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O papel da imprensa na evolução técnica do futebol brasileiro

É possível notar, numa frequência cada vez maior, reportagens qualificadas da mídia especializada sobre o desempenho das equipes do futebol brasileiro.
Com o objetivo de abastecer o torcedor de informações sobre o seu time, proporcionando o desenvolvimento do seu ciclo de aprendizagem sobre o jogo para além da incompetência inconsciente, quanto melhor a imprensa conhecer especificamente a modalidade sob o viés técnico, maior a criticidade levada ao torcedor que tem, em toda sua passionalidade, o desejo de que sua equipe vença e dê espetáculo.
O futebol espetáculo deveria ser condição indispensável oferecida pelas grandes equipes do nosso futebol. Porém, inseridas num contexto vicioso de imediatismo, pressão por resultados, trabalhos de curto prazo e inadequada capacitação profissional, na maioria das ocasiões, as desculpas estão prontas para a prática de um futebol pouco atrativo, pragmático e pouco inteligente, traduzidos em jogos com pouca organização coletiva, pouca criatividade, muitos chutões e incapacidade das equipes trocarem passes curtos (a maior ação técnica do jogo) em progressão.
E se a imprensa se opusesse cada vez mais a este futebol? E se a oposição estiver embasada em elementos quali-quantitativos, que qualificam o jogar apresentado? As ferramentas de análise de jogo já estão disponíveis e cabe a mídia se apropriar de mais este conhecimento para potencializar as necessárias transformações ao futebol brasileiro.
Sinteticamente, o papel inicial da imprensa esportiva é o de identificar os elementos que qualificam o jogo. Para isso, é preciso conhecer o próprio jogo. O sistema, sua lógica, seus princípios, suas referências. Sendo assim, será possível identificar a identidade de cada equipe e o quanto a mesma está alinhada a um jogo de grande elaboração individual e coletiva.
Dada a identificação, o próximo passo é a divulgação em larga escala do nível de jogo apresentado. Como jogam as principais equipes do futebol brasileiro em cada um dos momentos do jogo? Em seus momentos, onde estão as principais potencialidades da equipe avaliada? E as principais deficiências?
O passo seguinte e, seguramente, o mais enriquecedor é o da argumentação e debate das informações apresentadas. Se uma equipe é sólida em sua marcação nas bolas paradas defensivas e não tem sofrido gols desta característica, cabe a imprensa (após identificar e divulgar) argumentar com os porquês de tal solidez. Quais as ações individuais e coletivas têm sido bem aplicadas a ponto da equipe mostrar eficácia neste tipo de ação?
Uma mesma sustentação argumentativa deve ser elaborada quando, por exemplo, uma equipe é ineficiente em sua organização ofensiva na fase de construção, excedendo em chutões ações ofensivas que poderiam ser construídas com um jogo apoiado. É papel da imprensa, através de imagens, vídeos e dados, mostrar o que tem sido feito e debater alternativas ao problema apresentado. Falta mobilidade? Existem linhas de passe?
Vale lembrar que além dos dois exemplos supracitados, um bom número de análises individuas e coletivas podem ser feitas com o intuito de analisar uma equipe.
A temporada está prestes a completar um mês competitivo. Somado ao mês de pré-temporada, já temos tempo suficiente para identificar o surgimento de padrões. Logo, tempo também suficiente para a imprensa debater em alto nível os elementos que têm qualificado (ou não) o nosso jogo.
As mudanças transformadoras e impactantes, hierarquicamente, devem surgir de cima para baixo. Para o futebol brasileiro se transformar de verdade, CBF, dirigentes e treinadores de ponta devem liderar o processo.
A imprensa, com toda sua capacidade de repercussão, pode ser um grande catalisador deste movimento. O atraso na mudança dos maiores níveis hierárquicos, não inviabiliza a transformação em dimensões inferiores. Em qualquer dimensão que você atue, da iniciação ao profissional, da área técnica de campo ou fora dela, se você acredita na mudança, seja a mudança. Quando os movimentos de transformação, já perceptíveis e, assim como o desenvolvimento do papel da imprensa, cada vez mais presentes, forem determinantes e condição sine qua non para trabalhar no futebol brasileiro, você estará preparado.
Então, mãos à obra!

