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Continuamos precisando rever o calendário do futebol brasileiro

Uma das principais discussões em relação ao futebol brasileiro está relacionado ao fato dos torneios serem organizados pela CBF e as suas federações estaduais, ao invés dos próprios clubes serem a parte central como detentores de suas ligas, algo que ocorre com sucesso na Europa.

O que mais chama atenção é que a CBF, “dona” do Campeonato Brasileiro, parece não entender o quanto deveria valorizar o seu produto principal destinado aos clubes. A grande prova está no calendário falho e sufocante, que obriga os grandes clubes a um número excessivo de jogos, enquanto que, na outra ponta, os clubes locais de menor expressão fecham as suas portas por um semestre inteiro sem campeonatos para participar.

A CBF tem se esforçado em desenvolver uma embalagem mais elaborada ao seu produto, com a criação de protocolos de jogos que agregam certo valor ao evento. Porém, por ter que entregar a temporada dentro do prazo, faz com que o seu produto Campeonato Brasileiro conflite com a sua outra propriedade, a Seleção Brasileira. Essa questão faz com que se perca a principal característica que qualquer produto deve priorizar: a sua qualidade.

Como exemplo, em outubro a seleção jogará duas partidas pelas Eliminatórias Sul-Americanas, na chamada data FIFA, onde as seleções de todo o mundo disputam as suas competições continentais ou amistosos preparatórios. Nenhum clube europeu das grandes ligas terá jogos oficiais nesse período, pois o calendário é programado para que os clubes tenham sempre o seu elenco completo à disposição, haja visto serem eles os responsáveis pelo alto custo de suas contratações e pagamentos mensais de salários.

Nesse período em que a seleção brasileira jogará, não teremos jogos do Campeonato Brasileiro, o que parece um avanço. Porém, teremos nada menos que a final da Copa do Brasil e a final da Primeira Liga, sendo que esse segundo perdeu grande parte de seu prestígio nessa sua segunda edição. Sem dúvida, as finais ocorrerão nessas datas por não haver qualquer outra possibilidade disponível.

Na minha visão, a forma mais coerente de conseguirmos ver por aqui um calendário equilibrado, onde as datas FIFA sejam respeitadas e os clubes tenham maior tempo de recuperação e de treino, é repensando ainda mais sobre os campeonatos estaduais. Apesar da importância histórica, clubes e torcedores hoje não dão o mesmo valor que davam há duas décadas atrás. Ao mesmo tempo, seria uma pena se esses campeonatos simplesmente acabassem.

Hoje, qualquer grande mudança no calendário dos torneios existentes esbarra em interesses enraizados em nossa cultura. Porém, para pensarmos na sobrevivência do nosso futebol no dia de amanhã, é essencial que a prioridade esteja na qualidade do espetáculo, não mais na quantidade de jogos.

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A diferença é a cultura

Vários pontos chamaram atenção na entrevista coletiva que o técnico Rogério Ceni concedeu no último domingo (25), no estádio do Morumbi, pouco depois de o São Paulo ter empatado por 1 a 1 com o Fluminense. O resultado fez com que a equipe paulista chegasse a cinco partidas consecutivas sem um resultado positivo no Campeonato Brasileiro e fez da zona de rebaixamento uma possibilidade real para as próximas rodadas, o que deflagrou uma onda de reclamação de torcedores. Houve vaias nas arquibancadas e protesto em frente ao portão que dá acesso aos vestiários.

Diante de ambiente tão conturbado, Ceni disse que “não vai se entregar”, mas já admitiu que suas ambições estão mais direcionadas à próxima temporada. Lembrou que o São Paulo ainda está se movimentando para definir o elenco – na última semana, por exemplo, houve negociações como a transferência do zagueiro Maicon, que rumou para o Galatasaray, e as contratações do defensor Arboleda, do meia Jonathan Gómez, do volante Matheus Jesus e do meio-campista Petros. Outros nomes, como o zagueiro Aderlan, ainda podem ser anunciados nas próximas horas.

O que mais chamou atenção, no entanto, foi outro ponto: sem querer, Ceni ofereceu uma das explicações mais contundentes sobre o bom momento do Corinthians, que somou 26 pontos em 30 possíveis e lidera o Campeonato Brasileiro – no domingo, o time comandado por Fabio Carille bateu o Grêmio, segundo colocado, em Porto Alegre.

Questionado sobre o que tem faltado ao São Paulo, Ceni recorreu ao equilíbrio do futebol nacional. Disse que há uma equidade de forças e que sua equipe tem feito bons jogos, mas acumulado placares adversos. Citou partidas contra Cruzeiro, Ponte Preta e Corinthians, reveses, para dizer que seu time esteve muitas vezes perto de resultados diferentes.

O São Paulo é, segundo o serviço de estatísticas Footstats, o time com mais posse de bola no Campeonato Brasileiro. Também é o quinto na lista dos que mais precisam de finalizações para balançar as redes – são 9,3 chutes a cada gol, quando o Corinthians precisa de apenas 2,3 em média.

