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Você está pronto para trabalhar com futebol?

Hoje vou fugir do habitual texto sobre questões táticas do jogo, para dissertar a respeito de algo que, aqueles que trabalham com futebol e passam mais tempo convivendo com as pessoas desse meio (jogadores, treinadores, preparadores físicos, roupeiros, massagistas, fisioterapeutas, médicos, etc.) do que com suas esposas, filhos e pais, vão entender muito bem (e aqueles que não são, mas querem ou já quiseram ser, certamente também).

A motivação para escrever o que se segue, nasceu de uma pergunta feita por um jornalista de conceituada rede de televisão (que estava, havia alguns dias longe da família, para “cobrir” os acontecimentos de uma partida de futebol), a um de meus companheiros de trabalho.

Ele (o jornalista) queria entender como “nós do futebol” conseguíamos ficar tanto tempo trabalhando em cidades distantes e longe da família, vendo filhos ou esposa, apenas 10 ou 20 dias por ano, e passando a maior parte do tempo longe de casa.

A pergunta não foi feita para mim, mas fiquei pensando nela.

Mais tarde, procurei o preparador de goleiros, o massagista (um chileno-brasileiro de grande coração, com duas décadas de futebol) e depois alguns outros amigos do trabalho, e fiz a seguinte pergunta para cada um deles:

Se você soubesse a data exata em que o mundo vai acabar (se é que o mundo vai acabar), onde e com quem, você gostaria de estar e de passar seus últimos momentos?

Com exceção do meu amigo preparador físico, que disse que gostaria de estar em um lugar distante (que tem para ele, um significado particular) aproveitando uma grande festa, com uma multidão de gente (sem a presença de ninguém em especial), todos meus outros companheiros de trabalho não vacilaram em dizer que gostariam de estar perto de suas famílias (filhos, esposa, pais), aproveitando o máximo possível o tempo juntos.

Todos eles amam o que fazem.

Trabalham todos os dias com o mesmo grande entusiasmo do primeiro dia de trabalho. Cada um com sua história diferente, cada um com suas metas e sonhos particulares. Todos com o Futebol (aqui como nome próprio) em comum.

Mas tão certo quanto a necessidade explicita de trabalhar com aquilo que trabalham, há escondido no peito de cada um, um vazio impreenchível, camuflado a não sei quantas dores e hábitos, que vão sendo criados, sem que se perceba, para que possam simplesmente se acostumar.

Interessante e surpreendente para mim, até certo ponto, que além de ter o futebol como elemento em comum, e também as respostas parecidas para a minha pergunta, todos eles estavam bem distantes do lugar e das pessoas que gostariam de passar seus últimos momentos.

Então, se por um lado, cada um deles faz o que gosta profissionalmente, por outro tentam, mergulhando no trabalho, administrar aquilo que lhes falta de mais importante.

O que sei, é que todos, mesmo focados no que tem que ser feito, trazem consigo a companhia da saudade.

Skype, MSN, E-mail, telefones celulares… A tecnologia que cura os sintomas não apaga as causas da dor, da falta de outras pessoas.

Muitos dos meus companheiros de trabalho, no final das contas, dizem que com o tempo vão se acostumando com as ausências… Não sei. Penso que o que deve mesmo acontecer não é um “acostumar com a dor”, mas sim um “ter domínio sobre ela”.

Se me acostumo, nem percebo, esqueço que ela existe (e realmente, não acho que eles esqueçam). Se a domino, sei o tempo todo da existência dela, e apesar dela, caminho controlando-a.

Por incrível que pareça, algumas pessoas no futebol dizem que saudade e dor são sinais de fraqueza. Se tiver saudade, não serve!

Não sei. Acredito mesmo, que fraqueza é perder o controle de si, deixar de ser o que se é.

Talvez aqueles que evitem a dor, tenham medo de perder o controle sobre ela.

Não sei o que está certo ou o que está errado.

