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Jogar à zona no escanteio defensivo

Existe no futebol um discurso antigo que persegue os jogadores de defesa na marcação dentro da área penal nas situações de escanteio.

Segundo ele (o discurso), o jogador que faz a marcação tem que ficar “de olho” no adversário a ser marcado por ele, e não na bola. Numa versão “mais evoluída” ele propaga e ecoa nos quatro cantos do campo de jogo, dos estádios e dos aparelhos de TV que “o jogador que marca no escanteio tem que ficar de olho no adversário a ser marcado mas com atenção à bola”.

Pois bem. Para debater a respeito daquilo que propõe as entrelinhas do “discurso”, recorro, abrindo um parêntese, a uma brincadeira/jogo de infância e pré-adolescência em que eu e meus amigos inspirados nos seriados da época encarnávamos personagens e criávamos um mundo paralelo de diversão; era a brincadeira/jogo de “polícia e ladrão”.

No jogo de “polícia e ladrão”, formávamos duas equipes com mesmo número de jogadores. Uma equipe (a dos “ladrões”) fugiria pela extensa área do condomínio onde morávamos e a outra (a dos “policiais”), depois de um tempo pré-determinado para que os “ladrões” fugissem e se escondessem, sairiam em busca de “capturá-los” e levá-los até a prisão (a prisão era um círculo de uns 10 metros de diâmetro desenhado no chão do playground do condomínio).

Era uma versão sofisticada do tradicional “pega-pega”. Para pegar bastava encostar a mão em quem fugia.

Toda vez que um “ladrão” fosse pego, era imediatamente conduzido para a “prisão”. Na prisão, poderia ser salvo. Bastava, para isso, que um dos jogadores da sua equipe que ainda estivesse livre, entrasse na prisão e encostasse a mão nele.

A brincadeira/jogo durava horas e a todo o tempo “policiais” e “ladrões” precisavam se ajustar as novas condições do jogo. Quando um “ladrão” era pego ao menos dois “policiais” eram remanejados para cuidar da prisão (caso contrário, corriam-se maiores riscos de que dois ou mais “ladrões” livres viessem tentar salvar seu companheiro, obtendo êxito).

Então, a cada necessidade imposta pelo jogo, uma nova organização (auto-organização) era estabelecida pelas equipes.

Normalmente, a equipe dos “policiais” se distribuía igualmente pelas áreas do condomínio; e nas redondezas da prisão ocupava pontos estratégicos para impedir as tentativas de salvamento. Os “ladrões” por sua vez tentavam alternar ataques a prisão com momentos de fuga e esconderijo, de acordo com as necessidades da equipe; diminuindo substancialmente os ataques a prisão conforme aumentava o número de “ladrões” presos.

Pois bem, exposta a brincadeira/jogo, voltemos ao discurso, nas suas duas versões.

Quando uma equipe tem a seu favor um escanteio, tem a chance de aproximar rapidamente bola e alvo, com uma distribuição já estabelecida de jogadores de ataque dentro da área penal ofensiva. Quando a bola é cruzada dentro da área, o objetivo máximo é finalizá-la a gol o mais rápido e com a maior eficácia possível.

Para a equipe que se defende, o escanteio ofensivo adversário é uma situação de perigo iminente e onde afastar a bola da meta defensiva é uma das prioridades.

Quando brincávamos/jogávamos de “polícia e ladrão” eu e meus amigos, ainda muito jovens tínhamos claro que quando éramos “polícia”, a melhor maneira de proteger a “prisão” (o alvo) do ataques dos “ladrões” era manter posições que garantissem uma distribuição equilibrada no terreno do jogo (obviamente não tínhamos a menor idéia do que significava “manter posições que garantissem distribuição equilibrada no terreno de jogo“; mas intuitivamente fazíamos).

Eram raríssimas as vezes que os “ladrões” tinham êxito.

Não, não, não, senhores!!!

Não estou propondo que a partir de uma brincadeira/jogo de criança mudemos algo no tão “jogo” como o futebol.

Mas façamos uma reflexão; não seria possível organizar a marcação no escanteio defensivo, para ao invés de priorizar o adversário como referência, orientar-se pela ocupação inteligente do espaço de forma a ter jogadores que possam chegar rapidamente à regiões de importância da área de meta – para no mínimo disputarem a bola e atrapalharem (dificultarem) a finalização adversária?

O que quero dizer em outras palavras é que havendo uma distribuição equilibrada, inteligente do espaço, não será necessário perseguir jogadores pela área; isso porque a distribuição dos jogadores que marcam garantirá que se tenham sempre jogadores na região em que a bola foi/for/ou será cruzada, independente de qual seja essa região.

Pensemos nisso.

E para que vocês senhores, não achem que isso é brincadeira de criança, sugiro acompanharem ao menos um jogo do Liverpool FC (que tal Liverpool vs Real Madrid dia 10 de março pela UEFA Champions League?), que tem dado um bom exemplo de como impedir o “ataques dos ladrões” a sua meta defensiva nos escanteios.

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A estabilidade contratual

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Desde a sentença Bosman, em 1995, com o estabelecimento da livre movimentação de jogadores europeus, decretado pela Suprema Corte Européia, e suas consequências em todas as demais partes do mundo, a questão da estabilidade contratual tornou-se um dos maiores desafios do futebol profissional mundial.

Em 2001, depois de um acordo firmado com a Comissão Européia, a FIFA incluiu em seus Regulamentos uma Seção inteira dedicada à manutenção da estabilidade contratual entre jogadores e clubes, com a finalidade de promover o respeito de todas as partes aos termos de um contrato profissional de futebol devidamente firmado.

Recentemente, (janeiro de 2008), o Caso Webster suscitou novamente a questão, quando o jogador rescindiu unilateralmente o seu contrato for a do chamado “Período Protegido” (Protected Period1), e o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) impôs uma indenização monetária devida ao clube no montante equivalente ao valore residual do contrato.