Tem sentido a ideia de Ceni, portanto. O São Paulo tem argumentos para dizer que propõe o jogo e que controla as partidas em alguns setores do campo. Falta eficiência, o que pode ser corrigido apenas com um pouco mais de tranquilidade. É o famoso “quando a bola começar a entrar…”.

No entanto, a teoria do comandante são-paulino também expõe um dos motivos para a atual fase do São Paulo. Existe uma notória questão de tranquilidade, e as finalizações são apenas reflexo disso, mas o time tricolor em 2017 é um exemplo do que proporciona a ausência de uma cultura futebolística.

É aí que o Corinthians serve como contraexemplo. O time de Fabio Carille emula hoje todas as características que forjaram vitórias em temporadas passadas, nos períodos em que Mano Menezes e Tite trabalharam no Parque São Jorge. Exceção feita ao segundo semestre de 2013, todos os momentos ruins do time alvinegro desde 2008 aconteceram quando a diretoria ignorou esse perfil e contratou treinadores dispostos a impingir rupturas culturais – Adilson Batista, Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira.

O Corinthians de Carille é sóbrio, prioriza a defesa, tem um nível extraordinário de atenção e coordenação na última linha e consegue aliar a esse perfil uma gigantesca eficiência no ataque. Sofre pouco, vê poucas bolas rondando o gol defendido por Cássio e sabe aproveitar os espaços oferecidos por rivais que tentam furar esse bloqueio.

É o sucesso do Corinthians um dos principais motivos para o futebol brasileiro estar acompanhando atualmente uma explosão de times que abdicam da posse de bola. Construir jogo demanda e tem uma série de riscos, e os paulistas mostraram que é possível vencer com menos emoção.

São apenas dez rodadas de Campeonato Brasileiro, é claro, e em pouco mais de um quarto de competição é impossível dizer que o Corinthians segurará a toada até o fim da temporada. Contudo, já é possível dizer que a equipe alvinegra reencontrou com Carille a cultura futebolística que moldou seus momentos mais prolíficos na década, e entender que sua essência é um dos pilares para qualquer trabalho de construção.

No futebol brasileiro de hoje, talvez só Santos e Fluminense tenham questões culturais tão arraigadas. São times alicerçados em revelações e em jogos de velocidade proporcionado pelo ímpeto dos moleques – sim, causa e efeito muitas vezes se confundem nesse processo.

Rogério Ceni tem poucos meses como treinador e ainda carece de maturidade na nova profissão que escolheu. Pode até ter identificado bem o equilíbrio vigente no Campeonato Brasileiro em 2017, mas falhou ao tentar diagnosticar por que o Corinthians tem se mantido acima do bolo. Existe uma cultura que funciona ali – e que também funciona em Santos (quinto colocado) e Fluminense (oitavo colocado), times que superaram momentos claudicantes quando definiram um perfil em que apostar.

O São Paulo pode dar impressão de estar perto de amealhar resultados melhores do que o retrospecto recente, mas existem outras questões sobre o trabalho de Rogério Ceni. O comandante neófito ainda não conseguiu dar uma cara ao time – e ele não é o único responsável pela ausência de cultura, é bom que se diga. Enquanto a equipe não tiver uma cara pronta ou uma essência, sempre vai estar um pouco mais distante do sucesso.

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Detecção de Talentos – Parte II

Olá, leitor!

No texto anterior introduzi o tema que dá título à coluna, detecção de talentos, trazendo uma visão geral de como este processo normalmente ocorre em nosso país. Como mencionado anteriormente, são diversas as oportunidades de avaliação – observadores técnicos pelo Brasil a fora, competições, avaliações internas e externas, etc. – porém, é baixa a demanda de vagas – são muitos candidatos para poucas vagas, visto que nem todos os clubes possuem categorias de base e nem todos possuem as categorias menores (sub-11 e sub-13) – sendo assim, este processo de detecção pede muito rigor e reflexão.

Dado este cenário, num primeiro momento, pode até parecer simples o trabalho daqueles que avaliam os candidatos, dentre os muitos meninos que desejam ingressar nos clubes, basta colocar pra jogar e selecionar os melhores. Mas, o que quer dizer esse “melhores”?

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Vejamos um exemplo de uma das atividades que tenho utilizado nos últimos anos, nas avaliações que ministrei para jogadores das categorias sub-10 a sub-15:

Uma atividade de confrontos aleatórios em igualdade, inferioridade e superioridade numérica, o treinador dá um sinal e indica a quantidade de jogadores por rodada, estes partem para a disputa da bola, quem vencer a disputa ganha o direito de tentar fazer o gol, quem perde a disputa tenta proteger o alvo, a rodada termina quando ocorrer o gol ou o desarme por parte do defensor, ou após um limite de tempo pré-estabelecido. Dinâmica simples, onde se pode avaliar técnica de drible, passe, domínio, finalização e desarmes, todas competências que um jogador deve executar bem, e que com certeza são levadas em consideração nesta atividade. Porém, será que são somente estas as competências possíveis a se avaliar?

