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Perdeu? Demite o técnico!

A nossa gestão do futebol, por mais que estejamos com enormes boas intenções de elevar o nível da nossa capacidade de gerir esse negócio sensacional, não resiste a algumas derrotas e uma ameaça real de descenso à Série B.

Bastam alguns momentos de instabilidade e insucessos repetidos que tudo aquilo que já tenha sido realizado seja passado remoto e, assim sendo, permaneça esquecido na memória dos executivos do futebol.

Em momentos como este, talvez, a solução mágica que todos estão acostumados no futebol brasileiro, a troca de técnico, não esteja mais fazendo o efeito e muitos executivos perguntam-se o que fazer.

Torna-se muito claro que muitas equipes, mesmo com bons elencos, não conseguem os resultados desejados por falta de confiança e ansiedade elevada durante as partidas. São falhas antes não cometidas, uma infinidade de gols incrivelmente perdidos que levam a equipe a derrota inesperada e a destruição da autoconfiança dos atletas.

Hoje, já é mais do que uma realidade os benefícios do trabalho de coaching no mundo corporativo e o esporte também tem colhido resultados com esse trabalho. Sendo assim, o que me parece faltar para apoiar na busca por objetivos comuns, desenvolvimento de equipes colaborativas, correções de rumo ou mudanças de rota de uma equipe de futebol é um trabalho de coaching sério e sustentável que proporcione alguns dos benefícios abaixo citados.

– Para os atletas e as equipes

• Aumento de performance
• Controle emocional
• Concentração
• Aprendizado e melhoria contínua
• Capacidade de recuperação

– Para técnicos e executivos

• Melhora o relacionamento interpessoal
• Aumenta relação de confiança
• Agrega novas competências de liderança
• Autoconsciência
• Autodisciplina
• Motivação
• Empatia

Um trabalho adequado de coaching pode contribuir como mais uma disciplina no universo do futebol, complemento este que pode potencializar, em conjunto com as demais disciplinas, o desempenho esportivo das equipes de futebol.

Novos caminhos são construídos com avaliação de novas disciplinas e novas alternativas na busca do desempenho de alta performance através da promoção de um comportamento diferenciado de todos os envolvidos no futebol, como os atletas, técnicos e os próprios executivos do futebol.

Infelizmente o futebol só recorre a novas iniciativas em momentos de desespero por uma situação de risco do descenso ou na iminência de alguma possível grande perda para o clube.

Mesmo sabendo que um trabalho de coaching para sustentar uma verdadeira transformação precisa ser feito de maneira evolutiva e construtiva, se faz necessário atender a esse chamado velado do futebol por novas disciplinas que possam contribuir com as já existentes, para promover um ambiente de performance elevada e maturidade de gestão nos clubes; e o com certeza o coaching é uma dessas novas disciplinas para o futebol.

E você, amigo leitor, também acredita que o trabalho de coaching pode contribuir com a melhoria de performance e a consequente redução no troca-troca precipitado e desenfreado de treinadores nos clubes de futebol?!

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Soluções paliativas

Final de ano e começam a aparecer as "soluções salvadoras" e, naturalmente, paliativas para os problemas das organizações ou do futebol como um todo. Surgem, por assim dizer, as ideias que prometem resolver, mas que no fundo só diminuem o incêndio que não se apaga efetivamente.

Duas destas "soluções" chamam atenção, por combinarem com fatos recentes: (1) a troca de técnicos no final do ano para tentar livrar algumas equipes do rebaixamento; (2) os debates sobre o calendário do futebol brasileiro.

Na primeira, das atitudes mais comuns em clubes brasileiros. Mostra a total falta de planejamento e de análise sobre prós e contras ao tomar tal decisão. Na realidade, os dirigentes não percebem que ao fazer esta mudança na reta final da competição apenas chamam para si a responsabilidade de eventual fracasso, ao invés de compartilhar com todas as pessoas envolvidas – principalmente com o próprio treinador e jogadores, que poderão resolver de fato a manutenção.

No fim das contas, os treinadores, tanto o anterior quanto o novo (este último que poderá sacramentar o rebaixamento), acabam "lavando as mãos". O antigo acaba justificando que não teve tempo para contornar a situação. O novo dirá a mesma coisa, respaldado na famigerada "herança maldita".

Ao invés de endossar o comprometimento de um grupo (que começa pelo seu treinador e vai até seus comandados, incluindo todo o staff da equipe) que tem trabalhado o ano todo em prol de um resultado e que poderia assumir para si o intento de mudança, acabam por deixar no ar as responsabilidades sobre o descenso.

Quanto ao calendário, apesar do amplo e positivo debate que o grupo "Bom Senso Futebol Clube" tem procurado gerar nas últimas semanas com vistas a melhoria do futebol brasileiro como um todo e, impactando, necessariamente, no calendário – mas tendo outros anseios em voga – surge uma notícia nesta terça-feira que assusta: http://www.espn.com.br/noticia/365751_decisao-da-cbf-por-limite-de-jogos-pode-fazer-clubes-esvaziarem-os-estaduais-entenda.

