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Qual é a do Leão?

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.

 
O empresário Paulo Garcia, da Rede Kalunga, é o novo diretor de futebol do Corinthians. Sua entrada é uma aposta para conter os ímpetos destemperados de Leão com a mídia.
 
Porém, o buraco é mais embaixo. A verdade é que não há mais clima para o técnico continuar à frente do time do Corinthians. Leão mostrou suas limitações na função. Treinos táticos parecem não ser do agrado do treinador mosqueteiro, num momento em que a equipe precisa contar com o dedo estratégico de um treinador.
 
Não é segredo que Leão não é fã da fisiologia do esporte e também da tecnologia. Certa vez o técnico corintiano chegou a dizer que não era “computadorizado”. Aliás, o Corinthians é um dos poucos clubes que possui um setor bem equipado para dar apoio ao futebol.
 
Aí fica a pergunta: será que ainda há espaço no futebol para um técnico que não consegue dar um padrão de jogo num time que possui um bom elenco (ou não?), que pouco se preocupa em treinar as variantes táticas que podem acontecer num jogo, que não utiliza os recursos humanos e tecnológicos à sua disposição e sempre arranja um culpado para os resultados negativos?
 
Como no futebol o que vale ainda é o resultado, esperemos então pelo clássico contra o Palmeiras.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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O poder do microfone

Pirambu era, até a última quarta-feira, um desconhecido time de Aracaju. Mais incógnito ainda era Alan, o goleiro da equipe sergipana. Até que o Pirambu cruzou no caminho do Corinthians…
 
Mais do que a glória de empatar com o poderoso alvinegro, o que surpreendeu mesmo no Pirambu não foram os driblres de Saci nem as defesas seguras de Alan durante os 90 minutos.
 
Após o heróico empate, Alan, eleito o melhor da partida, foi alvo das entrevistas de todas as emissoras de TV. E por lá estavam Band e Globo, representando cerca de 60% do território nacional em termos de visibilidade.
 
E então Alan, driblando a mesmice que cercam entrevistas de atletas de times menores contra os grandes, marcou um golaço. Quando questionado sobre a quem dedicava a partida, usou o microfone da TV para alertar o país sobre o assassinato de seu pai no interior da Bahia.
 
“A Justiça no país deixa a desejar. Três meses após o assassinato, descobriram quem matou meu pai, mas pessoas que conheciam o culpado o encobriram”, afirmou o atleta, referindo-se ao crime ocorrido em Olindina, na Bahia.
 
O repórter Fernando Fernandes, da Band, se surpreendeu com a resposta nada comum à batida pergunta. Mais do que dedicar a atuação ao pai morto, Alan culpou a morosidade da Justiça do país e advogou em causa própria, pedindo a solução para mais um crime num país que não soluciona 95% dos seus homicídios.
 
Porém, mais do que advogar em causa própria, Alan mostrou o poder que tem o microfone.
 
Seu protesto nunca seria ouvido se não fosse o jogo contra o Corinthians. E, agora, a discussão de seu caso pode ser agilizada na Justiça brasileira. Tudo isso só foi possível depois que o goleiro usou a TV para desabafar.
 
O poder que a imprensa adquire, muitas vezes, é maior que o de qualquer outra esfera pública. Alan percebeu isso e usou o microfone para alertar sobre o seu problema. Mas, o que mais assusta, é a maneira como a imprensa encara um assunto como esses.
 
A irresponsabilidade de muitos jornalistas com a veracidade da informação, ou com o próprio impacto que uma informação errônea pode ter, acaba sendo responsável por um descrédito das pessoas com a notícia que recebe.
 

Se mais Alans trabalhassem nos veículos de comunicação, quem sabe evitaríamos debates infindáveis nas mesas-redondas de domingo…

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Dificuldades acadêmicas

Estudar futebol não é fácil.
 
Parece, mas não é.
 
