócio possa ter possibilidade de corrigir rotas em caso de não eficácia das suas ações.

E aí, amigo leitor, acredita que o futebol por se beneficiar de uma boa gestão?

Até a próxima. 

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Afinal, o que pensa o torcedor?

Sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015: em post feito na rede social Facebook, a torcida organizada Independente chamou Muricy Ramalho de ultrapassado e cobrou a demissão do técnico do São Paulo, time que dois dias antes havia sido superado pelo Corinthians por 2 a 0 na abertura da fase de grupos da Copa Libertadores.

Sábado, 21 de fevereiro de 2015: o São Paulo bateu o Audax por 4 a 0 pelo Campeonato Paulista, no Morumbi. Não foi a redenção definitiva do time após a derrota no clássico, mas algo chamou atenção: em grande parte do segundo tempo, os pouco mais de 9 mil torcedores que foram ao estádio gritaram o nome de Muricy Ramalho.

“Eu estou no São Paulo há muito tempo. Muito. Comecei aqui aos nove anos, e essa aqui é a minha casa. Fico mais aqui do que na minha casa, mesmo. A torcida sabe o quanto eu trabalho, mas algumas pessoas querem fazer com que eles pensem outra coisa. Mas eu conheço tudo nesse clube, e qualquer movimento eu sei que acontece. É difícil fazer a cabeça da torcida, mas eu estou ligado e sei quem são [as pessoas que tentam fazer isso]”, disse Muricy em entrevista coletiva após o jogo.

Muricy não foi enfático, mas tampouco sutil: diante da sequência de fatos, o técnico do São Paulo sugeriu que a manifestação da torcida organizada contra ele tenha sido uma ação orquestrada. Afinal, é possível direcionar o que pensa “o torcedor”?

“O torcedor”, em primeiro lugar, é um conceito extremamente cinza. Times de futebol são instituições extremamente populares, que permeiam diferentes setores da sociedade e têm massas formadas por públicos absolutamente distintos. É impossível tentar igualar o comportamento de um membro de torcida organizada, por exemplo, com o de uma pessoa que ocasionalmente frequenta estádios ou com aquele que prefere apenas ver as partidas pela TV.

Ter isso em mente é fundamental para evitar um erro comum em estratégias de comunicação: é impossível criar um plano uniforme para toda a torcida, e isso independe do time. É fundamental pensar em um conjunto abrangente de ações, que chegue a grupos com objetivos e anseios notadamente diferentes.

A despeito disso, existe um problema no atual modelo de relacionamento entre clubes e torcedores no Brasil. Se as relações não são claras, manifestações de grupos passam a ser sempre condicionadas a ações direcionadas.

Para deixar mais claro: como os times não têm um planejamento definido e extenso sobre comunicação para diferentes perfis de torcida e mantêm relações obscuras com torcidas organizadas, nenhuma manifestação pode ser admitida prontamente como algo legítimo.

O comportamento da torcida do São Paulo serve como exemplo nesse aspecto. Os organizados realmente queriam a demissão de Muricy Ramalho ou trabalharam, como sugeriu o treinador, a partir do direcionamento de alguém no clube?

A questão pode parecer pequena, mas tem efeito em larga escala. Para citar outro exemplo relacionado ao São Paulo, a mesma organizada boicotou o jogador Richarlyson quando ele defendia a equipe tricolor. Antes do início das partidas, o meio-campista era o único que não tinha seu nome gritado. Isso gerou discussão nas arquibancadas, e outros grupos chegaram a homenageá-lo.

Tudo isso é parte de um problema de comunicação na relação entre clubes e torcedores no Brasil. Com os sócios-torcedores ganhando importância, têm sido mais frequentes as ações focadas nesse público e na criação de conteúdo relevante para quem é filiado. Mas o que é feito em larga escala?

Torcidas organizadas são instituições independentes, é verdade, mas usam a marca dos clubes. Um plano adequado de comunicação deve zelar por todas as aparições de uma marca, e bradar independência não é suficiente nesse caso.

O Cruzeiro já iniciou um caminho e anunciou que cobraria de organizadas pelo uso da marca do clube. O Palmeiras deu outro exemplo e cortou benefícios concedidos às torcidas. No entanto, ninguém pensou até hoje em como aproveitar de forma profissional esse grupo grande e apaixonado.