Essa decisão do CAS causou grande reação na indústria do futebol, uma vez que aparentemente permitia uma generalização da decisão, de modo que todas as subsequentes rescisões unilaterais fora do “Período Protegido” resultariam automaticamente no pagamento dos valores residuais pela parte que rescindisse. Esse endendimento, entretanto, não é correto.

O princípio básico da estabilidade contratual está contido no Artigo 13 do Regulations on the Status and Transfer of Players, que indica que “um contrato entre um profissional e um clube somente pode ser terminado mediante término de seu prazo de vigência ou por mútuo acordo entre as partes”.

Como mencionado acima, a FIFA também decidiu criar o hoje já bem conhecido conceito do “Período Protegido”, que significa o período de vigência do contrato de trabalho, em que as sanções desportivas deveriam ser aplicadas aos jogadores ou clubes pela rescisão antecipada unilateral sem justa causa, adicionalmente à eventual multa pecuniária.

Neste sentido, o término do contrato de trabalho no futebol profissional pode produzir consequências reparatórias para uma das partes, com exceção dos seguintes casos: (i) se o termo do contrato expirar; (ii) se houver acordo mútuo para término antecipado ou (iii) se houver rescisão antecipada por justa causa (nas hipóteses listadas no próprio Regulamento).

Na hipótese rescisão antecipada sem justa causa, se o contrato estiver fora da vigência do Período Protegido, então apenas sanções monetárias poderão ser aplicadas.

Desta forma, uma primeira lição que podemos tirar, e que devemos esclarecer: o “Período Protegido” foi criado pela FIFA com a intenção de reprimir ainda mais as rescisões contratuais nos primeiros anos de contrato, e não de incentivar as rescisões nos últimos anos. A regra continua mesma: é preciso que as partes respeitem os contratos firmados.

Passada essa primeira questão, temos ainda que resolver a polêmica gerada pelo caso Webster com relação ao cálculo do valor das indenizações nas rescisões unilaterais sem justa causa.

A esse respeito, é importante ressaltar que de acordo com o Artigo 17(1) dos Regulamentos da FIFA mencionados acima, a indenização deverá sempre ser calculada, a menos que disposto de outra forma no contrato, com a análise dos seguintes fatores: leis locais aplicáveis, especificidade do esporte e outros critérios objetivos existentes (cujos exemplos são apresentados nos Regulamentos).

No caso específico do Webster, o CAS entendeu que a indenização seria o valor residual por conta da peculiaridade do caso, tendo em vista os critérios acima mencionados, dentre eles o fato de não haver menção no contrato à época vigente sobre o valor da multa, ou de sua forma de cálculo.

Desta forma, a questão fica resolvida. Não há regra geral firmada pela decisão do Caso Webster. Apenas uma indicação de que a indenização pode vir a ser calculada com base nos valores remanescentes, dependendo das circunstâncias de cada caso. Atenção redobrada portanto na hora de confeccionar os contratos de trabalho.

Finalmente, vale a pena mencionar de fato o CAS não pôs em cheque o princípio da manutenção da estabilidade contratual. Basta olhar os casos subsequentes, Soto, Bayal, Mica e Zahovaiko.

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Equação

Em determinado momento da temporada de 2005-2006, o Valencia resolveu que era hora de construir um estádio novo. Novinho em folha.

‘O maior estádio do mundo’, queriam alguns. ‘Um ícone mundial e um símbolo para a cidade’, queriam outros. A soma da primeira frase com a segunda frase, quando ambas se referem a um estádio de futebol, é igual a um projeto caro e superestimado. Sempre. Se tem uma coisa que encarece um estádio de futebol é o adjetivo ‘icônico’. O valor ficou próximo dos 400 milhões de euros.

O Valencia queria crescer, e esse crescimento se apoiava em duas coisas: um estádio novo e um time de qualidade dentro de campo. Nada mais justo para aquele que se considera o terceiro maior clube espanhol, e era, na época, um dos vinte mais ricos clubes da Europa.

Então eles começaram a construir o estádio, mas pararam de ganhar as coisas dentro de campo. Briga contra o rebaixamento, goleadas sofridas de rivais, esse tipo de situação que sempre está no roteiro dos clubes em crise. Aí demitiram o técnico e trocaram de presidente.

E o novo presidente acabou de anunciar a paralisação das obras do estádio. No meio do caminho. O concreto já ta de pé, o monstro já está erguido, mas tiveram que dar um tempo no esquema. O argumento é que, bem, o dinheiro acabou. O Valencia quase quebrou. Tem dívidas que não podem ser refinanciadas. A área do estádio antigo, que era um dos trunfos para a aquisição de capital que pagasse parte do projeto do no estádio, não foi vendida, tampouco tem interessados. Culpa da crise mundial, dizem os porta-vozes do clube, que dizimou o mercado imobiliário europeu e, em especial, o espanhol.

Para colaborar, uma das promessas de campanha do novo presidente era manter os principais jogadores: David Silva e David Villa, o astro maior. Isso levou o Valencia a recusar uma proposta de uns 300 milhões de reais do Manchester City pelo Villa, conforme especulações não confirmadas.

O resultado é que, além das obras do novo estádio paralisadas, o salário dos jogadores também estão atrasados. O Valencia está num dos momento mais delicados da sua história, beirando a bancarrota. Culpa da crise, e da péssima performance dos dois últimos anos. Uma outra regra da construção de estádios é que é quase impossível construir um novo sem que haja reflexos diretos dentro de campo. Construção do novo estádio (Connve) mais arquitetura icônica (Aicon) em um cenário de crise mundial (Crmnd) é igual a resultados fracos (Resfr). 

Crmnd (Connve + Aicon) = Resfr

Quando se tenta transformar essa soma, o produto da equação gera conseqüências severas para o clube.

Pura matemática.

