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Pé na estrada

O ano de 2007 que termina nesta segunda-feira representa um marco para o futebol brasileiro. Após cinco anos, parece que finalmente os clubes, a torcida e a imprensa se acostumaram com a tal fórmula dos pontos corridos.

Ok, o São Paulo ganhou com o pé nas costas os dois últimos campeonatos. Mas só conseguiu tal feito porque tinha tudo estruturado para ser o vencedor. Coisa de quem está pensando mais à frente dos outros.

Só que, se pararmos e olharmos para o que aconteceu neste 2007, veremos um futebol brasileiro entrando nos trilhos da modernização e, a fórceps, da profissionalização dos gestores.

O Flamengo de volta às primeiras posições no Brasileirão; o Fluminense após 24 anos na Libertadores; o público lotando os estádios. Tudo contribuiu para que o espetáculo do crescimento chegasse também ao futebol. Até mesmo a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 funciona como incentivador de um novo cenário para o planeta bola a partir deste ano que chega.

Os clubes se organizaram (até mesmo o Corinthians, que vai arrebentar com as estruturas da Série B) a ponto de deixar claro uma coisa para o ano que chega: o São Paulo não será o primeiro tricampeão brasileiro seguido.

A concorrência está brava. Tanto que, pela primeira vez na história, vamos poder abrir um Brasileirão com uma única certeza. A de que o campeonato de fato termina em 7 de dezembro. Mas sem ter a menor certeza de quem poderá levar a taça.

No frigir dos ovos, 2007 mostrou que o futebol está achando o seu caminho. Que a estrada continue boa para as próximas viagens.

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O contra-ataque: por que um jogador na sobra?

Perguntas erradas, soluções equivocadas. É tudo muito simples; os problemas aparecem, precisam de respostas, mas uma análise inconsistente leva tudo a perder. Pior ainda é quando o perder leva às mesmas perguntas, e na tentativa de se mudar as respostas, inicia-se um ciclo de inexplicáveis fracassos (que obviamente poderiam ser interrompidos, mudando-se primeiro as perguntas).
 
Como exemplo, posso mencionar uma polêmica tese sobre a “cultura da violência”. Quando alguém reage a um assalto e leva um tiro, são inevitáveis as manchetes do dia seguinte que reforçam o conselho: “melhor não reagir a um assalto”. Os motivos são quilométricos e o mais persuasivo é de que “é melhor ter algo roubado do que levar um tiro”. Quando morre um cidadão “de bem” que tentou reagir, assassinado em uma ação criminosa, lá vem a pergunta: “por que ele foi reagir?”.
 
Como a pergunta é essa, investe-se na resposta para ela. Conclusão: melhor não reagir. Existem, porém, especialistas pelo mundo que defendem que a pergunta deveria ser outra (para que a resposta seja mais eficaz e que realmente a violência possa ser combatida). Então ao invés do “por que ele reagiu?” (para se chegar às mesmas óbvias respostas e conclusões), deveria se investir no “como ele reagiu?” a fim de que se analise o como a situação poderia ter um desfecho diferente (sem efetivação do roubo e, quiçá com o bandido preso).
 
Bem, mas e o futebol com tudo isso?
 
Não, caros amigos, não vou nesta “coluna tática” discorrer sobre a violência no futebol. Na verdade, toda essa introdução vai nos servir para apreciar a discussão ocasionada pela pergunta que segue: “por que grande parte das equipes de futebol brasileiro, quando ataca, deixa um jogador na defesa “de sobra” (um a mais do que o número de atacantes adversários)”?
 
 
Por vezes, um zagueiro a mais; por vezes, um volante que fica “preso”; por vezes, um lateral. Estratégias não faltam. Na maior parte das vezes, não são muito criativas; mas que não faltam, não faltam… E qual o motivo disso?
 
A resposta (também persuasiva) é de que com um jogador a mais na defesa o risco de sofrer um gol em jogada de contra-ataque é menor (alguém PROVA?!).
 
Interessante notar que como a pergunta errada pode levar a respostas erradas, nesse caso ainda nos remete para duas importantes reflexões.
 
