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O jogo se vence nos detalhes

Como venho dizendo (de formas diferentes), o jogo de futebol incita um grande número de pessoas, dos “grandes especialistas” aos mais desavisados torcedores, a fazer algum tipo de leitura sobre as coisas que nele acontecem. “Martelarei” mais uma vez (missão não impossível!) que o jogo de futebol; artístico e imprevisível, é também Ciência.
A Ciência constrói hipóteses, as avalia, discute, cria teorias e busca explicações que defendam uma “tese” qualquer. Ela está presente na concepção de um carro de fórmula-1, na conservação prolongada de algum tipo de alimento exposto nas prateleiras do supermercado, nas cirurgias do coração ou na explicação do comportamento humano. Em resumo, hoje, com o grande avanço na qualidade e quantidade do conhecimento disponível, é improvável que os braços da Ciência não estejam encostados em alguma coisa.
O futebol não é “Ciência Biológica”, não é “Ciência Humana”, não é “Ciência Exata” (ingênua divisão das áreas). O futebol é Ciência Biológica, é Ciência Humana e é Ciência Exata ao mesmo tempo, o tempo todo (o futebol é Ciência “BioHumExa-HumExaBio-ExaBioHum”; e por aí vai…).
A Ciência no futebol, e em qualquer outra área, precisa estar empenhada a resolver problemas do dia-a-dia; da prática; pois se fosse apenas para um “teorizar” desvinculado da prática, não se faria útil. Então, vamos abrir os olhos para esse fato: ou buscamos conhecimentos; construtos científicos para entender e explicar melhor a prática, “praticando-a melhor e em altíssimo nível”, ou vamos ficar bem para trás (acreditando que Ciência é “teorizar por teorizar”).
Nessas duas últimas semanas no “Café dos Notáveis” (Café onde se discute diariamente futebol em alto nível) algumas discussões ganharam repercussão acentuada. Uma delas girou em torno da frase conhecida de treinadores e especialistas: “o futebol hoje é decidido nos detalhes”. A outra, dos gols de contra-ataque que “não se pode sofrer” jogando “fora de casa”. Como no Café dos Notáveis discute-se futebol cientificamente, façamos hoje, algumas observações sobre a primeira dessas duas discussões.
Seguimos então com a primeira questão: você concorda que hoje o futebol é decidido nos detalhes?
É fato muito comum que algumas partidas de futebol apresentam um nível de equilíbrio tão sólido que às vezes “amplifica-se” o argumento de que no futebol a defesa sobressai ao ataque. A alternativa dada pelos especialistas para resolver esse equilíbrio “inabalável” (inabalável?) são “as jogadas de bola parada”.
Ainda que pese o fato de que as bolas paradas são eventos em que o sistema defensivo “parte” de uma situação de equilíbrio (pois os jogadores podem estar onde quiserem, com tempo considerável para sua organização em campo), em competições internacionais os gols oriundos dessa situação representam em geral 30% do total.
É um número representativo se considerarmos que hoje o acesso a informação poderia permitir uma “pré-visão” das armadilhas preparadas por uma equipe nas jogadas de bola parada, diminuindo consideravelmente as chances de êxito do sistema ofensivo numa situação desse tipo. Então, para explicar os 30%, poderíamos levantar hipóteses (lembrem, para fazermos Ciência precisamos levantar hipóteses para explicar um problema) sobre pelo menos três direções: 1) Talvez os treinadores e equipes, com todas suas potencialidades, elaborem estrategicamente, contundentes variações para as jogadas de bola parada, de tal forma que possam realmente surpreender o adversário (que ao esperar uma coisa, se defronta com outra). 2) Outra hipótese, é a de que as equipes não variam pontualmente suas armadilhas, mas o adversário, mesmo sabendo o que virá pela frente, não seja capaz de se preparar adequadamente para tal situação. 3) Por fim, a terceira hipótese,é a de que uma equipe pode ou não variar suas estratégias nas jogadas ofensivas de bola parara, mas a outra não consegue, em tempo hábil saber quais são as armadilhas características do seu adversário (em outras palavras é como se uma equipe não tivesse informações sobre a outra).
Independente de qual seja a hipótese correta, o fato é que das três possibilidades apresentadas, a que mais depende da equipe executante (que ataca) na bola parada, é a primeira (grande variação de jogadas – executadas sobre a mesma plataforma – discutiremos isso em outro texto). Lamentável a constatação de um dos notáveis do Café, de que uma equipe brasileira que vem analisando, está fazendo a mesma jogada em uma situação de bola parada, em seus jogos nos últimos três meses (e ainda vem fazendo alguns gols nessa situação). Como isso é possível?
O jogo de futebol realmente poderia e deveria ser resolvido nos detalhes. Porém, vejo uma outra perspectiva de detalhes que não é explorada, por se aceitar que não “há mais o que inventar” taticamente no futebol. Sinceramente jogos demasiadamente equilibrados não podem ter como única alternativa de desequilíbrio “detalhes de bolas paradas” e muito menos de erros de fato, do próprio adversário em um momento de lapso.
Se não deixarmos passar despercebido o fato de que nas jogadas de bola parada a defesa adversária “parte” de uma condição de equilíbrio e que isso não é verdadeiro em muitos momentos do jogo com a bola “rolando”; o que estaria sendo mal aproveitado; as jogadas de bola parada ou as dinâmicas com a bola em movimento?
Se (mais uma vez eu repito) o sistema defensivo sobressai ao ofensivo em uma partida de futebol (muitos seqüências ofensivas para pouco aproveitamento do ataque), não é necessário a presença de grandes estrategistas para não levar gols. São necessárias sim compreensões básicas iniciais por parte dos jogadores. Mas para se desvencilhar de sistemas defensivos bem equilibrados e armados, desequilibrando-os; não tenham dúvidas, é necessário profundo conhecimento de uma série de conceitos e princípios táticos que compõe o jogo de futebol.
Com a bola rolando, por diversas vezes, o sistema defensivo se desequilibra (às vezes por frações de segundo). Estar habilitada taticamente para ter essa leitura e se aproveitar dela poderia ser uma arma muito útil nesse futebol do “nada de novo tem pra se inventar”.
Então, ou acreditamos nisso e deixamos “as forças do destino e dos deuses do futebol” resolverem para onde vamos, ou busquemos nós mesmos a “direção” do nosso avião tático; o jogo de futebol.
PARA ENTENDER MELHOR; A TEORIA DA BALANÇA:< /div>

Vejamos atentamente as balanças abaixo. Na posição A existe um equilíbrio entre seus dois lados. Na posição B ela apresenta pequenas oscilações que se alternam, com pequenas quedas para cada lado. Na posição C há um grande desequilíbrio, fazendo a balança pender acentuadamente para um dos lados.
              