Principalmente para quem, como eu, estuda o seu aspecto industrial.
 
Primeiro porque ninguém respeita.
 
Quando me perguntam o que eu ando fazendo da vida, respondo que tenho desenvolvido uma pesquisa por uma universidade inglesa. As pessoas se impressionam. Aí, no afã por maiores especificidades, elas me perguntam qual é o tema da minha pesquisa. Confesso que eu não sei exatamente qual é a resposta que elas esperam ouvir, se é a solução para a desigualdade social brasileira, a busca pelo equilíbrio sustentável do planeta ou a procura pela cura da enxaqueca.
 
Fato é que quando eu respondo que pesquiso a indústria do futebol, é possível perceber uma mudança na expressão de quem perguntou. Uma boa parte me encara com um ar de incerteza, diz que o tema é interessante e muda de assunto. Outra boa parte dá risada e pergunta de novo, exigindo uma resposta séria. Com a confirmação de que a pesquisa é realmente sobre a indústria do futebol, diz que o tema é interessante e muda de assunto. Uma minoria realmente se importa e vê algum valor latente no trabalho. Uma parcela menor ainda diz que nunca tinha pensado que dava pra pesquisar futebol e que tem vontade de largar tudo pra fazer isso. Esses, em geral, estão bêbados.
 
Tirando um certo preconceito acadêmico em relação ao tema, de um modo geral, o grande problema de se pesquisar a indústria do futebol é a carência de fontes de informação sobre o assunto, e de metodologia e imparcialidade nos estudos já realizados.
 
Não é nada fácil encontrar no Brasil dados confiáveis que possam servir como embasamento inequívoco para a elaboração de teorias a respeito do funcionamento da indústria do futebol brasileiro. Quase tudo necessita de desconfiança e crítica, e, pela característica multidisciplinar do objeto futebol, essas dificuldades de estudo se multiplicam.
 
Isso tudo acaba gerando um ciclo vicioso para a produção acadêmica que trata a respeito da indústria do futebol. Pouca produção gera, obviamente, conhecimento leviano que acaba desqualificando futuros orientadores, que por sua vez se tornam incapazes de conduzir melhores pesquisas. No fim das contas, a academia acaba perdendo a sua função de existência, ou seja, deixa de servir como fonte de referências para as tomadas de decisões da sociedade.
 
Com isso, perde o futebol, que fica sem saber o que fazer para se integrar à sociedade, e a sociedade, que fica sem saber o que fazer com o futebol.

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Trabalho inédito no Paulista

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
 
Na quarta-feira que antecedeu o Carnaval os novos contratados para o projeto Campus Pelé foram apresentados a todos os funcionários, jogadores e comissões técnicas do Paulista.
 
É um projeto inédito no país e que, certamente, poderá servir de modelo para quem quiser investir no futebol com seriedade, como fez o Grupo Fator. Ao lado do clube de Jundiaí, juntam-se o Litoral FC de Santos (time criado por Pelé) e o Lausanne, da Suíça.
 
Pela primeira vez num clube de futebol, vi os conceitos de interdisciplinaridade serem discutidos. No Paulista, os profissionais trabalharão de forma integrada e com liberdade para contribuir, quando possível, com os responsáveis de outras áreas.
 
Como coordenador de gestão de carreiras, estou dando o pontapé inicial para podermos implantar uma nova forma de trabalharmos junto aos jovens atletas, abrangendo não apenas os aspectos técnicos e físicos, mas também emocionais, sociais e culturais, entre vários outros.
 
Espero conseguir pôr em prática tudo aquilo que está sendo planejado e comandado com maestria por João Paulo Medina e tendo ao lado gente do mais alto quilate, como a psicóloga Regina Brandão, o professor de pedagogia do futebol Alcides Scaglia, o experiente Marcos Biasotto (que retorna ao clube, depois de ser “arrancado” do Atlético Paranaense)… Enfim, só “fera”.
 
