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Movimento ou exercício?

Ultimamente na minha rotina seja nos clubes onde trabalho, quando ministro cursos, ou nas redes sociais diversos profissionais me perguntam quais são os melhores exercícios específicos para se aprimorar e aumentar força nos jogadores de futebol.

O que aparentemente é uma resposta simples, na verdade se torna um ponto chave crucial, relevante, um divisor de águas conceitual que irei abordar nesse artigo.

O que iremos discutir é qual deve ser o foco do nosso treino: os exercícios que escolhemos padronizados, ou o movimento específico do jogador de futebol na sua rotina de treino e jogo.

Antes disso vamos imaginar o corpo do atleta se movimentando, imaginando que todas as cadeias musculares agem de forma harmônica, organizadas e sincronizadas.

Gosto muito do exemplo de um indivíduo quando está dentro de um carro e precisa sair de dentro dele. Quantas articulações, grupamentos musculares agem ao mesmo tempo em diversos planos de movimento, apenas para o indivíduo conseguir sair do automóvel?

No esporte e, em especial no futebol, esse fenômeno acontece da mesma forma. O movimento acontece de forma multiarticular, multiplanar e dinâmico o tempo todo.

De uma forma bem objetiva, o corpo na sua essência não conhece o músculo. Ele reconhece o movimento e usa o músculo como um provedor para o movimento.

Quanto mais harmônico, sincronizado e equilibrado for o movimento, mais facilmente o atleta receberá as informações que os treinadores quiserem aplicar, seja elas quais forem. Sejam de cunho técnico/tático, de força ou de qualquer outro estímulo que por ventura a equipe técnica julgue necessário.

MOVIMENTO DO JOGADOR DE FUTEBOL

O futebolista tem no seu movimento as seguintes características:

  •  Base de apoio unilateral
  •  Integração tornozelo-joelho-quadril
  •  Core agindo na cadeia cruzada
  •  Movimentos dinâmicos, potentes de aceleração e desaceleração
  •  Desaceleração unilateral
  •  Movimentos multiplanar
  •  Alta sobrecarga excêntrica

Em um jogo de futebol o jogador chega a mudar de direção entre 1200 e 1400 vezes (Turner e Stweart ,2014), sendo aproximadamente 10% desse valor em alta intensidade.

Uma desaceleração em alta intensidade para um futebolista pode gerar uma sobrecarga de 3 a 5 vezes o peso corporal sobre uma base unipodal.

Esses valores são muito altos se fizermos uma relação individual em jogo de futebol onde um jogador pode desacelerar 140 vezes entre 3 a 5 vezes o peso corporal onde, mais da metade das vezes, será em apenas um dos membros (no membro não dominante, pé de apoio). Isso gera uma sobrecarga excêntrica altíssima atrapalhando o rendimento, aumentando muito a chance de lesões e recuperação para o próximo treino/jogo.

EXERÍCIOS TRADICIONAIS X MOVIMENTOS

O ponto chave desse artigo está aqui.

Até que ponto os exercícios tradicionais do treinamento de força contemplam as características do futebol?  Em especial da forma como analisamos acima?

Exercícios como agachamento, stiff, afundo, avanço, terra, e por ai em diante, tão difundidos e utilizados por treinadores para ganho de força (e por muito tempo utilizei também), qual é a transferência deles para o gesto esportivo do futebol?

Todos os exercícios citados acima são realizados com os dois pés no chão, apenas em um plano de movimento (sagital), sem nenhuma desaceleração excêntrica e geralmente feitos parados sem nenhuma forma dinâmica tão pouco potente de execução.

Esses questionamentos que devemos cada dia mais fazer e analisar antes de colocar uma sobrecarga extra nos nossos jogadores.

Precisamos saber como eles se movimentam para elaborar e simular exercícios que facilitem os gestos específicos de forma mais plena, equilibrada e específica.

Força sem controle não é nada, e movimento desequilibrado é porta aberta para lesões.

A vida não é feita de respostas e sim de perguntas e, são essas perguntas que quero deixar para vocês, na próxima falamos sobre outro tema.

Até….

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América e Palmeiras em Londrina: entenda

Conforme amplamente divulgado, o América mandará sua partida contra o Palmeiras na cidade de Londrina/PR e não em seu estádio, o Independência.

A partida teria sido adquirida por um empresário que pagou R$ 700.000,00 para a realização do evento esportivo na cidade paranaense.

Londrina esta há menos de 150 km do estado de São Paulo e possui imensa torcida por clubes paulistas, o que tem gerado certa polêmica. Eis que pode haver desequilíbrio técnico e, Flamengo e Atlético (rival local do América), possuem grande interesse na partida que é chave para a disputa do título.