 
Na concepção “tradicional”, um jogo equilibrado representaria a balança A, onde os dois lados (adversários) estão invariavelmente estáveis. O fato é que na realidade essa situação de equilíbrio estático não ocorre dessa forma no futebol (a não ser no início do jogo, antes do apito do árbitro; ou no posicionamento inicial de uma jogada de bola parada, também antes de um apito do árbitro).
No jogo o que acontece é uma constante oscilação entre equilíbrios e desequilíbrios que se alternam de uma lado para o outro, o tempo todo (balança B); ou seja, o equilíbrio que existe é dinâmico.
Nos jogos muito equilibrados, essas oscilações também ocorrem o tempo todo, em mesmo volume, mas com menor amplitude (os pratos da balança na verdade “micro-balançam”).
Uma equipe consegue levar vantagem sobre a outra quando essas oscilações geram um grande desequilíbrio que faz com que um dos lados sobressaia ao outro (balança C).
Há portanto a necessidade de se refletir sobre o que é mais fácil: causar desequilíbrio (tirar da inércia) acentuado na balança que está totalmente equilibrada (situação de bola parada – balança A) ou causá-lo em momentos de oscilações (em que se pode aproveitar o movimento a favor da inércia)?
Se assumirmos a idéia “tradicional”, continuaremos acreditando que nada de novo pode ser inventado taticamente (o que pode aumentar o investimento nas bolas paradas – e quem sabe também, aumentar o número de gols oriundos dessa possibilidade).
Se resolvermos “tomar a pílula vermelha” (referência ao filme Matrix – em que o personagem Neo deveria escolher entre tomar a pílula azul – que o manteria “cego” para coisas do mundo – e a pílula vermelha – que o libertaria para a realidade) talvez consigamos novas perspectivas para os desequilíbrios e equilíbrios do jogo, e ao invés de enxergarmos a balança A, possamos abrir os olhos para a balança B.
Para interagir com o aoutor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
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O risco moral do futebol

Você sabe o que quer dizer “risco moral”? Caso desconheça, não se assuste. Não é um termo muito utilizado por aí, muito menos por pessoas que atuam ou acompanham o mercado futebolístico brasileiro. Deveria, pois.
 
O risco moral é derivado do mercado de seguros e surgiu no século XIX. Servia, a princípio, para classificar as pessoas não muito indicadas para quem se vender uma apólice de seguro. Essas pessoas eram aquelas que possuíam uma moralidade questionável e, portanto, tenderiam a tentar burlar e se aproveitar do sistema de seguros. Ao invés de fazer um seguro para tentar diminuir uma eventual perda, fariam o seguro pensando na receita proveniente da compensação pelo risco. Por exemplo, uma pessoa de caráter dúbio poderia adquirir uma apólice contra incêndios para sua casa e logo depois fazer uma fogueira no meio da sala, sem se preocupar com o risco de incêndio. Em último caso, o indivíduo poderia até atear fogo à própria residência propositadamente para receber o valor da cobertura. Como os vendedores de apólices da época não tinham como elaborar maneiras mais apropriadas para calcular o valor do seguro conforme as características de cada indivíduo, eles eram instruídos pelas seguradoras a não firmar contrato com pessoas com esse tipo de caráter, uma vez que essas pessoas apresentavam um risco moral.
 
A partir disso, surgiu a teoria do risco moral, que resumidamente sugere que ‘menos perdas por uma perda significa maiores perdas’, ou seja, que aqueles que possuem maior segurança cobrindo seus riscos tendem a tomar decisões mais arriscadas. Se você vai esquiar sem um seguro de saúde específico para esportes radicais, por exemplo, a tendência é que você tome mais cuidado ao descer a montanha, uma vez que qualquer tombo pode acarretar em uma fratura grave. Como o resgate nessas situações é feito na maioria das vezes por helicóptero, um acidente pode acabar custando muito caro. Se você vai esquiar com seguro, porém, a tendência é que você não se importe tanto em se machucar e desça do jeito que melhor lhe convier, uma vez que você não vai gastar dinheiro em caso de acidente.
 
O conceito de risco moral eventualmente saiu dos limites das apólices de seguro e hoje é bastante difundido no meio econômico, principalmente nas análises de investimentos bancários. Bancos, em geral, tendem a possuir o risco moral, uma vez que muita gente depende de seu funcionamento, o que acarreta em um posicionamento especial em relação ao mercado. Dificilmente um banco vai à falência, já que é provável que o governo da localidade na qual ele se encontra acabe o socorrendo. A quebra de um banco implica em graves conseqüências para todo o sistema financeiro, e por isso ele precisa ser protegido. Essa proteção, entretanto, permite que um banco faça apostas financeiras mais arriscadas, uma vez que o risco da operação não será necessariamente assumido completamente por ele. Isso é uma clara demonstração do conceito de risco moral.
 
No Brasil, é possível dizer que o futebol também possui risco moral, afinal é notável o papel que o futebol desempenhou na formação da sociedade brasileira atual, principalmente durante o século XX. Como o Estado se apoiou no futebol, e mais especificamente na seleção brasileira, para atingir alguns dos seus objetivos, é natural que o futebol ganhasse uma importância distinta para o povo e os governos brasileiros. Daí, inclusive, a sugestão de que a seleção deveria se tornar um patrimônio cultural brasileiro.
 
