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Divagações sobre heróis e povo

Não teve jeito… Parecia que todos estavam perplexos, hipnotizados pelo assunto do momento… Não me restou alternativa se não a de colocar o texto que vinha construindo para descansar na gaveta e voltar atenção para o que estampava as primeiras páginas dos jornais – impressos ou eletrônicos – em boa parte do mundo… Ronaldo, o “Fenômeno”, tinha anunciado sua aposentadoria!

E ai me pus a divagar… De imediato me vi pensando na expressão aposentadoria… Aposentar significando retirar-se da vida pública, recolher-se aos aposentos, passar a ser reconhecido como inativo em uma sociedade onde ser ativo é tudo… Ativo = produtivo; Inativo = improdutivo…

Certamente não era o caso do “Fenômeno”, fato esse comprovado passado um pouco mais de 24 horas do inacreditável – para muitos – anúncio, com ele sendo apresentado como referência do governo paulista (como são rápidos esses políticos!) para as questões afetas à Copa 2014…

Em seu caso a expressão jubilar, com seu sentido de se afastar com honra, mérito ou em outras palavras, com júbilo, se encaixa melhor…

Não tive como não pensar nos aposentados brasileiros, a maioria fadada a passar a viver com um salário menor do que aquele que recebia quando ativo… E só me reportava em pensamento aos trabalhadores formais, porque os do mercado informal… Bem, esses…

E, como uma coisa leva a outra, não pude deixar de ver, ao lado da foto/matéria sobre sua aposentadoria, notícia que alardeava o valor do salário mínimo aprovado no Congresso Nacional pelos mesmos deputados e senadores que dias atrás, se encarregaram de aumentar seus próprios salários a alturas inimagináveis e inalcançáveis aos trabalhadores brasileiros…

Também me vi pensando nos colegas de profissão – até então – do Ronaldo: os atletas de futebol, também conhecidos como escravos – ao invés de trabalhadores – da bola por não deterem o controle da sua própria força de trabalho, então sob a propriedade dos clubes e hoje fatiada entre esses, os empresários e eles próprios (um pedacinho menor, é claro), mais do que antes tidos como commodities valiosíssimas no mercado da bola…

Duvido que a realidade hoje seja diferente daquela que constatei em 1993 (18 anos atrás, portanto) quando em artigo intitulado “Os Trabalhadores da Bola”, me valendo de dados da CBF, constatei que 19,25% dos atletas de futebol profissional em nosso país ficavam na faixa dos que recebiam valores correspondentes a um salário mínimo; 51,38% na faixa de um a dois; 19,60% na de dois a cinco; 6,77% na de cinco a dez. Apenas 3% do total de jogadores recebiam acima de 10 salários mínimos. Resumindo: 90,23% dos trabalhadores da bola obtinham uma remuneração mensal da ordem de um a cinco salários; 70,63% deles recebiam, por mês, de um a dois salários…

Diante desses dados e desses pensamentos me vi perguntando quem são, de fato, heróis dentre nós brasileiros…

Herói, conforme o dicionário Aurélio, é “Homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnitude”. Não que Ronaldo não tenha valor, mas não será o brasileiro comum que – como nos disse Milton Nascimento cantando “Maria Maria”, não vive, apenas aquenta -, aquele que deve inspirar nossa idéia de ser humano e de sociedade que não esteja pautada na exploração do Homem pelo Homem?

Será que a necessidade de termos heróis, reconhecendo-os como semi-deuses, não estaria reforçando a falsa consciência de não sermos nós os responsáveis pela nossa história, do nosso processo civilizatório? A quem interessa atribuir aos escolhidos – sabemos lá por quem – a tarefa de definir nossos destinos? Não serão os mesmos que – na expressão da coreógrafa alemã falecida ano passado Pina Bausch – insistem em nos fazer crer na importância de saber como as pessoas se movem, ao invés do que as movem?

E ao me reportar à Pina Bausch acabei me lembrando de outro alemão, me dando conta de que ele caberia como uma luva para fechar essas divagações sobre Heróis e Povo. Fiquem então com Bertolt Brecht e seu Poema “Perguntas de um Trabalhador que lê”


Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia, várias vezes destruída,
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida os que se afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.