Mas, de uma coisa os investidores e Pelé podem ter certeza: faremos de tudo para que nossas ações sejam um verdadeiro gol de placa que até o rei poderá assinar embaixo.
 
A coluna de João Paulo Medina voltará a ser publicada dentro de algumas semanas

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Tiro no pé

Romário é o maior jogador do futebol brasileiro desde Pelé. De fato, os números comprovam a eficiência do Baixinho. Ele já venceu de tudo um pouco e, ainda por cima, consegue aos 41 anos de idade ser letal dentro da grande área. Mas não deveria ser por isso que a lei estivesse acima de Romário.

Em dezembro do ano passado, a Máquina do Esporte levantou a lebre de que Romário não teria condições de defender o Vasco antes de julho de 2007. A repercussão do caso aumentou, e a discussão foi parar na Fifa, estância máxima para resolver os problemas do futebol. No final das contas, a Fifa lavou as mãos. Deu à CBF a incumbência de decidir se Romário poderia ou não entrar em campo pelo Vasco, mesmo que isso desrespeitasse uma de suas normas.

No final das contas, Romário já reestreou pela milésima vez no Vasco, em busca do milésimo gol. Pelas contas dele, faltam dez. Por algumas outras contas, podem faltar mais de cem… O fato é que a Fifa burlou sua própria norma para conceder ao Baixinho o privilégio que até hoje apenas Pelé foi capaz de ter reconhecido o feito da ultrapassagem dos mil gols.

Ok, a repercussão mundial do feito de Romário será importante para a Fifa, para o Vasco, para Romário. Mas o “jeitinho” dado por todos para que Romário jogasse foi um tiro no pé da gestão do futebol mundial. O Baixinho mais uma vez foi genial, conseguindo burlar uma norma da Fifa com o aval da própria Fifa! Mas seu caso abre um grave precedente.

A partir de agora, cairá o veto às transferências internacionais dos atletas. Ainda mais com o fim do passe no mundo inteiro, o futebol vai virar um festival de idas e vindas, chegadas e saídas. E, com isso, quem perde é a organização do espetáculo. É, mais ou menos, como uma peça de teatro ter o seu elenco substituído a cada show. E o entrosamento? E a qualidade do espetáculo?

Romário chegará aos mil gols. Mas a um custo grande demais para o futebol mundial.

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A Copa do Mundo e a mentira sobre o legado esportivo

Sejamos sinceros. Se a Copa do Mundo de 2014 for realmente no Brasil, quem você acha que vai pagar a conta?
 
Sem chance de qualquer erro, é possível dizer que atualmente quem financia qualquer investimento válido em estrutura esportiva no Brasil, direta ou indiretamente, é o governo, principalmente o federal. Basta ver o Pan.
 
2014 pode parecer longe. Afinal, no filme ‘De volta para o Futuro’, o futuro mais distante imaginado – que possuía carros e skates voadores, tênis e roupas auto-ajustáveis com secadores, outdoors holográficos e hidratadores de pizzas – era 2015. De acordo com idéia, portanto, a Copa do Mundo de futebol no Brasil será realizada um ano antes disso tudo.
 
Porém, 2014 não é tão longe assim. São apenas sete anos. É logo ali, como a África. E é bastante possível dizer que boa parte dos diversos problemas do Brasil não será solucionada até lá. É claro que a tendência, ainda que incerta, é que o mercado evolua, que o nível educacional médio suba e que a estrutura do país como um todo melhore. Mas muito daquilo que atravanca o desenvolvimento nacional irá continuar acontecendo, principalmente se levar em conta que dificilmente o Estado diminuirá de tamanho de maneira significativa. Isso quer dizer que quem vai financiar a Copa de 2014 será ninguém que não o Poder Público. Muito provavelmente, será o dinheiro proveniente dos tributos que irá pagar a conta final do investimento realizado para sediar o evento.
 