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História da globalização do futebol

A ascensão e expansão do futebol em âmbito global – até conquistar a última fronteira, a Ásia – ocorreu ao longo de todo seu desenvolvimento, no século XX, junto aos diversos países que o albergavam, em decorrência da influência econômica e social dos ingleses: 

El fútbol, que ocupa un papel destacado en este proceso, surge como deporte en Inglaterra a lo largo del siglo XIX y su difusión geográfica se inicia hacia el último cuarto del mismo siglo, favorecida por el empuje comercial e industrial del imperio inglés. Este proceso cobra ímpetu en los años 30, cuando se celebra el primer campeonato mundial, y llega a su máxima expresión en el último cuarto del siglo XX, con el desarrollo de las tecnologías comunicativas audiovisuales, sobre todo con la televisón color, el sistema microondas, la comunicación satelital e internet. La más reciente incorporación de los países del este asiático marca la definitiva mundialización de este deporte de origen aristocrático, convertido en la actualidad en una práctica y afición multiclasista, transgeneracional y, poco a poco, transgenérica” (FIENGO, 2002, p.149).

Com efeito, o que antes era tido como esporte de elite burguês, nas últimas décadas do século passado e na presente, agora se mostra permeável e suscetível às inferências da globalização e sua transposição de conceitos e critérios exclusivistas.

GIULIANOTTI e ROBERTSON dividem a evolução do futebol rumo à conquista global em cinco fases, a saber:

Globalización del fútbol: La fase inicial (desde la pre-historia hasta princípios del siglo XIX en Gran Bretaña); la fase de desarrollo (princípios del siglo XIX a 1870, cuando empezó a formarse la sociedad internacional de fútbol, tras el primer encuentro internacional entre Escocia e Inglaterra); la fase de expansión (desde 1870 a 1920, cuando los clubes británicos empezaron a visitar los países del Imperio y América Latina; a partir de la fundación de la FIFA en 1904 y la entrada del fútbol en los Juegos Olímpicos en 1908); la lucha por la hegemonía (de 1920 hasta finales de la década de 1960); la fase de incertidumbre (desde fines de 1960 hasta la fecha)” (GIULIANOTTI; ROBERTSON, 2006, p. 13-17).

A fase atual, de incerteza, está marcada pela instabilidade das relações internacionais entre os demais pontos de referência básicos das etapas anteriores. Jogadores convertidos em estrelas de brilho internacional; técnicos, executivos e agentes com apelo midiático global; clubes com marca de reputação internacional versus seleções nacionais abaladas por falta de coesão e identidade nacional como outrora; multiplicidade de atores e instituições que tentam comandar a política e a administração do futebol no mundo: eis o panorama atual.

La incertidumbre, la quinta fase en el fútbol mundial, comienza a finales de los años sesenta y llega hasta la actualidad. Durante este período, la inestabilidad ha marcado las relaciones internacionales entre los cuatro puntos de referencia básicos de la globalización. Desde el punto de vista individual, los mejores jugadores del mundo se han convertido en gran medida en artistas mediáticos con gran movilidad mundial; y los directivos deportivos, los directores técnicos, los representantes de los jugadores y los personajes de los medios de comunicación se han unido a este nuevo panteón. Sin embargo, los jugadores de élite están sometidos actualmente a un control legal y de compartamiento mucho más estricto por parte de los empresarios (clubes), de las instituciones futbolísticas y de los medios de comunicación, que se centran cada vez más en la celebridad. Los Estados-nación permanecen como la unidad política principal del fútbol, pero su unificación cultural se ha visto frenada de forma radical, debido, por un lado, al aumento de los clubes de fútbol internacionales y, por otro, a la influencia de la polietnicidad en complicados patrones de identificación nacional, sobre todo en Francia, los Estados Unidos e Inglaterra” (GIULIANOTTI; ROBERTSON, 2006, p. 17).

Bibliografia:

FIENGO, Sergio Villena. Golbalización y fútbol posnacional: Antecedentes, Hipótesis, perspectivas. Anuario Social y Político de América Latina y el Caribe, Caracas, n. 5, p. 148-159, 2002.

ROBERTSON, Roland; GIULIANOTTI, Richard. Fútbol, globalización y glocalización. Revista Internacional de Sociología, Madrid, v. LXIV, n. 45, p.9-35, septiembre-diciembre, 2006.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Ainda São Paulo x Corinthians

Olá amigos! Umberto Eco, certa vez, referiu-se à falação esportiva, que em linhas gerais é a continuidade do assunto em diferentes formas e abordagens. Seja partindo dos meios de comunicação, seja partindo das rodas populares, mas que no fim acabam criando um ciclo que mantêm a perpetuação do assunto até um novo fato mais atraente surgir.

Nesta falação esportiva, os primeiros dias após o fato consumado são de uma irritabilidade tamanha, pois todas as emissoras de TV , as de rádio, os jornais, as revistas especializadas, os círculos acadêmicos, e a internet parecem falar a mesma coisa, da mesma forma, e repetindo incessantemente o conteúdo.

Com o esgotamento do assunto, que acaba muito mais no sentido de esgotar as paciências do público receptor da mensagem e também do próprio emissor, do que um esgotamento no sentido de ter se explorado todas as variáveis e aprofundado no tema.

Me permito fazer algumas curtas (algumas nem tão curtas) reflexões sobre  as polêmicas do clássico do fim de semana retrasado, julgando que elas poderiam ser melhor percebidas e despertar uma discussão mais aprofundada do que o simples embate de quem está ou não com a razão.

Limitação de Ingressos:

A polêmica da limitação do ingresso para mim esconde por trás um problema mais sério, de interesses políticos e outras razões que desconhecemos, mas que esconde também algo com o que São Paulo deveria se preocupar.