Torcedores organizados são fanáticos. Portanto, como mostra qualquer pesquisa, estão no grupo mais propenso a gastar dinheiro com seus clubes. Essa paixão e essa disposição precisam ser trabalhadas, e não menosprezadas.

Torcedores comuns têm relação mais distante com os clubes e consomem menos. Por isso, também precisam ser afagados sempre – eles são as pessoas que circulam nos corredores de um shopping e que precisam ser cativadas por uma vitrine.

São necessidades bem distintas, é verdade, mas são dois potenciais igualmente mal aproveitados. Os clubes brasileiros não trabalham de forma consistente para extrair o máximo de seus torcedores / consumidores, e a comunicação tem enorme parcela nesse problema.

Em vez de ter um plano claro de ações para os torcedores, é mais conveniente direcioná-los de forma sutil. O público podia ser um ativo dos clubes, mas passa a ser massa de manobra política.

O futebol brasileiro precisa entender que discutir o que acontece nas arquibancadas não pode ser apenas “conter a violência” ou “tratar bem o torcedor”. É preciso aproveitar o potencial que esses grupos têm. 

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O mapa mental do futebol

Olhar para o jogo (e para o treino) de futebol é uma tarefa de elevado grau de complexidade. A infinidade de relações e interações possibilita uma gama de interpretações do jogo que varia de acordo com a capacidade que cada indivíduo tem de compreendê-lo. Varia também através dos recursos disponíveis, que traduzem em informações relevantes elementos não tão perceptíveis a “olho nu” ou em tempo real.

Neste contexto, limitações na capacidade de interpretação do jogo, recursos insuficientes ou irrelevantes podem trazer consequências negativas ao processo de crescimento e desenvolvimento que é a permanente construção de uma equipe de futebol.

Para organizar a interpretação do Jogo (e do treino) uma ferramenta simples pode ser utilizada. Idealizada pelo escritor inglês Tony Buzan e denominada Mapa Mental, tal ferramenta consiste num diagrama e tem como objetivo a compreensão e solução de problemas. Através de um registro gráfico, os mapas mentais têm sido utilizados em todas as áreas do conhecimento humano para planejar qualquer tipo de evento, profissional ou não, individual ou em grupo.

De acordo com o site Wikipédia, os Mapas Mentais já foram utilizados por mais de 250 milhões de pessoas.

Você, alguma vez, já utilizou um mapa mental para o futebol?

Como você organiza as ideias e informações do Jogo?

Para ler a coluna na íntegra, basta clicar aqui

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Desempenho financeiro do Flamengo em 2014

O Flamengo foi até o momento o clube brasileiro que mais chamou a atenção, em termos financeiros em 2014.

O clube da Gávea viu suas receitas crescerem ainda mais que em 2013 e manteve um controle efetivo dos custos com futebol.

Paralelamente resolveu o problema histórico do clube renegociando débitos fiscais, contribuições sociais e FGTS com o Governo Federal.

Todos esses pontos são realmente destaques extremamente positivos da gestão do atual presidente Eduardo Bandeira de Melo.

Confira o artigo na íntegra, clicando aqui.

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Libertadores também se ganha nos tribunais

Enfim começou a fase de grupos da competição de clubes mais importante das Américas, a Copa Libertadores. E neste ano, o Brasil conta com representantes fortíssimos: Atlético, Corinthians, Cruzeiro, Internacional e São Paulo. Todos já conquistaram a América.

Com o objetivo de trazer mais transparência, lisura e disciplina às competições, desde 2013, a Copa Libertadores conta com um Código Disciplinar que traz o embasamento normativo do Tribunal Disciplinar da Conmebol que tem a atribuição de julgar os atos de indisciplina dos atletas, clubes, dirigentes e até mesmo dos torcedores.

As decisões tomadas pelo Tribunal Disciplinar da Conmebol poderão ser objeto de recurso que será julgado pela Câmara de Apelações da entidade.

Diante disso, além de montar uma boa equipe, os clubes deverão estudar o Código Disciplinar e disponibilizar um departamento jurídico preparado, pois, as decisões do Tribunal da Conmebol podem retirar atletas de jogos importantes, determinar a disputa de partidas sem torcedores e, até mesmo, eliminar um clube da competição.