O que sei é que eu Rodrigo (treinador, e homem do futebol) não posso me acostumar com ela, porque senão, perco a noção de quando ela se agrava, e se virar sintoma de coisa grave, acabo por ficar sem saber que posso morrer…

O que posso dizer é que não nego a minha, porque não tenho medo dela. O que me resta, é tentar chegar mais cedo em casa depois do trabalho e aproveitar ao máximo o tempo, porque eu não sei quando o mundo vai acabar…

E por falar em “se acostumar”, encerro com um texto de Marina Colasanti. “Acostumaram” a dizer pela internet que ele (o texto) é de autoria de Clarice Lispector (escritora que dispensa comentários – é excelente!). Não é.

“Eu sei mas não devia” (Marina Colasanti – Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma
a acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã
sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduiche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e
ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso
de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
Agente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos,
para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Segunda azul

Prepare-se. É bem possível que aquilo que você vai ler a seguir não se encontre em nenhum outro lugar. Nenhum.

Primeiro, porque envolve uma informação retirada de um cartaz de propaganda de um jornal que ficava do lado da porta de um trem e foi vista por mim em 2008, quando ia de Narborough, uma pequena vila do condado de Norfolk, para Londres. Não sei exatamente como, tampouco a razão, mas fiquei com aquela propaganda na cabeça até hoje. E segundo, porque envolve experiência pessoal, que permite contextualizar a razão das ações.

Esses dois motivos somados me permitem sugerir, mas não afirmar, que a história de que o Robinho está voltando para o Brasil por conta da tática que os técnicos usam é a mais balela.

Não conheço o Robinho. Não sei o que ele pensa, tampouco como age. Porém, as coincidências são tão grandes que não há como não imaginar que esse discurso é ensaiado.

A propaganda do jornal no trem, creio que era do ‘The Times’, listava uma série de fatos curiosos e banais e dizia que quem lesse o jornal saberia dessas coisas. Você pode até argumentar que é uma propaganda idiota, mas um ano e meio depois ela ainda está na minha memória. Tudo por conta de um dos itens da lista, que dizia: ‘Você sabia que o dia XX de janeiro é o dia mais deprimente da Inglaterra?’.

Eu nunca me lembrava que dia era esse exatamente. Até o momento em que eu vi que Robinho queria sair do Manchester City. E vi a entrevista dele falando sobre a volta ao Brasil, em claro tom de alívio. A primeira nota a respeito que li, foi no dia 21 de janeiro, logo a notícia é do dia 20.

Algumas palavras jogadas no Google, em sites de jornais ingleses e está lá: o dia mais deprimente da Inglaterra é a terceira segunda-feira de janeiro, também conhecida como ‘Blue Monday’. Em 2010, foi dia 18 de janeiro. Dois dias antes do manifesto interesse de Robinho em voltar ao Brasil. Que, curiosamente, também foi próximo do dia que o Anderson faltou ao treino do Manchester United. A depressão inglesa, portanto, parece ter desempenhado um papel fundamental nessas ações.

Porém, isso está longe de ser algo cientificamente confiável. Muito pelo contrário. A definição da ‘Blue Monday’ é fruto de um release que colocava uma fórmula científica completamente sem sentido, feita por um cara totalmente desconhecido que era meio-professor de uma universidade galesa. Soube-se depois que o release foi obra de um canal de televisão especializado em viagem, o Sky Travel. A equação que determinava qual era a data mais deprimente da Inglaterra era desprovida de qualquer nexo e levava em conta variáveis como tempo ruim, dívidas contraídas no final do ano, resoluções de ano novo já descumpridas, distância para o dia do pagamento, distância do Natal e a ânsia pra tomar alguma ação. Uma equação cientificamente idiota.

Mas que, pelo menos, dá uma referência sobre o que é viver na Inglaterra nesse período.

E eu posso dizer, por experiência pessoal, que morar na Inglaterra não é fácil. E quanto mais para o norte, como é o caso de Manchester, pior. O céu é incrivelmente cinza, a comida é ruim, a temperatura é baixa e o comportamento das pessoas é um tanto quanto violento. Não dá a menor vontade de fazer nada. Para piorar, em janeiro, o sol aparece umas 8h30 – 9h, e some às 16h30. Isso quando ele aparece.

E para piorar mais um pouco ainda, esse é o mesmo período em que todos os seus amigos brasileiros estão de férias, na praia, falando do sol, da cerveja e das outras coisas inclusas no pacote. E você vendo tudo isso pela câmera do computador. Na escuridão das 17h.