No desenrolar desta atividade, além das competências mencionadas, busco observar também alguns pontos que julgo extremamente importantes, dentre eles, a coragem. E como avalio isso? Basicamente observo quais jogadores, após a primeira dividida pela bola, continuam acelerando ao máximo para a disputa da mesma em todas as oportunidades, e quais jogadores desaceleram ou já adotam uma postura defensiva no intuito de evitar o choque da dividida. Que jogadores continuam tendo uma postura ofensiva, em vencer a disputa para fazer o gol. Será esse um critério e um olhar interessante para a análise? Podemos ainda notar um jogador que busca criar linhas de passe e desmarcar-se quando está sem bola, ou um que consegue ser muito produtivo dando somente um toque na bola, etc. Não seriam estes aspectos a se levar em consideração? Imagine que você trabalha em um clube que é historicamente reconhecido pela raça, por ter equipes vitoriosas que foram muito aguerridas, não seria então a coragem uma determinante característica a ser levada em conta para a toma de decisão?

O que estamos observando no jogar de nossos jogadores? Somente os momentos em que estes detêm a bola são determinantes nas avaliações? Outro ponto que julgo extremamente importante e determinante quando avalio jogadores, é a progressão de entendimento que estes apresentam. Numa avaliação, seja ela de um dia ou de uma semana, busco criar atividade de treino que sejam gradativas em complexidade, e assim, ter alguns subsídios para analisar a capacidade de adaptação dos jogadores, o potencial de entendimento e evolução que apresentam. O que é mais vantajoso, captar jogadores que possam resolver hoje os problemas da categoria (ex: jogadores muito maturados que resolvem os problemas só com a força) ou jogadores que demonstrem alta capacidade de adaptação e compreensão às necessidades do jogo? Quem conseguirá evoluir mais e passar por todo o processo da base? Nesse sentido, trago um exemplo de algumas das experiências práticas que vivi.

globoesporte.com
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Lucas Lima e Fabinho |Reprodução
Lucas Lima e Fabinho |Reprodução

 

Tive a oportunidade de vivenciar a formação destes dois jogadores, Fabinho – com quem pude trabalhar – e Lucas Lima – a quem pude enfrentar – ambos campeões nos clubes onde jogam, de reconhecido valor no âmbito nacional e internacional, Fabinho ainda tendo sido eleito um dos melhores jogadores da última edição da UEFA Champions League. O que tem em comum? Na infância e adolescência, não passaram pela base de nenhum dos grandes clubes do futebol brasileiro. Lucas Lima passou por diversos clubes do interior de São Paulo, e Fabinho fez toda a sua formação de base no modesto Paulínia Futebol Clube (coordenado metodologicamente pelo Prof. Dr. Alcides Scaglia) antes de ir para o juniores do Fluminense. Mesmo assim alcançaram o sucesso no futebol, chegando até a Seleção Brasileira. Como estes reconhecidos jogadores não foram selecionados por nenhum dos grandes clubes do Brasil?

Captar jogadores é muito mais do que simplesmente “olhar a parte técnica”, analisar se ele tem “um bom biotipo”, ou se tem “faro de gol”, o jogador é um personagem complexo, que depende de várias competências para obter sucesso, olhá-lo de forma simplista, minimalista, não dando a devida atenção a aspectos importantes, como sua parte cognitiva e emocional, podem acarretar em erros de tomada de decisão que irão onerar o clube e gerar frustrações desnecessárias. É claro que os erros irão acontecer, todo ser humano é passível de erro, o que proponho é que se observem os jogadores em sua totalidade, no que podem vir a se tornar (quando bem estimulados), e não somente no momento em questão, que se criem parâmetros para avaliar isso, não tenho dúvidas que poderemos assim, qualificar ainda mais o nível dos jogadores que atuam em nosso futebol e minimizar os erros nesse complexo processo de detecção de talentos.

Até a próxima!

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TJMG condena município por discriminação a treinador cadeirante

Dentre as várias nuances e objetivos do Direito Desportivo está a inclusão social. Neste sentido, o Município de Pirapetinga, interior de Minas Gerais, foi condenado a indenizar o treinador cadeirante em R$ 5 mil por danos morais porque ele foi barrado quando tentava entrar em um campo de futebol onde era disputado um campeonato amador, organizado pela prefeitura. A decisão em segunda instância é da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que modificou a sentença de primeira instância que isentou o Município de responsabilidade.

O cadeirante, que treinava uma das equipes, propôs a ação contra o Município pedindo indenização por danos morais, uma vez que que teve sua honra violada por um agente municipal.

