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América, Portuguesa, Petros e a perda de pontos

Segundo a legislação e regulamento, para um jogador poder participar de um jogo de futebol, ele precisa atender a alguns requisitos: ter um contrato de trabalho, estar inscrito no BID da CBF que é uma espécie de boletim que torna pública a inscrição dos atletas, não estar suspenso disciplinarmente e não ter excedido o limite de transferências (máximo duas).

A punição para a atuação irregular de um atleta é a perda de pontos.

O América escalou jogador de forma irregular em razão dele ter excedido o limite de transferências, a Portuguesa colocou em campo atleta suspenso e o Corinthians utilizou atleta antes da publicação do BID.

Os três casos tiveram resultados diferentes, eis que América e Portuguesa perderam pontos e o Corinthians foi absolvido.

O caso do Corinthians guarda uma peculiaridade que o torna diferente dos demais, pois, há uma divergência no entendimento.

Veja, o meia Petros teve seu contrato registrado na CBF no dia 01 de agosto, sexta-feira, sua publicação se deu no dia seguinte, sábado e ele atuou no domingo, dia 03.

Entretanto, há quem entenda que o jogador somente passaria a ter condições de jogo a partir do primeiro dia útil seguinte, segunda-feira, 04 de agosto. Doutro giro, pode-se interpretar que a condição de jogo se deu, independente de ser dia útil, ou não.

Já nos casos de Portuguesa e América, os atletas foram, indiscutivelmente, escalados sem condição de jogo.

Isso por si só já justificaria a diferença nos julgamentos. Mas, além disso, percebe-se uma importante evolução no entendimento do STJD.

Ora, a CBF como organizadora do futebol brasileiro tem a obrigação de assegurar a lisura das competições e, também, a regularidade da atuação dos jogadores e não pode transferir esse trabalho aos clubes.

Por isso, diante dos constantes casos de perda de pontos por atuação irregular de atleta, o STJD aponta para a necessidade da CBF organizar melhor o sistema de registros de forma a prevenir que clubes de boa-fé acabem perdendo pontos disputados dentro do campo, garantindo-se, assim, o resultado deportivo.

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Transição de carreira na base

Na coluna passada, comentei sobre a questão da seleção de talentos no futebol e hoje quero compartilhar sobre um tema muito importante para os atletas na base do futebol brasileiro. Todo atleta de alto rendimento passa por várias transições na sua carreira, mas existe uma que requer cuidado e atenção: a transição da base para o profissional.

Falta conscientização quanto ao tema planejamento de carreira esportiva, fato que pode levar um talento em potencial ao esquecimento e ao baixo rendimento.

A fase de desenvolvimento da carreira esportiva geralmente é feita a opção por uma determinada modalidade esportiva, em que as crianças passam a participar de competições regulares, e o nível de comprometimento passa a ser crescente, o que demanda maior organização da rotina do atleta. A fase posterior, chamada fase de excelência é aquela na qual o atleta assume que deseja investir em sua carreira esportiva, propiciando no caso do futebol a opção de profissionalizar-se. Um fato importante nesta etapa está relacionado ao estilo de vida do atleta, que passa a ser dedicado totalmente à performance esportiva.

Buscando compreender melhor a transição da fase do desenvolvimento para a excelência, descobrimos que esta é uma etapa de total dedicação, especialização do treinamento e muitas vezes oportunidade de profissionalização. Nesta transição, a orientação dos treinadores e demais profissionais do meio esportivo, como um Coach, é fundamental para que o atleta possa lidar positivamente com esse momento.

A partir da compreensão clara sobre a carreira esportiva, podemos elevar o nível de consciência dos atletas sobre a transição das fases acima comentadas e sobre como este processo resulta numa mudança de percepção por parte do atleta sobre si mesmo e o mundo, o que passa a requerer uma mudança de comportamento e nos relacionamentos pessoais do atleta.

Este trabalho de reflexão tem grande importância para estes atletas em transição, pois a carreira se constrói por uma sucessão de decisões ou escolhas que eles fazem ao longo de sua vida enquanto atletas. Decisões por impulso e inadequadas podem comprometer o desempenho esportivo do atleta, chegando ao ponto de promover um precoce encerramento de sua carreira esportiva.