O Regulamento Geral das Competições da CBF proíbe a inversão do mando de campo, ou seja, a partida não poderia ocorrer em São Paulo, mas permite a transferência de partidas para outros estados desde que o clube mandante obtenha, por escrito, a aprovação e concordância de todos os envolvidos, (federação ao qual está filiado, a federação anfitriã e o clube visitante), cabendo à CBF/Diretoria de Competições o poder de veto, levando em conta os aspectos técnicos e logísticos.

Ou seja, somente a Diretoria Geral das Competições da CBF pode analisar eventual desequilíbrio técnico e, se for o caso, vetar a transferência da partida.

O que, em uma análise preliminar, parece ocorrer no caso concreto uma vez que, conforme já exposto, Londrina está muito próxima do estado de São Paulo e possui, tradicionalmente, muitos torcedores dos grandes clubes paulistas.

Por outro lado, o América Mineiro possui uma das piores médias de público da competição o que reduz, na teoria, o “fator campo” no seu desempenho. Além disso, o valor oferecido pelo empresário é bastante significativo, especialmente, para clubes sem aspirações na competição.

Ressalte-se que o Estatuto do Torcedor não traz qualquer proibição à alteração de data, local ou horários de partidas. O que não pode ser alterado após a divulgação definitiva é o regulamento e não a tabela.

Por fim, é importante que os clubes e a Diretoria de Competições da CBF fiquem atentos, pois tal prática pode se tornar comum e ser amplamente utilizada em favor dos clubes de maior poderio econômico.

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Parecer ou representar é diferente?

Talvez entre as profissões mais intrigantes do mundo, para não dizer a mais “bonita”, o treinador de futebol proporciona (ou pode proporcionar) a felicidade/esperança/acalanto a milhares de pessoas. O que implica ser a mais “trabalhosa” (para alguns), no qual nos obriga a resolver problemas muito complexos e nos faz ser dependentes de variáveis não intervenientes, das quais não temos o menor poder de controle* (Julio Garganta fala muito em Constrangimentos da Tarefa, do Meio e do Ambiente). O treinador precisa enfrentar e resolver problemas dos mais variados, desde gestão de pessoas com suas ambições e expectativas) até a elaboração do treino/exercício que precisa resultar em determinado comportamento que vai (tende) ser determinante para correções (jogo passado) e aprimoramento para o próximo jogo (que pode ser “O” determinante). A profissão, e digo especificamente a de treinador de futebol, demanda mais sofrimento que a própria vida. Um mundo onde há as perguntas mais difíceis a serem feitas, pois (como foi dito em alguma coluna atrás) é um esporte coletivo, há interações coletivas, altamente dependente das condições iniciais, continuamente dependente das ações do adversário e intensamente influenciado por fatores que estão indiretamente ligado ao atleta, treinador e todos que se inserem ao treino e jogo.

*Conseguir manipular, pode ser, mas ter controle não acredito.

Um treinador que não tem fé não é um bom treinador.

Ter convicções técnicas e perceptivas (“feeling”), acreditar em você mesmo, no seu potencial. Concordo plenamente, contudo, não podemos esquecer que são as perguntas que movem o “mundo” (peço desculpa por não saber a fonte ao certo, mas acho que foi alguma propaganda que me ensinou isso). Como quero jogar? Quem devo utilizar? Como gerir a frustração/euforia e a sua relação? Como alcançar determinado comportamento individual/coletivo? Onde quero chegar? Qual estratégia utilizar? Como lidar com a crise? Fazer perguntas não é uma tarefa fácil. Aliás, para ter uma resposta decente, faça uma pergunta decente. É fundamental treinar fazer perguntas, principalmente a si mesmo?

Não podemos achar que a nossa (aqui falo nossa por ambição) profissão de treinador de futebol é fácil. Há alguns que ainda levam esta profissão por um caminho “fácil”,  por decorar um treino, seguir a mesma orientação (de um contexto que já passou), continuar com uma estratégia que deu certo em algum momento (geralmente um passado distante), ter aquela receita, aquela repetição (in)cansavelmente continua do comum, do mesmo! Isto tudo é pouco para esta profissão, não sendo o melhor caminho para ninguém.

Profissão que ainda, infelizmente, no cenário atual, é subestimada e mal interpretada por diversos seguimentos nos “mundos” intra/extra futebol. Esta profissão requer, na minha singela opinião, uma vasta gama de atributos para uma única pessoa. Um líder com qualidades necessárias para liderar, salve a redundância. Ou seja, estar pronto para liderar, saber ouvir, saber trocar ideias, saber ser humilde em não saber todas as respostas, mas querer saber todas respostas. Precisamos mudar radicalmente nossa percepção sobre essa profissão. É o que tento exemplificar neste vídeo que a UEFA fez sobre os treinadores de futebol (infelizmente não achei o link oficial, e por força maior tive que fazer o upload novamente, peço compreensão).