A primeira, já anunciada por quem vos escreve (em outro momento), é de que (insisto) um jogador a mais na defesa (o da sobra) é igual a um jogador a menos no ataque. E para não corrermos o risco de fragmentarmos o jogo em ataque e defesa, tomemos cuidado com as conclusões que podemos tirar disso.
 
A segunda é de que talvez realmente fizesse sentido um jogador “sobrar” para minimizar as chances de contra-ataques fulminantes, se partíssemos do pressuposto de que o contra-ataque vai realmente acontecer.
 
O problema é que a pergunta deveria ser outra. Então, em vez do “por que sobrar?”, talvez a melhor questão fosse o “como impedir que nasça um contra-ataque mesmo sem um jogador a mais na defesa?”.
 
Vale aqui salientar que mesmo com o jogador da sobra (e excluindo-se as jogadas de bola parada próximas à meta), pesquisas têm apontado que a maior parte dos gols sofridos pelas equipes nos jogos são oriundos de jogadas de contra-ataque. Então, algo vai mal com as estratégias, as perguntas e as respostas a respeito desse tema.
 
Como, em geral, ataque e defesa são tratados como pedaços de uma equipe, as transições (ofensiva e defensiva) são negligenciadas, e aí, o mais próximo que se chega da complexidade e idéia sistêmica do jogo é o anunciado “equilíbrio” que uma equipe precisa ter ao atacar ou defender.
 
Talvez, realmente a “culpa” da visão fragmentada e simplista sobre o jogo seja das perguntas erradas (e das suas respostas equivocadas). Ou não. Talvez a “culpa” seja do “popular dito” de que é “melhor prevenir do que remediar”.
 
Quem sabe? Será essa a pergunta?
 
Então, sem a intenção de impor qual a pergunta a ser feita, ou qual a melhor conclusão para esse texto, proponho duas. Aí, você escolhe qual é o seu…
 
CONCLUSÃO 1 – Fato mesmo é de que é feliz o ladrão que sabe que pode roubar porque eu, cidadão, não vou reagir, não vou dificultar o seu trabalho. Vou fazer então o que todo mundo diz pra fazer; vou aconselhar o jogador da sobra. Afinal, melhor ser roubado do que levar um tiro…
 
CONCLUSÃO 2 – Fato mesmo é de que se o ladrão tiver dúvida (será que o sujeito vai reagir?, será ele um agente da Mossad?), vai pensar melhor para roubar. Então, ter um jogador a mais no campo de ataque (e ficar sem sobra) pode ser vantajoso se as estratégias de transição forem adequadas – por isso, ABAIXO a sobra! Afinal, melhor do que ter algo roubado é saber reagir a um assalto, sem levar tiro e ainda prendendo o bandido…

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Timemania – prazo final

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Nesta minha última contribuição do ano de 2008, gostaria de tratar do tema da loteria federal denominada Timemania.
 
Como todos nós sabemos, a Timemania foi instituída pelo governo federal para auxiliar os clubes a pagarem suas dívidas com o INSS, FGTS e Receita Federal. De acordo com a legislação em vigor, os clubes que satisfizerem uma série de critérios poderão ceder suas marcas, nome, hino, etc., à Caixa Econômica Federal, em troca de uma participação na arrecadação da loteria.
 
Ressalte-se que essa arrecadação será destinada exclusivamente para o pagamento das dívidas do clube vencidas até a data do respectivo decreto, e somente após sanadas tais dívidas é que os clubes poderão utilizar esses fundos conforme suas necessidades.
 
A relevância de se comentar sobre a Timemania neste último dia útil do ano de 2007 é que o governo federal, através do decreto nº 6.284/07, havia prorrogado o prazo para que os clubes apresentassem todos os documentos necessários para a adesão definitiva até a data desta sexta-feira.
 
A partir do ano que vem, o governo deverá fazer um balanço dos clubes que conseguiram aderir, e, finalmente, iniciar o prognóstico em questão.
 