Por este motivo é importante estar bem claro que uma carreira transmite a ideia de um caminho minimamente organizado no tempo e no espaço que de alguma forma todos os indivíduos desejam seguir, e neste processo estão envolvidos comportamentos e atitudes orientados para o objetivo de um crescimento na carreira e conquista de resultados profissionais e pessoais.

Penso que no caso dos atletas em transição da base para o profissional, passa a ser fundamental promovermos reflexões, o autoconhecimento, o planejamento adequado da carreira e a elaborarmos metas que possam contribuir para levá-lo ao sucesso no desempenho do alto rendimento esportivo.

Até a próxima!
 

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O papel do Estado no esporte

Como não poderia deixar de ser, o tema desta coluna é o mesmo que inundou as redes sociais nas últimas semanas, fazendo parte dos principais noticiários nos maiores veículos de comunicação do país, das conversas de bar e de negócios…

A política, parte importante da nossa vida e que afeta em muito aqueles que militam na indústria do esporte.

Apesar de não ter sido pauta efetiva dos presidenciáveis, o fato é que o atual governo precisará corrigir algumas distorções que ao meu ver conduziram as entidades do esporte a uma hiper-dependência dos recursos provenientes do poder público, o que não tem se mostrado positivo para o efetivo desenvolvimento do segmento.

Assim como na atividade econômica em geral, não se pode conceber um modelo que premie a ineficiência na gestão. Vê-se em muitos casos a aplicação de recursos públicos sem uma contrapartida do ente esportivo.

Não estou aqui falando de leis de incentivo ou investimentos em infraestrutura, que proporcionam legados e impactos relevantes para a sociedade e exigem projetos consistentes para serem conquistados. Tampouco abordo a questão dos projetos sociais e educacionais, que são obrigações constitucionais de investimento por parte dos entes públicos.

O fato é que o esporte de alto rendimento enquanto plataforma de entretenimento para se desenvolver nas próximas décadas aqui no Brasil precisa corrigir algumas demagogias culturais, emocionais e afetivas em relação ao poder público. É isso que o esporte e o governo precisam construir nestes próximos quatro anos de gestão…

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Inspirar, investir, apoiar

A partir desta coluna, pretendo compartilhar uma série de experiências enriquecedoras das quais tive oportunidade de participar, na ocasião do Fórum Internacional Gols pela Vida sobre Responsabilidade Social no Esporte.

Idealizado pelo Complexo Pequeno Príncipe, de Curitiba, na esteira da importância havida com o esporte por meio da relação com Pelé, padrinho do Instituto de Pesquisas Pelé Pequeno Príncipe, foi lançada a plataforma de iniciativas de responsabilidade social no esporte chamada Programa Gols pela Vida.

O objetivo principal do fórum foi apresentar à comunidade socioesportiva do Brasil palestras, painéis e cases de relevo em todo o mundo, no que concerne às melhores práticas de governança corporativa no esporte orientadas, estrategicamente, pela responsabilidade social.

Nesse sentido, foi um grande privilégio receber o Secretário da ONU para Esporte, Desenvolvimento e Paz, Wilfried Lemke que, em seu discurso, apresentou como a entidade internacional tem atuado globalmente para empoderar crianças e jovens por meio de iniciativas esportivas diretamente realizadas ou influenciando políticas públicas nacionais. Questões de gênero, de inclusão, de acesso aos direitos básicos, de esporte, saúde, educação, paz, liderança e protagonismo embarcadas num dos melhores veículos: o esporte.

O discurso do Ministro do Esporte no Brasil, Aldo Rebelo, reforçou a importância do esporte na vida de todos no país como forma de exercício pleno da cidadania, em que pese não desceu ao detalhe sobre a política nacional do esporte – ou a falta dela.

A importância do Programa Gols pela Vida como estratégia virtuosa de visibilidade e captação de recursos para o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe também foi evidenciada na apresentação feita pelo Diretor Corporativo do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro Carneiro. Como pano de fundo deste contexto, o Programa Gols pela Vida também se destina a construir o legado social do Pelé, iniciado em seu sonho do milésimo gol dedicado às crianças em 1969 e que encontra eco nesta plataforma desde 2005.

