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A caminho da África!

Caro leitor,

Excepcionalmente nesta semana não teremos a coluna do Erich Beting. O jornalista está a caminho da África do Sul!

Aguarde até a próxima semana para receber notícias fresquinhas direto do país da Copa!

Um grande abraço,

Equipe Universidade do Futebol

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Confira todas as colunas de Erich Beting

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Marcar em profundidade e marcar em largura: linhas de marcação mais compridas ou um número maior de linhas?

Mais uma vez vou tentar uma “vídeo-coluna-tática”.

A idéia é discutir as vantagens e desvantagens de se utilizar mais linhas de marcação na composição do esquema tático (por exemplo, ao invés de um 1-4-4-2, utilizar um 1-4-2-2-2), ou ao invés disso, linhas mais compridas.

O vídeo tem pouco mais do que cinco minutos.

Vamos lá!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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Energia para a Copa

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Estamos aí, já no clima da Copa do Mundo. Assim, não tem jeito, vamos nos dedicar agora nessa coluna a assuntos relacionados a esse grande evento.

E, nesse momento de “esquentar as turbinas”, nada mais apropriado do que falar sobre o assunto da energia. Aliás, com toda a discussão que envolveu a futura construção da usina de Belo Monte no Brasil, o tema fica ainda mais propício.

Sempre soubemos que a questão energética é um desafio para a África do Sul e será um dos desafios prioritários para o Brasil em 2014. Recentemente ouvimos que diversas medidas serão tomadas para que se evitem um apagão no mundial deste mês. Dentre as ações, destaca-se a economia forçada de energia por algumas empresas de impacto na África do Sul, que desligarão suas máquinas, luzes, etc, quando for possível.

Isso nos mostra, de cara, que existe um desperdício crônico de energia. Ora, por que essa economia de energia não é sempre realizada?

Outro ponto que devemos atentar, é que essa necessidade gritante por mais energia não pode atropelar a discussão sobre as formas de produção de energia sustentáveis, tais como a energia eólica e outras formas de energia limpa. Os governos não deveriam avançar com projetos de energia nuclear, por exemplo, que apesar de muito eficiente, resultam em uma grande quantidade de lixo atômico e ainda uma sempre presente possibilidade de exploração da energia nuclear para fins militares.

É preciso que se trabalhe com eficiência nessa questão, mas com muita responsabilidade, pensando sempre no futuro de nosso planeta.

A discussão leva sempre para aquela máxima de que grandes eventos como a Copa do Mundo deveria trazer melhorias definitivas e sustentáveis para os países-sede, e não trazer apenas soluções provisórias para apenas viabilizar o evento (isso é principalmente verdade na questão da segurança e redução da criminalidade).

Ou seja, vamos tentar propor medidas definitivas de controle de consumo de energia e de formas limpas e renováveis de produção de energia (para não falar nas outras tantas áreas como a saúde, segurança, educação, etc).

Só assim a Copa poderá se justificar, de verdade, dentro da realidade de países que poderiam gastar as verbas de viabilização do evento em outras tantas questões sociais.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Impasse em Curitiba

Curitiba passa por uma situação interessante em relação à Copa do Mundo de 2014. A cidade foi aprovada, o projeto do estádio foi aprovado, mas ninguém sabe quem vai pagar por tudo isso. Quando decidiram correr atrás de ter a cidade escolhida como sede, diversos setores se uniram em prol do objetivo. Quando chegou a conta, ninguém quer ficar responsável por ela. Afinal, o projeto não é financeiramente viável. Quem pagar vai perder dinheiro, e bastante. E não há dúvidas de que se de fato houvesse alguma maneira de alguém ganhar dinheiro com isso, não haveria qualquer impasse. O problema teria se resolvido há tempos.

O poder público não paga porque não pode fazê-lo por lei, uma vez que o estádio é uma propriedade privada. Para se ter uma ideia, Curitiba é uma cidade tão desligada esportivamente que o único ginásio esportivo que teria capacidade de abrigar uma partida de uma liga futsal, por exemplo, está abandonado. Curiosamente, ele fica do outro lado da rua do estádio Pinheirão, que é da Federação Paranaense de Futebol e que também está ao léu há muito tempo. Portanto, não há tradição, demanda ou interesse do poder público em investir em estrutura esportiva, logo se a cidade quer hospedar o evento ela teria que optar pelo melhor estádio disponível, que no caso é a Arena da Baixada.