Conforme consta nos autos do processo, o autor da ação assistia a uma partida de futebol no Ginásio Poliesportivo de Pirapetinga, quando foi convidado pelo técnico de um dos times para auxiliá-lo, entretanto teve seu acesso ao campo de jogo impedido pelo agente municipal que teria, ainda, proferido palavras discriminatórias.

A desembargadora Sandra Fonseca, relatora do recurso, vislumbrou a existência de ofensa à honra do cadeirante e ainda ressaltou que o regulamento da competição permitia que cada técnico escolhesse um auxiliar, ou seja, o autor da demanda foi impedido de assumir função legalmente permitida.

Considerando que o desporto constitui uma manifestação cultural com enormes potencialidades na aproximação das pessoas, das culturas e das nações, através da dinamização de sociabilidades, decisões como essa orientam a ação desportiva para a inclusão e o combate a qualquer tipo de discriminação.

Ressalta-se que, por inclusão social no desporto, considera-se a existência real de igualdade de oportunidades no seu acesso, através de boas práticas para a promoção da prática desportiva generalizada, e a presença de pessoas tendencialmente excluídas na sociedade no exercício das atividades dirigentes e técnicas, sem que haja qualquer discriminação por motivos raciais, étnicos, religiosos, deficiência, gênero, orientação sexual, classe social ou outros.

Parabéns à Justiça Mineira e que este exemplo se alastre pelo país.

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Intervir menos

No Futebol temos alguns paradigmas que não são facilmente quebrados. Estão enraizados na cultura nacional e mundial. As dimensões envoltas desses paradigmas envolvem um imaginário conclusivo especialmente no papel da intervenção do treinador.

Esse aspecto que tem chamado minha atenção ao longo desses anos. Entendo intervenção como: “todos os dizeres verbais que inserimos nas interações individuais, grupais, setoriais, intersetoriais e coletivas dos jogadores nos treinamentos e nos jogos”.

Como treinador, confesso que não é fácil deixar de intervir nos jogos e especialmente nos treinamentos. Nos jogos tenho procurado diminuir muito acreditando que a potencialidade diária dos exercícios capacitam os jogadores a encararem o jogo. É um desafio diário.

E o grande quesito dessa questão está em três aspectos que considero basilares nesse emaranhado do conceito intervenção: o conteúdo e a quantidade da intervenção, o nível de dificuldade relativo ao processo ou idade e a localidade da intervenção.  

O conteúdo e a quantidade da intervenção: classifico como os jogadores percebem o jogo e o quanto reativo eles são a esses estímulos verbais. O excesso e o formato da intervenção podem mecanizar e gerar uma muleta mental aos jogadores desligando-os do contexto real. Esses dois aspectos são muito visíveis nos jogos da base quando os treinadores falam demasiadamente e com um conteúdo muito técnico, como: passa, toca, chuta, tira, marca e muitas outras coisas. Por mais que pareça irrelevante, os conteúdos dessas intervenções, que são simples, podem tirar a sensibilidade do jogador em perceber o jogo precocemente e viciar por toda a vida.   

O nível de dificuldade relativo ao processo ou a idade: esse tópico vem de encontro com o de cima, pois algumas equipes mais velhas, no processo final da formação ou no profissional, já não precisam dessas intervenções cantadas simples o tempo todo, pois teoricamente já dominam muitas facetas do jogo, precisando apenas de questões mais funcionais e estratégicas. Em contra partida, o excesso de intervenções difíceis e abstratas para jovens jogadores, ou seja, dizeres complicados e excessivos para crianças, muitas vezes retira também a natureza aberta e complexa do jogo. Cuidar esses aspectos é um dos segredos para formar jogadores e equipes com maior grau de liberdade. 

A localidade da intervenção: seria a região dentro do campo que o treinador vai intervir. As regiões são específicas ao treinador e sua forma de confeccionar. Podem ser: o centro do jogo, o meio do jogo, o lado contrário, a zona de equilíbrio, as costas de última linha do adversário, entre outras. Mas o que se enxerga é o excesso de intervenções no centro do jogo habituando o jogador perder a referência das outras zonas e ficar passivo a intervenção. Então é primordial deixar de intervir toda hora no centro do jogo e incidir mais nas outras regiões que automaticamente serão o centro do jogo futuramente com a fluidez do jogo. 

Além disso, algumas vezes, a intervenção vai contra os conteúdos treinados, o que está realmente passando no jogo ou é demasiadamente alterada por opções estratégicas. Claro, a intervenção deve acontecer nos jogos vendo o instante jogo, mas não pode ir contra as relações criadas pelos jogadores.

Então, num ponto de vista funcional, seria melhor substituir a palavra intervenção por expressão, pois os jogadores precisam se expressar dentro de campo e o treinador deve proporcionar apenas isso. E, para isso acontecer é importantíssimo que exista uma comunicação específica singular e coerente durante todo o processo, não transformando os jogadores em fantoches.

