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Nenhuma evolução

O ocorrido em Natal-RN no último sábado (05-out) no Estádio Frasqueirão, que retardou o início do jogo entre ABC e Palmeiras, jogo válido pelo Campeonato Brasileiro da Série B, não é simplesmente a cena do absurdo ou do descaso. É, na realidade, a prova cabal de que não evoluímos nada em termos de tratamento e cuidado com o torcedor.

E aqui não estamos falando em luxo, mordomias, cadeiras confortáveis e tantos outros complementos que caracterizam as novas arenas multiuso a que tanto defendemos.

Estamos diante do eterno descaso que se dá a segurança – e que acaba, naturalmente, se refletindo indiretamente nas simbologias de estádios modernos citadas no início deste parágrafo.

Se ainda não aprendemos o básico, não há como se esperar que haja a efetiva entrega de valor adicional ao torcedor.

Vamos comparar:
 

1989

Estádio Hillsborough, em Sheffield – Semifinais da Taça da Inglaterra entre Liverpool e Nottingham Forest

1992

Estádio Maracanã, Rio de Janeiro – Final do Campeonato Brasileiro entre Flamengo e Botafogo

2000

Estádio São Januário, Rio de Janeiro – Final do Campeonato Brasileiro entre Vasco da Gama e São Caetano

2013

Estádio Frasqueirão, Natal – Jogo válido pelo Campeonato Brasileiro da Série B entre ABC e Palmeiras

Não que a comparação com a Inglaterra seja o símbolo da perfeição de um lado com o do caos de outro. Mas, o fato é que, enquanto uma tragédia impactou em uma mudança de 180º no país da rainha, por aqui, continuamos a assistir situações de total descaso, sem que haja qualquer iniciativa, seja por parte dos clubes, seja por parte da entidade de administração do esporte, para que haja uma solução efetiva.

Já não adianta mais a punição pela punição, como a perda do mando de campo ou a aplicação de multa pecuniária. O Poder Público também tem se mostrado ineficiente quando o assunto é a responsabilização civil dos dirigentes. As sanções devem começar a impactar o resultado esportivo.

Enquanto isso não ocorrer, basta ficarmos, de camarote, assistindo ao próximo absurdo no tocante ao tratamento ao torcedor. E depois não adianta reclamar que este mesmo torcedor abandone o clube em momentos de crise da equipe ou que continue registrando taxas pífias de ocupação do estádio.

Basta sempre rememorar que não o respeitamos no momento que mais precisamos dele…

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Por que tudo que você sabe sobre futebol está errado

Rodrigo Leitão, ídolo e companheiro de coluna aqui na Universidade do Futebol, já havia abordado o tema em texto publicado no dia 22 de setembro deste ano.

Voltei a ouvir sobre o assunto em uma reunião de jornalistas, e essa segunda referência foi suficiente para aguçar demais a curiosidade. Fui atrás do livro “Os números do jogo – por que tudo que você sabe sobre futebol está errado”, de Chris Anderson e David Sally (Editora Paralela, 352 páginas), e desde então ainda não consegui desgrudar da obra.

Anderson chegou a tentar carreira como jogador de futebol, mas atualmente trabalha como professor de estatística na universidade Cornell, situada nos Estados Unidos. Sally também trocou o beisebol por uma vida como docente no ensino superior norte-americano – é funcionário da Tuck School of Business.

Os dois resolveram escrever um livro para esmiuçar o futebol por meio de dados estatísticos. A obra mistura histórias e dados que balizam uma série de conclusões dos autores sobre o jogo.

O livro conta, por exemplo, que o técnico David Moyes era um usuário contumaz de estatísticas quando comandava o Everton na elite do futebol inglês. O trabalho de análise no time de Liverpool é feito por Steve Brown e Paul Graley, que reúnem informações sobre adversários, possíveis reforços e os próprios atletas da equipe.

Antes de um jogo, Brown e Graley analisam vídeos das cinco partidas anteriores do rival do Everton. Buscam padrões e tentam identificar comportamentos que a equipe pode coibir para se aproximar de uma vitória.

Moyes teve trajetória de sucesso no Everton. Deixou o clube no meio deste ano para substituir o lendário Alex Ferguson no comando do Manchester United. No gigante inglês, manteve o apreço por estatísticas e dados analíticos. Até aqui, o resultado disso é o pior início da história do clube na Premier League.