Outro painel de destaque foi encabeçado por Ana Moser e a Diretora Executiva, que descreveram como surgiu a iniciativa da ONG presidida por ela, Atletas pelo Brasil, ao reunir os principais atletas do país engajados em transformar a sociedade por meio do esporte, influenciando políticas públicas e dando suporte aos atletas que desejam atuar no terceiro setor esportivo. Também abordou como se deu a criação do seu Instituto Esporte & Educação e os programas adotados pela instituição.

Em seguida, os jornalistas Paulo Calçade (ESPN), Leonardo Mendes Jr. (Gazeta do Povo) e Erich Beting (Máquina do Esporte) abordaram, criticamente, o papel da mídia no que tange à valorização e divulgação das iniciativas ligadas à responsabilidade social; a liberdade de imprensa; o embate entre conteúdo editorial e interesses econômicos; a importância dos ídolos; novas mídias.

Já a palestra da Profª Lisa Delpy Neirotti, da George Washington University, mostrou a realidade da filantropia esportiva nos EUA – e, sem querer, mostrou como estamos atrasados em relação a eles – além de trazer cases de franquias esportivas nesta área e quais são os cursos oferecidos na instituição para quem deseja atuar na área de gestão esportiva e responsabilidade social no esporte. Isso inclui atletas, ex-atletas, celebridades, artistas.

O painel do Bom Senso FC contou com Paulo Calçade e Leonardo Mendes Jr. novamente, em conjunto com os diretores executivos do movimento, Enrico Ambrogini e Ricardo Martins. Como surgiu o movimento, qual a pauta de reivindicações, a estratégia de posicionamento frente à CBF, às TVs, aos sindicatos, aos jogadores, a relação com a mídia, comparações com ligas estrangeiras, dentre outros assuntos que foram discutidos.

Outro excelente painel foi conduzido pelos brilhantes João Paulo Medina e Eduardo Tega, da Universidade do Futebol, que receberam Rodrigo Fonseca, do Unicef e Amanda Denti, do Santos FC e seu programa Muito Além do Futebol. Nele, abordaram-se os perigos que crianças e jovens enfrentam no inóspito contexto da base do futebol rumo à ascensão social, e como estas instituições estão capacitando profissionais segundo diretrizes modernas de garantia de direitos, humanização e acompanhamento transdisciplinar.

Uma das mais comentadas e concorridas apresentações foi a de Alex White, executivo da Premier League Charitable Fund, instituição que a liga inglesa criou para fomentar a responsabilidade social no futebol do país, cuja essência é fortalecer o elo dos clubes em sua relação comunitária. O lema de “inspirar, investir e apoiar” é seguido à risca, com uma série de programas realizados em conjunto com clubes e demais parceiros, incluindo investimentos financeiros diretos. Um grande exemplo corporativo para nossas associações e federações esportivas.

Outro esperado painel abordou violência e racismo no esporte. Contou com grandes especialistas nestes temas – Prof. Dr. Luiz Carlos Ribeiro, do Núcleo de Estudos sobre Futebol e Sociedade da UFPR e Angélica Basthi, Mestre em Comunicação pela UFRJ. Às vésperas das eleições, a mistura de história, políticas públicas, economia, futebol, racismo, violência e inclusão social rendeu elogios.

Houve tempo, ainda, para que os Programas Try Rugby (Premiership Rugby) e Premier Skills (Premier League), fomentados no Brasil pelo British Council e em parceria com SESI e FDE-SP, levantassem o exemplo de como é possível integrar setor público, iniciativa privada e terceiro setor em programas socioesportivos internacionais, fortalecendo o esporte, a saúde, a educação, a leitura e a inclusão social.

O ativista de direitos humanos, escritor, consultor da UNESCO, Don Mullan, emocionou a todos com o seu relato sobre o papel de um ídolo do futebol – nesse caso, Gordon Banks – na vida positiva dos jovens.