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Repetir, sem repetir

Olá amigos! Esta é minha segunda coluna aqui na Universidade do Futebol. Além de temas relacionados a aspectos extra campo, tentando sempre partilhar e abordar uma visão sistêmica, quero discutir com vocês temas relacionados à pedagogia e ao treinamento. Parafraseando Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento”, logo, abramos nossas mentes e vamos trocar algumas ideias.
Primeiramente, o título desta coluna não foi criado por mim. Foi inspirado numa frase dita pelo especialista em pedagogia do futsal, prof. Dr. Wilton Carlos Santana. Ele comentava sobre o livro “A perfeição não existe” (Tostão, 2012), que num trecho do livro diz: “A repetição aprimora o conhecimento, mas, quando excessiva, limita a criatividade”.
Encerrei minha primeira coluna questionando justamente a rivalidade de competências (treinador acadêmico ou ex-atleta, líder técnico ou gestor de grupo, formar jogadores ou vencer na base, teoria ou prática, analítico ou sistêmico). Não me parece muito vantajosa essa rivalidade. Há que se investigar e conhecer todas as práticas, construindo a partir delas novos conhecimentos.
O treino analítico, sabemos, fornece um alto índice de repetições, que, segundo a afirmação acima, aprimora o conhecimento (sobre aquilo que se repete). Mas ele também tem seus aspectos questionáveis, tais como o desafio que se proporciona, a relação com a imprevisibilidade do jogo, a limitação à criatividade, entre outros. Já o treino pautado no jogo tem suas vantagens, porém pode, muitas vezes (se não devidamente controlado e avaliado), não proporcionar ao atleta um número satisfatório de “repetições” da situação para que se alcance um bom rendimento.
O treino precisa ser desafiador! E precisa mergulhar o atleta no estado de jogo. Pois se treina para o jogo. Então como proporcionar aos atletas um ambiente desafiador, relacionado com o jogo (e suas nuances, tais como a imprevisibilidade e criatividade) e que promova um alto índice de “repetições” de uma maneira, digamos, rica?
Aí é que entra essa pequena afirmação do título: Repetir, sem repetir. Não houve e não haverá um jogo de futebol igual a outro. Os jogadores sempre serão expostos a novos problemas, e terão que, a partir de suas experiências e competências, resolvê-los da maneira mais eficaz possível. Logo, o treino deve proporcionar um ambiente rico e desafiador, relacionado com a imprevisibilidade do jogo, e conseguir fornecer repetições dos problemas que se busca solucionar naquela sessão, sendo estas repetições diferentes umas das outras.
Bom, aí você deve estar se perguntando “como” criar um ambiente rico e desafiador, relacionado com a imprevisibilidade do jogo, e com um alto número de repetições dos problemas que se busca solucionar naquela sessão, certo? As possibilidades são inúmeras, e devem convergir com o planejamento macro do seu sistema. Irei aqui dar dois exemplos de treinos que foram ministrados a uma categoria sub-15 em duas sessões de treino diferentes, dentro do planejamento da categoria. Considerem, neste momento, o registro das finalizações.
Os dados foram recortados de minha planilha pessoal. No cabeçalho estão descritos os objetivos da sessão. Logo em seguida os detalhes da atividade, dentro da linguagem utilizada dentro do clube e da comissão técnica. Há um campo com o desenho e ao lado uma tabela (com os nomes dos atletas preservados por uma faixa cinza) para registro do aproveitamento de vitórias/empates/derrotas (explicarei isso numa coluna posteriormente). Ao lado esquerdo embaixo ficam registrados os conceitos principais a serem discutidos naquela sessão e mais abaixo o controle/avaliação da atividade. Ambos os exemplos foram atividades que tiveram duração total (atividade, pausas, abordagens) de aproximadamente 50 minutos.
Exemplo 1:
Exemplo 1
Exemplo 2:
Exemplo 2
Para efeito de comparação, usaremos jogos de alto nível: a Copa do Mundo de Futebol. De acordo com as estatísticas publicadas no site oficial da FIFA referentes à Copa do Mundo 2014, foram pouco mais de 26 finalizações por jogo (densidade = 0,29 por minuto), em média.
No nosso primeiro exemplo de treino houve 207 finalizações (24,26% de gols) em 50 minutos (densidade = 4,14 por minuto, ou seja, mais de 14x a densidade de um jogo formal). Em números absolutos tivemos entre 7 e 8 vezes o número de finalizações de um jogo formal.
No segundo exemplo houve 84 finalizações (26% de gols) em 50 minutos (densidade = 1,68 por minuto, ou seja, quase 6x a densidade de um jogo formal). Em números absolutos tivemos cerca de 3 vezes o número de finalizações de um jogo formal.
Ambas as situações foram conduzidas em formato de jogo, com outros conceitos coletivos, criados com a equipe anteriormente, sendo discutidos. E ambas proporcionaram um ambiente imprevisível, rico e com alto número de finalizações, afirmando a ideia de “repetir, sem repetir”. Dentro de cada atividade foi possível discutir, além de outros aspectos relacionados aos objetivos da sessão, os principais conceitos de melhora na conclusão a gol. Lembrando que num jogo participa da finalização não somente aquele que faz o arremate, mas toda a estrutura do sistema para criação de espaços, atração de marcadores, passe decisivo, coberturas ofensivas, etc.
Estes foram exemplos de como um treino pode ser imprevisível, rico e desafiador, relacionado com o planejamento e o jogo, e proporcionar uma grande densidade a fim de gerar repetições diferentes de um determinante componente do jogo: a finalização a gol.
E você, leitor, o que acha deste tema? Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!

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A disputa entre Globo e EI e como o futebol brasileiro trata mal a televisão