No ambiente de gestão e mercado costuma-se dizer que o maior risco de ficar cego e ser ultrapassado pela concorrência é quando se está liderando o mercado, pois ocorre uma acomodação, que pode a determinado momento cegar, fazendo com que a percepção de quem está no comando é de que tudo que está sendo feito não precisa ser aperfeiçoado pois os resultados estão ai.

É o que vem acontecendo com o São Paulo na minha modesta opinião.  Sem dúvida o São Paulo esta liderando o mercado, com justiça pela estrutura e objetivo que foram traçados há alguns anos. Os resultados falam por si só. Mas, talvez, é hora de refletir e observar o que os outros estão a  fazer para alcançá-lo. Às vezes, esta olhada para traz ajuda a manter mais facilmente sua supremacia, porque quando apenas olhamos para o que nós mesmos fazemos, muitas vezes, não percebemos novos caminhos e tendências, ou o que é pior, nos recusamos a observar qualquer outra coisa porque consideramos apenas que nossos princípios estão certos.

Não é preciso esperar o declínio para mudar, e hoje acredito que se o São Paulo justifica uma limitação de ingressos por questões comerciais, pode não estar olhando para frente. Numa rápida conta, sem considerar aspectos mais aprofundados, será que valeu a pena tal ação pensando numa possível retaliação ao Corinthians decidindo não jogar mais no Morumbi, reduzindo receitas  do São Paulo?

Nessa óptica, o Marketing de Corinthians e Palmeiras nas figuras de Luis Paulo Rosemberg e Luis Gonzaga Belluzo estão a todo vapor. Há  quem diga que eles estão atrasados em relação ao São Paulo, mas ai é que está a questão. O momento tem de ser bem compreendido, pois alguns podem olhar como atraso, outros podem olhar como superação.

O Corinthians, por exemplo, acertou um novo contrato de fornecimento de material esportivo  (não é patrocínio) de 15 milhões de reais (fonte: Gazeta Press) que é praticamente o valor que o São Paulo acertou  como patrocínio principal em 2008. Sendo ainda que esse acordo realizado pela Corinthians só perde em termos de fornecimento de material para Manchester United e Barcelona.

Fica um ponto de reflexão, se fizermos algum esforço, grandes empresas que faliram, lideraram e foram referências de mercado, mas a falta de atualização e a prepotência cria uma cegueira, e quando menos se esperar a supremacia pode entrar em declínio e o revés pode ser mais custoso e demorado.

Polícia:

Entre declarações e depoimentos, o mais difundido foi de que a policia de dentro do estádio autorizou a saída e a policia de fora do estádio não. O que possibilitou o confronto, independente de quem foi para cima de quem, o fato é: será que ninguém passou um rádio informando da decisão?  Comunicação no estádio também é comunicação de decisões. Como queremos organizar uma copa se a própria declaração da policia nos indica uma falha de procedimento banal: alguém esqueceu de avisar lá embaixo que o pessoal estava liberado para sair e que não estavam simplesmente voltando por causa da chuva.

Expulsão:

Me irrita quando os profissionais do futebol buscam amenizar os erros e falhas por meio de elementos que não se justificam. O excelente treinador Mano Menezes, ao reconhecer e ao mesmo tempo minimizar a culpa de Túlio pela expulsão, refere-se a interferências externas, pois, segundo ele, a agressão não foi vista pelo arbitro , e apenas aconteceu por que alguém de fora interferiu.  Às vezes me pergunto se é um subterfúgio planejado para amenizar a pena que possivelmente será imposta depois, se é uma tentativa de fazer punir alguém do adversário para não sair em desvantagem. Enfim, muitas duvidas ficam.

E quanto ao jogador. ATENÇÃO JOGADORES DE FUTEBOL:

Para quem não percebeu ainda existem inúmeras câmeras em um campo de futebol e, com certeza, se o juiz não vir na hora uma agressão ou qualquer outro ato de indisciplina, ele será visto e reprisado, e com certeza analisado pelos tribunais.

Aliás, já estamos conseguindo vencer aquelas criticas aos tribunais por punirem os jogadores por imagem. No inicio criou-se uma resistência muito forte, mas pelo bem do futebol,
já está sendo mais aceito. Resta, agora, jogadores se atentarem a isso e, sobretudo as penas serem cumpridas e não trocadas por cestas básicas. Afinal, apesar de serem muito importantes para quem recebe tal doação (acredito que poderá continuar como uma ação complementar) o que é o custo de cestas básicas para um clube de futebol?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.om.br

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Violência e Futebol: lembrando Carlito Maia

O tema é atual, mas não novo…
 
Em Agosto de 1983 a FSP promoveu em seu auditório um debate sobre o assunto. Tive a oportunidade de acompanhá-lo in loco e, decepcionado com seu rumo, fiz o que continuo fazendo até hoje: Manifestei-me através de carta encaminhada à Redação de Esportes daquele jornal, a qual foi publicada sob o título “Debate sobre Violência Frustra Leitor”. Dizia ela:
 
“Tendo presenciado o debate promovido pela Folha sobre a Violência no Futebol, registro minha frustração pela forma um tanto quanto centralizadora e, por isso mesmo, autoritária, adotada na condução dos trabalhos, como também pelos rumos tomados pelo debate.
 
Falou-se do legal, mas em nenhum momento questionou-se o legítimo. Tratou-se da Autoridade, mas em nenhum momento abordou-se o autoritarismo. Falou-se da necessidade de respeitar as regras do jogo, mas em nenhum momento cogitou-se da necessidade e legitimidade de os atletas participarem do processo de elaboração dessas regras e da eleição dessas autoridades. Falou-se até da necessidade de uma legislação penal esportiva mais severa, como forma de coibir-se a violência no futebol. Primeiro o próprio Sistema institui a violência, depois ele mesmo propõe formas violentas para reprimi-la!!
 
Perdeu-se, enfim, mais uma grande oportunidade de se falar da necessidade de democratização do futebol brasileiro, como forma de erradicação da violência na sua prática”.
 
