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Individualismo cego

O racha no Clube dos 13 só beneficia quem quiser comprar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Sem um pensamento conjunto dos clubes para negociar a venda dos direitos, perde-se força na hora de discutir com as TVs.

Enquanto cada clube quiser remar por conta própria, além de ser criado um problema jurídico – por lei, os dois times que disputam uma partida têm de concordar com a sua exibição pela TV, do contrário ela não poderá ser transmitida -, perde-se receita com uma queda-de-braço infrutífera para o futebol.

Afinal, é ilusão pensar que os clubes só terão a ganhar num cenário de sucesso da eventual negociação individual. Com pesos diferentes para as TVs, os clubes terão receitas muito distintas entre si. Isso fará com que o abismo financeiro entre os grandes e os pequenos fique ainda maior. No longo prazo, essa é a fórmula que levará o futebol brasileiro para algo que ele sempre combateu: a previsibilidade do resultado do Brasileirão.

Enquanto os clubes no Brasil continuarem a se ver como rivais fora de campo, o principal campeonato do país continuará a ser um produto menos lucrativo do que deveria. Rivalidade boa é aquela que se resume às quatro linhas. Fora dela, os clubes devem se unir.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Insurreição

Ou revolta, levante, rebeldia, sedição.

Forte oposição ao estado de coisas.

O futebol brasileiro passa por isso.

Quase que coincidentemente com as manifestações populares no mundo árabe, que ameaçam a estabilidade – baseada em premissas não-democráticas – dos governos e seus governantes.

O Clube dos 13, entidade legitimada a representar os interesses dos maiores clubes do futebol do Brasil está ruindo, num período delicadíssimo, o da concorrência para se definir a venda dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro entre 2012 e 2014.

Como pano de fundo, a manipulação política de CBF-Globo x Record-C13.

A disputa não é meramente comercial, mas de poder político.

Varias alegações mercadológicas podem ser consideradas de cada lado.

A Globo, por entender que ela é que possibilitou o aumento do valor das competições do futebol brasileiro – das nacionais às internacionais, passando pelas estaduais.

A Record, porque quer justamente a audiência que o futebol já oferece à Globo, mas também prometendo ter a flexibilidade de horários na grade e o pagamento de um plus sobre a posição favorável de que goza a emissora carioca junto ao edital de concorrência.

O Clube dos 13, alegando que, pela primeira vez, uma concorrência real possibilitaria também um aumento real no valor de venda dos direitos – e não ficar à mercê do que a Globo ofertasse num mero reajuste, não no efetivo acréscimo.

E a CBF?

Esse é o verdadeiro problema.

A entidade sempre agiu tal qual os Estados Unidos frente aos regimes ditatoriais que se alinhavam a sua política externa, incluindo Egito e Arábia Saudita, na atual crise do Oriente Médio e países árabes.

Os americanos precisavam garantir certa estabilidade política, para fazer valer seus interesses comerciais. Quando a estabilidade política vencia ou não se sustentava nas mãos dos tiranos, muda-se o tirano, não o regime.

A CBF provocou essa instabilidade, pois ela precisa assegurar o lucrativo mercado que a seleção brasileira tem em mãos e que só foi possível graças à aliança longeva com a TV Globo.

Até porque a CBF não ta nem aí com o Campeonato Brasileiro. O que lhe interessa é a seleção brasileira e a Copa 2014.

Mexeram com a Globo, mexeram com a CBF.

A motivação é econômica, não política.

A política é a cortina de fumaça nessa história.

It’s the economy, stupid!

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Banco de jogos: atividade de transição ofensiva estrutural e ‘pressing’ com dobras de marcação

Descrevo hoje o exemplo de uma atividade que pode, se bem conduzida e bem inserida, contribuir para o desenvolvimento do comportamento de ataque à bola (com dobras de marcação ou ataques triplos), para a retirada da bola da zona de pressão e para a manutenção da posse da bola a partir da estruturação zonal do espaço.

Não é uma atividade inicial dentro do processo. Ela requer que conceitos já estejam bem estabelecidos entre jogadores e equipe.

As dimensões do campo e o número de jogadores devem variar de acordo com o nível de desenvolvimento dos atletas, objetivos e momento do processo.