A reportagem mostra que se reduziu o contexto do problema do calendário simplesmente ao número de jogos, quando a questão que se está levantando é muito mais ampla. Limitar a quantidade de jogos por atleta não resolve o problema dos jogos pouco atraentes mercadologicamente.

Pelo contrário: continua afastando o torcedor pela excessiva oferta de partidas ao longo do ano, assim como da cobertura da mídia, que se torna enfadonha e desgastante. Também não protege de forma eficiente o atleta.

E pior, imputa mais uma conta aos clubes, que, conforme a reportagem citada, sugere que estes assumam a responsabilidade por mais uma conta, que é a contratação de mais jogadores para seus elencos – nunca é demais lembrar a antiga discussão sobre o elevado (e crescente) endividamento dos clubes e sua capacidade real de solução deste problema. Quer-se, com isto, aumentar ainda mais seus custos, sem que isto represente um retorno proporcional em receitas.

Enfim, resta torcer para que soluções paliativas diminuam em intensidade e escala. E que o movimento do "Bom Senso Futebol Clube" (e análogos) continue avançando e ganhando força para que, no futuro, tenhamos melhores soluções para os dois problemas levantados nesta coluna.

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O técnico que eu quero

José Carlos Brunoro, que voltou neste ano à direção do Palmeiras, costuma contar uma história que ele vivenciou na primeira passagem pelo clube.

O executivo era o homem forte da Parmalat, co-gestora do futebol alviverde, e a cúpula da equipe divergia sobre o nome do novo treinador. Ele sugeriu, então, a realização de entrevistas com os dois principais candidatos.

O primeiro postulante ao cargo chegou à reunião no Palmeiras vestindo um agasalho do clube em que ele trabalhava. Falou pouco sobre planejamento e demonstrou interesse especial sobre a data da apresentação no ano seguinte. O técnico estava preocupado com uma reforma que pretendia iniciar no telhado de casa.

Depois foi a vez de Vanderlei Luxemburgo. Egresso do Bragantino, o treinador ainda era um desconhecido quando foi entrevistado pelo Palmeiras. Chegou ao clube de terno, foi pontual e baseou a conversa em uma meta clara: ele queria ser contratado porque queria amealhar títulos e chegar ao comando da seleção brasileira.

O Palmeiras, é claro, escolheu Luxemburgo. Assim começou a montagem do time que fez enorme sucesso no início da Era Parmalat – o time alviverde ganhou dois Estaduais e dois Campeonatos Brasileiros entre 1993 e 1994.

A história de Brunoro costuma ser usada pelo executivo para explicar a importância de decisões racionais. No caso da escolha do técnico, o Palmeiras buscou mais elementos para saber qual dos dois era o melhor candidato.

Assim como fazem muitas empresas, o clube optou pelo profissional que se apresentou melhor, teve um discurso mais alinhado com a proposta da instituição e mostrou mais ambição.

Até o último fim de semana, eu costumava concordar com Brunoro. No caso de um técnico, porém, a contratação não pode ter o roteiro de uma entrevista de emprego comum. O treinador é o líder de um grupo e de um projeto do clube. Mais do que visual, metas e ambições, é fundamental que a instituição entenda se a proposta dele é alinhada com o futebol que a equipe quer.

E aqui não se trata de supervalorizar a importância dos técnicos. Treinadores têm um papel fundamental, sim, mas as decisões em campo são tomadas pelos atletas.

O problema é: os atletas tomam decisões com base no cenário que eles encontram e no repertório que carregam. As duas coisas (cenário e repertório) são consequências de uma proposta de jogo. É aí que entra o treinador.

Mais do que conhecer o profissional, o currículo e as metas dele, o que um clube deve se perguntar ao escolher um treinador é o tipo de proposta jogo que essa contratação vai oferecer à equipe.

Foi esse o meu principal pensamento após assistir ao clássico entre Barcelona e Real Madrid, disputado no último sábado, válido pelo Campeonato Espanhol. Jogando no Camp Nou, o time catalão venceu por 2 a 1 – Neymar fez o primeiro gol e deu um passe para Alexis Sánchez marcar o segundo.

A vitória ratificou o bom momento do Barcelona, que ainda não foi derrotado na temporada 2013/2014. A pergunta é: ainda que vença tudo, é esse Barcelona que os torcedores querem ver?

O time desta temporada é comandado por Gerardo “Tata” Martino, argentino que foi escolhido para substituir Tito Vilanova – o ex-treinador precisou se afastar para cuidar da saúde. Em poucos meses, o novo comandante mudou de forma radical a proposta de jogo do Barcelona.

O estilo do Barcelona ainda é baseado em controle da bola e marcação pressão, é verdade, mas há diferenças sensíveis entre os times de Vilanova (e do antecessor dele, Pep Guardiola) e a equipe de Martino. O novo formato é mais incisivo, usa mais passes longos e trabalha com linhas de marcação menos compactadas.

Com Guardiola e com Vilanova, o Barcelona dava a impressão de concentrar todos os jogadores em pequenos espaços do campo. O time trabalhava com associações, curtos deslocamentos e movimentação constante. Era um estilo claro e que se tornou uma marca.