Uns alegam que o Robinho e o Anderson são pouco profissionais. Que ganham muito dinheiro e deviam se esforçar um pouco mais. Concordo. Mas também entendo o que eles passam. O tempo frio te faz refletir bastante. Eventualmente, você chega à conclusão que significativas horas de sol a mais valem mais do que alguns milhões na conta. Obviamente que eu nunca refleti sobre isso, mas enfim.

Clubes ingleses, por tradição, pouco se importam com seus jogadores. Eles pagam o salário e, de resto, cada um que se vire. Não é a toa que são raríssimos os casos de jogadores latinos que se dão bem no futebol inglês. Os que se adaptam são mais raros ainda. Tevez, por exemplo, está longe de estar feliz na Inglaterra. Na mesma entrevista que ele chamou o Gary Neville de puxa saco do Ferguson, ele também declarou que apesar de estar a quatro anos na Inglaterra, não fala uma palavra em inglês. E também que está louco de vontade de sair de lá.

Ouvi alguém dizer que o jeito que o Tevez joga em relação ao Robinho mostra que os argentinos são mais profissionais que os brasileiros. Talvez. Mas casos como Crespo e, principalmente, Verón, que foram tão ou mais decepcionantes que Robinho, mostram que o buraco é muito mais embaixo. Mostram que o problema está longe de ser pessoal, mas sim ambiental.

Se ao menos os jogadores pudessem seguir a típica tradição britânica e pudessem descarregar a depressão do inverno na cerveja… Nem isso. Coitados.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Virada de mesa

Vem dos pampas o vento que sopra uma mudança significativa – espera-se – na gestão dos clubes de futebol no Brasil.

O Internacional encaminha mudanças estatutárias para, a partir de 2013, profissionalizar de fato e de direito, a administração do clube, remunerando os quadros executivos do clube.

Não só o presidente, mas também os vices de cada departamento receberão salários, segundo o novo estatuto a ser votado até 2011. O presidente e o vice de futebol deverão ter dedicação exclusiva à agremiação.

Coisa que hoje ocorre apenas com o vice-presidente de marketing do clube, com o segundo e terceiro escalões, passará a estar institucionalmente arraigado de cima para baixo.

Muito se comenta, ao longo da história do futebol brasileiro, o envolvimento pernicioso dos dirigentes dos clubes com as finanças (mal) versadas em causa própria.

Futebol, política e administração pública costumam ter muitos aspectos em comum em nosso país.

A administração pública brasileira, em especial em âmbito federal, tem a ensinar ao futebol.

Antes da promulgação da Constituição Federal, em 1988, na esteira de governadores e prefeitos biônicos, indicados pela ditadura militar, o penduricalho de cargos em comissão e contratados por laços pessoais era o que prevalecia nos quadros administrativos.

A nova ordem político-institucional exigia a qualificação do funcionalismo público, por meio de concursos transparentes, estáveis e com credibilidade. Além de muito bons salários e estabilidade para o desempenho das atividades aos profissionais.

Não à toa vemos a enorme procura por estes concursos nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Melhores salários, com a garantia de concorrência leal para a busca das vagas, por meio da seleção em concursos, atraíram os melhores candidatos e melhorou em muito o nível da gestão pública.

Não que isso tenha excluído a lentidão burocrática e a corrupção. Mas todo o processo depurou muita sujeira que entupia nossos canos enferrujados.

Mudança como essa é fundamental e obrigatória, para que os clubes consigam perseguir o equilíbrio financeiro num cenário esportivo nacional ainda em consolidação. Ademais, o sistema atual do futebol, no tocante à gestão dos clubes, tem se revelado, perigosamente, deficitário.

Um exemplo prático de mudança vem do Poder Judiciário que, até pouco tempo atrás, permitia que os procuradores estaduais também exercessem a advocacia. Atualmente, isso não é possível, e as procuradorias melhoraram em muito a prestação do serviço público dela esperado.

O Conselho Nacional de Justiça também cobra produtividade dos Tribunais e seus juízes e desembargadores. Existem metas para o julgamento de processos.