Tantas questões.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Prêmio merecido

A cena dos supostos policiais à paisana apontando armas e dando tiro para o alto no meio da torcida do Treze da Paraíba no jogo da Copa do Brasil merecia um Oscar. Um Pulitzer. Um Prêmio Contigo.

Poucos momentos da televisão brasileira captaram tão bem a falta de uma política pública clara e bem definida de prevenção de tumultos e controle de massa. Poucos momentos também mostraram a coragem de algumas pessoas. Confesso que, se fosse eu, teria saído correndo na hora.

Na torcida do Treze, o tiro pro alto pareceu a coisa mais normal do mundo. Teve gente do lado que nem percebeu. Um cara ficou mostrando o que pareceu um passaporte ou uma carteira de trabalho para o suposto policial que deu o tiro pra cima – em qualquer um dos casos, algo bastante esquisito de se portar em um jogo de futebol. Pra que cadastro de torcedor se o próprio torcedor ofereceu o documento e a suposta polícia nem deu bola?

Não há definição. Não há política. Não há sistema. Não há padrão. Não há conformidade. Não há critério. Há muito pouco, ou sequer há coisa alguma.

Em cada lugar, a política de segurança de público é diferente. Em alguns, o padrão é extremamente elevado, o que é salutar. Em outros, o padrão sequer existe. E ninguém faz o menor esforço para que ele seja criado. Como, então, cobrar alguma coisa de alguém?

Talvez o problema é que esteja todo mundo focado na Copa de 2014. Só que a questão não é 2014. A questão é 2011. E ninguém dá bola para 2011. Vamos conseguir esperar três anos de riscos por falta de planejamento público de controle de massas? Vamos conseguir esperar três anos com policiais à paisana dando tiros para o alto no meio de uma imensidão de torcedores confinada em um espaço limitado e cercado por grades e alambrados? Vamos continuar contando com a sorte para escapar de potenciais tragédias motivadas única e exclusivamente pela falta de treinamento e de controle em situações de pressão?

Ontem foi por pouco.

Da próxima vez talvez não passe.

Aí sim a televisão brasileira conseguirá fazer imagens dignas de um Pulitzer. Mas nós não teremos a menor razão pra nos orgulhar do prêmio.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

 

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A bola não entrou mesmo por acaso

O título desta coluna até poderia continuar a bater na tecla do tema desta semana (e, quiçá, do ano), que foi o anúncio da aposentadoria de Ronaldo Fenômeno dos campos de futebol. Poderíamos utilizar o título para falar do talento e da persistência que marcou grande parte da carreira do atleta, mas vou me abster a falar do assunto por entender que já foram inúmeras análises e o tema, se não esgotado, passa a ser um tanto quanto redundante.

Tratarei, ainda que sucintamente, de recomendar a leitura do livro “A bola não entra por acaso”, de Ferran Soriano, que explica em algumas páginas a trajetória que transformou completamente o modo de gestão do Futbol Club Barcelona e permitiu à equipe catalã o destaque e os títulos que conquistou nos últimos anos em âmbito local e mundial.

No princípio, comprei o livro apenas por modismo. Muita gente havia comentado sobre a obra e, para não ficar “defasado” nas conversas e análises sobre gestão do esporte, resolvi que deveria fazer a leitura.

É bom que se diga que sou um tanto quanto reticente a analisar o contexto geral das organizações com o olhar míope sobre “cases”, que muitas vezes retratam exclusivamente a realidade daquela empresa, naquela situação, em um dado momento e que por inúmeras coincidências (ainda que aplicando, em determinados casos, alguns processos), tudo veio a dar certo. Acredito, pois, que a repetição padrão de fatos, em diferentes organizações, passa a ter uma fidedignidade maior para analisar amplamente o mercado.

Foi esse o pensamento que veio a tona sobre o referido livro. E me surpreendi positivamente quando a análise e explicação de tudo que aconteceu com o FC Barcelona de fato não foi a partir de causas, digamos, naturais, mas sim de um trabalho planejado e consistente.

O princípio, quando se realizou um benchmarking com os grandes clubes europeus e como a equipe queria se posicionar perante o mundo globalizado do futebol; as adaptações necessárias e o entendimento sobre a situação dos negócios relativos ao futebol; a definição de estratégias; o recrutamento de jogadores e treinadores, somado à identificação dos líderes dentro de cada contexto, com a clara referência a teorias sobre gestão de recursos humanos; e a inovação somada à constante reinvenção do seu próprio futuro foram aspectos que puderam ser muito bem compreendidos ao longo da obra.