Ser líder não é para qualquer um. E a própria natureza mostra isso. Ter autoridade sem ser autoritário. Coordenar e gerenciar a personalidade de diversos atletas (somente a mais complexa “máquina”, o ser humano) com o objetivo de levá-los a(s) glória(s). Alimentar o amor e a paixão de milhares de torcedores, conduzi-los ao status de “vencedores”. Aliás, uma relação (treinador x torcida) que é equilibrada em uma linha tênue, facilmente abalada por um mínimo desconforto/ruído. Um treinador precisa ser sincero, principalmente, consigo mesmo! O essencial é visto pelo coração, como disse Saint-Exupéry. E penso que é alguma coisa nesse sentido. Além de toda as áreas técnicas necessárias e inerentes a profissão, o treinador precisa sentir que está sendo verdadeiro consigo mesmo, a fim de poder liderar/convencer os atletas. Penso, que às vezes, somente usando o mais profundo sentimento nas suas ideias e nas tomadas de decisões que verdadeiramente teremos a colaboração de todos os envolvidos. Se torna necessário criar/usar uma causa, para além (muito além) da financeira, um motivo mais emocional, que mexa intensamente com o ego do(s) atleta(s), sempre no intuito do atleta e da equipe oferecer o máximo disponível para alcançar o objetivo.

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Acorda, CBF?

Foi extremamente forte o discurso de Peter Siemsen, presidente do Fluminense, na noite da última quarta-feira (21). O time carioca tinha acabado de perder por 1 a 0 para o Corinthians em Itaquera, e com isso havia sido eliminado da Copa do Brasil. Em vez de falar sobre o jogo ou sobre as consequências da queda no certame nacional, contudo, o mandatário tricolor abordou apenas um aspecto do duelo: a arbitragem. Em determinado ponto do solilóquio, chegou a fazer uma cobrança pública direcionada a dirigentes. “Acorda, CBF”, disse Siemsen em tom provocativo. E se a Confederação Brasileira de Futebol efetivamente acordasse? Será que ele estaria preparado?

Siemsen é, vale dizer, um gestor experiente. Tem nível de conhecimento superior à média dos principais cartolas do futebol brasileiro. E pode até estar certo sobre lances da partida de Itaquera, mas a ideia aqui não é debater o mérito em cada impedimento ou possível infração – programas esportivos já gastam horas suficientes com esse tipo de discussão. O ponto é: a quem serve esse tipo de cobrança inócua? A que se presta essa reclamação rasa, sempre motivada por avaliação pessoal?

A CBF precisa acordar, sim, e não apenas por questões relacionadas ao nível de arbitragem. É uma entidade alicerçada num modelo falido de gestão, com problemas que vão de falta de transparência até a risível situação de Marco Polo del Nero, presidente que não viaja por temer ser preso pelo FBI.

Durante os anos de gestão no Fluminense, o que Siemsen fez para mudar esse diapasão? De que formas atacou o status-quo da CBF e que tipo de articulação tentou fazer para transformar aspectos nevrálgicos da gestão do futebol?

Reclamar como o presidente do Fluminense fez, independentemente do mérito, é totalmente ineficaz. Siemsen jogou para a torcida e tentou desviar o foco após uma eliminação que pode afetar todo o planejamento da equipe para a próxima temporada.

Se estivesse realmente preocupado, o presidente do Fluminense reuniria outras equipes e debateria modelos possíveis para a arbitragem – ou para qualquer outro tema – do futebol brasileiro. Pensaria em soluções coletivas e usaria essa representatividade para emplacar essas ideias na CBF. O modelo de administração da entidade cerceia o poder dos clubes, é verdade, mas o caminho para qualquer implosão dessa estrutura passa por um ambiente mais inclusivo. Enquanto cada um brigar apenas pelo próprio prato de comida e vociferar apenas quando faltar farinha em seu pirão, o todo seguirá padecendo.

É fácil dizer que meu time perdeu por um erro de um árbitro. Difícil é pensar nos motivos para aquele profissional ser suscetível àquela falha. Houve problemas na preparação? Há como minimizar isso? Não falo apenas de tecnologia ou de evoluções necessárias para um mercado de cifras tão vultosas, mas de mudanças na base.

O pior é que Siemsen não é caso isolado. Na próxima rodada da Copa do Brasil haverá outros, e nas partidas seguintes do Campeonato Brasileiro, com o desfecho cada vez mais perto, as platitudes sobre arbitragem também ganharão corpo.