Aos poucos, como treinadores, vamos melhorando, mas como disse anteriormente, e por experiência própria, não é nada fácil deixar de intervir, intervir menos e apenas permitir que os jogadores expressem o que sabem e o que treinaram. Creio que seja o próximo passo da evolução do treinador, o que acham? Utopia ou necessidade?

Abraços e até a próxima quarta!

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A Copa das Confederações e os torneios entre seleções

A Copa das Confederações teve início no último sábado na Rússia e, da mesma forma como ocorreu há quatro anos aqui no Brasil, serve de teste para a organização da Copa do Mundo que será disputada no país em 2018.

O torneio, criado há 25 anos, corre o risco de cair no ostracismo pela falta de interesse das seleções participantes, em especial as europeias. A Alemanha, atual campeã mundial, jogará com a sua equipe reserva, optando por dar férias aos seus principais astros que terão um calendário pesado na próxima temporada pelos seus clubes e com a disputa da Copa do Mundo.

A FIFA estuda mudanças em seus torneios e, a Copa das Confederações, por não ter alcançado o status que se esperava, pode ser a primeira a ser extinta do calendário ou completamente reformulada. O desinteresse não ocorre somente por parte das seleções europeias, mas também do público em geral. Em termos comparativos, os europeus olham para a Copa das Confederações da mesma forma que olham para o Mundial de Clubes da FIFA. Em contrapartida, dão muito valor para a EUROCOPA, da mesma forma que valorizam a Champions League.

A UEFA, sem sombra de dúvida e já citado em outras colunas, tem sido uma grande referência em termos de organização de eventos e de marketing. Além das consagradas EUROCOPA e Champions League, a federação europeia anunciou a criação de um novo campeonato entre seleções intitulado de UEFA Nations League.

O evento promete trazer disputas interessantes entre as seleções afiliadas e divididas em 4 ligas, com disputas durante as datas FIFA estipuladas para amistosos. Além de garantir um maior nível de jogos entre as suas seleções, também deverá despertar maior interesse por parte do público, garantindo maiores audiências e novas ações de marketing junto aos seus patrocinadores.

Seria muito interessante se a CONMEBOL, de preferência em conjunto com a CONCACAF, desenvolvesse algo similar que potencializasse a disputa dentro de nosso continente. Temos hoje seleções que podem disputar de forma equilibrada com Brasil e Argentina, prova disso é que nenhuma das duas conseguiu classificação para a edição atual da Copa das Confederações.

Em um futebol cada vez mais globalizado, com os maiores clubes do mundo sendo representados por verdadeiras torres de babel em seus elencos, a preocupação em realizar torneios interessantes entre países torna-se essencial para que os torcedores tenham essa identificação com as suas seleções nacionais.

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Lucianinho, Gisele e a comunicação no mundo moderno

Você já ouviu falar de Lucianinho? Ele tem apenas 12 anos, mas já assinou contrato com uma agência de marketing esportivo e coleciona números que dizem muito sobre comunicação no mundo atual. Atleta de uma escolinha do Flamengo em Palmas (TO), o garoto protagoniza um vídeo que viralizou em redes sociais, com mais de 3,5 milhões de visualizações em 48 horas, e atingiu alcance global após ter sido citado por Neymar. Não precisou sequer de um time para se tornar o novo fenômeno da semana.

De Gisele Bündchen você certamente ouviu falar. A maior modelo do Brasil usou a rede social Twitter para questionar o presidente Michel Temer e a ONG WWF sobre as Medidas Provisórias 756 e 758, que o mandatário poderia vetar até esta segunda-feira (19). Em resposta, o político anunciou que havia rechaçado integralmente os textos.

Temer não recorreu a um grande veículo para dizer que vetaria as MPs. Aliás, não usou sequer um veículo. Preferiu o alcance de Gisele, uma das brasileiras mais influentes (também) no ambiente virtual. Uma resposta ao post dela teve um alcance potencial maior do que um comercial em TV ou uma coletiva de imprensa.

O presidente da República prefere dialogar com uma modelo do que responder a demandas de jornalistas e uma citação de um jogador do Barcelona transforma um garoto de 12 anos em astro global. São mudanças radicais de diapasão em relação ao modelo de comunicação estabelecido décadas (ou anos) antes, e é impossível ignorar isso.

O caso Lucianinho, por exemplo: o tio do garoto, que é publicitário, decidiu veicular em redes sociais um vídeo com os melhores lances do candidato a jogador, autor de 32 gols em sete jogos da Go Cup, competição para jovens realizada em Goiânia. Também pensou em mandar a peça a um dos “parças” de Neymar e pedir que o conteúdo fosse mostrado ao astro.

Neymar respondeu com uma mensagem de incentivo a Lucianinho. Foi o suficiente para o vídeo viralizar: segundo o tio do garoto, o conteúdo já foi assistido por mais de 20 milhões de pessoas em 40 países. As maiores audiências da Globo, emissora líder na TV brasileira, são inferiores a 12 milhões de espectadores.