Apesar de distante da realidade de muitos clubes no Brasil, foi importante notar a aplicação da teoria na prática no caso do Barcelona. A consequência disso é que, uma leitura crítica ao livro, permitirá a aplicação de muitos conceitos em qualquer cenário, bastando boa vontade política e expertise sobre os negócios aos quais se propõe operar.

Referências

SORIANO, Ferran (2010). A bola não entra por acaso: estratégias inovadoras de gestão inspiradas no mundo do futebol. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Ronaldo Para Sempre*

Não é verdade. Ronaldo não parou de fazer gols. Porque ele é artilheiro, o maior das Copas, não precisa ser o craque que foi. Ele é goleador. É Ronaldo. Não precisa parar com a bola, ainda que viesse parando a cada gol perdido, a cada lance não corrido, a cada jogo que empurrava com a barriga.

Ronaldo não parou com a bola. Nem ela parou com ele. É mentira. Como só pode ser história da carochinha o cara ter ficado quase dois anos parado com o joelho detonado e voltar como campeão do mundo e artilheiro da Copa-02. É coisa de cinema. E foi cinematográfica como aquelas jogadas de videogame, aqueles gols de futebol de botão, aqueles jogos que pareciam virtuais pelo Cruzeiro, PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid, Milan e Corinthians.

Não sei se Ronaldo decidiu na hora certa a saída de campo. Mas sei que, no gramado, desde 1993, para não escrever desde 1863, quase ninguém decidiu melhor que o Fenômeno. Tão fenomenal que valia quanto pesava mesmo quando, a partir de 2004, teve de brigar com rivais, quilos e línguas malignas. Nenhum outro gênio teve de driblar tantas lesões quanto ele.

Campeão do mundo com 17 anos sem jogar. Vice-campeão do mundo absurdamente escalado depois de ter convulsionado no dia da final. Penta e artilheiro em 2002. Um dos que se salvaram ao final das contas em 2006. Um que mais uma vez goleou críticos e cricris ganhando o Paulistão invicto e a Copa do Brasil em 2009. Um que trouxe muito dinheiro ao banco do Corinthians. Mais um que rapidamente virou louco no bando. Mais um dos que foram menos na eliminação prematura para o Tolima.

Pelos últimos meses, Ronaldo deveria ter parado, se é que já não havia parado. Por todos esses 18 anos de carreira, Ronaldo será sempre eterno. Precisa ser respeitado e admirado. Até quando pisou na bola, muito mais fora que dentro de campo, Ronaldo sempre foi mais humano. Mais humilde. Mais fenomenal.

Um marco que virou marca. O primeiro e maior dos Ronaldos. Um mito que, neste planeta um dia habitado por Pelé, foi o maior dos craques e dos cracketings. Gênio da bola e das boladas.

Dizem que não soube a hora de parar. E, por acaso, alguém sabe? Certamente não os que o aposentavam na Seleção depois de 1998 por suposta “falta de espírito de decisão”. Certamente não os que o achavam uma lata velha e enferrujada em 2002. Certamente não os que não quiseram ver a evolução dele durante a Copa de 2006. Certamente não os que achavam que não daria certo no Corinthians de 2009. Certamente não os que acham que futebol é apenas matemática e medicina.

Ronaldo driblou a medicina e fez números que nem a matemática soube calcular. Nem as finanças sabem contabilizar o que ganhou e o que fez muita gente ganhar e sorrir escancarado.

A tristeza não é pelo modo como Ronaldo parou ou foi parado pela falta de modos. A dor é por saber que, gordo ou magro, velho ou jovem, parado ou correndo, a esperança de que dali sairia algo fenomenal ninguém vai ter mais. Porque poucos, na história, foram tão imprevisíveis quanto ele na previsibilidade de que, de algum jeito, a bola pararia no fundo da rede.

O previsível fim chegou. Não há quem não fique doído como os joelhos destroçados dele. A dor de imaginar quanto mais ele não faria se não fosse o peso das dores patelares dos últimos 12 anos e dos quilos a mais nos últimos sete. A dor de ter certeza que dali não vai mais sair gol.