Será que ainda existe espaço para que os diretores e altos executivos dos clubes deem meio expediente? Se sim, o futebol continuará refém de tentativas pouco consistentes de evolução, vindas de fora do sistema, como a Timemania…

Necessitamos de mais dirigentes com coragem para somarem-se aos do Internacional, visando promover a desestabilização do ambiente letárgico de nossa gestão no futebol.

Acredito que o primeiro passo é pagar muito bons salários para atrair pessoas qualificadas. Como num concurso público. Quem sabe, até mesmo com um concurso.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Os interesses diversos no desenvolvimento da tecnologia esportiva

A cobertura midiática e o status econômico no esporte cresceram vertiginosamente na ultima década. O mercado de produtos e serviços, talvez, seja um dos que figure mais em evidência dentre os diversos segmentos do universo esportivo que marcam tal crescimento, com destaque aos investimentos e novidades em tecnologia dos produtos.

O famoso lema olímpico – mais rápido, mais alto, mais forte, em latim, “Citius, Altius, Fortius” – contribue para a busca de excelência no esporte e para a decorrente manifestação dos investimentos em equipamentos para se alcançar a alta performance. Mas, assim como seus reflexos são nítidos no esporte de alto desempenho, é mais claro e perceptível a forma que alcançam o consumidor comum, isto é, quantidade de produtos e serviços desenvolvidos a partir de inovações que chegam primeiro ao esporte de competição e se proliferam em variedades para as demais manifestações de esporte, na prática pela saúde, estética, lazer.

Muitas vezes, somos levados a pensar nessa ordem: as coisas se desenvolvem para o esporte de alta performance e, com o passar do tempo, chegam aos grandes centros de consumo. Não é um pensamento equivocado, mas também é evidente que o desenvolvimento de novos produtos, cada vez mais atrelados à pesquisa, planejamentos e, sobretudo, recursos tecnológicos de ultima geração são pensados, também, no grande público, na busca de novos mercados, e se utiliza do esporte de ponta como um potente difusor ou catalisador.

Tais relações independentemente do sentido em que ocorrem, do esporte de ponta para o mercado ou ao contrário, envolvem os profissionais que lidam com o rendimento esportivo como os próprios atletas, os treinadores, os preparadores físicos, em um universo recheado de tecnologia e recursos inovadores, que requer que tais profissionais estejam capacitados para lidar e compreender esses mecanismos, utilizando suas competências para filtrar os excessos e se beneficiar com base em seus objetivos e fatores determinantes para o resultado. Pois como fruto do interesse de quem desenvolve além dos resultados (que interessa quem o utiliza como ferramenta de trabalho), estão juntas as preocupações com ergonomia, design que agrade o público, estética, assim como as emoções que despertam em que utilizará o produto.

Quem participa do desenvolvimento desses novos produtos, das inovações que chegam tanto ao publico quanto ao atleta e treinador?

Imaginamos que, por de trás de um desenvolvimento, muitos profissionais estão associados, especulamos sobre alguns deles em relação à tecnologia para o futebol:

– Engenheiro de computação;
-Atletas;
-Técnicos;
– Acadêmicos;
– Gestores;
– Publicitários;
– Educadores físicos.

Isso, sem contarmos as especificidades de cada produto, serviço ou software, pois, se levadas em consideração poderiam acrescentar novos membros ao grupo de profissionais (médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, arquitetos, biomecânicos, etc).

Assim, como estabelecer um diálogo partindo dos interesses de cada? Como suprir as necessidades dos técnicos e atletas sem distanciar-se das necessidades do público em geral e aproximando-se dos interesses do gestor ou investidor?

Talvez, seja pretensão demais, talvez não existam possibilidades para tal diálogo, talvez sim. O que você, meu amigo leitor, acha? Nas próximas semanas, avançaremos neste tema, numa série de debates sobre os interesses e anseios tecnológicos de alguns desses profissionais, na busca para entendermos um pouco como cada um age, ou precisa agir frente ao desenvolvimento de inovações.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Negocião

Futebol é negócio. E dos bons! A expressão está cada vez mais popularizada, e tem começado a fazer parte do cotidiano da bola no Brasil. Mas talvez não tenha um torneio que mais expresse esse conceito do que a Copa São Paulo de Juniores, que se encerra nesta segunda-feira, dia 25 de janeiro.