É praticamente impossível ler o livro de Anderson e Sally sem fazer comparações com a história do filme “Moneyball”, obra dirigida por Bennett Miller em 2011. O longa-metragem conta a história real de Billy Beane, gerente do time de beisebol Oakland Athletics em 2002.

Naquela época, os A’s haviam perdido os três melhores jogadores. E Beane, em busca de reposição, apelou a uma metodologia baseada em números e estatísticas. Ele não apenas usou os números, mas interpretou esses dados de uma forma diferente.

Estatísticas são muito comuns no esporte dos Estados Unidos. LeBron James, maior jogador de basquete do planeta, é um fã do assunto. Ele defende o Miami Heat, time da liga de basquete profissional dos Estados Unidos (NBA), e a franquia conta com Shane Battier, outro atleta conhecido por ser muito estudioso.

Em entrevista concedida no ano passado, Battier revelou que ficou impressionado quando conheceu o apreço de James pelas estatísticas. O craque da equipe usa os dados diretamente no jogo – se ele está marcando alguém e esse atleta tem índices ruins em chutes no lado esquerdo, por exemplo, o camisa 6 força o rival a driblar nessa direção.

James precisa acionar o banco de dados mental em vários momentos de um jogo. O basquete é um esporte que envolve decisões urgentes e tem alto grau de exigência. Ainda assim, é possível tirar vantagem dos dados.

A repercussão sobre o livro de Anderson e Sally focou mais os dados que eles levantaram. Os pesquisadores analisaram dez temporadas da Premier League, por exemplo, e concluíram que um time faz um gol oriundo de cobrança de escanteio a cada dez partidas. O baixo aproveitamento sugere que fazer cruzamentos para a área não é a melhor opção nesse tipo de lance.

Os números obtidos pelos autores, contudo, são apenas parte da história. O futebol é um jogo complexo e oferece diferentes caminhos para a vitória. Um time pode optar por controlar a bola até encontrar espaços na defesa rival, por exemplo, ou tentar tomar a posse no campo de ataque e aproveitar um momento em que o adversário esteja menos arrumado. São duas estratégias distintas, que dependem de características e ações distintas.

É possível aproveitar a estatística de forma direta. Se o time rival tem um jogador com aproveitamento muito bom em cobranças de falta, a equipe precisa ser orientada a não cometer infrações que permitam tiros diretos. Esse é apenas um exemplo simples.

No entanto, o grande negócio é entender que tipo de comportamento esses números traduzem. É possível mapear a postura de um time a partir das estatísticas, mas como prever as reações dos atletas rivais às suas estratégias?

Traduzindo em exemplo: você pode identificar por meio de números que o rival tem uma fragilidade quando sai jogando pelo lado esquerdo da defesa. Você pode optar então por uma marcação que force a bola a passar por ali. E quando o lance estiver no setor, você pode adiantar a linha ofensiva para pressionar o adversário.

Tudo isso pode funcionar, mas também pode exigir do jogador pressionado uma decisão que abra caminho para um lance que ele não faria normalmente. Essa é a parte complexa da coisa.

O próprio livro de Anderson e Sally apresenta uma comparação entre vários esportes coletivos. Segundo os autores, o baixo número de gols marcados faz do futebol o evento mais imprevisível entre essas modalidades.

Os autores dizem que o time mais forte vence uma média de 70% dos jogos no handebol. O basquete e o futebol americano ficam um pouco abaixo desse índice, e o beisebol tem triunfos dos favoritos em 60% do tempo. No futebol, a incidência de resultados lógicos é pouco maior do que 50% das partidas.

Com base nisso, os próprios autores atribuem ao futebol um alto grau de imprevisibilidade. É possível mapear eventos e entender caminhos do esporte a partir de dados estatísticos, mas há vários componentes que não podem ser medidos.

Conheci um técnico uma vez que dizia sempre o seguinte: “Não há gol no futebol que não seja ocasionado após pelo menos oito erros do time vazado”. A tese dele é que, se você isolar componentes de um lance que acabou com bola na rede, vai perceber que quase todos os atletas tomaram decisões erradas. Ou que um mesmo jogador teve várias decisões errada.

Ainda não terminei de ler o livro de Anderson e Sally, mas recomendo muito. Eles estudaram, pesquisaram e mostraram uma série de informações que podem nortear o entendimento sobre o futebol. A obra é rica e tem um texto simples, com boa fluência. Não é um amontoado chato de estatísticas.