O monopólio das Organizações Globo sobre os direitos de mídia do futebol brasileiro está ameaçado pela primeira vez desde 2011, quando o Clube dos 13 foi implodido – naquela época, que marcou o início das negociações individuais no cenário nacional, Record e Rede TV! apresentaram propostas para exibir o Campeonato Brasileiro em rede aberta. O concorrente da vez é o Esporte Interativo, turbinado pelo dinheiro do Grupo Turner, que resolveu entrar na briga pelo conteúdo para TV fechada. A concorrência criou uma clara sanha entre equipes – afinal, poucas lógicas de mercado são mais difundidas do que a relação diretamente proporcional entre demanda e preço. No entanto, toda essa história só serviu para mostrar como os contratos são historicamente mal formulados e como os times abrem mão de plataformas que poderiam ser oportunidades de comunicação ou receita.
A Globo negocia individualmente com os clubes, mas faz uma compra ampla para as organizações. Os contratos incluem TV aberta, TV fechada, pay-per-view, internet e até “mídias que possam ser inventadas”. E esse modelo de acordo é algo que o futebol brasileiro precisa atacar urgentemente.
A TV fechada é exemplo disso: em janeiro de 2016, a Turner revelou ter oferecido R$ 550 milhões aos 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro pelos direitos de transmissão do evento em rede fechada. A Globo desembolsa R$ 60 milhões pelas mesmas propriedades e pela mesma quantidade de clubes.
Pelo menos cinco equipes fecharam com a Turner (Atlético-PR, Bahia, Coritiba, Internacional e Santos). O valor total desembolsado pelo grupo de mídia dependerá da quantidade de equipes, mas a divisão seguirá o modelo da Premier League (50% de maneira igual, 25% por audiência e 25% por desempenho).
Aí entra uma questão jurídica fundamental. A legislação brasileira permite múltipla interpretação sobre protocolos em casos de venda individual de mídia, mas o parecer geral de advogados sobre o assunto é que um canal só poderia exibir as partidas que envolvessem apenas as equipes com as quais têm parceria. Caberia ao Esporte Interativo, portanto, apenas um pacote com as combinações entre os cinco clubes que aceitaram a proposta. Paralelamente, a Globo ficaria impedida de mostrar qualquer jogo envolvendo esses times.
O cenário mais plausível (e isso é apenas um palpite) é que essa briga termine com um acordo entre Globo e Turner para que ambas transmitam os jogos. A simples disputa, contudo, já foi suficiente para mostrar o quanto o produto vinha sendo desvalorizado.
A lógica que a Globo usava nas negociações com clubes é que a TV fechada era subvalorizada para acomodar um montante maior pago pela rede aberta. E que fazer isso era fundamental para bancar o alto custo de produção do canal. A emissora chegou a dizer a dirigentes de clubes que a operação de uma partida na TV aberta demanda mais de R$ 1 milhão.
O valor é alto? Baixo? A resposta é: ninguém sabe. Os clubes nunca tentaram orçar o custo de operação de uma transmissão. Não há expertise ou conferência para entender quanto isso representa em um contrato que hoje é a maior fonte de renda de qualquer equipe no futebol brasileiro.
Se acabar com um acordo entre Globo e Turner, a briga deste ano servirá apenas para mostrar que os clubes não fazem ideia do potencial econômico de sua principal fonte de receita. Não há um estudo sequer sobre os custos de transmissão de futebol no Brasil ou sobre caminhos para tornar mais rentável esse negócio.
O mesmo vale para o pay-per-view. O futebol brasileiro é um caso raro entre as grandes ligas esportivas do planeta e transfere para a mídia a administração de um produto que normalmente é gerido pelas próprias equipes. Se o time joga, vende a imagem e gera sob demanda, existe mesmo a necessidade de um intermediário?
Questão técnica, lembrarão alguns. Mas quanto custa a questão técnica? Quantos profissionais são necessários para que os próprios clubes tenham suas estruturas e façam a geração? Isso é mais barato ou mais caro do que simplesmente oferecer os direitos a um canal? E a receita publicitária que a Globo tem no PPV? Quanto ela representa? Os times teriam departamentos comerciais capacitados para correr atrás de algo similar?
Porque o caso do PPV é esse, afinal: a Globo paga aos clubes um valor, mas cobra dos torcedores pela exibição das partidas. No entanto, a emissora também insere publicidade no conteúdo.
O mesmo vale para a TV paga: o consumidor que vê o Sportv já pagou por aquele canal, mas ainda assim é bombardeado por inserções comerciais. Isso é lícito, mas mostra o quanto a Globo tem múltiplas fontes de receita que poderiam ser exploradas pelas equipes.
O controle do conteúdo é um caminho cada vez mais claro no esporte mundial. Todas as grandes ligas (não apenas no futebol) geram seus próprios sinais e vendem apenas o direito de transmissão. Isso garante, por exemplo, que as TVs sejam submetidas ao enquadramento padronizado e que não cometam esquisitices como ângulos extremamente fechados para evitar patrocínios de clubes ou de campeonatos.
Fifa e COI (Comitê Olímpico Internacional) têm empresas que geram os sinais de seus eventos e que apenas distribuem entre as emissoras que compram o sinal. E até onde sabemos, Fifa e COI não são entidades que rasgam dinheiro – ao contrário, ambas têm faturamento exponencial e estão entre os maiores caixas do esporte mundial.
Você pode estar preocupado com o canal que vai transmitir jogos do seu time ou quanto ele vai pagar por isso, mas essas são discussões secundárias. Se quiserem realmente evoluir e preparar terreno para o futuro, as equipes brasileiras precisam começar a discutir o controle dos direitos de mídia. A briga entre Globo e Turner serviu como uma demonstração clara disso.

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Machismo no futebol?

A apresentação das novas camisas do Clube Atlético Mineiro gerou imensa polêmica. Primeiro pelo fato das modelos exibirem “moda praia”, incompatível com a apresentação de uniforme esportivo. Segundo, pelo fato de as camisas promocionais distribuídas constarem, acima das instruções de lavagem, a frase “dê para sua mulher lavar” (tradução livre).
Não há dúvidas que o futebol seja um campo predominantemente masculino e que as mulheres encontrem barreiras para adentrarem neste universo.
Aliás, infelizmente, a sociedade em geral ainda é bastante machista. As mulheres acabam sendo pior remuneradas que os homens e são vítimas de sexismo, ou seja, são vítimas de exclusão ou rebaixamento.
Segundo Karin Ellen Von Smigay, as culturas, chamadas “falocráticas”, trazem “um vasto conjunto de representações socialmente partilhadas, de opiniões e de tendência a práticas que desprezam, desqualificam, desautorizam e violentam as mulheres, tomadas como seres de menor prestígio social”( SMIGAY, Karin Ellen von (2002). “Sexismo, homofobia e outras expressões correlatas de violência: desafios para a psicologia política”. Psicologia em Revista. Belo Horizonte. p. 34. Consultado em 02 de setembro de 2013.)
Ao contrário do futebol, o universo dos desfiles de moda é predominantemente feminino e a beleza e exuberância das mulheres são comumente utilizadas nos grandes eventos e nas capas de revista. Modelos femininas se tornam celebridades mundiais.
O evento de lançamento de uniformes suplanta o mundo futebolístico e busca o glamour do mundo da moda. Nos desfiles da nova camisa do Atlético viu-se claramente a intenção de “copiar” os grandes eventos de moda que são difundidos pelo mundo afora.
O que houve ali não foi uma violência ou uma desqualificação da imagem da mulher, pelo contrário, aconteceu a exaltação das mulheres, protagonistas do mundo “fashion”.
No que tange à mensagem “give it to wife”, não se trata de fato novo.
A empresa Salvo Sports que fornece material esportivo para clubes da SuperLiga da Indonésia foi alvo de polêmica no início de 2015 por trazer em seu material a frase “give it to your woman”.
Na Inglaterra, a empresa Flagship Store vendeu camisas que informavam “Give It To Your Woman, It’s Her Job” (dê para a sua mulher, isso é trabalho dela) e foi alvo de críticas nas redes sociais.
No mundo atual em que as mulheres cada vez mais dominam espaços que antes eram predominantemente masculinos, a frase estampada na camisa só pode ser encarada como uma brincadeira. De mau gosto sim, mas uma brincadeira.
Uma brincadeira que, aliás, faz escárnio do próprio ambiente masculinizado que o futebol remete.
O fato é que essas “brincadeiras” tendem a perder cada vez mais o sentido no momento em que as mulheres, os homossexuais, os negros, dentre outros, forem inseridos no contexto da igualdade social e sentirem-se seguros e aptos para rirem das próprias piadas que também são desferidas contra gordinhos ou carecas que não se sentem ofendidos, uma vez que não são alvo de restrição de direitos e violência.
Os homens brincam com naturalidade sobre o fato da “mulher mandar neles”, justamente porque se sentem seguros ao ponto de fazer piada.
O fim do machismo e de todo preconceito não está na extinção de “piadas” ou de manifestações ásperas em redes sociais, mas em ações efetivas, inclusive das próprias mulheres que, muitas vezes, presenteiam suas filhas com “panelinhas” e “tanquinhos” e já criam, na infância, a ideia de que a mulher tenha a função de cozinhar, lavar e passar.
As atitudes dizem mais do que qualquer palavra.
O mundo precisa de atitudes positivas no intuito de exaltar o papel de protagonista das mulheres não só no cenário esportivo, mas em todo o cenário social e profissional.
As mulheres são a fonte da vida e do equilíbrio do mundo. Não se vê mulheres envolvidas em guerras e em grandes atos de violência. As mulheres são dotadas de uma capacidade infinita de lidar com obstáculos e várias atividades ao mesmo tempo se perder a ternura e a humanidade.
O Brasil é governado por uma mulher. A Alemanha também. Os Estados Unidos podem ter uma mulher na presidência em breve.
Não é uma brincadeira de mau gosto que retirará das mulheres o seu papel de personagem principal no teatro da vida.
Que o futebol e todos, nos curvemos às mulheres!!!!