Descrição:

a) A atividade é composta por 3 equipes (uma equipe de 4 coringas e duas equipes de 5 jogadores de linha

b) Os coringas jogam no exterior do campo de jogo delimitado pelas linhas demarcatórias (cada um dos coringas é responsável por um lado do campo de jogo e pode deslocar-se livremente sobre esse lado).

c) As equipes de 5 jogadores jogam entre si no espaço delimitado pelas linhas, sendo que a equipe com posse da bola pode contar com o apoio dos coringas 

d) No espaço de jogo existem “zonas”desenhadas (as zonas A, B, C, D e F). Cada equipe, ao ter a posse da bola deve ter um jogador em cada uma dessas zonas (sendo que esses jogadores só podem agir com bola, em suas regiões).

e) A equipe sem a posse da bola pode ocupar livremente o espaço de jogo e deve buscar criar dobras de marcação

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Pontuação:

Momento 1 – as equipes marcam 1 ponto todas as vezes que conseguirem recuperar a posse da bola na mesma zona em que ela foi perdida, antes que haja troca de posição da bola entre as zonas.

Momento 2 – além da regra anterior, as equipes podem pontuar a cada 10 passes que realizarem sem interrupção por parte do adversário.

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Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

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Banco de jogos: atividade de transição ofensiva estrutural e 'pressing' com dobras de marcação

Descrevo hoje o exemplo de uma atividade que pode, se bem conduzida e bem inserida, contribuir para o desenvolvimento do comportamento de ataque à bola (com dobras de marcação ou ataques triplos), para a retirada da bola da zona de pressão e para a manutenção da posse da bola a partir da estruturação zonal do espaço.

Não é uma atividade inicial dentro do processo. Ela requer que conceitos já estejam bem estabelecidos entre jogadores e equipe.

As dimensões do campo e o número de jogadores devem variar de acordo com o nível de desenvolvimento dos atletas, objetivos e momento do processo.

Descrição:

a) A atividade é composta por 3 equipes (uma equipe de 4 coringas e duas equipes de 5 jogadores de linha

b) Os coringas jogam no exterior do campo de jogo delimitado pelas linhas demarcatórias (cada um dos coringas é responsável por um lado do campo de jogo e pode deslocar-se livremente sobre esse lado).

c) As equipes de 5 jogadores jogam entre si no espaço delimitado pelas linhas, sendo que a equipe com posse da bola pode contar com o apoio dos coringas 

d) No espaço de jogo existem “zonas”desenhadas (as zonas A, B, C, D e F). Cada equipe, ao ter a posse da bola deve ter um jogador em cada uma dessas zonas (sendo que esses jogadores só podem agir com bola, em suas regiões).

e) A equipe sem a posse da bola pode ocupar livremente o espaço de jogo e deve buscar criar dobras de marcação

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Pontuação:

Momento 1 – as equipes marcam 1 ponto todas as vezes que conseguirem recuperar a posse da bola na mesma zona em que ela foi perdida, antes que haja troca de posição da bola entre as zonas.

Momento 2 – além da regra anterior, as equipes podem pontuar a cada 10 passes que realizarem sem interrupção por parte do adversário.

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Segredos do mercado de transferências

Acompanhando o blog (http://esportejuridico.blogspot.com/) do colega e postulante ao título de Bacharel em Direito, Felipe Tobar, não pude deixar de referi-lo pela contextualização e pertinência da discussão de seu último texto, que versa sobre “os doze principais segredos do mercado de transferências”.

Tobar extraiu do livro de Simon Kuper e Stefan Szymanski (Soccereconomics – Por quê a Inglaterra perde, a Alemanha e o Brasil ganham, e os Estados Unidos, o Japão, a Austrália, a Turquia – e até mesmo o Iraque – podem se tornar os reis do esporte mais popular do mundo) que detalhou os “12 principais segredos listados para os clubes atuarem no mercado de transferências:

(1) Não permita que um novo técnico desperdice dinheiro com transferências; (2) Use a sabedoria das massas (quanto mais opiniões melhor); (3) Astros de Copas do Mundo ou campeões europeus recentes são sobrevalorizados. Ignore-os; (4) Certas nacionalidades são sobrevalorizadas; (5) Jogadores mais velhos são sobrevalorizados; (6) Centroavantes são sobrevalorizados, goleiros são subvalorizados; (7) Os cavalheiros preferem os louros: identifique e abandone “preconceitos visuais”; (8) O melhor momento para comprar um jogador é quando ele tem 20 e poucos anos; (9) Venda qualquer jogador quando outro clube oferecer mais do que ele vale; (10) Substitua seus melhores jogadores antes mesmo de vendê-los; (11) Compre jogadores com problemas pessoais e os ajude a superá-los; (12) Ajude seus jogadores a se adaptar. Como opção, os clubes podem simplesmente se aferrar à sabedoria convencional!”