O problema, lógico, é que se o estádio é do Atlético Paranaense e vai continuar sendo após a Copa, então é ele que tem que se preocupar em reformar sua própria casa. Só que o Atlético não tem interesse em abrir o bolso para reformar o estádio. Ele já está muito feliz com o que tem hoje e sabe que investir em qualquer reforma agora abalaria imensamente a já combalida situação financeira do clube.

Estima-se que a reforma custe cerca de R$ 130 milhões, que o BNDES já disse que empresta, em uma linha especial com juros bem abaixo dos praticados normalmente. Mas é dinheiro emprestado, e não dado. Logo, se a taxa for de 5% ao ano, vai pagar já de cara R$ 6,5 milhões por ano só de juros, coisa que o clube certamente não tem caixa para fazer. Para piorar, é bem provável que a direção rubro-negra tenha que dar o próprio estádio como garantia do empréstimo, o que pode significar que ele pode eventualmente terminar a reforma do estádio e perdê-lo para o banco logo em seguida. Ou então as garantias virão do patrimônio pessoal dos dirigentes atleticanos, o que deixa tudo ainda mais caótico. O Atlético, portanto, também não quer correr o risco de pagar pela Copa.

A solução imaginada seria um investidor privado. Só que nenhum investidor privado vai embarcar na furada. Um investidor só teria interesse se o estádio fosse construído em uma área degradada e com baixa valorização imobiliária em que ele pudesse aproveitar as grandes reformas urbanas que serão realizadas na área do estádio para ganhar com a especulação em cima de imóveis vizinhos que viriam a usufruir de uma melhor estrutura. O problema é que o estádio do Atlético já é localizado em uma área relativamente nobre de Curitiba, em que o mercado imobiliário não apenas já é elevado, como é bastante distribuído, com uma enormidade de pequenos apartamentos e outros pequenos imóveis. Portanto, qualquer operação imobiliária nesse sentido fica praticamente impossível, espantando possíveis investidores.

Resumindo: há um claro impasse na realização da Copa do Mundo em Curitiba, muito por conta pela falta de planejamento inicial da cidade em hospedar o evento. Ao que tudo indica, os envolvidos se preocuparam primeiro em fazer a cidade ser escolhida como sede para depois se preocupar com como tudo será viabilizado, uma prática mais do que comum no ambiente político.

A pressão ainda está pequena. Assim que acabar a Copa de 2010, porém, o impasse deve virar foco das atenções da mídia nacional e internacional, além da própria Fifa. E só há uma escolha a ser feita: ou o governo estadual e municipal dá dinheiro para o Atlético, ou a Copa não acontece na cidade. Simples assim.

O discurso entre os envolvidos dá conta que uma solução será encontrada em breve. O problema é que não há nenhum grande político encampando de frente o projeto e assumindo a briga para si. Em ano de eleição, no qual todos os candidatos tentam ganhar visibilidade em qualquer beco possível, isso é preocupante. Ninguém quer assumir o projeto, e isso dá indícios do tamanho do problema. Se o problema tivesse boas probabilidades de ser solucionado, não há dúvidas de que haveria muitas figuras públicas tentando ganhar notoriedade com ele. Mas não há, e isso dá um indício do quão complicada é a situação.

No fim das contas, ou o estado e o município admitem o equívoco do projeto e assumem a bomba com todos seus ônus políticos e financeiros, ou Curitiba vai ficar sem a Copa do Mundo. Aí, talvez, a cidade, de fato, faça jus ao seu difundido estereótipo de cidade modelo do Brasil. Seja para o bem, seja para o mal.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Novidades da Copa

Olá, amigos!

Na semana passada fizemos uma brincadeira sobre um suposto diálogo de pessoas que, em época de Copa do Mundo, passam a se envolver com o futebol para ilustrar a importância que o evento exerce sobre as pessoas. O poderio que tem em termos de mídia e envolvimento.

Seja nas inovações nas plataformas de jogo e planejamento das equipes, sejam em inovações das transmissões televisivas e coberturas jornalísticas, seja em todos os segmentos, que direta ou indiretamente atingem o futebol.