Anos antes, o tio de Lucianinho teria de procurar uma equipe de comunicação e torcer para alguém julgar interessante o conteúdo. Só assim o vídeo do garoto seria veiculado em algum canal com alcance maior do que o boca a boca da própria família.

Os dois exemplos citados aqui mostram como Neymar e Gisele deixaram de ser figuras que dialogam com a mídia; os dois hoje são a própria mídia. Ambos conversam com públicos gigantescos e têm uma capacidade imensurável de formar opinião.

A publicidade percebeu isso há anos e mudou a estrutura de comerciais. Gradativamente, peças tradicionais perderam espaço para material feito por influenciadores. E isso, é claro, também gerou controvérsias sobre os limites do que é publicado em cada canal individual.

Se Neymar elogiasse Lucianinho, por exemplo, o jogador poderia ser o novo reforço do Real Madrid ou poderia ter sido ainda mais insuflado. Mas Neymar é uma celebridade que usa canais pessoais para fazer publicidade – vende espaço a seus anunciantes pessoais, por exemplo.

Outro problema é que essa transformação de influência em valor gera um consequente esforço para ludibriar o sistema. Se Neymar ou Gisele vendem seus espaços pessoais porque chegam a muita gente, é natural que isso desperte o interesse de gente com intenções ulteriores e que fomente burlas como perfis falsos ou “fazendas de redes sociais”.

O mercado de influenciadores é cada vez mais relevante na comunicação brasileira. Entretanto, não tem sido acompanhado de debates sobre limites, tampouco de esforços para que a regulamentação não dependa apenas do próprio mercado.

E se tem algo que as últimas delações da JBS têm ensinado é que deixar a regulamentação nas mãos do mercado é (quase) sempre a pior das opções.

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O que realmente fará a diferença no futebol?

Olá a todos! Neste artigo iremos refletir sobre o que realmente pode fazer diferença no futebol ao conseguir aumentar o máximo possível a probabilidade de vitórias e, consequentemente, diminuir as derrotas. Segundo estudos (ANDERSON & SALLY 2013), o futebol é o esporte com menos probabilidade de que os favoritos consigam vencer (52%) em relação aos demais esportes coletivos – basquete 66%, beisebol 60%, futebol americano 65%, handebol 71%.

Nos dias de hoje, devido a tecnologia e o vasto conhecimento em diversas áreas dos aspectos humanos, tivemos uma evolução de forma exponencial, nos últimos 20 anos, na performance dos atletas chegando quase ao seu limite no que diz respeito as suas capacidades específicas para a modalidade (físicas, técnicas e táticas). A seguir vamos analisar alguns aspectos:

Para as capacidades físicas, hoje através de sistemas GPS e treking das partidas podemos entender exatamente como se movem os jogadores com distâncias, acelerações, desacelerações, diferentes velocidades de corrida, mudança de direção, dentre outros dados durante os treinamentos. Isso permitiu o estudo detalhado e programações específicas de treinamentos para cada atleta em suas equipes nas diferentes posições no campo.

Nos aspectos tático-técnicos (tática vem primeiro do técnico pois a capacidade de escolha é a tática individual vindo antes do gesto técnico a ser realizado) através de scout numéricos, observação livre e análises vídeo, é possível entender os comportamentos de uma equipe em diferentes fases do jogo para detectar pontos fortes e vulneráveis do time, setor ou jogadores adversários. Este conhecimento permite treinamentos estratégicos (individuais e coletivos) para que sua equipe reconheça o mais breve possível os movimentos do adversário e tenha um determinado comportamento pré-estabelecido para combater e/ou aproveitar a situação enfrentada.

Devido a tantos estudos, conhecimento e especificidade dos aspectos humanos ligados ao futebol, em qual área poderíamos e devemos nos aprofundar cada vez mais? De acordo com as novas tendências do futuro do esporte, esta área seria a do aspecto mental-emotivo dos jogadores. Como diz Pep Guardiola, em sua entrevista a Aspire Academy: “ O jogador hoje é capaz de chegar cem vezes ao fundo do campo para cruzar uma bola, mas a questão é: quando ele vai chegar? Um segundo antes? Um segundo depois? Ele tem que saber chegar no timing certo nem antes e nem depois, e isso define a inteligência no futebol”.

O fator mental, apesar de ser considerado muito importante, sempre foi menos trabalhado dentre os outros aspectos e capacidades devido a sua difícil compreensão e aplicação durante os treinamentos. A visão de um psicólogo em um staff técnico, já é muito conhecido geralmente cobrindo um papel de interlocutor e motivador mas pouco voltado para a atuação do atleta durante uma partida. O desempenho de um jogador durante uma partida pode-se resumir de acordo com a equação (GALLWAY 2013): “Desempenho Real = Desempenho Potencial – Interferências internas e externas”. Ou seja, o real trabalho de um psicólogo esportivo é compreender e exercitar aspectos mentais de cada atleta, como exemplo: a concentração, velocidade de pensamento e capacidade de escolha junto ao aspecto (talvez o mais importante), a gestão das emoções de acordo com os diferentes momentos do jogo, como: resultado vigente, importância do jogo, tempo de jogo, força do adversário, torcida, objetivos e problemas pessoais, entre outros.