Essa é a única tradição mantida pela Copinha no século 21. A decisão do campeonato continua a ser no dia do aniversário da cidade de São Paulo. Tirando isso, a competição é a essência do “negocião” em que se transformou o futebol no Brasil.

Segunda-feira, 10h da manhã, transmissão pela TV aberta, clássico decisivo inédito entre Santos e São Paulo. Até chegar a essa final, outros 90 clubes ficaram pelo caminho, numa maratona de jogos que começou no segundo dia do mês. E para por aí o interesse da mídia na Copinha.

Se, anteriormente, o foco de cobertura da imprensa era quase todo para a Copa, única competição do mês de janeiro no país, agora a mídia já dividiu suas atenções entre contratações, novos patrocinadores, reapresentações, pré-temporadas e velhas novelas de transferências. Se fosse só isso, tudo bem, até que ainda haveria espaço para a Copinha.

Mas, já há uma semana, o noticiário esportivo é ocupado pelas rodadas dos campeonatos estaduais dos times profissionais. Desde que o Brasileirão por pontos corridos foi instaurado, com mais 23 absurdas datas para os Estaduais, que o calendário do futebol nacional foi espremido. Para dar conta de tanta data, só terminando no início de dezembro o Nacional para, já na metade de janeiro, começar os Estaduais.

Foi a partir daí que teve início, na Copinha, o processo de transformação do campeonato numa imensa e interessante vitrine para a atuação de clubes e empresários do futebol. O maior negocião da bola, em que as maiores quantias e maiores rentabilidades de grana estão envolvidas.

A mídia não ter interesse na competição é um prato cheio para tirar o torcedor do estádio e levar o empresário para as pelejas, o olheiro, aquele cara que vai ficar ali, vendo mais de mil jogadores em ação para então começar a delinear um projeto para as suas carreiras.

A Copinha é hoje uma espécie de megaloja do futebol brasileiro. E o desinteresse da mídia pelo campeonato é a melhor mostra dessa mudança de comportamento.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Processo de treinamento: os conteúdos a serem desenvolvidos nos treinos não se resumem a preparação física

Tradicionalmente no futebol, o planejamento de treinos em curto, médio e longo prazo está associado a preparação física.

Isto quer dizer que é comum que a organização de cargas de treinamento seja, principalmente, orientada pela distribuição longitudinal de estímulos que desenvolvam capacidades “físicas”. Os aspectos técnicos, táticos, psicológicos e sócio-culturais ficam, então – ao menos para efeito de “planejamento” -, em segundo plano na programação.

São até folclóricos, no futebol, casos de treinadores que só resolviam o que treinar minutos antes da sessão de treino começar. Planejamento quase zero!

O processo de desenvolvimento do treino, para alcançar o jogar que se pretende, é um projeto de aplicação de cargas que devem estimular a evolução desse jogar, considerando todas as dimensões do jogo de futebol (física, técnica, tática e psicológica – dentro das particularidades que identificam as características sócio-culturais do meio).

Então, da mesma maneira que tradicionalmente os preparadores físicos vêm desenvolvendo e aplicando os conteúdos inerentes ao que chamam de “preparação física”, é necessário que para o desenvolvimento do jogar, outros conteúdos sejam considerados no planejamento.

Obviamente que mesmo que os conteúdos “físicos”, “técnicos”, “táticos”, etc., sejam levados em conta no planejamento para melhor preparação do futebolista, a grande contribuição deles na evolução do jogar só pode ser real se forem, os conteúdos, organizados como sobrecarga de treinamento de maneira integrada (e integral!).

Isso quer dizer que além de se conhecer e considerar os conteúdos das dimensões que englobam a preparação desportiva do jogador de futebol, é necessário que na prática do treino esses conteúdos sejam desenvolvidos de maneira não-fragmentada.

E se essa ideia não vale apenas para a preparação de uma equipe durante uma temporada qualquer, vale também, e muito mais, para o processo de desenvolvimento de conteúdos na formação de jogadores nas categorias de base.

Da mesma maneira que a dimensão física, fragmentada, é o conteúdo que acaba por reger os demais no planejamento e processo de treinamento em uma equipe profissional, nas categorias de base é também muito mais comum que se saiba que tipo de “estímulo físico” deve ser dado a cada faixa etária ou categoria, do que qual conteúdo técnico ou tático.