Dentre tais documentos, os clubes devem apresentar as certidões negativas (ou positiva com efeito de negativa) relativas aos débitos com INSS, FGTS e Receita Federal, sem os quais o clube não estaria habilitado a participar do Timemania.
 
Vamos aguardar agora quais clubes conseguiram aderir, e quais deles vão optar por não participar da loteria. Como já comentamos no passado, a Timemania pode ser uma boa aos clubes, mas, se eles não fizerem os devidos planejamentos, também poderá ser um tiro pela culatra.
 
Questão interessante será verificar como o governo federal fará substituições àqueles clubes que não aderirem. Vamos acompanhar e manter os nossos leitores informados, inclusive quanto aos aspectos legais dessas eventuais substituições.
 
Finalmente, gostaria de utilizar esse espaço para desejar um feliz ano novo a todos os leitores e amigos da Cidade do Futebol e desejar muito sucesso em 2008.

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Ausência

Caro leitor,
 
Informamos que a coluna de Oliver Seitz não poderá ser publicada nesta quinta-feira.
 
O colunista teve problemas pessoais, mas garantimos que a situação estará normalizada na próxima semana.
 
Pedimos desculpas pelo infortúnio e agradecemos pela atenção.
 
Obrigado,
 
Equipe Cidade do Futebol
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O craque e o time

Até Cristiano Ronaldo (apesar do bico na festa da Fifa) e Lionel Messi teriam votado no campeão da Europa e do mundo em 2007. Kaká pode até não ter sido o mais luminoso jogador de janeiro a abril, honra que cabe ao meia-atacante português do Manchester United. O craque brasileiro pode até não estar sendo o mais brilhante jogador desde a retomada da temporada européia, em setembro – mérito de Messi.
 
Mas quem ganhou mais títulos? Quem foi mais determinante e desequilibrante? Quem, aliás, consegue ser tão equilibrado dentro e fora de campo?
 
Kaká é um modelo de craque, de profissional e até de homem – minha mulher pede para acrescentar. João Saldanha, com toda a razão do mundo que é de Kaká, dizia que não escolhia jogador para casar com as filhas. Mas o meia-atacante milanista pode ser apresentado numa boa para qualquer sogra.
 
Kaká é tão bom e tem sido tão regular que ele faz todo time funcionar.
 
Mas será que é ele quem faz a diferença ou todo o conjunto de Seedorf, Pirlo e Nesta que ajuda Kaká a desequilibrar?
 
Um pouco, ou melhor, um muito de tudo.
 
Fala o presidente de honra do Real Madrid, o maior craque do clube mais vezes campeão do século XX, o argentino Alfredo Di Stéfano: “Nenhum jogador é tão bom como todos juntos”.
 
Não que o Milan deva ter 11 Gattusos sem a bola, e 11 Kakás com ela aos pés. Mas um pouco da grinta e da garra de Gennaro para recuperar a pelota, um tanto do talento de Kaká para articular o ataque compensam. Mesmo tendo de tomar a bola na intermediária, partir com ela em linha reta, armar os lances para os gols de Inzaghi, Kaká ainda depende do suor e do saber da equipe.
 
No limite, até o ilimitado Santos de Pelé podia prescindir do rei. Tire Pelé daquela máquina e ela ainda funcionava bonita. Como mal soube o próprio Milan, derrubado na decisão mundial de 1963 pelo Santos de Almir Pernambuquinho.
 
Desde o primeiro prêmio da Fifa (1991) para o craque mundial da temporada, raros os melhores do ano que também ganharam o planeta por clube ou pela seleção. O rossonero Kaká em 2007, o italiano tetracampione Cannavaro em 2006, Ronaldo em 2002 (pelo Real Madrid e pelo Brasil) e Romário em 1994 (pela seleção tetracampeã) são as exceções que deveriam ser regra.
 
Eles fizeram bonito com equipes que os ajudaram nas conquistas. Campeões que nem sempre estão guardados nos olhos pelo talento. O tático e organizado até a medula Brasil de Parreira, em 1994, não era um primor de futebol, mas era time para ser primeiro de tudo. Sobretudo pelo diferencial que foi o gênio de Romário, craque que dispensa a parte tática para ser explicado – só não sei como ele vai se virar para explicar o que quer de seu time como treinador do Vasco.
 