Na verdade, não acredito em “fórmulas de bolo” em nenhum ramo de negócios, tal e qual os “segredos” são expostos. Mas há uma evidência clara de que, se pegarmos alguns deles e fizermos um estudo por amostragem, encontraremos um comportamento semelhante, com elevada correlação entre cada caso prático.

Os ensinamentos têm claro respaldo nas teorias relacionadas a gestão de recursos humanos e que, intrinsecamente, remete a uma reflexão voltada para a adoção de uma cultura e política de critérios para os clubes, particular a cada um deles. Profere ainda que não se deve possuir um comportamento atrelado a meros modismos que o mercado passa a adotar em determinadas situações, o que incentiva uma ação por impulsos que às vezes é irracional.

Perpassa ainda a importância de haver um acompanhamento e alinhamento de todos os departamentos dentro de um clube de futebol, para que estes, desde a parte técnica até a de marketing, passando pelo setor administrativo, financeiro e outros, se conversem a fim de otimizar as tomadas de decisões em termos de contratação e montagem de um elenco, atendendo os anseios dos diversos stakeholders.

Mesmo discordando um pouco do item 2, que fala para se “ouvir as massas” e, nesse caso, se as tais “massas” não tiverem conhecimento técnico de nada valerão, bem como pelo item 11, que deve ser olhado com um cuidado maior do que a singela crença de que “em educando o atleta, o mesmo ficará eternamente grato ao clube”, penso, em resumo, ser bastante válido os pontos de reflexão para futuras ações relacionadas a gestão de contratações e transferências de atletas.

A leitura crítica ao texto do blog produzido pelo Felipe Tobar, conforme referido anteriormente, pode contribuir também para o confronto de ideias e evolução dos princípios ora apresentados.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Fim de jogo

Sem risco não há jogo, dizia-me Aurora, a coruja, na madrugada que declinava, cedendo lugar ao sol, um fino traço dourado no horizonte. No céu as estrelas aproveitavam-se de um resto de noite e eu aproveitava o que poderiam ser minhas últimas madrugadas neste lugar. Sim, eu pensava deixar a caverna, e já antecipava as saudades que sentiria de Aurora, minha amiga coruja, e das auroras que consumimos em conversas sobre a vida. Saudades que terei de Oto, meu amigo e mensageiro morcego, e do bagre cego Arnaldo, aquele que nunca me viu, mas que muito bem me conheceu.

Sem risco não há jogo, ia dizendo Aurora, como no caso daquele piloto brasileiro, o Felipe Massa, que deixou o companheiro passá-lo no final da corrida. Massa descumpriu a regra das regras do jogo, acabou com o risco, contou o final do filme, e tudo perdeu a graça. As crianças, quando o jogo perde a graça, dizem que não brincam mais e vão fazer outra coisa.

De fato, comentei com Aurora, quando a gente joga alguma coisa, nunca sabe o que vai acontecer, não conhece o fim da história, e é isso que dá graça ao jogo. Se sabe o fim, não é jogo. Numa conversa de trabalho, conversa-se para se achar uma solução. Numa conversa entre amigos que se encontram num bar, não há esse compromisso, a conversa se desenrola sem que haja compromisso com um fim.

Pena que os técnicos, mais que os jogadores de futebol, não saibam disso, disse Aurora. Fazem de tudo para não correr riscos, para contar o fim da história, para tornar o jogo sem graça. O futebol é um jogo e os técnicos insistem em não reconhecer isso.

Para mim, eu disse à coruja, o melhor técnico é aquele que entende que o futebol é um jogo, aquele que sabe que o técnico é um jogador, que é impossível saber o final da história, que sabe caminhar no escuro, que sabe lidar com o risco, com o imprevisível. O melhor técnico é um jogador de dados, o que tem a habilidade de caminhar pelo labirinto de imprevisibilidades.

E o melhor jogador de futebol, prosseguiu Aurora, é aquele que tira prazer, acima de tudo, da arte de correr o risco, de jogar o jogo da bola sem saber o que vai acontecer, e gostando de não saber. No jogo, não há compromisso com o resultado, mas apenas com o ato de jogar. O grande jogador não se compromete com o resultado, porque não é possível firmar esse compromisso com o desconhecido.