Ora, uma análise equivocada de um ato de indisciplina o de um processo disciplinar pode derrubar o planejamento desportivo de um ano inteiro.

Imagine a perda do mando de campo em uma partida de “mata-mata” contra o Boca Jr, ou a falta de um Ganso, Jadson, Nilmar, Luan ou Fábio em uma partida decisiva?

Um grande exemplo da interferência disciplinar no âmbito desportivo foi experimentado pelo São Paulo que não pôde estrear o atacante Ricardo Centurión no clássico contra o Corinthians, já que o argentino foi expulso na partida entre Racing e Lanús, pela Copa Sul-Americana de 2013, e foi condenado a duas partidas de suspensão. Como o jogador não disputou nenhum torneio da Conmebol desde então, terá de cumprir na Copa Libertadores deste ano.

Por todo exposto, é imprescindível que os clubes brasileiros profissionalizem seu departamento jurídico a fim de garantir julgamentos disciplinares justos e, impedir, eliminações precoces na Libertadores da América.

Vale destacar que, por mais que alguém possa ter relutância em aceitar a possibilidade de contribuição jurídica para um título, e por mais que não se ganhe competições no Tribunais, é possível que se perca e a Portuguesa está aí como exemplo.

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Torcidas

O tema “torcidas organizadas”, quase que invariavelmente associado a violência, voltou à tona nas primeiras semanas de 2015 por força de uma série de casos recorrentes, que se repetem ano após ano há algum tempo e se intensificam justamente neste período, quando diversos clássicos regionais são disputados em um curto período de tempo.

O assunto é de extrema importância para o ambiente de negócios que se debate também há algum tempo no futebol brasileiro. A violência associada ao futebol afasta, por um lado, diversos torcedores, como muitas pesquisas tem apontado e se materializa pelos números pífios de ocupação e média de público nos estádios. Mas, por outro lado, as torcidas organizadas, quando bem estruturadas ao sabor de um projeto mais amplo, poderiam ser um eixo condutor para uma maior atratividade do jogo, contribuindo para o apreço e deleite sobre o jogo.

A questão é de uma complexidade enorme e me assusta bastante as soluções que se aplicam na prática. Mais das vezes, como é comum em nossa cultura, são proposições paliativas, que atendem unicamente um determinado momento, sem um olhar para o futuro. E, em quase todas elas, como já abordei inúmeras vezes aqui neste espaço, os clubes e as entidades de administração se mostram omissas a alguns processos decisórios.

Por sua vez, ações como a do próximo clássico GreNal, com setor específico para torcida mista (http://globoesporte.globo.com/rs/noticia/2015/02/dupla-gre-nal-confirma-setor-de-torcida-mista-no-beira-rio.html), são um alento e uma esperança por um futuro muito mais positivo neste âmbito. E mesmo que ocorra uma eventual falha, a atitude não pode e não deve ser rejeitada ou subjugada. Precisa sim ser dada uma margem para aprendizagem e evolução do processo.

Reforço a necessidade de se debater mais amplamente o assunto e de trabalhar a questão de uma maneira muito mais holística. Se um projeto consistente for bem aplicado neste âmbito no futebol brasileiro teremos grandes chances de transformarmos significativamente a experiência de se assistir futebol… no mundo! 

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O futebol e a perda de relevância

A temporada 2015 já apresentou duas grandes mudanças no futebol brasileiro. O calendário nacional foi refeito, espremeu os Estaduais e ofereceu aos times um período para pré-temporada. Além disso, a TV Globo deixou de exibir a rodada de sábado de Carnaval, que tradicionalmente era a pior audiência da emissora com a modalidade. As duas coisas parecem distantes, mas são parte de uma análise maior sobre relevância.

A criação de um período de pré-temporada, por exemplo, teve de ser avalizada pela Globo e por seus parceiros comerciais. A TV não mexeu no bolso, é claro. Em vez disso, teve de convencer os patrocinadores de que um mês sem jogos não afetaria o resultado final do pacote futebol.