Pois não é que passado exatamente oito dias da publicação da carta, ao buscar a coluna semanal que o publicitário Carlito Maia assinava naquele jornal, fui surpreendido por um texto que, sob o título “A Justiça dos Homens” se reportava à minha carta para falar da questão da violência…
 
26 anos depois, cá estamos nos deparando com o mesmo assunto… Que pelo menos, então, nos lembremos de Carlito Maia – que nos lembrava que o céu não criou o homem acima dos homens, nem abaixo dos homens – e, quem sabe, motivemos com suas palavras o surgimento de mais Carlitos em nosso mundo…
 
 
A JUSTIÇA DOS HOMENS
 
“O leitor de jornal sempre tem razão, especialmente quando se trata de quem já aprendeu a distinguir as coisas que são mentiras das que não são verdades, caso do Senhor Lino Castellani Filho, que escreveu à Folha Esportiva sobre o debate Violência no Futebol.
 
Vou sistematizar aqui o pensamento dele que, por acaso, coincide exatamente com o meu:
 
‘Falou-se do legal, mas em nenhum momento questionou-se o legítimo. Tratou-se da autoridade, mas não se abordou o autoritarismo. Falou-se da necessidade de respeitar as regras do jogo, mas não se cogitou da necessidade (e legitimidade) de os atletas participarem do processo de elaboração dessas regras, e da eleição dessas autoridades. Falou-se até da necessidade de uma legislação penal esportiva mais severa, como forma de coibir-se a violência no futebol. Primeiro, o próprio Sistema institui a violência, depois ele mesmo propõe formas mais violentas de reprimi-la!’
 
“E assim arremata o mais que atento leitor”:   
 
‘Perdeu-se, enfim, mais uma grande oportunidade de se falar na necessidade de democratização do futebol brasileiro, como forma de erradicação da violência na sua prática’.
 
“Belas e sábias palavras, Lino Filho, que representam o sentimento geral sobre a justiça dos homens da cartolagem, do mando, do poder. Juro que eu já havia escrito umas coisinhas sob o título acima, A justiça dos homens, em que dizia o mesmo que você, não tão inteligentemente, confesso, mas com a mesma sinceridade e veemência, garanto.
 
Porque eu já estou de saco cheio pelo fato de nós, brasileiros, nunca irmos ao âmago dos problemas, jamais vamos fundo, como dizem, ficamos eternamente pela rama, pelas beiradas, catando um jeitinho de maneirar as coisas, maldito sejas, Macunaíma, o falso malandro.
 
Neste País há dois códigos em vigor, Lino: o civil, para os poderosos, e o penal, para os miseráveis. No Brasil que foi da gente um dia, a injustiça é que a justiça dos fortes, coisa mais degradante.
 
Por que haveria o futebol de estar livre dessa podridão toda?…
 
Urge corrigir o Brasil, grande país, Nação anã, antes que seja tarde demais, antes que a geléia geral inunde tudo, do Oiapoque ao Chuí. E falta pouco, quase nada.
 
O povo está exigindo uma Assembléia Nacional Constituinte, eleita expressamente para ordenar as novas regras do jogo social brasileiro, as regras que sempre tivemos impostas, na marra.
 
Temos que batalhar pelo fim da LSN, lutar por uma Reforma Agrária, exigir eleições diretas em todos os níveis, acabar com essa imoralidade dos “biônicos”, dar um chega pra lá nos hitherzinhos e nos mussolinizinhos. Só assim poderemos pensar em justiça desportiva de verdade, não essa impostura vergonhosa da justiça dos hômi, com suas leis e seus juízes. Você tem toda razão, Lino, tanto que joguei fora o que já havia escrito e peguei uma carona em sua preciosa carta à Folha Esportiva, lembrando-me de John Lennon em sua canção, Imagine: dizem que sou um sonhador, mas não sou o único.
 
Da legalidade que nos enfiaram goela a dentro desde 1964, estou farto. Quero mais é a legitimidade das coisas, assunto do qual só o povo todo pode tratar, com liberdade e com a dignidade de viver reconquistada. Salvo o Brasil, salvo estará também o futebol brasileiro, Castellani Filho. As gerais estão se guardando pra quando o carnaval chegar…”

*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação, docente da Faculdade de Educação Física/Unicamp, pesquisador-líder do “Observatório do Esporte” – Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – CNPq/Unicamp, e foi Presidente do CBCE (1999/2003) e Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/Ministério do Esporte (2003/06)

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A importância da Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