Se pensarmos em planejamento em longo prazo, para desenvolvimento de todos os conteúdos de maneira integrada, aí então que grande parte das nossas categorias de base, Brasil adentro, realmente está perdida, e não tem a menor ideia do que fazer.

Alguns projetos em nosso país começaram, ainda que de certa forma,
tardiamente, a se preocupar com isso.

E não tenho dúvidas: quando a grande maioria das equipes profissionais e departamentos de categorias de base acordar, aquelas e aqueles que hoje já vêm tentando estruturar esses conteúdos vão estar bem na frente.

Que toque o despertador!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Três rapidinhas

Três notas rapidinhas nesse úmido período de férias:

1) O futebol brasileiro deveria participar mais dos projetos de reconstrução do Haiti. É o mínimo que precisa ser feito para pagar a enorme dívida de gratidão. Afinal, acredite, a Copa do Mundo de 2014 só veio pro Brasil por causa do Haiti. Não fosse por ele, Lula não teria se encontrado tão cedo com Ricardo Teixeira, que ofereceu a seleção de graça para jogar o amistoso com o país, coisa que foi pedida pelo presidente Haitiano por conta da designação do Brasil como chefe de missão de paz da ONU. Se o amistoso não tivesse acontecido, Lula não teria se reunido tão cedo com Teixeira. E se essa reunião não tivesse acontecido, a Copa de 2014 provavelmente não viria para cá. E se a Copa não viesse para cá, o futebol brasileiro dificilmente viveria o “oba-oba” atual. Eis, portanto, razão suficiente para uma participação mais incisiva do futebol brasileiro na recuperação do Haiti. Coisa que, convenhamos, não vai acontecer.

2) É óbvio que os valores de patrocínio no Brasil estão super-inflacionados, o que não é algo necessariamente ruim. O que espanta é a curta duração dos contratos, coisa que nenhuma empresa sã que saiba o que está fazendo quando patrocina um esporte faz. Isso mostra uma certa imaturidade do mercado patrocinador, mas não do patrocinado. Ninguém pode imaginar também que o nível de exposição de uma marca justifique tamanho investimento no país, especialmente porque essa exposição é extremamente controlada por apenas um veículo. Isso pode levar a duas alternativas: ou está sendo criada uma bolha de patrocínio no país ou tem alguma estratégia muito diferente por trás disso tudo. De qualquer maneira, se for levado em conta que para ativar um patrocínio de maneira minimamente adequada uma empresa precisa investir praticamente duas vezes o valor que ela gasta com o patrocínio, a Hypermarcas vai gastar muito, mas muito dinheiro esse ano em promoção de seus produtos. Bom para o Corinthians e para o Flamengo. Para a Hypermarcas, talvez não tanto.

3) A crescente dívida do Manchester United mostra exatamente o porquê de não se salutar o modelo de clube-empresa. Quando um clube tem um dono, ele faz o que bem quiser com o clube. Afinal, ele é o dono. No caso do Manchester United, Malcom Glazer e sua trupe de filhos, que são os donos do clube, tiraram sacos e mais sacos de dinheiro do clube em forma de pagamento por serviços prestados e até empréstimos. Enquanto isso, a dívida do clube cresce. E os resultados em campo começam a preocupar. Se o Manchester United não ganhar nada esse ano, a torcida vai se revoltar. Vai xingar. Vai protestar. Mas vai ter pouco o que fazer, a não ser que autoridades públicas se envolvam com a questão. Afinal, os caras são os donos. E, como donos, eles fazem o que eles bem entenderem. Imagina se isso acontece por aqui?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Top 10 Brasileirão-09: aspectos ofensivos

Olá amigos!

Nesta semana, o último texto da série “Top-10”, seguem os dados sobre finalização.

As informações são oriundas do ScoutOnline e apresentados em dois formatos:

– média por jogo, dividindo o número de ocorrências pelos jogos;
- média por minuto jogado, dividindo o número de ocorrências pela quantidade de minutos em campo de cada jogador.

Eis os top-10:

Finalizações tentadas

Finalizações certas

Finalizações erradas

Na próxima semana, faremos uma breve discussão sobre algumas curiosidades apresentadas nos últimos três textos. O amigo que quiser enviar seu comentário ou interpretação, fique à vontade. Utilizaremos o espaço para divulgarmos ideias e debatermos.