Num momento mágico no qual todos param, alguns aceleram e buscam aproveitar o glamour do evento para difundir novos paradigmas que podem durar décadas, um período copal (uma triste analogia deste autor para se referir ao espaço de quatro anos entre as Mundiais) ou ainda apenas o instante no qual acontece a Copa, dada a velocidade das transformações que ocorrem na sociedade hoje.

Em 2006, as manchetes diziam ser a Copa da era dos celulares. Em 2010, o discurso engloba além dos avanços do setor de telefonia, bolas com ranhuras diferenciadas, a era das redes sociais, além, é claro, da perspectiva das transmissões 3D.

Eis uma síntese do que movimenta o ano de Copa do Mundo

Álbum virtual de figurinhas

 

Pode parecer simples, mas desperta uma nova modalidade em expansão ligadas às redes sociais que estão comentadas também mais adiante.

Bola Jabulani

Bola desenvolvida pela Adidas para a Copa da África, com foco nas ranhuras que ajudam a aumentar o atrito com o ar, principal deficiência da bola anterior - por ser muito lisa, tinha uma trajetória mais influenciada pelo ar.

 

Redes Sociais e Convergência Digital

As redes sociais têm na Copa talvez o momento do seu ápice em termos mundiais, com promoções e campanhas especializadas no assunto. Tanto pela perspectiva das próprias redes sociais, como é possível conferir na entrevista de um funcionário do Twitter à rede CNN*.

“Imaginamos que a Copa do Mundo irá superar tudo o que já vimos no Twitter, inclusive as eleições norte-americanas ou o Super Bowl, simplesmente porque é um evento mundial”.

Como também, nas ações de publicidade voltadas para o segmento de convergência digital, igual a alguns casos que observamos com reflexos aqui no Brasil, por exemplo o caso dos projetos ainda em fase de implementação do Chip do Timão e do Clube do Futebol, que englobam serviços de estatísticas, acompanhamento de jogos e outras informações sobre os jogos no celular (que retomaremos num espaço maior em outras colunas).

Copa 3D

Eis aqui o que pode significar o maior impacto naquilo que se refere às inovações trazidas pelo grande evento Copa do Mundo.

A expectativa da cobertura de até 25 jogos no acordo firmado ente a Fifa e a Sony promete mexer com os ânimos dos mais aficcionados pelo futebol, até aqueles que estariam mais para o diálogo apresentado na semana passada.

No Brasil, a rede Globo também anunciou uma parceria com a Cinemark para a transmissão de alguns jogos em 3D nas salas de cinema da rede em diferentes estados brasileiros.

Resta-nos saber o que dessas prováveis inovações ficarão como legados, o que será passageiro e o que surgirá ou será ressiginificado para os próximos grandes eventos.

Para você, qual será o grande legado tecnológico dessa Copa?

*Fonte: http://edition.cnn.com/2010/SPORT/football/04/26/football.world.cup.social/index.html

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Uma chance perdida

Sábado, no Palestra Itália, mais de 18 mil torcedores foram torcer pelo Palmeiras contra o Grêmio. Mais do que a empolgação pelo time, o que moveu essa massa ao estádio foi a notícia de que aquele seria o último jogo oficial do Palmeiras em sua antiga casa, construída há mais de meio século.

Mas parece que só a imprensa e a torcida deram bola para a informação. Em meio a uma guerra de bastidores, a diretoria alviverde preferiu dissolver a estratégia previamente programada para o “jogo final”.

Em campo, a festa foi só dos jogadores. Vitória por 4 a 2, com direito a susto e até um grito de “olé” nos minutos finais. Só por precaução, já que poderia ser o último grito de “olé” no antigo Palestra Itália…

E onde estava o trabalho de marketing do clube? Nenhuma placa alusiva ao jogo, nenhum foguetório programado, nenhuma lembrança para ser comprada na loja oficial depois da partida. Aliás, loja que foi fechada logo que a partida começou, como se uma vitória não fosse incentivar o consumo.

Se o jogo foi de despedida, não há o que comemorar. A diretoria palmeirense se preocupou mais com o momento do time dentro de campo, esquecendo-se do básico: torcedor não é movido pela vitória, mas pela história.