O fato de o Estado ser o principal financiador de um evento esportivo como a Copa do Mundo gerará grandes distorções na aplicação dos investimentos. Projetos serão escolhidos com critérios subjetivos, os materiais utilizados podem não ser da qualidade necessária, e a avaliação final dos resultados será muito mais política do que técnica. Problemas como estouros orçamentários e atraso de obras serão comuns, além de possíveis mudanças nos projetos durante a execução. E, talvez o pior de tudo isso, os projetos serão pensados muito mais pelo viés do retorno político da obra do que pela sua sustentabilidade.
 
Um caso clássico desse tipo de posicionamento foi o estádio Delle Alpi, da Juventus de Turim. Construído pelo poder público para a Copa de 1990 na Itália, o estádio virou uma dor de cabeça para o futebol italiano, principalmente para a Juventus, que se tornou dona do espaço. O estádio é enorme, suntuoso e bonito por fora. Porém, é frio, extremamente disfuncional, e tem lugares onde não é possível ter uma visão completa do gramado, que por sua vez fica longe das arquibancadas por conta de uma pista de atletismo que, pelo que me consta, foi utilizada uma única vez desde que o estádio foi inaugurado, quase vinte anos atrás. Não por acaso, a média de público da Juventus é pífia, quase no mesmo nível de jogo do Campeonato Brasileiro. O estádio foi parte do legado deixado pelo investimento público na Copa do Mundo.
 
Além desses problemas práticos de se investir o dinheiro público na realização de um evento do tamanho da Copa, há de se questionar como que um torneio como esse pode gerar um legado estrutural para o país. Afinal, melhorias estruturais, transporte, segurança, et al, são obrigações do Estado. É pra isso que eu e você pagamos impostos. Não precisa que aconteça um evento desse tipo para que o poder público pense em se mexer. Se, por exemplo, disserem que a Copa do Mundo trará melhorias na segurança pública do país, quem está pagando a Copa é o governo e todo mundo sabe que o país precisa de melhorias na segurança, por que esperar uma Copa do Mundo pra fazer isso? A mesma coisa vale para melhoria nas estradas e nos aeroportos. Todo mundo sabe que precisa melhorar. Precisa realmente da motivação futebolística para desamarrar os nós e fazer a coisa funcionar?
 
Não faz sentido.
 
Como também não faz sentido acreditar que os novos estádios serão uma benesse para o futebol brasileiro. O país ainda sofre com a herança da última vez que tentaram fazer estádios grandes e modernos, durante a ditadura militar. Criou-se, então, uma estrutura imaginária para o futebol nacional que acabou não se sustentando com a queda do regime. Desde então, o país sofre com o peso dos elefantes brancos. Ou melhor, com os amplos espaços vazios dos estádios, típicos de projetos feitos sem perspectiva de futuro e sustentabilidade, pensados unicamente no afã do momento político da inauguração. Igualzinho ao que provavelmente vai acontecer com a Copa de 2014.
 
O Pan indica que a iniciativa privada brasileira ainda não está muito disposta a investir em um evento esportivo. Em sete anos, dependendo, é possível que o cenário mude, mas não muito. Como a Copa do Mundo é imensuravelmente maior que o Pan, é óbvio que a boa vontade dos investidores privados deve aumentar. Entretanto, os ganhos políticos proporcionados pela Copa também serão enormes, principalmente se for levado em conta que 2014 é ano de eleição presidencial e para governador. Com isso, talvez a própria vontade de investimento público (dinheiro) por retorno político (voto) acabe sufocando o investimento privado. Dessa forma, pouca coisa deve mudar mesmo.
Quem vai acabar pagando a conta, é o governo federal.
 
Posteriormente, quem vai pagar é o futebol brasileiro, que terá que se virar pra sustentar uma herança desproporcional ao seu tamanho.
 
Estou louco para saber o que vai acontecer em 2014.
 