Ainda que tenha preservado quase toda a formação titular, Martino criou um time que não pensa assim. O Barcelona que venceu o Real Madrid é muito mais competitivo do que o time de temporadas anteriores, mas encanta bem menos.

Hoje, para falar apenas da Espanha, o Celta tem uma proposta de jogo que lembra mais o Barcelona de anos atrás do que o próprio Barcelona atual. É impossível comparar a qualidade ou a eficiência, mas a equipe de Vigo tem conceitos similares aos dos catalães: obsessão por passes curtos, movimentação constante e defesa alta, por exemplo. O comandante é Luis Enrique, ex-jogador do próprio Barcelona.

O Barcelona de Martino pode vencer tudo que disputar na atual temporada, mas nunca vai ter o perfil que o time se acostumou a apresentar em anos anteriores. Será que a diretoria considerou tudo isso quando escolheu o novo treinador?

É claro, o estilo do Barcelona não foi moldado apenas por Guardiola e Vilanova. É o resultado de um projeto extenso, que envolve categorias de base e o perfil dos atletas do time profissional. Mas nada disso seria possível sem um catalizador adequado.

O exemplo do Barcelona faz pensar no futebol brasileiro. O que leva um time do país a contratar um treinador? Quais são os atributos que uma diretoria considera na hora de escolher um profissional?

Em 2013, o Grêmio contratou Renato Gaúcho pela identificação que ele tinha com a torcida por ter feito sucesso como atleta. O Internacional fez aposta semelhante com Dunga, e o São Paulo, com Paulo Autuori e Muricy Ramalho, escolheu técnicos que já haviam sido vencedores no clube.

Sem querer ser simplista ou reduzir as contratações a apenas um fator, é nítido que os históricos pesaram nessas apostas. E esses são apenas exemplos de algo comum no Brasil: nenhum dos técnicos foi escolhido pelo que defende como proposta de jogo.

O São Paulo é o mais claro exemplo disso. Quando Muricy Ramalho encerrou a passagem anterior pelo clube, a diretoria decidiu buscar alguém que tivesse mais abertura para a transição de garotos entre a base e o profissional. A ideia era reduzir a distância entre as duas realidades e criar um projeto integrado.

Muricy saiu do São Paulo, e o time não conseguiu ter estabilidade com nenhum outro treinador. Em 2013, a equipe fazia campanha ruim no Campeonato Brasileiro com Ney Franco, que havia sido contratado justamente pelo talento demonstrado na seleção brasileira sub-20. A diretoria escolheu Paulo Autuori. Depois de um período ruim com ele, resgatou o técnico tricampeão nacional. Difícil imaginar dois profissionais com leituras tão diferentes sobre o comportamento de um time.

A simples troca de um treinador carrega uma série de aspectos, mas uma pergunta é fundamental quando uma equipe decide fazer isso: qual profissional tem uma proposta de jogo que se ajusta mais ao que eu pretendo realizar?

O futebol brasileiro talvez não tenha profissionais com postura tão marcante quanto Guardiola, mas escolher um treinador também é definir uma forma de o time se comportar. E isso, é claro, tem relaç&at
ilde;o direta com comunicação.

Todo técnico é contratado para vencer, é claro, mas há vários caminhos para isso. Antes de escolher um profissional, é fundamental que a diretoria pense em qual imagem ela quer passar aos torcedores. Que tipo de time será mais agradável e condizente com o que os adeptos esperam?

No fim de 2013, o futebol brasileiro pode ter uma mudança de grandes proporções no comando de equipes da primeira divisão. Corinthians, Flamengo, Internacional, Santos e até o promovido Palmeiras são exemplos de times que ainda não definiram o comando para a próxima temporada.

Antes de pensar em qual técnico é mais vitorioso ou pode se dar melhor com o elenco, a pergunta é: que tipo de jogo esses times querem apresentar em 2014? A escolha do comandante do grupo vai influenciar diretamente nisso. O Barcelona está aí para mostrar o quanto.

O papel da comunicação é pensar na construção de uma marca e na relação dela com os consumidores. No caso de um time de futebol, essa relação é alicerçada no orgulho e na ligação emocional. Para isso, é fundamental que a equipe reproduza o que as pessoas esperam ver em campo. Escolher um treinador que não entregue isso é criar enormes empecilhos para o trabalho.

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A vida dele é você

Me chamo Vitória.

Nasci em 6 de junho de 2000. Terça-feira à noite. Se fosse menino, seria Marcos. Segundo meu bisavô, que escolheu Vitória, ele queria um nome de santo. Especialmente naquela noite. Não sei porquê. Só sei que minha bisavó, que torce pelo maior rival do time do meu bisa, queria Marcelinho se eu fosse menino. De raiva, ela falou que eu me chamaria Darinta se fosse menina e ela pudesse ter a chance de escolher. Também não sei o que significa esse nome. Mas sei que meu bisavô não quis nem saber.

Ele é beeeem velhinho. Tem mais de 90 anos. Moramos juntos em Perdizes. Ele diz que não tem lugar melhor. Cheio de altos e baixos. Parece a vida dele e da maior paixão dele. Mais que eu, os filhos e a minha bisavó. Amor que ele vive de
perto. Sempre.