Nem mesmo o ingresso para a partida derradeira continha uma lembrança, algo que fizesse daquele canhoto mais especial do que da até hoje mais feliz das vitórias no Palestra Itália, a final da Libertadores de 1999.

Não ficou nada para registro histórico, a não ser mais um canhoto de ingresso. Que precisará de uma placa ao lado, explicando porque ele é tão especial que merece uma moldura no quarto, na sala, no banheiro, onde quer que seja.

É mais uma chance perdida. E outra mostra da miopia do dirigente esportivo, que confunde marketing com captação de patrocínio, que não vê que a verdadeira função do departamento não é apenas trazer parceiros comerciais, mas mobilizar o torcedor em volta da marca do clube.

Muitas vezes a vida do torcedor foi construída dentro de um estádio de futebol. Foi ali que ele aprendeu a ter algo em comum com o seu pai, foi ali que ele formou o primeiro grupo de amigos, foi ali que ele conheceu namoradas (os) e, quem sabe, a mulher/o homem da vida. Um dos primeiros hábitos da infância de um apaixonado pela bola se constrói dentro de um estádio.

Quando você tem a sensação de que será a última vez que você verá aquele lugar daquele jeito, não dá para não comparecer, não festejar, não se emocionar. O time é o de menos, a fase não importa.

O que não dá para acreditar é que nada foi feito para o torcedor num dia tão especial…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O brasileiro partido ao meio

O povo brasileiro tem esperança, fé e religiosidade.

O brasileiro é homem bom, cordial e festeiro.

O povo brasileiro costuma acreditar em tudo, também num futuro melhor.

Tanto, ao ponto de ser facilmente enganado pelo canto da sereia que vem das urnas, de dois em dois anos.

O brasileiro tem uma grande paixão: futebol. Dizem as pesquisas que somos 75% os que gostam desse esporte.

Esse é o lado otimista da história.

O lado que ofusca um país, com patriotismo de ocasião, a cada quatro anos, às vésperas de Copas do Mundo.

O lado pessimista também de cores fortes.

O povo brasileiro não tem e não preserva sua memória, sua história.

O brasileiro que fazer tudo no jeitinho e na malandragem.

Quer levar vantagem em tudo.

O brasileiro não respeita as pessoas, pois as têm como totalmente boas ou totalmente más.

Ou servem ou não servem. Pior, julgando num curto espaço de tempo ou esquecendo os feitos, sem memória – fechando o círculo do pessimismo.

Vemos isso todos os dias nas coletivas de imprensa com treinadores, jogadores, comentaristas, jornalistas ou em programas de TV. A racionalidade é desprezada, em favor do excesso de paixão – positiva ou negativa.

O futebol se esquece do respeito ao homem e do que foi realizado pelas pessoas, mirando apenas o presente.

Um livro excelente de Ítalo Calvino, escritor italiano, chamado O Visconde partido ao meio, aborda, inteligentemente – e destroça – o maniqueísmo reducionista existente na sociedade, alertando ao ser humano para pensar mais e conhecer sobre sua natureza dual.

O Visconde Medardo é um jovem tenente que vai à guerra contra os turcos. No meio do combate, já vitorioso, salta na frente de um canhão inimigo e leva um tiro de canhão que o parte ao meio. Uma metade do Visconde, que foi encontrada por médicos do exército cristão, retorna para casa, totalmente ruim e sombria. Mais tarde, retornará a parte boa, que foi cuidada por monges. É a história de um homem partido ao meio.

O lado bom de Medardo é alguém que se põe a serviço da natureza. Pensa na melhor forma de extrair da terra os alimentos sem destruí-la, está a serviço das crianças e dos velhos, ouve a todos. É amado até o momento em que se torna insuportável: intervém demais na vida das pessoas com opiniões desprovidas de senso crítico.

O “bom” aparenta-se muitas vezes piegas, ridículo e superficial na sua vontade de ajudar e contribuir. E sua ação, mesmo que bem recebida, se torna um transtorno por ser excessiva.

O lado mau produz um outro efeito: todos o abominam, assassino cruel e mesquinho, aqueles que convivem com ele despertam para a necessidade de uma união contra ele, e descobrem que essa união pode contribuir para a melhoria de suas vidas. O egoísmo, a vingança e a perversão da parte má provocam a necessidade de organização em torno dos interesses da comunidade local.