Afinal, completei, o que há de mais aborrecido que, no meio de um filme de suspense, alguém ao lado contar o final?

Penso em deixar a caverna, mas reluto. Os amanheceres que amanheci aqui talvez eu não amanheça em mais lugar nenhum. Mas acho que não conseguirei resistir à sedução do desconhecido que anda a me chamar para além da caverna, uma tentação que me roi a cada aurora. Se troco o certo pelo duvidoso? Sem dúvida, pois, acima de tudo, sou um jogador.

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br

Leia todas as colunas anteriores de Bernardo clicando aqui.

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Modelos de gestão no futebol: Inter e São Paulo, o que está acontecendo?

Olá, amigos!

No texto desta semana permito-me fazer um carta de protesto ao futebol.

Não, não sou contra o futebol, muito pelo contrário, sou um aficionado que teve o prazer de se tornar um profissional que atua no meio. Porém, como vocês que me acompanham sabem, defendo um futebol antenado com as práticas modernas de gestão e tecnologia.

Sabemos que a cada semana o futebol nos prega peças, e traz à tona a famosa frase: “quando achei que já tinha visto tudo no futebol, não é que…”. Pois bem.

Desculpem-me cair no chavão, mas quando achei que já tinha visto cada coisa estranha no futebol, não é que o Internacional, o clube modelo de gestão no Brasil nos últimos tempos, demite o técnico do time reserva que o clube decidiu que disputaria o Estadual para dar prioridade à Taça Libertadores?

Na coluna do dia 21 de dezembro do ano passado (A derrota do Inter: ver DVDs funciona no Brasil?) comentávamos sobre a eliminação frente ao tricampeão africano Mazembe no Mundial de Clubes da Fifa, apontando um retrospecto que colocava o Inter de igual pra igual com grandes potências européias, dado o sucesso de sua trajetória recente, porém com a ressalva de que algo mais precisa acontecer.

Jamais um time com a estrutura e o nível profissional da equipe gaúcha (ou que pelo menos passa essa imagem) pode por desconhecimento ser surpreendido de tal forma (reforço) por desconhecimento do adversário, sem tirar os méritos do campeão africano.

Para fazer um outro recorte, no dia 7 de setembro de 2010 (São Paulo: sobre planejamento e troca de técnicos), comentávamos sobre o São Paulo e criticamos a mudança de técnico com base na emoção e não na analise e planejamento. O mesmo São Paulo que foi alvo de uma outra coluna em 24 de fevereiro de 2009 (Ainda São Paulo x Corinthians), focando uma possível miopia de gestão que poderia ter reflexo mais pra frente.

Pois bem, em todos os casos citados, muitas críticas (sempre são bem vindas) vieram às analises que foram feitas. Porém, insisto com os amigos que se Inter e São Paulo – que são tidos como modelo de gestão – tomam algumas decisões que nos surpreendem, que caminhos devemos seguir rumo a um futebol realmente profissional?

Pois apenas para ficar em alguns pontos, lembramos os seguintes fatos:
 

  • O São Paulo que até certo tempo se vangloriava por ter alternância de poder, no tocante à presidência do clube, e o quanto isso era benéfico e base do sucesso, criticando veementemente seus rivais, hoje vive a expectativa de uma alteração de estatuto para permitir mais um mandato de seu presidente.
     
  • O São Paulo tricampeão brasileiro demitiu seu técnico pelo desempenho na Liberadores. O que aconteceu depois? Ficou sem títulos e manteve um desempenho similar na disputa continental, lembrando que a participação constante e as eliminações em fases adiantadas não devem ser encaradas como fracasso. Neste ano, está fora do torneio.
     
  • O Inter bicampeão da Libertadores em espaço curtíssimo de tempo, um título do Mundial de Clubes, sofreu a inesperada queda frente ao Mazembe, surpreendido por uma equipe rápida e forte fisicamente. Num mundo onde as informações são abundantes e os recursos tecnológicos para obtê-las cada vez mais velozes e precisos, ser surpreendido de tal forma não é normal.

E agora o Inter demite um técnico que tem uma história nas categorias de formação. Basta olhar quantos jogadores a equipe tem formado e o papel de Enderson Moreira nisso.