De uma forma ainda não muito difundida, os chamados psicólogos esportivos começam a ter mais espaços nas equipes tendo como fundamental objetivo o entendimento dos comportamentos mental-emotivos da equipe e jogadores propondo exercícios para que, através de uma melhor gestão emocional durante toda a partida, isto possa ajudar a melhorar ou a manter o maior tempo possível a sua velocidade de pensamento e capacidade de escolha que vão influenciar diretamente no resultado de uma partida.

Em tempo de equivalência física, tático e técnica, o “famoso” jogador inteligente é aquele capaz de resolver problemas criando imprevisibilidade através de seu pensamento criativo. Este jogador pode ser goleiro com ótima capacidade de leitura da trajetória da bola, um zagueiro com perfeita antecipação ao lance ou com coragem de comandar o jogo com uma condução dentro das linhas adversárias; um meio campo que através de um passe é capaz de quebrar linhas em uma perfeita leitura tática; um atacante que se move no momento certo para receber um passe ou simplesmente criando superioridade numérica através de 1 vs 1 criando a instabilidade defensiva procurada em cada ação de ataque.

O futebol é somente e exclusivamente dos jogadores então, o investimento em um trabalho direcionando o reconhecimento e a gestão das emoções durante a partida, será a real diferença no futebol.

Segundo vocês, como podemos trabalhar o aspecto mental-emotivo com especificidade na performance do jogador durante as partidas?

Um abraço!

 
Referência Bibliográfica:
ANDERSON C.; SALLY D.; Os números do jogo: Por que tudo o que você sabe sobre futebol esta errado. São Paulo: Schwarcz, 2013
GALLWAY T.; The Inner Game: A essência do jogo anterior. São Paulo: NEWBOOK, 2013

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O exercício de treino

Perceber o futebol como um feito simples, cultural, uma maneira de sentir, viver ou puramente um jogo, está cada vez mais complicado nesses dias atuais. Compreender que os exercícios de treino devem ser cenários para algumas interações e para que as coisas surjam de forma natural, espontânea e construída também.

Infelizmente, o futebol está cheio de modismo, ideias preconcebidas com alguns preceitos instalados, principalmente na construção de exercícios que tomam conta da mente coletiva dos treinadores pela proliferação dos meios de comunicação. Quatro perguntas vêm à tona: todos devem treinar como todo mundo treina? Os exercícios de um treinador profissional em um clube são específicos a outro? Os exercícios vistos no profissional podem ser copiados na base? Os exercícios com múltiplas regras e adornos tiram o essencial do jogo?

Analisando essa tese e respondendo as perguntas acima por experiência própria, os exercícios copiados ou com múltiplos adereços, inicialmente parecem carregar informação e modernidade, mas com o passar do tempo, demonstram trajetórias traçadas com pontos cíclicos ou atalhos processuais que inibem aspectos cruciais para a teia relacional da dinâmica de jogo.

Fazendo isso, de certa forma, nos comparamos muitas vezes, sem saber, a outros contextos, e negligenciamos o básico que é o processo e o instante dele. O grande desafio é perceber que cada processo é único, e carrega consigo o desconhecido, as dúvidas e confianças que cada jogo proporciona.

Claro, prescrever regras e condições estruturais-funcionais gera possibilidades interessantes, mas influem no tempo e espaço do jogo e do jogar que podem por vezes, se excessivas, retirar o caráter real da competição que nada mais é que a máxima adaptabilidade às interações dos jogadores e do jogo.

E há que reconhecer essas características, ou seja, reconhecer realmente o que é jogo. Ir mais além de qualquer conceito ou cópia, esse é o verdadeiro conteúdo do exercício. E os exercícios nessa ideia, nada mais são que cenários de interação para agir e antecipar com mais facilidade o que virá adiante. Desta forma, engloba libertar a rigidez vista, não vista, sentida, não sentida, e permitir que mutações e variações aconteçam a todo instante.

Se conservarmos exercícios abertos e livres, imaginando que todo dia uma tela em branco deva ser pintada pelos jogadores, conseguiremos obter uma perspectiva complexa e compreender a natureza desse fenômeno futebol. É preciso tentar manter essa pureza e causar naturalmente circunstâncias que estão acima do alcance apenas do que o treinador pretende.