Como existir pela metade?

Muita gente deveria perguntar isso ao espelho.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Carta aberta ao Doutor José Mourinho

Caro amigo e colega,

Quando escrevi o prefácio do primeiro livro do nosso querido Luís Lourenço, sobre o meu amigo, logo adiantei, sem receio, que o José Mourinho seria para o treino e orientação, de uma equipe de futebol, o que foram, para a prática deste jogo, o Pelé e o Maradona.

Eu sei que, por vezes, quando me refiro à sua pessoa, posso acentuar excessivamente (para os meus leitores) a riqueza da sua personalidade, descurando a dimensão relacional, ou seja, esqueço que o seu pai, o Manuel Fernandes, o Bobby Robson, o Louis Van Gaal, foram seus mestres na arte de bem liderar uma equipe de futebol.

Emmanuel Levinas, no livro Totalidade e Infinito, afirma que a transcendência só é possível quando saímos do absoluto do mesmo. Todos nós somos natureza e cultura, memória e profecia. Isaac Newton afirmou a um seu admirador: “Se consegui ver mais longe, foi porque me coloquei sobre os ombros de gigantes”. Mas é evidente que, no gênio (como você é, enquanto treinador de futebol) os paradigmas tradicionais, por todos aceitos, rapidamente envelhecem, para despontar, no lugar do normal e do habitual, o que o ser humano em movimento intencional tem de insólito, de perpetuamente renovado, de imortalmente juvenil.

Nenhum gênio vê as coisas, como normal e habitualmente, se veem. Se assim fosse, ele deixaria de ser gênio. Se assim fosse, não haveria nele as sementes do futuro.

Há, de fato, um futebol, antes e depois de José Mourinho. E por quê? Porque todos os treinadores que o precederam e que fizeram escola não sabiam de futebol? De modo nenhum! Alguns deles até sabem mais de futebol do que o meu amigo. Só que, ao saberem só de futebol, descambam no erro da especialização, ao jeito do cartesianismo e do positivismo, e ficam a saber pouco de futebol.

O treino, que o meu amigo repudiou e em que Matveev pontificava, traz-me à lembrança o Herberto Helder de Photomaton & Vox, onde pode ler-se: “Vou contar uma história. Havia uma rapariga que era maior de um lado que do outro. Cortaram-lhe um bocado do lado maior: foi de mais. Ficou maior do lado que era dantes menor. Cortaram. Ficou de novo maior do lado que era primitivamente maior. Tornaram a cortar. Foram cortando e cortando. O objetivo era este: criar um ser normal. Não conseguiam. A rapariga acabou por desaparecer, de tão cortada nos dois lados. Só algumas pessoas compreenderam”.

Era no físico, no biológico, no somático, que o treino tradicional investia, sobre o mais. E o meu amigo, logo desde o primeiro ano na universidade, como Luís Lourenço o sublinhou, na sua tese de mestrado, era à luz do paradigma da complexidade que pretendia orientar o treino dos seus jogadores e, por isso, num jogador de futebol, como pessoa, ou numa equipe de futebol, como totalidade, é impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, bem como conhecer o todo sem conhecer as partes.

Por outro lado, o José Mourinho sabia (sabe) também que, de um ponto de vista sistêmico-organizacional, o todo é maior do que a soma das partes, ou seja, a operacionalização do futebol faz-se com o individual contextualizado num todo, onde cabem a equipe, os jogadores que a compõem, os treinadores e os seus métodos, o clube e a sociedade donde o clube emerge. É porque tudo tem a ver com tudo que o diálogo é transversal ao todo. E assim o jogador faz-se, evolui, como pensamento em ato, onde movimento significa o que eu sou como pensamento da equipe. Cada jogador, numa equipe, é a expressão corporal do pensamento de um todo.