Vou pegar o meu De Lorean na garagem.

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A monocultura do futebol

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
 

Antonio Afif
 
Há vários anos ouço o amigo e professor João Paulo Medina dizer que o futebol é tratado de forma fragmentada em suas comissões técnicas – multidisciplinares, é verdade, mas carregadas de uma cultura caracterizada pela visão especialista, com pouca ou nenhuma integração entre os profissionais das mais diversas áreas.
 
É aquela velha história que sempre ouvi nos clubes de futebol em que trabalhei: “cada um tem de fazer a sua parte; eu não entro em sua área e você não entra na minha”.
 
Agora, lendo um texto recente do professor Medina, encomendado pelo mestre português Manuel Sérgio, pai da Ciência da Motricidade Humana, pude notar que os preceitos preconizados por ambos, desde os anos 80, são cada vez mais necessários ao futebol atual, que conta com um número crescente de profissionais de diversas especialidades em seus quadros.
 
A visão especialista -que propiciou bons resultados práticos no futebol brasileiro- cria no mundo atual (e isto se aplica também ao futebol) um distanciamento de uma melhor compreensão global da realidade.
 
Para Medina “a especialização, entendida de forma isolada e desconectada de suas relações com o mundo, a natureza e o homem, da forma mais ampla possível, já não faz o menor sentido”.
 
É verdade. Vemos hoje que o futebol adota alguns princípios científicos como se fossem verdades absolutas e imutáveis, que aliados com uma boa dose de empirismo dificultam novos avanços deste esporte.
 
O filósofo e apaixonado por futebol, Manuel Sérgio, respeita os antigos treinadores, pelo que podem ensinar e pelo fato do esporte mais popular do planeta ser, em primeiro lugar, prática e só depois teoria.
 
No entanto, Manuel Sérgio (que é reverenciado por José Mourinho, um dos técnicos mais admirados da atualidade), observa que a monocultura do saber, praticada por alguns técnicos de futebol, é um erro. “É preciso saber mais do que futebol, no mundo do futebol”.
 
Por isso, devemos sempre ter em mente que para entendermos de futebol, apenas estudando futebol, sem observarmos a complexidade humana, jamais saberemos o que é futebol.

A coluna de João Paulo Medina voltará a ser publicada dentro de algumas semanas

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Direito de resposta 2

O tema era despretensioso. Falar sobre o improvável direito de resposta que as fontes têm por lei a possibilidade de exigir dos veículos de imprensa parecia um tema batido e sem grande margem para discussão. Mas eis que o debate começou a ser suscitado pelo e-mail, um atalho para aproximar o jornalista da fonte e, especialmente, do leitor.
 
É inegável que, dada a condição suprema que atingiu hoje a imprensa esportiva no Brasil, é raro vermos alguém ter sucesso ao exigir seu direito de resposta. Claro que tudo isso varia. Às vezes quem reclama não tem total razão em fazê-lo, assim como geralmente quem transmite a informação não está 100% correto. Mas, quando o tema já tinha perdido sua força, a Itália mostra que o “direito de resposta” permeia as discussões não apenas da imprensa brasileira.
 
Manchete no último sábado, dia 10 de fevereiro, de La Gazzetta dello Sport, principal jornal esportivo da Itália: “Del Piero será pai”. A matéria, muito mais condizente com um veículo de fofocas de celebridades, dizia que o meia da Juventus, campeão do mundo pela Itália, seria pai em breve. Falava sobre a vida pessoal do atleta e de sua esposa, sempre com fontes de informação ligada à família de Del Piero.
 