Ronaldo é um fenômeno não pelo insólito e pelo inédito. Mas pelo fenômeno de ser sempre fenomenal.

Tente ser um mito com aquele peso sobre as costas e sobre as pernas. Tente fazer tudo que ele fez pelos clubes e pelo Brasil e pelos cofres. Tente superar lesões e lesados. Tente ser Ronaldo.

Tantos tentam. Tantos caem em tentações. Até ele. Mas, no final que chegou, só havia ele cruzando a linha fatal. Só havia um Ronaldo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br


*Texto publicado originalmente no blog do autor, no portal Lancenet.

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Tecnologia no futebol: será que agora vai?

Em março está prevista a reunião de número 125 da International Board, entidade que gerencia e cuida das regras e rumos do futebol mundial.

Em vários outros momentos já discutimos seus interesses e criticamos algumas de suas decisões, sobretudo quanto à resistência em adotar a tecnologia na modalidade.

Porém, o que se desenha e cria-se de expectativa no universo do futebol é que esse encontro que acontecerá no País de Gales tem tudo para trazer novidades, uma vez que teremos em pauta discussões da Junta Geral Ordinária, setor responsável e único com autonomia dentro da própria entidade para decidir alterações no jogo propriamente dito.

Tal expectativa é grande, reforçada pela abertura que a entidade teria dado a empresas apresentarem projetos de inovação, sobretudo no aspecto da tecnologia na linha do gol, até o fim do ano passado (2010). Isto respaldado ainda por uma pré-aprovação para o uso desse tipo de tecnologia.

Março se aproxima, e nós que atuamos na área esperamos o que pode vir. Confesso que mantenho meu nível de expectativa lá embaixo, pois sabemos o quão tradicional e conservadora é a International Board.

Mas me arrisco a comentar, sucintamente, alguns tópicos que seriam interessantes para o futebol, que não saberemos se estarão ou não na pauta da reunião no País de Gales. E já antecipo qual seria o veredicto da mesma:

Adoção de cinco árbitros

o A inovação há mais tempo testada já possui relatórios contundentes. Os resultados não são promissores nem favoráveis ao seu uso. Creio que não seria aprovado. Embora não gostaria de fazer previsões de horóscopo, daquelas que diz que uma coisa pode acontecer, mas que também tem chance de não acontecer, acredito que possa ser adotado como estratégia de minimizar os ânimos daqueles que querem ver mudanças. Essa seria uma saída mais viável a fim de não ferir demais os egos conservadores.

Tecnologia em linha de gol

o Pela pressão permanente e ampliada com a polêmica da última Copa, já causou impacto nas movimentações e bastidores da entidade, e creio que seja oficializada uma metodologia e padrões para seu uso na reunião de março, ou no mínimo um cronograma para sua implementação.

Olhos de falcão

o Tecnologia de ver replay de lances polêmicos, embora adotada em outros esportes e com sucesso, possui uma resistência enorme na entidade, e imagino que seja uma carta fora do baralho.

Poderíamos discutir inúmeras outras soluções e inovações, mas que dificilmente estariam na pauta da International Board e que vale a pena deixarmos no ar para futuros debates. Poderíamos falar de um cartão eletrônico integrado com súmula, chips e/ou câmeras que identificassem automaticamente lances de impedimento, tecnologia que auxilia a manter a distância de 9,15 em lances de faltas, enfim, possibilidades não faltam. Falta-nos, sim, criatividade para usufruir da tecnologia que já existe no mundo hoje, e coragem de colocá-las em prática.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br  

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O craque não para

Ronaldo anunciou há pouco que se aposentou dos gramados. Mas será que, de fato, um jogador como ele realmente vai “parar”?

A verdade é que craque não se aposenta.

A partir de agora, muda apenas a percepção que teremos de Ronaldo e sua função dentro do futebol. Ronaldo não é mais jogador, porém continuará a ser sempre lembrado. Da mesma forma como Pelé não se aposentou, ou como não deixaram os gramados Beckenbauer, Maradona, Romário, Zidane e outros gênios da bola.

E aí é que está a grande diferença do craque para o jogador comum.