Em 18 de novembro de 2012 ele caiu. Quebrou um monte de osso. Foi no final de uma tarde de domingo. Só sei que ele estava vendo TV, deu um monte de grito durante horas, mas só se machucou feio quase de noite. Quando daí eu não entendi nada. Ele não gritou e nem xingou. Nem chorou. Ficou quieto. E quebrado.

Foram meses este ano de 2013 em que ele ficou de cama. Mas sempre gritando. Principalmente de terça e de sábado. Quando ninguém podia entrar no quarto dele. Ninguém. Muitas vezes ele me chamava depois e contava muitas histórias de muitos amigos que ele diz ter. Mas acho que algumas são mentiras. Coisas incríveis. De super heróis.

Alguns nomes ele fala sempre. Outros ele não quer nem falar. Mas sempre ele fala deles. Como velhos conhecidos.

Nas últimas semanas ele começou a sair de casa. Passeou pelas ruas de cadeira de rodas. Toda hora passava alguém dIzendo que ele estava bem, voltando, retornando ao lugar dele. Ele abria o sorriso e dizia que isso era normal. Anormal era a queda que ele teve no ano
passado. Quando ele se quebrou todo.

E muita gente achou que ele já era. Que não iria mais se levantar. Era muito chato tudo isso.

Mas, neste sábado, exatamente 16h20, ele pediu para sair comigo. Estava um sol lindo em Perdizes. Eu fui empurrando a cadeira de rodas dele. Ele me falou de muitas coisas que viveu. Disse que vira na televisão um monte de amigos que ele gosta. Valdir, Edu, Rosemiro, Alfredo, Dudu, Ademir, Leivinha, César, Evair, Amaral, Edmundo, Marcos. Falou um monte de coisas deles. Tudo deve ser invenção. Mas eu quase acreditava nele. O brilho nos olhos do meu bisavô me fazia achar que tudo aquilo era possível.

Eu reparei que quando ia caindo o sol ele ficava mais inquieto. Não parava. Toda hora perguntava que horas eram. Eu respondia. Ele parava fazendo contas com os dedos. E toda hora que ouvia um rádio ligado ele pedia para eu ficar quieta.

Eu ficava. Mas ele não.

Quando era 18h11, meu bisavô pediu a hora. No mesmo momento a gente ouviu gritos, aplausos, palavrões. E logo aquela música que meu bisavô sempre canta todo dia. E ele sempre me disse que teve alguns anos quando ele cantou mais ainda. Eu até lembro quando foram. Em 1951. Em 1959. Um monte de vezes nos anos 60 e 70. Depois ele disse que durante uns anos essa música ele cantava sempre. Mas só ele.

Ele sempre me fala que ficou semanas seguidas em 1993 cantando e ouvindo. Só que, desde que eu nasci, em 2000, ele ouviu pouco.

Mas não importava. Porque essa era uma canção que sempre estava com ele. E ele disse que queria muito estar comigo nesta tarde.

Acho que entendi o porquê quando ouvi alguns carros buzinando. Não muitos. Um velho amigo dele o veio abraçá-lo na padaria.

– Parabéns, meu grande amigo!

Meu avô não disse nada. Apenas sorriu.

– Ufa! Agora vai! Estamos de volta!

Meu avô mal olhou para ele. Apenas ficou olhando pra frente. Segurou firme na cadeira de rodas. Levantou a cabeça. Se apoiou no braço da cadeira. E se levantou sozinho pela primeira vez desde que ele tinha caído e se quebrado todo em 2012.

Eu e o amigo dele não acreditamos. Ninguém imaginava que com mais de 90 anos ele ainda pudesse se levantar. Sozinho. Com a força das próprias pernas e braços.

Eu corri para ajudar. Como acho que todo mais jovem precisa ajudar quem nos ajudou a vida toda. Mas meu bisavô disse que não precisava.

– Eu caí sozinho. Eu me ergo sozinho.

E ele se levantou. Quem estava por perto ficou meio sem graça de aplaudir. Mas todos se emocionaram com ele. Até os que achavam que nada mais aconteceria com ele.

Meu bisavô foi até o balcão da padaria e pediu a mesma coisa que toda vez ele pede:

– Um cafezinho e um pouco de água pro meu São Marcos.

Eu não aguentei e falei:

– Bivovô, você estava fingindo, estava com preguiça, ou estava sem vontade de andar?

– Vitória. Nunca duvide das minhas histórias. Nem das minhas vontades. Eu posso já não ser o mesmo de antes. Mas eu ainda sou a nossa família. Eu acredito. Eu me supero.

Eu chorei. Tenho amiga que não tem bisavós, nem avós. Algumas nem pai. Eu sei que um dia eles não vão estar aqui. Morro de medo disso. E disse chorando pra ele:

– Bivovô, eu morro de medo de te perder!

– Vitória. Eu só morro se não lutar. Nunca perco amando. Só deixo de ganhar algumas vezes. Eu não sou eterno. Mas o meu amor é pra sempre.

E meu bisavô abriu um sorriso, gritou alguma coisa em italiano que parecia algo como cópia, escópia, sei lá. Berrou Palestra e só então sentou.

Chorando. Mas, desta vez, não de dor.