“Universidade” por definição representa um conjunto de disciplinas, faculdades ou escolas de ensino ou curso superior.
Ainda que diversas discussões possam ser feitas a respeito do significado de “ensino ou curso superior”, fato é que está na essência do conceito de “Universidade” a presença e atuação de diversas áreas do conhecimento universal humano.
Isso quer dizer, em outras palavras, que seu cerne avança o ensinar de valor mais alto e as construções mais profundas inerentes a ele, pois está antes de mais nada associado a r-e-u-n-i-ã-o das disciplinas do conhecimento científico.
Imergir numa universidade de conhecimentos não garante muitas vezes a compreensão real do significado que essa “uniãodiversidade” representa. Isso é evidente se observarmos que ao longo dos tempos a reunião das disciplinas do conhecimento foi se transformando, e o seu caráter multidisciplinar de “universidade dos conhecimentos” perdeu espaço, de tal forma que as novas perspectivas exigiram a transformação do que era “r-e-u-n-i-ã-o” em “reunião”; do que era “multi” para o que passou a ser “inter”; interdisciplinar.
Disciplinas que antes existiam no mesmo universo, isoladas, tomaram conhecimento umas das outras, avançaram, interagiram e construíram um saber comum a todas elas.
Em diversas áreas profissionais a problemática decorrente da prática diária aliada à Ciência permitiu grande e denso avanço do conhecimento científico aplicado; e muitas coisas antes impensáveis saltaram a frente dos nossos olhos em um único fechar/abrir de pálpebras.
No esporte, de maneira geral, a interação entre os construtos científicos e o ambiente real de treinos e competições fora ganhando proximidade, tornando-se, em algumas modalidades, íntimos.
No futebol, das escolinhas ao alto nível competitivo, muitas tensões fizeram com que a aproximação entre Ciência e a prática ocorresse de maneira lenta e conturbada (podemos dizer que hoje ainda a distância entre os dois é muito grande sob diversos aspectos).
Por um lado (no futebol), ao olhar da Ciência, a prática constitui um ambiente recheado de indivíduos que tentam fazer as coisas funcionar sem saber explicar exatamente como e por quê; por outro, ao olhar da prática, as teorias científicas filosofam sobre problemas que não são aqueles realmente enfrentados e constroem soluções para coisas que não existem.
As teorias são construídas em função dos problemas decorrentes da prática; só fazem sentido se possibilitarem a transformação da prática, para melhor!
Temos no nosso país uma série de pesquisas, dissertações e teses, que de tão especializadas em um único assunto, acabam por se distanciar da realidade dos fatos, de maneira que, tentando se aproximar dos problemas do mundo, acabam por se afastar ainda mais dele.
Temos também (e isso não é privilégio nosso) a partir da falta de conhecimento e das construções do senso-comum uma série de práticas dentro e fora do esporte que reforçam a cada dia remadas fortes na direção contrária ao avanço científico.
Falta, então, diálogo, entendimento, para que a Ciência e a prática se integrem e se tornem elementos de uma coisa só.
Melhorar o acesso ao conhecimento e levar a Universidade à prática torna-se, não o único, mas um dos melhores caminhos para que a cada dia os problemas oriundos da prática real possam ser resolvidos, garantindo a permanente escalada rumo a um saber cada vez maior que torne a prática cada vez melhor.
Para o futebol isso representa não só a evolução do jogo dentro do campo, mas de todos os elementos que o constituem como o fenômeno complexo que é.

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A importância da Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Todos sabemos que o futebol já representa um verdadeiro ramo de atividade (jogadores são empregados, clubes são empresas, torcedores são consumidores, etc.). Porém, o que gostaria de comentar nesta coluna é um outro reflexo que a evolução do futebol também trouxe: a abertura de diversas frentes acadêmicas de estudo e desenvolvimento teórico. E, nesse âmbito, a importância que uma iniciativa tão inovadora e pioneira como a Universidade do Futebol representa para o mercado futebolístico no Brasil.
 
Tempos atrás, se um estudante pretendesse seguir a carreira no futebol, certamente optaria pelo jornalismo. O jornalismo desportivo é uma atividade bastante consolidada pelo mundo. E no Brasil ganhou grande relevância principalmente depois que Mário Filho lançou a onda dos jornais especializados em esporte (com a criação, nos idos da década de 30, do jornal Mundo Sportivo).
 
Em linhas gerais, foi durante esta última década que novos cursos foram criados ao redor do mundo, e, com eles, novas cadeiras acadêmicas. Desde marketing desportivo, passando pelo direito desportivo, administração, até chegar em matérias menos óbvias, como História – temos importantes historiadores brasileiros contribuindo, com bastante felicidade, para a formação e consolidação da história do desporte.
 
O que vemos também é um crescente número de estudantes interessados nessas áreas, o que fez com que o número de novos cursos continuasse a crescer.
 
Somando tudo isso, temos uma excelente receita para um futuro promissor no futebol. Sabemos que as novas idéias, renovadoras ou até revolucionárias, vêm, via de regra, do ambiente acadêmico. Certamente teremos em um futuro próximo, uma maior pressão vinda da nova geração de profissionais para que a excelência seja alcançada (ou ao menos seriamente almejada) pelos dirigentes dos clubes, federações, ligas e outras partes ligadas ao futebol.
 
Nesse contexto, há de se ressaltar a iniciativa do projeto da Universidade do Futebol. Todo o brevemente exposto acima foi visualizado há tempos pelos idealizadores desse projeto. E hoje temos, todos nós, a oportunidade de poder colher os seus frutos.
 
Além de abraçar toda a onda acadêmica, a Universidade do Futebol aproveita-se da nova era das comunicações para desmistificar o uso da internet para fins acadêmicos. Ela mostra que, pelo contrário, se esse meio tecnológico for utilizado de forma consciente e responsável, não só pode contribuir de forma única para a formação do conhecimento, como também ligar pensamentos elaborados nos quatro cantos do mundo com velocidade imprecedente.
 
Termino essa coluna para apenas manifestar minha honra e gratidão de poder fazer parte desse todo, e de poder contribuir, ainda que com uma parcela tão pequena, para o sucesso da empreitada.
 
Desejo ainda mais sucesso à Universidade do Futebol!

Para interagir com o colunista: megale@universidadedofutebol.com.br

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Para estudar o futebol

A primeira regra para quem quer estudar o futebol é deixar de gostar de futebol. Ou, pelo menos, deixar de gostar de futebol da maneira que sempre gostou.

O estudo sério de um fenômeno social como o futebol precisa ser objetivo, sóbrio e científico. Sem falsas interpretações, sem suposições, sem análises superdimensionadas. Não, nada disso. Muito pelo contrário.

O indivíduo da arquibancada, que possui uma grande ligação com o esporte e que sempre viveu dentro de sua atmosfera, tem sérios problemas para ingressar na área da ciência do futebol. Não é fácil. É preciso jogar um monte de verdades no lixo, engolir outras centenas de informações que vão de encontro com aquilo que você sempre tomou como realidade, mas que é apoiado em dados, em experimentos, e não em meras suposições.