Os gols, as jogadas, as opiniões. Tudo em Ronaldo é relevante. Não precisaremos, daqui a cinco anos, resgatar a história do jogador, procurá-lo para dar entrevista e dizer o que faz desde que encerrou a carreira como atleta. Ele vai continuar a ser notícia, a aparecer, a ser fruto da atenção da mídia e do público.

E é assim que Ronaldo continuará a estar presente no meio do futebol. E como sempre fenomenal, mas agora em outro campo de atuação.

Não há motivo para tristeza, e sim para celebrar. Relembrar o craque dentro de campo e agradecer o momento de lucidez que teve para que os Tolimas da vida não acabem com a imagem de um dos maiores jogadores do mundo.

Maior artilheiro e duas vezes campeão da Copa do Mundo, Ronaldo foi um daqueles raros jogadores que teve atuação tão espetacular pelo seu país que superou qualquer barreira clubística.

Obrigado, Ronaldo. E seja bem-vindo ao seu novo estilo de vida!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Alma castelhana

O Uruguai, depois de 84 anos, volta a ter uma seleção nacional disputando as Olimpíadas.

Apesar da derrota contundente por 6 a 0 contra o Brasil, o país assegurou uma das vagas para Londres 2012.

O que explica o êxito do futebol do Uruguai?

Somando esta classificação e a bela campanha da seleção na Copa da África do Sul em 2010, chegando à semifinal após 40 anos, ficamos ainda mais perplexos com a resistência do futebol no país.

Muitos fatores jogam contra o Uruguai em termos de desenvolvimento da indústria do futebol local.

Mercado consumidor minúsculo e pouco atraente aos patrocinadores, clubes de infraestrutura arcaica, êxodo de jogadores ainda muito jovens para a Europa, baixos salários pagos, pouco ou nenhum interesse da TV.

O país tem 3,5 milhões de habitantes e quase 50 mil jogadores filiados à Federação Uruguaia.

Como base de comparação, no Brasil, somos 200 milhões de pessoas e 2,1 milhões de jogadores filiados à CBF.
Os resultados são reflexo de um projeto em andamento que teve início com a chegada de Oscar Tabárez à seleção principal em 2006, em que o treinador passou a ter mais contato com as categorias de base e formou uma equipe de profissionais de sua confiança.

“Junto a isso, mudamos o perfil em busca de jogadores mais inteligentes e incentivamos o estudo. Tem um projeto que obriga todos a terem curso de computação e a apresentarem o boletim de notas. Eles precisam de objetivos psicológicos e físicos. Isso de alguma maneira ajuda a fazer melhores profissionais. O futuro está nos pés e na cabeça”, afirma o treinador.

O presidente da Federação Uruguaia acredita que a tradição tem que ser um diferencial, na ausência de outros fatores determinantes.

“A celeste é uma marca registrada. Todos precisam saber desta história. Para que eles se sintam identificados, o Gigghia, que marcou o segundo gol no Maracanã (na final da Copa de 1950 contra o Brasil), vai falar com os jogadores na concentração com frequência, para mostrar a importância da camisa do Uruguai. Quando veste a celeste, tem que deixar tudo”.

O futuro está nos pés e na cabeça…

No Brasil, sim, temos sorte de ter muito futuro nos pés.

Nosso futebol precisa mais da cabeça.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O futebol está ficando lento

Dia desses no Café dos Notáveis, encontrei o amigo Zagonariz.

Foi uma conversa rápida – estávamos como quase sempre, com o “tempo espremido” (tempo, que temo me faça falta em um futuro próximo, quando percebendo a fragilidade humana em tentar correr contra ele – descubra que ele se foi).

Mas vamos lá.

Eu e Zagonariz falamos um pouco a respeito da velocidade de jogo no futebol – como na Europa ele tem ficado cada vez mais rápido e movimentado, e o quanto isso não parecia ser verdadeiro no Brasil.

Pois bem.

A conversa foi curta, mas me despertou a necessidade de escrever algumas coisas a respeito do tema.
Não é incomum que quando uso o futebol europeu como exemplo de alguma coisa logo venham críticas e lembretes apontando para o fato de ser o brasileiro o “melhor futebol do mundo”.

Realmente não quero entrar nesta discussão. Não agora.

Quero, porém, chamar a atenção para o fato de que nós no Brasil somos apaixonados pela bola (nós todos que jogamos futebol, de forma amadora ou profissional).