Em uma história que envolveu detalhes do contexto histórico efervescente entre Irlanda, Inglaterra, IRA, Copa do Mundo, Pelé, Gordon Banks, guerra e paz, amor e ódio, restou a mensagem de que o esporte serve para unir as pessoas. O jornalista Juca Kfouri também ressaltou a importância de exemplos esportivos a serem seguidos pelos jovens, ao contar pitorescas histórias de sua infância, além de fechar sua participação analisando, criticamente, o contexto esportivo no Brasil e a falta de políticas públicas consistentes na área esportiva de base educacional, em detrimento dos megaeventos esportivos.

Por fim, o painel de encerramento contou com o gerente-executivo do Instituto Compartilhar, que trouxe importantes e positivos dados alusivos aos egressos dos programas realizados pela ONG do Bernardinho. O representante da Fundación Leo Messi apresentou alg
umas realizações da instituição na Argentina, África e os planos pro Brasil. Por fim, o Secretário de Esportes, Lazer e Juventude de Curitiba, Aluisio Dutra Jr. abordou o conceito de “alfabetização esportiva” que sua gestão procura, estrategicamente, implementar na cidade.

De fato, o lema da Premier League também nos serve de energia e modelo após a realização do Fórum Gols pela Vida, haja vista que o pioneirismo dessa troca de experiências pressupõe muito de “inspirar, investir e apoiar” o desenvolvimento e a transformação social pelo esporte, quando o Complexo Pequeno Príncipe decidiu-se por protagonizar, junto a valiosos parceiros como a Universidade do Futebol, Atletas pelo Brasil e Máquina do Esporte parte desta mudança positiva para o país.

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O esporte e a democracia

O Brasil acabou de passar pela eleição presidencial mais acirrada desde a redemocratização do país. Foi um processo conturbado, cujas sequelas ainda serão notadas nos próximos anos. E isso pode ter criado um cenário extremamente favorável ao esporte.

Explico: muito do que cindiu o país durante a eleição é consequência de como o jogo político é feito. O ambiente é inóspito, e algumas coisas inadmissíveis são apenas legítima defesa ou sobrevivência (e aqui, para deixar muito claro, não há nenhuma defesa de atos ilícitos ou corrupção; o ponto é apenas uma crítica ao modelo político vigente no país).

Não é por acaso que a reforma política foi a primeira bandeira levantada por Dilma Rousseff (PT) do discurso em que ela comemorou a reeleição. O jogo não é mais compatível com as necessidades do país. Se quisermos mudar o país, temos de mudar o jogo.

Antes mesmo da confirmação da reeleição, a reforma política já era um consenso entre situação e oposição. Ainda que os termos sejam discutidos de parte a parte, há um consenso sobre o desgaste do modelo.

E onde o esporte entra nisso? É uma seara que pode se beneficiar desse movimento voltado a repensar o país. Com oposição e situação dispostas a discutir uma reforma ampla, o próximo quadriênio talvez seja a maior oportunidade da história para que o esporte tenha mudanças verdadeiramente contundentes.

Essas mudanças passam necessariamente pela profissionalização e pela mudança de foco. O esporte no Brasil hoje é feito para os clubes ou para os atletas. Qualquer evolução depende de uma alteração de foco. É necessário pensar em consumidores e em pessoas.

Os atletas são importantes, é claro, mas são uma fatia da população. O esporte tem de ser feito para a maioria, para os que vivem isso como lazer ou meio para qualidade de vida.

Os clubes também são relevantes, até por funcionarem como incubadoras de todo desse processo. Mas o clube não pode ser visto como um fim, como acontece atualmente no Brasil. O consumidor precisa ser o foco, e o clube deve se adaptar às necessidades do público.

Todo esse processo, porém, está intrinsecamente ligado a uma mudança de mentalidade de quem comanda o esporte no país. E qualquer mudança de mentalidade, infelizmente, depende de uma reforma estrutural.

O esporte precisa saber aproveitar o momento de divisão do país. Precisa entender o potencial de uma discussão sobre reforma política. É o momento para que essa renovação chegue a vários âmbitos da sociedade.