Acho que é isso que meus pais chamam de amor incondicional.


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Futebol: criar mais oportunidades ou aproveitar melhor as chances criadas? – reflexões a partir da Lógica do Jogo

O futebol é um jogo de oportunidades criadas ou de chances convertidas em gols?

Não sei se a pergunta acima foi suficientemente esclarecedora para ilustrar o cerne da questão que a envolve.

Então, para não correr riscos, vejamos de outra forma.

Na Champions League 2011/2012, o confronto entre FC Barcelona e Chelsea, já pela fase eliminatória (semifinais) nos mostrou dois jogos muito parecidos, em que uma das equipes manteve a bola quase que a todo o tempo em seu campo de ataque, “sondando” a todo instante a meta adversária – gerando um número razoável de finalizações e chances de gol (inclusive um pênalti).

A outra, a equipe que saiu vitoriosa dos confrontos, defendendo-se a todo custo com todos ou quase todos seus jogadores, esperando um momento para ser implacável, um momento para ter uma chance, uma real chance que fosse, para fazer gols – (jogo 1: Chelsea 1 x 0 FC Barcelona / jogo 2: FC Barcelona 2 x 2 Chelsea / placar agregado: FC Barcelona 2 x 3 Chelsea).

Vejamos abaixo a figura com o número de finalizações de cada equipe nos dois jogos (dados retirados de www.uefa.com):

Podemos observar que nos dois jogos a equipe do Barcelona finalizou mais do que o Chelsea (totalizando 36 a 11). Diferença grande, que diminui quando olhamos apenas para aquelas que foram em direção ao gol (11 a 4).

Finalizações!

Mas quando observamos aquilo que realmente pode contar pontos na tabela – os gols –, o placar, no quesito arremates, favorável ao FC Barcelona, se inverte: 2 a 3 gols à favor da equipe inglesa.

No primeiro jogo entre as duas equipes, mais interessante ainda: o Chelsea teve apenas uma finalização correta (a do gol), e o FC Barcelona, com suas 19 oportunidades, nada.

Em um levantamento rápido que realizei na Champions League 2011-2012, na 2012-2013, e no Campeonato Brasileiro 2013 (esse último com o auxílio do notável do Café dos Notáveis “Panis Baguetes”) fica evidente que aquelas equipes que mais finalizam a gol ou fora dele nos jogos, tendem a fazer mais gols e a assumir um lugar melhor na classificação dos Campeonatos. Existe uma relação direta entre número de finalizações, gols e vitórias – direta, mas não de 100%.

E ela (a relação) fica melhor ainda, quando consideramos apenas as finalizações que foram em direção ao gol.

Pode parecer óbvio, mas não é.

Sob o ponto de vista da Lógica do Jogo (em maiúsculo, por se tratar da lógica inexorável do jogo de futebol), cumpre melhor com ela em uma partida, aquela equipe que vence – ou por dominá-la (circunstancialmente ou cronicamente) ou por compreender e utilizar melhor a imprevisibilidade ao seu favor.

De qualquer forma, e em outras palavras, isso quer dizer que o futebol é mais do que um jogo de oportunidades criadas. Ele é um jogo de chances concretizadas (convertidas em gol)!

Claro, analisando as competições que já mencionei, e outras de nível técnico-competitivo menor, fica muito evidente que quanto menos uma equipe finaliza à gol em uma partida, mais eficiente ela precisa ser nas suas finalizações, se ela almeja vencer.

Mais evidente ainda é que quanto maior o nível competitivo, menor é o desperdício no que diz respeito ao número de finalizações criadas e aos gols feitos (e aí, nesse caso, finalizar mais representa fazer mais gols).

E se o aproveitamento de chances construídas em um jogo é o que conta, não quero dizer, evidentemente, que uma equipe vencerá mais se finalizar menos (e nem necessariamente se finalizar mais). Ela vencerá mais se aproveitar melhor as oportunidades de gol criadas – desde que ela aproveite um número maior do que sua adversária!

Então, nos treinamentos, qual parece ser o melhor caminho para que jogadores e equipes cumpram melhor a Lógica do Jogo, e com isso vençam mais? Investir em criar mais oportunidades, e então melhorar seu aproveitamento? Investir em chances?

Analisando desta forma pode até parecer que estou fragmentando a análise das sequências ofensivas e das finalizações em um jogo. Mas, garanto, não estou!

A complexidade sistêmica das minhas indagações moram justamente na ideia de que de certa forma, não está à mercê do acaso o fato de equipes, como por exemplo a do Chelsea no exemplo acima, vencerem jogos mesmo finalizando em média 5,5 vezes por partida.

Não! Não é o acaso; são as circunstâncias…

Mas essa é uma outra e longa discussão que prometo retomar mais para frente…

Por hoje é isso!

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Alguns erros e acertos táticos do Novorizontino sub-20

Dentre as 45 equipes que iniciaram a disputa do Campeonato Paulista sub-20, a equipe do Grêmio Novorizontino terminou entre as 16 melhores. Mesmo com a vitória por 2 a 1 no primeiro jogo das oitavas de final, a eliminação ocorreu após derrota por 1 a 0 em partida contra o Santos FC que, devido à melhor campanha nas fases anteriores, tinha a vantagem do empate.