Esse processo de convencimento demandou negociação. Surgiu aí o limite de inscritos, regra adotada por alguns dos principais Estaduais de futebol em 2015. Impedir o uso de um grande número de atletas foi uma forma encontrada por TV e federações para forçar o uso de formações titulares – em anos passados, algumas das grandes equipes nacionais vinham preservando suas estrelas em partidas dos torneios regionais.

A lógica não é tão simples assim, é claro, mas o reducionismo aqui é didático: a Globo e os patrocinadores aceitaram ficar sem jogos durante um período maior. Para isso, quiseram que os times usassem suas principais estrelas. Algo como “tenho um produto por menos tempo, mas tenho um produto melhor”. E menos de um mês depois do início, a TV abre mão de exibir uma rodada.

Em outras palavras, a Globo tentou forçar federações e clubes a criar um produto que fosse um pouco mais atraente. E nem assim o futebol mostrou força suficiente para ser um produto viável em meio a um feriado.

Um pouco disso tem a ver com o perfil: o Carnaval é um feriado extremamente importante para o público que consome futebol. No entanto, é inegável que esses movimentos são prova da perda de relevância dos Estaduais.

E aí existe um problema enorme de comunicação. O que os Estaduais fazem para impedir essa perda de relevância? Qual é o trabalho desenvolvido por clubes, federações ou até mesmo pela Globo?

Essa não é uma discussão sobre o modelo ideal de calendário. Tampouco sobre as mazelas que seguem no futebol brasileiro – a pré-temporada ainda não é ideal, por exemplo, e a queda de popularidade dos Estaduais tem relação com um processo de sucateamento do esporte nacional. A questão aqui é puramente sobre comunicação: existe um problema colocado, que é de perda gritante de relevância. O que está sendo feito para impedir que isso continue?

Os Estaduais são ferramentas políticas relevantes no atual cenário do futebol brasileiro. São torneios importantes para os times pequenos, e os times pequenos são responsáveis pelos votos que mantêm o poder nas federações. Ah, e as federações têm os votos que mantêm o poder na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Esse ciclo é claro para qualquer um que acompanha a modalidade. O que assusta é ver que nem os integrantes da roda demonstrem preocupação.

O exemplo mais gritante disso é a violência. Qualquer pesquisa sobre o que afasta os torcedores de estádios de futebol no Brasil tem esse aspecto como o mais citado. E onde estão as campanhas institucionais para mudar a percepção do consumidor?

Em Pernambuco, o Sport fez uma ação curiosa (mães de torcedores foram colocadas para fazer a segurança de um setor no clássico contra o Náutico). No Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio criaram um setor misto para o clássico.

São boas medidas, e ambas têm chance de criar ambientes menos violentos. Mas são ações isoladas, que não têm qualquer repercussão no contexto geral do país. Isso não é uma crítica ao que os clubes fizeram, mas à falta de um planejamento que uma federações, clubes e agentes sociais para que isso seja a regra, e não a exceção.

Em São Paulo, a discussão foi em torno da adoção de torcida única nos estádios. O Ministério Público do Estado sugeriu isso para o clássico Palmeiras x Corinthians, que foi disputado no Allianz Parque, mas a medida foi abortada após pressão de vários lados.

A pergunta é: em meio a toda essa discussão, o que foi feito para conscientizar o torcedor que foi ao estádio? Que medidas ativas foram tomadas? Banners e faixas pedindo o fim da violência não são mais suficientes.

O futebol brasileiro está perdendo relevância, e os Estaduais são o maior exemplo disso. Será que alguém vai fazer algo para impedir que o processo continue? 

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Enciclopedião – A Arena Nilton Santos

Não gosto de mudar nome de logradouro. Especialmente quando batizado com nome de gente.

Vinícius de Morais merecia todas as esquinas e cantos do Rio. Mas Montenegro é sobrenome. É gente. Não precisava mudar o nome da rua. Para homenagear um ícone não precisa “desomenagear” uma pessoa. Vale até para ditador que dá nome a minhocão, ponte, rede de esgoto, o que for.

Meu pai já virou túnel na Imigrantes, escola do SESI na Tambaú natal, espaço cultural no Rio de Janeiro, rua em Campos do Jordão (que tinha nome de flor), e tinha um projeto que quase foi levado à Câmara Municipal de São Paulo para que a Turiaçu (onde fica o clube e o estádio do Palmeiras) se chamasse rua Joelmir Beting.