Eu, acredito, tenho uma vantagem dentro desse processo. Minha família nunca gostou de futebol. Eu nunca gostei de futebol. Meus esportes sempre foram outros. Handebol, basquete, corrida, essas coisas. Futebol, no máximo, só quando fosse jogar Malha para poder liberar gratuitamente um pouco da violência contida nos hormônios adolescentes. De resto, nada.

Vim a me aproximar mais do futebol apenas na faculdade. E tive que buscar informações em fontes confiáveis. Na minha família ninguém entende de futebol. Meus amigos não são nem um pouco confiáveis. Sobraram os livros. E foi assim que eu comecei a me interessar mais pelo assunto, e a perceber o imenso vazio que existe no conhecimento real do futebol no Brasil, pelo menos do ponto de vista administrativo, que foi a minha área de estudo na faculdade.

Muito dos problemas alardeados pelo público e pela população brasileira passa por essa falta de informação da área. Não existe como produzir políticas adequadas para um determinado assunto sem que se conheça esse mesmo assunto a fundo. E são poucos os que conhecem o fenômeno que compreende a indústria do futebol no Brasil. Isso torna nossas políticas um mero reflexo daquilo que vemos aplicado em outras regiões. Se uma determinada iniciativa dá certo lá, por que não vai dar certo aqui? Mas ninguém se preocupa em saber se essa iniciativa está realmente dando certo ou quais são as variáveis determinantes para a construção da mesma. Aí acaba dando tudo errado.

É notório que o futebol, no Brasil, só vai evoluir na medida em que mais conhecimento for gerado para que se possa, de fato, entender o papel que o esporte desempenha no país. Sem ensaios românticos, sem filosofias, sem achismos e sem retóricas emocionadas. É necessária a construção do conhecimento puro, pleno, dissociado de qualquer fator que não seja o próprio objeto em si.

E é esse o papel que a Universidade do Futebol tem a cumprir. Não há, até onde eu sei, um núcleo no país que se preze a desenvolver a ciência do esporte de maneira tão ampla e multidisciplinar como o projeto que aqui é apresentado. O desafio, agora, é conseguir explorar todo o potencial da plataforma para gerar conhecimentos que de fato colaborem com a evolução do esporte no país e também, por que não, com a evolução do próprio país em si.

Gerar esse conhecimento é uma tarefa que deve ser assumida por todos. Você, eu, clubes, atletas, federações, associações, entidades de classe, governos e quem mais estiver pela frente. Para que não tenhamos que confiar a construção da nossa compreensão da realidade em assunções levianas e irresponsáveis, muito menos em nossos amigos de faculdade.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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A relevância da Universidade do Futebol para a modalidade no Brasil

Primeiramente, sinto-me lisonjeado em ocupar, a partir de hoje e semanalmente, o posto do colega Antonio Afif, um dos mentores e condutores do projeto da Universidade do Futebol.

Projeto que pretendeu, desde sua fase embrionária, contribuir com a evolução do futebol no Brasil, nos mais variados aspectos que, somando-se em suas especialidades, são reunidos sob o guarda-chuva da gestão.

Evidenciaremos, portanto, a pertinência da Universidade do Futebol no contexto evolutivo da gestão do futebol no Brasil.

Talvez, uma das características ainda marcantes no contexto do futebol no Brasil seja a nostalgia provocada pelas conquistas desportivas e os diferentes estilos de jogo, ocorridos no país a partir da década de 1950.

Com efeito, ao passo em que essa noção contribuiu, na prática, para a inserção desportiva do futebol nacional em âmbito internacional e, na teoria, para a construção de sua mítica imagem, por outro lado, serviu de acomodação administrativa e intelectual, ao longo das décadas seguintes, provocando, até mesmo, a negação de que esse esporte seja um “produto” com valor de mercado.

“Realmente, há um saudosismo pelos tempos românticos, mas, a despeito da comercialização do futebol, a mística não acabou. Helal defende essa tese: ‘No que diz respeito à comercialização do futebol, (…) minha suposição era a de que o advento da propaganda nos estádios e nas camisas dos times, assim como a transmissão de jogos pela TV, tiravam muito da aura mística e sagrada do futebol, fazendo com que este universo se transformasse em um mero meio comercial, desencantando os torcedores e contribuindo para a queda do público. Essa hipótese não foi confirmada pela pesquisa. Apesar de haver uma certa nostalgia pelo tempo ‘não comercial’, mais ‘romântico’ e ‘amador’ do futebol, os torcedores acostumaram-se à mudança e parecem ter entendido que a comercialização foi o meio encontrado para que os clubes equilibrassem seus orçamentos” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 92).

Outra opção passa a existir após o reconhecimento de tal característica. Em outras palavras, o que fazer com a gestão do futebol enquanto produto de um mercado consumidor – agora, afetado internacionalmente, pela globalização, mas que também dela pode fazer uso?

“Saldanha já falava em seu trabalho clássico, ‘Subterrâneos do futebol’, de 1963, que ‘qualquer time de primeira divisão, onde haja profissionalismo na Europa, tem um treinamento de alta categoria. Alguém poderia argumentar que ‘nós estamos certos e eles errados’. Que nosso espontaneísmo e nossa anarquia é que são bons. A prova é que ‘ganhamos copas do mundo pra cima deles’. Isto é absolutamente falso. A anarquia não é forma de desenvolvimento em nenhum setor de atividade humana. Se um matuto que conhece segredos da agricultura, por exemplo, obtém êxito apenas com sua enxada e com seus palpites se vai chover ou não, é lógico que o seu talento para o plantio obteria muito melhores resultados se utilizasse um trator em vez de uma enxada e os métodos modernos de agronomia'” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.48).

De forma geral, o sistema em que se desenvolve todo o futebol brasileiro, ainda sofre para romper com velhas e, hoje, inadequadas formas de gestão de seus negócios. O anteriormente mencionado saudosismo ainda ecoa nas instituições e nas pessoas, fazendo com que o passado determine o presente e, consequentemente, limite as perspectivas de futuro.