Como já fiz em outra oportunidade, em que publiquei fotos da equipe principal do Novorizontino após a campanha do acesso à Série A-3, em 2012, repito o tema da coluna, desta vez como treinador e não como adjunto.

A comissão técnica do Novorizontino não possui um profissional específico para a análise de jogo. Sendo assim, todas as fotos no decorrer da competição foram tiradas pelo preparador de goleiros, Carlos Eduardo, que contribuiu significativamente para que o material fornecesse subsídios para intervenções individuais e coletivas visando à melhora do nível de jogo da equipe.

As 13 primeiras fotos referem-se aos problemas apresentados pela equipe, em que alguns deles foram solucionados/minimizados ao longo da competição e as 17 fotos restantes ilustram acertos circunstanciais relativos ao Modelo de Jogo.

Confira o material na íntegra clicando aqui.
 

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Betim Esporte Clube e a Justiça Comum

Apesar de contrariar a Fifa, o futebol brasileiro, para ser mais exato a Série C, está na pauta da Justiça Comum.

Trata-se ação com pedido de antecipação de tutela aviado por Betim Esporte Clube objetivando que a Federação Mineira de Futebol (FMF) e CBF – Confederação Brasileira de Futebol, restituam os 06 (seis) pontos conquistados no Campeonato Brasileiro da Série “C”, e possibilite, por consequência, o seu prosseguimento na competição.

O Betim alega que a punição imposta pela Justiça Desportiva viola a legislação brasileira, e por consequência, a soberania nacional, além de lhe causar graves prejuízos.

Em virtude da decisão Desportiva o Mogi Mirim herdaria a vaga nas quartas-de-final da competição e o Betim poderia até ser rebaixado para a Série D.

Atendendo ao pedido do Betim Esporte Clube, o Juiz da ss Vara Cível da cidade que dá nome ao clube concedeu a medida liminar para determinar que a Confederação Brasileira de Futebol e a Federação Mineira de Futebol restituam os 06 (seis) pontos retirados do Betim Esporte Clube, no Campeonato Brasileiro da Série C, sob pena multa diária de R$ 10.000,00, bem como se abstenham de aplicar outras penas do Código Brasileiro de Justiça Desportiva ao autor e seus dirigentes decorrente do objeto constantes destes autos, suspendendo, ainda, o jogo marcado para segunda-feira, 21/10/2013, que preteriu o clube mineiro, e designem, imediatamente, outra data para realização do jogo entre o Betim Esporte Clube, e o Santa Cruz/PE.

Nesse contexto, importante destacar os efeitos deletérios que decisões da Justiça Comum podem causar ao futebol brasileiro que podem ir desde suspensão de campeonatos, culminando-se com desfiliação da Fifa.

Destarte, ao se filiar à FMF, à CBF e, por consequência à Fifa, o Betim Esporte Clube aceitou uma espécie de cláusula arbitral na qual eventuais demandas desportivas seriam decididas pela Justiça Desportiva.

A busca pela Justiça comum corresponde, em tese, a uma espécie de descumprimento contratual do que o clube avençou para se filiar.

Assim, além de haver incompetência da Justiça Comum por aplicação análoga da Lei de Arbitragem, o clube deve ser punido por descumprimento das normativas que consentiu ao se filiar à FMF, CBF e Fifa.

Urge destacar a imensa insegurança que pode pairar sobre o desporto brasileiro caso os conflitos desportivos sejam levados à Justiça Comum, afastando-se patrocinadores e grandes atletas. Neste sentido, cabe aos operadores do Direito Desportivos auxiliarem a Justiça Comum na adequação de suas decisões aos princípios jusdesportivos.

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Doutor Honoris Causa da Universidad Católica Rogério Ceni

Eu só aposentaria quem teima em apostar contra e a todo momento fica aposentando um mito como Rogério Ceni.

Só ele tem o direito de saber a hora de parar. Não apenas por tudo que é para o São Paulo e para o são-paulino. Mesmo se não fosse tudo que é também para o futebol brasileiro e mundial, ainda assim só cabe a ele decidir se o ano para parar é 2013.

Mesmo se não fosse o que mais ninguém foi no futebol mundial, ainda assim um mínimo de respeito seria necessário ao craque-bandeira tricolor.

Exagerei?

Veja o exagero do jogo de Ceni contra a Universidad Católica.

Ele classificou um time que pediu para ser eliminado, não fossem os gols de Aloísio, os passes de Ganso e, sim, ele, Ceni. O velho Rogério. O ultrapassado goleiro. O… O…. O 01 do São Paulo.

Na primeira defesa difícil, uma cabeçada para o chão ele mandou a escanteio de mão trocada. Não é para qualquer um. Foi para o 01.

Na segunda defesa de cinema de Ceni, a bola já havia passado por ele, e o goleiro tricolor foi tirar quase sobre a linha. Não é para qualquer um. Foi de novo para o 01.

Na terceira defesa espetacular, um chute estranho ele foi buscar como se fosse um animal que não existe. Certamente não para um sujeito de 40 anos. Só possível para o 01 parar aquela bola impegável. Se é que existe o termo. Só existe o Rogério para fazer o que fez.