Tamanha importância do futebol no país acaba sendo refletida também nos maiores clubes, como Flamengo, Corinthians, Vasco, São Paulo, Palmeiras, Cruzeiro, Grêmio e afins, uma vez que se entende que esses clubes desempenham um papel fundamental na manutenção do status do futebol dentro do território nacional. Não obstante, os clubes possuem um funcionamento mercadológico, e como tal estão sujeitos às regras do mercado. Porém, assim como os bancos, os clubes de futebol no Brasil são importantes demais para simplesmente fecharem as portas, e acabam sempre sendo socorridos pelo dinheiro público.
 
O exemplo mais atual disso é a Timemania, que nada mais é do que um instrumento proveniente da esfera pública para tentar equilibrar o caixa dos clubes de futebol. Caso funcionassem como uma empresa qualquer, boa parte dos clubes de futebol do Brasil – quiçá do mundo inteiro, já teriam fechado as portas há tempos. Como eles possuem risco moral, entretanto, sempre se dá um jeito para solucionar os problemas.
 
As conseqüências do risco moral, entretanto, são graves. Na medida em que organizações possuem as conseqüências dos seus riscos assumidos por terceiros, elas tendem a embarcar em situações de riscos ainda maiores. Nos bancos, esse fenômeno pode ser observado principalmente através de empréstimos internacionais em excesso. No futebol, o fenômeno pode ser enxergado na manutenção de uma falsa estrutura financeira, manifestada principalmente através do pagamento de transferências e salários acima do valor com o qual um clube realmente pode arcar.
 
Enquanto o governo brasileiro continuar a enxergar os clubes do futebol como organizações que possuem risco moral, pouca coisa vai mudar no cenário atual. Na atual situação, os clubes continuarão a adotar estratégias arriscadas e o mercado continuará desequilibrado.
 
Fechar um clube de futebol, entretanto, não é coisa fácil. Você aceitaria ver o seu time encerrando suas atividades por conta de dívidas financeiras? O risco para o governo é muito grande. E no final das contas, para tomar uma atitude dessas, com o perdão do trocadilho contínuo e infame, é preciso que o governo tenha muita moral.
 
Coisa essa que, convenhamos, está um pouco em falta.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Por que não mudar?

O São Paulo é o virtual campeão brasileiro de 2007. Será o primeiro pentacampeão nacional sem qualquer contestação na Justiça (lembre-se do Flamengo de 1987, que ganhou; mas, para a CBF, não levou). Será o primeiro bicampeão da era dos pontos corridos. Pode ser o primeiro campeão dessa era com muitas rodadas de antecedência, ao contrário das outras quatro edições, quando o título foi decidido faltando no máximo três rodadas.
 
Não pairam dúvidas sobre a conquista iminente do São Paulo. Só que, por incrível que pareça, ainda surgem questões, fomentadas pela imprensa, sobre o sistema de disputa do campeonato por pontos corridos.
 
Os proféticos do apocalipse dizem que o campeonato perdeu a graça, que o torcedor não vai ao estádio, que ninguém dá bola para a competição. Como explicar que, nesta última rodada, tivemos mais de 30 mil pessoas para Botafogo x Fluminense; quase 20 mil em Palmeiras x Corinthians e por aí vai?
 
Os pontos corridos coroam o time que é mais regular, que tem o melhor planejamento, que procura ter os melhores jogadores para oito meses de competição, que se prepara um ano inteiro para ser melhor. A chance de imprevisibilidade é muito menor nesse formato de disputa, vide a falta de discussão, desde 2003, sobre injustiças na conquista, à exceção do título nacional de 2005, manchado pelo escândalo do apito.
 
O São Paulo campeão é o mesmo que era criticado no início do torneio após as quedas na Libertadores e no Paulistão. Era o time que não poderia ter Muricy Ramalho em seu comando por se tratar de um treinador que não sabia escalar o próprio time. Para variar, a volatilidade da imprensa é a mesma que se observa com alguns clubes neste Brasileirão…
 
Mas além da questão esportiva vale lembrar também algumas alterações, às vezes não perceptíveis ao torcedor (mas que devem estar escancaradas ao profissional do futebol), que revolucionaram o futebol brasileiro desde 2003.
 
Hoje só existe um clube na Série A sem patrocinador na camisa. E esse clube é o Vasco, sempre muito associado a Eurico Miranda. Ou seja, 19 equipes contam com a verba de uma empresa que investe para ter exposição na camisa.
 
Hoje não existe um clube que pare de jogar em setembro/outubro e só volte às atividades em janeiro. Ou seja, o fluxo de caixa não está estagnado e os atletas continuam a receber salários para realizar sua atividade-fim.
 
Hoje o Campeonato Brasileiro tem um patrocinador principal, a Nestlé, que paga para realizar ações promocionais em alguns jogos. Somente com o campeonato por pontos corridos, em que se sabe, desde novembro do ano anterior, quais são os jogos até dezembro do ano seguinte, que é possível um patrocinador investir no campeonato.
 
Hoje a média de público, obviamente turbinada pela Nestlé, é maior do que a média de todos os campeonatos disputados nesta década.
 
Por que não deixar tudo como está? Deixemos a imprevisibilidade do mata-mata para Estaduais, Copa do Brasil, Sul-Americana, Libertadores…

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O bom passe e a estratégia de contra-ataque

“Tenham como princípio que só se pode ser vencido por erro próprio e que só se atinge a vitória por erro inimigo” (Sun Tzu – A Arte da Guerra).
 
Pois bem. No jogo de futebol, as situações que levam a gols e que potencialmente podem levar à vitória ocorrem basicamente de duas formas: pelo erro (desequilíbrio) defensivo de uma equipe, gerado e induzido por uma ação do adversário, ou de uma segunda forma, pelo erro próprio, de fato, da própria equipe.
 
Em outras palavras, uma equipe constrói sua vitória desequilibrando o adversário com estratégias ofensivas e defensivas, ou vence por “incompetência” do adversário, que gera seus próprios desequilíbrios (ou “se faz as brechas ou se aproveita as que aparecem”).
 