Manchete no domingo, na mesma La Gazzetta dello Sport: “La Gazzetta pede desculpas a Del Piero”. Sim, é isso mesmo! E não é que o repórter do jornal só não fez uma coisa em toda sua matéria extensa sobre a gravidez da mulher do jogador? Perguntar a eles se isso era verdade…
 
O resultado foi uma vexatória página no jornal para dizer o oposto do que disse antes, como cantava Raul Seixas. Não sei qual foi a conseqüência dessa barrigada do repórter italiano. Mas, para o mais tradicional veículo de esportes da Itália, responsável pela maior venda de um jornal na história do país (quando a Azzurra ganhou a Copa, no ano passado) e com mais de cem anos de atuação, a história mal apurada foi uma afronta a seu leitor.
 
Mais do que se preocupar com o certo ou o errado, com quem foi o culpado, a Gazzetta se preocupou com seu produto, que é o leitor. Em nome de sua honra, reconheceu o erro e publicou a correção.
 
A atitude italiana mostra que, em nome da credibilidade jornalística, conceder o direito de resposta pode se revelar uma atitude muito mais correta do que simplesmente brigar com a fonte tentando comprovar que se está com a razão. É lógico que, no caso Del Piero, a razão era plenamente favorável ao atleta. E a “humildade” do jornal em reconhecer o erro foi uma aposta certa em nome do que lhe é mais precioso: a credibilidade.
 

O duro é esperar para ver se a moda pega…

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A nova investida de Hicks

Mais um clube inglês foi vendido. Mais um clube inglês foi vendido para alguém de fora da Inglaterra. Mais um clube inglês foi vendido para alguém dos Estados Unidos da América.
 
Até esta semana, seis clubes da English Premier League eram de propriedade de capital estrangeiro. Tem o Chelsea do Abramovich, o Porstmouth do franco-russo Gaydamak, o Fulham do egípcio Al Fayed, o West Ham do islandês Magnussom, e o Manchester United e Aston Villa, dos americanos Glazer e Lerner, respectivamente. A bola da vez, agora, é o Liverpool, que foi adquirido por um consórcio composto por outros dois americanos: George Gillet Jr e Thomas O’ Hicks.
 
A razão pela qual tantos americanos estão investindo em clubes de futebol inglês é bastante lógica, afinal o campeonato inglês é, de longe, o mais rentável da Europa. E o mercado de futebol europeu é, de longe, o mais rentável do mundo. Para se ter uma idéia, a receita total da Premier League na temporada de 2004/05 foi próxima de 2 bilhões de euros. A previsão é que na temporada de 2007/08, a receita chegue a US$ 3,25 bilhões. É mais do que o PIB do Timor Leste.
 
Melhor ainda para os investidores é que boa parte desse montante, um pouco mais de 40%, vem de direitos de transmissão das partidas, ou seja, é um dinheiro quase sem custo. E nada indica que esses valores atingiram sua cotação máxima, vide o recente acordo de transmissão internacionais da Premier League, que foi comprado pela bagatela de mais de U$ 1 bilhão. Esse novo acordo é o dobro do valor do anterior, e faz com que a receita de direitos de transmissão do campeonato inglês para as próximas três temporadas seja avaliada em mais de R$ 8 bilhões. Prato cheio pra qualquer endinheirado que goste de investir em esportes, como é o caso dos americanos, todos donos de pelo menos uma franquia das maiores ligas esportivas americanas.
 
O Liverpool pode ser considerado o maior time do futebol inglês. Tudo bem que o Manchester United tem lá o seu apelo comercial, que o Chelsea ganha tudo ultimamente e que o Arsenal é o time do Hornby, mas nenhum deles possui o tamanho dos vermelhos de Merseyside. Nenhum time na Inglaterra ganhou tanto. Só de títulos europeus são cinco. Além disso, a equipe sempre foi protagonista dos grandes acontecimentos do futebol inglês. As duas maiores tragédias do futebol europeu, que contribuíram de forma crucial para a mudança de toda a conjuntura comercial do jogo, aconteceram em jogos do Liverpool. Primeiro em Heysel e depois em Hillsborough. Tudo isso contribui para dar ao time um ar todo especial, recheado de história e tradição. Não é por acaso que o seu website possui pelo menos um usuário registrado de todos os países do mundo, e nem que a fila para comprar o pacote da temporada seja de 20 anos. Se você ligar lá hoje e pedir pra comprar o carnê, você entra na lista de espera e recebe o pacote, provavelmente, em 2027.
 