O que o livro deles não explica – e nem parece ter pretensão de explicar, diga-se – é o componente humano. Números podem reduzir drasticamente a margem de erro, mas as decisões vão seguir sendo tomadas por pessoas.

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Esporte e Educação para todos, não para poucos

Ana Moser, à frente do movimento Atletas pelo Brasil, insiste que a luta do grupo que lidera destina-se a criar condições favoráveis de prática esportiva para todos, não para poucos.

Como política esportiva, dentre outras bandeiras, o movimento defende que o foco deveria ser a prática esportiva inclusiva nas escolas, desde o ensino fundamental.

Uma parte importante desse processo, no Brasil, passa pelos investimentos em infraestrutura esportiva, uma vez que 75% das escolas do país não possuem espaço (quadra) para oferecer atividades esportivas e menos de 1% possuem estrutura ideal (http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/06/04/menos-de-1-das-escolas-brasileiras-tem-infraestrutura-ideal.htm)

Não é que dispõem de algo “mais ou menos”. Não possuem espaço dedicado aos esportes. Mesmo porque, antes disso, faltam-lhe salas, banheiros, bibliotecas, refeitórios…

Ou seja, recursos materiais são fundamentais: Quadras, equipamentos públicos, artigos esportivos acessíveis e de qualidade.

Recursos humanos também faltam em quantidade e qualidade significativas. Profissionais de Educação Física nas escolas, por incrível que pareça, são raros no país, em geral (exceções feitas às Regiões Sudeste e Sul).

Somem-se a isso, por exemplo, as possibilidades e intenções políticas de se reduzir a carga horária da disciplina nas escolas municipais e estaduais, e a equação de subdesenvolvimento esportivo estará criada.

Enquanto o esporte não for considerado, na gestão de políticas públicas, como meio de transformação social, inclusão e educação – lutemos para isso – sua disseminação qualitativa ficará muito limitada no Brasil.

O esporte pode mudar com a ajuda da educação. Sim! Enquanto o contrário ainda não seja possível, o melhor caminho é disseminar o conhecimento, a formação e a capacitação de todos aqueles que se interessem pelas variadas dimensões do esporte e nele atuem profissionalmente.

A estratégia é massificar o conhecimento sobre e para o esporte, sem descuidar da qualidade.

Moocs.

Em outras palavras, massive open online courses, cursos online abertos e, muitos deles, gratuitos.

Grandes universidades do mundo todo já oferecem cursos de diferentes áreas do conhecimento, com variações em seus modelos, tecnologia das plataformas, validade da certificação, gratuidade ou pagamento de mensalidades, etc.

Os três maiores portais do mundo oferecem 500 cursos distintos e não param de investir na qualificação e expansão do ensino à distância.

A única fronteira existente para que ganhem o mundo é o idioma. Mas, até isso, a tecnologia dá conta de contornar.

No Brasil, 15% dos universitários estão vinculados ao ensino à distância.

Nesse sentido, a Universidade do Futebol, pioneira no esporte e no futebol, ocupa papel de destaque e, sem dúvida, irá figurar, em breve, no rol das maiores e melhores iniciativas do gênero no mundo todo.

Os cursos Educar pelo Esporte e Educar pelo Futebol, dentre o leque de cursos técnicos e de gestão oferecidos pela Universidade do Futebol, são de vanguarda mundial e tem a capacidade de articular parceiros do setor público, do setor privado e do 3º setor, para disseminar seus conteúdos e contribuir com a formação de redes articuladas de ensino, pesquisa e mobilização social.

E, na esteira disso, as redes formarem outras redes, e outras redes, e outras redes…

A educação não precisa esperar, sentada, primeiro pela visita do esporte e do futebol.

Ela pode, sem cerimônia, bater à porta destes agora, que será muito bem-vinda e bem recebida.

Certamente, haverá retribuição da hospitalidade e cortesia, no futuro.

E o Brasil agradecerá por essa duradoura união.

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Futebol: a fisiologia do desgaste, a resistência de concentração, a criatividade e os erros de decisão

O futebol jogado em altíssimo nível competitivo tem peculiaridades muito importantes.