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As lições de comunicação dadas pelos torneios estaduais

O esporte é uma seara cheia de aforismos e sensos comuns. Expressões como “futebol é uma caixinha de surpresas”, “2 a 0 é um resultado perigoso” e “quem não faz toma” são extremamente recorrentes no cotidiano do segmento. Algumas são apenas frases vazias, que servem mais como muletas de comunicação. Em apenas dois meses, contudo, a temporada 2016 já serviu para ratificar o valor de um desses ditos tão surrados: “os torneios estaduais não servem para nada. Desde que você não perca”.
Eduardo Baptista não precisou de mais do que seis jogos no ano para começar a ser pressionado no Fluminense. O treinador já vinha sendo cobrado por resultados ruins no segundo turno do Campeonato Brasileiro de 2015, mas a situação ficou ainda mais conturbada depois de três derrotas, dois empates e apenas uma vitória na soma de Estadual e Primeira Liga.
O Internacional de Argel também teve resultados que geraram questionamentos no início de 2016. O treinador foi cobrado depois de empates com São José-RS e Aimoré no Campeonato Gaúcho. Em defesa, chegou a dizer que o time estava em situação ainda pior no ano passado.
Aconteceram em São Paulo, porém, os dois exemplos mais claros do quanto os torneios estaduais repercutem – sobretudo quando a repercussão é negativa. Foi assim com os episódios de Leandro Almeida (no Palmeiras) e Lucão (no São Paulo).
Leandro Almeida foi contratado em 2015 atendendo a um pedido do técnico Marcelo Oliveira, com quem havia trabalhado na categoria de base do Atlético-MG. Nunca conseguiu se consolidar no Palmeiras, mas ganhou nova chance como titular no início do ano, quando Edu Dracena se machucou.
No dia 4 de fevereiro, Leandro Almeida já vinha sendo cobrado pela torcida alviverde. O Palmeiras jogava em casa, e o defensor tentou fazer um passe difícil para a direita. Morais interceptou a bola dentro da grande área, driblou Almeida e ainda completou por cobertura para fazer o gol. A partida terminou empatada por 2 a 2.
Lucão já estava no São Paulo quando o time tricolor contratou o técnico argentino Edgardo Bauza. Forjado nas categorias de base da equipe do Morumbi, o defensor foi capitão de seleções brasileiras de base e sempre teve muito moral no clube. Nunca conseguiu repetir isso entre os profissionais.
No dia 14 de fevereiro, Lucão foi titular do São Paulo em clássico contra o Corinthians, em Itaquera. No primeiro tempo, tentou cortar uma bola no lado esquerdo da área do time tricolor. Bateu a bola nos pés de Mena, pegou de volta, viu a saída do goleiro Denis e tentou um recuo. Errou o passe e ofereceu uma oportunidade precisa para Lucca abrir o placar.
Lucão ainda errou no segundo tempo, aos 40min. Giovanni Augusto cobrou escanteio da direita, e Ganso cortou mal no primeiro pau. O zagueiro ficou parado e permitiu antecipação de Yago, que selou a vitória do Corinthians por 2 a 0.
Leandro Almeida e Lucão não eram jogadores intocáveis e não tinham status consolidado, mas foi o Campeonato Paulista que contribuiu para destroçar a imagem deles em seus clubes. Os dois são exemplos do poder destrutivo dos torneios estaduais.
Leandro Almeida e Lucão também são exemplos de comunicação em momentos de crise. O zagueiro do Palmeiras foi criticado e barrado pelo técnico Marcelo Oliveira, e o defensor do São Paulo foi defendido e bancado pelo treinador Edgardo Bauza.
Oliveira indicou Leandro Almeida. Em teoria, deveria ter uma ligação mais próxima com o zagueiro. Ainda assim, contudo, colocou o jogador na fogueira e entregou a cabeça dele para os críticos.
Bauza não participou da formação de Lucão e não foi responsável pela presença dele no elenco, mas tomou uma atitude diferente: preferiu proteger o defensor e mostrou que não expõe o grupo.
Para os dois treinadores, o Campeonato Paulista também pode repercutir além da duração. As declarações de Oliveira e a decisão de barrar Leandro Almeida certamente influenciarão na relação do técnico com os atletas. Foi uma cobrança dura, pública, que pode ser até justificável, mas que tem enorme possibilidade de debelar a confiança dos jogadores no comando.
A postura de Oliveira é extremamente discutível. Ao expor publicamente um de seus comandados, o treinador criou para si um cenário complicado. Liderança tem muito a ver com comunicação e com a construção de ambientes positivos.
Foi isso que Bauza tentou fazer no São Paulo ao defender Lucão. O zagueiro cometeu erros seguidos nos últimos jogos e nos clássicos com o Corinthians, mas o treinador evitou crucificá-lo. Em vez disso, priorizou o bom ambiente no elenco.
Os campeonatos estaduais já têm uma característica extremamente marcante, que é a potencialização de erros. Adotar uma linha de comunicação que contribua para isso é jogar gasolina num fogo que já está alto.