Para o time, é fácil culpar a arbitragem. Para o torcedor, é fácil culpar a arbitragem. Para a mídia, é fácil explorar essa falta de empatia e gastar horas dissecando cada lance em câmera lenta, sem contexto ou frieza na análise. É um ciclo em que todo mundo se beneficia de um inimigo comum e pouco palpável. Falar sobre a “arbitragem” como instituição, sem ter uma proposta ou uma discussão mais densa, é apenas tergiversar.

Como tantos que o antecederam na reclamação, Siemsen queria desabafar, desviar o foco de um resultado negativo ou incutir nos responsáveis pela arbitragem uma pressão para partidas seguintes. Não havia ali qualquer viés positivo ou benéfico para o futebol como um todo.

Do ponto de vista de comunicação, Siemsen pode ter até adotado uma estratégia eficiente. No entanto, é um discurso extremamente pontual e egoísta. Não há desejo de que a CBF acorde em alguém que brada “Acorda, CBF!” instantes depois de uma eliminação e retoma o trabalho normalmente no dia seguinte.

O futebol brasileiro não precisa de gente que peça para a CBF acordar. O futebol brasileiro não precisa de gente que demonstre indignação com arbitragem. O futebol brasileiro precisa de gente que faça algo para mudar isso.

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Não resistiu e o técnico caiu, e agora?

Comentei na coluna passada sobre alguns pontos importantes que podem contribuir para um clube de futebol superar uma crise de temporada. Mas, como sabemos, muitas vezes esses pontos importantes de atuação não são suficientes para uma melhor orquestra do futebol e a direção dos clubes acabam por demitirem seus técnicos.

Bom, infelizmente isso não é nenhuma novidade, certo? Nem a dificuldade de reposição do técnico tão pouco também é novidade. Mas tem surgido com frequência uma tendência em promover os técnicos, enquanto auxiliares, para assumirem o posto de técnico efetivo do clube.

Às vezes essa alternativa dá certo e outras vezes não, porque será?

Particularmente, penso que existem características que podem nos ajudar a compreender os possíveis motivos pelos quais essas apostas se traduzem em ações bem ou mal sucedidas.

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Uma das situações em que podemos perceber aspectos positivos nessa efetivação, acontece quando são aproveitados técnicos que dirigiam as equipes sub-20 dos clubes. Isso pode estar relacionado com toda a preparação profissional e emocional que este técnico vivencia enquanto respondia por essa posição no clube. Associado a isso, geralmente os clubes têm procurado promover uma maior integração entre a base e o profissional, compartilhando conceitos técnicos e táticos que favorecem o aproveitamento tanto dos atletas quanto dos técnicos na categoria profissional.

Parece até uma grande coincidência, não é mesmo? Mas, ao observarmos os casos em que esta aposta acaba sendo mais promissora do que a tradicional circulação dos técnicos de mercado, estes correspondem justamente ao contexto comentado acima, onde seus técnicos já trabalhavam no clube, desde o sub-20 até a posição de auxiliar.

Um fator positivo nessa alternativa, ainda mais dependendo do momento do campeonato e do número de rodadas que faltam para acabar a competição, é o fato do “novo” técnico já conhecer a cultura do clube, enquanto organização esportiva. Ele provavelmente já conhece não só a estrutura do clube, como também parte dos atletas que compõem o elenco profissional. Parece uma constatação simples, mas no fundo não é bem assim. Desconhecer a cultura de uma organização esportiva, pode custar caro e a baixa capacidade emocional para enfrentar um período de adaptação em meio a cobranças, pode pesar negativamente para um técnico que vem de outra realidade.

Então, para os clubes que não conseguem tempo para empreender na jornada, muitas vezes inconstante da busca por resultados sustentáveis dentro e fora de campo, vale a pena avaliar bem a sua ação em momentos de troca de comando em campo.

Essa reflexão pode render bons resultados em campo e no caixa do clube, caso ele avalie que possui um cenário favorável para efetivar sua aposta, que provavelmente tem experiência de bons resultados em sua jornada profissional na base do clube.

E você o que acha amigo leitor? Se fosse um gestor, contrataria um técnico de mercado ou apostaria no resultado de base e na aderência de cultura que já possui dentro do clube?

Até a próxima!

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Justiça condena Minas Arena, mas quem perde é o torcedor

O Mineirão foi reinaugurado em fevereiro de 2013 com um superclássico entre Atlético e Cruzeiro. Entretanto, a festa foi ofuscada pela desorganização. Faltou água, bares e lanchonetes sem produtos, banheiros inacabados, enfim, os direitos do torcedor/consumidor foram severamente violados.

Desde então centenas de ações movidas por torcedores contra o Minas Arena pleiteando danos morais e materiais tramitam no Judiciário mineiro.