O treinador Português Vítor Pereira, no congresso sobre Periodização Tática na última semana, abordou essa temática de forma relevante, vejamos abaixo:

Os meus exercícios hoje são muito mais simples do que aqueles que quando comecei a treinar. Estive cinco anos na formação do FC Porto e tive oportunidade de fazer, errar, refletir. Quando cheguei ao futebol sênior sentia-me preparadíssimo, mas não por ler livros de exercícios. Aquele livro dos mil e um exercícios que nos oferecem no terceiro ou no quarto nível de treinador… nunca lhe tirei o plástico.

Os exercícios têm de ser meus, da minha cabeça. Tenho que andar sempre com um bloco ou com um guardanapo, ou o que for, para assentar tudo quando estou sentado a pensar, a beber a minha cervejinha, se for possível.

Para mim, jogar o jogo é controlá-lo do princípio ao fim, em todos os momentos. Mas reconheço que, por exemplo, no Santa Clara, tinha uma equipa muito organizada, mas faltava criatividade e liberdade. Por exemplo, o Hulk, sempre que jogávamos em um ou dois toques, ele tinha grandes dificuldades, mas sem isso ele se destacava. Ou seja, o exercício não pode ser castrador, tem de se expressar por si próprio. Se vocês têm necessidade de interrompê-lo muitas vezes, é melhor refletirem sobre o exercício.

Antigamente, antes do exercício, eu explicava tudo: o exercício é este, o objetivo é este e os comportamentos que eu quero ver são estes. Já não o faço, sabem porquê? Porque eles conseguem sempre fazer mais do que aquilo que a nossa cabeça consegue imaginar.  

Um verdadeiro exercício dificilmente se estabelece por objetivos blindados ou excessivos, pois sempre surgem novas conexões ou aspectos mais pormenorizados mesmo que não queiramos. E a melhor forma de produzir conhecimento de treino está por meio de tendências práticas de cada contexto, desenhadas, praticadas e vivenciadas emotivamente pelos jogadores diariamente. O verdadeiro exercício de treino está nos jogadores.

Abraços e até a próxima quarta!

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Seleção Brasileira Global ou Nacional?

O título da coluna de hoje não visa analisar se a nossa seleção e, consequentemente, o futebol brasileiro permanece com destaque e respeito mundo afora. O objetivo central é mostrar os prós e contras de um panorama novo trazido com os dois jogos amistosos disputados pela seleção em excursão pela Oceania, contra a sua arquirrival Argentina e contra a equipe da casa Austrália.

Nos acostumamos a acompanhar a transmissão de jogos da seleção durante a últimas décadas pela TV Globo, seja em jogos oficiais, como também em qualquer amistoso. A Globo permanece com os direitos de transmissão dos grandes eventos que a seleção participa, como Eliminatórias da Copa do Mundo, a própria Copa do Mundo e Copa América. Porém, não havia adquirido os direitos desses amistosos na Oceania e, para surpresa do mercado em geral, não houve acordo entre a emissora e a CBF.

A confederação, por sua vez, ao não ficar satisfeita com a proposta apresentada pela Globo, resolveu abrir o seu leque e, de forma planejada ou por força do acaso, criou a primeira experiência da seleção brasileira utilizando um novo modelo de transmissão. A CBF comprou espaço na TV Brasil, além de ter acertado com a TV Cultura, UOL e Vivo. A transmissão ficou sob responsabilidade da própria confederação, através da CBF TV, incluindo a geração de imagens, narração e até mesmo comentários com a presença ilustre de Pelé.

Ainda é muito cedo para avaliar se a iniciativa foi positiva ou negativa. O fato dos jogos terem ocorrido no início da manhã em dias de semana e a seleção ter tido desfalques importantes, incluindo a grande estrela Neymar, impossibilitam o entendimento mais claro do tamanho da repercussão gerada.

Um fato é claro. A ausência da Globo, não somente durante a partida, mas também durante o noticiário pré e pós jogo, fez com que muitos torcedores nem soubessem que os jogos aconteceriam. A audiência, o alcance e também o costume da emissora trouxeram, de certa forma, um distanciamento entre a seleção e o seu usual torcedor. Se fosse um Brasil e Argentina jogado em alguma cidade brasileira, com a presença de todos os grandes craques, em um dia e horário comum ao existente, o barulho poderia ser diferente.

São muitas correntes opostas analisando esse fato. Uns que clamam pelo fim do predomínio da Globo em nosso futebol e outros que enxergam que é justamente a presença da emissora que enriquece o espetáculo, pela qualidade técnica de sua transmissão e pelo alcance inigualável da massa em todos os cantos do país.

Como qualquer fato novo, a discussão é válida. Apesar dos inúmeros erros e negócios obscuros realizados pela CBF durante as últimas décadas, culminando em seu completo descrédito, é justo dizer que a iniciativa embrionária foi corajosa e audaciosa. Mesmo se tudo retornar ao binômio Seleção Brasileira + Globo, a semente foi plantada para que todos saiam de sua zona de conforto e enxerguem que há um mundo novo e desconhecido a ser explorado.