Claro, como esporte coletivo que é, de "invasão de território", com companheiros, adversários, bola, terreno de jogo e alvos bem definidos é de se esperar que um "sem número" de eventos bem interessantes e particulares se expressem a todo o tempo durante partidas de futebol.

Assim como outros esportes coletivos de invasão, existem diversas ações de alta intensidade durante um jogo; ações que nascem de maneira aleatória, acíclicas e interligadas, e intercaladas por momentos de recuperação – (recuperação ativa ou não, fisicamente falando – a partir do viés sistêmico, a recuperação é sempre ativa).

Sob o ponto de vista fisiológico o futebol é surpreendente. Nos tempos atuais, um jogador de futebol pode percorrer 14,0 km em uma partida (nos dados apresentados pela Uefa, em jogos da Champions League, não é incomum que esse valor apareça) – o mais comum é que a distância final média percorrida por um jogador em 90 minutos fique entre 8,5 e 12,0 km, dependendo da posição, função, equipe e circunstâncias do jogo.

Estudos mostram que, no futebol europeu, é mais comum distâncias finais mais próximas de 11,0 km. No Brasil, os poucos trabalhos publicados com jogadores profissionais a respeito do tema e os dados monitorados por alguns clubes, mostram mais frequentemente algo por volta de 9,0 km.

Dentre os esportes coletivos de invasão – (como por exemplo, futsal, basquetebol, handebol, rúgbi, etc.) é o futebol aquele em que a distância percorrida pelos jogadores e equipe é maior: no basquetebol enquanto um jogador percorre algo em torno de 5,0 km, no handebol cerca de 4,6 km, no futsal no campeonato espanhol por exemplo 4,6 km, e no último jogo do FC Barcelona na Champions League, 10,8 km para o jogador Iniesta – em jogo que sua equipe venceu pelo placar de 4 a 0.

Claro, as dimensões do terreno de jogo no futebol, associadas ao tempo de duração e ao número reduzido de substituições de jogadores em uma partida, o tornam um dos mais desgastantes dentre todos – e se pesarmos o fato de que o futebol é jogado ao ar livre, sob sol, sereno e/ou chuva fica mais fácil ainda entender as dimensões do desgaste que proporciona aos seus praticantes (e a acentuada perda de massa corporal nas partidas).

Autores importantes da fisiologia e bioquímica do esporte (como por exemplo, Bangsbo, Gunnarsson, Nédelec, Nielsen e seus colaboradores) vem relatando ao longo dos anos que se todos os procedimentos nutricionais e de recuperação forem realizados em favor do jogador após uma partida em que jogou 90 minutos, é possível que após 96 horas do jogo (ou seja, mais do que as 72 horas normalmente admitidas como necessárias), o atleta ainda não tenha conseguido recuperar 100% do seu glicogênio muscular – combustível importantíssimo para jogar futebol.

Se tomarmos o Brasil como exemplo, é possível que por questões geográficas, associadas a variáveis logísticas de viagens, clima e gramados, as preocupações com o desgaste sofrido por um jogador tenham que ser ainda maiores do que as normalmente tidas como "padrão".

E o grande número de acelerações, frenagens e tomadas de decisão que um jogador de futebol realiza em uma partida (com ou sem bola) faz com que o desgaste metabólico/energético não seja o único grande problema para a recuperação e para os jogos: há ainda prejuízos neuromusculares importantes que na prática levam ao aumento de erros nas "ações técnicas", por prejuízo na coordenação fina – e acumuladamente a lesões – além de erros de decisão que podem levar o jogador a ações técnico-táticas equivocadas.

O futebol é também essencialmente um jogo de "resistência de concentração", onde há uma "briga" constante para a manutenção do foco naquilo que precisa ser feito em nível de excelência e em frações ínfimas de tempo.

Então, sob o ponto de vista da neurociência e da psicologia do esporte, o desgaste global do jogador de futebol em uma partida é resultado de um sem número de fatores que interligados e integrados criam um emaranhado de variáveis que dão caráter de complexidade sistêmica ao jogo.

Esse desgaste sistêmico, acumulado ao longo de semanas de jogos e recuperações incompletas vão resultando, a médio prazo, em jogadores com desempenhos menos constantes, ações técnicas menos precisas e repressão a criatividade.

A longo prazo os prejuízos acumulados podem levar a jogos menos atrativos, jogadores mais cansados, propensos a lesões, e claro, carreiras atléticas de alto nível competitivo encurtadas.