José Gil, a propósito do teatro-dança de Pina Bausch, no livro Movimento total – o corpo e a dança, fala-nos de uma “géstica do pensamento”. Numa equipe de futebol, percebe-se o que pensam os jogadores, através da sua motricidade. A Inter (de Milão) eliminou da Champions League o famoso Barcelona de Guardiola, de Xavi e de Messi. Para mim, hoje, o Xavi e o Messi não temem cotejo com o que de melhor o mundo do futebol apresenta. Só que o meu amigo é o melhor treinador do mundo. E, assim como os gênios Picasso, Dali, Miró inventaram novas linguagens plásticas, também o meu amigo inventou a linguagem onde os seus jogadores se transformam na expressão corporal do gênio do seu treinador. E desta forma nasce a compreensão de uma inesperada cultura tática, a consciência de um grupo, a certeza de uma solidariedade… inabaláveis!

Nietzsche, no seu livro Para além do bem e do mal, refere que há uma relação inseparável entre a linguagem e a experiência – é que só se sabe aquilo que se vive! Os seus jogadores seguem-no, o pensamento do José Mourinho paira por sobre a sua motricidade, porque eles sabem que, mesmo não correndo, nem saltando, nem rematando com eles, o meu amigo vive tão intensamente o que fazem, em campo, que tem dos seus atos uma experiência física e orgânica.

No fim dos jogos é manifesto, ao contemplar o seu cansaço, que teve do jogo uma tensa e intensa experiência corporal. A fadiga, no meu amigo, é outra forma de sentir a sua equipe.

Estou certo de que, neste momento, a alegria dos jogadores da Inter, a sua abnegação, a sua grandeza de ânimo, decorre também da admiração que nutrem pelo gênio do seu treinador. Porque são treinados por José Mourinho.

Há neles o culto, não de uma arrogância truculenta e agressiva, mas de um futebol que é sinal de inteligência e de vontade e de criatividade. Afinal, um futebol que não é só atividade física, nem é só educação física, mas o ímpeto da luta, o ardor do ideal – em suma, educação integral.

A Inter vai ser campeã da Europa! Dou-lhe os parabéns, por isso. “Mas (dir-me-ão) o jogo final ainda está por disputar”. O Bayern de Munique é, de fato, adversário dificílimo. Mas a Inter tem uma vantagem: os seus atletas não são adestrados só para repetir, mas convidados também para sofrer e para criar. O futebol é uma imaginação com regras. A diferença entre as várias equipes, para além dos aspectos econômico-financeiros, situa-se, na qualidade dos jogadores, capazes de repetir com imaginação (há quem só repita, sem imaginação). E na qualidade do treinador que orienta a repetição e estimula a imaginação.

É que no futebol jogado há mais caosalidade (de caos) do que causalidade (de causa). Diante do caos, a imaginação é essencial – a imaginação do Doutor José Mourinho. Por isso, eu ousar antecipar a vitória do seu clube, no campeonato europeu de futebol.

Saber mais é ser mais, não é repetir o que está nos livros. Dizia o Padre António Vieira: “isso não é saber, é lembrar-se”.

E termino, adiantando que o vejo como remédio seguro às patologias que afligem o Real Madrid…

Ex corde

Manuel Sérgio

(texto adaptado ao português escrito no Brasil)

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A Fifa e a publicidade

Em 2009, a Fifa faturou um pouco mais de 300 milhões de dólares em patrocínios, o que dá mais ou menos uns 540 milhões de reais. Se você somar a receita de patrocínio de todos os clubes do Brasil, não chega perto disso. Se você somar todos os clubes da América do Sul, tampouco. Se você somar todos os clubes da Conmebol, Concacaf e da CAF, também não. Ou seja, é muito dinheiro em patrocínio.

Curiosamente, essa grana toda vem de poucos parceiros. Nesse ano são dezoito no total. Seis parceiros institucionais, seis da Copa do Mundo de 2010 e mais seis patrocinadores locais na África do Sul. No Brasil, se você somar todos os patrocinadores dos clubes da Série A, dá uns 200. Talvez mais. Para a Fifa, “less is more”, ou seja, ela trabalha com poucos patrocinadores e agrega valor no pacote, que normalmente inclui uma grande variedade de propriedades de exposição e de relacionamento.

No Brasil, “less is less” e “more is more”, ou seja, se você ficar de frescura e recusar cotas pequenas para agregar valor ao pacote principal, você vai perder dinheiro. Afinal, a demanda para patrocinar clubes no Brasil é muito pequena. Para patrocinar a Fifa, é gigante.