Ronaldo é outro caso à parte no Brasil que só engrenou, de fato, na Ásia, em 2002. Time que não funcionava antes, nem depois. Explodiu quando preciso. E como Ronaldo foi necessário no 3-4-2-1 de Felipão. Uma das mais belas histórias de superação da antologia do esporte. Um conto de Walt Disney com roteiro de novela mexicana que é diabético de tão doce. E ao mesmo tempo, tão real quanto o talento do fenômeno.
 
A pragmática Itália campeã de 2006 só poderia ter como talento maior um zagueiro em forma estupenda como Cannavaro. Epítome do calcio que produz talentos como Totti e Buffon, mas que fica na retina e até na raiva pela excelência de sua marcação.
 
Agora, Kaká é o diferencial do Milan. Apenas o quarto craque de um campeão mundial premiado pela Fifa.
 
Uma entidade que, pelo visto, apesar de “association”, gosta de dar mais bola ao craque individual.
 
Como qualquer torcedor do futebol. Profissional ou não.

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A força das marcas

Sabrina Sato, Adriane Galisteu e Karina Bacchi. Além da beleza, as três têm em comum o fato de nunca esconderem para qual time torcem. Sempre que podem, elas dizem torcer por Corinthians, Palmeiras e São Paulo, respectivamente.
 
Na última semana, esse trio causou alvoroço na imprensa, especialmente a paulistana. Sabrina lançou moda com a camisa “Eu nunca vou te abandonar porque eu te amo”, na primeira campanha de marketing pós-queda corintiana. Pouco depois, no mesmo dia, Adriane apresentava o patrocínio Fiat-Palmeiras. Horas depois, Karina encampava campanha sobre a loja oficial do Tricolor Paulista.
 
As três, com isso, levaram para o futebol um novo tipo de público. Não é sempre. Ou melhor, quase nunca os famosos se mobilizam em campanhas para seus times. Com isso, o público ligado a eles não adentra o mundo da bola.
 
Agora, porém, os clubes parecem arejar suas mentes com sacadas que mostram um pensamento moderno na gestão e, especialmente, no marketing do futebol. Afinal, o simples anúncio da camisa corintiana não teria tanta repercussão na mídia se não fizesse parte do “pacote de lançamento” a musa do Pânico.
 
Essas celebrações do “Trio de Ferro” paulista fizeram com que um novo público tivesse contato com as ações de marketing que os clubes fazem normalmente. Afinal, nenhuma empresa planeja uma campanha de comunicação usando apenas uma mídia para divulgar seus produtos.
 
E, na mentalidade tacanha da imprensa, o que o clube faz de inovador é notícia. Já divulgar o que uma empresa faz, é propaganda gratuita. A força das marcas dos clubes é estridente. Se bem trabalhada, como foi nesses três casos, é sinônimo de sucesso na certa.

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O scout tático, os números e o campograma

O INÍCIO: “Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão; um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção”…
 
Faz alguns anos (se não me engano desde 1998), venho me dedicando ao estudo e à análise de jogos de futebol.
 
Dentro desses estudos, muitas foram as ferramentas investigadas e desenvolvidas. Uma delas, notória e notada em tantos esportes, e que talvez tenha recebido mais da minha atenção, é o “scout”.
 
Quando comecei a estudar scout, percebi que seriam vastas as possibilidades a serem desenvolvidas. Havia um grande caminho a ser descoberto. Muito do que se fazia em “termos de scout” deixava a desejar.
 
De início foi fácil perceber que ele (o scout) quase sempre era confundido com “estatística de jogo”, ou utilizado simplesmente como uma ferramenta para tabulação de números (muitas vezes sem sentido e incapazes de responder questões simples e básicas sobre os eventos de um jogo).
 