Esta semana mais uma decisão foi exarada. A 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais reformou a decisão de 1ª instância e condenou a Minas Arena a indenizar o torcedor pelos danos morais sofridos no importe de R$ 1.500,00.

Considerando que muitas ações foram julgadas improcedentes, o TJMG agiu acertadamente ao reformar a sentença e condenar a Minas Arena.

Doutro giro, o valor da condenação é totalmente irrisório diante do poder econômico da Minas Arena e do necessário caráter punitivo e pedagógico da condenação.

A reparação decorrente do dano moral deve atender a dois objetivos: um de compensar a ofensa causada, e outra de punir o autor da lesão, desestimulando-o, de modo a não mais praticar ato semelhante e, ainda, servindo de exemplo à sociedade.

Assim, por meio de condenação econômica significativa no valor da reparação do dano moral, busca-se, além de satisfazer o sofrimento do lesado, punir o ofensor com o pagamento de elevada quantia pecuniária, dando à reparação nítido caráter punitivo- pedagógico.

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Nesse sentido já se posicionou o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Raul Araújo Filho em seu artigo “PUNITIVE DAMAGES E SUA APLICABILIDADE NO BRASIL” – Doutrina: edição comemorativa, 25 anos.

“Na aferição do valor da reparação do dano moral, deve, pois, o magistrado, seguindo os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, levar em consideração o bem jurídico lesado e as condições econômico-financeiras do ofensor e do ofendido, sem perder de vista o grau de reprovabilidade da conduta do causador do dano no meio social e a gravidade do ato ilícito”.

O combate a violência nos estádios de futebol começa no respeito aos direitos dos torcedores e, quando a violação de direitos chega ao Poder Judiciário, espera-se uma resposta efetiva.

Qualquer medida pedagógico-policial contra a violência no futebol torna-se sem efetividade se as punições legais não desestimularem o desrespeito aos direitos do torcedor, conforme foi constatado há quase três décadas pelo juiz inglês Taylor, no estudo que ficou mundialmente conhecido como “Relatório Taylor”.

Resolver o problema da violência nos estádios de futebol é um dever de múltiplas personagens e, dentre eles o Judiciário, última fronteira na luta dos cidadãos pelos direitos e uma condenação inferior a dois salários mínimos após 3 anos e meio, em nada desestimula o desrespeito ao torcedor e, por consequência, o combate à violência.

Os torcedores precisam levar suas demandas ao Poder Judiciário e este deve se atentar da relevância social de cada decisão na garantia de direitos e na paz no futebol.

Somente com o exercício reiterado de direitos o torcedor conseguirá reverter o quadro de desrespeito e, demonstrar ao Poder Judiciário, a importância de decisões firmes e com valores econômicos passíveis de punir o autor da lesão, desestimulando-o a praticar atos semelhantes, além de servir de exemplo para toda a sociedade. Caso contrário, mesmo ganhando, o torcedor estará perdendo.

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Executar ou pensar? (um dos “Erros de Descartes”?)

A questão não é quando eles vão parar, mas sim, quem vai para-los.

Futebol é um jogo de cognição e não de execução. Não devemos cair na ilusão do “basta saber fazer” para termos sucesso nos diversos e distintos confrontos que ocorrem durante os 90 minutos. Necessita-se pensar sobre o que estamos fazendo, mesmo quando não há tempo para pensar. E aqui falo de subconsciente! Sim, o treinamento atua no subconsciente. O movimento individual e coletivo foi trabalhado de uma forma tão qualitativa, que ficou naquele lugar da caixa craniana onde fica guardada as memórias de longo prazo.

Neste caso, preciso pedir para que relembremos daquele conhecimento que já vigora no campo da ciência há algum tempo. ⅔ do tempo total de realização do movimento é gasto em tomada de consciência e decisão, e apenas ⅓ é gasto em execução do movimento em si. Se executar representa ⅓ de todo o tempo gasto no jogo, por qual motivo devemos apenas nos preocupar com o executar?

Assim, fica inviável nos preocupar somente em aumentar a velocidade/frequência/plasticidade do gesto, temos que ter uma atenção maior com relação ao “pensar rápido”, ao raciocínio e ao poder de decisão que um atleta pode vir a alcançar, sendo essa característica que diferencia um atleta de alto nível dos demais jogadores de futebol. É necessário captar e selecionar a informação relevante de forma rápida; é preciso conscientizar e decidir rápido para que os mecanismos de tomada de decisão e execução sejam também rápidos, eficazes e eficientes. Claro que de uma forma simplista, ofereço um vídeo para tentar exemplificar o que quero dizer.