O problema é que esse clamor por mudanças não partirá de quem comanda o esporte. Afinal, ao contrário da gestão pública, essa área tem poucas cisões e raros casos de oposição com representatividade (e isso independe da modalidade).

Esse movimento por mudança deve partir de quem depende da mudança. Atletas, gestores e até torcedores têm um compromisso enorme nos próximos anos. A oportunidade está aí.

Você pode ter começado a segunda-feira triste ou feliz com o resultado das eleições do último domingo (26). Se você é apaixonado por esporte ou se trabalha na área, contudo, sua responsabilidade é ter um sentimento um pouco diferente. É a hora de o esporte perguntar o que precisa ser feito para mudar.

A necessidade premente de reforma política transformou o novo mandato em grande oportunidade. Você pode até passar os próximos meses chorando o resultado da eleição, mas a necessidade agora é outra. Precisamos discutir meios de o esporte aproveitar as cartas colocadas na mesa.

O Brasil mudou muito desde a redemocratização. O esporte, no entanto, segue com uma cultura envelhecida e com uma estrutura vigente desde o início da segunda metade do século passado. A despeito dos inegáveis avanços, nunca tivemos uma ruptura ou uma reforma que repensasse a estrutura do segmento.

Se esse tema conseguir dirimir até a dicotomia posta em opositores de Facebook, por que não sonhar com uma reforma que mude também a estrutura do esporte? É isso que eu gostaria de ver no segmento durante os próximos quatro anos.

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De: Nilton Santos. Para: Jefferson

Jefferson,

não sei se você acredita.

Mas eu juro. Sou eu.

Nilton Santos.

Eles me chamavam de Enciclopédia. Apelido que o Waldir Amaral popularizou, lá por 1957.

(Sorte minha que eu apareci pro futebol antes do Garrincha e do Pelé. Você vai dizer que é falsa modéstia. Não é falsa. É apenas modéstia.)

Eu era assim desde a Ilha do Governador. Pergunte aos meus amigos botafoguenses. O Sandro Moreyra inventava e exagerava umas historinhas, é verdade – ou algumas mentirinhas… O Maneco Muller também dourava a pílula e a bola.

Mas eles sabem que sempre fui simples. Na minha. Tanto é que quase fui parar nas Laranjeiras. Quer dizer, fui pra lá. Mas quando vi aquela sede toda iluminada, os vitrais, toda aquela pompa, os sócios lá dentro dos salões, aquela gente chique, grã-fina, e ainda vi da rua os craques do Fluminense passeando pela sede, como o Ademir de Menezes, confesso que achei que ali não era meu lugar.

É verdade. Fiquei com minha chuteira debaixo do braço, peguei uma condução de volta pra Ilha do Governador e, naquele momento, desisti do meu sonho de ser profissional do futebol. Era 1946. O Maneco contava muito bem essa história, e está aqui, do meu lado, mandando um abração. Ele e o Sandro, que diz que você é um digno sucessor do Manga.

E eu concordo, Jefferson.

Naquela noite em que eu não fui treinar nas Laranjeiras, meu jeito tímido e meu espírito amador me deixaram longe do futebol. Mas eu, como nosso time, tenho estrela. E ela, graças a Deus, foi brilhar comigo em General Severiano.

O nosso Botafogo.

A nossa camisa. Aliás, só para lembrar pra muita gente, eu só joguei pelo Botafogo e com a camisa do Brasil. De 1948 a 1964. Dos meus 22 anos até os 39. E nunca beijei o escudo nem de uma e nem de outra. Não precisei. Ninguém precisa.

Basta honrar essa camisa. Basta dar tudo por ela. Basta jogar futebol.

Basta fazer tudo que não tem sido feito no Botafogo.

Não pelos seus companheiros, Jefferson. Alguns, de fato, não têm bola para jogar no nosso time. No máximo, jogariam lá no time do Flexeiras, da minha terra. E olhe lá.

Mas como cobrar deles se eles não são pagos?

Já os dirigentes do nosso Botafogo…

Além dos aviões, meus maiores adversários sempre foram os árbitros. Todos eles. Mas, hoje em dia, e nas últimas administrações, acho que os cartolas do nosso clube foram piores que os juízes.