Como a entidade máxima do futebol cobra caro pelo seu pacote de patrocínio, é natural que ela faça o máximo para proteger os seus patrocinadores. Isso significa que quando a Copa se aproxima, ela fica de prontidão para coibir qualquer apropriação indevida do seu evento. Naturalmente, um monte de empresas tenta usar o período da Copa para promover seus produtos, principalmente através de sorteio de ingressos comprados independentemente e de comerciais que relacionam futebol com África do Sul e ‘2010’. Ou, no Brasil, futebol com camisa amarela, entre outras tantas coisas.

Logicamente, a Fifa não deixa barato. Vai atrás e processa, sem piedade. Afinal, não fosse por ela, não haveria Copa do Mundo. Logo, se você quer se promover com o evento, nada mais justo que você pague uma taxa a quem o organiza. Pelo menos, essa é a lógica da Fifa. Ninguém pode fingir ser patrocinador se não pagar pra isso.

Um exemplo clássico disso é o recente conflito entre o órgão e a Kulula, uma companhia aérea de baixo custo. A patrocinadora local da Fifa para a Copa do Mundo é a South African Airways, que está de olho nos torcedores que virão ao país acompanhar suas seleções e terão que viajar de um lado a outro do país de avião, já que de carro é bastante complicado. Obviamente, a Kulula também quer se aproveitar desses viajantes, e como seus voos são relativamente mais baratos que os da SAA, ela está aproveitando a empolgação da Copa para se promover. Para isso, lançou uma campanha em que se autointitula “a companhia aérea não oficial da ‘você-sabe-o-quê'”, que se sustentava em uma linha visual que remetia a diversos tipos de símbolos relacionados ao futebol. Obviamente, a Fifa esperneou. E conseguiu cancelar a campanha.

Logo em seguida, a Kulula lançou outra campanha, em que dizia, resumidamente, que “Não no próximo ano, não no ano passado, mas em algum momento entre eles, nós vamos fazer algo inesperado. Vamos manter os preços das passagens baixos porque existem muitas razões bacanas para viajar pelo país do que apenas por aquela coisa que nós não nos atrevemos a mencionar”. E mais um monte de imagens subliminares relacionadas ao futebol. A Fifa esperneou de novo, mas até agora nada aconteceu com a Kulula além de ficar mundialmente famosa e ganhar um monte de simpatizantes na própria África do Sul que aparentemente estão cada vez mais saturados da forte política protecionista da Fifa, a qual conseguiu parar na justiça até a venda de um pirulito que tinha estampado em sua embalagem algumas bolas de futebol, a bandeira da África do Sul e ‘2010’. Curiosamente, também, esse pirulito começou a vender mais depois de ter se envolvido em toda essa polêmica.

Assim que acabar a Copa de 2010 e o foco passar a ser 2014, a mesma coisa vai acontecer no Brasil. Não tenho nenhuma dúvida de que uma quantidade absurda de empresas vai tentar lançar produtos relacionados ao evento. Também não tenho dúvidas de que uma quantidade absurda de escritórios de advocacia vai se mobilizar para ganhar um troco em cima desses processos. A batalha será ferrenha. Mas a Fifa certamente acabará ganhando, ainda que empresas que se utilizem da prática da emboscada possivelmente acabem se beneficiando pela mídia espontânea que o confronto irá gerar. Só não sei se esse acréscimo de vendas valerá o preço da indenização que deverá ser paga.

Como essa será uma batalha jurídica, é de se imaginar que ela acabe se complicando, uma vez que a justiça brasileira não é necessariamente reconhecida pela sua agilidade e que a Copa do Mundo tem prazo para acabar, o que eventualmente permitiria alguma empresa manter uma campanha de emboscada sustentada por recursos e liminares até o final do evento.

Entretanto, os próprios sul-africanos comentam que jamais viram tanta eficiência do sistema legal quanto quando a Fifa está envolvida. Não há porque duvidar de que no Brasil será diferente. Se você tentar usar a combinação Copa do Mundo, Brasil, futebol e ‘2014’, ou pior, se resolver sortear ingressos para as partidas – o que é um pecado mortal -, é certo que você será envolvido num processo judicial rápido e ágil.