 

Não podemos dissociar corpo de mente; os dois interagem unidos e em mesma intensidade com o ambiente. O que foi o “Erro de Descartes” (filósofo francês) no ponto de vista de Antonio Damásio (Neurocientista), que escreveu um livro com este título. Neste livro ele fala da importância das emoções nos processos de memória. Conforme o mesmo, as emoções são conjuntos de reações químicas e neurais, visando sempre a sobrevivência de um organismo. Damásio demonstrou que razão e emoção não “jogam em campos diferentes”, contrariando a perspectiva amplamente difundida de que “decisões sensatas provêm de uma cabeça fria e de que emoções e razão se misturam tanto quanto água e azeite”. Hoje devemos reconhecer que as emoções estão implicadas nas percepções que fazemos do mundo, nas tomadas de decisões, nos raciocínios, na aprendizagem, nos processos de memorização, nas ações, na concentração, etc. E, quanto mais treinamos com “qualidade”, mais percebemos que as emoções são os pilares para um aprendizado concreto e duradouro (subconsciente).

Por isso treino é tudo. Na teoria dos sistemas dinâmicos, entende-se que os comportamentos e as destrezas motoras se adaptam de forma intencional aos constrangimentos impostos pelo envolvimento, durante a realização de uma tarefa. Ou seja, quanto mais a alto rendimento estamos ou pretendemos estar, mais precisamos entender que o treino deve ser considerado o principal meio a se chegar em níveis mais elevados de futebol. Mais precisamos ter um treino de “qualidade”.

Executar é uma parte do processo. Um processo que depende de outras partes. Um processo que pode ser melhorado e aperfeiçoado. Todavia, não basta executar. Aliás, se pensarmos assim, estaremos pensando de uma forma analítica um problema complexo, o que não parece de todo certo. Deixando de pensar o futebol de uma forma sistêmica. E em outros casos, quando optamos a se predispor em seguir (ou entender, ou copiar, etc) determinada “forma de pensar/metodologia”, se contradizer (principalmente na relação palavras x ação) não facilita a um “possível” aprendiz, a aprender com o mentor.

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Executar ou pensar? (um dos "Erros de Descartes"?)

A questão não é quando eles vão parar, mas sim, quem vai para-los.

Futebol é um jogo de cognição e não de execução. Não devemos cair na ilusão do “basta saber fazer” para termos sucesso nos diversos e distintos confrontos que ocorrem durante os 90 minutos. Necessita-se pensar sobre o que estamos fazendo, mesmo quando não há tempo para pensar. E aqui falo de subconsciente! Sim, o treinamento atua no subconsciente. O movimento individual e coletivo foi trabalhado de uma forma tão qualitativa, que ficou naquele lugar da caixa craniana onde fica guardada as memórias de longo prazo.

Neste caso, preciso pedir para que relembremos daquele conhecimento que já vigora no campo da ciência há algum tempo. ⅔ do tempo total de realização do movimento é gasto em tomada de consciência e decisão, e apenas ⅓ é gasto em execução do movimento em si. Se executar representa ⅓ de todo o tempo gasto no jogo, por qual motivo devemos apenas nos preocupar com o executar?

Assim, fica inviável nos preocupar somente em aumentar a velocidade/frequência/plasticidade do gesto, temos que ter uma atenção maior com relação ao “pensar rápido”, ao raciocínio e ao poder de decisão que um atleta pode vir a alcançar, sendo essa característica que diferencia um atleta de alto nível dos demais jogadores de futebol. É necessário captar e selecionar a informação relevante de forma rápida; é preciso conscientizar e decidir rápido para que os mecanismos de tomada de decisão e execução sejam também rápidos, eficazes e eficientes. Claro que de uma forma simplista, ofereço um vídeo para tentar exemplificar o que quero dizer.

 

Não podemos dissociar corpo de mente; os dois interagem unidos e em mesma intensidade com o ambiente. O que foi o “Erro de Descartes” (filósofo francês) no ponto de vista de Antonio Damásio (Neurocientista), que escreveu um livro com este título. Neste livro ele fala da importância das emoções nos processos de memória. Conforme o mesmo, as emoções são conjuntos de reações químicas e neurais, visando sempre a sobrevivência de um organismo. Damásio demonstrou que razão e emoção não “jogam em campos diferentes”, contrariando a perspectiva amplamente difundida de que “decisões sensatas provêm de uma cabeça fria e de que emoções e razão se misturam tanto quanto água e azeite”. Hoje devemos reconhecer que as emoções estão implicadas nas percepções que fazemos do mundo, nas tomadas de decisões, nos raciocínios, na aprendizagem, nos processos de memorização, nas ações, na concentração, etc. E, quanto mais treinamos com “qualidade”, mais percebemos que as emoções são os pilares para um aprendizado concreto e duradouro (subconsciente).