O clube demite um profissional até pouco bem valorizado no próprio clube, por um desempenho num torneio relegado ao segundo plano, no qual a equipe sequer usou seu elenco e comissão técnica principais. E, junto com isso, descarta alguns jogadores que foram importantes na temporada passada, inclusive desejados por outros clubes para ficar só no exemplo do zagueiro Danny Morais.

Talvez as pessoas fiquem inconformadas com minhas críticas a Inter e São Paulo, mas o certo é estamos vendo erros estratégicos crassos, erros de planejamento significativos, que aos poucos vão mostrar seu efeitos.

Gestão de futebol deve ser feita por completo e constantemente, não adianta profissionalizar só uma parte, ou o que é pior, se dizer profissional quando ganha. Na derrota a gestão é muito mais importante para detectar e redimensionar rumos, não apenas dizer “viu, fizemos certo, somos modelo de gestão”. Mas como?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Melhor preço?

“Não importa se vem do Jardim Botânico ou da igreja. Leva quem der o maior cheque”. A pérola é de Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG e revela um pouco do pensamento tacanho que toma conta dos dirigentes do futebol brasileiro.

Kalil se refere, com essa frase, ao debate que se acalora sobre a negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de futebol para o triênio 2012-2014. Na visão apequenada do presidente do Galo, o que determina quem é o melhor parceiro comercial dos clubes é o dinheiro.

Nada que surpreenda, vindo de um dirigente que prega que o marketing representa apenas custo para um clube, não tendo qualquer utilidade além disso. Mas a frase de Kalil preocupa, principalmente, porque a ganância dos dirigentes têm feito com que o futebol brasileiro deixe de pensar no longo prazo para agir apenas no curto espaço de tempo, o que enfraquece a própria instituição.

Nos anos 80, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu mudar radicalmente a imagem que as pessoas tinham dos Jogos Olímpicos. Para isso, apostou numa estratégia interessante de negociação do seu principal evento. Não era o preço que determinava qual emissora exibiria a competição, mas sim o engajamento dela com o evento e, principalmente, o alcance que ela teria no seu país.

A lógica do comitê com essa decisão era fazer com que, com mais gente assistindo a seu evento, mais importante ele passaria a ser no longo prazo. E, aí, mais dinheiro o COI ganharia com a negociação não apenas da transmissão do torneio, mas também de patrocinadores e consumidores.

No futebol, a Fifa também buscou na Copa do Mundo de 2010 uma parceria comercial com a Sony que não foi baseada meramente no dinheiro. Com a fabricante japonesa, ficou estabelecido que além de pagar para ser patrocinadora da entidade, ela investiria na tecnologia necessária para transmitir 25 dos 64 jogos da competição em 3D. O retorno de imagem da Fifa com isso foi gigantesco, tanto que ela ganhou prêmio pela inovação no evento esportivo.

A concorrência que busca apenas o melhor preço domina, hoje, a gestão pública brasileira. Não se pensa na melhor entrega de produto, mas apenas naquilo que aparentemente gere mais dinheiro ou reduza mais custo para o cofre público. Não se faz nada pensando em melhor produto, em entrega mais eficiente e em melhor promoção daquilo que é feito.

É essa mentalidade que domina agora não apenas Alexandre Kalil, mas a maioria dos clubes de futebol que vai decidir qual TV mostrará o Campeonato Brasileiro pelos próximos três anos. Nada contra a Record ou a favor da Globo. Mas, se quiserem pensar no longo prazo, os clubes têm de olhar muito mais do que o preço. Independentemente de qual é o cheque, o importante é saber quem é o parceiro.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Os atratores e a construção de referências de jogo no futebol: não leiam!

Atratores são configurações para quais tendem um sistema qualquer.

Recentemente falei sobre eles (mais precisamente sobre aplicações nos esportes coletivos) para um grupo de físicos, em um importante evento da área. Motivado pelos incentivos a mim direcionados, resolvi escrever hoje um pouco sobre o tema (os atratores).

Ainda que seja um conceito menos popular do que outros que venho debatendo, suas aplicações no entendimento do jogo e na modelação de treinos no futebol contribuem – e muito – para compreensão de questões que envolvem a “complexidade”.

Todo sistema alterna entre momentos virtuais de equilíbrio e desequilíbrio. É como uma balança que busca constantemente se estabilizar, mas que por vezes, “caoticamente” parece se encontrar com a total instabilidade.

O “conflito” dinâmico interno a um sistema entre equilíbrios e desequilíbrios faz com que ele (o sistema) busque a todo tempo manter-se organizado. Quanto mais complexo o nível de organização de um sistema, menos sujeito a fortes instabilidades ele estará.