“O consultor de organização de empresas Michael Hammer certa vez observou: ‘Um indício de que a empresa tem problemas é quando me dizem que já foram muito competentes no passado. O mesmo ocorre com os países. Não se deve esquecer a própria identidade. É muito bom que tenham sido extraordinários no século XIV, mas isso foi antes, e agora é agora. Quando as recordações têm mais peso do que os sonhos, o fim está próximo. A marca distintiva de uma organização verdadeiramente bem-sucedida é a disposição de abandonar o que lhe trouxe o êxito e começar de novo” (FRIEDMAN, 2005, p.434).

Portanto, a visão purista e idílica do futebol, no Brasil, deve perdurar, apenas no sentido de revigorar-lhe na essência – porém, como combustível de uma grande indústria que necessita, constantemente, de gestão profissional em busca da manutenção e expansão de suas atividades.

“O futebol brasileiro passou por grandes mudanças, mas muito pouco realmente se transformou. Houve mudanças na legislação e uma grande expansão na estrutura física. A gestão melhorou, principalmente, dentro de campo. No âmbito estritamente administrativo houve avanços, mas a profissionalização ainda é um processo em andamento. A primeira e, talvez, única transformação real ocorreu quando da sua popularização (ou democratização) e profissionalização dos jogadores, processo que revolucionou as relações de trabalho, ocorrido entre as décadas de 1920 e 1930″ (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 21).

As palavras acima atestam que o desenvolvimento do futebol brasileiro esteve condicionado a fatores alheios à capacidade de gestão profissional das instituições, salvo rara exceção do trabalho realizado dentro do campo, na área técnica.

Esse privilégio, indolente, permaneceu inabalável, ao longo de décadas do século XX, porque assim foi o posicionamento dos tomadores de decisão na gestão do futebol nacional. Porém, esse posicionamento comodista vê a globalização do futebol cobrar o atraso, com crescente grau de exigência. 

“No entanto, a gestão desse grande negócio ainda está muito aquém do que se esperaria de uma indústria tão importante. A diferença é notável, se compararmos com outros países, principalmente os da Europa, Estados Unidos e Japão, com outros ramos da indústria do entretenimento (do qual a indústria dos esportes em geral e do futebol, especificamente, faz parte) e maior ainda se comparada com outros setores, como o financeiro. Portanto, partimos do princípio que a transformação do futebol em negócio é um movimento já existente e irrefreável e, sendo assim, além de estabelecer regras claras para a atuação dos agentes, é necessário, pelo bem do futebol, gerir essas transações de maneira mais profissional possível” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 05).

Indústria, entretenimento, negócio. São termos, frequentemente, aplicados ao profissionalismo do moderno futebol mundial, cujos reflexos dentro do país já são, indubitavelmente, sentidos.

O desafio aos tradicionais modelos de gestão do futebol nacional são amplificados pela globalização. Todavia, a tomada de decisão profissional rumo a sua evolução, inerente ao controle administrativo, pende da resolução das diferenças entre o antigo e o novo, o arcaico e o moderno. 

“No Brasil, os avanços na gestão, sejam dentro do campo, sejam na esfera administrativa, têm sido cercados por suspeitas e resistências, principalmente das lideranças ligadas a antigas oligarquias regionais, que ainda mantém sob seu poder as federações estaduais. Donos do melhor futebol do planeta, nós teríamos o que aprender? Esse misto de arrogância, atraso estrutural e, talvez, excesso de purismo ou cuidado com a cultura, acaba dificultando a implementação de hábitos e culturas mais profissionais dentro do futebol. A identidade, fortemente arraigada, dificulta grande parte das mudanças e transformações, embora estas estejam ocorrendo de qualquer maneira, forçadas por variáveis independentes e externas” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 40).

Assim, a definição sobre o que vem a ser gestão moderna do futebol brasileiro, é contundente, porém precisa: “No caso do futebol, devido à resistência em adotar inovações, a gestão moderna é, simplesmente, a que utiliza os métodos comuns de gestão, praticados por qualquer organização profissional” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.13).

Reconhece-se, pois, a dificuldade de adaptação na fase de transição entre as duas linhas da gestão do futebol nacional.

Entretanto, justamente nessa dificuldade transitória que é possível, aos clubes, resignar-se em favor do planejamento, em sintonia com o que deve ser feito em âmbito administrativo interno, bem como pautados pelas tendências oriundas de um mercado do futebol globalizado e profissional.

Com efeito, “a mercantilização do futebol já é um fato. Resta-nos agora decidir que tipo de comercialização queremos: uma amadora, oligárquica, retrógrada e corrupta ou uma profissional, organizada, com regras claras, onde as pessoas sejam tratadas como consumidores e sejam respeitadas por isso” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.91).

Em resumo: deixar de transferir a responsabilidade pela condução dos rumos da gestão do futebol brasileiro e passar a, pelo menos, tentar controlar e influenciar a administração dos clubes, a partir de fatores endógenos, minimizando os riscos causados pelas variáveis externas.

Nesse sentido, ratifica-se como um excelente fórum de discussões e busca por informações de qualidade o portal da Universidade do Futebol, cuja contribuição de inúmeros especialistas nas mais diferentes áreas do conhecimento contribuirá para o desenvolvimento evolutivo deste esporte.  

O futebol brasileiro necessitava de conteúdo. Não necessariamente mais, mas melhor. E, a partir de agora, isso está ao alcance de todos, como resultado de anos de envolvimento dos seus idealizadores e colaboradores, que não merecem outra palavra senão “parabéns”.

Bibliografia:

FRIEDMAN, Thomas. O mundo é plano: Uma breve história do século XXI. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

SANTOS, Luiz Marcelo Videro Vieira. A evolução da gestão no futebol brasileiro. Dissertação de Mestrado. FGV/EAE. São Paulo, 2002.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br