Por isso treino é tudo. Na teoria dos sistemas dinâmicos, entende-se que os comportamentos e as destrezas motoras se adaptam de forma intencional aos constrangimentos impostos pelo envolvimento, durante a realização de uma tarefa. Ou seja, quanto mais a alto rendimento estamos ou pretendemos estar, mais precisamos entender que o treino deve ser considerado o principal meio a se chegar em níveis mais elevados de futebol. Mais precisamos ter um treino de “qualidade”.

Executar é uma parte do processo. Um processo que depende de outras partes. Um processo que pode ser melhorado e aperfeiçoado. Todavia, não basta executar. Aliás, se pensarmos assim, estaremos pensando de uma forma analítica um problema complexo, o que não parece de todo certo. Deixando de pensar o futebol de uma forma sistêmica. E em outros casos, quando optamos a se predispor em seguir (ou entender, ou copiar, etc) determinada “forma de pensar/metodologia”, se contradizer (principalmente na relação palavras x ação) não facilita a um “possível” aprendiz, a aprender com o mentor.

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Cheirinho de fim de ano

No esporte ou na comunicação, o momento importa muito. Nas duas searas, a mesma mensagem pode provocar reações contrárias em um mesmo remetente se for emitida em momentos diferentes. Ainda faltam 12 rodadas inteiras para o término do Campeonato Brasileiro, mas o rendimento esportivo e as estratégias de comunicação adotadas pelas principais equipes da elite nacional são bons exemplos disso.

Com pouco mais de um terço do certame pela frente, o Campeonato Brasileiro de 2016 já começou a separar as equipes de acordo com objetivos. É possível identificar um bloco de postulantes ao topo da tabela, uma faixa intermediária e uma zona dos clubes que tentam evitar o descenso, ainda que os 36 pontos possíveis para qualquer equipe admitam oscilação entre esses pelotões. E a comunicação? Você já notou algum direcionamento de comunicação adequado a essas metas?

O Cruzeiro tem uma das melhores médias de público do Campeonato Brasileiro, por exemplo. A despeito da campanha claudicante, a equipe mineira tem sido auxiliada por um estádio de grandes proporções e por uma torcida presente. O bom número de espectadores persistiu na reta inicial do torneio, quando o time azul teve rendimento ruim, e não despencou nas últimas partidas, período em que rarearam os bons resultados obtidos pós-contratação do técnico Mano Menezes.

No entanto, não existe estratégia de comunicação adequada a esse cenário. O discurso mais lúcido no Cruzeiro parte do próprio Mano Menezes. “O Cruzeiro depende só dele. Não depende de resultado de ninguém. Se fizermos nossa parte, vamos subir na tabela. Vamos ter jogos difíceis, como o de domingo, contra o Flamengo, mas estamos acostumados a isso. Temos de ser cuidadosos e temos de saber nos portar”, disse o treinador depois de um empate por 1 a 1 com o Atlético-MG no último domingo (18).

Mano sempre foi caracterizado por declarações sóbrias e condizentes com a situação dos times que dirigiu. No Cruzeiro, o que chama atenção é que ele seja o único: não há entre jogadores e diretoria uma voz tão clara sobre o que a equipe pode fazer no restante do campeonato e o peso dos resultados recentes – duas derrotas e um empate.

O Corinthians tentou fazer o inverso. Na quinta-feira (15), a diretoria convocou uma entrevista coletiva para dizer que os resultados recentes não abalavam a confiança no trabalho do técnico Cristóvão Borges e que o planejamento vinha sendo feito para o restante do ano e para o início da temporada seguinte. No sábado (17), o time perdeu para o Palmeiras e o treinador caiu.

Esse tipo de sequência de fatos joga contra qualquer processo do clube. Como alguém vai confiar em uma diretoria que muda de ideia em dois dias? Como alguém vai confiar em alguém que carece de convicção em um assunto tão nevrálgico?

É difícil falar em convicção num setor em que as certezas mudam a cada quarta e a cada domingo, mas é exatamente por isso que a comunicação não pode ser contaminada por resultados. É fundamental que os clubes entendam rapidamente o que podem oferecer a seus consumidores e que tracem um plano para dar relevância a isso. Times de menos torcida já entenderam como fazer isso – a Chapecoense, por exemplo, faz um campeonato para seguir na Série A, comunica isso bem e não lida com frustrações se ficar alijada da briga por algo maior.

Passou da hora de os clubes brasileiros começarem a fazer promoções ou ações específicas para a reta final do Campeonato Brasileiro. Passou da hora de o Internacional montar um plano de comunicação para envolver a comunidade colorada na briga contra a queda, por exemplo. O São Paulo poderia fazer o mesmo – como já fez, em temporadas passadas, mas numa fase mais aguda da competição.