A cada vez que enfrentar grandes desequilíbrios, um sistema deve reagir e, se necessário, atingir novo estado de organização para se manter vivo.

Toda tentativa de se auto-organizar de um sistema é norteada pelo “magnetismo” de atratores, que em momentos cruciais de instabilidade levam o sistema a uma configuração de equilíbrio. Da mesma maneira, atratores chamados de “estranhos” podem “conduzir” um sistema qualquer a configurações totalmente “desequilibrantes” – e instaurar o caos.

O jogo por si só, como sistema, possui atratores que levam jogadores e equipes para determinadas configurações (configurações essas que dão vida a dinâmica do jogo). Ao se compreender na essência o conceito de atratores, é possível que através dos treinamentos sejam criados alguns deles – tanto para interferir no “sistema de jogo” das equipes (não confundamos “sistema de jogo” com “esquema tático”), quanto para interferir no “sistema jogo”.

Como?

Se são os atratores configurações paras quais tendem um sistema, por que não, nos treinamentos, entender a fundo o jogo, e a partir daí, conceber referências organizacionais norteadoras que construam um jogar eficaz? Por que não fazer com que estas referências tornem-se atratores do sistema de jogo de uma equipe e, a partir daí, propiciar organizações constantemente mais complexas e, portanto, menos suscetíveis a instabilidades caóticas?

Quando transcendermos a idéia de que as equipes devem cumprir estratégias, e que para isso precisam desenvolver essa ou aquela “capacidade física”, esse ou aquele princípio tático, para a avançada idéia de que devemos buscar nos treinamentos gerar comportamentos desejáveis de jogo, dando referências organizacionais que se tornem atratores para o sistema, estaremos na direção de um novo paradigma, tanto para a observação e entendimento de jogo e quanto para a preparação do futebolista.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A viabilidade econômica do nosso esporte

Caros amigos da Universidade do Futebol,

mesmo quando falamos de futebol, o esporte mais popular do nosso planeta e recordista em números de patrocínio e direitos de imagem, o assunto da viabilidade financeira do esporte sempre deverá ser levado em consideração.

Sabemos que o poderio dos clubes obedece uma ordem piramidal, sendo que pouquíssimos deles detêm um grande poder financeiro, e a grande maioria sofre diariamente para pagar suas contas ao fim do mês.

Sabemos que o futebol (e o esporte em geral) é um negócio em que os grandes clubes, para manterem o seu status e a sua força, necessitam da existência dos demais clubes. A competição é a alma desse negócio. Aqui o monopólio é um verdadeiro desastre.

Assim, a distribuição de renda entre os clubes em uma mesma liga, competição, copa ou campeonato é um tema estratégico. Os mais poderosos devem receber mais (isso dificilmente será algum dia alterado), mas os menores devem receber uma quantia justa, para ajudá-los a sobreviver e a manter o equilíbrio competitivo (competitive balance).

Na coluna desta semana, gostaria de chamar a atenção dos nossos leitors para um estudo que acaba de ser publicado pela EPFL – Associação das Ligas de Futebol Profisional da Europa. Esse estudo, denominado Financial Solidarity at Leagues and European Level, mostra em cada país europeu afiliado à EPFL como se dá a distribuição da renda das ligas pelos clubes participantes.

Interessante notar que há uma grande variedade de formatos, que envolvem parcelas fixas aos clubes, e parcelas variáveis que são atreladas ao critério técnico (mérito desportivo) e potencial comercial dos clubes.

Assim, cada liga procura estabelecer uma distribuição justa, de modo que favoreça quem mais contribui para a arrecadação, mas, com uma garantia da parcela fixa a todos os clubes, também consegue ajudar as agremiações de menor expressão.

O estudo também indica a forma de distribuição de campeonatos europeus, como a Liga dos Campeões, em que os variáveis são bastante relevantes, podendo um grande clube que fora desclassificado no início da competição, receber um valor maior do que o clube campeão, caso este último seja um  pequeno.

Dentre as diversas distinções entre as ligas, um critério é quase uma unanimidade, conforme refletido no estudo: quase que a totalidade das ligas nos dias de hoje vendem coletivamente os seus direitos televisivos.

Enfim, vale a pena analisar o estudo com atenção, para eventualmente servir de lição para os nossos campeonatos nacionais. Em prol da viabilidade econômica do nosso esporte.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br