Na quarta, no segundo tempo, ele foi pego no contrapé numa tijolada. E pegou com as mãos que só ele ainda tem. Não qualquer um. Só para o 01.

Na quinta, uma pancada de canhota, com um monte de gente à frente, ele foi buscar no canto baixo direito. Como milhões torciam e sonhavam. Mas só ele defenderia aquela pancada que ainda bateu no chão. Mas não bateu o 01

Na sexta, canhotaço de sem-pulo, a bola não era tão difícil, mas o quarentão teve reflexo de menino, e de mão trocada de novo salvou os pés são-paulinos. Como só o 01 poderia.

Na sétima, antevisão de craque, ele subiu junto com o rival e espalmou lá no alto. Como só o 01…

Enfim, você sabe.

E ele sabe ainda mais.

Desde 2005, contra o Liverpool, Rogério não defendia tanto.

Desde então, nenhum goleiro deve ter defendido tanto quanto o goleiro que já ganhou mais um título de doutor honoris causa da Universidad Católica.

Atuação tão inacreditável que não lembro de elogiar tanto um goleiro que tenha sofrido três gols – um de pênalti.

Olha que o marketing são-paulino deve ter pedido para Douglas errar tudo que errou (e a arbitragem também…) para Rogério fazer os 2938745 milagres realizados no Chile.

Em homenagem ao aniversário de Pelé, Ceni teve uma partida de Pelé.

Ou simplesmente de Rogério.


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Lesão em final de temporada, como reagir?

A temporada do futebol se aproxima do fim e, devido ao excesso de jogos, muitos atletas chegam ao limite do estado físico e mental, fato este que eventualmente levam alguns a sofrerem lesões que podem tirá-los das partidas finais do calendário.

Imaginem os atletas que se encontram nesta situação: como eles podem reagir e buscar motivação para buscar a recuperação em final de temporada?

Sabemos que uma lesão ocasiona reações psicológicas adversas no atleta e um dos modelos mais aceitos que explicam como um atleta reage é o modelo de grief reaction, proposto por Kubler-Ross. Neste modelo, após a lesão o atleta passa por cinco estágios emocionais:

• Negação
• Raiva
• Barganha ou negociação
• Depressão
• Aceitação e reorganização

A maioria dos atletas passa pelas cinco fases, mas a velocidade e a facilidade para a transição entre elas variam de um atleta para outro, podendo durar dias ou até meses.

Conhecendo o cenário citado acima, como podem os clubes contribuir para promover um adequado processo de reabilitação do atleta lesionado?

Várias técnicas de superação podem ser utilizadas com o objetivo de potencializar e facilitar de alguma forma o processo de reabilitação. Dentre as existentes podemos citar:

• Estabelecimento de metas
• Auto conversação
• Relaxamento
• Visualização

Aqui iremos detalhar a auto conversação como uma das técnicas que podem ser utilizadas com os atletas.

A adoção desta técnica é importante pois ajudar a lidar com o baixo nível de confiança apresentado pelo atleta no período de reabilitação. O atleta aprender como e ser capaz de conseguir bloquear pensamentos negativos, como por exemplo: “Eu nunca vou melhorar”; ele precisa substituir estes pensamentos por outros realísticos e positivos tais como: “Estou me sentindo mal hoje mas estou cumprindo meus planos traçados para a reabilitação. Devo ser paciente e assim vou conseguir me recuperar”.

Pensar de maneira positiva contribui para o bem estar pessoal e a saúde do atleta, e este comportamento indica uma boa orientação para a busca para a melhora clínica. Ievleva & Orlick (1991) mostraram em estudo que os indivíduos cujas auto conversações eram positivas, auto encorajadoras e determinadas recuperavam-se mais rapidamente do que aqueles cujas auto conversações eram negativas e autodepreciativas.

Confira alguns exemplos de auto conversação, adaptado de Ievleva & Orlick (1991). Auto conversação positiva do grupo de reabilitação rápida

• “Como eu posso fazer o máximo?”
• “Eu posso vencer isto!”
• “Eu quero jogar. Eu vou me curar totalmente para isso.”
• “Estou me sentindo muito melhor.”
• “Estou melhorando cada dia mais.”

Auto conversação positiva do grupo de reabilitação rápida

• “É provável que isto vá demorar muito para melhorar.”
• “Eu nunca vou conseguir recuperar o tempo perdido.”
• “Nunca vou estar forte como antes.”
• “Que coisa estúpida para fazer, erro ridículo.”

Caro amigo, com o conhecimento acima acredito que os clubes devem utilizar as técnicas de superação para potencializar a recuperação de seus atletas, seja para a temporada atual ou até para que iniciem a próxima aptos à prática desportiva.

E você, o que acha desse investimento de tempo, vale a pena?!

Até a próxima!

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Plateia

O futebol brasileiro já começou a viver uma nova realidade. Deflagrado pela Copa do Mundo de 2014 e pelo bom momento que a economia do país viveu, o processo de rejuvenescimento de arenas esportivas impingiu ao público um patamar diferente de ambiente. Dentro dessas "cascas", contudo, o cenário local ainda está longe de evoluir. E isso inclui o comportamento de quem as frequenta.