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Entrevistas

Igor Custódio, coordenador de preparação física da base do Atlético Mineiro

Ser um bom preparador físico é ter acesso e conhecimento da ciência, vocação e olhar para o todo que influencia no desempenho de um time de futebol. Nas categorias de base, por exemplo, nem todos os clubes desenvolvem o potencial do garoto que, obviamente, não atingiu o grau máximo de maturidade, seja físico ou mesmo técnico, tático e psicológico.
Por meio do coordenador de preparação física da base, Igor Custódio, o Atlético Mineiro utiliza método para verificar quais potencialidades e fragilidades os jovens apresentam. “Ao longo dos anos, dentro da realidade do Atlético, por meio de testes e jogos oficiais, criamos valores de referência para cada uma das qualidades físicas, a fim de conseguirmos identificá-las eficientemente dentro de cada categoria do nosso futebol de base”, explica Custódio, que gerencia um departamento com sete preparadores.
No momento da seleção e avaliação, a equipe mineira não dá prioridade à capacidade física, olha primeiramente os aspectos técnicos e táticos e, num segundo momento, prima pelo perfil comportamental, dentro e fora do campo.
“Dentro do contexto da preparação física, procuramos o jogador que tenha um bom potencial para a força, velocidade, potência e resistência específica de jogo. Acreditamos que tais características possibilitam ao atleta, caso o técnico necessite, desempenhar sua função dentro da partida de maneira satisfatória, contra qualquer adversário e sob qualquer nível de intensidade”, acrescenta o coordenador.
Segundo Custódio, o trabalho é integrado ao profissional pois a forma de treinamento segue modelo único e ainda há uma base de dados unificada dos jogadores. “Tanto a fisiologia quanto a preparação física do time principal têm ciência do que é realizado na base por meio de inúmeras ferramentas de registro que possibilitam o conhecimento de informações como carga de treinamento, frequência nas atividades, histórico de lesões, jogos realizados, avaliações físicas e avaliação de desempenho em partidas oficiais, dentro de cada uma das cinco categorias de formação (aproximadamente 180 atletas)”, descreve.
O pensamento integrado também se direciona para o treinamento, afinal, em cada categoria, o desenvolvimento do aspecto físico acontece em sintonia com os quesitos técnicos e táticos e a forma de jogar do clube. Confira a entrevista:
Universidade do Futebol – Qual a sua formação acadêmica e como ocorreu o ingresso no ambiente do futebol?
Igor Custódio – Sou graduado em educação física pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), especialista em Treinamento Esportivo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente curso mestrado em Ciências do Esporte, também pela UFMG.
Meu ingresso no futebol se deu ainda nos tempos de graduação em educação física, atuando em projetos sociais da Prefeitura Municipal de Viçosa, bem como no futebol universitário. Tal experiência foi crucial para o estabelecimento de relações profissionais que possibilitaram minhas primeiras oportunidades nas categorias de base dos clubes de Minas Gerais.
Universidade do Futebol – Quais são as principais funções do coordenador de preparação física das categorias de base de um clube?
Igor Custódio – Na minha opinião, a principal função é o efetivo gerenciamento da equipe de trabalho. Gerenciamento no sentido de garantir a eficácia da aplicação da filosofia de treinamento adotada pelo clube. No Atlético Mineiro, nós contamos com sete preparadores físicos dentro do departamento de futebol de base, divididos entre cinco categorias de formação. Além disso, o processo de treinamento técnico da equipe (atualização profissional), o estabelecimento de ferramentas de registro, monitoramento e controle da carga de treinamento, a construção de parâmetros de referência para avaliação da performance física, bem como a implantação e supervisão do trabalho de forma multidisciplinar, são as principais funções atribuídas ao cargo.
 