Como escrevi no início do texto, o futebol, jogado em altíssimo nível competitivo tem peculiaridades muito importantes, e se não olharmos para elas "complexamente" poderemos não entender ocorrência em princípio atribuídas a "sorte" e "acaso".

É isso…

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A venda de cervejas no Serra Dourada

Conforme já exposto em outra coluna, a empresa Parlamento Restaurante Ltda havia proposto ação contra a CBF a fim de viabilizar venda de bebidas alcoólicas no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Após concessão da liminar, na sentença a Magistrada entendeu que o Estatuto do Torcedor proíbe a venda de bebidas alcoólicas e suspendeu sua comercialização.

Vale destacar que, ao contrário do que afirmou a Magistrada, o Estatuto do Torcedor não proíbe a venda de bebidas alcoólicas, eis que o art. 13-A da referida lei estabelece como condição de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência. Ou seja, , não há qualquer vedação expressa à venda de bebidas alcoólicas.

Recentemente uma decisão judicial do estado de Goiás trouxe novamente o debate à tona, eis que foi concedida medida liminar para venda de cerveja no estádio Serra Dourada sob o fundamento de que o produto é culturalmente ligado ao futebol e que a CBF não tem direito de impedir qualquer comércio dentro dos estádios, que são de propriedade dos clubes ou de governos municipais ou estaduais.

O juiz mencionou, ainda, o prejuízo que os comerciantes têm com a proibição oriunda de uma resolução da da CBF e acrescentou que se a cerveja é tida como um dos fatores que contribuem para a violência nos estádios, quem tem que tomar as devidas providências é a Polícia Militar.

Ora, os bares do Serra Dourada cumprem todas determinações legais como alvará de licença do Município de Goiânia. Ademais, conforme o inciso II, do art. 5º, da Constituição Brasileira, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da Lei.

Deve o Poder Público criar formas de se combater a violência, ao invés de estabelecer proibições.

Ante o exposto, entende-se como corajosa e louvável a decisão do Juiz goiano, eis que foi contrária aos interesses do Ministério Público, da CBF e até mesmo de setores da opinião pública.

Doutro giro, a referida decisão mostra coerência com o que estabelece a legislação brasileira (especialmente a Constituição), bem como está em consonância com com os estudos modernos acerca da violência nos estádios de futebol.

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O goleiro e a sua liderança em campo

Já ouvimos diversas vezes no meio do futebol a velha frase: “Toda grande equipe sempre começa por um grande goleiro!” e isso na prática nos parece verdade não é mesmo?

O goleiro que inspira confiança à sua equipe tende a ser realmente um grande destaque na sua posição, mas isso se conquista com muito treinamento apurado e condições físicas excepcionais para que este atleta possa desempenhar seu papel com precisão e a segurança esperada por todos. Mas aqui cabe ressaltar que todo goleiro precisa também ter algumas qualidades psicológicas que são indispensáveis a posição, tais como:

CORAGEM: Esta posição exige a coragem necessária para enfrentar a todo momento as diversas investidas contra sua meta.

CALMA: O goleiro deve estar sempre consciente, analisando e observando a melhor maneira de defender seu gol e esta atividade exige tranquilidade elevada para escolher as melhores opções de ação ou reação.

CONCENTRAÇÃO: Do goleiro exige-se que ele nunca se distraia ou desligue da partida, pois sua atenção no jogo e no adversário pode ser decisiva para o resultado de uma partida.

INICIATIVA: Muitas vezes um breve momento de indecisão do oponente pode ser o suficiente para que o goleiro recuperar a posse de bola.

LIDERANÇA: Por ser o último defensor da meta, naturalmente o goleiro exerce liderança em campo, comandando sua defesa e orientando os atletas em situações de perigo.

Ao observarmos as qualidades psicológicas acima citadas, podemos compreender como é importante o papel do goleiro em campo e isso nos relembra a importância de sua liderança na equipe.

Ao comandar a organização de sua área, o goleiro exerce uma liderança incontestável sobre os demais atletas que ao demonstrarem confiança nele seguem sua orientação com a certeza de que estão fazendo o melhor naquela ocasião. Sendo assim, podemos dizer que todo bom goleiro tem as características podem leva-lo a ser um bom líder.