O tempo passou (já se foram quase dez anos) e com raras exceções (raras mesmo!) ainda vejo os mesmos scouts, os mesmos conceitos, as mesmas tabelas…
Não sejamos ingênuos. É claro que muitos “scoutistas” transcenderam a “fase da tabela” (e entraram na “era do campograma”). É claro também que algumas coisas hoje são bem mais úteis, práticas e aplicáveis do que eram em 1998. Existem hoje bons modelos.
 
O entrave, porém, continua sendo a má utilização das ferramentas (o pincel não faz o artista!). Idéias, conceitos e essência ficam em segundo plano para darem lugar à maciça e desenfreada coleta de números; e quando eles não são o foco (os números) confunde-se análise quantitativa com análise qualitativa, variável qualitativa com análise qualitativa, e por aí vai…
 
Dia desses, ao término de um módulo sobre “treinamento tático no futebol” em um curso de pós-graduação, propus aos alunos que desenvolvessem em grupos um modelo de scout que tivesse como objetivo avaliar a compactação e a amplitude de uma equipe em jogos de futebol. Sem que entremos em detalhes sobre as grandes elaborações construídas, notemos que um scout precisa responder perguntas (que sejam notoriamente relevantes para alterar o desempenho das equipes). Porém, se essas perguntas proporcionarem respostas fragmentadas, algo estará errado.
 
A boa construção de um modelo de scout necessariamente precisa conceber três dimensões presentes no jogo: a dimensão tarefa (o quê?), a dimensão espaço (onde?) e a dimensão tempo (quando?, quanto tempo?). Essas dimensões em interação constante entre si e com seus agentes (dimensão sujeito – quem?), precisam ser orientadas pelo sistema organizacional que rege o jogo.
 
Então, ao considerar, por exemplo, que um modelo de scout tem como objetivo analisar a compactação e amplitude de uma equipe, devemos ter claro que investigar tal questão de forma desvinculada do jogo significa não conseguir responder a mais importante de todas as perguntas quando se analisa o jogo: o “por quê?”.
 
Em outras palavras, se um modelo de scout der conta de responder “o quê” aconteceu, “onde”, “quando” e “quem” fez acontecer, mas não considerar o sistema organizacional do jogo e sua complexidade, certamente não terá indícios para dizer “como” e “por quê” determinada coisa aconteceu; e aí… bom, aí terá transcendido as “tabelas” mas continuará com problemas.
 
Interessante que o scout, através dos seus “scoutistas”, em função dessa “fragmentação do sistema”, apesar de considerar (e por considerar) isoladamente as dimensões mencionadas, arrisca-se ingenuamente a fazer apontamentos táticos (que realmente acabam sendo um “boleirismo camuflado” de ciência).
 
E se já são, de certa forma, indigestos alguns modelos de scout quando o ponto básico das suas construções é o entendimento do jogo, mais pesado ainda é para o estômago olhar para ele como ferramenta pedagógica.
 
Ferramenta pedagógica?!
 
Sim, caros amigos! O scout (que nas categorias de base precisaria de enfoques particulares) é uma ferramenta pedagógica, que associada a outros recursos pode auxiliar na compreensão (por parte de atletas e equipes) de situações importantes do jogo. Em outras palavras, o scout é elemento contribuinte para significação e tomada de consciência de tarefas do jogo, onde ocorreram, quando, como e por quê.
 
Notemos quantas são as lacunas a serem preenchidas e quanto podemos avançar a caminho da compreensão e da utilização do scout.
 
Mas talvez a questão básica aí não seja o quanto podemos avançar, mas o quanto queremos avançar.
 
Tabelas, estatísticas, campogramas, fragmentações; dimensões, sistemas, complexidade, pedagogia, o jogo…
 
A que perguntas o seu scout responde?
 
O FIM: “(…) E tudo ficou tão claro. Um intervalo na escuridão; uma estrela de brilho raro; um disparo para um coração…” (Humberto Gessinger/Engenheiros do Hawaii)

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Fair play e saúde dos atletas para 2008

A Fifa finalmente estabeleceu neste mês, aparentemente de forma definitiva, a questão da limitação da altitude para jogos oficiais.
 