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O treinador nacional e o estrangeiro

Tratemos, hoje, de um tema que, sem dar ares de adivinho, parece manter alguma actualidade: qual o melhor treinador, para o futebol (ou o basquetebol, ou o andebol, ou o voleibol, etc.) de um país, o treinador nacional ou o estrangeiro? Em Portugal, a concluirmos pelo enlevo que certas pessoas sentem por tudo o que chega da estranja e o pessimismo demolidor que lançam sobre os homens e as coisas de Portugal, os treinadores portugueses são muitas vezes minimizados, com enfatuada ironia.

A enriquecer esta tese, adianta-se, de fisionomia aberta e jubilosa, o facto incontroverso de, com Luiz Filipe Scolari, Otto Glória, Bella Guttman e Tomislav Ivic, o futebol português ter alcançado êxitos retumbantes (e o mesmo poderia dizer doutras modalidades, como, por exemplo, o voleibol). Eles instigaram-no a novos métodos que nele se repercutiram, durante anos. Mas por que se esquece repetidamente que é nosso o que, há bem pouco tempo, foi considerado o melhor treinador do mundo e ainda Fernando Vaz, José Maria Pedroto, Artur Jorge, Carlos Queirós, Jorge Jesus, Paulo Bento, Manuel José e outros?… Num país de velhas tradições e de longa caminhada histórica, até no futebol gostamos de ser colonizados! E, como veremos, não
há razão para mais um complexo de inferioridade.

Mas a pergunta continua teimosamente de pé: qual o treinador que melhor serve o futebol de um país, o nacional ou o estrangeiro? Em igualdade de circunstâncias, o nacional, indubitavelmente! Ao treinador estrangeiro, em terra alheia, sem o domínio da língua nativa (e não é linguagem o desporto?) e desconhecendo o futebol como expressão de uma cultura que lhe é estranha – escasseiam-lhe, normalmente, ao nível do agir e do inteligir, uma larga soma de dados imprescindíveis ao exercício da sua profissão… longe do seu país!

É uma antiga questão esta da existência ou não-existência de características nacionais, no futebol. De facto, que realidade traduz a designação brasileiro, inglês, soviético, aposta ao vocábulo futebol? Há futebol brasileiro, ou futebol no Brasil? Há futebol inglês, ou futebol na Inglaterra? Há futebol coreano, ou futebol na Coreia? Tentemos estabelecer a noção de futebol: ele é um desporto colectivo, com as regras por todos conhecidas e dependente do génio individual dos jogadores, da capacidade de liderança do treinador-principal e da organização global dos clubes.

Mas os elementos raça, geografia, língua, tradições, cultura, etc. singularizam o futebol dos diversos países? Indubitavelmente! Por isso, existe o “futebol sambado” do Brasil, o “futebol atlético” dos ingleses, o “futebol racionalista e geométrico” de alguns países da Europa Central. O futebol também interpreta o real, à sua maneira; também ele é uma visão do mundo, existindo no plano do conhecimento não consciencializado; também ele resulta da sensibilidade peculiar de um povo. O futebol pode fazer suas as palavras de Ortega y Gasset: eu sou eu e a minha circunstância!

Tudo isto, para concluir que aposto nos treinadores nacionais, no cotejo com os estrangeiros, para dirigir e orientar as nossas equipas de futebol (ou de qualquer outra modalidade desportiva). Desde que sejam treinadores que aliem uma prática incessante (de treinadores, logicamente) a uma teorização rigorosa. A grande mensagem que o José Mourinho, Manual Jesualdo Ferreira, o Carlos Queirós, o Nelo Vingada, o José Peseiro, o Mariano Barreto, o Manuel Machado, o Carlos Carvalhal, o Rui Dias e outros mais licenciados em Desporto pretendem transmitir ao futebol português (e não só) é esta: também é preciso estudar, para se obterem vitórias, no futebol. Também aqui a teoria e a prática deverão existir em função uma da outra, visando não só um saber, mas uma sabedoria.