Notório que no jogo de futebol as jogadas que resultam em gols têm em sua maioria um tempo muito pequeno de duração (alguns segundos). Essas “jogadas rápidas” acabam sendo maciçamente originadas em situações de “erro próprio”, erro que, aproveitado pela outra equipe desencadeia contra-ataques. Os contra-ataques, com igualdade, desvantagem ou vantagem numérica são, segundo pesquisas científicas (das mais antigas até as mais recentes), proporcionalmente à sua ocorrência (e excluindo-se as jogadas de bola parada), a melhor maneira para se chegar com perigo à meta adversária.
 
Uma equipe, quando está tentando recuperar a posse da bola, pode, segundo sua estratégia, buscar essa recuperação de forma direta ou de forma indireta. Na forma direta, busca-se o confronto rápido e ativo. Na forma indireta, busca-se fechar os espaços e espera-se o erro adversário.
 
Equipes com bons passes (com média pequena de erros nesse fundamento em suas partidas) são aquelas que raramente sofrem contra-ataques. Como eles (os contra-ataques) são seqüências ofensivas perigosas e eficientes que podem resultar em gols, acabam acontecendo em menor freqüência contra essas equipes (de bons passes).
 
Em outras palavras, como os contra-ataques em sua maioria ocorrem depois de erro do adversário (erros de condução, drible, passes, etc.) e é o passe o fundamento que mais ocorre no jogo, equipes que passam melhor tendem a sofrer menos contra-ataques. Se sofrem menos contra-ataques, reduzem as chances de sofrerem gols.
 
É claro, e que fique mais claro ainda, que não é só de contra-ataques que vive uma partida de futebol. Jogadas de bola parada, ataques posicionais (aqueles construídos a partir de um número maior de toques na bola, com maior duração), ataques rápidos e reposições são estruturas tão importantes e estratégicas quanto os contra-ataques, e com ele compõem as “formas” e dinâmicas do jogo de futebol. O ponto chave é que em comparação com outras situações de bola em jogo, jogadas de contra-ataque são mais eficientes e eficazes.
 
Notemos, no entanto, que o contra-ataque (pois nada impede que seja assim) poderia ser oriundo de uma forma direta de recuperação da posse da bola (e não necessariamente indireta) – aliás, deveria ter em sua maioria início a partir de uma forma direta de recuperação.
 
Como muitas vezes jogadores e treinadores não estão acostumados com a aplicação prática do conceito de sistema defensivo (em sua essência), acabam não observando a possibilidade de criar estratégias para não mais aguardar o erro adversário, mas sim induzi-lo diretamente a isso.
 
O São Paulo (primeiro colocado na tabela do Campeonato Brasileiro de 2007) é uma equipe de excelente qualidade de passes. Erra muito pouco. Trabalha bem a bola. Sofre poucos contra-ataques. Toma poucos gols (é a defesa menos vazada da competição). E de raros os gols sofridos pela equipe, só em um jogo, contra o Boca Juniors, sofreu dois. E o que a equipe argentina fez que equipes brasileiras que jogaram contra o São Paulo não fizeram estrategicamente (nos lembremos antes de responder que nos últimos confrontos com equipes nacionais o São Paulo defendera um pênalti no fim do jogo contra o Atlético-MG e depois de algumas partidas sem tomar gols, sofrera um do Santos)?
 
A resposta: dificultou o passe são-paulino. Como? Marcando pressão a saída de bola da equipe, forçando-a diretamente ao erro. E o que mais? Uma lição de como se marca em zona no meio campo defensivo (com sete jogadores voltando para fazer a marcação, e não oito, nove ou dez) e outra de como se pode arriscar com inteligência (subindo com os dois laterais ao mesmo tempo para o ataque e alternando cinco a sete jogadores dentro do meio-campo ofensivo, participando efetivamente da construção das jogadas).
 
A equipe brasileira, pouco acostumada a receber esse tipo de marcação, ainda se esforçou para manter o controle e sair jogando com toques rápidos em vez do tradicional “chutão’ para se livrar da bola. Mas como tudo que é bom dura pouco (não devemos acreditar nisso!), com 15 minutos de jogo já estavam os jogadores brasileiros investindo nos chutes (e não lançamentos) para frente. Com 20 minutos já eram maioria.
 
No “maior tratado de guerra de todos os tempos”, A Arte da Guerra de Sun Tzu, infere-se que “a invencibilidade repousa na defesa”. Não perder é garantir equilíbrio defensivo o tempo todo; é não errar.
 
Então, buscar estratégias para garantir que o adversário não seja capaz de se manter em equilíbrio defensivo o tempo todo é o ponto de partida para que ao se atingir o “não perder” uma equipe seja capaz de alcançar o “ganhar”. O futebol é um esporte em que a defesa sobressai ao ataque. São muitas seqüências ofensivas e poucos gols (diferente, por exemplo, do basquete). Então, teorizar sobre a facilidade de não se perder parece mercadoria fácil de se comprar. Mas isso está errado, pois ao se admitir esse pressuposto fechamos os olhos para as possibilidades de se ir contra ele.
 
É a preguiça do pensar que está fincada no futebol. É a “inércia acomodativa da involução”.
 

E por falar nelas (a preguiça do pensar e a inércia acomodativa), o “Foca” (Kerlon) cruzeirense que se cuide. Os “preguiçosos” de plantão (postes parados no tempo – inércia do não movimento), como não querem pensar no como desarmar a jogada diferente, já fazem suas promessas e previsões – “o Foca vai ficar sem nariz”. Pois bem. Melhor sem nariz do que sem cérebro…

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A importância do esporte na TV

Nos últimos anos, a Band deixou de ser o “Canal do Esporte”. Após quase duas décadas de tardes de domingo que começavam em Rui Chapéu e acabavam no Apito Final, de tardes intermináveis para as mulheres e memoráveis para os homens, a emissora paulista havia decidido deixar vincular tanto a sua imagem ao esporte.
 