Necessitamos ficar com ela a qualquer custo.

Jogadores quando a tem nos pés, parecem não perceber o tempo passar. Ficam com ela uma eternidade que as vezes dura 1, as vezes até 3 segundos (podem acreditar 1 segundo no futebol é sim muito tempo – quanto mais 3).

É inacreditável o que uma equipe pode fazer sob o ponto de vista organizacional em 3 segundos.

É quase incalculável como as dificuldades aumentam para a tomada de decisão, conforme mais tempo é gasto para isso. Ficar com a bola é uma coisa quase incorporada no jogar brasileiro. O mais “cruel” disso é que para vencer o jogo, uma equipe precisa se livrar dela (claro, arrematar ao gol significa “se livrar” da bola – e quanto mais arremates ao gol, mais chances de vencer o jogo).

Alguém pode me dizer, que o FC Barcelona é uma equipe vencedora, e que na maciça maioria das vezes tem mais posse de bola que seus adversários.

Isso é verdade, mas não se enganem pela aparente essência da informação.
O fato de a equipe ficar mais tempo com a bola não significa que seus jogadores fiquem muito tempo com ela quando a recebem – pelo contrário, é uma das equipes que têm os jogadores que mais rapidamente se livram dela (passando).

E esse talvez seja o fato que exatamente propicie ao FC Barcelona ter mais posse de bola que seus adversários (como roubar a bola de jogadores que quase não ficam com ela?).

Outra questão importante, é que podem também finalizar muitas vezes no jogo, se livrando da bola, mas recuperando-a rapidamente.

Fico um pouco preocupado, porque se não nos importarmos com a velocidade do jogo (nós brasileiros), em um futuro não muito distante estaremos sendo ultrapassados – e se pensarmos que nas categorias de base a cultura segue no mesmo ritmo, logo seremos atropelados.

Alguém ainda pode dizer que no final das contas o que importa é o talento criativo do jogador brasileiro. Concordo. E é isso que ainda nos sustenta (mas não por muito tempo).

Porém, por que não, talento criativo com velocidade? A velocidade na tomada de decisão e na ação, não se opõe à construção e desenvolvimento do talento criativo. Muito pelo contrário.

O problema, é que enquanto no próprio FC Barcelona (por exemplo), estão formando hábeis e rápidos jogadores criativos – o que já repercute na seleção espanhola – no Brasil parecemos estar pouco preocupados com a tal velocidade de jogo.

E aí, espero que um dia, isso não repercuta em um futebol de tartarugas.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Janelas de transferência

Caros amigos da Universidade do Futebol,

vivemos hoje mais um daqueles períodos de fechamento da janela de transferência europeia.

Jogadores, agentes, advogados e clubes acabam de concluir seus últimos negócios para transferência internacional de jogadores ao principal mercado do futebol.

É tempo, assim, de esclarecer o que significa a janela de transferência e mais uma vez desmistificar esse termo “janela europeia” que, a rigor, não existe.

O próprio site da Fifa causa certa confusão ao mencionar que “a janela de janeiro está encerrada”. Aliás, informação interessante oficialmente divulgada pela Fifa, durante essa “janela de janeiro”.

Foram registradas 2.451 transferências internacionais de atletas de futebol, “o que representa um aumento de 104% em relação ao mesmo período do ano passado, somando um rendimento acumulado de 320 milhões de dólares”. Isso comprova o aquecimento do mercado do futebol nesse início de ano.

O que se conhece por janela de transferência nada mais é do que o período em que, via de regra, um determinado jogador pode ser registrado em uma determinada federação nacional filiada à Fifa. De acordo com os Regulamentos da Fifa, cada federação nacional deve ter duas janelas de transferência (ou então, mais corretamente, períodos de registro de jogadores.

Cada federação nacional deve comunicar à Fifa sobre as suas janelas específicas, sendo que a primeira (em regra ao fim da temporada) não pode exceder 12 semanas, e a segunda – no meio da temporada – não pode exceder 4 semanas. Caso uma federação deixe de fazer esse comunicado, a Fifa então poderá determinar os períodos para a janela ex-officio.