Então, o desenvolvimento da competência de líder coach é mais do que necessária para todos os goleiros uma vez que invariavelmente estes estarão expostos ao longo de sua carreira a situações que lhe exigirão agir aplicando tais competências. Enquanto líderes necessitarão, por exemplo:

• Ter capacidade de motivar,
• Comunicar com excelência,
• Inspirar os demais à ação,
• Orientar tática e estrategicamente,
• Demonstrar autocontrole,
• Atuar como um integrador em campo.

E fica a reflexão: será que estamos preparando nossos goleiros para atuarem com excelência física, técnica e comportamental para que estes possam conquistar a alta performance na sua posição?!

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Qual o tamanho do bolso?

Reta final do Campeonato Brasileiro das divisões de acesso para a primeira e a história se repete, ano a ano: os dilemas para as equipes de menor expressão e poucos investimentos em disputar competições contra os grandes clubes do futebol nacional.

O dilema passa por entender o quão sustentável é o projeto de cada um destes clubes: como se dá o investimento? Foi construído com que tipo de recurso? A economia da cidade terá poder para suportar e manter o projeto?

E, principalmente, em muitos casos, qual o tamanho do bolso do presidente ou núcleo de diretores do clube? São eles que, mais das vezes, costumam cobrir os déficits gerados a cada mês.

O custo na 1ª Divisão é elevadíssimo e as receitas adicionais oriundas de patrocinadores, TV ou bilheteria não são proporcionalmente superiores a estes custos.

É o que se costuma dizer no futebol: subir nem sempre é uma tarefa tão complicada. O difícil mesmo é construir um projeto sólido, que permita permanecer por um longo período, competindo em alto nível com os principais clubes do Brasil.

Eis a missão nem sempre simples diante de um mercado cuja cultura é a de pensar e agir pelo imediatismo ante a estruturação de projetos.

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Reducionismo

O reducionismo está entre os maiores males do futebol brasileiro. Tema muito presente no cotidiano local, o esporte é tratado recorrentemente como um tópico de domínio público. Essa abordagem prejudica a imagem, a comunicação e até a gestão do setor.

A questão do custo é um exemplo. A maioria das discussões é pautada por "está caro" ou "está barato". Ora, mas caro e barato são conceitos absolutamente subjetivos. O preço das coisas depende da demanda e do perfil de público que você pretende atrair.

Não defendo um esporte elitista. Aliás, ao contrário. Mas antes de saber a quem se destina, o futebol precisa testar sua abrangência. É inadmissível que o esporte não saiba a quem atinge e a quem pretende atingir.

Em crise no Campeonato Brasileiro, o São Paulo reduziu o preço dos ingressos nos jogos como mandante. Isso ampliou de 8.553 para 35.335 a média de pagantes em partidas do clube no Campeonato Brasileiro. Foi o suficiente para muita gente asseverar que o incremento de torcedores a despeito do momento ruim é prova irrefutável de que o preço afasta pessoas dos estádios.

O preço afasta, evidentemente. A questão, contudo, é muito mais abrangente. Discutir apenas o preço é um reducionismo que não ataca os problemas e não oferece nenhuma solução para a gestão do esporte.

No último domingo, após ter perdido para o Grêmio em pleno Morumbi, o São Paulo foi aplaudido por parte do público presente. Esse comportamento não vinha sendo registrado quando o clube cobrava mais caro.

Portanto, há dois argumentos favoráveis à redução do tíquete médio (o incremento do número de pagantes e o comportamento). Ainda assim, o tema não pode ser abordado com uma visão simplista.

A começar pela parte financeira: com mais gente, o São Paulo fatura mais com bilheteria. Mas e a receita completa de match day? E o consumo no interior do estádio? Com mais gente no Morumbi, o clube está aproveitando para vender mais produtos e expor melhor os parceiros?

A segunda questão é: ainda que a média de público tenha aumentado, o Morumbi está aquém da lotação. O São Paulo não pode mais mexer no preço. Então, como fazer para atrair outras dezenas de milhares de torcedores ao estádio?

Uso o São Paulo apenas como exemplo, mas a lógica vale para todos os times do futebol brasileiro. As equipes precisam urgentemente se questionar sobre o porquê de não jogarem para estádios abarrotados. A evolução do público pagante no Morumbi mostra que o preço é um dos fatores, mas que pode haver outros aspectos a serem trabalhados.