Bem que a justiça brasileira poderia se acostumar com essa ideia. No fim das contas, esse pode ser o grande legado que a Copa do Mundo pode deixar para o país.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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No ar, a Copa!

A cada quatro anos, o mundo do futebol observa pessoas que sequer sabem quem são os jogadores da seleção brasileira de futebol e que se envolvem de tal forma que chega parecer conto ou senso comum discutir.

E nesse momento mágico quadrienal se transformam e ganham um espírito forte, cheio de sabedoria, advindo dos campos.

Quem só conhece o Dunga das conversas dos amigos acostumou-se a ouvir críticas às suas escolhas, e passou também a criticá-lo, inconformado que o dito cujo não tenha chamado os “Meninos da Vila”! Eis uma simulação de um belo diálogo:

– Vila? Quê Vila?

– Não importa, os meninos deveriam estar lá. E esse anão da Branca de Neve, ah esse anão, eu sempre soube que ele era folgado mesmo.

– Mas que anão?

– Como assim, tá por fora meu amigo, é ano de Copa. Tô falando do Dunga!

– Dunga?

– Caramba, meu! Em que planeta você vive? Preciso soletrar Cóóóó-ppppáááá dooooooo Muuuunnndddoooo?

– Mas o que tem a Copa do Mundo com a Branca de Neve ? Ah, entendi, só podem jogar anões?

– Não, não é nada disso. Dunga é o nome do técnico da seleção brasileira de futebol

– Ah, tá, agora entendi. E ele é anão?

– Ai, meu santo… Não, é apelido dele.

– Ah tá… e qual era o problema mesmo?

– Ele não quer levar os Meninos da Vila

– Vila? Quê Vila?

– Peraí, de novo, não. São os Meninos da Vila Belmiro, estádio do Santos Futebol Clube. Eles jogam um bolão.

– Ah, tá. Esses meninos são anões e o técnico não quer levá-los?

– Não, esses meninos não são anões coisíssima nenhuma.

– São santos, tipo São João, Santo Antonio?

– Você tá louco? De onde tirou isso?

– Você disse alguma coisa sobre santos!

– É que esses meninos jogam num clube chamado Santos, entendeu?

– É, mais ou menos, mas tô começando a achar que esse Dunga não entende nada de futebol?

– Eu também. Desse jeito nem deveria ir à Copa?

– Por quê? Você esta com fome? Podemos passar na cozinha e bater um rango na copa.

– Você tá por fora mesmo, hein. Copa do Mundo!!!

Horas depois…

– Pô… até que enfim você entendeu que Dunga é o técnico da seleção, e quem são os Meninos da Vila.

– Agora sim! Até acho que o Dunga está certo.

– Certo? Como assim?

– Poxa, se são chamados de meninos, é porque são novos, deve ter gente mais experiente para jogar no lugar deles. Quem você tiraria do time para levar os meninos?

– Sei lá, só sei que eles têm de ir?

– Como assim? Alguém tem de sair para eles jogarem… quem você tiraria?

– Não sei, nem sei quem joga na seleção. Só sei que esses meninos têm de ir

– Poxa, depois eu não entendo de futebol… você nem sabe quem joga na seleção…

– Pode ser, mas sem esses meninos, vai ser difícil ganhar a Copa.

– Sei lá, mas para quê serve mesmo essa Copa?

– Não sei, também, mas é legal, deve ter coisa nova, afinal todo mundo “para pra ver”!

– Será que eles vão lançar um celular novo?

– Não sei, mas bem que eu posso testar minha TV de 80 polegadas ultra high definition máster.

– Massa! Dá para usar o joystick nela?

– Acho que sim. Eles vão lançar isso durante a Copa.

– Legal! Dai dá para gente colocar os Meninos da Vila e ganhar a Copa?

– Vila? Quê Vila?

Ainda que em tom de brincadeira, o diálogo nos mostra a capacidade de envolvimento que um evento desse porte adquire. Com tamanha visibilidade, inovações nas mais distintas dimensões do esporte podem surgir, desde aspectos técnicos do jogo até, sobretudo eles, os aspectos que envolvem os grandes públicos voltados ao consumo e ao espetáculo.

Assim, deixo uma pergunta para a próxima semana: que novidades poderemos esperar da Copa? O que ela nos trará de inovações na ciência do futebol?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br