Igor 11
Universidade do Futebol – Como se dá o processo de detecção, seleção e captação de talentos nas categorias de base do Atlético Mineiro?
Igor Custódio – Esse processo é dirigido pelo professor Frederico Cascardo, coordenador técnico do clube. Através de anos de experiência, aliada às competências técnicas de todos os profissionais envolvidos no departamento de futebol de base, se traçou um perfil de atleta de futebol que o clube julga ser o ideal para sua realidade e filosofia de formação. Baseando-se nisso, coordenadores, técnicos, auxiliares técnicos, observadores técnicos e outros profissionais vão em busca desse perfil de atleta por meio das ferramentas de captação que o Atlético Mineiro dispõe. Importante salientar que as capacidades físicas não figuram como principal fator de seleção. Uma vez o atleta selecionado e aprovado, baseando-se em valores de referência interna, se verifica quais potencialidades e fragilidades físicas ele apresenta. Dentro do contexto da preparação física, procuramos o jogador que tenha um bom potencial para a força, velocidade, potência e resistência específica de jogo. Acreditamos que tais características possibilitam ao atleta, caso o técnico necessite, desempenhar sua função dentro de jogo de maneira satisfatória, contra qualquer adversário e sob qualquer nível de intensidade. Ao longo dos anos, dentro da realidade da equipe, por meio de testes físicos e jogos oficiais, criamos valores de referência para cada uma dessas qualidades físicas, a fim de conseguirmos identificá-las eficientemente dentro de cada categoria do nosso futebol de base.
Universidade do Futebol – Nesse processo paulatino de categoria a categoria, já existe um “currículo” de formação no Atlético Mineiro que permeie todas as características técnicas, táticas e físicas do jogo em cada um desses atletas ou se trata de uma realidade muito distante?
Igor Custódio – Sim, existe. Entretanto, irei me ater aos aspectos físicos da formação do atleta de futebol. O que dita o ritmo desse “currículo” de formação é o processo de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica do atleta. Por causa disso, cada estágio desse processo deve e é levado em conta durante a administração das cargas de treinamento.
Universidade do Futebol – Qual a metodologia utilizada pelo clube nas diversas categorias? Quais as principais diferenças entre os trabalhos? Ou há uma linha metodológica semelhante para todas as faixas etárias?
Igor Custódio – Entendemos o processo de treinamento no futebol como um processo de caráter sistêmico, onde todas as ações estão interligadas e convergem para um objetivo único. Isso acontece em todas as faixas etárias. É claro que o nível de exigência dos diferentes aspectos da performance se diferenciam dentro de cada categoria. Entretanto, a linha mestre de formação está presente em todas elas. Em cada categoria, o desenvolvimento do aspecto físico acontece em sintonia com os aspectos técnicos e táticos, sempre levando em consideração a especificidade energética e biomecânica do futebol, bem como a especificidade da forma de jogar do clube.
Universidade do Futebol – O treino de preparação física é especificado por função [atividade para alas, volantes, atacantes, por exemplo]? Como diferenciar a necessidade individual e o aspecto de treino coletivo nesse caso?
Igor Custódio – Não, nenhum treinamento físico é especificado por posição. Ao longo dos anos de formação, nós conseguimos identificar as virtudes e as deficiências que cada um apresenta. O que normalmente acontece é que, de acordo com a necessidade de desempenho de cada função dentro do campo de jogo, e em cada categoria de formação, procura-se adequar essa necessidade aquele que apresenta melhores condições táticas, técnicas e físicas para tal. Agora, enquanto atleta, dentro de sua individualidade biológica, procura-se adequar a carga de treino à capacidade de adaptação, assim como também suprir eventuais necessidades específicas de condicionamento que porventura se apresentam, mesmo que o jogador tenha que, às vezes, terminar o treinamento antes dos demais companheiros ou realizar sessões individualizadas em momentos diferentes da programação de treinamento padrão.
Treino 12.01.2012
 
Universidade do Futebol – Quanto ao perfil dos profissionais da preparação física, quais são as peculiaridades que a coordenação procura para a escolha para cada categoria específica?
Igor Custódio – No Atlético Mineiro, nós trabalhamos numa perspectiva de que todos os preparadores físicos estejam aptos a trabalharem em qualquer uma das categorias de formação. Para isso, a principal característica que todos devem apresentar é uma grande vocação para a função. Sabemos que a carreira no futebol é bastante difícil e longa. Somente com uma grande vocação se consegue desenvolver todas as outras características necessárias, ou seja, um bom nível de relacionamento interpessoal, um bom perfil de liderança, serenidade, uma alta resiliência, bem como a busca constante de elevação da capacidade técnica de trabalho. Poderia citar inúmeras outras, mas creio que estas aqui são as mais importantes.
Universidade do Futebol – Como se dá a integração da preparação física da base com o grupo de profissionais que trabalha no time principal? Há uma interação constante entre as comissões técnicas ou alguns pontos têm de ser ajustados?
Igor Custódio – Essa integração funciona muito bem entre o departamento e futebol de base e o departamento de futebol profissional. Se desenvolve mais estreitamente entre mim e o fisiologista da equipe principal, Roberto Chiari, apesar de sempre existir também uma grande abertura entre os profissionais da base e os demais preparadores físicos da equipe principal. Enxergamos a forma de treinamento no futebol da mesma forma e isso facilita muito o processo. Nossa base de dados é unificada e, assim, tanto a fisiologia quanto a preparação física da equipe principal têm ciência do trabalho que é realizado dentro das categorias de base por meio de inúmeras ferramentas de registro que possibilitam o conhecimento de informações como carga de treinamento, frequência nos treinamentos, histórico de lesões, jogos realizados, avaliações físicas e avaliação de desempenho em partidas oficiais, dentro de cada uma das cinco categorias de formação (aproximadamente 180 atletas).
Universidade do Futebol – Em sua opinião, o que deve mudar no trabalho das categorias de base nos clubes brasileiros? De uma forma geral, você acredita que o trabalho é bem feito?
Igor Custódio – De uma forma geral, o trabalho é muito bem feito. A grande maioria dos profissionais que militam no futebol de base atualmente possuem uma alta competência técnica. E muitos deles já deveriam estar figurando entre as equipes de futebol profissional da Série A do Campeonato Brasileiro. O que creio que deveria mudar e virar uma rotina dentro da base brasileira é um pensamento, já praticado no Atlético Mineiro há um bom tempo, onde a seleção e avaliação do atleta de base se concentre inicialmente nas capacidades táticas e técnicas, é claro, mas que no segundo momento o quesito preponderante seja um ótimo perfil comportamental, dentro e fora de campo. As demais questões relativas às capacidades físicas deveriam vir depois dessas primeiras. Além disso, creio que a cobrança do trabalho por resultados dentro de campo é uma praxe que acredito não ter mais espaço numa visão mais moderna do futebol. Claro que ganhar é bom e faz parte da ótima formação de um atleta. Entretanto, julgar a eficiência de um trabalho de formação apenas por esse pilar é demasiadamente limitante. O trabalho deve, sim, ser avaliado com rigidez, ao longo do tempo, dentro do dia a dia de treinamento, e não apenas pelo resultado dentro do campo de jogo. Mesmo porque muitas vezes títulos são ganhos formando muito mal, e se perde títulos formando muito bem. Assim como se ganha jogos jogando muito mal, e se perde jogando muito bem.
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Universidade do Futebol – E se pensando na evolução do departamento em um clube, qual é a importância da longevidade do preparador físico? Você considera interessante o profissional responsável pelo condicionamento dos atletas acompanhar o treinador ou pensa que ele deveria ficar atrelado à agremiação?
Igor Custódio – Eu creio que uma coisa não exclui a outra. Existem profissionais da preparação física que seguirão os dois caminhos. É muito importante que o clube tenha uma filosofia de trabalho definida. E para isso teria, sim, que manter um preparador físico permanente. É claro que também é importante para o treinador ter seu preparador físico de confiança na comissão técnica. Portanto o ideal, na minha opinião, é que já havendo um preparador físico permanente, aliado e mantenedor da filosofia de treinamento adotada pelo clube, outros profissionais contratados o fossem por características semelhantes àquelas que o clube preconiza. Assim, se conseguiria dar longevidade à filosofia de treinamento da equipe e, ao mesmo tempo, não impediria que o treinador recém contratado tivesse seu preparador físico de confiança presente na comissão técnica.