Agradeci imensamente ao carinho e atenção do vereador paulustano Laércio Benko. Mas antes de meu pai tem tanto palestrino e palmeirense que merece a homenagem que não sei nem por onde começar. Para não dizer que Turiaçu, em tupi, significa “campeão do século”.

Enfim, falando sério, sou contra mudar os nomes dos logradouros. O direito ao nome é sagrado.

(E, se quiser vendê-lo, a história é outra. É naming right, outros direitos e deveres já aqui bastante falados).

Mas tem um novo estádio no Rio. Ou um novo nome que, de tão clássico, é verbete de enciclopédia. Melhor: é a própria.

Oficialmente é o Olímpico João Havelange, pronto em 2007 muito mais caro que o orçado, fechado para reformas em 2013 por problema bizarro e discutível, e, agora, parcialmente reaberto por quem está tomando conta dele: o Botafogo.

O nome oficial é mais oficial que nome. Mas está lá. Que lá fique.

Engenhão é o popular, ainda que não seja tão popular assim.

Mas o nome de rebatismo é o que merece pegar.

Arena Nilton Santos.

Inaugurada com goleada de 4 a 0 sobre o Bonsucesso. Um time muito longe do Fogão que foi de Nilton de 1948 a 1964. Mas que venceu um Bonsucesso que havia vencido o time de Nilton no primeiro confronto, em maio de 1948, por 2 a 1.

Outros tempos, outros templos.

Mas o Nilton que dá nome ao Engenhão-Havelange é o que deveria ficar. Eterno como Nilton Santos. É lei. Nilton. É eterno. Santos.

Com todo respeito ao ex-presidente da CBD de 1958 a 1974 (tricampeão mundial), com todo respeito ao presidente da Fifa (1974 a 1998), e nenhuma admiração por muitas das denúncias, o estádio municipal arrendado pelo Botafogo já merecia homenagear o filho da Ilha do Governador desde sempre.

Outros grandes craques cariocas poderiam dar nome ao estádio do Pan e da Olimpíada. Zico, para ficar em um só.

Mas Nilton, que sempre foi Botafogo na carreira iniciada tarde (22 anos), é o nome que não se discute para ser a casa do Botafogo. Como desde 2000 é estádio em Palmas.

Nilton que não era Botafogo até virar o maior, em 1948.

Nilton que no fim de 1947 foi treinar nas Laranjeiras, mas ficou sem graça de ver a pompa da sede do Fluminense naquele noite de treino. De ver as roupas caras de Ademir de Menezes e Rodrigues Tatu nos salões tricolores contrastadas com a roupa do homem simples da Ilha.

Santos preferiu seguir para o Largo do Machado ali perto, comer um sanduíche com média, pegar várias conduções e voltar para a Ilha do Governador e para as peladas, de onde meses depois seguiria para não sair mais de General Severiano. E, de lá, para o Maracanã, em 1950, Rasunda, em Estocolmo, em 1958, Nacional de Santiago, em 1962, e para o panteão do futebol mundial desde então. (LEIA MAIS A RESPEITO NO IMPERDÍVEL “O VELHO E A BOLA”, de MANECO MULLER (Maquinária Editora).

Motivos não faltam agora para chamar o estádio de Nilton Santos.

Deveria ser sempre. Como é o Rei Pelé de Maceió. O Mané Garrincha de Brasília.

Como virou Ferenc Puskas, em Budapeste.

Como virou o Giuseppe Meazza, em Milão.

Como ainda não são mais estádios pelo mundo batizados em homenagem a quem tanto construiu cada história de amor. Muitos deles têm nomes de grandes cartolas de grandes fortunas que os construíram. E que seriam ainda maiores e mais ricos se dessem às obras de pompa e muitas vezes arrogância nomes dessa gente simples que compôs a história do futebol do time.

Sempre o real motivo para a construção de colossos de cimento amado.

Ainda são poucos estádios com nomes de mitos entre tantos craques raros e caros.

Mas os poucos mais que merecem. Como o Nilton da Ilha do Governador. Aquele que inspirou a pena botafoguense do acreano Armando Nogueira:

“Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos”.

Já são dois estádios agora os tantos cantos de Nilton.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.