A estratégia era clara. Apostar na mulher, quase sempre desamparada ou, pior, estigmatizada pelos diferentes canais de televisão. A Band decidiu falar para a mulher ao mesmo tempo em que surgiu a Rede TV!, ao mesmo tempo em que a Record decidiu partir para ser a segunda no ranking de audiência.
 
Mas, nessa época, não foi só o esporte que deixou a Band. De 2000, quando exibiu a conquista do Mundial da Fifa pelo Corinthians, a 2004, a Band engatou um maré brava de audiência. De terceira, às vezes segunda emissora do país, ela caiu para o quarto lugar, ultrapassada pela Record. Para piorar, no ano seguinte, começou a ser deixada para trás pela imberbe Rede TV!.
 
O declínio parecia não ter fim. A Record, com Campeonato Brasileiro das Séries A e B e com as Copas do Brasil e Sul-Americana, aliados a programas cada vez com mais qualidade, consolidou-se em terceiro e começou a rivalizar com o SBT pelo segundo lugar na medição do Ibope. A RedeTV!, com Liga dos Campeões e Série B, aliados a Pânico, Leitura Dinâmica e Luciana Gimenez (?!?!?!), começou a se consolidar em quarto lugar.
 
E a Band?
 
Foi em 2005 que a retomada começou. Campeonatos Inglês e Italiano e a Liga dos Campeões da Europa. Com eles, o telespectador voltou a pensar na Band como alternativa para assistir esporte. Com a voz de Luciano do Valle no comando das transmissões, o público passou, ainda meio nostálgico, a voltar para a Band, que chegava a dar 12, às vezes até 16 pontos de audiência na competição entre clubes da Europa.

Em 2006, com a ginástica, a Band conseguiu números expressivos no Ibope, graças à febre Daiane dos Santos. Veio 2007 e, com ele, a volta dos campeonatos nacionais à tela da Band. Além deles, mundiais sub-17 e sub-20, e agora a Copa do Mundo feminina.
 
Resultado: a Band já começa a querer se consolidar em terceiro lugar na audiência, desbancando o SBT! E outros programas da emissora, como Jornal da Band, reprise da Família Dinossauro e Datena (?!?!?!?!), começam a se consolidar no horário, chegando até a beirar o segundo lugar no Ibope.
 
Até quando o SBT vai manter o esporte fora da sua grade?

Para interagor com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Brasil versus México