Acredite.

E o pior é que parece inacreditável o que fizeram e o que estão fazendo com o nosso Botafogo.

Saudade do Carlito Rocha e do Biriba, nosso cachorrinho campeão em 1948. Hoje só parecem ter restado outros animais no clube. O seu Carlito que dava gemada pra nós depois dos treinos. Hoje, os caras dão uma ova pros jogadores! O Carlito tinha uma fábrica de tecido e ficou pobre de tanto dinheiro que deu pro Botafogo. Quantos dirigentes ficaram sem grana como ele? E quantos saíram do futebol com muito mais do que tinham?

É…

Como pode não pagar? Como pode exigir de quem não recebe?

Já ganhamos um Brasileirão com quase cinco meses de atraso. Mas não pode isso.

Aliás, eu também sou um pouco responsável por esse estado lastimável de coisas. Eu assinava contratos em branco com o clube. Falava que eles poderiam pagar o que quisessem para mim que estaria bom. E estava mesmo ótimo. Me pagavam pra jogar futebol no clube onde eu me sentia em casa!

Mas veja só o que foram fazendo comigo e com nossos companheiros, com nossos torcedores…

Dá pra dizer também com nosso país. Afinal, não pagamos para ninguém. Justo um clube com um crédito imortal no nosso futebol. Como pode?

Como deve…

E como devemos à nossa rica glória. E como estamos devendo Botafogo aos botafoguenses.

Não podemos mais ficar assim. Tenho conversado com a turma aqui de cima. Tem muito botafoguense nos céus. Muita gente boa. Mas sinto que a nossa galera vai ser menor a cada dia por aqui. Vai ter muito mais botafoguense indo pra outro lugar. Para o fogo eterno onde estão nos mandado mais uma vez.

Jefferson, você é o número um da Seleção. Merecidamente. Todo grande time começa com um grande goleiro. Uma pessoa honrada como você. Persista! Defenda a gente mais um pouco dos adversários externos e, principalmente, dos internos. Justamente os piores.

Sei que a culpa de tudo que não tem em General Severiano não é só da turma que está lá agora. Quem passou também arrasou a terra e os cofres. Derrubou o clube como quase derrubaram o Engenhão! Sei que todo o futebol brasileiro tá uma draga. Uma droga mesmo. Meus parceiros Djalma Santos e Julinho Botelho estão desesperados com a Portuguesa. Não a da minha Ilha do Governador, mas a do Canindé.

O que fizeram com ela?

O que estão fazendo com a gente?

Sei que você é profissional, Jefferson. Sei que você tem contas a pagar. Diferente do nosso clube, você paga suas contas. Mas eu te peço, por favor: seja cada vez mais amador e ame cada vez mais o Botafogo. Pelo menos alguém tem de amar esse clube lá dentro. E jogar por ele. Não o jogar na vala comum. Na várzea na pior acepção.

Eu sei que fiz errado em dar um cheque em branco aos cartolas antigamente. Hoje não se pode dar nem bom dia. Mas eu imploro: continue nos defendendo. Dê crédito a quem só tem débito.

Dizem que da nossa vida aí embaixo não se leva nada. Mas eu te digo, amigo: eu também estou aqui entre tantos Santos não porque eu sou Nilton, mas porque eu sou Botafogo.

Amor e dedicação não se cobram. Damos. Por isso estou aqui. Por isso consigo passar esta mensagem. Os que não têm, os que não tiveram, esses vão pro lugar onde estão nos mandando.

Só pra terminar, mais uma historinha que aconteceu comigo: quando parei de jogar, em 1964, muita gente teve a ideia de fazer um jogo de despedida com a renda inteira da partida sendo doada para mim. O que pensaram os dirigentes do clube na época: “vai parecer que a gente não pagou direitinho a ele durante a carreira…” E foi o que aconteceu. Eles não deram a renda para mim.

Como você pode ver, Jefferson, o problema do nosso clube não é só da turma que está aí agora. Vem de longe…

Enfim, o pessoal do Botafogo tá mandando aquela força aqui de cima.

Deus mesmo diz que está mexendo uns pauzinhos.