A polêmica era grande com relação a este assunto. De início, havia sido estabelecido um limite de 2500 metros. Porém, diversos países da América do Sul, dentre eles Equador, Bolívia, Peru e Colômbia, protestavam para uma limitação de 3000 metros de altitude.
 
Em reunião do último dia 15, a Fifa, por meio de deliberação tomada por seu Comitê Executivo presidida por Sepp Blatter, decidiu, de forma bastante política, em fixar o limite para 2750 metros.
 
Foi dirimida também uma questão de ordem legal: como proibir a realização de jogos em locais de maior altitude, onde diversas outras atividades são realizadas pela população (incluindo pelos atletas de futebol, que disputam as ligas locais naquelas condições)? Não deveria então ser utilizado um limite para a questão da temperatura em países muito frios ou muito quentes?
 
De fato, juridicamente, é difícil proibir de forma absoluta a realização de jogos naqueles locais.
 
Para responder a essa questão, a Comitê Executivo da Fifa também estabeleceu que poderão ser realizados jogos em locais com altitude superior a 2750 metros, caso haja tempo suficiente para aclimatação das equipes, estabelecido em 10 dias.
 
A decisão foi acertada. Legalmente a resolução está em ordem, e tecnicamente também, uma vez que foi embasada por estudos técnicos realizados por profissionais capacitados para tanto.
 
A Fifa, assim, mantém a coerência de seu discurso, com o comprometimento com o desenvolvimento do futebol, mantendo acima de qualquer coisa (inclusive dos interesses das diversas partes envolvidas no negócio do futebol e no resultado de determinadas partidas) o fair play dentro de campo e a saúde dos atletas, sem os quais não existiria espetáculo.
 
E é nesse espírito que encerro esta breve coluna desejando a todos os companheiros da Cidade do Futebol e a todos os nossos leitores e colaboradores um Feliz Natal, com muita saúde, paz, harmonia e fair play (nesse caso, dentro e fora de campo).
 

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Wheels of fortune

Esta será a minha última coluna do ano, confesso. Semana que vem estarei de férias, mas volto logo em seguida, acredito. De qualquer maneira, vale lembrar o ano de 2007.
 
Ele poderia ser lembrado como o ano em que o Brasil foi escolhido como sede da Copa de 2014, mas convenhamos que ninguém se lembrará disso daqui 20 anos. 2007 foi, sim, o ano que o Brasil superou pela primeira vez a barreira de mil jogadores transferidos para mercados internacionais, que industrialmente é uma marca muito mais importante do que os mil gols do Romário.
 
Não há sinais, ainda, de que esse movimento de saída de jogadores irá parar. São muitas as fontes produtoras no Brasil, e fechar um eventual canal de saída, como quer o presidente da República, possivelmente apenas abrirá ou fortalecerá outros canais. O Brasil produz muitos jogadores, logo também exporta muitos jogadores. O mundo sabe que é melhor e mais barato comprar do Brasil do que produzir por si próprio. Na verdade, guarde bem essa comparação, o Brasil representa no futebol aquilo que a China representa no mundo real. Só que em vez de bugigangas, saem atletas.
 
Uma coisa muito interessante que aconteceu em 2007 foi a consolidação de jogadores brasileiros no mercado inglês, um mercado tradicionalmente avesso a atletas tupiniquins. Curiosamente, as grandes fontes de interesse dos ingleses são os volantes brasileiros, que são quase uma iguaria no mercado. A era recente começou com as aquisições de Edu e Gilberto Silva pelo Arsenal e Kleberson pelo Manchester United. Kleberson foi embora rapidinho. Edu demorou um pouco e o Gilberto Silva continua lá, pelo menos por enquanto. Depois, para o Arsenal, foram Denílson e Júlio Baptista, que – vai lá – também é volante.
 
Mas quem chegou em 2007 para o mercado inglês foi Elano, que, de repente, conseguiu se tornar o principal jogador do Manchester City e levou o time ao melhor início de temporada depois de muito, muito tempo. O técnico o adora, a torcida o idolatra e a imprensa está em polvorosa. Elano é um fenômeno no futebol inglês e tem sido até agora o jogador brasileiro mais valorizado da Premier League.
 