Estudos que analisam o comportamento das pessoas perante situações de risco demonstram que a maioria das pessoas tende a assumir riscos maiores para evitar perdas do que para obter ganhos. Em outras palavras, quando se está para perder algo arrisca-se mais para minimizar a possibilidade dessa perda se concretizar. Quando a idéia é correr maiores riscos para obter ganhos a maioria das pessoas tendem a ser contidas.
O grande matemático John Allen Paulos, em seu livro “A lógica do Mercado de Ações” (página 32), nos apresenta, baseado em estudos de Amos Tversky, Daniel Kahneman e Paul Slovic (“Julgamento sob Incertezas”)a seguinte situação:
“Imaginemos um benfeitor que ofereça US$ 10 mil a todos os membros de um grupo, e então proponha a cada um deles a seguinte escolha:
a)    dar a cada um deles mais US$ 5 mil, ou;
b)    dar a cada um mais US$ 10 mil ou zero, dependendo do resultado de um sorteio de Cara ou Coroa.
A maioria das pessoas prefere receber mais US$ 5mil.
Agora comparemos essa situação com a escolha apresentada a outro grupo, quando um benfeitor lhes oferece US$ 20 mil e então lhes propõe as seguintes alternativas:
a)    tirar de cada um deles US$ 5mil, ou;
b)    tirar deles US$ 10 mil ou zero, dependendo do resultado de um sorteio de Cara ou Coroa.
Nesse caso, na tentativa de evitar qualquer perda, a maioria das pessoas prefere o sorteio de cara ou coroa. A conclusão, como geralmente ocorre, é que as escolhas oferecidas aos dois grupos são as mesmas: a certeza de receber quinze mil dólares ou um sorteio de Cara ou Coroa para determinar se ficarão com US$ 10 mil ou US$ 20 mil”.
Repare que sem percebermos, por vezes somos manipulados pelo nosso medo. E isso não é “privilégio” dos momentos de importantes decisões sobre ganhos ou perdas financeiras. No jogo de futebol há uma grande e constante oscilação de situações de maior ou menor risco, de maiores ou menores ganhos, de maiores ou piores perdas.
É típico do jogo de futebol, que treinadores imponham as suas equipes maiores riscos defensivos na tentativa de reverter um resultado negativo; se arrisquem mais. Não é incomum que se observe equipes apresentando melhor desempenho nesses momentos de “maiores riscos”.
Um jogador a mais participando do “volume ofensivo”; um jogador a menos na sobra defensiva, realmente, seja qual for a “estratégia tática”, incomum mesmo é vê-la em uma ocasião em que o risco não seja conseqüência de uma perda que quer ser evitada.
E assim como o “medo” da perda pode induzir indivíduos a essa ou aquela conduta, isso também não é diferente para a equipe como estrutura tática.
No jogo de futebol, todas as situações representam relações de equilíbrio e desequilíbrio. O tempo todo, as equipes tentam gerar desequilíbrios, umas nas outras ao mesmo tempo em que buscam se manter em equilíbrio. Em outras palavras uma equipe tenta se manter equilibrada e desequilibrar a outra ao mesmo tempo.
Pesquisas que usam como ferramenta de estudo o “rastreamento” de jogadores e equipes ao longo das partidas de futebol tem apresentado um tipo de informação que por vezes passa desapercebida por nossos treinadores e preparadores físicos, mas que pode ser muito relevante para as questões de equilíbrios e desequilíbrios, perdas e ganhos, riscos e manipulações.
Trata-se de um tipo de dado que demonstra que existe uma constante alternância de distâncias percorridas (e velocidades de deslocamento) por faixas de tempo ao longo do jogo. Interessante que a alternância da distância percorrida por uma equipe desencadeia alternância da distância percorrida pela outra equipe (e o mesmo acontece com a velocidade). Isso quer dizer que quando uma equipe aumenta o volume de deslocamentos e sua intensidade, acaba por desencadear o mesmo na equipe adversária.
No jogo, a intensidade dos deslocamentos e o seu volume podem refletir a capacidade de uma equipe de se estruturar taticamente para se manter em equilíbrio defensivo e para provocar desequilíbrio defensivo no adversário. Se compreendermos que os elementos técnico-tático-físico-mental compõem uma estrutura indissociável torna-se evidente que a falta de inteligência tática de um jogador pode fazê-lo “correr errado” mesmo que corra em grande volume e intensidade. Ao mesmo tempo, a constante interação com a equipe adversária (que tenta provocar desequilíbrios táticos) e com a própria plataforma de jogo (leia-se esquema tático) requer condição física condizente para que isso aconteça.
O ritmo de jogo de uma equipe pode conduzir o ritmo de jogo de outra equipe. Isso é fato. E se uma equipe “acelera” o ritmo de jogo sem que a outra acompanhe; o risco se torna iminente (para a que não acompanha) . A questão é que aumentar o ritmo de jogo não significa “apenas” mudar a performance física da equipe (mais volume e intensidade de deslocamentos).
Se não se pode separar o que é físico, do que é técnico, do que é tático, do que é mental (porque tudo “é” ao mesmo tempo, o tempo todo, o jogador e a equipe, o indivíduo e o grupo; então um está para o outro assim como o outro está para o “um”, numa interação multi-inter-translateral); quando se pensa em acelerar o ritmo de jogo, busca-se várias coisas ao mesmo tempo (por exemplo: a) aumentar a velocidade da transmissão da posse de bola (o passe); b) ocupar mais rapidamente os espaços; c) alternar em alta freqüência a criação desses espaços; d) acelerar o ritmo de jogo significa resolver mais rapidamente as situações-problema que aparecem o tempo todo no jogo.
O jogo de futebol é imprevisível e por mais que nos custe acreditar, é possível encontrar nele uma “lógica inexorável” norteadora que transforma esse jogo em um dos mais estratégicos dos nossos jogos desportivos coletivos (e como ainda se “engatinha” no campo da estratégia não podemos engolir a tese de que no futebol não há mais nada para se “criar” – haja paciência!). Por ser assim, dentro do imprevisível, devemos buscar os “possíveis previsíveis”, criando situações-problema a partir deles, “tornando-o (o jogo) menos imprevisível”.
Caros amigos, o futebol é o esporte dos paradigmas engessados.
Outro dia no Café dos Notáveis, alguém disse que numa situação de jogo, deixar a defesa da equipe no “mano-a-mano” enquanto se ataca é “pedir pra sofrer gol no conta-ataque”. Não, não, não, mil vezes não!!!
Ao invés do paradigma engessado, por que não, enxergar que se há um jogador a menos na sobra da defesa haverá um jogador a mais na organização do ataque àcom um jogador a mais, aumenta a opção de passe à se aumenta a opção de passe, dificulta a marcação adversária àse dificulta a marcação adversária melhoram as possibilidades de ataque e diminui as chances de se perder a bola. Então, em resumo: aumentam as chances ofensivas e diminuem a chances da perda de bola (o que indiretamente aumenta as chances defensivas).
É evidente que um jogador a mais por si só não é tudo. A estratégia precisa contemplar esse jogador a mais. Mas o risco para aumentar as chances de ganho faz com que se enxerguem somente as perdas!
Reflexão tática
No dia 12 de setembro a Seleção Brasileira de Futebol venceu a Seleção Mexicana em um jogo amistoso nos EUA. O placar; 3 a 1. Depois de não ter conseguido vencer os mexicanos nos últimos jogos, fora ecoado aos quatro cantos pela imprensa brasileira que o México aprendera jogar contra o Brasil (e o contrário também: o Brasil não mais sabia jogar contra o México).
Pois bem, no último jogo, vitória brasileira. E o que teve de incomum esse jogo se comparado aos outros?
Algo que pode ser analisado pontualmente e reflete bem a discussão desse texto:o ritmo de jogo.
Nos últimos confrontos, a dificuldade tática da equipe brasileira fora reflexo de uma “manipulação orquestrada” desse ritmo pelos mexicanos (na maior parte do tempo). O ritmo conduzido pelos mexicanos, por muitas vezes vinha provocando nos jogadores brasileiros dificuldades para ocupar os espaços, lentidão na circulação da bola (e grande velocidade quando se necessitava correr atrás dela) e demora na criação de linhas de passe. O número de erros passou a ser maior (numa equipe que pouco erra). Erros maiores, tensão maior. Tensão maior; riscos evitados. Uma coisa desencadeando outra; e no final as derrotas.
Ao analisarmos os scouts desses confrontos notaremos apenas a ponta do iceberg (maiores erros de fundamentos do que a média normal da seleção brasileira). E se analisarmos apenas a ponta do iceberg, provavelmente façamos o diagnóstico errado (como freqüentemente vem acontecendo). E diagnóstico errado é igual a tratamento errado. Então que fique claro, quando os problemas começam a ser visíveis na ponta do iceberg, é porque na sua “base” a estrutura já “foi para o espaço”; e quanto mais demorarmos para perceber isso mais difícil vai ficando o conserto (e mais derrotas vão acontecendo). Por isso, quem não sabe por que ganha, quando perde também fica sem saber; e aí…
Então respondam se hesitar:
1)    Os desequilíbrios táticos podem desencadear desequilíbrios físicos?
2)    Os desequilíbrios físicos podem desencadear desequilíbrios táticos?
3)    Se são indissociáveis o físico, o técnico, o tático e o mental, você seria capaz de responder “não” às perguntas anteriores?

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Renan para Presidente

Depois de um certo tempo escrevendo nesse espaço, cheguei a uma conclusão: tudo acontece na quarta-feira. É impressionante.
 