Recordo a terminar Cândido de Oliveira, Fernando Vaz, Mário Wilson, Manuel Oliveira, José Maria Pedroto, Artur Jorge, Jorge Jesus, Manuel Cajuda que, sem um curso universitário de Desporto, anunciaram, à sua maneira, que a teorização é indispensável à prática de treinador de futebol – o que fazem os que tiveram, como professores, o Manuel Jesualdo Ferreira, o Mirandela da Costa, o Carlos Queirós e o Nelo Vingada, no ISEF de Lisboa, e o Vitor Frade, no ISEF do Porto!

No entanto, é de exigir aos licenciados que escutem, com humildade, os que levam anos e anos de futebol. É que também o futebol se teoriza, no quadro de uma inegável dimensão histórica, social e política.

Ocorre-me o conceito de “prática-teórica” de Louis Althusser, ou mesmo a “teoria-prática” de Gyorgy Lukács. Por mim, quero denunciar, tanto o idealismo da “teoria pura”, como o pragmatismo de uma prática acéfala; tanto uma dialéctica unicamente de categorias e de conceitos, como a “consciência espontânea” (altamente tributária da tradição e do passado) dos que não estudam e abdicam do papel orientador da teoria.
 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

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Tempos de criança

Giovanni está velho para o futebol, Ronaldo precisa voltar à forma, Roberto Carlos tem de se readaptar ao futebol brasileiro, o Palmeiras não sobreviverá sem mais atacantes, o São Paulo tem de encontrar novamente seu equilíbrio.

Ou, então.

A Portuguesa, o Palmeiras e o Santos são os favoritos ao título paulista. Giovanni é craque. O Palmeiras não precisa de um atacante fixo na área. O Corinthians e o São Paulo estão mais preocupados com a Libertadores do que qualquer outra coisa.

Início de trabalho, volta de férias, pé no freio para aguentar a atípica temporada de Copa do Mundo, planejamento para render mais quando for afunilamento de campeonato.

Nada disso é levado em conta na hora da análise de como vai se comportar um time de futebol ao longo de 11 meses de trabalho. Depois de uma pré-temporada em que a imprensa mais especulou sobre contratações do que procurou se informar como estava sendo a preparação do time para os cerca de 50 jogos que serão realizados até o final do ano, não tem mistério.

É o resultado dentro de campo que vai determinar quais dos discursos colocados acima serão mais recorridos pela imprensa ao longo de, pelo menos, os próximos três primeiros meses do ano.

Numa época em que a mídia apela ao mau gosto para garantir audiência, em que os anunciantes olham a quantidade muito mais do que a qualidade, e o público “engole” a programação que lhe é oferecida, não tem muito o que esperar de novidade na cobertura da mídia esportiva sobre o futebol.

É só reparar o que aconteceu neste domingo nas mesas-redondas por aí, inclusive nas de TV a cabo, em que teoricamente o peso da audiência em massa não existe. Uma série de profecias espalhada por aí, com o que aconteceu num primeiro jogo determinando a sorte para as outras partidas do ano.

Depois do que aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2009, era de se esperar, no mínimo, mais prudência da crônica esportiva na análise do futebol, entendo que o desempenho de um clube não se mede pelos primeiros resultados. E, talvez, nem pelos últimos!

Palmeiras e Santos terão duras batalhas neste Paulistão. Da mesma forma, Vasco, Flu e Bota podem sofrer no Rio. O motivo é óbvio. Diferentemente de seus rivais São Paulo, Corinthians e Flamengo, os jogos da Copa do Brasil no formato mata-mata vão criar um desgaste maior nesses times. Do outro lado, o trio enfrentará uma primeira fase de Copa Libertadores, geralmente nada preocupante para os clubes brasileiros.

Será assim também em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, com Atlético-MG e Grêmio sofrendo mais que os grandes rivais Cruzeiro e Inter. Por isso mesmo, não dá para fazer qualquer projeção tendo como base os jogos iniciais de todos os clubes que não têm no Estadual a sua prioridade.

O duro é o jornalista se lembrar disso na hora em que o Ibope parece martelar sua cabeça e deturpar as opiniões. Nessas horas, voltamos aos tempos de criança, em que até Copa São Paulo de Juniores era campeonato em que o resultado nos levava do céu ao inferno com nossos amigos.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br