E Ele jura por Ele mesmo que ainda acredita no Jobson.

Mas que Ele não tem o que fazer com as postagens do Sheik no Instagram.

Saudações.

Nilton.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Valdívia e a transação disciplinar desportiva

Durante a semana, a imprensa noticiou que o meia Valdívia não enfretaria o Cruzeiro, mas estaria apto a jogar o derby paulista, em virtude de um acordo realizado com a Procuradoria e homologado pelo Relator responsável do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

O atleta transacional a pena de dois jogos e uma multa de R$ 50 mil (R$ 25 mil à Santa Casa de São Paulo e outro do mesmo valor à Ong Médicos Sem Fronteiras). Havia a possibilidade de punição por até doze partidas.

No caso em questão, o julgamento dos recursos no pleno do STJD estava marcado para quarta-feira, mas, diante do acordo, o processo foi entinto e Valdívia não esteve em campo contra o Cruzeiro, mas enfrentará o Corinthians no final de semana.

Interessante observar que, em virtude de efeito suspensivo, o atleta teria condição de jogo contra o Cruzeiro, mas, possivelmente não jogaria contra o Corinthians.

De certo, Departamento Técnico e Jurídico do Palmeiras ponderaram os riscos de uma partida contra o líder da competição mesmo com o Valdívia e consideraram enfrentar a equipe mineira sem o seu maior craque e garantir sua participação nos oito jogos restantes.

Tal acordo se tornou possível em virtude de nova figura criada em 2009, na última alteração ocorrida no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, a transação disciplinar desportiva (art. 80-A), que foi inspirada na transação penal já utilizada nos Juizados Especiais Criminais.

De acordo com o artigo 80-A, CBJD, é possível que à Procuradoria e o infrator, mediante supervisão de um auditor do Tribunal Pleno, realizem a celebração de acordo a respeito da pena a ser cumprida, antes ou após a propositura da denúncia.

A referida transação é cabível somente em casos excepcionais e para atletas primários e que não tenham utilizado o benefício no prazo de trezentos e sessenta dias anteriores à infração.

A grande função da transação desportiva é a possibilidade de assegurar condições de jogo para atletas primários favorecendo-se assim, o resultado desportivo e nesse momento tão difícil para o Palmeiras, seguramente, seu principal atleta será indispensável para salvar o clube paulista da degola.

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UNICEF e Universidade do Futebol lançam programa "Educar pelo Futebol – Meu time é nota 10"

O UNICEF e a Universidade do Futebol, com o apoio da Fundação Barcelona, lançaram o programa Educar pelo Futebol – Meu time é nota 10. 10/2014.
Confira o texto na íntegra

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Seleção de talentos no futebol: ainda uma revisão necessária

Num momento em que muito se fala sobre a necessidade de uma renovação do futebol no Brasil, em que alguns programas de televisão falam sobre a seleção de talentos no futebol, resolvi resgatar uma reflexão feita há algum tempo e que trata justamente sobre o tema seleção de talentos esportivos.

Minhas principais reflexões na ocasião eram sobre se ainda realizamos no futebol uma seleção através de processos exclusivamente empíricos e percepções intuitivas de olheiros. Além de questionar se com esta forma de seleção na base não deixamos muitos talentos de fora desta seleção. Penso que estas ainda são muito pertinentes nos dias atuais.

Sabemos que muitos dos que tentam uma carreira no futebol, muitas vezes estes buscam principalmente uma oportunidade de sobreviver num universo social tão excludente. Não creio que não serão mais utilizados complementos intuitivos e percepções pessoais no processo de seleção, principalmente em situações mais distantes dos grandes centros e que não contam com apoio adequado para este procedimento de seleção, até porque isso é cultural no Brasil. Mas será que por ser hábito e cultura no país, nós não poderemos avançar e termos métodos mais estruturados, regulares e confiáveis para este trabalho?

Ao considerarmos apenas a observação técnica e a característica física do mesmo, desconsiderando as características psicológicas e perfis comportamentais destes, será que não temos um fenômeno, que muito se repete no universo corporativo, de selecionarmos talentos pelas suas competências técnicas e nos esquecermos de avaliar seu perfil comportamental?