Eu já tava com a coluna engatilhada. Seria sobre o Corinthians, a MSI, a lavagem de dinheiro, a Fifa, o Brasil e a soberania do futebol. Um assunto interessantíssimo, pronto para ser dissecado. Afinal de contas, há muito já se conversa como o mundo do futebol é peculiar. Como o mundo do futebol obedece regras próprias. Como as pessoas não estão lá muito preocupadas com a ética ou com a moral quando a bola é o que está em jogo. E como os governos do mundo todo têm cada vez mais sucumbido a uma certa soberania da Fifa..
 
De certa forma, existem dois mundos hoje: o mundo real e o mundo da Fifa. No mundo real, acontecem as coisas de todo dia. No mundo da Fifa, acontecem as coisas do futebol. Quando os dois mundos se misturam, no momento em que as coisas do futebol incidem sobre o mundo real, ninguém sabe lá bem o que fazer, quem vai fiscalizar e quem vai policiar. Aí, a terra do real e do futebol acaba virando a terra de ninguém. E como a terra não tem dono e nem polícia, todo mundo faz o que quer. Daí uma das razões pelas quais se proliferam pelo mundo casos de péssimas práticas, lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de armas/drogas/pessoas, entre outros, envolvendo clubes de futebol.
 
É um ótimo tema para uma coluna. Gera rios de parágrafos e mares de caracteres.
 
A coluna estava na cabeça, pronta para ser digitada. Mas aí, nessas coisas que acontecem principalmente às quartas, tudo muda. Quase fechando o dia, fico sabendo que Senado Federal resolveu arquivar bois, amantes e empreiteiras na mesma gaveta.
 
Como, daí, iria eu falar alguma coisa do Corinthians, da MSI, da lavagem de dinheiro, da Fifa, do Brasil e da soberania do futebol? Que moral tenho eu para tal? Afinal, o que o Corinthians e a MSI fizeram de tão errado assim? A investigação da Polícia Federal não pode ser revista? Arquivada, talvez?
 
Nisso tudo, que eu prefiro nem ficar confabulando muito porque me dá dor de cabeça, três coisas são certas: 1) Eu não volto a tentar escrever uma coluna sobre corrupção e afins no mundo do futebol tão cedo, pelo menos não até eu conseguir resgatar a minha moral de cidadão que no momento se encontra grudada embaixo da sola do meu sapato; 2) Berezovsky deveria considerar seriamente em sair como candidato a senador no Brasil; e 3) Ficou claro que o jeito mais eficiente, rápido e seguro de tirar o Corinthians da atual situação em que se encontra é elegendo Renan Calheiros seu presidente.

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Desporto aprova hino e bandeira em competições

A Comissão de Turismo e Desporto aprovou o Projeto de Lei 1500/07, do deputado Deley (PSC-RJ), que torna obrigatória a execução dos hinos nacionais e o hasteamento das bandeiras dos países competidores em eventos esportivos de nível internacional no País.

"As competições ou eventos esportivos internacionais transcendem o caráter de mero evento ou espetáculo desportivo e entram no jogo das relações internacionais", afirmou o relator, deputado Pedro Chaves (PMDB-GO).

Ao país anfitrião, afirmou, cabe receber bem as delegações e não há, em sua opinião, maior demonstração de respeito do que a dedicada aos símbolos nacionais, como o hino e a bandeira.

O deputado destacou que a aprovação do projeto "sinaliza para as organizações esportivas internacionais que o país preocupa-se com os mais diferentes aspectos das competições, de forma a facilitar a realização de olimpíadas ou da Copa do Mundo de futebol no Brasil".

A proposta, que tramita em caráter conclusivo, será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

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O bom senso no jornalismo

O Palmeiras protagonizou no último dia 7 de setembro uma das melhores ações de marketing no ano, no evento de lançamento do terceiro uniforme do time de futebol. Uma foto posada do time com 1.500 pessoas, entre torcedores e convidados, em plena cadeira numerada descoberta do Palestra Itália, selou uma interessante estratégia de promoção da nova camisa.
 
Mais do que a “oportunidade única”, jargão que virou dogma no marketing esportivo, o fato curioso do evento acabou sendo uma batalha entre os torcedores e a imprensa que cobria o evento.
 
Com o sol na capital paulista a pino e a temperatura beirando os 30°C, o torcedor teve paciência de esperar os seus ídolos para tirar a foto durante mais de três horas. O evento estava programado para começar às 10h30, mas os atletas só chegariam às 13h para o registro da imagem.
 
Enquanto o tempo passava, os torcedores se distraiam com o que podia. O problema, porém, foi quando o time entrou em campo para uma foto oficial. Os repórteres, que mal haviam chegado ao estádio, se amontoaram após o registro e começaram a fazer perguntas aos principais astros do time.
 
Obviamente, Edmundo foi o mais requisitado. Enquanto todo o time já havia descido aos vestiários e se dirigia à numerada para a foto oficial, o “Animal” continuava a dar entrevistas, a falar sobre novo uniforme, renovação de contrato, chance de título, de classificação à Libertadores, etc.
 
Foi nesse momento que a paciência do torcedor se esgotou. O atraso de uma hora para a foto ser tirada foi canalizado na atuação dos jornalistas naqueles quase 15 minutos em que Edmundo ficou “preso” dando entrevistas à imprensa.
 
Foi a gota d’água para os impropérios começarem. Sobrou até mesmo para quem não tinha nada a ver com a história, que foi o animador da platéia durante o evento. Edmundo, em ótima jogada de marketing, foi solicito com os jornalistas até o momento em que percebeu que toda a tensão do estádio estava voltada a ele. Saiu da entrevista correndo, acenando aos torcedores, que deliravam e gritavam por seu ídolo.
 
Jogo de cena à parte, o profissional de imprensa muitas vezes não percebe que o bom senso poderia ajudá-lo, e muito, no exercício de seu trabalho. A imagem de um jornalista fiel a seus princípios, que não vê hora para a notícia acontecer, que perturba quem quer que seja e quando ele quiser, que sempre vê espaço para mais uma pergunta já virou lenda.
 