Tendo sido feitas essas considerações, podemos já esclarecer que de fato não existe o que se chama de janela de transferência europeia, já que cada país tem os seus próprios períodos de registro. Na verdade o que ocorre é que uma grande quantidade de países europeus tem o encerramento de sua janela de transferência de inverno ao final de janeiro.

Entretanto, essa não é uma regra. Países como Suécia, Noruega e Bulgária possuem janelas de inverno que se encerram dentro de um ou dois meses. A Finlândia, por outro lado, nem teve sua janela aberta: suas negociações acontecem somente em março.

Assim, é importante esclarecer que é possível que jogadores brasileiros sejam transferidos para a Europa mesmo após o que se denomina “janela europeia”, bastando para isso que o país de destino seja um daqueles cuja janela se estenda pelos meses de fevereiro e/ou março.

TMS

Uma boa notícia é que o Transfer Matching System (TMS), sistema on-line implementado recentemente pela FIFA para aumentar a segurança e transparência nas transferências internacionais de jogadores foi “aprovado” em sua primeira janela.

Esse sistema tornou-se obrigatório a partir de outubro de 2010. Segundo os operadores do sistema, tudo funcionou perfeitamente e todas as transferências puderam ser devidamente monitoradas.

Essa é mais uma boa notícia contra os supostos desvios de verbas que alegadamente ocorriam em transferências internacionais de jogadores. Agora é ficar atento ao caminhar das transações para saber se a ferramenta vai mesmo conseguir inibir esse tipo de prática ilegal. Afinal de contas, e infelizmente, como diz o ditado, “hecha la ley, hecha la trampa”.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Teremos tempo para a sustentabilidade na Copa?

A agenda da sustentabilidade tem ocupado grande parte dos debates e preocupações de diversos organismos públicos e privados. O tema está presente nas mesas de discussões e projetos para a Copa do Mundo de 2014, com algumas cidades falando em “estádios verdes” e “ecologicamente corretos”.

Segundo apurei superficialmente, cada estado com projetos de estádio para a copa deverá criar uma “Comissão de Meio-Ambiente e Sustentabilidade”. O Rio Grande do Norte, segundo noticiou o Portal 2014 (www.copa2014.org.br), foi o último estado a criar a tal comissão.

O fato é que pesquisei sobre as suas atribuições e nada encontrei (se algum dos leitores souber explicar a respeito de tais funções desta comissão, agradeço imensamente). Além disso, pelo recorrente e anunciado atraso em muitas das obras ligadas à copa, passei a questionar: será que sobrará algum tempo para de fato aplicar princípios de sustentabilidade nas instalações esportivas (e urbanas) ligadas ao mundial de futebol?

A reflexão é muito simples. Se o tempo está ficando cada vez mais curto para fazer o básico, como é que podemos esperar aquilo que para muitos é supérfluo? Talvez o tema da sustentabilidade tenha deixado de ser supérfluo há algum tempo, mas não é difícil imaginar que, com o torneio batendo à porta, há de se criar as condições básicas para que um jogo de futebol ocorra, fazendo as devidas maquiagens em nome do “embelezamento do espetáculo” e ponto final.

Entre fazer uma cobertura rápida e simples, e outra que demandará mais tempo para colocar placas de captação de energia solar, por exemplo, alguém tem dúvida do que será feito? E esperar que algo ocorra de benfeitoria nesse sentido após a Copa seria como escutar conversa fiada, a qual já estamos acostumados.

De acordo com Bell (2002), sustentabilidade é “internalizar as responsabilidades sociais e de meio-ambiente dentro de uma estratégia de negócios como forma de capacitar a organização para entregar benefícios permanentes para as gerações atuais e futuras de acionistas, colaboradores e demais stakeholders”.

Por tudo isso, o que se falou sobre planejamento em vários textos aqui publicados na Universidade do Futebol volta a aparecer como ponto de corte entre um megaevento bem administrado e aquilo que se coloca na mídia como plataforma política-eleitoreira. Que a copa seja sustentável de fato, e que o tema fique evidenciado sempre, em todos os processos de execução, planejamento e operacionalização das obras (e não apenas na falácia de alguns discursos de palanque).


Referências

Bell, D. V. J. (2002). “The Role of Government in Advancing Corporate Sustainability. Background Paper”. Disponível em www.sustainableenterpriseacademy.org.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br