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Treinador: competência técnica ou relações humanas?

Permita-me, inicialmente, fazer uma breve apresentação. Meu nome é Rafael Ferreira e atualmente sou assistente técnico da equipe sub-15 do Coritiba Foot Ball Club.
Sou Bacharel em Treinamento em Esportes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Iniciei meus trabalhos como profissional do futebol no Paulínia Futebol Clube, sob as orientações do professor Dr. Alcides Scaglia. Tive uma rápida passagem pela Associação Atlética Ponte Preta, retornei ao Paulínia FC, onde completei um ciclo passando por todas as categorias de base e equipe principal, sempre como treinador adjunto. E no ano de 2015 mudei-me para a capital paranaense, atraído por um grande projeto de transformação das categorias de base no Coritiba Foot Ball Club, onde enfrentamos a árdua tarefa diária de melhorar o processo de formação de atletas. Apresentação feita, vamos ao tema!
O mundo do futebol vem percebendo aos poucos a necessidade de constante atualização profissional, além de implementação da ciência e profissionalização em todos os seus segmentos. A profissão de treinador, enigmática e concorrida, talvez seja uma das mais julgadas (mesmo que na maioria delas empiricamente). É comum, e é da na nossa cultura, a discussão em cada canto da sociedade sobre qual é o melhor treinador, o que deveria ser feito numa situação-problema no jogo, qual o treinador ideal para sua equipe.
E o que é mais determinante, partindo de um lema conhecido nos ambientes de discussão: um treinador com competência técnica ou muito bom em relações humanas?
Todos aqueles que permeiam no futebol sabem que, para alcançar esta concorrida função, há de se construir bons laços humanos. Isto porque, via de regra, quem toma decisões de contratação (em sua maioria) não são profissionais formados para o futebol, e muitas vezes, sequer são remunerados. Logo, o critério para escolha raramente é técnico, e quando o é, tende a ser superficialmente embasado em conceitos (talvez o mais usado seja o critério de “vitórias” – não discuto aqui o mérito de se usar este critério, pois acredito que em alguns ambientes este seja sim o critério determinante, principalmente em equipe profissional).
Ocorre que, uma vez posto no cargo, este treinador será indubitavelmente um líder. Líder de pessoas, em seus mais diferentes níveis hierárquicos – atletas, comissão técnica, equipe de apoio. Terá que lidar com diretores e torcedores, e apresentar resultados. Deverá conhecer a cultura do clube onde está inserido. E obviamente, fazer o time jogar bem – ou vencer – ou os dois.
Sendo líder, precisará construir um ambiente de produtividade e desenvolvimento comum a todos e ao trabalho – medido pelo desempenho da equipe. Precisará, e muito, de cada um de seus assistentes, se quiser atingir um nível de excelência. Terá que oferecer as melhores condições para que um atleta suplente esteja pronto para jogar e sinta-se importante no grupo, assim como fazer com que o atleta titular tenha consciência que sua condição é temporária e por mérito. E isto tudo se constrói, entre outros, com uma boa gestão de grupo.
Logo, parece sim ser necessário construir relações humanas favoráveis ao seu crescimento pessoal e profissional, mas faço um alerta para os princípios que utilizará para construir tais alicerces – recomendo a leitura da coluna do Eduardo Barros para fazer esta reflexão em https://universidadedofutebol.com.br/a-sua-melhor-versao-te-leva-alem/.
Porém, na opinião deste que vos escreve, para manter-se na função e crescendo profissionalmente, será necessário alicerçar seu trabalho em princípios bem fundamentados – ou seja, ter muita competência técnica e buscar atualização constante.
E uma última reflexão que faço em minha conclusão vem de uma discussão com um grande amigo. Um dos maiores entraves para continuidade no desenvolvimento de um trabalho ganha corpo na “rivalidade” de competências: profissional acadêmico ou ex-jogador, líder técnico ou gestor de grupo, foco em formar jogadores ou vencer nas categorias de base, priorizar a teoria ou prática, treino analítico ou sistêmico. Talvez ainda não tenhamos superado estas dualidades e conseguido evoluir com as mais diferentes competências, mas isso pode ser um próximo assunto!
E você, leitor, o que acha deste tema? Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!