No passado, os filmes americanos adoravam mostrar uma imagem caricata do jornalista como uma espécie de pessoa de outro planeta. A essência pode até ser essa, de alguém que é curioso em excesso, que não vê entrave para uma pergunta que derrube o entrevistado, que está muito bem informado de tudo o que acontece.
 
Mas a boa educação e, principalmente, o bom senso, não precisam deixar de existir.

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O mito dos laterais que não “sobem” ao mesmo tempo e o balanço defensivo – A culpa é do 4-4-2 ou de quem disse isso?

Autores e pesquisadores que estudam e escrevem sobre algumas vertentes das ciências exatas e outros tantos cientistas do esporte apontam para um raciocínio didático bastante interessante sobre o jogo. Eles exploram a idéia de que existem jogos que podem ser caracterizados por “Estratégias Seqüenciais” e jogos caracterizados por “Estratégias Simultâneas”.
 
Os jogos com estratégias seqüenciais são aqueles onde as ações dos jogadores ocorrem em seqüência e que, portanto, cada jogador tem consciência das ações anteriores dos outros jogadores (por exemplo jogo de Damas, Xadrez, etc). Os jogos com estratégias simultâneas são aqueles em que os jogadores agem ao mesmo tempo “desconhecendo” as ações dos demais; tentando deduzir e prever dentro de uma lógica as ações de um jogador baseando-se nas ações dos outros (por exemplo jogo de basquete, futsal, futebol, etc).
 
No caso do futebol, jogo de estratégia simultânea, o problema central está em antever estruturalmente, geometricamente e taticamente o conjunto de ações desencadeadas a partir da ação, por exemplo, do jogador que está com a bola, e buscar uma reorganização que permita dentro do imprevisível, possíveis previsíveis. Em outras palavras, partindo-se do raciocínio de que há uma linha lógica que orienta as movimentações ofensivas e defensivas de uma equipe, poder-se-ia buscar para cada ação-problema de um jogador, soluções rápidas compartilhadas coletivamente pela equipe sem que haja uma comunicação formal explícita.
 
Norteados por essa idéia, façamos uma reflexão sobre uma questão importante para o jogo de futebol. Estudiosos das ciências do desporto apontam para o fato de que, o que caracteriza se uma equipe está atacando ou defendendo é sua condição de estar com ou sem a posse da bola. Ou seja, se a equipe está de posse da bola, está atacando; se está sem a posse, está defendendo.
 
Certamente essa idéia já fora debatida em grande volume em muitas “Academias de Conhecimento” mundo a fora, e talvez esteja sendo tratada hoje como obviedade. Mas estou aqui para contestar tal idéia. Não por capricho ou falta do que escrever. A questão é que sob o ponto de vista científico (pedagógico) aplicado, se eu enquanto técnico de futebol convencer meus atletas de que todos (jogadores, estruturas e sub-sistemas) estão atacando quando a equipe está com a posse da bola, ou o contrário (se defendendo) quando está sem ela; tornarei ineficazes, inconsistentes e quase virtuais as transições ataque-defesa e defesa-ataque, bem como não possibilitarei a eles (meus atletas) um raciocínio inteligente sobre situações-problema que aparecerão no jogo.
 
Aí corremos o risco de solidificar paradigmas que deveriam ser quebrados – por exemplo: “quando se joga no 4-4-2 é importante que os laterais não “subam” ao mesmo tempo, se não a equipe fica exposta ao contra-ataque”. – Por quê? Quem foi que disse? O problema é a subida dos dois laterais ou da estrutura criada para se defender quando a equipe está com a posse da bola?
 
Senhores, o problema é da estrutura. E se é da estrutura não há motivos para insistir na não subida simultânea dos dois laterais.
 
Vamos tentar visualizar a “tese” que estou defendendo. Existe um conceito no futebol, também conhecido como “Balanço Defensivo”. Esse conceito reflete a estruturação geométrico-estratégica dentro do jogo que permite aos jogadores raciocinarem defensivamente quando estão atacando. Então enquanto um grupo de jogadores foca na construção ofensiva de uma jogada sem deixar de considerar a organização defensiva, outros jogadores da mesma equipe focam na organização defensiva sem deixar de considerar a estruturação da construção ofensiva.
 
Apresento a seguir alguns exemplos de estruturas de “balanço defensivo”, para tornar meus argumentos mais reflexivos. Na figura “A” apresento um conservador e freqüente balanço defensivo em losango estruturado pela equipe vermelha. Na figura “B” desenho um tipo de balanço defensivo menos usual e mais ousado; o balanço em diagonal defensiva. Na figura “C”, o balanço e “T” invertido e na figura “D” o balanço em “T” convencional (poderíamos explorar tantos outros, mas creio já ser possível construir as idéias a partir dos citados).
 
 
Cada um deles concebe um raciocínio defensivo quando uma equipe está de posse da bola. Então enquanto alguns jogadores “atacam” outros, da mesma equipe, “defendem”. Se voltarmos a questão do 4-4-2, e a subida dos laterais, notaríamos que, a questão não é quem sobe ou quem não sobe, quem ataca ou que defende. A questão é que ao se buscar o ataque uma equipe precisa se orientar defensivamente a partir de uma estrutura qualquer, onde jogadores, simultaneamente se orientam, alternando funções (com maior ou menor freqüência).
 
Em outras palavras, se eu quero que os dois laterais subam ao mesmo tempo ocupando regiões de ataque, independente da plataforma de jogo (4-4-2, 4-3-3, ou qualquer outra) é necessário que se construa uma lógica para o “balanço defensivo” que estruture tal subida. E insisto, isso realmente independe da plataforma de jogo!
Então eu pergunto caros leitores: estamos preparados e dispostos a derrubar mitos ou estamos tão acostumados a nos acostumar que é mais cômodo acreditar neles? (Os laterais não sobem e a culpa é do 4-4-2).
 
Por isso vou terminar hoje com uma frase de uma conhecida música:
“Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação”… portanto tomemos cuidado com os monstros que andamos criando; um dia eles nos engolem e aí…
Bom, aí irão nos restar apenas os mitos (e “as noites inteiras imaginado uma solução”)!

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147