Foi essa situação que o atacante Walter, do Goiás, escancarou no último domingo. O time esmeraldino bateu o Atlético-PR por 3 a 0, chegou ao quarto triunfo seguido no Campeonato Brasileiro e ficou a quatro pontos da zona de classificação para a próxima edição da Copa Libertadores. Ainda assim, o comportamento dos torcedores foi reprovado pelo jogador que já anotou 12 gols no certame nacional.

"Isso é uma palhaçada. Não é torcedor. Nosso times está brigando pela Libertadores. Podemos pensar nisso, já que a parte debaixo da tabela ficou para trás. Mas com essa torcida nós não vamos chegar", opinou Walter no domingo, em entrevista coletiva.

O Goiás jogou contra o Atlético-PR no Serra Dourada – um estádio da “velha guarda”, diga-se. A partida teve apenas 13.713 pagantes, e o árbitro Péricles Bassols chegou a interromper o duelo durante o segundo tempo por causa de um tumulto entre torcedores nas arquibancadas.

“Hoje era jogo para 30 mil pessoas. Não chegamos [a esse número], e quem veio ainda fez isso”, disse Walter.

O Goiás tem média de 12.796 pagantes por jogo como mandante no Campeonato Brasileiro de 2013 – número inferior à média da competição, que é de 14.250 pessoas por jogo. O time esmeraldino é o décimo na lista dos que mais levam gente aos estádios.

O primeiro ponto nessa discussão é a quantidade. E quantidade, no caso de um evento, tem relação direta com promoção. Os números do campeonato e do Goiás estão muito aquém do potencial de ocupação das arenas, e um dos fatores que justificam isso é a falta de uma promoção adequada.

Outro aspecto a ser considerado é o que foi discutido aqui na semana passada, quando falamos sobre o primeiro jogo da NBA no Brasil: a experiência de um torcedor não começa e não acaba dentro do estádio. O sucesso depende do que as pessoas vivem desde quando descobrem que o evento vai acontecer, passando pela compra e pela vivência no interior da arena. O último estágio encerra-se apenas quando o adepto volta para casa.

E se a NBA teve problemas nas fases antes e depois do evento, ao menos entregou ao público algo absolutamente bem feito entre essas etapas. Foi algo bem produzido, com várias atrações e uma execução muito competente. Havia vendedores bem treinados, lojas com produtos especiais, ações dentro e fora da quadra. Tente comparar isso, agora, com o que acontece em qualquer partida de futebol.

O futebol brasileiro está diante de 14 novas arenas (as 12 da Copa do Mundo, além das novas casas de Grêmio e Palmeiras). No entanto, a gestão desses aparatos ainda é exatamente a mesma que existia em estádios antigos. Só a casca mudou.

Essa lógica vale para serviços, ações de marketing e para o uso comercial das arenas. Hoje, estádios servem para sediar jogos e shows. E as outras incontáveis formas de se ganhar dinheiro com um aparato como esses?

No Brasil, estádios novos e estádios velhos têm gestão envelhecida. Em diferentes instâncias, o comportamento arredio dos torcedores é reflexo disso.

A falta de uma promoção adequada afasta muitos perfis dos estádios e concentra os fanáticos. Esse é um ponto. Entre os que vão às arenas, também é notória a falta de zelo com algo que não entrega um bom serviço. Mas falta, independentemente do cuidado, algum tipo de didática destinada ao público.

Comportamento reflete o repertório das pessoas, é claro, mas comportamento de grupo pode – e deve – ser minimamente doutrinado. Não é por acaso que aeromoças fazem todo aquele mis-en-scène antes de qualquer voo.

Cinemas também têm, antes de qualquer filme, uma série de recados sobre o comportamento adequado para aquele ambiente. Isso não evita que pessoas conversem durante os filmes ou incomodem com a luz de tablets e smartphones da vida, mas o combo aviso + controle ajuda a reduzir bastante a incidência desse tipo de prática.

A gestão eficiente de uma arena está intrinsecamente ligada à capacidade de doutrinar o público. Ensinar que as pessoas devem adotar algumas práticas e abolir outras é muito importante para alavancar o potencial de negócios de um espaço.

No futebol, iniciativas voltadas a ensinar o público muitas vezes são mal interpretadas ou mal vistas. O argumento mais usado é que torcedores são diferentes da plateia de qualquer espetáculo.

Torcedores são diferentes, sim. Eles têm com o evento e os times uma relação mais passional do que consumidores regulares, e isso influencia no julgamento e nas decisões. Entretanto, é inadmissível um gestor esperar que isso e uma casa bonita sejam suficientes para que as pessoas mudem comportamentos que são mais do que tradicionais.

Walter tem total razão ao condenar o comportamento da torcida do Goiás no jogo do último domingo. Ele só não pode achar que a culpa é apenas do público e que a solução será natural.

As declarações dadas pelo maior destaque individual do atual elenco do Goiás podem ajudar a criar uma conscientização entre os torcedores. Isso seria melhor e mais eficaz, porém, se pelo menos para isso tivesse havido algum planejamento.