Os novos compradores sabem disso, e toparam o desafio. Os dois americanos possuem experiência suficiente para provar que conseguem conciliar a experiência adquirida nos esportes americanos com as peculiaridades do mercado futebolístico. Gillet já tentou comprar o Denver Nuggets, time da NBA. Não conseguiu, mas acabou adquirindo o tradicional time da NHL Montreal Canadiens em 2001, que não ganhou nada desde então. Tomando o hóquei sobre o gelo como base, Tom Hicks parece possuir mais sucesso esportivo. Em onze anos, sua franquia na NHL, o Dallas Stars, ganhou treze títulos.
 
Entretanto, nem tudo são flores. Hicks é também dono do time de beisebol Texas Rangers. Na tentativa de construção de uma super-equipe em 2001, Hicks acabou gastando US$ 250 milhões em um só jogador, Alex Rodriguez. O jogador não rendeu, o time muito menos. Como as contas do time estavam muito desniveladas e nenhum outro time tinha grana pra bancar o salário do jogador, Hicks acabou subsidiando a transferência de Rodriguez para o New York Yankees, o que acabou lhe rendendo o apelido de ‘Tom Dumb’, ou ‘Tom Burro’.
 
Outra investida de Hicks foi no Corinthians, que apesar do título mundial de clubes, não dá pra dizer que foi algo de muito sucesso. Afinal, o HMTF tentou fazer um estádio e não conseguiu. Tentou licenciar produtos e não deu certo. Tentou inventar uma liga própria e nada. O projeto com o Corinthians era pra durar dez anos. Durou dois.
 
O contrato de Alex Rodriguez com o Texas Rangers também era de dez anos. Durou dois.

Resta saber onde estará o Liverpool em 2009.

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Uma crise para o futebol brasileiro

Parece estranho acreditar que uma crise possa fornecer algum tipo de auxílio no desenvolvimento de uma área qualquer de atuação, em uma sociedade como a nossa, já tão cheia delas. Mas é exatamente isso que nosso futebol parece está precisando, caso queiramos que ele evolua enquanto instituição.
 
A crise é um instante decisivo que traz à tona praticamente todas as anomalias que perturbam um organismo, uma instituição, um grupo ou uma pessoa. E esse é o momento crucial em que se exigem decisões e providências rápidas e sábias, se é que pretendemos debelar o mal que nos aflige.
 
Muitas vezes, por trás de certas situações de aparente normalidade, escondem-se as mais variadas distorções ou patologias, que em virtude daquela aparência não são colocadas em questão. 
 
O futebol, considerado por alguns sociólogos como uma representação simbólica da própria vida em um sentido mais amplo, nos fornece ricas demonstrações neste aspecto.
 
Basta, por exemplo, que uma equipe comece a perder as possibilidades ou esperanças de chegar ao fim do campeonato na posição em que seus torcedores esperam, para que o ambiente comece a piorar e as críticas se multiplicarem. A partir daí, tudo é questionado. Dirigentes, treinador, comissão técnica e jogadores são colocados em xeque.
 
O lado bom desse ambiente tenso e desfavorável é que a partir daí, todos começam a perguntar, de uma forma mais séria e profunda, sobre o que estaria errado e o que poderia ser feito para que tudo pudesse melhorar.
 
A crise, portanto, impõe certas medidas que favorecem as mudanças.
 
Neste sentido, se desejamos mudanças radicais na organização do nosso futebol, não seria legítimo afirmar que para isso ocorrer precisaríamos, antes, vivenciar uma profunda crise nesta instituição?

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