Porém, vem surgindo um concorrente para Elano. Anderson, do rival Manchester United, tem impressionado nas últimas aparições pelo clube. A contratação mais cara da equipe no ano – custou 31,5 milhões de euros – não havia tido aparições muito felizes no começo da temporada, mas desde que Scholes se machucou, Anderson tem se destacado jogando mais deslocado para o meio e demonstrando uma surpreendente disciplina tática e um enorme controle mental, coisas muito importantes no diferente futebol inglês. Tamanho é o sucesso recente de Anderson que ele foi eleito pelo público que visita o site da BBC o melhor jogador do clássico Manchester United x Liverpool, disputado no último domingo.
 
Não obstante, Lucas, ex-Grêmio, também tem começado a aparecer no Liverpool, fazendo que os três clubes mais tradicionais da Inglaterra, Manchester United, Liverpool e Arsenal, tenham volantes brasileiros em posição de destaque.
 
Para completar o círculo, só falta o Chelsea contratar o Hernanes.
 
Que venha 2008.

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Vai dar o que falar

Kaká e Marta. Muito provavelmente, no fim da tarde desta segunda-feira os dois brasileiros serão eleitos o melhor jogador e a melhor jogadora de futebol do ano de 2007. A escolha é feita por treinadores do mundo inteiro, além dos capitães das seleções mundiais. E deverá resultar nessa óbvia constatação.
 
O Brasil é o maior produtor de talentos do futebol mundial. Só para se ter uma idéia, em 52 prêmios de melhor jogador do mundo concedido pela Fifa (considerando primeiro, segundo e terceiro lugares), 14 ficaram nas mãos de jogadores brasileiros.
 
Só que o momento agora é outro. Kaká e Marta confirmam a supremacia do Brasil em revelar jogadores bons de bola dos pés à cabeça, mostrando um país preparado a viver em outras nações e disciplinado a ponto de jogarem como líderes em suas equipes.
 
E aí é que está o grande problema. Antes, o talento brasileiro geralmente se resumia à genialidade de um Romário, à explosão de um Ronaldo, à precisão incontrolável de Ronaldinho Gaúcho. Agora a coisa é diferente. Kaká chega pela primeira vez entre os três melhores e já deve faturar a taça. E, do jeito que a ligação dele com o Milan se dá, Kaká deverá ter cadeira cativa entre os finalistas do prêmio da Fifa.
 
Zinedine Zidane é o único a ter participado seis vezes da decisão do melhor do mundo. Ficou com a taça em três ocasiões. Começou a figurar entre os melhores em 1998, quando tinha 26 anos. Kaká tem um ano a menos que Zizou. Além disso, ainda não teve o seu grande momento na seleção brasileira. E, para melhorar, não deve migrar de um clube a outro como ocorreu com o cracaço francês.
 
Kaká poderá ser o novo Zidane. E, em razão disso, poderá criar um caso raro no futebol brasileiro. Poderá ser um dos responsáveis pelo fechamento das portas européias aos atletas de nosso país.
 
Sim, porque a supremacia que Kaká deve atingir na Europa poderá fazer com que as cornetas do apocalipse decidam que o Brasil não poderá mais concorrer em pé de igualdade com nenhum outro país no quesito talento para o futebol. Joseph Blatter, presidente da Fifa, já começa a declarar nas entrelinhas que o brasileiro tem começado a dominar o mundo. E quer, desesperada e politicamente, acabar com isso.
 
As escolhas de Kaká e Marta na tarde desta segunda, por incrível que pareça, poderão fazer com que o Brasil comece a sofrer certo boicote no mundo da bola. Ok, para o futebol jogado no Brasil pode ser uma boa não perdermos os talentos tão precocemente. Mas e para o jogador?
 
Não faz sentido ele ser punido pela competência que demonstra. Isso, sem dúvida, ainda vai dar o que falar…

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