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Universidade do Futebol: você precisa conhecer

Juca 4
Uma ilha de conhecimento, que estabelece conexões decisivas para o bem do nosso futebol.
Esta é a Universidade do Futebol.
Uma instituição fundada por um profissional com larga experiência na modalidade e que de tanto sonhar mexeu na realidade.
João Paulo Medina não é desses que a gente vê por aí com um discurso bonito e prática feia.
É um dos poucos que não precisam assinar para cumprir a palavra.
Criou uma instituição que rema contra a maré das facilidades, comodidades e mesmices, e faz da UdoF um quartel general para quem quiser se juntar a ele na batalha.
Confira o texto na íntegra clicando aqui

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O que o ambiente de treino deve favorecer

Influenciamos e somos influenciados pelo ambiente! Ao longo da minha trajetória profissional, posso afirmar que trabalhei em clubes e com pessoas preocupados com o desenvolvimento do futebol brasileiro. Estes ambientes sempre me tiraram da zona de conforto, direcionaram meus estudos e influenciaram minha prática, sustentada pelas reflexões e aprendizagens que as trocas permanentes de conhecimento proporcionaram. Quando paro e penso em que nível me encontraria se meus caminhos profissionais tivessem sido outros, em ambientes pouco críticos e/ou avessos ao conhecimento, agradeço as oportunidades que tive.
Em uma delas, numa das ações de capacitação de um dos clubes que trabalhei, participei de uma aula com o psicólogo do clube, presente na rotina mas não no dia a dia de treinamentos, sobre os elementos que as comissões técnicas devem desenvolver em seus jogadores, através do treino, para potencializar a aprendizagem.
Na ocasião, o psicólogo afirmou que é dever das comissões técnicas encontrar formas inovadoras de ensino/estímulos/treinamento, que possibilitem um maior desenvolvimento e aperfeiçoamento dos atletas. Neste contexto, foi abordado o conceito de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de ser alterado, modificar suas funções e aprender novas tarefas e foi discutido também que o caminho para o maior desenvolvimento dos jogadores é o de um ambiente que proporcione uma “desacomodação” contínua.
Afirmou ainda que, num cenário em que a evolução da modalidade e dos métodos de treinamento são significativos, é indispensável uma prática profissional com visão sistêmica e transdisciplinar. Temas bastante debatidos na Universidade do Futebol.
A partir destes tópicos introdutórios, o profissional concentrou sua apresentação em três elementos que devem ser desenvolvidos no treinamento sob o ponto de vista psicológico. São eles:
* o foco atencional;
* o endurance psicológico;
* a intencionalidade e consciência corporal.
Resumidamente, sintetizando as explanações do próprio psicólogo, entende-se por foco atencional a capacidade de, diante de inúmeros estímulos, selecionar àqueles que voluntariamente serão dispensados atenção; endurance (ou resistência) psicológica como a capacidade de suportar emocionalmente tarefas que nos são impostas; e intencionalidade/consciência corporal, que significa agir com significado (intenção) em um determinado contexto.
Como a atuação deste profissional não se estendia às atividades de campo, mesmo que sob o viés observacional, aparentemente, faltavam exemplos reais que pudessem deixar mais tangíveis os conceitos discutidos.
Aparentemente, pois bastava estabelecer as relações de uma metodologia sistêmica, que tem o Jogo como essência do processo de ensino-aprendizagem para concluir o quanto os elementos supracitados são estimulados.
Se você trabalha com Jogos, seguramente, deve ter um exemplo de um treino em que o ambiente criado, desafiador, imprevisível e suspenso à realidade, potencializou o desenvolvimento destes três elementos, permitindo abordagens relevantes no processo de construção do modelo de jogo (que é tudo, logo, também psicológico).
Obrigado, dr. Gilberto por trazer ricos argumentos e contribuir significativamente com minha atuação profissional.
Deixo, leitor, uma reflexão: em sua opinião como desenvolver o foco atencional, endurance psicológico e intencionalidade específicos?
Abraços e bons treinos!

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Campeonato Gaúcho desrespeita Estatuto do Torcedor

Em 15 de maio de 2003 foi promulgada a Lei 10.671, denominada Estatuto do Torcedor, com o objetivo de regulamentar direitos e deveres de um consumidor específico, ou seja, aquele que acompanha eventos esportivos.
O capítulo “Da transparência na organização” cria a figura do Ouvidor da Competição (art. 6º), pessoa designada pela entidade responsável pela Organização da Competição, cuja função é de servir de contato entre torcedores e a entidade organizadora do evento, anotando sugestões dos torcedores.
Além disso, as entidades de prática devem promover a comunicação com o seu torcedor e esta poderá se dar por meio de uma ouvidoria estável. No que diz respeito à comunicação com os clubes, Internacional e Grêmio são grandes exemplos.
O Internacional possui Ouvidoria com Ouvidores nominalmente conhecidos (Ouvidor Geral: Fernando Baptista Bolzoni, Ouvidor Adjunto: Jasson Ayres Torres), cujo contato se dá pessoalmente na Av. Padre Cacique, entre os portões 5 e 6, ao lado da Central de Atendimento ao Sócio (CAS), de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, por telefone: (51.3230.46.00 opção 5) ou por e-mail ouvidoria@internacional.com.br .
O Grêmio, por sua vez, também possui ouvidoria e ouvidores nominalmente conhecidos (Ouvidor: Cesar Luis de Araújo Faccioli, Ouvidor adjunto: Guilherme Weber Luce, Ouvidor Adjunto: Luiz Felipe Barth), cujos contatos podem se dar pessoalmente no estádio, esplanada oeste, junto a Gremio Mania Megastore, segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h, por telefone (51.32182001) ou por e-mail ouvidoria@gremio.net. Além disso, nos dias de jogos há plantão de atendimento.
Ao contrário de Inter e Grêmio, a Federação Gaúcha de Futebol não faz qualquer menção, em sua página inicial, ao ouvidor e, consultando-se os regulamentos das competições, constata-se a inexistência de ouvidoria, o que viola o Estatuto do Torcedor.
No “link” contato (canto superior do site) há um formulário em que pode-se direcionar manifestações ao “departamento” denominado “Ouvidoria” sem, no entanto, haver informações acerca do ouvidor.
Assim, mesmo após quase 13 anos do Estatuto do Torcedor, seus dispositivos permanecem descumpridos e cabe ao torcedor e ao Ministério Público exigir seu cumprimento e a aplicação de penalidades que podem culminar, inclusive, com a destituição dos dirigentes.