Passou da hora de Palmeiras e Flamengo se assumirem como postulantes ao título. De usarem de forma positiva uma das grandes novidades da temporada, que é a história do “cheirinho do hepta”. No esporte brasileiro existe um temor muito grande sobre o uso de material como motivação de rivais. Querer o título ou tentar incutir na cabeça de seu torcedor que isso é viável seria algum tipo de desrespeito a alguém?

Passou da hora de times como o Corinthians admitirem que a prioridade é pagar contas e que o planejamento não é para o curto prazo. As ações de algumas diretorias dizem isso, mas falta um discurso alinhado a isso.

Por ser muito competitivo ou por ter um excesso de times considerados grandes, o futebol brasileiro tem enorme receio de lidar com diferença de patamar. É como se os 20 times da Série A fossem obrigados a entrar no campeonato pensando em título, ainda que exista uma diferença enorme de investimento, estrutura e qualidade entre eles.

Comunicação que não tem respaldo nas ações é inócua. Ações que não têm respaldo de comunicação não repercutem do jeito certo. Enquanto o futebol brasileiro não entender que é necessário envolver a comunicação no processo de gestão, vamos seguir disputando campeonatos de milagres ou frustrações.

Não é preciso muito para mudar isso. Os clubes só não podem esperar os três ou quatro últimos jogos para entender a mensagem que precisam passar a seus torcedores.

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Superando momentos de crise no futebol

Observamos muitos clubes de futebol enfrentando problemas e crises ao longo de uma temporada no Brasil. São inúmeras competições, muitas vezes simultâneas e um vai e vem de atletas e treinadores dentro dos clubes. Com esse cenário, como seria possível superar momentos de maus resultados em campo, crises eminentes e demissões de cargos técnicos?

Sabemos que o futebol está cada dia mais complexo, com todo o tratamento que o esporte recebe nos dias de hoje como negócio. Se por um lado buscamos profissionalizar o futebol, com planejamentos mais realistas e fundamentados, com desenvolvimento de talentos desde a base e variadas estratégias de marketing, ao mesmo tempo, precisamos considerar a variação de resultados como algo eventualmente natural para um esporte coletivo de alto desempenho. Porém, esta variabilidade de rendimento, por envolver uma carga emocional muito grande devido ao envolvimento dos fãs, ou torcedores, traz uma latente necessidade por resultados de curto prazo.

E como equacionar essa equação?

Infelizmente não existem fórmulas mágicas, mas sim estratégias e planos de ação que ao serem colocados em execução, podem sim trazer resultados melhores em médio prazo.

Quanto a gestão do negócio, cabe retornar ao planejamento estratégico da temporada, rever as metas e replanejar o que for necessário para ter uma adequada compreensão do estado atual do resultado do futebol e com isso alinhar adequadamente as expectativas de todos os envolvidos. Eventualmente, caberão novas ações a serem implementadas para que se possa ainda manter a direção definida em planejamento, porém, caso as ações não sejam uma alavanca real para os resultados, pode haver a necessidade de ajuste de rumo.

Em relação as lideranças, tema complexo, cabe uma adequada capacidade de inteligência emocional para lidar com os momentos de maus resultados. Isso pode contribuir para a manutenção da própria confiança e a dos demais, que são impactadas positivamente quando existe a crença real sobre o caminho que se está seguindo.

Metodologia

Em relação aos atletas de futebol, cabe sim a adequada maturidade para o enfrentamento da realidade na qual o time se encontra. Uma vez que o atleta compreende que a situação real é difícil e complicada, este começa a perceber que na verdade cada situação de problema, nada mais é, do que uma oportunidade de superação e aprendizado. Dificuldades todos passam, atletas ou não, quando o atleta lembra que para chegar até aquele momento já passou por vários desafios na vida e que todos eles foram superados, ele tende a perceber a situação como mais um desafio a ser vencido em sua carreira.

Na minha opinião, apesar do torcedor ou fã ser o grande responsável pela paixão que o futebol representa, em momentos de crise ele também tem um papel de direta influência no resgate do time. Pois, quando se une aos dirigentes, aos atletas e membros da comissão técnica, isso demonstra que existe uma confiança entre todos os seres humanos envolvidos no futebol.

Aí sim, caro leitor, teremos a chance mais realista e sustentável de ver novas histórias de superação e extinção de crises existentes, pois o tripé planejamento, execução e pessoas começa a funcionar com excelência.

E ainda, o final de qualquer ciclo de crise no futebol ainda tem mais uma valiosa questão a ser registrada para minimizar o impacto de outros momentos de dificuldade: o aprendizado vivido na prática e as lições aprendidas como histórico para novas temporadas.

Até a próxima.