Será que não estamos cometendo um equívoco ao selecionarmos os talentos sem avaliar se o perfil comportamental destes estão de acordo com as expectativas do clube, em relação ao papel que este atleta exercerá na equipe e também em relação à cultura e valores da instituição esportiva? Em muitos destes casos, o atleta frequentemente deixa de ser utilizado e tem sua carreira comprometida, se transferindo de clube em clube sem reproduzir a esperada performance esportiva. Sem falar nos clubes, que muitas vezes desperdiçam as chances de compreender este cenário e aprender para evoluir, por pura falta de atenção adequada ao assunto.

Penso que devemos somar as análises técnicas, físicas e fisiológicas, as análises de perfil com o objetivo de definir perfis comportamentais pretendidos pela instituição esportiva. Com isso, torna-se possível mapear perfis de alto rendimento baseado no desenho de perfis de atletas de resultados reconhecidamente de alto rendimento e sucesso profissional.

Ao se espelhar alguns destes perfis, pode-se compará-los aos perfis dos potenciais talentos e a partir daí poderemos compreender se este tem potencial, em termos comportamentais, para se tornar um atleta de alta performance no futebol. Partindo deste ponto, será possível inclusive compreender como desenvolver melhor este talento rumo ao seu estado da arte no que tange ao desempenho esportivo.

Quem se mantiver apenas no processo intuitivo para selecionar seus talentos estará perdendo mercado para demais instituições esportivas, ainda mais num mercado em que desenvolver talentos é um investimento muito mais rentável do que adquirir talentos prontos. E neste cenário uma estratégia de seleção dos talentos, bem como no planejamento estratégico das carreiras destes atletas se tornará fundamental para os clubes.

Na próxima coluna comentarei sobre uma fase de transição muito importante para os atletas de futebol: a transição da fase amadora da carreira para a fase profissional. É nela que muitos atletas ficam pelo caminho e vamos refletir por que isso acontece.

Até lá!
 

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A seleção brasileira e a distância

As partidas tão longe de casa, distante dos torcedores brasileiros, vem intensificando há algum tempo a indiferença do público local para com a Seleção Brasileira de Futebol. E não é de hoje. Trata-se de um processo que vem sendo construído há muito tempo, independente do famigerado 7 a 1.

É lógico que a lógica é de mercado. Atende os anseios de muitos patrocinadores globais, empresas que produzem os jogos e atinge novos mercados que não conseguem consumir com frequência e qualidade grandes disputas do futebol mundial. E, ainda mais óbvio, impacta de maneira significativa as finanças da CBF.

Contudo, a consequência deste processo sendo semeado por um longo período é o de, no longo prazo, reforçar a perda de identidade do brasileiro com a Seleção Brasileira, que pode não ser recuperada tão facilmente. Se a geração de resultado financeiro hoje para muitos dos envolvidos parece significativa, no futuro a ausência na relação com o público local pode trazer consequências negativas.

Essa premissa vale também para os clubes brasileiros que, inadvertidamente, modificam jogos para aferição de uma receita de curto prazo ao levarem seus jogos para cidades distantes do seu “berço”. O local onde um clube atua tem um valor identitário fortíssimo, que pode ser muito bem explorado e valorizado comercialmente, quando o trabalho é bem executado.

O que seria o Barcelona sem o Camp Nou ou o Manchester United sem o Old Trafford ou o Olympique de Marseille sem o Velodrome. Os exemplos são vastos neste âmbito, encontrando amparo também no mercado brasileiro.

É lógico que jogar, vez por outra, em arenas diferentes, desde que faça parte de um projeto sólido de alcance de novos mercados e se comunique de maneira adequada com o torcedor local, pode fazer bem para a marca de um clube. Reitero: é preciso planejar muito bem esse processo e medir de forma adequada todas as consequências de médio-longo prazo.

Em suma, é preciso trabalhar de forma mais racional os projetos que promovem jogos ou disputas regulares longe do ambiente que identifica uma determinada equipe esportiva.

O “agir localmente, pensar globalmente” serve para muitos casos. Este é um deles!