Outro ponto é: para que serve um público maior no estádio? A resposta mais óbvia é que o futebol é uma atividade popular. Times e adeptos têm relação de interdependência. De novo, porém, encerrar a discussão assim seria simplificar demais uma questão que não é simples.

Com mais gente no estádio, um time tem a chance de comercializar mais produtos, incrementar a receita de match day e expor melhor os patrocinadores, por exemplo. A equipe também pode atrair novos mercados e fazer ações institucionais para construir uma imagem adequada.

Público no estádio não é apenas receita de bilheteria. Tampouco é apoio ou crítica aos times que estão em campo. Torcedores que decidem ir a um campo de jogo são um campo de possibilidades. Não ver isso é um reducionismo extremo.

No entanto, esse não é o único assunto em que há simplificações. Outro exemplo é a discussão sobre calendário. Um grupo de jogadores de futebol das duas primeiras divisões do Campeonato Brasileiro lançou na última semana um manifesto chamado Bom Senso F.C., coletivo que pede participação dos atletas em discussões sobre a condução da modalidade.

Desde que esses atletas publicaram o manifesto, tenho acompanhado bastante a repercussão do caso em redes sociais e comentários de textos publicados na internet. Em geral, o assunto gera uma discussão dicotômica entre os que defendem mais jogos e os que preferem uma redução.

A polarização entre os que dizem que jogadores de futebol ganham milhões e não podem reclamar de entrar em campo e os que condenam o excesso de partidas desperdiça uma oportunidade de aprofundar o debate. A questão não é apenas a quantidade de apresentações.

Ainda que o número de jogos interfira diretamente no rendimento dos atletas, a discussão tem de ser ampliada. Um calendário mais adequado pode aumentar a velocidade e a qualidade das partidas, por exemplo. Mas é fundamental que essa teoria seja embasada por estudos e análises consistentes.

Nos Estados Unidos, a temporada regular do futebol americano tem 17 rodadas distribuídas entre o início de setembro e o fim de novembro. Os playoffs são realizados no começo do ano, e o Super Bowl, jogo que define a NFL, é realizado normalmente em fevereiro. São seis meses de atividade por ano.

A enorme janela que a NFL cria no calendário tem uma série de explicações. A liga se preocupa com o condicionamento dos atletas, por exemplo, e reduz o número de jogos para transformar todos em eventos verdadeiramente especiais. Mas também há uma relação direta com os calendários de outras ligas esportivas.

Um calendário mais adequado no futebol brasileiro afetaria diretamente a televisão, que paga caro para transmitir o esporte e teria de abrir mão de algumas datas. O exemplo dos Estados Unidos mostra que essas janelas podem ajudar a desenvolver e dar espaço para outros esportes.

É claro que as realidades dos dois países são muito diferentes e que a TV aberta do Brasil dificilmente colocaria numa noite de quarta-feira um jogo de outro esporte. Transportar para cá o exemplo dado pelos norte-americanos seria mais um reducionismo. O que eu peço é que as pessoas olhem para o que está além da simples discussão sobre o número de partidas.

O reducionismo afeta até análises sobre jogos. No Brasil, muitos partem da premissa de que entender de futebol é sinônimo de acompanhar futebol, conhecer regras e saber detalhes históricos. O pecado aí é ignorar os motivos.

Nesta semana, ouvi pelo menos cinco comentaristas de rádio dizendo que "o problema do Corinthians é que não faz gols" ou coisas similares. O time alvinegro é outro que está em crise: não vence há oito partidas, e balançou as redes apenas uma vez nesse período.

Dizer que o problema é não fazer gols é mais um reducionismo. A discussão deve ser o porquê de a equipe não atingir a meta adversária. Relatar o que acontece é relevante, mas não provoca e não cria debates. Já passou da hora de o futebol ser visto como um evento complexo.

A mesma dicotomia provocada pela discussão sobre calend&aa
cute;rio aparece nesse ponto. Comentários na internet dividem o público entre os que dizem "tal comentarista nunca jogou bola e não tem direito de opinar" e os que preferem o "esse cara não estuda e não tem conteúdo para opinar".

Boleiros ou estudiosos podem cometer erros similares. A questão não está na formação ou na abordagem, mas no conteúdo. Assim como as pessoas, o futebol é complexo e tem perfis muito diferentes. Não ver isso é reducionismo.